Sei sulla pagina 1di 13

ORÇAMENTO IMPOSITIVO E RESERVA DO POSSÍVEL: ANÁLISE DA EMENDA

CONSTITUCIONAL 86/2015 E OS REFLEXOS NO DIREITO À SAÚDE

Jefferson Alex Pereira1

SUMÁRIO. Resumo. 1. Introdução. 2. Orçamento. 2.1.


Conceito. 2.2. Orçamento público “autorizativo” ou
“impositivo”. 3. Os projetos de emenda constitucional
não aprovados e suas características. 3.1. PEC
565/2006. 3.2. PEC 341/2009. 3.3. PEC 330/2009. 4. A
Emenda Constitucional 86/2015. 5. O direito à saúde no
ordenamento jurídico brasileiro. 6. Os reflexos da EC
86/2015 no direito à saúde. 7. Comentários Finais.
Referências bibliográficas.

RESUMO

O presente artigo tem como foco analisar as tentativas de Emendas à Constituição,


anteriores à 2015, que se propuseram a modificar o orçamento “autorizativo” para
“impositivo” e suas diferenças em relação à EC 86/2015, que no entendimento do autor,
partindo da teoria da tripartição dos poderes, amplia os poderes do Legislativo perante o
Poder Executivo, bem como afeta o financiamento do SUS e, por conseguinte, o direito à
saúde.

Palavras-chave
Direito Financeiro - Orçamento Impositivo - Orçamento Autorizativo - EC 86/2015

1. INTRODUÇÃO

O estudo do orçamento público é de extrema relevância, pois, em última análise, o


trabalho legislativo de elaboração das leis orçamentárias, e o trabalho executivo de realização
das mesmas, visam à efetivação dos direitos humanos (TAVEIRA; TRAVASSOS, 2007, p.3).
A lei orçamentária atual apresenta caráter de lei formal, não cria direitos subjetivos.
Este entendimento de que a lei orçamentária fixa e autoriza despesa, não tem o condão de
criar obrigações ao administrador público, nem mesmo gera direito exigível judicialmente,

1
Graduando em Direito pela Universidade Federal do Paraná.
pois a interpretação semântica do termo abre margem ao não cumprimento do previsto no
orçamento. Este tipo de orçamento é conhecido como “autorizativo”.
Operando no sentido de orçamento impositivo, aquele que vincula o previsto no Plano
Orçamentário Anual às ações estatais, as tentativas de Emenda à Constituição anteriores à EC
86/2015 divergem desta, pois a mesma apresenta programações orçamentárias estabelecidas
por meio de emendas parlamentares à lei orçamentária. Este novo instrumental traz maiores
poderes ao Poder Legislativo.

1 . ORÇAMENTO
1.1 . Conceito
Segundo Lafayete Josué Petter, o orçamento é conhecido como uma peça que
contém a aprovação prévia das receitas e das despesas para um período determinado . Ensina
o autor que a questão orçamentária ganhou ampla regulamentação na Constituição de 1988.
(PETTER, 2007).
Todavia, a definição moderna de orçamento, o compreende não apenas como
instrumento de previsão das receitas e despesas de um Estado, entende-o também, como
vinculante da ação estatal. Nas palavras de Régis Fernandes de Oliveira:

[...] orçamento, importa notar que vem ele se firmando e evoluindo para uma nova
concepção. Já não é somente mera peça financeira de previsão de receitas e despesas,
nem está simplesmente subordinado à concepção política predominante.
(OLIVEIRA, 2011, p.368-369)

Tal definição, se encontra de acordo com a de outros autores, como o consagrado


Aliomar Baleeiro. Confira-se:

[...]nos Estados democráticos, o orçamento é considerado o ato pelo qual o Poder


Legislativo prevê e autoriza ao Poder Executivo, por certo período e em pormenor, as
despesas destinadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados
pela política econômica e geral do país, assim como a arrecadação das receitas já
criadas em lei. (BALEEIRO, 1999, p.386)

Para melhor entendimento do orçamento, destaca-se a importância da compreensão


de sua natureza jurídica.

1.2 . Orçamento Público “autorizativo” ou “impositivo”


A natureza jurídica do orçamento esbarra na definição de orçamento como lei
material, aquela que apresenta conteúdo de regra de direito e eficácia inovadora (OLIVEIRA,
2007, p.348.), ou lei formal, que só do ponto de vista formal reveste as características da lei.
Destaca-se que o orçamento sempre será representado por um diploma legal. No
caso Brasileiro, é a Constituição Federal que confere ao orçamento a natureza jurídica de lei,
conforme o art. 165, III e §§5º, 6º e 8º.2
Nas palavras de Petter “O caráter formal da lei orçamentária, que não cria direitos
subjetivos se afigura como lei apenas autorizativa, fica reforçado pelo fato de que a simples
previsão de uma despesa não gera direito exigível judicialmente” (PETTER, 2007, p.132.)
Quem bem versou sobre a questão do orçamento é Rodrigo Kanayama, em seu artigo
“Ineficiência do Orçamento Público Impositivo”:

A lei orçamentária fixa e autoriza despesa. “Autorizar” tem conotação


completamente diversa dos verbos “obrigar” ou “impor”, ou seja, abre-se uma
faculdade àquele que tem a competência para ordenar a despesa. Como dizia Pontes
de Miranda, “o que orça não cria”; e, nesse sentido, o orçamento, por si só, não cria
qualquer obrigação ao administrador público ou direito subjetivo ao destinatário. Já
com relação às receitas, na mesma toada que Pontes de Miranda, não há criação de
tributos, ou obrigação de arrecadá-las devido à lei orçamentária. (KANAYAMA,
2009, p.132)

Como visto, a Lei Orçamentária atual é de execução facultativa ao administrador


público, exceto as obrigações previstas na constituição. Tal concepção de Orçamento é
conhecida como “Orçamento Autorizativo”.
Em polo oposto, a concepção de “Orçamento Impositivo” parte do pressuposto de
que seria obrigatória a execução da lei orçamentária nos termos em que foi aprovada pelo
Congresso Nacional. Tal concepção de orçamento veda a facultatividade do administrador
público concretizar ou não o orçamento.
Kanayama critica a auto imposição do orçamento impositivo:

2
Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
(...)
III - os orçamentos anuais.
(...)
§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:
(...)
§ 6º O projeto de lei orçamentária será acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as
receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza financeira,
tributária e creditícia.
(...)
§ 8º A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, não
se incluindo na proibição a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de
crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei.
O orçamento impositivo – na realidade seria uma “autoimposição”, já que a iniciativa
da elaboração é do próprio Poder Executivo – parte da seguinte lógica: se pretende
despender uma quantia para a construção de uma obra para a promoção de uma
política pública, e inclui no seu planejamento orçamentário, não há motivo aparente
para que não o cumpra. O Plano torna-se mais que uma carta de intenções; torna-se
uma carta de promessas. Tal transformação é, verdadeiramente, um disparate, um
“absurdo que não encontra paralelo no constitucionalismo hodierno”, como protesta
Ricardo Lobo Torres contra a “PEC 565/2006”. (KANAYAMA, 2009, p.137)

Destaca-se que, nas palavras do ex-Ministro do STF, Carlos Britto, “A lei


orçamentária é a lei materialmente mais importante do ordenamento jurídico logo abaixo da
Constituição” (ADI 4048, p.92)
Ainda, na ADI 4.663, conforme declarações do Ministro Fux, o STF entendeu que há
uma força vinculante mínima:

No limite das possibilidades das práticas constitucionais ainda vigentes no cenário


nacional, impõe-se reconhecer ao menos a denominada vinculação mínima das
normas orçamentárias, capaz de impor um dever prima facie de acatamento,
ressalvada a motivação administrativa que justifique o descumprimento com amparo
na razoabilidade. É este, portanto, o sentido próprio da vinculação do Poder
Executivo ao orçamento anual, e que não permite qualquer distinção, para esse fim,
entre as normas oriundas de emendas parlamentares ou aqueloutras remanescentes do
projeto encaminhado pelo Executivo. (STF, ADI 4.663)

Todavia, ainda vige a ideia de orçamento não impositivo, mesmo que o STF acredite
na força minimamente vinculante.

2 . OS PROJETOS DE EMENDA CONSTITUCIONAL NÃO APROVADOS E SUAS


CARACTERÍSTICAS
Há três Projetos de Emenda Constitucional que tentaram implantar o orçamento
positivo, mas que não foram aprovados. Abaixo, segue breve explanação acerca de cada
proposta e suas características.

3.1. PEC 565/2006

A proposta de emenda constitucional registrada sob o número 565/2006, da qual foi


autor o senador Antônio Carlos Magalhães, visava tornar obrigatória a execução da
programação da LOA (Lei Orçamentária Anual), mediante alteração dos artigos 57, 165 e 166
da Constituição Federal. Ainda, acrescia o artigo 165-A ao referido diploma legal. É
nesse último dispositivo que se pode observar claramente o caráter impositivo que se
pretendia dar ao orçamento:

Art. 165-A. A programação constante da lei orçamentária anual é de execução


obrigatória, salvo se aprovada, pelo Congresso Nacional, solicitação, de iniciativa
exclusiva do Presidente da República, para cancelamento ou contingenciamento, total
ou parcial, de dotação. (PEC 565/2006)

Tal proposta de emenda constitucional tornava obrigatória a execução de toda a


programação da LOA (Lei Orçamentária Anual), e não somente a execução das emendas
parlamentares anuais, como é o caso da emenda constitucional 86/2015.

3.2. PEC 341/2009

O projeto de emenda à constituição registrado sob o número 341/2009, de autoria do


deputado Régis Oliveira, pretendia modificar os dispositivos constitucionais, retirando do
texto matéria não constitucional. O referido projeto propunha, então, um “enxugamento” da
Constituição. O texto constitucional passaria a conter, em vez dos 250 artigos, apenas 70.
Ainda, o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias conteria um artigo único.
Tal projeto trazia, em seu artigo 60, a disposição de que o orçamento seria impositivo,
após a arrecadação das receitas previstas:

Art. 60. Lei complementar disporá sobre princípios orçamentários, cabendo a cada
ente federativo legislação específica sobre tramitação e aprovação. Parágrafo único.
O orçamento será impositivo, uma vez realizadas as receitas nele previstas. (PEC
341/2009).

Vale recordar a definição de receita proposta por Ricardo Lobo TORRES, “Receita é a
soma de dinheiro percebida pelo Estado para fazer face à realização de gastos públicos.”
(TORRES, 2013, p. 185). Também relevante é a definição proposta por Luiz Emygdio Franco
da ROSA JÚNIOR “Receita pública é todo ingresso ou entrada que se faça de modo
permanente no patrimônio estatal e que não esteja sujeito à condição devolutiva ou
correspondente baixa patrimonial” (ROSA JÚNIOR, 2005, p. 48)
Portanto, uma vez arrecadadas as receitas, o governo não poderia deixar de realizar as
despesas, dado o caráter impositivo do orçamento.

3.3. PEC 330/2009


A proposta de emenda à constituição de número 330/2009, de autoria do deputado
Roberto Rocha, tinha como objetivo alterar matéria orçamentária prevista na Constituição,
por intermédio da alteração dos artigos 57, 165, 166 e 167 da Constituição e do artigo 35 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Conforme se depreende do artigo 165,
parágrafo oito, do referido projeto, o orçamento poderia conter despesas de execução
obrigatória:

Art. 165. § 8º - A lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão
da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a identificação de
programações de execução obrigatória, a autorização para abertura de créditos
suplementares e a contratação de operações de crédito, ainda que por antecipação de
receita, nos termos da lei. (PEC 330/2009)

Conforme a alteração supramencionada, descrita na justificação do projeto, haveria


ampliação das exceções previstas no princípio. Assim, não ocorreria transgressão do
princípio da exclusividade.

Cumpre recordar lição acerca do princípio supramencionado, formulada por Ricardo


Lobo TORRES:

Segundo o princípio constitucional da exclusividade o orçamento não conterá


dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa (art. 165, § 8º).
Vedam-se, pois as caudas orçamentárias [...] quaisquer dispositivos de lei material
que não impliquem em previsão de receita ou autorização de despesa e que foram
comuns na antiga prática constitucional no Brasil e no estrangeiro. (TORRES, 2013,
p.119)

Por fim, segue abaixo análise da recente proposta de emenda à Constituição, de


número 86 de 2015.

4. A EMENDA CONSTITUCIONAL 86/2015

A Emenda Constitucional nº 86 de 2015, promulgada em 17 de março de 2015, tendo


por base a PEC nº 358-B da Câmara dos Deputados, surge como tentativa de estabelecer um
caráter impositivo ao Orçamento Público brasileiro, estabelecendo a imperatividade da
execução orçamentária e financeira de parcelas de despesas, fixadas no orçamento por meio
das emendas individuais impostas ao projeto de lei orçamentária proposto pelo Poder
Executivo. (PASCOAL, 2015).
Como uma das principais inovações inseridas na Constituição, a referida Emenda
prevê a reserva do percentual de até 1,2% da Receita Corrente Líquida, na proposta de
orçamento do Executivo, como destinado às emendas parlamentares à Lei Orçamentária
Anual, sendo que, conforme o § 9º do art. 166 da CF/88, metade do percentual referido será
destinado a despesas com ações e serviços públicos de saúde, reforçando a vinculação
constitucional de receitas para a área da saúde já existente.
Ademais, é vedada a destinação para pagamento de pessoal e encargos sociais, nos
termos do § 10º do art. 166 deste mesmo diploma legal. Sendo assim, o chefe do Executivo,
ao planejar o orçamento, deverá contar com a provável alteração, pela via da iniciativa
parlamentar por emenda legislativa, de despesas que correspondam a até 1,2% da Receita
Corrente Líquida dessa mesma proposta (FREIRE, 2016).
Tal obrigatoriedade de execução cessará caso ocorram impedimentos de ordem
técnica, consoante com o parágrafo 12, do art. 166 da Constituição Federal. Estes são
entendidos como impedimentos que tornem impossível a realização do empenho das despesas
previstas. Tal impedimento, se ocorrido, deverá ser justificado ao Poder Legislativo dentro do
prazo de 120 dias, contados da promulgação da lei orçamentária.
Desse modo, temos como principal inovação trazida por esta reforma do texto
constitucional o fato de que o Poder Executivo, conforme a redação dada pela EC 86/2015, se
vê obrigado a realizar as programações orçamentárias estabelecidas por meio de emendas
parlamentares à lei orçamentária.
No entanto, vários são os problemas apontados em relação à referida Emenda
Constitucional, como observado no apontamento de Valdecir Pascoal:

Além do excessivo detalhamento no texto constitucional e das imperfeições de


redação, a principal crítica que se faz à EC nº 86 é o fato de ela não haver estendido a
impositividade do orçamento para todas as despesas aprovadas, limitando-se às
programações orçamentárias decorrentes de emendas individuais dos parlamentares.
Ao tempo em que detalha em excesso muitos pontos, remete muitas questões para
regulamentação em lei complementar, o que poderá dificultar sua compreensão e
efetividade. (PASCOAL, 2015, p. 22)

Nesse sentido, entre outros pontos controversos, observa-se que a Lei Orçamentária
manteve seu caráter autorizativo, visto que a EC 86/2015 se mostra como uma medida
paliativa, que vincula o Poder Executivo apenas às programações orçamentárias advindas de
emendas individuais dos parlamentares, mas permite que todo o restante do orçamento
continue sob o controle do Executivo, que poderá executá-lo, ou não, da maneira que melhor
lhe servir, desde que dentro dos limites legais.
Desse modo, como afirma o tributarista e professor, Fernando Facury Scaff, o que se
criou no Brasil foi “um modelo de Orçamento impositivo à brasileira, onde apenas as
dotações orçamentárias para emendas parlamentares se tornaram impositivas, mas o restante
permanece ao bel prazer de quem tem tinta na caneta, ou seja, o Poder Executivo.” (SCAFF,
2016).

5. O DIREITO À SAÚDE NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

5.1. Evolução histórica do direito à saúde nas constituições brasileiras


A Constituição Federal de 1988 é a primeira constituição do ordenamento jurídico
brasileiro a expressamente prever o direito à saúde. A Constituição de 1824 previa somente os
denominados “socorros públicos”, instituições de auxílio aos doentes e necessitados,
conforme disposto no art. 179, XXXI “A Constituição tambem garante os soccorros
publicos”.
Por sua vez, a Constituição de 1934 somente continha previsão acerca da competência
concorrente entre União e Estados para “cuidar da saúde e assistência públicas”, conforme
previsão legal do art. 10, inciso II. A Carta Magna de 1937 também seguiu o mesmo caminho,
ao somente dispor sobra a competência privativa da União para legislar sobre “normas
fundamentais da defesa e proteção da saúde, especialmente da saúde da criança”,
mandamento contido no art. 16, XXVII. Ademais, essa mesma Constituição dispunha sobre a
competência concorrente dos Estados para legislar acerca de “assistência pública, obras de
higiene popular, casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais”, conforme
exposto no art. 18, “c”.
A Constituição de 1946, considerada mais progressista que as anteriores, também não
declarou expressamente o direito à saúde, somente trazendo em seu bojo a previsão acerca da
competência da União para emitir normas de defesa e proteção da saúde, conforme previsto
no art. 5º, XV, “b”. Posteriormente, a Constituição de 1967 também seguiu na mesma linha,
sem declarar expressamente o direito à saúde, apenas tratando da competência da União para
“estabelecer planos nacionais de educação e de saúde”, conforme previsão constitucional do
art. 8º, XIV.

5.2. O conteúdo do direito à saúde na Constituição Federal de 1988


O direito à saúde encontra-se previsto no art. 196 da CF, o qual dispõe que “A saúde é
direito de todos e dever do Estado”. Da leitura do dispositivo, depreende-se que o Estado
deve promover políticas sociais e econômicas a fim de possibilitar o acesso universal e
igualitário aos serviços de proteção, promoção e recuperação da saúde (TAVARES, 2012,
p.854).
Por outro lado, deve o Estado também atuar no âmbito preventivo, visando a
prevenção de doenças, através da redução de fatores de risco (por exemplo, poluição e falta
de saneamento básico). Conforme dispõe o art. 198, II da CF, o sistema de saúde brasileiro
deve priorizar “as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais”.

5.3. O Sistema Único de Saúde

6. OS REFLEXOS DA EC 86/2015 NO DIREITO À SAÚDE

A Constituição Federal de 1988 maximizou o direito à saúde, não só o alçando à


categoria de direito fundamental, mas, principalmente, criando um sistema único com o
objetivo de assegurar a sua máxima efetividade. Uma das características centrais do sistema é
o seu financiamento exclusivamente público.

O primeiro ponto preocupante da emenda é levantado por Élida Graziane Pinto e Ingo
Wolfgang Sarlet, com relação aos investimentos no campo da saúde, vejamos:

Como a leitura do art. 2º da Emenda sugere tratar-se de um teto fiscal, ao invés de um


piso de custeio do direito social à saúde. Senão vejamos que o escalonamento de
percentuais abaixo dos 15% da receita corrente líquida da União ao longo de 5 anos,
não só permite que o Governo Federal promova um cumprimento dito “progressivo”
de percentuais abaixo do mínimo inscrito no art. 198, §§2º e 3º da CR/1988, como
também afirma que este é máximo, justamente por não poder ser atingido desde logo,
no presente. (PINTO; SARLET, 2016)

Portanto, o art. 2º da EC 86/2015 estabeleceu um novo regime de gasto mínimo no


âmbito federal para as ações e serviços públicos em saúde, correspondente a 15% da receita
corrente líquida da União, sendo fixados subpisos ditos “progressivos” de 13,2% para o
exercício de 2016; 13,7% em 2017; 14,1% em 2018; 14,5% em 2019; e 15% a partir de 2020.

Essa disposição vai na contramão do projeto de lei complementar nº 321/2013,


resultado de iniciativa popular, apresentado ao Congresso Nacional com 2,2 milhões de
assinaturas, que decorreu de um movimento social intensificado nos anos de 2013 e 2014 –
conhecido como “Saúde+10” – o qual buscava o fortalecimento do SUS mediante a aplicação
mínima de 10% da receita corrente bruta da União em ações e serviços públicos de saúde ,
em contraponto com os percentuais hoje vigentes, que incidem sobre a receita corrente
líquida.

Após ação de inconstitucionalidade do Ministério Público Federal, o Congresso


Nacional promulgou a EC 95/2016, a qual revogou o polêmico art. 2º da EC 86/2015.
Contudo, persiste a redação do Art. 3º, que assim dispõe “As despesas com ações e serviços
públicos de saúde custeados com a parcela da União oriunda da participação no resultado
ou da compensação financeira pela exploração de petróleo e gás natural, de que trata o §
1ºdo art. 20 da Constituição Federal, serão computadas para fins de cumprimento do
disposto no inciso I do § 2º do art. 198 da Constituição Federal”.

Antes da alteração trazida pela EC 86/2015, os recursos oriundos da exploração do


petróleo e gás natural (pré-sal) eram fontes adicionais para o custeio da saúde, como previa
expressamente o art. 4º da Lei 12.858, de 9 de setembro de 2013 “os recursos destinados
para as áreas de educação e saúde na forma do art. 2º serão aplicados em acréscimo ao
mínimo obrigatório previsto na Constituição Federal”. Quando passam a ser contabilizados
no percentual mínimo de gasto da União, geram outra perda de receita para o SUS.

7. COMENTÁRIOS FINAIS

Aumento do Poder Político ao Legislativo

Com a obrigatoriedade de cumprimento pelo Poder Executivo das emendas


realizadas pelos parlamentares no Plano Orçamentário, entendemos que ocorre um aumento
da independência Poder do Legislativo, vez que o Poder Executivo perde parte do seu poder
de influência sobre os congressistas, bem como, o fato das emendas serem de caráter
impositivo, ou seja, serão efetivamente executadas. Talvez as emendas a serem aprovadas
sejam selecionadas com mais critério.
Entretanto, os autores do artigo reconhecem que a vinculação das dotações
orçamentárias para emendas parlamentares não significa que ele, necessariamente, será
aplicado com eficiência, tendo em vista que obrigatoriedade de execução não é equivalente à
uma boa alocação de recursos.
Ainda, é sério o risco de que tais emendas tenham motivações puramente políticas,
de modo que alguns parlamentares possam tirar vantagens deste artifício, como meio de
atender seus próprios interesses eleitorais, possibilitando que determinados grupos sociais
sejam mais beneficiados que outros, em detrimento do bem comum a toda sociedade.
Destaca-se também, o fato de a maior parte do orçamento continuar sob o controle
do Executivo, que poderá executá-lo, ou não, desde que respeite os limites legais e
constitucionais.
Ademais, o SUS sofrerá grave impacto negativo em sua estruturação e
funcionamento, o que atingirá diretamente interesses sociais relevantíssimos, como a vida e a
saúde.
Por fim, entendemos que a tarefa de se alterar comportamentos por golpes de lei não
é das mais fáceis. Nesta toada, encerramos com o seguinte escrito de Régis Fernandes de
Oliveira, quem melhor captou os sentimentos dos autores:

A mudança de comportamento é obra de sedimentação da cultura de um povo .(...)


Assim, mediante a democratização não só das instituições, mas da sociedade é que as
camadas segmentadas vão adquirindo a consciência de que um país e uma nação
apenas se fazem com educação e com um povo alimentado e que tem orgulho
próprio. (OLIVEIRA, 2007, p. 350)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.

. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Ação Direta de Inconstitucionalidade


(ADI 4048) (Rel. Min. Gilmar Mendes) Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2602344>.
Acesso em: 22 de set. de 2016

. Supremo Tribunal Federal. Acórdão em Ação Direta de Inconstitucionalidade


(ADI 4.663). Relator: Min. Luiz Fux. Publicado no DJE de 16/12/2014. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=4663&classe=A
DI&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em: 27 de set. de 2016.

FREIRE, André Vieira. Natureza impositiva do orçamento público e EC 86/2015.


Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 17 fev. 2016. Disponivel em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55214&seo=1>. Acesso em: 22 de set.
de 2016.

KANAYAMA, Rodrigo Luís. A Ineficiência do Orçamento Público Impositivo. Revista de


Direito Público da Economia - RDPE. Ano 7, nº 28, out/dez, Belo Horizonte: 2009.

MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito


Constitucional. 7.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

OLIVEIRA, Regis Fernandes de. Curso de Direito Financeiro. 4. ed. rev. atual. ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

PASCOAL, Valdecir Fernandes. Direito financeiro e controle externo. 9 ed. São Paulo:
Método, 2015.

PETTER, Lafayete Josué. Direito Financeiro. 2 ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007.

PINTO, Élida Graziane. SARLET, Ingo Wolfgang. Regime previsto na EC 86/2015 deve
ser piso e não o teto de gasto em saúde. Disponível em http://www.conjur.com.br/2015-
mar-24/gas to-saude-previsto-ec-862015-piso-nao-teto#_ftn3. Acesso em: 09 de set. de 2016.

ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio Franco da. Manual de Direito Financeiro e Tributário. 18.
ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.
SCAFF, Fernando Facury. Surge o orçamento impositivo à brasileira pela Emenda
Constitucional 86. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-mar-24/contas-vista-
surge-orcamento-impositivo-brasileira-ec-86>. Acesso em: 22 de set. de 2016.

TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 10.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

TAVEIRA, Christiano de Oliveira; TRAVASSOS, Marcelo Zenni Travassos. O controle das


leis orçamentárias à luz dos direitos humanos. Disponível em:
<http://www.aperj.org.br/arquivos/pdf/Christiano%20Taveira%20e%20Marcelo%20Zenni.pd
f> Acesso em: 26 de set. de 2016.

_____________________. O controle das leis orçamentárias à luz dos direitos humanos:


reflexões teóricas e análise jurisprudencial aplicadas sobre o direito à saúde. Fórum de
Contratação e Gestão Pública - FCGP, Belo Horizonte, ano 8, n. 92, ago. 2009. Disponível
em: <http://www.bidforum.com.br/PDI0006.aspx?pdiCntd=62158>. Acesso em: 22 jun. 2018.

Potrebbero piacerti anche