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Análise semiológica enunciativa de

um registro do diário íntimo de


Frida Kahlo
Claudia Stumpf Toldo*
Romeu Carletto**

Resumo Primeiras palavras


Este é um estudo que se propõe Este texto traz uma reflexão sobre o
a analisar registros do diário ínti-
mo que a pintora Frida Kahlo pro- papel da língua, enquanto sistema de
duziu nos últimos dez anos de sua signos, em relação a outros sistemas
vida. Para sua análise, apoiamo-nos sígnicos, observando suas relações em
na perspectiva enunciativa da lin- registros selecionados do diário de Fri-
guagem, tendo como suporte o texto
da Kahlo, a pintora mexicana. Essas
“Semiologia da língua” (1969), escrito
pelo linguista da enunciação Émile relações são tratadas na perspectiva da
Benveniste. Nesse texto o autor de- Teoria da Enunciação, mais especifica-
fende a ideia de que toda semiologia mente em estudos de Émile Benveniste
de sistema não linguístico recorre
(1989), propostos no texto “Semiologia
à língua para sua interpretação, já
que essa “não pode existir senão na da língua” (1969). Questões como “Qual
e pela semiologia da língua” (BEN- o lugar da língua entre os sistemas de
VENISTE, 1989, p. 61). A língua é o signos” (BENVENISTE, 1989, p. 43) nos
interpretante de todos os sistemas, os
linguísticos e os não linguísticos. Este
trabalho objetiva, portanto, através *
Professora de Língua Portuguesa da Universidade de
da análise do corpus, evidenciar que Passo Fundo, atuando junto ao curso de Letras e ao
a língua é o único sistema capaz de Programa de Pós-Graduação – mestrado em Letras da
interpretar a si mesmo e interpretar mesma Universidade.
os demais sistemas de signos.
**
Licenciado em Espanhol (UFPR), especialista em Meto-
dologia e Ensino de Língua Espanhola (Vizivali) e mes-
tre em Letras – Estudos Linguísticos (UPF). Professor
Palavras-chave: Frida Kahlo. Diário. de Língua Espanhola na Faculdade Vizinhança Vale do
Signo. Língua. Enunciação. Iguaçu e no Colégio e Cursinho Alliança – Frontesul.

Data de submissão: mar. 2012 – Data de aceite: maio 2012

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motivaram a perseguir uma resposta, Frida Kahlo: a pintora que
tendo presente que quando lemos um
texto com diferentes linguagens fazemos se representa na e pela
um movimento de leitura com e entre linguagem
esses sistemas. Nesse texto de 1969,
o linguista exalta o lugar especial e de É de Frida Kahlo o registro que se
destaque que a língua ocupa entre os torna, neste trabalho, motivação para
sistemas semióticos pelo fato de poder responder à questão sobre o lugar da
interpretar os outros sistemas e também língua entre os sistemas de signos. Por
poder interpretar-se a si mesma. A rela- que pinturas dessa artista mexicana?
ção estabelecida entre esses sistemas é a Pela sua peculiar e singular história
relação de interpretância e tem origem como artista mulher que se representa
na faculdade metalinguística, que é a na linguagem usada em suas pinturas.
capacidade de criar um segundo nível de Eis algumas informações dessa menina-
enunciação, alcançado pela significância -mulher mexicana que “se pinta” na
da língua quando no discurso. própria obra.
Algumas atitudes nos orientam a Magdalena Carmen Frida Kahlo y
fazer este estudo: a) identificação dos Calderón nasceu em Coyoacán, então
dois modos de significação propostos distrito da Cidade do México, na manhã
por Benveniste (1989) – o semiótico, que do dia 6 de julho de 1907. Terceira das
deve ser reconhecido, e o semântico, que quatro filhas do fotógrafo Carl Wilhelm
deve ser compreendido discursivamente; (Guillermo) Kahlo (1872-1941) e de Ma-
b) descrição dos elementos verbais e não tilde Calderón y González (1876-1932).
verbais presentes no registro analisado; Guillermo e Matilde constituíam uma
c) construção de uma análise enunciati- família muito pobre, e o pai de Frida
va, em que o percurso adotado é fazê-la ganhava a vida fazendo fotografias. A
de maneira contextualizada, sendo que situação começou a melhorar quando
os níveis semiótico e semântico são anali- Guillermo foi contratado pelo governo
sados de maneira integrada, mostrando, mexicano para retratar e produzir um
enunciativamente, a descrição de outro inventário fotográfico dos monumentos
sistema sígnico que não a língua. Acre- arquitetônicos pré-colombianos. “Guil-
ditamos que essa postura metodológica lermo Kahlo foi escolhido para o projeto
adotada proporciona uma descrição do graças a sua experiência” (KETTEN-
sentido de um texto. MANN, 2006, p. 8). Com o advento da
Revolução Mexicana, Guillermo perdeu o
emprego e teve dificuldades para susten-
tar a família. Foi Matilde quem passou a
sustentar a casa, vendendo seus móveis
e objetos e alugando quartos da ampla

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casa para solteiros de passagem. Matil- alemã no México, em 1922 passou a
de ocupou um espaço muito pequeno na frequentar a Escola Preparatória Na-
vida afetiva de Frida. Era uma mulher cional do Distrito Federal do México.
dura, apagada, amargurada, justamente Nessa escola, afloravam grupos denomi-
o oposto do representado por seu pai, um nados pandillas,2 que se dedicavam aos
artista, frágil e irrealista. mais diferentes interesses e atividades,
Ainda na infância, quando estava como a história, a literatura, a filosofia e
com seis anos, Frida contraiu poliomie- outros campos do saber. Frida juntou-se a
lite, sendo essa a primeira enfermidade um deles, os cachuchas,3 grupo que tinha
séria que afetou sua vida. A doença intensa atividade de leitura e apoiava as
provocou uma lesão na perna direita, ideias socialistas. No seio desse grupo,
deixando-a muito magra e fina, e outra Frida ensaiou as primeiras obras da pin-
lesão no pé esquerdo, que ficou atro- tura, mas algo totalmente despretensioso
fiado. A partir disso, começou a usar e que ela própria considerava como hor-
calças, depois, longas e exóticas saias, ríveis, por isso as destruiu. Também era
que se tornaram uma de suas marcas integrante desse grupo Alejandro Gómez
registradas, mas que, no fundo, tinham Arias, namorado de Frida.
um único e firme propósito: esconder as Em 1923, Diego Rivera, já um reco-
sequelas físicas que a poliomielite havia nhecido pintor, foi contratado pelo Mi-
deixado. Nessa época, ficou conhecida nistério de Educação para produzir seu
na escola como “Frida perna de pau”, o primeiro grande mural, La creación, no
que, sem dúvida, foi algo que a magoou anfiteatro Bolívar, o auditório da Escola
profundamente (HERRERA, 2004). Preparatória, onde aconteceu o primeiro
Com dificuldade para fazer amigos, encontro entre Diego e Frida (HERRE-
passou a adolescência numa grande RA, 2004). Foi o encontro que mudou
solidão. A falta de amigos reais aguçou para sempre a história dos dois. Para a
a imaginação de Frida e ela começou pintura desse mural, servia de inspira-
a criar amigos imaginários. Foi nessa ção a Diego uma modelo com quem ele
época que passou a conviver com a “Fri- tinha um caso. Os jovens cachuchas,
da imaginária”, retratada no quadro de por detrás das pilastras do auditório,
1939, “Las dos Fridas”.1 Tal tema é, por gritaram o nome da esposa de Diego,
ela, retomado em 1950, quando, em seu Lupe Darín, com o único propósito de
diário, justifica a pintura desse que foi provocar o pintor.
um dos quadros que acabou se tornando Até setembro de 1925, não fazia parte
um dos mais famosos pintados por ela. dos planos de Frida dedicar-se às artes,
Após acabar a instrução primária inclusive chegou a cogitar a possibilidade
no Colegio Alemán, que era a escola de, juntamente com Alejandro, mudar-se
para os Estados Unidos. Mas um grave

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acidente de bonde, nesse mesmo ano, até o final), o que ficou claro em muitos
no qual ela sofreu múltiplas fraturas, a dos seus quadros.
levou a várias cirurgias (trinta e cinco Na segunda metade da década de
ao todo) e a deixou com lesões perma- 1930, exposições com obras da pintora
nentes, principalmente na coluna. Foi foram organizadas em Nova Iorque, nos
nessa dolorosa convalescença que Frida Estados Unidos, e em Paris, França.
começou a pintar freneticamente (HER- Porém, a primeira exposição individual
RERA, 2004). da obra de Frida em solo mexicano só
Em 1928 aconteceu o segundo en- aconteceu na primavera de 1953 e foi
contro entre Frida e Diego. Ele pinta- organizada por uma amiga fotógrafa,
va alguns afrescos e em uma dessas Lola Alvarez Bravo. Mesmo contrarian-
oportunidades foi procurado por Frida, do os médicos, Frida foi levada para a
que, ousadamente, queria mostrar-lhe abertura da exposição, festejou junto
algumas telas. De imediato Diego não aos convidados, bebendo e cantando,
a reconheceu, mas ao descer se deparou apesar da visível debilidade em que já
com uma jovem já com o corpo transfor- se encontrava.
mado em mulher e que em nada lembra- Algum tempo depois da exposição,
va aquela menina franzina do episódio já não aguentando as dores na perna
da Escola Preparatória. O contato entre direita, os médicos decidiram amputá-
ambos passou a ser mais constante e -la até o joelho e implantaram uma
nesse mesmo ano Frida entrou para o perna artificial. As dores diminuíram e
Partido Comunista Mexicano, do qual a prótese permitiu, cinco meses após a
Diego já era militante. O namoro não cirurgia, pequenas caminhadas. Porém,
demorou a começar e, no ano seguinte, essa operação deixou Frida numa pro-
se casaram. Diego já havia vivido mui- funda depressão, inclusive com Diego
to, tinha 42 anos, era pesado e grande. Rivera afirmando que ela “tinha perdido
Havia sido casado duas vezes e era pai a alegria de viver” (KETTENMANN,
de quatro filhos. Frida, com metade da 2006, p. 84). Os meses que se segui-
idade dele, tinha aspecto muito frágil. ram foram marcados por oscilações de
Impressionava a todos essa mistura, os humor. A amputação da perna rendeu
extremos que se aproximavam: a figu- muitos registros no diário, inclusive um
ra pequena e retraída de Frida com a dos mais célebres, em que se vê um pé
corpulência e aspecto gigante de Diego. partido, sobreposto ao outro, com a ins-
Apesar das traições do marido, a maior crição “para que preciso de pés se tenho
dor de Frida foi a impossibilidade de ter asas para voar”4 (KAHLO, 2008, p. 134,
filhos (embora tenha engravidado mais tradução nossa).
de uma vez, as sequelas do acidente a Afirmando “sentir que vou te deixar
impossibilitaram de levar uma gestação muito em breve” (KETTENMANN, 2006,

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p. 84), na noite anterior à sua morte, ponto de partida aqui é o pressuposto
Frida entregou ao marido um presente defendido pelo filósofo russo Mikhail
antecipado, pelas bodas de prata que co- Bakhtin, que considerou que a comuni-
memorariam em agosto de 1954. Na noi- cação se faz necessariamente por algum
te de 12 para 13 de julho, sete dias após gênero e que as atividades humanas se
seu 47º aniversário e convalescendo de interligam pelo uso da linguagem.
uma grave pneumonia, Frida morre na As condições específicas e finali-
Casa Azul. À embolia pulmonar foi atri- dades de cada esfera se refletem nos
buída sua morte, mas alguns acreditam enunciados e são marcadas pelo conte-
que ela possa ter tirado sua própria vida. údo do tema, pelo estilo de linguagem
No último registro encontramos: “espero empregado, e, ainda, pela construção
alegre a partida... e espero nunca mais composicional. Essas esferas citadas
voltar... Frida”5 (KAHLO, 2008, p. 160, por Bakhtin (2000) se referem, pois,
tradução nossa). Como não há data nesse a todas as possíveis atividades nas
registro, muitos acreditam na hipótese
quais os seres humanos possam estar
de suicídio, ao passo que outros dizem
envolvidos, sejam elas no meio familiar,
que essa passagem se refere à saída de
social, profissional, jurídico, religioso,
Frida do hospital, fato que comemorou
militar. Qualquer uma dessas esferas
muito, justificando o registro “alegre saí-
está ligada à utilização da língua, que
da” e “nunca mais voltar”. Satisfazendo a
é o único meio que torna possível a
um desejo da artista, o corpo foi cremado.
comunicação verbal.
As cinzas foram depositadas em um vaso
pré-colombiano e estão até hoje na Casa Algumas delas possuem maior, ou-
Azul, que foi transformada, um ano após tras, menor proximidade com as ativida-
a sua morte, em museu. Conservada des diárias dos indivíduos. Muitas ativi-
praticamente em seu estado original, foi dades corriqueiras do dia a dia seriam
aberta oficialmente como Museu Frida impensadas sem as distintas formas de
Kahlo, em 12 de julho de 1958. que dispomos para expressá-las. Como
expressaríamos nossos sentimentos,
Gênero textual: ideias, sensações? Como seriam a feira,
o espetáculo de teatro, a aula, um con-
um olhar sobre o diário de certo? De fato, fica difícil imaginar, por-
Frida Kahlo que, em síntese, como afirma Marcuschi
(2010, p. 22), “partimos do pressuposto
Para que possamos proceder à análise básico de que é impossível se comunicar
de um registro do diário de Frida Kahlo, verbalmente a não ser por algum gênero,
são necessárias algumas breves consi- assim como é impossível se comunicar
derações acerca dos gêneros textuais, verbalmente a não ser por algum texto”,
levando-se em conta que o diário se con- ou seja, de “que a comunicação verbal só
figura como um gênero textual. Nosso é possível por algum gênero textual”. Os

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gêneros textuais assumem, portanto, a des que talvez facilitassem sua definição,
responsabilidade, de modo concreto, da mas certamente contribuem de maneira
existência da língua. Sem contradizer a decisiva para estabilizar e normatizar as
unidade de uma língua, consideramos atividades comunicativas diárias. Uma
que o caráter e os modos de utilização da das principais características é a malea-
língua são tão diversos como as próprias bilidade que apresentam e a constante
esferas da atividade humana. relação com atividades sociodiscursivas.
Os gêneros textuais são atividades so- Essas estão presentes, inclusive, nas
ciodiscursivas que devem ser entendidas inovações tecnológicas, fato que é compro-
de forma abrangente e dinâmica, impli- vado quando comparamos a quantidade
cando a realização da linguagem através de gêneros hoje existentes a sociedades
de uma atividade de interlocução, por anteriores à comunicação escrita.
meio de algum código, em determinado Esses novos gêneros nem sempre
tempo e espaço ocupado pelo homem, ou podem ser classificados como “inovações
seja, a linguagem vista como uma ação, absolutas” (MARCUSCHI, 2010, p. 21),
atividade e interação correlacionando porque muitas vezes são apenas novas
as outras condições. Essas condições são roupagens a antigos gêneros. Veja-se o
a existência dos elementos indispensá- caso da carta e do e-mail, ou ainda do di-
veis num processo de comunicação, pois ário e do blog, que são utilizações muito
consideramos que nenhum ato de lin- similares enquanto forma de comuni-
guagem, seja a produção ou a recepção cação, mas que nem por isso deixam de
de texto, ocorre no vazio. Ao fazer seus apresentar suas peculiaridades e de pos-
registros num diário, a pintora Frida suírem características próprias. A esse
Kahlo expressa uma intencionalidade. fenômeno, essa roupagem nova a um
Não são, portanto, fortuitas quaisquer gênero antigo, Bakhtin (2000) chamou
que sejam as manifestações levadas a de “transmutação” de gêneros. Não pode-
cabo; são feitas considerando um inter- mos esquecer também daqueles gêneros
locutor, que pode ser outra pessoa ou o que simplesmente vão desaparecendo.
próprio sujeito que produziu esse texto. O romance de folhetim e a conversa da
Estamos habituados e familiarizados praça servem de exemplo.
com a ideia de que os gêneros textuais Com os novos gêneros se recriam
são fenômenos de origem histórica, inti- novos usos da linguagem e, de certa
mamente ligados à vida social e cultural. maneira, possibilitam a redefinição de
Marcuschi (2010) alerta para o fato de relações entre oralidade e escrita. Rei-
que os gêneros textuais não são entidades teramos que os gêneros textuais não
naturais (como são os elementos da natu- se definem por seus aspectos formais,
reza: animais, montanhas, árvores) que antes se distinguem por seus aspectos
nos permitiriam atestar certas proprieda- sociocomunicativos e funcionais.

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Um dos gêneros textuais pratica- foram, no início, manifestações públicas
mente tão antigo como a história da e comunitárias, cujo objetivo consistia
linguagem humana e que vem sofrendo em narrar acontecimentos inerentes a
uma “transmutação” (BAKHTIN, 2000) um grupo social ou feitos históricos de
é o gênero diário. Para Carmen Pimentel determinados personagens de certas
(2011, p. 730), “o instinto autobiográfico comunidades: diário de bordo, diário de
é tão antigo quanto o ato de escrever, já guerra, diário de classe. Para Lejeune
que se constitui a partir de um dos atos (2008), a intimidade no gênero, além de
de fala básicos que é a narração”. O ato ter entrado apenas mais tarde, não passa
de contar histórias está presente na de uma modalidade secundária e a im-
vida do homem desde seus primórdios. plicação do adjetivo “íntimo” geralmente
O estudioso espanhol Villanueva (apud é justaposto apenas e tão somente para
PIMENTEL, 2011) argumenta que nar- diferenciar-se da escrita cotidiana.
rando acontecimentos o homem explica Os diários íntimos ganharam força
seu passado e seu presente, aventura-se e popularidade com a publicação dos
pelo futuro, justifica seus atos, é verda- diários de alguns escritores ingleses,
deiro ou mentiroso, responsável ou não. no final do século XVIII e início do
A origem do termo diário é a mesma XIX, quando motivados pelos estudos
do termo jornal e, segundo a pesquisa- de Freud sobre o consciente e o incons-
dora norte-americana Cinthia Gannett ciente. Os diários converteram-se em
(apud OLIVEIRA, 2002), o latim é a instrumentos de autorreflexão. Nessa
origem de ambos e significa dia ou di- época adquiriram uma conotação mais
ário, referindo-se à dia de trabalho, de feminista, por serem, em sua maioria,
viagem ou à entrada diária de informa- produzidos por mulheres motivadas
ção. Jornal é derivado do francês antigo pelo surgimento do romantismo como
journal, que significa diário, que por sua movimento cultural.
vez deriva do latim diurnal, de/ou per- Uma das definições usadas para
tencente ao dia. Para Lejeune (2008), o especificar o conceito de gênero textual
termo nos diz, em primeiro lugar, que é que é comum a muitos autores, a exem-
uma escrita cotidiana. Os primeiros re- plo de Motta-Roth (2008), é a de que os
gistros de uso dos termos datam da me- gêneros textuais “são usos da linguagem
tade do século XIV e estão relacionados associados a atividades sociais” e “essas
aos livros e serviços religiosos contendo ações discursivas são recorrentes e, por
as horas do dia. O caráter privado do isso, têm algum grau de estabilidade na
diarismo6 modelou o conceito com o qual forma, no conteúdo e no estilo”. O diário
conhecemos hoje o gênero diário, mas se constitui em um gênero textual à me-
Rosa Meire Carvalho Oliveira (2002) de- dida que nele encontramos a linguagem
tectou em suas pesquisas que os diários escrita manifestada através da visão do

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seu autor. Possui características próprias uma espécie de “duplo”, onde o escritor
que o determinam como gênero, princi- diria a si mesmo verdades inconfessá-
palmente pela forma como é escrito, pois veis, optando por realizar um diálogo
se trata do registro de relatos intimistas com ele mesmo, ao invés de estabelecer
que têm a ver com os acontecimentos diálogos com outras pessoas. Para Blan-
relacionados ao seu autor, que imprime chot (2005, p. 275), “o diário está ligado à
o seu estilo, externando um conteúdo estranha convicção de que podemos nos
geralmente inacessível aos demais, o observar e que devemos nos conhecer”.
que caracteriza o diarismo como uma O diário apresenta ainda a possibilidade
atividade da esfera privada. de se resgatar em registros antigos as
Os diários são considerados registros marcas e sensações de acontecimentos
íntimos, privados e, em alguns casos, passados. Isso se dá pela ocorrência de
inconfessáveis. Em raros casos, alguns outra característica desse gênero: o uso
autores escrevem seus diários com o ob- de datas nos registros.
jetivo de posterior publicação. De acordo A liberdade que o autor tem na sua
com Sarah Lowe (2008, p. 25), o diário de produção e na expressão de sentimentos,
Frida Kahlo “constitui a expressão mais emoções e pensamentos também carac-
íntima da artista” porque nunca teve a teriza o diário, pois os textos produzidos
intenção de publicá-lo, e o considera “uma são de caráter informal e íntimo, nos
série de anotações de caráter estritamen- quais o sujeito reproduz experiências
te pessoal realizadas por uma mulher”. vividas e situadas em um tempo e lugar
A menina alemã Anne Frank iniciou os determinados. Os diários classificam-se
registros em seu diário meramente para ainda como um dos gêneros da literatura
satisfação pessoal, mas, após ouvir um autobiográfica nos quais o autor registra
membro do governo holandês na televisão vivências e sentimentos frente ao mun-
falando que esperava reunir, terminada a do que o cerca. É daí que provém seu
guerra, relatos de testemunhos oculares caráter intimista e confidente. O diário
desta, decide pela continuidade da escrita apresenta-se como um testemunho do
do seu diário com esse propósito, de pos- cotidiano, como no caso de Frida Kahlo,
terior divulgação. cujos registros não são necessariamente
Oliveira (2002) chama a atenção para diários e geralmente são feitos através de
o fato de que não são todos os diaristas narrações, de palavras soltas, de poemas,
que têm a preocupação de escrever para de colagens e de pequenos desenhos,
um outro. Boa parte escreve para os pró- podendo ainda apresentar descontinui-
prios olhos, quando o diário funcionaria, dades. Ou seja, em alguns momentos o
então, como uma audiência implícita, registro é constante e diário, noutros,
num processo investigativo do eu. Fun- esparsos e aleatórios. Em determinadas
cionaria, dessa forma, como um alterego, épocas, faz questão de registrar diaria-

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mente suas impressões, enquanto em No entendimento de Barbisan e
outras, passa longos períodos sem fazer Flores (2009, p. 10), “a língua é só uma
nenhuma anotação. Através desses parte da linguagem, é seu produto social,
registros escritos e pictóricos a artista e, como tal, é compartilhada pela comu-
manifestou fatos, desejos e emoções, nidade de fala por meio de um contrato
que puderam ser conhecidos e aprecia- que se estabelece entre seus membros”,
dos porque estavam reunidos sobre um ao contrário da fala, que é a utilização da
determinado suporte: o caderno de capa língua. A língua é homogênea, enquanto
vermelha e letras douradas, publicado, a fala tem caráter livre. Assim, a fala não
posteriormente, como o Diário íntimo de pode ser objeto da linguística, mas sim a
Frida Kahlo. língua, sendo a primeira subordinada à
segunda. Para Barbisan e Flores (2009),
Enunciação: uma há uma estreita relação entre língua e

perspectiva de análise fala, e ainda que a língua possa ser es-


tudada separadamente da fala, esta vem
Desde que Charles Bally e Albert Se- antes e merece a estruturação de uma
chehaye juntaram as anotações dos cursos linguística própria. Saussure não priori-
promovidos por Ferdinand de Saussure, os za a língua nem a eleva em importância
quais resultaram na publicação do CLG à fala, inclusive, para ele, “a fala é que
(Curso de linguística geral), os assuntos re- faz evoluir a língua” (CLG, 1995, p. 27).
lacionados à linguística se desenvolveram Saussure apenas estabelece a primeira
de maneira expressiva e deram origem a como objeto de estudo da linguística en-
outros estudos cada vez mais específicos. quanto ciência. Defende a ideia de que
Para o professor Valdir do Nascimento a fala deve ser estudada e investigada,
Flores (2009), o CLG é responsável por justamente pela proximidade que tem
alçar a disciplina linguística à condição de com a língua. O estudo da linguagem
ciência em função, basicamente, pelo fato divide-se, assim, em duas partes: a que
do CLG ter circunscrito um objeto e um tem como objeto a língua e a que tem
método para a disciplina. Saussure, nos como objeto a fala.
cursos que ministrou, optou pelo estudo De acordo com Flores et al. (2009),
da língua, primeiro aspecto da linguagem, os estudos envolvendo a Teoria da
definindo-o como objeto da linguística, Enunciação partem do princípio de que
porque, ao contrário da fala, que é uma a definição de linguagem, sob os dois
manifestação individual, a língua é vista aspectos defendidos pela teoria saus-
como um sistema, como norma para as suriana, língua e fala, foram ao longo
manifestações da linguagem, e, portanto, do tempo muito produtivos, passando
pode ser estudada cientificamente. por transformações, reinterpretações e
expansões, de maneira que os estudos

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enunciativos se voltam para o objeto da pontuar a importância do componente
linguística. Porém, segundo Flores e Tei- semiológico na cena enunciativa. Fator
xeira (2008), isso não significa que haja esse determinante, em se tratando de
uma identificação completa e, dentre os analisar um registro escrito e pictórico
autores da enunciação, percebe-se um do diário íntimo de Frida Kahlo.
movimento de conservação e de alteração Benveniste, nascido Ezra Benveniste
referente ao pensamento saussuriano. em 1902, em Alep, na Síria, naturaliza-
O uso dos termos teorias da enun- -se francês em 1924, quando passa a
ciação (no plural) ou linguística da adotar o nome de Émile Benveniste.
enunciação (no singular), para Flores Foi aluno de Antonio Meillet (que fora
e Teixeira (2008), serve para esclarecer aluno de Saussure), inclusive sucedendo-
que há uma diversidade nos estudos -o no Collège de France, na disciplina
que nos permite pensar em mais de de Gramática Comparada. Também foi
uma teoria nesse campo, mas que todas professor na École Pratique des Hautes
têm traços comuns que referenciariam o Études (FLORES et al., 2009). Escreveu
uso do termo linguística da enunciação, entre os anos de 1930 e 1970 aproxi-
por abarcar os estudos dessas teorias. madamente trezentos trabalhos, entre
Segundo Flores e Teixeira (2008), todas artigos e livros. Foi um gramático compa-
as teorias têm, em comum, três aspectos ratista muito respeitado e talvez tenha
principais: a heterogeneidade do campo sido mais conhecido no seu tempo pelos
da enunciação, isto é, todas as teorias da seus trabalhos no comparativismo do
enunciação remetem, para concordar ou que como linguista. Dentre seus escritos,
discordar, a Saussure; todas estudam o encontramos dezoito artigos escritos, du-
sentido (por isso algumas chamam de rante mais de quarenta anos, que tratam
semântica da enunciação); todas são sobre linguística. Esses artigos são publi-
descritivas (estudam o particular) e cados em dois momentos (dois volumes)
explicativas (estudam o universal), têm sob o nome de Problemas de linguística
corpus, fazem análises, descrevem, dão geral, doravante denominados PLG. A
sempre exemplos muito detalhados. publicação do Problemas de linguística
Assim, qualquer um dos teóricos geral I data de 1966 e do Problemas de
da enunciação poderia embasar nosso linguística geral II de 1974.
estudo, porém optamos pelos estudos Benveniste é considerado linguista da
desenvolvidos por Émile Benveniste, enunciação por ser o principal linguista
por acreditar que esse autor consegue da teoria que passou a ser conhecida
descrever de forma clara e produtiva como Teoria da Enunciação e, muito pro-
aspectos comuns às teorias da enuncia- vavelmente, foi o primeiro que, baseado
ção e ainda prioriza em seus estudos a no quadro saussuriano, desenvolveu pes-
presença do homem na língua, além de quisas e estudos de análise da língua com

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sua especificidade voltada à enunciação ce e do conceito de semiótica esboçado no
(FLORES; TEIXEIRA, 2008, p. 29), CLG, e faz um questionamento: qual é
levando-nos a crer, inclusive, que forma o lugar da língua entre os sistemas de
e sentido têm profunda relação com lín- signos? Estudos já mostraram que Pierce
gua e fala. Benveniste registra que esse e Saussure trabalharam praticamente de
tema parece convir mais a um filósofo do forma simultânea, mesmo sem um ter
que a ele, que, evidentemente, aborda conhecimento do outro, objetivando esse
o tema como linguista, entretanto, não esclarecimento. Pierce trabalhou com a
de um ponto de vista comum à maioria, divisão dos signos em ícones, índices e
já que esse parece não existir. Segundo símbolos, não tendo ele nenhum traba-
Benveniste (1989), o estudo do sentido foi lho específico voltado à língua, à qual
considerado, durante muito tempo, como não dispensou atenção especial nem se
uma tarefa que escapava à competência interessou pelo seu funcionamento, até
do linguista. Hoje, embora essa visão porque para ele o signo é a representa-
não permaneça, persistem noções vagas ção de algo que está no mundo e não de
e mesmo inconsistentes relacionadas algo que se forja no discurso. Segundo
ao que tradicionalmente se chama de Benveniste (1989), Pierce defendia a
semântica. ideia de que a língua está em toda parte
Retomando nossa motivação inicial e em nenhum lugar, sendo reduzida às
– responder à pergunta sobre o papel palavras, observadas como signos, mas
da língua entre os sistemas sígnicos – não pertencentes ao domínio de uma
debruçamo-nos, especificamente, sobre categoria distinta.
o texto de 1969 de Benveniste que traz Com referência à língua, Pierce não
a reflexão de que a condição única da se preocupou em formular nada espe-
língua entre os sistemas de signos é a cificamente, pois essa se reduzia às
sua condição de interpretante dos de- palavras, que não deixam de ser signos,
mais sistemas. A língua ocupa esse lugar mas que “não são do domínio de uma
especial porque é o único sistema que categoria distinta ou mesmo de uma es-
pode interpretar-se a si mesmo e ainda pécie constante” (BENVENISTE, 1989,
interpretar os demais. Esse pressuposto p. 44), pertencendo, em grande parte, aos
é defendido por Benveniste no artigo “Se- símbolos. Nessa construção semiológica,
miologia da língua” (1969) em Problemas edificada por Pierce, faz-se necessária
de linguística geral II, de 1974/1995. uma diferença entre signo e significado,
Essa escolha se deu porque acreditamos evidenciando a necessidade de que todo
que ele oferece condições de embasar a signo seja “tomado e compreendido em
análise do corpus selecionado. Nesse ar- um sistema de signos” (BENVENISTE,
tigo, Benveniste (1989) parte do conceito 1989, p. 45), resultando como condição
de semiótica defendido por Charles Pier- da significância e que, ao contrário do

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que pensava Pierce, todos os signos não cupação de definir o objeto da linguística,
podem funcionar identicamente, nem Saussure propôs a separação de língua
pertencer a um sistema único, sendo e de linguagem, elencando alguns mo-
necessários outros sistemas de signos e tivos que justificam tal opção. Leva em
entre eles a implicância de uma relação consideração de maneira decisiva que
de diferença e de analogia. enquanto a linguagem é multiforme e
No CLG, definiu-se como objeto da heteróclita, não possibilitando sua classi-
linguística o estudo da língua que vem ficação entre os fatos humanos e aferição
em direção oposta à de Pierce, pois para de unidade, a língua ocupa o primeiro
Saussure “a reflexão procede da língua lugar entre os fatos da linguagem e per-
e toma a língua como objeto exclusivo” mite um princípio de classificação. E é o
(BENVENISTE, 1989, p. 45), conside- princípio de unidade que ocupa em gran-
rada por ela mesma e com três funções: de parte as preocupações e esforços de
descrever sincrônica e diacronicamente Saussure, pois a redução da linguagem à
as línguas, depreender as leis gerais que língua permite apresentar a língua como
operam essas línguas e delimitar-se e princípio de unidade e situá-la entre os
definir-se por si mesma. Benveniste tem fatos humanos (BENVENISTE, 1989,
suas ideias ligadas às do mestre genebri- p. 47). São os princípios de unidade e de
no, ainda que não seja deste um seguidor classificação que introduzem a semiolo-
stricto sensu, pois teria mostrado que gia nos estudos de Saussure, e ambos
o sistema linguístico poderia levar em são necessários para fundar a linguística
conta os fenômenos da enunciação sem como ciência, afinal, não há ciência sem
deixar de ser um sistema, aceitando, um objeto e que seja imprecisa quanto
dessa forma, a língua enquanto estrutu- ao seu domínio.
ra formal a ser analisada em diferentes A linguística faz parte de uma ciên-
níveis (merismas ou traços distintivos, cia maior que ainda não era clara e que
fonemas, signos e frases). Com isso, deveria ocupar-se de outros sistemas
leva em conta a natureza articulada da integrantes e pertencentes também aos
linguagem e o caráter discreto de seus fatos humanos: a semiologia. Esta é uma
elementos (CARBONI, 2008), ressaltan- ciência que estuda a vida dos signos no
do a singularidade da língua entre todos seio da vida social e dela faz parte qual-
os objetos da ciência, pois a linguística quer signo que expresse alguma ideia
é a única das ciências que consegue ou que tenha algum sentido. Quanto à
“delimitar-se e definir-se a si própria” linguística, não é nada mais que uma
(BENVENISTE, 1989, p. 46). parte dessa ciência maior, e o papel do
Essa condição determina o caráter linguista é definir o que faz da língua um
peculiar que estabelece que uma lin- sistema especial no conjunto dos fatos se-
guística passe a ser possível conhecer-se, miológicos (BENVENISTE, 1989, p. 48)
estabelecendo seu objeto. Quanto à preo- e, se pela primeira vez a linguística pôde

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ocupar um espaço entre as ciências, valores opositivos e genéricos. Esse nível
isso foi motivado pela sua relação com é chamado por Benveniste de semiótico
a semiologia. e “não interessa a relação do signo com
Para Saussure, “o signo é antes de as coisas denotadas, nem da língua com
tudo uma noção linguística, que mais o mundo” (FLORES; TEIXEIRA, 2008,
largamente se estende a certas ordens de p. 31). A atividade do locutor que coloca
fatos humanos e sociais” (BENVENIS- a língua em funcionamento é o segundo
TE, 1989, p. 49). A língua é independente modo de significação, ao qual Benveniste
dos mecanismos fono-acústicos e consiste chama de semântico.
em um sistema de signos, no qual, de es- Ao afirmar que o “papel do signo é o de
sencial, só existe a união do sentido e da representar, o de tomar o lugar de outra
imagem acústica. É justamente isso que coisa evocando-a a título de substituto”
difere a língua de outros sistemas, pois o (BENVENISTE, 1989, p. 51), o autor
signo linguístico é o único que consegue quer alertar para a necessidade de se
explicar-se por si próprio. Isso não acon- implementar uma ciência que estude
tece com nenhum outro sistema. Saus- os signos, a semiologia, afinal, em mui-
sure atenta para a tarefa da ciência, que tas atividades do nosso dia a dia, e em
ele chamou de ciência futura, ou seja, a muitas outras situações de nossa vida,
que se encarregasse de definir o próprio recorremos ao uso de algum signo, que
signo e as leis que o regem, e evidencia a podem ser os de linguagem, de escrita,
relação da linguística com a semiologia, de cortesia, de trânsito, religiosos e mo-
justificando tal ligação à arbitrariedade netários. Para Benveniste (1989, p. 52),
do signo (BENVENISTE, 1989). Essa “nossa vida está presa em redes de sig-
é, para o autor, a questão primordial: nos”. Isso significa dizer que a convenção
o signo é arbitrário. Diferentemente do que há em torno deles pode pôr em perigo
que acontece com outros signos, cujo uso a sua significação se algum deles for
se convenciona, o signo linguístico não substituído, e o seu surgimento parece
obedece a uma hierarquia. ocorrer em função de uma necessidade
Com isso, Benveniste (1989) define interna veiculada a uma necessidade de
signo como elemento de dupla articula- organização mental.
ção, cuja unidade (por pertencer ao todo Qualquer sistema semiológico tem
que é a linguagem) é submetida (porque características peculiares identificadas
se limita à ordem da significação) a uma através do seu modo operatório, que
ordem semiótica. Nessa visão, Benvenis- tem a ver com a operacionalização deste
te refere-se ao primeiro modo de signifi- modo, ou seja, do seu funcionamento
cação correspondente ao nível intralin- quanto ao sentido que pretende atingir,
guístico, em que cada signo é distintivo seja visual ou auditivo. É através do
e se organiza paradigmaticamente, com tipo de funcionamento que a relação

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que afere união aos signos lhe garante que o integra” (BENVENISTE, 1989,
distinção frente aos outros sistemas p. 54), não havendo, portanto, signo
(BENVENISTE, 1989). Algumas dessas trans-sistemático.
características podem sofrer variação Apesar dessa independência aparen-
numa situação peculiar, mas “a nature- te, os sistemas de signos não são neces-
za dos signos não pode ser modificada sariamente sistemas fechados, e para
senão temporariamente e por razões de que exista interdependência é preciso
oportunidade” (BENVENISTE, 1989, primeiramente “que a relação coloca-
p. 53), de maneira que um sistema da entre sistemas semióticos seja ela
não pode ser substituído por outro sem própria de natureza semiótica” (BEN-
alterar seu sentido ou sem recorrer a VENISTE, 1989, p. 54), determinada
outro sistema que “explique” essa mo- pela ação comum em determinado meio
dificação. cultural, que é responsável pela produ-
Dessa forma, Benveniste (1989) ção e sustentação dos sistemas que lhe
apresenta um princípio relacionado às são próprios. Ainda assim tem relação
relações entre sistemas semióticos: o de de natureza externa, pois não implica a
não redundância entre os sistemas. Quer necessária coerência entre sistemas. Há
ele dizer com esse princípio que “não há outra condição, a que determina se um
‘sinonímia’ entre sistemas semióticos” (p. sistema semiótico pode se autointerpre-
53). Sistemas diferentes não podem dizer tar ou se ele deve receber a interpretação
a mesma coisa, pois cada um tem uma de outro sistema. É o que Benveniste
base diferente de significar. Sendo assim, (1989, p. 54) chama de “relação semiótica
dois sistemas semióticos diferentes não entre sistema interpretante e sistema
podem ser mutuamente conversíveis, interpretado”. Esta relação permite po-
não resultam numa mesma significação, sicionar os signos em signos da língua
ainda que tenham traços comuns. Para e signos da sociedade. Os da sociedade
Benveniste, “a não-conversibilidade podem ser interpretados pelos signos da
entre sistemas de base diferentes é a língua e jamais o inverso, sendo a língua,
razão da não-redundância no universo dessa maneira, “o interpretante da socie-
dos sistemas de signos” (BENVENISTE, dade” (BENVENISTE, 1989, p. 55) e que
1989, p. 54). Não há, portanto, sistemas garante à língua uma situação particular
distintos à disposição do homem que no sistema dos signos. Para Benveniste,
garantam a mesma relação de signifi- essa situação da língua compõe a base
cação, ainda que algum signo possa ser de uma teoria semiológica.
comum a dois sistemas, sem, entretanto, Benveniste, nesse estudo de 1969,
apresentar sinonímia, já que cada um pontua que o centro da problemática é
terá uma função distinta, “pois o valor de ocupado pela noção de unidade, e toda
um signo se define somente no sistema teoria que se propõe a ser reconhecida

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como tal não pode, jamais, esquivar-se de todos os sistemas, os linguísticos e os
dessa questão, porque “todo sistema não linguísticos.
significante deve se definir por seu Há algumas relações entre os sis-
modo de significação” (BENVENISTE, temas semióticos, e Benveniste, em
1989, p. 58), ou seja, reconhecer quais “Semiologia da língua”, nos apresenta
são as unidades usadas para produzir o três, dentre as possíveis. A primeira é
sentido e especificar a natureza do sen- a relação de engendramento, em que
tido produzido. A unidade e o signo têm um sistema pode engendrar outro, re-
características distintas, pois um signo sultante daquele. A segunda relação é
é sempre uma unidade, porém, uma uni- a relação de homologia, que estabelece
dade pode não ser um signo. Lembramos uma relação em ter as partes de dois
que a língua é feita de unidades, e as sistemas semióticos. Não é constatada,
unidades da língua são signos. mas instaurada nas relações entre siste-
Essa relação não é o que acontece com mas distintos. E a terceira é a relação de
alguns dos outros sistemas semióticos. interpretância, instituída entre um siste-
Nas artes, é a própria existência da ma interpretante e um sistema interpre-
unidade que serve para indagação, dada tado. Esta é considerada por Benveniste
a dificuldade para definir sua natureza, uma relação fundamental à medida que
pois, se tratarmos de cores, elas são de- os sistemas se dividem em sistemas que
signadas e não designam, é uma conven- articulam (pois manifestam sua própria
ção que atribui sentido às cores e as suas semiótica) e sistemas articulados (que
variações. É o próprio artista que, ao dependem de outros sistemas para
utilizar determinada cor ou tonalidade, expressar sua própria semiótica). “A
afere significação, criando uma semiótica língua é o interpretante de todos os sis-
própria e individual e nenhuma dessas temas semióticos” (BENVENISTE, 1989,
cores ou nuanças alcançadas encontra p. 62), pois nenhum outro sistema dispõe
equivalência em algum signo linguístico. de uma “língua” que possa caracterizar
Faz-se necessário descobrir a cada vez e interpretar seu sistema, a não ser a
os termos, ilimitados e imprevisíveis, própria língua, que tudo pode categorizar
reinventados a cada obra pelo artista, ao e interpretar, inclusive ela mesma. Eis a
passo que a significância da língua é a grande e fundamental peculiaridade da
significância mesma. Nenhuma semiolo- língua. Enquanto nenhum outro sistema
gia de qualquer manifestação artística é tem essa possibilidade, a língua consegue
expressa por sons, imagens, cores. Toda explicar-se por si própria. É o único sis-
semiologia de sistema não linguístico tema que não necessita recorrer a outro
recorre à língua para sua interpretação, sistema para explicar-se.
essa “não pode existir senão na e pela Mais que essa particularidade, a
semiologia da língua” (BENVENISTE, língua é a que mantém a sociedade
1989, p. 61). A língua é o interpretante unida. Os homens se unem e fundam

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a sociedade em função da relação que e não uma causa, pois a significação da
entre eles é estabelecida através da língua ocorre em função do que está nela,
língua. Só a língua possibilita essa inter- e nenhum outro sistema pode reproduzir,
-relação. Isso reforça a ideia defendida revestida que é de dupla significância,
por Benveniste de que “para determinar ou seja, nenhum outro sistema de signos
as relações entre sistemas semióticos, pode trazer o princípio da metalinguís-
estabelecemos que estas relações devem tica, interpretar-se a si mesmo e inter-
ser elas mesmas de natureza semiótica” pretar os demais.
(BENVENISTE, 1989, p. 63). A língua São dois modos distintos chamados
dispõe, seja na sua estrutura formal, seja de semiótico e semântico. Ambos podem
no seu funcionamento, de um modelo ser analisados separadamente, mas não
de sistema semiótico que se manifesta se pode separá-los, em função da unidade
pela enunciação (com referência a uma que constituem. O primeiro deles, o se-
situação dada, na qual “falar” é “falar miótico, “designa o modo de significação
de”), que é constituída formalmente de que é próprio do signo linguístico e que
unidades distintas (e cada uma dessas o constitui como unidade” (BENVE-
unidades é um signo), é produzida e NISTE, 1989, p. 64). Permite ao signo
recebida com o mesmo referencial pelos ser reconhecido quanto à sua forma e
membros da sociedade e é a única possi- servirá para afirmar sua própria signi-
bilidade de comunicação intersubjetiva ficância em meio a outros signos, sendo
entre esses membros. idêntico a ele mesmo, cuja existência
Com essas características se pode acontece quando passa a ser reconheci-
aferir que a língua é uma “organização do como significante pelos membros de
semiótica por excelência” (BENVENIS- determinada comunidade linguística.
TE, 1989, p. 63) e dá a ideia de função Já o segundo ocorre pelo discurso e é
de signo, sendo a única que oferece a decorrente do sentido que esse alcança,
partir dessa função uma fórmula exem- reconhecido na função da língua como
plar. Por isso, ela é o único sistema que produtora de mensagens. Não se pode
pode conferir a outros conjuntos o valor pensar a mensagem como “uma sucessão
de sistemas significantes na sua relação de unidades que devem ser identificadas
de signo. Esses conjuntos de sistemas separadamente” (BENVENISTE, 1989,
reproduzem os traços e os modos de ação p. 65). Não é, pois, a soma de signos que
determinados pela língua, considerada a produz sentido, o sentido é que é conce-
grande matriz semiótica com base na sua bido globalmente e realizado na divisão
função representativa, seu poder dinâmi- de signos (as palavras).
co e seu papel na vida de relações. Para Segundo Benveniste (1989), nessas
Benveniste (1989), esse lugar especial duas ordens distintas, o semiótico (signo)
atribuído à língua é uma consequência deve ser reconhecido e o semântico (dis-
curso) deve ser compreendido. “A diferen-

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ça entre reconhecer e compreender envia simbólicos, às formas de polidez, aos
a duas faculdades distintas do espírito: a sinais militares, entre outros sistemas,
de perceber a identidade entre o anterior sendo a língua o principal entre todos
e o atual, e a de perceber a significação de os sistemas, e não o único. Ainda de
uma enunciação nova” (BENVENISTE, acordo com Toldo (2010), a língua ocupa
1989, p. 66). Enquanto os outros sistemas um espaço particular no universo dos
têm significação unidimensional (semân- signos e os signos da sociedade podem
tico ou semiótico), a língua se apresenta ser interpretados pelos signos da língua,
como único sistema cuja significação é ar- não o inverso, sendo a língua o inter-
ticulada em duas dimensões (semântico e pretante da sociedade porque funciona
semiótico). É a faculdade metalinguística dentro dela.
a origem da relação de interpretância Benveniste considera, portanto,
que a língua estabelece frente a outros necessário “ultrapassar a noção saus-
sistemas, uma vez que é a única que se suriana do signo como princípio único”
autoexplica justamente por ser formada (BENVENISTE, 1989, p. 67), já que a ele
pelas duas dimensões de significação se atribuíam a estrutura e o funciona-
(forma e sentido). mento da língua. Esse processo decorre
Ao definir língua como sistema de da análise translinguística dos textos,
signos, Saussure estabeleceu o funda- através da elaboração de uma metasse-
mento da semiologia linguística, ainda mântica, e da análise intralinguística,
que devido à complexidade que a frase com nova possibilidade de significância
lhe apresentava, atribuiu essa à fala. (a do discurso). A que está ligada ao dis-
E se o signo corresponde às unidades curso é a semântica e a que está ligada
significantes da língua, não se pode ao signo, a semiótica.
atribuir a ele, unicamente, o funciona- Sobre a particular capacidade meta-
mento discursivo, pois “o signo é fechado” linguística da língua, que é interpretar-
(BENVENISTE, 1989, p. 66) e não há -se a si mesma e também interpretar
transição entre frase e signo, tampouco os outros sistemas, e, ainda mais, ser
se pode ignorar os dois domínios distin- o único sistema a conseguir essas duas
tos que comportam a língua. Cada um possibilidades de significância, é que
deles requer um aparelho conceitual: apresentamos, a seguir, um registro do
o semiótico tem como base a teoria de diário de Frida Kahlo cuja análise se
signo de Saussure e o semântico deve baseia na possibilidade de ser interpre-
ser reconhecido separadamente, neces- tado semiológica e semanticamente e,
sitando de novos conceitos e definições. por isso, enunciativamente.
Para Toldo (2010), Benveniste recupera
a definição de língua de Saussure como
sendo um sistema de signos que indicam
ideias, comparável, portanto, à escrita,
ao alfabeto dos surdos-mudos, aos ritos

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Análise: um olhar Esse registro apresenta um pé sobre-

enunciativo ao registro posto ao outro, ambos sobre uma espécie


de pedestal. O pé que aparece embaixo
de Frida Kahlo é o esquerdo e não apresenta a perna
correspondente, a parte visível é de sua
Apresentamos uma proposta de análi-
metade para frente. Sobre essa metade
se de um dos registros do diário íntimo de
se projeta o pé direito, que apresenta a
Frida Kahlo, cujo percurso textual obede-
ce ao que segue: a) descrição dos elemen- extensão da perna que chega até ao joe-
tos visuais do registro; b) descrição dos lho. Porém, percebe-se uma divisão, uma
elementos textuais do registro; c) análise rachadura que separa bruscamente o pé
enunciativa do registro, que compreende da perna. Do alto de sua extremidade,
analisar o registro por um percurso semi- saem riscos que lembram as artérias
ótico e semântico, de maneira integrada e veias, mas essas são representadas
e contextualizada, com base na Teoria por ramas espinhosas. Dos registros
da Enunciação e, especificamente, nos pictóricos do diário, esse desenho é, pro-
conceitos apresentados por Benveniste vavelmente, um dos que têm os traços
no artigo “Semiologia da língua” (1969). mais aprimorados e mais bem acabados.
O fundo é pintado na cor vermelha, e o
desenho dos pés pintado na cor amarela.
Nenhuma das duas cores apresenta vi-
vacidade, ambas são de um tom apagado
e não há uniformidade na cobertura da
folha pelas cores, percebendo-se falhas
esbranquiçadas. Abaixo do desenho, a
frase “Pies para qué los quiero si tengo
alas pa´volar” e o ano, 1953. Na nossa
tradução, “pés para que os quero se tenho
asas para voar”.
Trazemos para a leitura e a análi-
se deste registro conceitos singulares
presentes na reflexão teórica apresen-
tada no artigo “Semiologia da língua”,
de 1969, de Benveniste. Esse texto de
1969 é de especial interesse para nós,
na medida em que Benveniste afirma
que a língua é importante porque é
Fonte: Kahlo (2008). ela, e somente ela, que torna possível a
Figura 1 - El diário de Frida Kahlo – un sociedade. Não é possível conceber uma
íntimo autorretrato, 2008

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sociedade sem língua, pois é a língua que revelados e vamos familiarizando-nos
mantém juntos os homens. A língua “é o com o que encontramos. Ou seja, ao
fundamento de todas as relações que por nos depararmos com um diário, se não
seu turno fundamentam a sociedade”, conhecemos o contexto no qual ele foi
pois “é a língua que contém a sociedade” produzido, pode nos parecer um ambien-
(BENVENISTE, 1989, p. 63). te totalmente estranho, mas as informa-
Iniciamos esta análise com a ideia ções que vamos colhendo e as leituras
defendida por Lejeune (2008, p. 299) que vamos fazendo permitem que esse
de que “nenhum leitor externo poderá universo nos seja conhecido e, então, a
fazer a mesma leitura que o autor, em- partir dessas informações, analisá-lo.
bora leia justamente para conhecer sua Frida fez o registro em análise quan-
intimidade”. Essa ideia é compartilhada do os médicos decidiram amputar-lhe a
por Roland Barthes (1988), quando cita, perna direita até o joelho. Quando, na
dentre os motivos pelos quais alguém sua infância, Frida contraiu poliomielite,
poderia escrever um diário íntimo, que foi essa mesma perna que apresentou as
o autor poderia ter se constituído em sequelas da enfermidade e ficou mais
objeto de desejo, ou seja, alguém que fina do que a esquerda, fato que a levou a
nos interesse, que “possamos gostar de preferir usar calças a saias. Ao longo dos
conhecer a intimidade, a distribuição do anos e devido às inúmeras complicações
seu tempo, dos seus gostos, dos seus hu- resultantes da má circulação sanguínea,
mores, dos seus escrúpulos” (BARTHES, o pé direito desenvolveu gangrenas.
1988, p. 361). Quando os médicos apresentaram a
A intencionalidade com a qual Fri- decisão à Frida, ela recorreu ao diário e
da efetuou os registros em seu diário nele fez esse registro como um desabafo.
só pode (poderia) ser conhecida por Percebe-se que o que Frida faz é dialo-
ela mesma, porém os fatos conhecidos gar com o diário, ao desenhar e escrever
e relacionados à vida da artista e al- nele, e essa dualidade enriquece a troca
gumas marcas (como datas, nomes e de significados mantendo as caracterís-
escritas) por ela deixadas nos registros ticas do gênero, inclusive datando-o. O
permitem-nos fazer uma tentativa de uso da data é, para Lejeune (2008), uma
descrição enunciativa do registro ora das principais características do gênero
selecionado para este trabalho. Lejeu- diário, é a sua base, e é pouco usado nos
ne (2008) considera os diários iguais registros feitos por Frida, mas nesse,
a câmaras escuras, às quais se chega em especial, ela usa o ano, e o uso deste
vindo de um exterior iluminado, e, ao dêitico cronológico possivelmente sirva
se permanecer nesse ambiente por um para dar destaque ao fato vivido por ela.
tempo considerável, gradativamente, A escrita manuscrita e outras informa-
os contornos e as silhuetas vão sendo ções (como a data) encontradas no diário

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são consideradas por Lejeune (2008, p. instância de discurso. Este presente é
260) como “vestígios”, e o “vestígio” data reinventado sempre e em cada situação
não quer referir-se à passagem do tempo, de uso da língua, que atualiza o discurso
mas fixá-lo em um momento-origem. e ordena o tempo a partir de um eixo.
Esse momento, para Frida, traz a notí- Este eixo “é sempre e somente a instân-
cia de que teria sua perna amputada, e cia de discurso” (BENVENISTE, 1989,
o ano tem a função de informar o tempo p. 75), que, por sua vez, é sempre nova,
desse dado. Sabemos, pelas reflexões de atualizada pelo locutor.
Benveniste em seus estudos no decorrer Nesse registro, Frida usa os dois siste-
do PLG I e em PLG II, que a duração mas, visual e verbal, simultaneamente.
desse tempo, no homem, é infinitamente É o que Benveniste (1989) chama de
variável porque apenas o indivíduo tem segundo modo de significação, ou seja,
condições de medir, já que está direta- o modo semântico (quando a língua é
mente ligado ao “grau de suas emoções colocada em funcionamento), que nos
e o ritmo de sua vida interior”, sendo, permite, a partir da língua, interpretar
dessa forma, único e interior a cada ela mesma (sistema verbal presente
indivíduo (BENVENISTE, 1989, p. 71). no registro) e interpretar outros siste-
Benveniste (1989, p. 74) nos alerta mas (nesse caso, o sistema não verbal,
para o fato de que “uma coisa é situar pintura), ou seja, é a relação semiótica
o acontecimento no tempo crônico” que, entre sistema interpretante e sistema
nesse caso, é o ano de 1953, e “outra interpretado. Para Benveniste (1989),
coisa é inseri-lo no tempo da língua”, todo sistema sígnico tem um sistema
pois é pela língua que a experiência hu- semiótico, uma vez que todo e qualquer
mana se manifesta no tempo, esse tempo sistema de signos traz a possibilidade
linguístico, cuja singularidade está no de significância. Entretanto, apenas a
“fato de estar organicamente ligado ao língua tem a possibilidade de interpretar
exercício da fala, o fato de se definir e de linguisticamente esses sistemas, pois é
se organizar como função do discurso”. a língua o único sistema semântico que
O centro deste tempo é o presente da possibilita a atualização do semiótico
instância da fala. Benveniste esclarece e, por isso, a construção dos sentidos
que, quando o locutor emprega este é irrepetível. Para interpretar o regis-
tempo presente, e aqui trazemos para tro verbal “Pies para qué los quiero si
nossa análise, ou seja, quando Frida tengo alas pa´volar”, podemos usar a
Kahlo usa o verbo “querer” atualizado faculdade metalinguística da língua, ou
no presente (quiero = quero), ela auto- seja, a língua é o único sistema que pode
maticamente situa o acontecimento, a autointerpretar-se. Segundo a gramática
amputação de parte de sua perna, como de língua espanhola, o “que” é conside-
um acontecimento contemporâneo da rado pronome relativo e quando a ele é

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acrescentado o acento, assume função de autorizado a manejar a língua como
pronome interrogativo indireto ou pro- quiser” (LEJEUNE, 2008, p. 264). Fri-
nome exclamativo indireto. No registro da, além de manejar a língua, aliava-a
que estamos analisando, Frida acentua aos desenhos e pinturas, convertendo
o pronome relativo “qué”, aferindo, dessa seu diário num ponto de encontro de
forma, caráter de pronome interrogativo parte de sua híbrida produção. Frida se
indireto ou pronome exclamativo indi- instaurava e se enunciava como sujeito
reto a ele. Assim, podemos entender a nos registros do seu diário, o que, para
frase “Pies para qué los quiero si tengo Benveniste, é possível porque “é na lin-
alas pa´volar” como uma interrogação guagem e pela linguagem que o homem
que Frida faz ao seu interlocutor. Mui- se constitui como sujeito” (BENVENIS-
to provavelmente estivesse fazendo TE, 1995, p. 286). Essa capacidade do
o questionamento a ela mesma, pois, locutor instaura o que Benveniste (1995)
para Lejeune (2008, p. 261), é “para si chama de subjetividade, ou seja, a ca-
que se escreve um diário”. Ou estivesse pacidade do sujeito instaurar-se como
perguntando às demais pessoas, como se eu, e, ao fazê-lo, ao empregar este eu, o
buscasse a resposta que a conformasse faz para um tu. Frida instaura-se como
por mais essa perda. Ou, ainda, anali- eu, pois ela maneja, faz uso da língua,
sando pelo viés exclamativo, quisesse e assim se marca como eu falando para
Frida afirmar, também a ela ou às de- um tu. Nesse caso, converte seu diário
mais pessoas, que a amputação não lhe no tu, que é com quem estabelece o diá-
tiraria nem diminuiria a sua capacidade logo. O tu (diário) é instaurado nessa
artística. instância de discurso. Podemos pensar
Segundo Lejeune (2008, p. 263), os ainda na relação do ele, ou seja, da “não
diários funcionam também como “cam- pessoa”, pois o ele representa de fato “o
po de defesa” que auxiliam o diarista a membro não marcado na correlação de
resistir. Frida Kahlo aprendeu muito pessoa” (BENVENISTE, 1995, p. 282).
jovem o sentido do verbo da língua espa- O eu é quem fala para um tu, enquanto
nhola aguantar, que quer dizer suportar o ele é de quem se fala. Nesse registro, o
a dor. Os registros no diário, em especial ele pode ser a perna amputada de Frida,
este feito em referência à amputação da é “dela” que Frida “fala” no registro.
perna, também funcionam como suporte O registro visual apresenta os pés (o
para que a artista possa aguentar, su- que permanecerá com ela e o que lhe será
portar mais essa dor. Registrar no diário amputado) e a perna direita até a altura
pode representar busca por coragem e do joelho, o pedestal que serve de suporte
apoio. e as veias que saem da altura do corte,
O diário é, também, um espaço de em forma de ramas espinhosas e que
liberdade, no qual o diarista “se sente podem lembrar, ainda, arame farpado.

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O sentido desse registro é definido pelo como os pés são para os bípedes. Frida,
verbal, ou seja, o verbal define o valor inclusive, nesse registro, desenhou os
semântico do não verbal, demonstrando dois pés como se fosse um par de asas.
mais uma vez que é apenas pela língua Quanto à significação para o modo
que podemos interpretar outro sistema semântico, Benveniste (1989) afirma que
de signos não linguísticos. Temos aqui essa ocorre pelo discurso e é decorrente
dois modos distintos de significação que do sentido que o discurso alcança, reco-
podem ser analisados separadamente, nhecido na função da língua como produ-
mas que não podem ser separados. O se- tora de mensagens. Portanto, o sentido
miótico “designa o modo de significação semântico de asas, nesse registro feito
que é o próprio signo linguístico e que o por Frida no seu diário, representaria
constitui como unidade” (BENVENISTE, as condições de se fazer determinadas
1989, p. 64) e permite ao signo ser reco- atividades que não ficam impossibilita-
nhecido quanto à sua forma. A imagem das com a perda de parte da perna, por
semiótica dos pés representa a condição exemplo, pintar. O sentido semântico
de nos mantermos, com eles – os pés, que asas adquirem é uma manifestação
em pé e a capacidade que temos de nos de que a perda de um dos pés não pôde
locomover, usando-os. Essa representa- retirar-lhe a capacidade criativa, já que,
ção nos ajuda a construir esse sentido historicamente, as asas são símbolo de
através da enunciação, já que ela nos liberdade, e a imaginação e a paixão
possibilita reconhecer uma mesma for- são o que permitem a qualquer pessoa
ma da língua em diferentes discursos, “voar”. É a enunciação que nos permite
mas com sentido(s) único(s) definido(s) construir esse sentido semântico. É essa
em cada enunciação. Frida precisava relação (semiótico-semântico) na lingua-
dos dois pés para manter-se em pé, em gem da enunciação que possibilita que
equilíbrio. Essa significação alcançada alcancemos essa significação. As asas da
pelo signo “pés” serve para afirmar sua imaginação permitem visitar e habitar
própria significância em meio a outros mundos distintos. Frida habitava um
signos, cuja existência, para Benveniste mundo cujo meio de acesso era a imagi-
(1989), acontece quando o signo passa a nação, a sua criatividade. O semântico,
ser reconhecido como significante pelos portanto, deve ser compreendido, ao pas-
membros de determinada comunidade so que o semiótico deve ser reconhecido.
linguística. Já as asas possuem um sen- Isso significa dizer que esses dois modos
tido semiótico e outro sentido semântico. de significar da língua são reconhecidos
O sentido semiótico é representado pela e entendidos a partir da enunciação que
capacidade que as asas conferem aos ani- se recorta para observar, neste caso, do
mais que as têm, levando-os a todos os olho do analista.
lugares e servindo de meio de locomoção,

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Ter asas pode, ainda, significar oti- da Frida, sensível e triste, convocando o tu
mismo diante das adversidades e dificul- (agora o leitor) para viver com ela, a Frida,
dades físicas que a amputação impunha e partilhar esse momento de sofrimento.
à artista, representando uma particular Temos aqui as categorias da enunciação,
forma de interpretar esse momento. Já constituindo o registro analisado. Ora o eu
haviam sido tantos os momentos de dor se apresenta num locutor, ora em outro.
e de perda que esse poderia representar Por exemplo: ora Frida é o eu do discurso,
um maior desenvolvimento de sua capa- pois “fala” a um tu que é seu diário íntimo;
cidade criativa. As asas poderiam levar ora o eu diário expressa sentimentos a
a artista a abandonar aquele corpo que um tu – o leitor do diário – de um ele – a
causava dor e angústia. Frida – que é falado no uso dos diferentes
Os médicos não lhe deram escolha, sistemas sígnicos que compõem o todo
mas o registro nos leva a acreditar que, do registro. Cada um desses locutores
se a Frida fosse dada a possibilidade se propõe alternadamente como sujeito
de escolher entre a integridade física do discurso, convertendo a língua em
(os pés) e a sua capacidade imaginativa língua-discurso, num dado tempo único
(as asas), a escolha já teria sido feita: e irrepetível.
preferia manter a criatividade e a pos-
sibilidade de manter-se viva através da Considerações finais
pintura. A amputação possivelmente lhe
amenizou a dor e tornou o sofrimento As interpretações que aqui apresen-
suportável e não determinou a cessação tamos são possíveis com base no que
de suas atividades ligadas à pintura e às Benveniste (1989) chama de relação se-
artes. As asas imaginárias lhe permiti- miótica entre os sistemas (o interpretan-
riam sobreviver. Pode-se também pensar te e o interpretado). É essa relação que
novamente na instauração da subjetivi- permite que posicionemos os signos em
dade apresentada por Benveniste. Nesse signos da língua e signos da sociedade.
registro, Frida “fala” da amputação de O que fizemos neste trabalho foi inter-
parte de sua perna. Isso evidencia a não pretar os signos da sociedade através dos
mais pertença dos pés que se caracteriza signos da língua, porque essa relação é
como a não pessoa, é o “ele”, é de quem possível, já que os signos da língua são
Frida “fala”. E, à medida que Frida pinta o interpretante dos signos da sociedade,
seus pés, ela se marca como locutor (o eu) e e jamais o inverso. É o que, segundo
instaura um tu (agora o diário), para quem Benveniste (1989), afere à língua essa
“fala” sobre sua perna (a não pessoa), ou situação particular entre os sistemas
melhor, sobre a não mais presença física de signos, porque enquanto todos os
de sua perna. O diário, por ser íntimo, sistemas têm significação unidimensio-
revela uma subjetividade sofrida e doída nal (semântico ou semiótico), a língua

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se apresenta como o único sistema em futuros, pensando, inclusive, na possi-
que a significação é articulada em duas bilidade de se fazer uma interpretância
dimensões (semântico e semiótico). Ou enunciativa de palavras e/ou em imagens
seja, isso só é possível porque podemos que constituem textos diversos.
falar, dizer, descrever, caracterizar – pela
língua – o que se pode falar, dizer, des- Semiological analysis of the
crever, caracterizar no registro de Frida enunciation of a record diary
Kahlo. Essa capacidade de dizer algo of Frida Kahlo
sobre, que apenas é peculiar à língua,
de produzir um discurso sobre, traz a Abstract
reflexão de Benveniste (1989) sobre a This is a study which has the pur-
ultrapassagem na reflexão saussuriana pose to analyze the personal diary
a respeito do funcionamento da língua. records that the Mexican artist Frida
Kahlo produced in the last ten year
Isso se dá em duas vias: uma intra-
of her life. For its analysis, we rely
linguística, que nada mais é do que a on the enunciative perspective of lan-
dimensão da significância do discurso, guage, supported by the Semiology of
e uma translinguística, que se destina Language (1969), by the linguist Émi-
à construção de uma metassemântica le Benveniste. In this text, the author
defends the idea that all semiology of
da enunciação. non-linguist system uses the language
A metassemântica a que se refere to its interpretation, since it ‘cannot
Benveniste nesse ímpar artigo de 1969 exist except in and by the semiology
é a capacidade da língua de produzir of language’ (Benveniste, 1989, p.61).
The language is the interpreter of all
um discurso sobre algo. Ele, Benvenis-
systems, the linguistic and nonlin-
te, classifica como uma semiologia de guistic. This paper aims, therefore,
segunda geração, também vista como by analyzing the corpus, to show that
um desdobramento da ultrapassagem language is the only system capable
of interpreting itself and the other
do signo como princípio único e último
sign systems.
e a possibilidade de um estudo sobre as
relações que se estabelecem entre siste- Key words: Frida Kahlo. Diary. Sign.
mas semiológicos. Quando Benveniste Language. Enunciation.
estabeleceu a língua com dois modos de
significância (um no sistema e outro no Notas
uso), acabou por fundar as bases dessa
que será a semiologia de segunda gera-
1
Nesse quadro, Frida retrata duas irmãs siamesas
sentadas lado a lado, de mãos dadas e com os corações
ção: a metassemântica. aparentes e unidos pela mesma artéria.
Consideramos esse tema bastante 2
Pandilla era o nome pelo qual os alunos se organizavam
em grupos para debater sobre esportes, literatura,
complexo e acreditamos que é algo a artes, filosofia, política etc.
ser pensado e desenvolvido em estudos

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3
O grupo levava esse nome – cachuchas – por ser deri- _________. A linguagem e a experiência hu-
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4
Pies para que los quiero si tengo alas pa’volar (KAHLO, geral II. Campinas: Pontes, 1989.
2008, p. 134).
5
Espero alegre la partida y espero no volver jamás... _________. O aparelho formal da enunciação.
FRIDA (KAHLO, 2008, p. 160). In: ______. Problemas de linguística geral II.
6
Diarismo é um termo usado nos estudos do gênero di- Campinas: Pontes, 1989.
ário e também será adotado aqui. Refere-se aos relatos
diários relacionados à determinada pessoa, situação, _________. Semiologia da língua. In: ______.
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