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O SER HUMANO SOB A ÓTICA DA ANTROPOLOGIA TRANSCENDENTAL

DE KARL RAHNER.

José Roney de Freitas Machado

Em uma época na qual o discurso teológico tradicional se mostrava insuficiente


para dizer relevantemente a fé e dialogar com o mundo hodierno, Karl Rahner se serviu
de matrizes filosóficas modernas e contemporâneas para esboçar um novo modo de fazer
teologia (sobretudo o pensamento de Kant e Heidegger). A esse novo tipo de abordagem
teológica, ele denominou transcendental, e o fizera em um sentido bastante específico, o
que marcou a originalidade de seu pensamento.
Transcendental, para dizer numa linguagem inteligível significa condição de
possibilidade, diz respeito aquilo que, existindo antes enquanto potência inata, possibilita
o depois enquanto ato, ação ou experiência. Na epistemologia Kantiana, transcendental
se refere as condições a priori de possibilidade para o conhecimento.
Na reflexão de Rahner, o termo transcendental também significa condição de
possibilidade, com a diferença de que, segundo o teólogo, existem condições para o
conhecimento, ou conhecimentos de fato que são anteriores a própria razão, e esses
saberes prévios seriam parte de um estrutura originária que, ao mesmo tempo em que
torna possível a esfera do entendimento, ultrapassa os seus limites, ou seja, trata-se de um
antes, que possibilita o depois e vai além dele, portanto, perpassa a dimensão do finito e
o extrapola rumo ao infinito. Para Rahner, essa estrutura a priori não é lógica, como
pretendeu Kant, mas sim ontológica, tal qual reiterou Heidegger, ou seja, diz respeito ao
Ser, a existência.
De acordo com Rahner, o fato de existir já é em si um conhecimento prévio,
atemático, irreflexo, ainda assim, um conhecimento, uma pré-compreensão do Ser. Isso
porque, o homem se auto percebe como sendo antes mesmo de se ver em condições de
explicitar racionalmente tal percepção; simplesmente evidencia, sou, e não pode
negligenciar tal ocorrência.
Na direção daquilo que intencionou Heidegger, e projetando-se um pouco mais
além, Rahner consente que a existência é o modo peculiar por meio do qual o Ser em
Geral se manifesta na singularidade do ente humano. Existência é presença, é estar no
mundo enquanto pergunta, pois o Ser no qual o ente humano habita, não lhe assegura
todas as respostas, e ainda que o fizesse, estas não seriam suficientes para satisfazer o seu
desejo que extrapola os limites do mundo e de sua própria pele. Por isso, existir não é
simplesmente residir no Ser, mas sim, estar aberto as múltiplas possibilidades de Ser.
Existir é ser espírito no mundo em movimento, num dinamismo ontológico que tem como
meta algo que a imediatez da realidade não pode oferecer: completude, plenitude,
realização, sentido último para a existência.
Esse vazio originário é o que, de acordo com Rahner, abre possibilidades para que
o desejo humano de inteireza possa eventualmente encontrar respaldo em Deus. É essa
estrutura que torna o ser humano apto a, presumivelmente, acolher na liberdade a
autocomunicação divina em sua vida. É essa pulsão desejante, esse “existencial
sobrenatural”, por assim dizer, que remete o existente ao horizonte de um mistério supra
natural maior que ele mesmo. Por fim, é essa abertura fundamental que pode oportunizar
ao ser humano reconhecer o homem Jesus como sendo o próprio Deus se nos ofertando
em uma realidade humana, portanto, ápice de sua revelação histórica.
Para Rahner, em última instância, a transcendentalidade seria os vestígios de Deus
em nós, aquela marca identitária anterior a própria cultura, que nos confere estatuto de
dignidade e pessoa, a oferta de sua graça que, interpela-nos desde o âmago de nossa
existência a realizar aquilo que decisivamente importa em nossa vida: amar ao próximo,
aceitar confiantemente a morte (os limites humanos) e conservar a esperança. Segundo
Rahner, se o ser humano for capaz de atender a esses três apelos, e pôr para si a tarefa
histórica de realiza-los, então, independentemente dele conhecer ou aceitar a revelação
verbal de Deus em Jesus Cristo explicitamente, ele já fez a experiência da salvação; e a
terá feito desde o “existencial sobrenatural”, desde aquela graça que, aprioristicamente,
habita o mais recôndito de seu ser. Com isso, Rahner afirma que, fora da Igreja não apenas
pode, mas deve necessariamente haver salvação.
A partir dessa convicção é que o teólogo vai introduzir em sua reflexão teológica
o conceito de cristianismo anônimo. Segundo Rahner, participam dessa categoria todos
aqueles (as) que, embora não professem explicitamente a fé em Cristo, assumem com
coragem a sua existência e agem segundo as determinações de sua consciência, numa
decisão moral que vem ao encontro dos valores e princípios que balizam a ética cristã.
Com efeito, o cristianismo anônimo sofreu várias críticas por parte de muitos teólogos,
algumas procedentes, outras, nem tanto. Não obstante, polêmicas à parte, tal formulação
ofereceu uma chave hermenêutica importante para se pensar, naquele contexto
eclesiológico ainda por demais marcado pela máxima do extra eclesia nula salus, um
cristianismo mais aberto e dialogal, sensível ao valor da alteridade não-cristã, menos
dogmático, mais experiencial e humanista, cujo fundamento é a ética do amor que se
desdobra em condescendência e solidariedade.
Essa foi uma das maiores contribuições que a antropologia transcendental de Karl
Rahner ofereceu à teologia.

Segundo Rahner, o existencial sobrenatural é a graça gratuita de Deus que habita todo ser
humano, e desde o plano de sua existência fática, coloca-o irrefletidamente referido a um
mistério maior que ele próprio e que ultrapassa os limites de seu entendimento. Onde ele
se manifesta? Na transcendência, isto é, naquela típica tendência humana de, em tudo o
que diz, faz, pensa, deseja e realiza, pretender superar-se a si mesmo. Por que os liames
da física não bastam, mas é preciso fazer metafísica? Por que o dado biológico não é o
suficiente, mas é imprescindível forjar-se simbolicamente por meio da cultura, fazer-se
cultura? Por que o objeto de nosso desejo não é razoável, logo, vê-se necessário criar
fantasias em torno do mesmo? Por que procede à alegria de nossas realizações o trágico
da frustração pelo desejo realizado? Por fim, porque jamais nos damos por satisfeitos com
os nossos empreendimentos, porque não somos uma identidade perfeita conosco mesmo?
A resposta mais razoável seria: Porque, enquanto seres humanos, somos marcados por
uma pobreza fundamental, uma carência definidora, um vazio originário que nos dispõe
abertos em todos os níveis, inclusive, ao sobrenatural (para além do plano horizontal que
denominamos natureza, mundo, realidade).

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