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Universidade fumec

faculdade de ciências humanas-fumech

Sandra Hévila Corrêa Reis Caldeira

Constituição do sujeito

Belo Horizonte

2016
UNIVERSIDADE FUMEC

A constituição do sujeito pelo significante

,
Este texto foi apresentado como Trabalho de
Conclusão de Curso de Psicologia da .
Universidade Fumec, no 1ºsemestre de 2016.
Ênfase: Sócio-Clínica.

Sandra Hévila Corrêa Reis Caldeira

Jacques Akerman (Orientador )


SUMÁRIO

1. RESUMO.............................................................................................5

2. INTRODUÇÃO..................................................................................6

3. DESENVOLVIMENTO................................................................. 7

4. CONCLUSÃO................................................................................19

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................
Resumo

Este trabalho pretende apresentar a constituição do sujeito da Psicanálise através do


significante, tendo como referencial teórico os estudos de Freud e Lacan.

O sujeito, tal como é abordado pela psicanálise, não é da ordem do natural; ele é
efeito de linguagem, marcado pelo significante e, ao mesmo tempo, causado pela
ausência de objeto,o que o caracteriza como dividido, desejante e pulsional. Na
constituição do sujeito a lógica do significante é esclarecida por meio da alienação e
da separação, operações fundantes do sujeito. Essas operações nos revelam a lógica
do significante por diferentes prismas, seja por meio das operações matemáticas de
união e interseção, ou pela subversão do cogito de Descartes.No movimento
inaugural do sujeito há a alienação; depois, há um segundo movimento, que salienta
no sujeito a tentativa de separação. As operações de alienação e separação, em
Psicanálise, podem se articular à castração, ao complexo de Édipo, ao ideal do eu e
ao nome do pai,e até mesmo ao processo de análise. Apesar de cada uma delas
contemplar uma explicação específica, o importante é saber que são operações
constituintes que permitem que o sujeito se separe do Outro e se apresente como um
sujeito dividido.

Palavras chave: Constituição do sujeito, Outro, Significante, alienação, separação.


INTRODUÇÃO

Lacan (2003) em ”Nota sobre a criança” diz que a família conjugal permanece
dominante em nosso mundo, apesar da sociologia diagnosticá-la em crise,
desaparecendo e sujeita a novos rearranjos.Diz ainda que a família conjugal tem
uma função de resíduo neste processo de evolução da sociedade, e é por esta
função de resíduo ou objeto “a”, que a família conjugal, enquanto função parental,
sempre vai se manter.

Esta resistência da família se deve ao” irredutível de uma transmissão”,que não é


da ordem do saber,ou das necessidades ,é da ordem de um desejo não anônimo que
é constituinte do sujeito. Este sujeito se constitui barrado, dividido, surge entre um
significante e outro, e não pode ser confundido com uma pessoa ou com alguém,
pois é um efeito significante.Ele estaria entre dois significantes.
Por mais estranho que pareça, isto não quer dizer que ele esteja representado entre
dois significantes, pois o sujeito pode questionar esta representação e não se sentir
representado pelos significantes que o designam. Lacan diz que o sujeito em
psicanálise é fugaz. Podemos então pensar que a transmissão subjetiva, embora
determine a vida de alguém, não seja recebida como algo parado, imutável, podendo
ser aceita e até mesmo recusada.
Lacan(2003) vai falar que o sintoma da criança está em condição de responder pelo que
há de sintomático na estrutura familiar desta criança, ou seja, a criança que apresenta
um sintoma é fruto de uma estrutura familiar que por si, já é sintomática. Isto depende
do laço que esses pais constroem para essa criança.Lacan diz que é pela sua função
que a família parental vai ser julgada. No universo de temas que a psicanálise
possibilita, e para estar em consonância com as muitas vicissitudes que atravessaram o
corpo dessa pesquisa,escolhemos a constituição do sujeito através do significante,pois
o sujeito e sua constituição é um dos conceitos básicos da psicanálise,e o seu não
saber torna mais difícil a aquisição de novos conceitos em psicanálise.
Primeiramente começamos a descrever a origem do conceito de sujeito, e porque Freud

não trabalha com esse conceito. Cottet (1997), diz que para Freud juntar esses dois
termos, sujeito e inconsciente, pareceria um tanto ilegítimo.O sujeito da psicanálise
seria de outra ordem. Fink(1998) diz que a partir de Lacan, o sujeito só pode ser
pensado a partir do conceito de inconsciente. E o inconsciente para Lacan é
estruturado como linguagem. Veremos que o inconsciente é uma cadeia de
significantes, que se articulam conforme regras muito precisas,e sobre as quais o
sujeito da consciência,o eu, não possui qualquer tipo de controle.

Enfim entraremos na constituição do sujeito pelo significante, através dos


operadores lógicos, alienação e separação. Na alienação o sujeito se articula ao
Outro, confundindo-se com ele, e na separação o sujeito se articula ao objeto. A
alternância alienação-separação indica as repetições pulsionais da relação entre o
sujeito e o Outro.Esses operadores lógicos de alienação e separação, que são
operações constituintes do sujeito, apresentam uma certa relevância no estudo de
Lacan pois também se assentam na noção que fundamenta a principal tese de
Lacan:-“ O inconsciente está estruturado como uma linguagem”.Além disso Lacan
definiu o tratamento analítico como um processo movido pelas operações de
alienação e separação, fixando na separação a etapa que marca o final da análise.

Constituição do sujeito

Fink (1998) nos diz que o conceito de sujeito não é freudiano,se origina da
filosofia,e surgindo com o nascimento da filosofia moderna, mais precisamente com
o pensamento cartesiano, traduzido em sua máxima “Penso, logo sou”, onde existe a
hipótese de uma articulação entre o sujeito e o pensamento. Uma vez que o sujeito
pensa, supõe-se que ele exista. (FINK,1998,p.64)
Lacan, no escrito “A Ciência e a Verdade” (1965), afirma que Freud encontrou no
cientificismo de sua época as condições de possibilidade para a invenção da
psicanálise, para tanto a coloca numa dimensão clínica, formaliza a descoberta do
inconsciente, e consegue estabelecer uma distinção clara entre as metodologias
existentes para tratar os processos psicológicos, e a psicanálise. Pontua que a
psicanálise estuda outros tipos de fenômenos que são diferentes dos fenômenos
conscientes e que apontam para outro tipo de lógica em um mais além da lógica
consciente, estando presentificadas no sintoma neurótico.

Fink(1998,p.65) diz que Freud em seus estudos clínicos com histéricas no findar do
século XIX, pode perceber que o sintoma da neurose histérica tinha uma estrutura e
também uma aparência. O sintoma, não importando suas formas de gozo é feito
para aparecer a céu aberto. Foi como resposta ao sintoma histérico, e ao seu
surgimento no contexto diagnóstico da neurologia vienense, que Freud pode
ingressar o inconsciente do campo clínico para o epistemológico, dando origem a
psicanálise.

Lacan (1965) fala que Freud constatou que existia uma realidade muito particular,
que se expressava por meio dos sintomas atravessados no corpo de suas pacientes.
Essa realidade, que ele chamou de fantasias, eram instigantes para Freud. Através
do método da “livre associação”( regras para a fala de suas pacientes), foi
descobrindo que as fantasias eram “fachadas psíquicas”, ou seja, “fachadas”
construídas com o principal objetivo de obstruir o caminho às lembranças infantis.A
escuta dessas verdades que as pacientes relatavam “sem saber”, e às vezes sem
querer, de uma forma inconsciente, levou-o a postular a existência do
inconsciente.Pacheco(1996,p.70) diz que o sintoma neurótico que Freud constatava
em suas neuróticas, apresenta uma dupla face:uma, voltada para a clínica, isto é,
para os aspectos do universo subjetivo da histérica e outra voltada para a
metapsicologia, o que possibilita a compreensão de como esse psiquismo cria seu
universo particular. Melhor dizendo, mesmo que haja dois pacientes histéricos, com
o mesmo tipo de sintoma, e possamos compreender este sintoma a partir de
determinados mecanismos, o sentido que este sintoma tem para cada um desses
pacientes, é completamente diferente. São correlatas da subjetividade de cada um,
suas experiências na relação com o outro, consigo mesmo e com o mundo.

Garcia-Rosa (1991) em seu livro, ”Freud e o inconsciente” nos mostra que os


conceitos freudianos que apontam para a organização e constituição do sujeito são:
-A noção de inconsciente,a sexualidade como organizadora da vida psíquica, ou
seja, a constituição de um corpo pulsional e uma estrutura de linguagem.
Apesar da produção teórica de Freud apontar para um sujeito, ele não trabalhou com
este conceito. Ele achava que a concepção de sujeito cartesiano era incompatível
com a noção de inconsciente.
Mas como explicar que os sintomas de suas histéricas falassem para cada uma delas
de um jeito diferente, embora todas não soubessem o que falavam?
Em, ”Clinica e metapsicologia de Freud a Lacan” Fontenelle (2013), enfatiza que
para entendermos porque Freud não trabalhou com a noção de sujeito cartesiano,
temos que considerar sua formação como neurologista e o objetivo de sua pesquisa
com as pacientes histéricas, que era formalizar a descoberta do inconsciente”
Nassif (1997) diz que a psicanálise é concebida como uma teoria dos processos sem
sujeito.
Fink (1998,p.64) escreve que quem vai trabalhar com o conceito de sujeito é
Lacan,que ao tentar constituir uma psicologia concreta inspirada na psicanálise,
tropeçou justamente com a impossibilidade de definir o conceito crucial da
psicanálise - o de representação inconsciente - que em termos psicológicos é
impensável, pois passa a ideia de uma representação que, em última instância, nada
representa.Fontenelle (2013) enfatiza que para Lacan era essencial a noção de
sujeito na reflexão psicanalítica. Em parte, pela sua formação como psiquiatra, seus
estudos em filosofia, antropologia e linguística, que ao elaborar a teoria de uma
subjetividade determinada, criava um conceito que a Freud se afiguraria como
paradoxal, mas, em última instância, buscava cumprir a mesma exigência, de uma
análise objetiva do psiquismo. Lacan no texto “A razão desde Freud” vai dizer que “o
sujeito é um efeito significante”,e mais, “o sujeito é aquilo que um significante
representa para outro significante.”
Fink(1998,p.56), diz que a existência do sujeito lacaniano é impossível,pois como
diz Lacan no seminário 23 ”o sujeito nunca é mais do que suposto”;ou seja o
sujeito nunca é mais do que uma suposição de nossa parte. Reintera que a
construção desse sujeito suposto, para Lacan foi necessária,pois sem ela, a
experiência psicanalítica não poderia ser explicada; (FINK,1998,p.57) e que o
sujeito não é o “indivíduo”,o paciente, o cliente ou o sujeito do consciente da
filosofia anglo-americana,nem tão pouco o “self” ou o “Eu” da psicologia do
“ego”,não é o sujeito do enunciado e não aparece em nenhum lugar no que “é
dito”,pois o único sujeito ao qual Lacan atribui o enunciado é o sujeito consciente
do enunciado.

Mas o que seria esse sujeito lacaniano,ou o sujeito da psicanálise ou ainda o sujeito
do inconsciente?
Soler (1998,p.55), nos mostra que Lacan partiu do conceito de sujeito cartesiano
para pensar o sujeito do inconsciente. Mostra ainda que o campo psicanalítico só foi
possível, depois do surgimento do sujeito de Descartes.A psicanálise dependeu do
passo decisivo de Descartes,que é o seu cogito, para chamar o sujeito de volta para
casa no inconsciente. Enfatiza ainda, que o sujeito da psicanálise é o cartesiano, que
o condiciona a ciência.O sujeito do cogito é o do pensamento.Ele se assegura de si
mesmo porque pensa. Sua certeza é firmada pelo penso.

O sujeito da certeza é precisamente o sujeito do cogito. Mas qual é a sua certeza?


Ele está certo somente quanto a sua própria existência, não está certo quanto a
essência ou ser essencial.O que ele é permanece desconhecido,indeterminado.

Ele não é somente desconhecido ,ele também é vazio,por ter perdido seu ser. Sua
certeza é a certeza da existência real como presença,do sujeito. Ele está certo como
presença real, e Lacan enfatiza que o cogito visa o real. (SOLER, 1997, p. 55)
Fink (1998p.58) afirma que juntar esses dois termos, sujeito e inconsciente, parece
um tanto ilegítimo (como postulou Lacan), quando se coloca em perspectiva a
origem filosófica do conceito de sujeito, que é o sujeito da consciência, o lugar das
representações e o fundamento da reflexão do idealismo filosófico, ou seja, é aquele
pensante. Diz ainda que a descoberta do inconsciente pela psicanálise desaloja esse
sujeito de seu lugar no edifício filosófico e, a partir da leitura que Lacan faz de
Freud, ele vai justificar o decentramento do sujeito cartesiano.
Fink(1998,p.64) explana que para pensar o sujeito do inconsciente, Lacan faz a
articulação do inconsciente freudiano, com o sujeito cartesiano, mais o
estruturalismo de Lévi-Strauss, adicionando ainda os conceitos linguísticos de signo
e significante de Ferdinand de Saussure e a metáfora e metonímia de Roman
Jakobson. Diz que Lacan ao conceituar o sujeito do inconsciente,opera
transformações tão significativas nos conceitos linguísticos usados, que separa de
forma irreconciliável a psicanálise da linguística.
Laurent (1997,p33) afirma que em Interpretação dos Sonhos” (1900), Freud
elabora as estruturas do discurso psicanalítico utilizando os processos de
condensação e deslocamento.Coloca que o linguista russo Roman Jakobson
,utilizando a elaboração freudiana de condensação e deslocamento ,faz uma
correlação dos termos condensação com metáfora e deslocamento com
metonímia,utilizando essa correspondência no seu trabalho “Dois Aspectos da
Linguagem e dois Tipos de Afasia” (1956),onde desenvolveu uma técnica de análise
do discurso, no campo da semântica . Lacan utilizou em sua abordagem, a mesma
correlação feita por Jakobson, mas com uma grande diferença, preocupou-se em
fazer a articulação do discurso, não com a semântica,mas com a fala do sujeito, em
decorrência das expressões inconscientes existentes no discurso do sujeito.
Laurent(1997p.34) diz que Lacan partiu do princípio de que o inconsciente é
estruturado como linguagem, ou seja com o que foi reprimido pelo sujeito,
formando a cadeia de significantes, que podem emergir através do discurso do
sujeito na experiência analítica. O conteúdo inconsciente se mantém reprimido, até
que seja transformado em conteúdo manifesto, através dos mecanismos de metáfora
e metonímia, associados dinâmica dos significantes. Fink (1998) afirma que Lacan
se apropriou de alguns conceitos linguísticos,(com indicação das fontes ou como
homenagens) ao invés de importá-los, e que o trabalho de reconstrução desses
conceitos orientou, durante trinta anos, seu projeto de ensino, que consistiu na
releitura dos textos freudianos para salvaguardar a "deterioração do discurso
analítico" (LACAN, 1998, p. 245).Junto a isso desenvolveu o axioma, “ o
inconsciente é estruturado como linguagem”. Uma das apropriações linguísticas
mais importantes feitas por Lacan ,foi a dos termos “significante” e “significado”,
elaborados por Saussure no Curso de Linguística Geral (1915) que o ajudaram a
formalizar os processos de metáfora e metonímia no inconsciente, e a examinar
como os indivíduos entram na linguagem e se tornam sujeitos.(FINK,1998).

Mas como os indivíduos entram na linguagem? Para tentar entender utilizaremos o


texto de Lacan(1998) “A instancia da letra ou a razão desde Freud”.

Lacan se apropria do conceito de significante formalizado por Saussure, e subverte-


o. Para Saussure, o signo é produto da articulação de duas instâncias: o significante
e o significado. O aprisionamento do significante à ordem do significado
transparece, nitidamente, na sua concepção de signo: "o signo linguístico une não
uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica" (SAUSSURE,
s.d., p.80).

Lacan ao subverter o algorítimo saussureano, criando seu próprio algorítimo e


dando primazia ao significante.

Algorítimo lacaniano: S/s


Isto quer dizer"significante sobre significado”, correspondendo o “sobre” à barra
que separa as duas etapas" (LACAN, 1998, p. 500). Ao estabelecer a distinção entre
significante e significado a linguística, por um lado, emancipou o signo da sua
função referencial e, por outro, proporcionou à psicanálise a noção de
arbitrariedade, que o discurso analítico mostra com a intervenção do inconsciente,
que fala através do deslocamento ou metonímias ou substituição de significantes,ou
metáforas, que se tornam determinantes para os processos nos quais o sujeito é
efeito da linguagem.
Lacan(1998) no texto, A instância da letra, promove a excentricidade do sujeito no
sentido em que o sujeito é primordialmente relação na cadeia significante – é o que
um significante representa para outro significante – é um ser de letra,um sujeito da
linguagem, esvaziado de sentido.
Fink em seu livro” Sujeito Lacaniano”(1998) diz que levar em conta esse traço de
separação, dando-lhe valor de barra, implica em dar primazia ao significante em
detrimento da ordem do significado. A estrutura do significante se caracteriza pela
articulação e pela introdução da diferença,que é a barra, que funda os diferentes,ou
seja funda, um sujeito no campo do Outro.(FINK,1998)
Fink (1998) afirma que há uma série de consequências que são produzidas quando
Lacan, subverte o signo linguístico separando definitivamente os campos da
linguística e da psicanálise:

1. A primazia do significante em detrimento do significado.

2. O significante não tem relação com o significado, o que equivale a dizer que o
significante não significa nada ou pode significar qualquer coisa.

3. A oposição entre significante e significado marcada pela barra coloca o


significável submetido ao significante.

4. O que faz parte da própria estrutura do significante é a conexão com outros


significantes formando uma cadeia: "O significante como tal não se refere a nada, a
não ser que se refira a um discurso, ou modo de funcionamento, ou ainda a uma
utilização da linguagem como liame" (LACAN, 1982, p. 43).

5. Só pode haver articulação entre os significantes porque eles podem ser reduzidos
a um efeito significante..

6. A organização dos significantes se faz através de duas operações, que são as


mesmas da linguagem: condensação (Verdichtung) e deslocamento (Verschiebung),
cujos efeitos são a metáfora e a metonímia.

7. A ordem do significado é efeito da cadeia do significante e, justamente por isto, é


na cadeia do significante que o sentido insiste. A significação não está, portanto, em
nenhum elemento particular da cadeia. O deslizamento incessante do significado
sob o significante, por ação do inconsciente, não quer dizer que não haja a
prevalência de um sentido em jogo. O significante, por sua natureza, sempre se
antecipa ao sentido, desdobrando sua dimensão adiante do significado" (LACAN,
1998, p. 505).

8. A articulação significante não se produz sozinha, é necessário que haja um


sujeito. O significante só pode passar para o plano da significação porque há um
sujeito operando a cadeia do significante. Essa relação do sujeito com o significante
,imprime no sujeito uma marca ,um S1 ou significante fundamental.

Vale a pena dizer que nem sempre se imprime no sujeito um significante


fundamental, este deslizamento incessante do significado sob o significante pode
não ocorrer, como na holófrase. O princípio mínimo de estrutura da cadeia
significante em que um sujeito pode ser representado, é no intervalo entre dois
significantes (S1—>$—>S2). "...quando não há intervalo entre S1 e S2, quando a
primeira dupla de significantes se solidifica,cristaliza,petrifica, se holofraseia, com
isso temos o modelo de uma série de casos onde há o aprisionamento do sujeito ao
gozo, impossibilitando a constituição do sujeito, realizando-o como objeto.
A constituição do sujeito pela lógica do significante, através dos operadores lógicos
alienação e separação.

Alienação separação

Segundo a formulação de Lacan (1960/1998), a alienação é própria do sujeito; ele


nasce por ação do significante, da linguagem. O lugar do Outro, oferece a este
sujeito significantes; o sujeito pode aceitar ou recusar os vários significantes que lhe
são oferecidos pelo outro.Esta é uma escolha forçada,e toda escolha tem
consequências. Lacan (1973/1988) no Seminário 11 (Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise) exemplifica esta escolha com a frase: "A bolsa ou a
vida!". Suponhamos que alguém force o sujeito a escolher entre a bolsa e a vida. Se
escolhe a bolsa, perde a vida e a bolsa. Se escolhe a vida, tem a vida sem a bolsa,
isto é, uma vida decepada,faltosa,dividida,que falta um pedaço.Joga-se aí uma
espécie de luta de vida e morte, entre o ser e o sentido.Se o sujeito escolhe o ser,
perde o sentido, e se escolhe o sentido, perde o ser, e se perde o ser, o sujeito
desaparece, há afânise do sujeito. Quando escolhe o ser , não pode ser totalmente
coberto pelo sentido dado pelo Outro, há sempre uma perda. Segundo Lacan
(1973/1988), essa é uma escolha forçada,que tem por consequência sempre uma
perda. Há uma letalidade nessa escolha. Escolher a liberdade,é advir sujeito
dividido,faltando um pedaço ou tenho a opção da escolha da morte e a constituição
como objeto.
Laurent (1997,p.43) diz que em termos da constituição do sujeito, a alienação está
na escolha forçada do sujeito em recusar ou aceitar o significante que emerge no
campo do Outro. Em um primeiro momento ocorre a afânise,ou desaparecimento
do vivo, pela própria função do significante. Nesse primeiro tempo, o sujeito não
fala, é incapaz de aceder à palavra,como a fala requer a articulação de pelo menos
dois significantes, tem que haver o apelo ao segundo significante. O sujeito, então,
se divide em S1 e S2.
De outro modo Soller(1997,p.60) diz que na relação entre o sujeito e o Outro,
portador dos significantes, o sujeito é colocado no vel(que quer dizer ou) de um
sentido a ser construído, melhor dizendo no vel da constituição (S2) ou no vel da
cristalização,petrificação (S1). O destino do sujeito é uma vacilação entre
petrificação e a indeterminação. Cristalização em um significante ($→S1) e
indeterminação no interior do deslizamento do sentido (S1→ S2). Eis o impasse do
sujeito do significante.O sujeito advém como um efeito da articulação S1-S2. Antes
de desaparecer como sujeito sob o significante em que se transforma, ele não é
absolutamente nada. Esse nada se sustenta porque o sujeito aceita o significante do
Outro materno. Temos então a alienação, em que podemos dizer que o sujeito é
capturado pelo significante. O sujeito está assujeitado à primazia do significante,
como diz Lacan (1960/1998, p. 854). Fink (1998 p.63) diz que podemos conferir a
primazia do significante em relação ao sujeito, no exemplo do “Fort / Da” dado
por Freud, em que o significante joga e ganha do sujeito, antes que o sujeito possa
constatar a sua perda. O chiste, por exemplo, surpreende o próprio sujeito que o diz.
Com este exemplo Freud ilumina a divisão entre o sujeito e ele mesmo.

Soller(1998,p.62) diz que falar na primazia do significante remete a condição de


prematuridade que o ser humano vem ao mundo.Esse vivo nasce em uma língua, em
uma cultura que pré-existe ao seu nascimento; ele sofre determinações desse
sistema simbólico que é a linguagem, e ingressará nessa ordem simbólica a partir da
relação com o Outro,que com seus cuidados vai , oferecer a este vivo significantes
que o constituirão. Lacan (1964) vai dizer que a separação é representada pela
intersecção entre os elementos que pertenceriam aos dois conjuntos, o lugar onde se
juntariam o sujeito e o Outro. Tal intersecção surge do recobrimento de duas faltas.
Uma falta é aquela que o sujeito encontra no Outro, é da estrutura do
significante;nos intervalos do discurso do Outro , cortando os significantes, desliza
o desejo, que faz com que o sujeito apreenda algo do desejo do Outro. A outra falta
é trazida pelo sujeito que responde a essa captura, com a falta anterior, de seu
próprio desaparecimento,(afânise), ao se submeter ao significante do campo do
Outro. Em plena alienação, vimos que há uma falta do sujeito, vinculada ao
significante do desaparecimento do sujeito,significante que Laurent(1998) chama de
afanísico, que obtura o que o significante pode dar ao sujeito. Soler(1998,p.63)
separação, o sujeito irrompe na cadeia significante, e se destaca o objeto a. Essa
operação de separação permite que o sujeito encontre um espaço entre os
significantes, onde este objeto do seu desejo que nunca é saciado; o sujeito então
retorna então ao ponto inicial, que é o de sua falta como tal. Isso indica que
alienação e separação não é um operador simbólico estático, há uma oscilação
permanente como uma alternância sempre renovada. Na alienação, o sujeito se
confunde com o Outro enquanto que a separação os diferencia. Entretanto, a
separação não se dá sem que ocorra uma perda: a queda do objeto a, objeto-de-
gozo, objeto-sutura, entre o sujeito e o Outro, fundando aí um lugar vazio ocupado
agora pela causa do desejo.
De objeto- de- gozo para objeto- causa-de-desejo.
A queda do objeto” a” abre um espaço entre os significantes S1 – S2, dando origem
à estrutura simbólica onde se constitui o sujeito dividido,do inconsciente, o sujeito
do desejo.
Conclusão

Quando falamos da constituição do sujeito, desde as primeiras etapas da vida da


criança, falamos do laço que este Outro vai construir para este sujeito. Podemos
notar que a constituição do sujeito é um tema básico e fundamental na psicanálise e
não pode ser pensado sem que levemos em conta as operações constituintes de
alienação e separação, que em Psicanálise, tem alguns nomes que se complementam
como castração, complexo de Édipo, ideal do eu, nome do pai. Apesar de cada um
dos nomes contemplar uma explicação específica, o importante é saber que são
movimentos constituintes que permitem que o sujeito se separe e se constitua como
sujeito dividido.
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