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DEBATE

Trabalho uno ou omni:


a dialética entre o trabalho concreto e o trabalho abstrato*

Ricardo ANTUNES**

N
os últimos anos, ao mesmo que visualiza no fim do trabalho abstrato
tempo em que perdeu relevân- (e, por conseqüência, na eliminação do tra-
cia o debate em torno do fim do balho) o caminho necessário para a eman-
trabalho, dada sua monumental fragili- cipação, os interlocutores preferenciais
dade teórica e empírica, obteve certo que inspiram nosso contraponto crítico.
destaque um conjunto de formulações
que unilateralizam o trabalho, associando- I
o diretamente ao capitalismo e seu traba- É por demais conhecida a passagem de-
lho assalariado e abstrato, de tal modo que cisiva de O Capital, em que Marx apre-
qualquer esforço de emancipação huma- senta sua concepção de trabalho. Ao di-
na e societal somente poderia ser viven- ferenciar o pior arquiteto da melhor abe-
ciada a partir da negação do trabalho. lha, ele afirma que o arquiteto

Ainda que a linhagem de autores seja [...] obtém um resultado que já no início
ampla, poderíamos destacar aqui nossos deste existiu na imaginação do trabalha-
dor, e portanto idealmente. Ele não apenas
principais interlocutores. No entanto,
efetiva uma transformação da forma da
embora estes tenham sido tematizados matéria natural; realiza, ao mesmo tempo,
diretamente em vários outros textos, a- na matéria natural seu objeto, que ele sabe
qui não o faremos. Nosso diálogo tem que determina, como lei, espécie e o modo
Robert Kurz e sua crítica à subordinação de sua atividade e ao qual tem de subordi-
nar sua vontade (MARX, 1983, p. 149-150).
do trabalho à forma-mercadoria, André
Gorz e sua formulação mais recente da
E complementa:
imaterialidade do trabalho descompensan-
do a lei do valor e ainda John Holloway

*Esse artigo retoma idéias apresentadas nos livros abaixo mencionados, em particular Adeus ao Traba-
lho? e Os Sentidos do Trabalho, e foi recentemente publicado no exterior, com algumas alterações em:
ANTUNES, Ricardo. La dialética entre el trabajo concreto y el trabajo abstracto. Herramienta: debate y
critica marxista, Buenos Aires, n.44, 2010. Disponível em: <http://www.herramienta.com.ar/revista-
herramienta-n-44/la-dialectica-entre-el-trabajo-concreto-y-el-trabajo-abstracto>. Acesso em: ago. 2010.

**Professor Titular de Sociologia do Trabalho no IFCH/UNICAMP é autor, dentre outros livros, de


Adeus ao Trabalho? (14a edição, Cortez), Os Sentidos do Trabalho (Boitempo, 11ª. edição) e Infopro-
letários (Degradação Real do Trabalho Virtual), co-organização (Boitempo). Coordena as Coleções
Mundo do Trabalho (Boitempo) e Trabalho e Emancipação (Ed. Expressão Popular). E-mail: rantu-
nes@unicamp.br
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ARGUMENTUM, Vitória, v. 2, n. 2, p. 09-15, jul./dez. 2010
Ricardo Antunes

Como criador de valores de uso, como tra-


balho útil, é o trabalho, por isso, uma con- Aqui aflora o trabalho abstrato que faz
dição de existência do homem, indepen-
desaparecer as diferentes formas de tra-
dentemente de todas as formas de socie-
dade, eterna necessidade natural de medi- balho concreto que, segundo Marx, redu-
ação do metabolismo entre homem e natu- zem-se a uma única espécie de trabalho,
reza e, portanto, vida humana (MARX, o trabalho humano abstrato, dispêndio de
1983, p. 50). energias físicas e intelectuais, necessárias
para a produção de mercadorias e de
Através do trabalho ocorre uma dupla valorização do capital.
transformação, uma vez que o ser social
que trabalha atua sobre a natureza; de- Isso nos permite chegar a uma primeira
senvolve as potências nela ocultas (MARX, conclusão: se podemos considerar o tra-
1983) ao mesmo tempo em que ele mes- balho como um momento fundante da
mo se autotransforma. E é através dessa sociabilidade humana„ como ponto de
complexa processualidade que trabalho partida do processo de seu processo de huma-
humano-social se converte em elemento nização, também é verdade que na socie-
central do desenvolvimento da sociabili- dade capitalista, o trabalho torna-se assa-
dade humana. lariado, assumindo a forma de trabalho
alienado, fetichizado e abstrato. Ou seja,
Porém, quando se estuda o trabalho hu- ao mesmo tempo em que ele é impres-
mano e social, Marx acrescenta que é im- cindível para o capital, ele é um elemen-
perioso compreendê-lo em sua dúplice to central de sujeição, subordinação, es-
dimensão, dada pelo trabalho concreto e tranhamento e reificação. O trabalho se
pelo trabalho abstrato. Em suas palavras: converte em mero meio de subsistência,
tornando-se uma mercadoria especial, a
Todo trabalho é, por um lado, dispên-
força de trabalho, cuja finalidade precí-
dio de força de trabalho do homem no
pua é valorizar o capital.
sentido fisiológico, e nessa qualidade
de trabalho humano igual ou trabalho
humano abstrato gera o valor das mer- Deformado e desfigurado em seu sentido
cadorias. Todo trabalho é, por outro original. Voltado para a criação de coisas
lado, dispêndio de força de trabalho do úteis, o trabalho torna-se um meio e não
homem sob forma especificamente a- mais “[...] primeira necessidade [...]” de
dequada a um fim, e nessa qualidade realização humana. O trabalhador “[...]
de trabalho concreto útil, produz valo- decai a uma mercadoria [...]”, torna-se
res de uso (MARX, 1983, p.53). "[...] um ser estranho a ele, um meio da
sua existência individual [...]" (MARX,
Mas, a partir da vigência do sistema de 1983, p.152). E acrescenta:
metabolismo social do capital, o caráter
útil do trabalho, sua dimensão concreta Segundo leis da economia política o es-
tornam-se subordinados a outra condi- tranhamento do trabalhador em seu ob-
ção, a de ser dispêndio de força humana jeto se expressa de maneira que quanto
produtiva, física ou intelectual, socialmente mais o trabalhador produz tanto menos
determinada para gerar mais-valor.
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tem para consumir, que quanto mais va- luntário, mas compulsório, trabalho for-
lores cria, tanto mais se torna sem valor e çado. Por conseguinte, não é a satisfação
sem dignidade, que tanto melhor forma- de uma necessidade, mas somente um
do o seu produto, tanto mais deformado meio para satisfazer necessidades fora
o trabalhador, que tanto mais civilizado dele (MARX, 1983, p. 153).
o seu objeto, tanto mais bárbaro o traba-
lhador, que quanto mais poderoso o tra- Seria útil recordar que, em seus Extratos
balho, tanto mais impotente se torna o de Leitura sobre J. Mill, no qual apresenta
trabalhador, que quanto mais rico de pela primeira vez sua concepção de tra-
espírito o trabalho, tanto mais o traba- balho e alienação, Marx já antecipava sua
lhador se torna pobre de espírito e servo formulação excepcional rica e dialética:
da natureza (MARX, 1983, p. 152).
Meu trabalho seria livre projeção exterior
O resultado do processo de trabalho, o de minha vida, portanto desfrute de vida.
Sob o pressuposto da propriedade privada
produto, aparece, então, como algo alheio (em troca) é estranhamento de minha vida,
e estranho ao produtor. Tem-se, então, que posto que trabalho para viver, para conse-
essa realização efetiva do trabalho apare- guir os meios de vida. Meu trabalho não é
ce como desefetivação do trabalhador vida. [...] Uma vez pressuposta a proprie-
(MARX, 1983, p. 149). Essa condição de dade privada, minha individualidade se
torna estranhada a tal ponto, que esta ati-
alienidade (que Marx também denomina
vidade se torna odiosa, um suplício e, mais
como estranhamento, dado que a ênfase é que atividade, aparência dela; por conse-
a pura negatividade) não se efetiva ape- qüência, é também uma atividade pura-
nas no resultado da produção, na perda mente imposta e o único que me obriga a
do objeto produzido, mas abrange tam- realizá-la é uma necessidade extrínseca e
acidental, não a necessidade interna e ne-
bém o próprio ato de produção, pois esta cessária (MARX, 1978, p. 293 e 299).
já se efetiva no espaço mesmo atividade
produtiva alienada. Desse modo a alienação, enquanto ex-
Em suas palavras: no estranhamento do pressão de uma relação social fundada
objeto do trabalho só se resume o estra- na propriedade privada, no dinheiro e
nhamento, a alienação na atividade no trabalho abstrato, apresenta-se como
mesma do trabalho (MARX, 1983, p. 152- "[...] abstração da natureza específica,
153). pessoal [...]" do ser social que "[...] atua
como homem que se perdeu a si mesmo,
O que significa dizer que, sob o capita- desumanizado [...]" (MARX, 1978, p.
lismo, o trabalhador não se reconhece, 278).
mas se nega no trabalho:
Alienado e estranhado frente ao produto
Daí que o trabalhador só se sinta junto a do seu trabalho e frente ao próprio ato de
si fora do trabalho e fora de si no traba- produção da vida material, o ser social
lho. Sente-se em casa quando não traba- torna-se um ser estranho frente a ele
lha e quando trabalha não se sente em mesmo: o homem estranha-se em relação
casa. O seu trabalho não é, portanto, vo-
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ao próprio homem. Torna-se, portanto, homens que para eles aqui assume a
estranho em relação ao próprio gênero forma fantasmagórica de uma relação
humano (MARX, 1978, p. 158). entre coisas" (MARX, 1983, p. 71).

Ao invés do trabalho como atividade vital, Na vigência do valor de troca, o vinculo


à luz da conceitualização de Marx – pre- social entre as pessoas se transforma em
sente nos Manuscritos de 1844 e em O Ca- uma relação social entre coisas: a capacida-
pital –, ainda que de modo breve, tem-se de pessoal transfigura-se em capacidade
uma forma de objetivação do trabalho, das coisas (MARX, 1983). Trata-se, por-
em que as relações sociais estabelecidas tanto, de uma relação reificada entre os
entre os produtores assumem, segundo seres sociais.
Marx, a forma de relação entre os produ-
tos do trabalho. A relação social estabele- Portanto, podemos dizer que, se por um
cida entre os seres sociais adquire a for- lado, o trabalho é uma atividade vital,
ma de uma relação entre coisas. Emerge, com o advento do capitalismo, deu-se
então, o problema crucial do fetichismo: uma mutação essencial que adulterou
profundamente o trabalho humano.2 E a
A igualdade dos trabalhos humanos as- incompreensão e desconsideração desta
sume a forma material da igual objetivi- dupla e decisiva dimensão presente no tra-
dade de valor dos produtos de trabalho; balho, vem permitindo com que muitos
a medida do dispêndio de forças de tra- autores entendam equivocadamente a
balho do homem, por meio de sua dura- crise da sociedade do trabalho abstrato
ção, assume a forma da grandeza de va- como expressão da crise da sociedade do
lor dos produtos de trabalho; finalmente, trabalho concreto. E, desse modo, defende-
as relações entre os produtores, em que rem equivocadamente o fim do trabalho.
aquelas características sociais de seus Contra qualquer reducionismo, unilate-
trabalhos são ativadas, assumem a forma ralização, Marx apreende a profunda
de uma relação social entre os produtos processualidade dialética presente no
de trabalho (MARX, 1983, p. 71). trabalho.

Com a prevalência da dimensão abstrata II


do trabalho em relação a sua dimensão
concreta, aflora o caráter misterioso ou feti-
chizado da mercadoria: ela encobre as di- Marx valeu-se, inclusive, de dois termos distin-
2

mensões sociais do próprio trabalho, tos (em inglês) para melhor caracterizar esta di-
mensão ampla do trabalho: work e labour. O pri-
mostrando-as como inerentes aos produ- meiro termo (work), dotado de positividade, mais
tos do trabalho. Mascaram-se as relações próximo da dimensão concreta do trabalho, que
sociais existentes entre os trabalhos indi- cria valores socialmente úteis e necessários. O
viduais e o trabalho total, apresentando- segundo termo (labour) expressa a dimensão co-
as como relações entre objetos coisifica- tidiana do trabalho sob a vigência do capitalismo,
mais aproximada à dimensão abstrata do traba-
dos: "[...] não é mais nada que determi- lho, ao trabalho alienado e desprovido de sentido
nada relação social entre os próprios humano e social. Ver a obra de Antunes (2010;
2010a).
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Do que foi indicado acima, depreende-se lho enquanto sinônimo de autoatividade, isto
que, não é só possível, mas absolutamen- é, atividade livre baseada no tempo disponí-
te necessário conceber uma forma de so- vel.
ciabilidade que recuse o trabalho abstra-
to e assalariado, resgatando o sentido Sabemos que, com o domínio da lógica
original do trabalho como atividade vi- do capital e seu sistema de metabolismo
tal. Por isso cremos que um desafio im- societal, a produção de valores de uso soci-
perioso de nosso tempo é construir um almente necessários subordinou-se ao seu
novo sistema de metabolismo social, um valor de troca. E, para tanto, as funções
novo modo de produção e da vida fundado produtivas e reprodutivas vitais, bem
na atividade livre, autônoma e auto determi- como o controle e o comando do seu pro-
nada, baseada no tempo disponível para cesso foram radicalmente separadas entre
produzir valores de uso socialmente necessá- aqueles que produzem e aqueles que con-
rios, contra a produção heterodeterminada trolam. Como disse Marx (1983), o capital
(baseada no tempo excedente para a operou a separação entre trabalhadores e
produção exclusiva de valores de troca meio de produção, entre o caracol e a sua
para o mercado e para a reprodução do concha, aprofundando-se a separação en-
capital). O trabalho abstrato não nasceu tre a produção voltada para o atendimen-
com o trabalho em sua forma primeva, to das necessidades humano-sociais e as
mas pela intercorrência e interposição da necessidades de auto-reprodução do ca-
“[...] segunda natureza [...]” (MARX, pital. Para mantermos a excelente metá-
1983), que introduziu a mediação do di- fora, a reunificação do caracol e sua con-
nheiro como capital em todas as ativida- cha, do trabalho e seu pleno controle e
des humanas e, em especial, no trabalho. autonomia no mundo da produção social,
Portanto, o primeiro desafio, em nosso é imperativo central.
entendimento, é eliminar o trabalho abs-
trato – criação pelas mediações oriundas da O segundo princípio societal vital, im-
introdução de “[...] segunda natureza [...]” prescindível para a instauração de uma
(MARX, 1983). outra forma de sociabilidade – o que
Marx denominou com associação livre dos
Para tanto, dois princípios vitais se im- trabalhadores ou dos trabalhadores livre-
põem: mente associados –, será dado pela conver-
1) o sentido societal dominante será voltado são do trabalho em atividade vital, livre,
para o atendimento das efetivas necessidades auto-atividade, fundada no tempo disponí-
humanas e sociais vitais, sejam elas materiais vel.
ou imateriais, sem nenhuma intercorrência
do capital, que deve ser eliminado; Isso, por sua vez, significa recusar a dis-
2) o exercício do trabalho, desprovido de suas junção interposta pelo capital, entre tem-
formas distintas de assalariamento e aliena- po de trabalho necessário para a reprodu-
ção – em suma, de trabalho abstrato –, so- ção social dos trabalhadores e tempo de
mente poderá efetivar-se através da recupera- trabalho excedente para a reprodução do
ção/recriação, em novos patamares, do traba- capital. A instauração do princípio livre e
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autodeterminado do tempo disponível é o ses inteiramente novas, possa se desen-


único antídoto real contra a vigência do volver uma nova sociabilidade, tecida
capital e de seu trabalho abstrato. Por- por indivíduos tornados sociais e livremen-
tanto, nossa luta central é e continuará te associados, onde ética, arte, filosofia,
sendo contra todos os constrangimentos tempo verdadeiramente livre e otium, em
presentes no sistema de metabolismo conformidade com as aspirações mais
sócio-econômico do capital, que deve ser autênticas, suscitadas no interior da vida
radicalmente eliminado. A abstração do cotidiana, possibilitem as condições para
trabalho realizada pelo capitalismo deve a efetivação da identidade entre indiví-
ser demolida e superada pela concretude duo e gênero humano, na multilaterali-
do trabalho dotado de sentido. dade de suas dimensões. Em formas in-
teiramente novas de sociabilidade, em
O exercício do trabalho autônomo, eli- que liberdade e necessidade se realizem
minado o dispêndio de tempo excedente mutuamente.
para a produção de mercadorias, elimi-
nado também o tempo de produção des- O exercício do trabalho autônomo, eli-
trutivo e supérfluo (esferas estas controla- minado o dispêndio de tempo excedente
das pelo capital), possibilitará o resgate para a produção de mercadorias, elimi-
verdadeiro do sentido estruturante do tra- nado também o tempo de produção des-
balho vivo, contra o sentido trutivo e supérfluo (esferas estas controla-
(des)estruturante do trabalho abstrato para o das pelo capital), possibilitará o resgate
capital. verdadeiro do sentido estruturante do tra-
balho vivo, contra o sentido
Isso porque, sob o sistema de metabo- (des)estruturante do trabalho abstrato para o
lismo social do capital, o trabalho que capital. Seu autêntico sentido omnilateral e
estrutura o capital, desestrutura o ser soci- não unilateral.
al. Numa nova forma de sociabilidade,
ao contrário, o florescimento do trabalho Isso porque o trabalho que estrutura o
efetivamente humano e social, exercido atra- capital desestrutura o ser social, isto é, o
vés do atendimento das autênticas necessida- trabalho assalariado que dá sentido ao ca-
des humano-societais, desestruturará o capi- pital, gera uma subjetividade inautêntica,
tal. Dando um novo sentido tanto à vida alienada e estranhada no próprio ato de
dentro do trabalho, quanto à vida fora do trabalho. Numa forma de sociabilidade
trabalho. autenticamente socialista e auto-
sustentada, o trabalho, ao reestruturar o
E, desse modo, demolindo também as sentido humano e social da produção,
barreiras existentes entre tempo de traba- desestruturará o capital e seu sistema de
lho e tempo de não-trabalho, de forma que, mercado. E esse mesmo trabalho autode-
a partir de uma atividade vital cheia de terminado que tornará sem sentido o capi-
sentido e autodeterminada, para além da tal, eliminado-o, gerará as condições so-
divisão hierárquica que subordina o trabalho ciais para o florescimento de uma subjeti-
ao capital hoje vigente e, portanto, sob ba- vidade autêntica e emancipada, dando um

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Trabalho uno ou omni: a dialética entre o trabalho concreto e o trabalho abstrato

novo sentido ao trabalho e à vida, ambas, ______. O Capital. São Paulo: Abril
então, dotadas de verdadeiro sentido. Cultural, 1983. v. 1, Livro Primeiro,
tomo 1, p. 149-150.
Uma vez que, durante o capitalismo, as
funções produtivas básicas bem como o
seu controle foram radicalmente separa-
dos dos trabalhadores, entre aqueles que
produzem e aqueles que controlam os mei-
os capitalistas de produção, recuperar a
unidade, hoje, entre o trabalho e a pro-
priedade efetiva dos meios de produção,
entre o caracol e sua concha conforme a
bela metáfora de Marx, é o maior desafio
da nossa sociedade. O que será um bom
começo para o socialismo no século XXI.

Referências

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?, 14.


ed. São Paulo: Cortez, 2010.

ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho.


11.ed. São Paulo: Boitempo, 2010a.

ANTUNES, Ricardo. La dialética entre el


trabajo concreto y el trabajo abstracto.
Herramienta: debate y critica marxista,
Buenos Aires, n.44, 2010b. Disponível
em:
<http://www.herramienta.com.ar/revista-
herramienta-n-44/la-dialectica-entre-el-
trabajo-concreto-y-el-trabajo-abstracto>.
Acesso em: ago. 2010.

MARX, K. Extractos de Lectura - James


Mill. In: OBRAS de Marx y Engels OME
Manuscritos de Paris y Anuários
Franco-Alemanes - 1844. Barcelona:
Grijalbo, 1978. p. 293 e 299.

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