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Aos meus pais e Isabel

AGRADECIMENTOS
Na realização da presente tese de mestrado foram surgindo vários
obstáculos que foram ultrapassados devido, indubitavelmente, a várias
pessoas a quem não posso de deixar de expressar o meu reconhecimento:
Ao Professor Sena Cruz pela paciência, disponibilidade, orientação e pelos
conhecimentos transmitidos em todas as fases;
Ao Sr. Gil por todo o apoio prestado no decorrer dos trabalhos in situ;
Ao Eng.º Francisco Fernandes pelo seu trabalho desenvolvido, sem o qual
seria difícil completar este documento;
Entre vários amigos que me apoiaram, um agradecimento especial à Ivone
Maciel pelos elementos fornecidos e por todos os conselhos e incentivo;
À minha família pelo facto de tornarem possível esta oportunidade e,
sobretudo, à pessoa mais especial de todas pela sua ajuda, paciência e
incentivo nos momentos mais difíceis.
ii
iii

RESUMO
Uma das técnicas mais disseminadas na indústria da construção a nível
mundial é, sem dúvida, a construção com o recurso ao betão armado.
Tendo sido inventado este material no século XIX, existe um extenso parque
edificado o qual, na sua maioria, apresentará patologias devido ao mau
conhecimento da altura dos mecanismos de degradação do betão, de má
concepção, execução, da agressividade do meio e da sua utilização.
Torna-se, então, necessário o estudo de técnicas de reparação e reforço que
possibilitem a reabilitação daquelas estruturas, eliminando a necessidade
onerosa da sua demolição e posterior construção.
O presente trabalho ambiciona reunir as técnicas mais importantes e de
aplicação mais generalizada, traduzindo-se num contributo importante para a
bibliografia nesta área, reduzindo o tempo de pesquisa necessário para
determinada solução. Está dividido por tipo de elemento e por tipo de esforço
ao qual se pretende reforçar.
No decorrer da elaboração desta tese, o Arquivo Distrital de Braga foi alvo
de uma análise estrutural. Assim, neste trabalho, este caso prático serviu para
complementar a parte teórica com uma componente prática que, na maior parte
das vezes, se encontra em falta na bibliografia do género. Assim, pode-se
observar como se procedeu à análise e resolução de determinado problema e,
posteriormente, à implementação prática da solução de reparação e/ou reforço.
iv

ABSTRACT

The construction with reinforced concrete is one of the most widespread


techniques.
Since this material was invented in the 19th century, a large number of
constructions exist which will have pathologies, related to the poor knowledge
at that time of the concrete degradation mechanisms, bad design, construction,
aggressive environment and its utilization.
The study of repair and strengthening techniques which conduct to the
rehabilitation of these structures reveals to be necessary, eliminating the
expensive need to demolish and rebuilding.
The present work intends to collect the most important techniques which
have a more practical application, revealing itself as an important asset to
relevant bibliography, eliminating the research time needed to achieve certain
solution. This collection is divided by element and stress typologies considered
in the strengthening technique.
During the development of this thesis, a structural analysis was performed in
the District Archive of Braga. This case study was used to complement the
theoretical part with a practical component which, in the most cases, does not
exist in the relevant bibliography. With this example, it’s possible to observe
how a particular problem was analyzed and solved and how was implemented
the repair and/or strengthening solution.
v

ÍNDICE

Agradecimentos.............................................................................................................................. i
Resumo ......................................................................................................................................... iii
Abstract .........................................................................................................................................iv
Índice ............................................................................................................................................ v
Índice de figuras ............................................................................................................................ix
Índice de tabelas ..........................................................................................................................xv

CAPÍTULO 1 – Introdução ......................................................................................................... 1


1.1 Breve história do betão armado .......................................................................................... 1
1.2 O betão armado em portugal............................................................................................. 10
1.3 Objectivos .......................................................................................................................... 12
1.4 Organização do trabalho ................................................................................................... 13

CAPÍTULO 2 – Considerações gerais e tipos de reforço ..................................................... 15


2.1 Introdução .......................................................................................................................... 15
2.2 Projecto de reabilitação de estruturas de betão armado .................................................. 15
2.2.1 Etapas de um projecto de reabilitação ................................................................. 16
2.2.2 Principal regulamentação / documentação aplicável ........................................... 18
2.2.3 Verificação da segurança de estruturas existentes ............................................. 19
2.2.4 Caracterização do tipo de intervenção................................................................. 24
2.2.5 Bases para o dimensionamento de reforços ....................................................... 24
2.3 Considerações gerais sobre técnicas de reforço .............................................................. 27
2.4 Tipos de reforço ................................................................................................................. 30
2.4.1 Reparação ou reforço por encamisamento com betão armado ....................... 31
2.4.2 Encamisamento ou reparação com betão projectado ......................................... 35
2.4.3 Reparação ou reforço com resinas epoxy e elementos metálicos ...................... 38
2.4.4 Reparação ou reforço com polímeros reforçados com fibras .............................. 43

CAPÍTULO 3 – Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado ......................... 59


3.1 Introdução .......................................................................................................................... 59
3.2 Princípios mecânicos ......................................................................................................... 59
3.3 Parâmetros de dimensionamento...................................................................................... 62
3.3.1 Volume do nó ....................................................................................................... 62
3.3.2 Resistência da ligação por aderência .................................................................. 63
3.3.3 Esforço axial do pilar ............................................................................................ 63
3.3.4 Armaduras no nó .................................................................................................. 63
3.3.5 Razão de resistência à flexão viga-pilar .............................................................. 64
3.3.6 Influência das lajes ............................................................................................... 64
vi

3.3.7 Vigas transversais ................................................................................................ 65


3.4 Disposições regulamentares ............................................................................................. 65
3.4.1 Dissipação de energia e classes de ductilidade .................................................. 66
3.4.2 Dimensionamento de nós de pórticos para estruturas da classe DCM (ductilidade
média) ............................................................................................................................. 67
3.4.3 Dimensionamento de nós de pórticos para estruturas da classe DCH (ductilidade
elevada)............................................................................................................................. 73
3.5 Técnicas de reparação e reforço de nós de pórticos em betão armado ........................... 77
3.5.1 Remoção e reposição .......................................................................................... 78
3.5.2 Encamisamento de betão .................................................................................... 79
3.5.3 Elementos exteriores de aço ................................................................................ 82
3.5.4 Polímeros reforçados com fibras ......................................................................... 86
3.5.5 Conclusões relativamente às técnicas de reparação e reforço de nós de pórticos
de betão armado ............................................................................................................... 93

CAPÍTULO 4 – Reparação e reforço de pilares de betão armado ........................................ 95


4.1 Introdução .......................................................................................................................... 95
4.2 Reforço de pilares por encamisamento de betão armado ................................................ 96
4.3 Reforço de pilares com adição de elementos metálicos ................................................. 101
4.4 Reforço de pilares com polímeros reforçados com fibras (FRP) .................................... 109

CAPÍTULO 5 – Reparação e reforço de vigas de betão armado......................................... 115


5.1 Introdução ........................................................................................................................ 115
5.2 Reforço de vigas por encamisamento de betão armado ................................................ 116
5.2.1 Reforço à flexão ................................................................................................. 116
5.2.2 Reforço ao corte ................................................................................................. 121
5.3 Reforço de vigas por adição de elementos metálicos ..................................................... 124
5.3.1 Reforço à flexão ................................................................................................. 125
5.3.2 Reforço ao corte ................................................................................................. 128
5.4 Reforço de vigas com polímeros reforçados com fibras (FRP) ...................................... 131
5.4.1 Reforço à flexão ................................................................................................. 131
5.4.2 Reforço ao corte ................................................................................................. 134

CAPÍTULO 6 – Estudo de estabilidade da Sala das inquirições do Arquivo Distrital de


Braga ............................................................................................................ 139
6.1 Introdução ........................................................................................................................ 139
6.2 Recolha de informação .................................................................................................... 139
6.2.1 Documentação ................................................................................................... 140
6.2.2 Visitas ................................................................................................................. 140
6.3 Descrição do edifício ....................................................................................................... 141
vii

6.3.1 Resumo histórico................................................................................................ 141


6.3.2 Tipologia ............................................................................................................. 147
6.4 Estudo da sala das inquirições ........................................................................................ 150
6.4.1 Caracterização geométrica ................................................................................ 150
6.4.2 Detecção das armaduras ................................................................................... 153
6.4.3 Análise comparativa ........................................................................................... 155
6.4.4 Caracterização dos materiais estruturais ........................................................... 160
6.4.4.1 Caracterização mecânica do betão .................................................... 160
6.4.4.2 Caracterização mecânica das armaduras .......................................... 161
6.5 Cálculos de estabilidade.................................................................................................. 162
6.5.1 Quantificação das acções .................................................................................. 162
6.5.1.1 Sobrecarga para a situação actual ..................................................... 162
6.5.1.2 Sobrecarga regulamentar ................................................................... 166
6.5.2 Verificação da segurança da laje ....................................................................... 166
6.5.2.1 Determinação dos esforços ................................................................ 166
6.5.2.2 Verificação da segurança aos esforços de flexão .............................. 175
6.5.2.3 Verificação da segurança ao esforço transverso ............................... 176
6.5.3 Verificação da segurança das nervuras ............................................................. 177
6.5.3.1 Determinação dos esforços ................................................................ 177
6.5.3.2 Verificação da segurança aos esforços de flexão .............................. 178
6.5.3.3 Verificação da segurança aos esforços de corte................................ 180
6.5.4 Verificação da segurança das vigas .................................................................. 182
6.5.4.1 Determinação dos esforços ................................................................ 182
6.5.4.2 Verificação da segurança aos esforços de flexão .............................. 185
6.5.4.3 Verificação da segurança ao esforço transverso ............................... 188
6.5.5 Verificação da segurança dos pilares ................................................................ 190
6.6 Conclusões ...................................................................................................................... 192
6.7 Soluções de reforço ......................................................................................................... 193
6.7.1 Reforço da laje à flexão...................................................................................... 193
6.7.1.1 Quantificação de acções e obtenção de esforços .............................. 195
6.7.1.2 Determinação da armadura resistente ao momento flector positivo .. 196
6.7.1.3 Determinação da armadura resistente ao momento flector negativo . 197
6.7.2 Reforço das vigas ao corte ................................................................................ 199
6.7.2.1 Quantificação de acções e obtenção de esforços .............................. 199
6.7.2.2 Determinação da armadura de esforço transverso ............................ 200
6.7.3 Reforço da armadura transversal dos pilares .................................................... 201
6.7.3.1 Determinação da armadura transversal regulamentar ....................... 202
6.7.3.2 Solução de reforço .............................................................................. 202
6.7.3.3 Determinação da largura e núm. de camadas das faixas de CFRP .. 203
viii

CAPÍTULO 7 – Considerações finais ..................................................................................... 205


7.1 Conclusões ...................................................................................................................... 205
7.2 Desenvolvimentos futuros ............................................................................................... 207

Referências .............................................................................................................................. 209

Anexo I – DGEMEN: Medições / memória descritiva ........................................................... 213

Anexo II – ADB: Plantas de arquitectura .............................................................................. 227

Anexo III – Detecção de armaduras por georadar ............................................................... 231

Anexo IV – Caracterização mecânica do betão .................................................................... 239

Anexo V – Caracterização mecânica das armaduras .......................................................... 241

Anexo VI – Modelação numérica da laje ............................................................................... 245


ix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1.1 – (a) Joseph Monier (Structurae, 2001); (b) vasos de jardim construídos por Monier
(Barbisan & Guardini, 2003); (c) J. L. Lambot (Structurae, 2002); (d) pequeno barco em betão
armado construído por Joseph-Louis Lambot (Bosc et al., 2001). ............................................... 2
Figura 1.2 – Sistema de betão armado de W. Wilkinson. ............................................................. 3
Figura 1.3 – Sistema de betão armado de Monier (1881). ........................................................... 3
Figura 1.4 – W. E. Ward, o primeiro edifício em betão armado dos Estados Unidos (1871 -
1875), Port Chester, Nova York. ................................................................................................... 4
Figura 1.5 – Sistema Hennebique de betão armado. ................................................................... 5
Figura 1.6 – Jahrhunderthalle de Breslau (1913).......................................................................... 6
Figura 1.7 – Ponte Salginatobel, R. Maillart.................................................................................. 7
Figura 1.8 – E. Freyssinet, Hangar de Orly (1920). ...................................................................... 7
Figura 1.9 – (a) Igreja Notre Dame du Haut, França (1954) (Demel, 1997) (b) Sistema Dom-ino
(1914). ........................................................................................................................................... 8
Figura 1.10 – Frank Lloyd Wright, casa Kaufman (1936). ............................................................ 9
Figura 1.11 – Torre CN em Toronto, Canadá (555 metros). ......................................................... 9
Figura 1.12 – Ponte da Arrábida, Edgar Cardoso, 1963. ............................................................ 11
Figura 2.1 – Sistema de reforço activo. ...................................................................................... 28
Figura 2.2 – Sistema de reforço passivo..................................................................................... 28
Figura 2.3 – Fissuração do material de reforço durante o seu processo de cura. ..................... 29
Figura 2.4 – Injecção de epoxy em fendas não estabilizadas. ................................................... 30
Figura 2.5 – Betão projectado por via seca. ............................................................................... 35
Figura 2.6 – Betão projectado por via húmida. ........................................................................... 36
Figura 2.7 – Betão projectado: utilização de cofragens. ............................................................. 38
Figura 2.8 – Características das resinas epoxy. ......................................................................... 39
Figura 2.9 – Comportamento à tracção de fibras e metais. ........................................................ 45
Figura 2.10 – Comportamento à tracção de vários sistemas de FRP e aço. ............................. 49
Figura 2.11 – Martelo de agulhas (LeadVane Industrial Co., Ltd., 2008). .................................. 53
Figura 2.12 - Aplicação de laminados pré-fabricados. ................................................................ 53
Figura 2.13 - Aplicação de mantas flexíveis. .............................................................................. 54
Figura 2.14 – Ensaio de arrancamento por tracção (“pull-off”) (Barros, 2006). .......................... 57
Figura 3.1 – Estrutura porticada carregada lateralmente. a) Momentos devido às cargas
horizontais; b) Gradientes de momentos flectores e esforços transversos ao longo de um nó
interior.......................................................................................................................................... 60
Figura 3.2 – Acções actuantes em um nó interior (adaptado de CEB, 1996). ........................... 61
Figura 3.3 - Nó interior. ............................................................................................................... 67
Figura 3.4 - Secção transversal de pilares.................................................................................. 68
Figura 3.5 - Regiões críticas em pilares principais. .................................................................... 68
Figura 3.6 – Confinamento do núcleo de betão. ......................................................................... 71
Figura 3.7 – Disposições típicas de armaduras dos nós de estruturas correntes de betão
armado. ....................................................................................................................................... 78
Figura 3.8 – Encamisamento de nós com betão (planta). .......................................................... 80
Figura 3.9 – Encamisamento de nós com betão (perspectiva)................................................... 80
x

Figura 3.10 – Reforço com elementos exteriores de aço (alçado). ............................................ 83


Figura 3.11 – Reforço com elementos exteriores de aço (cortes). ............................................. 83
Figura 3.12 – Reforço com elementos exteriores de aço. .......................................................... 84
Figura 3.13 – Características da chapa de aço corrugada. ........................................................ 85
Figura 3.14 – Encamisamento com chapas de aço corrugadas (antes da aplicação). .............. 85
Figura 3.15 – Encamisamento com chapas de aço corrugadas (após aplicação). .................... 85
Figura 3.16 – Reforço com mantas e/ou laminados de CFRP (alçados).................................... 87
Figura 3.17 – Reforço com mantas e/ou laminados de CFRP (corte). ....................................... 88
Figura 3.18 – Várias tipologias de reforço com GFRP ensaiadas. ............................................. 89
Figura 3.19 – Reforço com GFRP (tipologia TR1). ..................................................................... 90
Figura 3.20 – Reforço com GFRP (tipologia TR2). ..................................................................... 91
Figura 3.21 – Reforço com CFRP. .............................................................................................. 92
Figura 4.1 - Encamisamento de pilares com betão armado (escarificação) (Matos, 2000). ...... 97
Figura 4.2 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ (Matos, 2000). ..... 97
Figura 4.3 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ (enchimento pela
laje) (Matos, 2000). ..................................................................................................................... 98
Figura 4.4 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ (enchimento pela
lateral) (Matos, 2000). ................................................................................................................. 98
Figura 4.5 - Encamisamento de pilares com betão projectado (Matos, 2000). .......................... 99
Figura 4.6 - Reforço de pilares por encamisamento de betão armado (Costa & Matos, 2000).
................................................................................................................................................... 100
Figura 4.7 - Reforço de pilares por encamisamento de betão armado (reforço localizado). .... 101
Figura 4.8 - Reforço de pilares com adição de elementos metálicos: a) simples, b) com
encamisamento de betão armado. ............................................................................................ 102
Figura 4.9 - Reforço de pilares com cantoneiras metálicas. ..................................................... 103
Figura 4.10 - Reforços de pilares - pormenores de ligação. ..................................................... 104
Figura 4.11 - Reforço de pilares (aplicação com parafusos) (Matos, 2000). ............................ 104
Figura 4.12 - Cintas pré-aquecidas e soldadas (Matos, 2000). ................................................ 105
Figura 4.13 – Cintas em espiral soldadas. ................................................................................ 105
Figura 4.14 - Chapas de aço coladas com resina epoxy (Matos, 2000)................................... 106
Figura 4.15 - Chapas de aço aquecidas, soldadas e coladas com resina epoxy (Matos, 2000).
................................................................................................................................................... 106
Figura 4.16 - Reforço da armadura transversal através de chapas metálicas (Matos, 2000). . 107
Figura 4.17 - Pormenores de ligação das armaduras de reforço de um pilar num nó. ............ 108
Figura 4.18 - Ligação das armaduras de reforço à fundação. .................................................. 109
Figura 4.19 - Reforço de pilares com mantas de CFRP: (a) sistema contínuo, (b) sistema por
faixas. ........................................................................................................................................ 110
Figura 4.20 - Aspecto do pilar antes da reparação (Appleton J. , 2007). ................................. 111
Figura 4.21 - Solução proposta: (a) estado actual; (b) secção reparada (Appleton J. , 2007). 112
Figura 4.22 - Aspecto final do pilar reparado (Appleton J. , 2007). .......................................... 112
Figura 4.23 - Reforço de pilares com laminados de fibras de carbono. ................................... 113
Figura 5.1 – Reforço de vigas e lajes por encamisamento com betão armado........................ 117
Figura 5.2 - Reforço de vigas por escarificação parcial - colocação de armaduras (Matos, 2000).
................................................................................................................................................... 118
xi

Figura 5.3 - Reforço de vigas por escarificação parcial - ancoragem da armadura longitudinal
inferior (Matos, 2000). ............................................................................................................... 118
Figura 5.4 - Reforço de vigas à flexão através de estribos de posicionamento ancorados na
viga (Matos, 2000). .................................................................................................................... 119
Figura 5.5 - Reforço de vigas à flexão através de estribos de posicionamento ancorados na
viga - betonagem (Matos, 2000). .............................................................................................. 119
Figura 5.6 - Reforço de vigas à flexão e ao corte por encamisamento de betão armado (Matos,
2000). ........................................................................................................................................ 120
Figura 5.7 - Reforço de vigas à flexão e ao corte por encamisamento de betão armado ou
argamassas especiais (Matos, 2000). ...................................................................................... 120
Figura 5.8 - Reforço de vigas por encamisamento de betão projectado (Matos, 2000). .......... 121
Figura 5.9 - Reforço ao corte: disposições construtivas (Bezelga & Azevedo, 2001). ............. 121
Figura 5.10 - Reforço ao corte: localização dos estribos de reforço (Bezelga & Azevedo, 2001).
................................................................................................................................................... 122
Figura 5.11 - Detector de armaduras (Proceq SA, 2008). ........................................................ 122
Figura 5.12 - Reforço ao corte: escarificação das zonas onde será colocada a nova armadura
(Matos, 2000). ........................................................................................................................... 123
Figura 5.13 - Reforço ao corte: colocação da nova armadura (Matos, 2000). ......................... 123
Figura 5.14 - Reforço ao corte: selagem com argamassa de epoxy dos novos estribos (Matos,
2000). ........................................................................................................................................ 123
Figura 5.15 - Reforço ao corte através de varões inclinados (adaptado de Emmons, 1994). . 124
Figura 5.16 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Dimensões recomendadas (Costa &
Matos, 2000).............................................................................................................................. 125
Figura 5.17 - Reforço à flexão com chapas e buchas metálicas. Dimensões recomendadas
(Costa & Matos, 2000). ............................................................................................................. 126
Figura 5.18 - Pormenores de ligação das chapas de reforço: (a) nas extremidades de vigas; (b)
num nó de pórtico. ..................................................................................................................... 127
Figura 5.19 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Vista lateral (Matos, 2000).................. 127
Figura 5.20 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Pormenor (Matos, 2000)..................... 128
Figura 5.21 - Reforço ao corte com chapas metálicas. Dimensões recomendadas (Costa &
Matos, 2000).............................................................................................................................. 128
Figura 5.22 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Dimensões recomendadas
(Costa & Matos, 2000). ............................................................................................................. 129
Figura 5.23 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Chapa contínua (Costa &
Matos, 2000).............................................................................................................................. 129
Figura 5.24 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Chapas descontínuas (Costa &
Matos, 2000).............................................................................................................................. 129
Figura 5.25 - Reforço ao corte com chapas metálicas envolvendo a viga (Costa & Matos, 2000)
................................................................................................................................................... 130
Figura 5.26 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas (Matos, 2000). ..................... 130
Figura 5.27 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Pormenor (Matos, 2000)..... 131
Figura 5.28 - Reforço à flexão com manta flexível unidireccional e laminados de CFRP (Dias et
al., 2002).................................................................................................................................... 132
Figura 5.29 - Reforço à flexão com mantas e presilhas flexíveis (Dias et al., 2002). ............... 132
Figura 5.30 - Presilhas executadas com mantas de CFRP (Dias et al., 2002). ....................... 133
Figura 5.31 - Reforço à flexão com laminados de CFRP (Dias & Barros, Reforço ao Corte de
Vigas T de Betão Armado por Inserção de Laminados de CFRP, 2005). ................................ 134
Figura 5.32 - Reforço de vigas ao corte através de mantas flexíveis de CFRP. ...................... 135
xii

Figura 5.33 - Reforço ao corte por laminados de CFRP verticais. ........................................... 136
Figura 5.34 - Reforço ao corte por laminados de CFRP inclinados.......................................... 136
Figura 6.1 - Desenho do “Alçado F” existente antes do restauro do edifício (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN]. .................................................... 143
Figura 6.2 - Desenho do “Alçado F” utilizado para a realização do restauro (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN]. .................................................... 143
Figura 6.3 - Desenho do “Alçado 6” existente antes do restauro do edifício (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN]. .................................................... 144
Figura 6.4 - Desenho do “Alçado 6” utilizado para a realização do restauro (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN]. .................................................... 144
Figura 6.5 - Aspecto do edifício antes (a) e após a conclusão das obras de 1934 (b) [Fotos
extraídas da base de dados da DGEMN]. ................................................................................ 145
Figura 6.6 - Aspecto do Paço antes da supressão do muro gradeado [Foto extraída da base de
dados da DGEMN]. ................................................................................................................... 146
Figura 6.7 - Localização do Arquivo Distrital de Braga. ............................................................ 148
Figura 6.8 - Planta do Piso 1 (desenho facultado pelos STec em suporte digital). .................. 148
Figura 6.9 - Planta do Piso Intermédio (desenho facultado pelos STec em suporte digital). ... 149
Figura 6.10 - Planta do Piso 2 (desenho facultado pelos STec em suporte digital). ................ 149
Figura 6.11 - Identificação dos elementos estruturais. ............................................................. 151
Figura 6.12 - Levantamento geométrico efectuado: (a) geometria das nervuras, vigas e pilares;
(b) geometria em planta da laje de piso da Sala das Inquirições. ............................................ 152
Figura 6.13 - Utilização do georadar para detecção das armaduras transversais (a) e as
armaduras longitudinais (b) no pilar P2. ................................................................................... 154
Figura 6.14 - Armaduras longitudinais visíveis no pilar P2. ...................................................... 154
Figura 6.15 - (a) Armadura longitudinal inferior e estribos da viga V3; (b) Armadura longitudinal
inferior com disposição em duas camadas na nervura N1. ...................................................... 155
Figura 6.16 - Armadura da laje de piso da Sala das Inquirições. Nesta figura é também visível a
armadura de momentos negativos da viga V3.......................................................................... 155
Figura 6.17 - Extracção da carote de betão do pilar P2. .......................................................... 160
Figura 6.18 - Vista geral da Sala das Inquirições. .................................................................... 163
Figura 6.19 - Distribuição das estantes na Sala das Inquirições. ............................................. 164
Figura 6.20 - Pesagem das pastas existentes nas estantes da Sala das Inquirições. ............. 165
Figura 6.21 - Aspecto geral das estantes. ................................................................................ 166
Figura 6.22 - Geometria adoptada para os painéis no estudo da laje. Nota: as dimensões
indicadas na figura encontram se em metros. .......................................................................... 168
Figura 6.23 - Malha de elementos finitos utilizada no estudo da laje. ...................................... 169
Figura 6.24 - Malha de elementos finitos utilizada no estudo da laje. ...................................... 171
Figura 6.25 - Deformada da laje para a combinação 1: situação actual................................... 172
Figura 6.26 - Deformada da laje para a combinação 2: situação regulamentar com sobrecarga
nos painéis ímpar. ..................................................................................................................... 172
Figura 6.27 - Deformada da laje para a combinação 3: situação regulamentar com sobrecarga
nos painéis par. ......................................................................................................................... 173
Figura 6.28 - Deformada da laje para a combinação 4: situação regulamentar com sobrecarga
nos painéis 1 a 7 e 15 a 21. ...................................................................................................... 173
Figura 6.29 - Deformada da laje para a combinação 5: situação regulamentar com sobrecarga
nos painéis 8 a 14 e 22 a 28. .................................................................................................... 174
xiii

Figura 6.30 - Deformada da laje para a combinação 6: situação regulamentar com sobrecarga
em todos os painéis. ................................................................................................................. 174
Figura 6.31 - Esquema estrutural adoptado no cálculo dos esforços das nervuras. ................ 177
Figura 6.32 - Secção transversal das nervuras. ....................................................................... 179
Figura 6.33 - Esquema estrutural adoptado no cálculo dos esforços das vigas principais. ..... 182
Figura 6.34 - Combinação 1: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN]. .... 184
Figura 6.35 - Combinação 1: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m]. .. 184
Figura 6.36 - Combinação 2: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN]. .... 184
Figura 6.37 - Combinação 2: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m]. .. 184
Figura 6.38 - Combinação 3: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN]. .... 185
Figura 6.39 - Combinação 3: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m]. .. 185
Figura 6.40 - Combinação 4: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN]. .... 185
Figura 6.41 - Combinação 4: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m]. .. 185
Figura 6.42 - Secção transversal das vigas principais para a determinação da capacidade
resistente. .................................................................................................................................. 186
Figura 6.43 - Combinação 1: diagrama de esforços transversos após redistribuição de esforços.
Nota: unidades em [kN]. ............................................................................................................ 187
Figura 6.44 - Combinação 1: diagrama de momentos flectores após redistribuição de esforços.
Nota: unidades em [kN•m]......................................................................................................... 187
Figura 6.45 - Secção transversal do pilar P2. Nota: unidades em [m]...................................... 191
Figura 6.46 - Reforço da laje à flexão. ...................................................................................... 194
Figura 6.47 - Reforço das vigas ao corte. ................................................................................. 199
Figura 6.48 - Reforço da armadura transversal dos pilares...................................................... 203
xiv
xv

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 2.1 - Metodologia a seguir num projecto de reabilitação. ............................................... 16


Tabela 2.2 - Regulamentação portuguesa aplicável ao projecto de reabilitação. ...................... 18
Tabela 2.3 - Normas europeias aplicáveis ao projecto de reabilitação. ..................................... 18
Tabela 2.4 - Documentos técnicos de apoio ao projecto de reabilitação. .................................. 18
Tabela 2.5 - Sequência de cálculo do valor dos esforços actuantes na verificação de segurança
aos E.L.U. em estruturas existentes. .......................................................................................... 20
Tabela 2.6 - Coeficiente υR para danos provocados por sismos (CEB, 1983). .......................... 22
Tabela 2.7 - Coeficiente υR para danos provocados por incêndios (CEB, 1983). ...................... 22
Tabela 2.8 - Coeficiente υR para danos provocados pela corrosão (CEB, 1983)....................... 23
Tabela 2.9 - Relação entre coeficientes de capacidade e o grau de intervenção (CEB, 1983). 24
Tabela 2.10 - Valores de γc' para betão cofrado em obra (CEB, 1983)...................................... 25
Tabela 2.11 - Valores de γc' para betão projectado (CEB, 1983). .............................................. 25
Tabela 2.12 - Valores de γs' para o aço (CEB, 1983). ................................................................ 25
Tabela 2.13 – Características mecânicas típicas de argamassas de resinas epoxy. ................ 34
Tabela 2.14 – Principais características das tecnologias de aplicação do betão projectado. .... 36
Tabela 2.15 – Propriedades mecânicas e físicas de vários tipos de fibras (Barros, 2006). ....... 45
Tabela 2.16 – Mantas e tecidos empregues nos sistemas FRP curados in situ (Juvandes, 1999).
..................................................................................................................................................... 48
Tabela 2.17 – Propriedades mecânicas e físicas de algumas resinas puras (Barros, 2006). .... 52
Tabela 6.1 - Análise comparativa entre o projecto original, levantamento geométrico e
inspecção visual e resultados obtidos através do georadar. .................................................... 158
Tabela 6.2 - Peso em kilogramas força das pastas das estantes tipo...................................... 164
Tabela 6.3 - Combinações de acções usadas no estudo da laje. ............................................ 170
Tabela 6.4 - Necessidades de armadura em [cm2/m] para as diferentes combinações. ......... 176
Tabela 6.5 - Valores de cálculo do esforço transverso actuante para as diferentes combinações
em [kN/m]. ................................................................................................................................. 177
Tabela 6.6 - Resultados obtidos: valores máximos dos momento flectores (unidades em
kN.m/m) ..................................................................................................................................... 195
Tabela 6.7 - Propriedades da manta de CFRP (S&P, 2008). ................................................... 203
xvi
1

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO

1.1 BREVE HISTÓRIA DO BETÃO ARMADO

Foi desde a invenção do betão armado no século XIX, usualmente atribuída


a Joseph-Louis Lambot e Joseph Monier, que a construção civil sofreu um
grande impulso. A combinação das tensões resistentes à compressão do betão
e à tracção do aço num mesmo material, revolucionou uma indústria assente
em antigas técnicas construtivas onde imperavam a pedra e a madeira.
A forma mais antiga de betão que se conhece remonta ao antigo Egipto,
onde este foi utilizado na construção das pirâmides. Estas técnicas foram
aperfeiçoadas pelos gregos e pelos romanos tendo, estes últimos, utilizado
betão com pozolana (uma areia especial proveniente de Pozzuoli, perto do
vulcão Vesúvio, Itália) na construção de edifícios importantes, tais como o
Panteão e o Coliseu de Roma.
Durante a Idade Média a qualidade do betão diminui, tendo deixado de se
utilizar pozolanas. Estas foram reintroduzidas nos séculos XIII e XIV.
Até ao século XIX o betão passou por várias fases de aperfeiçoamento,
nomeadamente no que se refere aos materiais cimentícios que possibilitam o
endurecimento deste compósito.
Em 1848 no sul da França, J. L. Lambot construiu um barco em betão (que
mais tarde reforçou com barras de ferro e malhas de arame) e em 1890, o
italiano C. Gabellini também começou a construir barcos de betão, como se
ilustra na Figura 1.1(c) e 1.1(d).
Mais tarde, em 1850, Joseph Monier (um jardineiro francês), desenvolveu
vasos em betão armado. Em 1867 patenteou banheiras de jardim em betão
armado e mais tarde, vigas de betão armado (ver Figura 1.1(a) e 1.1(b)).
2 Capítulo 1

(a) (b)

(c) (d)
Figura 1.1 – (a) Joseph Monier (Structurae, 2001); (b) vasos de jardim construídos por
Monier (Barbisan & Guardini, 2003); (c) J. L. Lambot (Structurae, 2002); (d) pequeno
barco em betão armado construído por Joseph-Louis Lambot (Bosc et al., 2001).

Contudo, foi W. Wilkinson de Newcastle que introduziu o betão armado na


construção de casas. Em 1854 registou uma patente intitulada “construção de
habitações, armazéns e outros edifícios e partes equiparáveis, resistentes ao
fogo”. Foi então que erigiu uma pequena habitação de dois pisos, reforçando a
laje do piso e da cobertura com barras de ferro e corda. Construiu diversos
edifícios desta forma e acredita-se que foi o primeiro a construir edifícios em
betão armado (ver Figura 1.2).
Introdução 3

Figura 1.2 – Sistema de betão armado de W. Wilkinson.

O construtor francês F. Coignet construiu várias casas de betão de grandes


dimensões no Reino Unido e em França, entre 1850 a 1880. Utilizou varões de
ferro nos pisos para evitar que as paredes abrissem mas, mais tarde, utilizou
os mesmos varões como elementos resistentes à flexão.

Figura 1.3 – Sistema de betão armado de Monier (1881).

O primeiro edifício de betão armado construído nos Estados Unidos foi


efectuado por W. E. Ward, entre 1871 e 1875. Trata-se de uma casa em Port
Chester, Nova York (ver Figura 1.4). Ward utilizou a palavra francesa para
betão, “beton” e em 1883 entregou à Sociedade Americana de Engenheiros
Mecânicos um panfleto descrevendo a casa intitulado “Beton em combinação
com ferro como um novo material de construção.”
4 Capítulo 1

Figura 1.4 – W. E. Ward, o primeiro edifício em betão armado dos Estados Unidos (1871 -
1875), Port Chester, Nova York.

Em 1879, G. A. Wayss, um construtor alemão, comprou os direitos da


patente do então denominado sistema Monier e foi o pioneiro na construção de
edifícios em betão armado na Alemanha e Áustria, promovendo o sistema
Wayss – Monier bem como estudos científicos nos Estados Unidos. Além disso,
era o director de uma empresa de sucesso que produzia blocos de betão em
São Francisco (1870). Utilizou betão armado pela primeira vez em 1877 e, em
1884, patenteou o sistema.
Dez anos mais tarde, em 1894, A. de Baudot construiu a Igreja de S. Jean
de Montmartre em Paris, com pilares e arcos esbeltos de betão, envoltos em
paredes de espessura reduzida de betão armado.
T. A. Edison trabalhou, igualmente, na indústria do betão. Em 1899 fundou a
Companhia Edison de Cimento Portland, em Nova Jersey. Promoveu a
construção com betão e fez um enorme número de propostas para uma
utilização inovadora do betão. Além disso, concebeu uma série de cofragens
em ferro para a construção de habitações em betão (incluindo paredes, pisos e
escadas).
A primeira ponte de betão armado foi construída em 1889 enquanto que o
primeiro edifício em altura foi construído em Cincinnati, Estados Unidos, entre
1902 e 1904, utilizando uma variante do sistema Ransome. Concebido por
Elzner e Henderson, foi o primeiro “arranha-céus” de betão.
Introdução 5

F. Hennebique, um construtor francês, começou a construir habitações de


betão armado em 1870. Registou patentes relacionadas com o sistema de
betão Hennebique na França, Bélgica, Itália, América do Sul entre outros,
estabelecendo, ao mesmo tempo, um império de franchise que envolvia
inúmeros países (ver Figura 1.5). Hennebique promoveu o betão armado
através de conferências e do desenvolvimento de standards de construção,
mas foi A. Perret que contribuiu para a sua disseminação como material
arquitectónico.

Figura 1.5 – Sistema Hennebique de betão armado.

Perret, em 1903, concebeu e construiu um edifício em Paris de vários pisos


utilizando betão armado. A sua estrutura influenciou a arquitectura e as
construções em betão durante décadas, uma vez que foi erigido sem o recurso
a paredes resistentes, as quais foram substituídas por pilares, vigas e lajes.
Perret também construiu museus, igrejas, garagens e teatros, tal como o
Theatre Champs Elysées.
Notre Dame du Raincy, construída em 1922, foi um avanço importante na
utilização do betão armado (especialmente comparada com os edifícios em
betão anteriores) e é tida como uma obra-prima de design arquitectónico: o
6 Capítulo 1

tecto elevado em arco e os pilares esbeltos demarcam as qualidades


excepcionais deste novo material de construção.
A estrutura mais interessante no que respeita ao desenvolvimento do betão
armado é a Jahrhunderthalle de Breslau, na Polónia (1913) (ver Figura 1.6).
Este edifício foi erigido para comemorar o aniversário da derrota de Napoleão
em 1813, perto de Breslau. Foi concebido por M. Berg e calculado pelos
engenheiros do Departamento de Edifícios da Cidade de Breslau.

Figura 1.6 – Jahrhunderthalle de Breslau (1913).

Em 1951, a fábrica Fiat-Lingotto Auto foi construída em Turim (Itália) por M.


Trucco, usando betão armado. O edifício possui uma pista de testes na
cobertura.
Contudo, nem sempre se utilizou o betão de uma forma sustentável. Por
exemplo, as pontes em arco de betão armado de R. Maillart deterioraram a
paisagem original dos Alpes suíços (ver Figura 1.7).
Introdução 7

Figura 1.7 – Ponte Salginatobel, R. Maillart.

Em 1920 concluíram-se os hangares parabólicos do aeroporto de Orly, em


Paris (ver Figura 1.8). E em 1930, E. Torroja, um engenheiro espanhol,
concebeu uma abóbada abatida para o mercado de Algeciras, usando cabos
de aço para um anel de tensão. Torroja foi também encarregue da missão de
dimensionar a cobertura em consola do estádio Hippodrome de Madrid, em
1935. Ao mesmo tempo, o italiano Pier Luigi Nervi começou a construir os seus
famosos hangares em Orbetello. As obras de Orbetello incluem o Pavilhão de
Exposições de Turim e dois estádios cobertos em Roma.

Figura 1.8 – E. Freyssinet, Hangar de Orly (1920).


8 Capítulo 1

O especialista em cascas de betão foi Felix Candela, que concebeu o


Laboratório Cosmic Ray, na Cidade do México, com uma cobertura esbelta em
casca de betão armado. A hipérbole tornou-se na sua imagem de marca, tendo
construído muitas fábricas e igrejas em torno da Cidade do México utilizando
esta forma.
Os trabalhos em betão armado mais reconhecidos de Le Corbusier são a
Villa Savoye (1931), os blocos de habitação em Nantes e Marselha (1940), a
Igreja Notre Dame du Haut (1954), o Mosteiro de La Tourette (1959) e os
edifícios do governo em Chandigarh, Índia (1961).

(a) (b)
Figura 1.9 – (a) Igreja Notre Dame du Haut, França (1954) (Demel, 1997) (b) Sistema Dom-
ino (1914).

Frank Lloyd Wright foi o primeiro a tirar partido da consola como uma
característica arquitectónica, graças à natureza contínua do betão armado. A
casa Kaufman (1936) é um exemplo deste conceito (ver Figura 1.10).
Introdução 9

Figura 1.10 – Frank Lloyd Wright, casa Kaufman (1936).

Em 1970, foi construído o primeiro edifício de betão reforçado com fibras e


em 1975 foi construído o mais alto edifício do mundo em betão armado, a Torre
CN em Toronto, no Canadá (555 metros) (Barbisan & Guardini, 2003).

Figura 1.11 – Torre CN em Toronto, Canadá (555 metros).


10 Capítulo 1

1.2 O BETÃO ARMADO EM PORTUGAL

No nosso país, a indústria do cimento inicia-se em 1894 com a fábrica de


cimento Tejo em Alhandra.
Em 1906 são publicadas as primeiras instruções francesas (Regulamento),
traduzidas e publicadas em 1907 pela Revista de Obras Públicas e Minas da
Associação Portuguesa dos Engenheiros Civis, com o título “As Instruções
Francesas para o Formigão Armado”.
No nosso país, utilizando o sistema Hennebique, foram erigidas algumas
construções que merecem especial referência: o edifício de moagem de trigo
do Caramujo (Cova da Piedade) realizado em 1898 e onde depois funcionou
uma moagem da Sociedade Industrial Aliança, e a Ponte Luiz Bandeira de
Sejães na EN333-3 sobre o rio Vouga. Esta ponte em arco de 44 m de vão foi
realizada em 3 meses e 4 dias, em formigão de cimento armado.
Em 1911 são entretanto criadas as Universidades de Lisboa e Porto, e em
1918 aprovado o primeiro Regulamento Português no domínio do betão
armado “Instruções Regulamentares para o Emprego do Beton Armado”,
realizadas com base nas normas francesas de 1906 e nos desenvolvimentos
posteriores, Dec. 4036 de 3/4/1918.
A primeira disciplina de Cimento Armado foi criada em 1922 na Faculdade
Técnica da Universidade do Porto (o Eng.º Theotonio Rodrigues foi o seu
primeiro professor) e em 1935 é publicado o “Regulamento do Betão Armado”
dec. 25948 de 1935 que sintetiza o estado do conhecimento neste domínio. O
primeiro Congresso Internacional do Betão e do Betão Armado foi realizado em
1930.
Na primeira metade do século XX muitas são as realizações em betão
armado em Portugal. Destacam-se o Canal do Tejo (executado de 1932 a 1940
e que envolveu a realização de túneis, pontes canal e tubagens de 2.5 m de
diâmetro, tendo sido utilizada a vibração mecânica pela primeira vez no nosso
país), numerosas pontes de que se salienta o Viaduto Duarte Pacheco em
Lisboa (concluído em 1944 com um desenvolvimento total de 505 m tendo o
arco central um vão de 91,97 m) e edifícios de que se salienta o conjunto dos
edifícios do IST (1936). Deve no entanto referir-se que neste período era ainda
Introdução 11

usual realizar a estrutura dos edifícios com paredes de alvenaria e o betão


armado era aplicado na estrutura dos pisos em alternativa a soluções de
estrutura de madeira.
No domínio das pontes, é de referência obrigatória a execução em arco da
Ponte da Arrábida (ver Figura 1.12), projectada pelo Prof. Edgar Cardoso com
270 m de corda (1963).

Figura 1.12 – Ponte da Arrábida, Edgar Cardoso, 1963.

No domínio das barragens, inicia-se em Portugal um período de execução


de grandes barragens de abóbada de que a Barragem do Cabril no Rio Zêzere
é o primeiro exemplo (1953).
Outras estruturas que justificam referência são as coberturas onduladas das
Pedras Rubras (Correia de Araújo, 1950), o Monumento das Descobertas em
Lisboa com 50 m de altura (Edgar Cardoso, 1958), o Monumento do Cristo Rei
com 76 m de altura a que acresce a estátua com 28 m de altura e 16 m de
envergadura (Brazão Farinha, 1959).
Foi igualmente criado o LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil de
que se destaca neste domínio o contributo do Eng.º Júlio Ferry Borges. Na
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto é realizada, em 1944, a
12 Capítulo 1

primeira tese de doutoramento em betão armado e pré-esforçado pelas mãos


do Prof. Joaquim Sarmento.
Em 1958 é publicado o Regulamento de Segurança das Construções contra
os Sismos (Decs. 41658 de 31/05/1958) que estabelece a diferenciação do
risco sísmico no país, quantificando de forma simplificada as respectivas
solicitações. Este regulamento é praticamente revogado com a publicação em
1961 do Regulamento de Solicitação de Edifícios e Pontes.
Em 1967 é publicado novo regulamento no domínio do betão armado, REBA,
o qual integra já a moderna filosofia de verificação da segurança em relação
aos estados limites.
No domínio do betão pré-esforçado, a primeira construção portuguesa é a
cobertura de vários armazéns para algodão na Avenida Meneses em
Matosinhos, com um vão de 32,4 m e vigas simplesmente apoiadas de altura
variável e de betão armado pós-tensionado (1951).
A primeira ponte em betão armado pré-esforçado em Portugal é a Ponte de
Vala Nova, em Benavente, na EN118 ao km 43.45, realizada em 1954 e que
apresenta 3 vãos simplesmente apoiados de 36 m (Appleton P. J., 2005).

1.3 OBJECTIVOS

Como se pode depreender da sua já extensa história, a aplicação do betão


armado foi alargada a quase todos os campos da engenharia civil, desde a
produção de tubos armados para obras hidráulicas, a pavimentos rodoviários
rígidos, passando por barragens, edifícios, obras geotécnicas e obras de arte.
Mas é nos edifícios que a aplicação do betão armado revela as suas
vantagens, nomeadamente na rapidez de execução e uma maior versatilidade
arquitectónica. Desta forma, deu-se a proliferação de construções realizadas
em betão armado as quais, com o passar do tempo, começam a apresentar
patologias.
Hoje em dia, algum do parque edificado que necessita de intervenção ao
nível do reforço estrutural encontra-se em crescimento, destacando-se as
estruturas de betão armado que, devido às características intrínsecas do
Introdução 13

próprio material, estarão sempre sujeitas a patologias, enquanto não se


descobrirem soluções eficazes que travem os mecanismos que as provocam.
Estas patologias quando não são reparadas e/ou quando os factores que as
causaram não são eliminados, agravam-se, podendo, em várias situações,
comprometer a integridade estrutural do elemento afectado e,
consequentemente, a estabilidade global da estrutura. De notar que estas
patologias podem ser devidas a inúmeras causas, sejam elas relacionadas com
o ambiente onde a estrutura está inserida (caso da presença de cloretos), aos
próprios materiais constituintes (reacções químicas que ocorrem com os
constituintes dos agregados do betão), a erros de projecto e/ou de execução,
ou a usos indevidos da estrutura, onde se ultrapassam as cargas de utilização
previstas no projecto inicial.
É no âmbito da reparação e reforço deste tipo de estruturas que se insere
este trabalho, seja no caso de reparação de elementos danificados, seja no
caso de reforço de estruturas onde, por exemplo, se pretendem alterar as
cargas de utilização.
Assim, o presente trabalho tem como principal objectivo, a partir da inúmera
bibliografia existente, a colecta das soluções mais adequadas para a reparação
e reforço de estruturas de betão armado obtendo-se, desta forma, uma visão
geral do presente estado do conhecimento nesta área.
Como complemento, serão aplicados estes conhecimentos a um caso real
denotando-se a mais-valia que daí advém para este trabalho.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Além do capítulo introdutório, onde se pretende enquadrar o tema da


dissertação e apresentar o seu objectivo e motivação, o presente trabalho é
composto pelos seguintes capítulos:

ƒ Capítulo 2 – com a apresentação de uma visão geral dos tipos de


reforço, materiais e considerações a ter em especial;
ƒ Capítulo 3 – onde é abrangida a reparação e reforço de nós de pórticos
de betão armado;
14 Capítulo 1

ƒ Capítulo 4 – aborda as soluções de reparação e reforço de pilares de


betão armado;
ƒ Capítulo 5 – idem para vigas em betão armado;
ƒ Capítulo 6 – onde se apresenta o caso prático, abrangendo todas as
considerações tomadas e posteriores soluções de reforço;
ƒ Capítulo 7 – contém as conclusões mais importantes retiradas ao longo
da elaboração da dissertação;
ƒ A listagem das referências utilizadas no decorrer do estudo;
ƒ Anexos.
15

CAPÍTULO 2
CONSIDERAÇÕES GERAIS E TIPOS DE REFORÇO

2.1 INTRODUÇÃO

Existem hoje várias técnicas de reparação e reforço de estruturas de betão


armado, umas com mais aplicação que outras, mas que partilham o objectivo
comum de aumentar a durabilidade deste tipo de construção.
Todas estas técnicas necessitam de seguir um determinado conjunto de
considerações que visam, de uma forma geral, atingir um funcionamento
óptimo do reforço considerado, através de uma correcta execução do mesmo.
Desta forma, torna-se necessário conhecer as características dos materiais
empregues bem como todos os cuidados a ter para que a sua aplicação seja a
mais correcta.
No presente capítulo, reúnem-se as considerações mais importantes a ter
em conta na execução das técnicas de reforço mais comuns.

2.2 PROJECTO DE REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE BETÃO


ARMADO

Existe actualmente, um conjunto de procedimentos elaborados por várias


entidades a nível mundial, os quais, ainda que muito genéricos, poderão servir
de base para a elaboração de um projecto de reabilitação a levar a cabo nas
intervenções em estruturas de betão armado.
Assim, torna-se necessário definir alguns conceitos relacionados com a
reabilitação de estruturas, os quais pretendem classificar o tipo de intervenção
a realizar.
Entende-se por reparação todas as acções que visam repor os níveis de
desempenho da estrutura para os padrões inicialmente previstos ou que visam
corrigir e prevenir os efeitos da degradação da estrutura.
Uma intervenção de reforço define-se como uma acção que incide sobre o
comportamento da estrutura, visando o aumento da resistência e/ou ductilidade
dos seus elementos, melhorando assim o desempenho da estrutura
relativamente ao seu estado inicial (Rodrigues, 2005).
16 Capítulo 2

O conceito de reabilitação abrange as situações em geral, envolvendo


acções de reparação, reforço ou uma combinação das duas. Desta forma, pode
ser entendida como a acção necessária para habilitar novamente a estrutura
para cumprir as suas funções iniciais ou mesmo responder às novas exigências
de desempenho e segurança.
O projecto de reabilitação de uma estrutura existente requer uma abordagem
substancialmente diferente do projecto de uma estrutura nova, sobretudo ao
nível da sequência das etapas a cumprir, a qual é discutível e difícil de
sistematizar, uma vez que cada projecto apresenta especificidades e
condicionantes próprias que o tornam único. Refira-se ainda que a falta de
regulamentação (excepto para alguns tipos de intervenção) relacionada com o
projecto de reforço, a inexistência de documentação que aborde de forma
integrada o projecto e execução das acções de reabilitação e a consequente
falta de informação no meio técnico, introduzem dificuldades em todo o
processo.

2.2.1 ETAPAS DE UM PROJECTO DE REABILITAÇÃO

Como já referido, embora seja difícil propor uma sequência de etapas


aplicável a todos os casos de projectos de reabilitação, sugere-se a abordagem
a seguir apresentada (ACI Committee 364, 1999).

Tabela 2.1 - Metodologia a seguir num projecto de reabilitação.

FASE A – AVALIAÇÃO DO ESTADO DA ESTRUTURA


A1. Recolha de informação
A1.1. Elementos de projecto i. Peças desenhadas
ii. Peças escritas
A1.2. Elementos de obra i. Telas finais
ii. Registos da fiscalização
iii. Livro de obra
A1.3. História da estrutura i. Registo de alterações de uso da
estrutura
ii. Registo de anteriores intervenções de
reparação / reforço
A1.4. Levantamento da geometria da i. Recolha da dimensão real dos
estrutura actual elementos estruturais
Considerações gerais e tipos de reforço 17

ii. Verificação da introdução / supressão


de elementos estruturais
iii. Verificação da conformidade do
sistema estrutural do projecto / obra
A2. Inspecção da estrutura
A2.1. Abordagem nível 1 Registo, visualização, análise e eventual
quantificação de defeitos visíveis e
potenciais nos elementos estruturais
(fendilhação, deformação, deterioração
do betão, deterioração do aço, etc.)
A2.2. Abordagem nível 2 i. Quantificação das propriedades
mecânicas do betão e do aço através
de ensaios in-situ ou em laboratório
ii. Quantificação das anomalias
registadas na abordagem nível 1
através de ensaios in-situ ou em
laboratório

FASE B – AVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DA ESTRUTURA


B1.1. Verificação da segurança da i. Verificação aos estados limites
estrutura face às condições iniciais de últimos
projecto. ii. Verificação aos estados limites de
utilização
B1.2. Verificação da segurança da i. Verificação aos estados limites
estrutura face às novas exigências de últimos
utilização. ii. Verificação aos estados limites de
utilização

FASE C – CARACTERIZAÇÃO DO TIPO E OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO


Face aos resultados das fases A e B, deverá adoptar-se uma das seguintes
estratégias:
i. Não intervir;
ii. Reparar em pequena escala;
iii. Reparar e eventualmente reforçar;
iv. Reforçar;
v. Demolir.

FASE D – PROJECTO DE REABILITAÇÃO


18 Capítulo 2

2.2.2 PRINCIPAL REGULAMENTAÇÃO / DOCUMENTAÇÃO APLICÁVEL

À semelhança do projecto de uma estrutura nova, o projecto de reabilitação


de estruturas de betão existentes deve ter em consideração os regulamentos
nacionais actuais bem como os códigos europeus em vigor.
Na falta de regulamentação aplicável a determinados casos, dever-se-á
recorrer a documentos técnicos de referência, emitidos por entidades
reconhecidas para o efeito.
Na Tabela 2.2 à Tabela 2.4, indicam-se os principais documentos aplicáveis
no projecto de reabilitação de estruturas de betão armado.

Tabela 2.2 - Regulamentação portuguesa aplicável ao projecto de reabilitação.

REGULAMENTOS PORTUGUESES
Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes
(RSA, 1983)
Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado (REBAP, 1983)

Tabela 2.3 - Normas europeias aplicáveis ao projecto de reabilitação.

NORMAS EUROPEIAS
Eurocódigo 1 – Bases de Projecto e Acções em Estruturas (CEN, 2002)
Eurocódigo 2 – Projecto de Estruturas de Betão (CEN, 2004)
Eurocódigo 7 - Projecto Geotécnico (CEN, 2004)
Eurocódigo 8 – Parte 1-4: Reforço e Recuperação de Edifícios (CEN, 2004)
EN1504 – Produtos e Sistemas para a Protecção e Reparação de Estruturas de
Betão (IPQ, 2006)

Tabela 2.4 - Documentos técnicos de apoio ao projecto de reabilitação.

DOCUMENTOS TÉCNICOS
Boletim de Informação n.º 162 – “Assessment of Concrete Structures and Design
Procedures for Upgrading (Redesign)”. – Federação Internacional do Betão (FIB),
1983.
Boletim de Informação n.º 14 – “Externally Bonded FRP Reinforcement for RC
Structures”. Technical Report, October 2001. – Federação Internacional do Betão
(FIB), 2001.
Boletim de Informação n.º 18 – “Management, Maintenance and Strengthening of
Concrete Structures”. Technical Report, April 2001 – Federação Internacional do
Betão (FIB), 2001.
“Guidelines for the Design and Construction of Externally FRP Systems for
Strengthening Concrete Structures”, ACI Comité 440, Sub-Comité 440F – American
Concrete Institute, 2000.
Considerações gerais e tipos de reforço 19

Manual n.º 4 – “Strengthening Reinforced Concrete Structures with Externally-


Bonded Fibre Reinforced Polymers (FRP)” – Intelligent Sensing for Innovative
Structures Canada Research Network, Canada.
CAN/CSA-S806-02 (R2007) F – “Design and Construction of Building Components
with Fibre Reinforced Polymers” – Canadian Standards Association, 2002.
JCI TC952 – “Continuous Fiber Reinforced Concrete” – Japan Concrete Institute,
1998.
“Practical Guide for Investigation, Repair and Strengthening of Cracked Concrete
Structures” - Japan Concrete Institute, 2003.
“Design Guidelines of FRP Reinforced Concrete Building Structures”, Building
Research Institute – Japan, 1993.
ISO13822: Bases for Design of Structures – Assessment of Existing Structures.
International Organization for Standardization, 2001.
“Guide for the Design and Construction of Externally Bonded FRP Systems for
Strengthening Existing Structures” – CNR (National Research Council): Advisory
Committee on Technical Recommendations for Construction – Italy, 2004.

2.2.3 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DE ESTRUTURAS EXISTENTES

A verificação da segurança de estruturas existentes consiste na construção


de um modelo de comportamento estrutural adequado à realidade da estrutura,
permitindo a verificação da segurança relativamente aos estados limite últimos
e aos estados limite de utilização.
Assim, a verificação da segurança da estrutura, em relação aos estados
limite últimos, consiste na verificação da seguinte equação:

(2.1)

Onde Sd, representa o valor de cálculo do esforço actuante na estrutura e


Rd’, corresponde ao valor de cálculo do esforço resistente residual do elemento.
Entende-se por esforço resistente residual, a capacidade de carga do
elemento após este ter sido submetido ao historial de cargas ao longo da sua
vida útil.
Este historial de cargas deverá, igualmente, ser levado em consideração na
determinação do valor de cálculo dos esforços actuantes e que a estrutura
existente poderá estar eventualmente danificada.
Na Tabela 2.5 resumem-se os procedimentos a executar no cálculo dos
esforços actuantes para verificação da estrutura aos estados limites últimos.
20 Capítulo 2

Tabela 2.5 - Sequência de cálculo do valor dos esforços actuantes na verificação de


segurança aos E.L.U. em estruturas existentes.

A) Modelação da estrutura existente


DADOS OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO
Propriedades i. Ensaios estruturais in-situ e em laboratório
Materiais
Mecânicas ii. Projecto de estabilidade
Disposição i. Levantamento estrutural em obra
estrutural ii. Projecto de estabilidade
Estrutura Secção
transversal dos i. Levantamento estrutural em obra
elementos ii. Projecto de estabilidade
estruturais
i. Regulamentos em vigor: Regulamento de
Segurança e Acções Para Estruturas de
Quantificação
Edifícios e Pontes (RSA, 1983), Eurocódigo 1
de acções
(CEN, 2002)
ii. Acções específicas
1.375 0.1 Estruturas danificadas
γ′
1.25 0.1 Estruturas sãs
1.65 γ   Estruturas danificadas
γ′
1.5 γ   Estruturas sãs
= coeficiente de majoração de acções
Coeficientes de permanentes em estruturas existentes
majoração de = coeficiente de majoração de acções variáveis
acções em estruturas existentes
1
No caso de estruturas existentes, a incerteza
quanto à importância de uma dada acção na
resposta de uma estrutura danificada é maior
relativamente a uma estrutura nova (Ripper, 2005),
pelo que deverão ser adoptados os coeficientes de
segurança propostos no Boletim n.º 162 do CEB
(CEB, 1983)
Modelo elástico linear
Modelo elástico linear com redistribuição de esforços 2
Modelos de 2
análise Modelo mais adequado tendo em conta a história de tensões e o
efeito da fendilhação do betão na distribuição dos esforços.
Modelo não linear (material e/ou geométrico)
B) Cálculo
Recorrendo a um programa de cálculo automático corrente de estruturas e
configurando convenientemente as hipóteses de cálculos de acordo com o descrito
anteriormente, obtêm-se os valores de cálculo dos esforços actuantes, Sd.
Considerações gerais e tipos de reforço 21

A determinação dos esforços resistentes deve ter em consideração as


características mecânicas residuais dos elementos existentes as quais podem
ser determinadas a partir dos seguintes métodos (CEB, 1983):

i. Estimativa analítica – realiza-se uma estimativa das propriedades


mecânicas dos materiais a partir de gráficos apresentados pelo (CEB,
1983) que ilustram a evolução dessas propriedades com o grau de
corrosão, sismos e incêndios (Reis, 1998);
ii. Ensaios de carga – consiste na realização de ensaios de carga da
estrutura, devidamente monitorizados;
iii. Estimativa empírica – consiste na multiplicação das propriedades dos
materiais por coeficientes redutores que procuram ter em conta o
efeito dos danos da estrutura existente.

Segundo o método expedito iii., o valor característico das propriedades


mecânicas pode ser obtido a partir das seguintes expressões:

Rresidual = υR x Rinicial (2.2)

Kresidual = υK x Kinicial (2.3)

Onde:
Rinicial e Kinicial – características iniciais de resistência e de rigidez,
respectivamente;
Rresidual e Kresidual – características residuais de resistência e de rigidez,
respectivamente;
υR e υK – coeficientes de correcção da capacidade resistente e de rigidez.

Na Tabela 2.6 à Tabela 2.8, indicam-se os valores dos coeficientes υR


preconizados pelo CEB (CEB, 1983).
22 Capítulo 2

Tabela 2.6 - Coeficiente υR para danos provocados por sismos (CEB, 1983).

Tipo de NÍVEL DE DANOS


Construção Nível A Nível B Nível C Nível D
Nova 0,95 0,75 0,45 0,15
Antiga 0,80 0,60 0,30 0

Fissuras de flexão isoladas com larguras inferiores a 1 – 2 mm,


desde que um cálculo simples demonstre que estas fissuras não
são devidas a deficiência da armadura para as acções de
Nível A
dimensionamento, mas sim devidas a efeitos localizados (juntas de
construção, restrições devidas a paredes divisórias, choques
ligeiros, acções térmicas iniciais, retracções, etc.).
Várias fissuras de flexão largas ou fissuras de corte diagonais
Nível B isoladas com larguras inferiores a cerca de 0.5 mm, não existindo
deslocamentos residuais.
Fissuras de corte bi-diagonais e/ou esmagamento localizados no
betão devidos a corte e compressão, não existindo deslocamentos
Nível C
residuais apreciáveis; ocorrência de fendilhação em nós de ligação
viga / pilar.
Rotura do núcleo de betão do elemento, encurvadura dos varões (o
elemento perdeu a continuidade mas não colapsou), existindo
Nível D
apenas pequenos deslocamentos residuais (verticais e horizontais);
ocorrência de danos severos em nós de ligação pilar / viga.

Tabela 2.7 - Coeficiente υR para danos provocados por incêndios (CEB, 1983).

Tipo de NÍVEL DE DANOS


Construção Nível A Nível B Nível C Nível D
Nova 0,95 0,80 0,65 0,40
Antiga 0,90 0,75 0,60 0,30

Sem danos, excepto algum descasque mínimo do acabamento


Nível A
e/ou do betão.
Acabamento bastante afectado, algum descasque do betão;
Nível B microfissuração generalizada da superfície do betão e eventual cor
rosada, o que dependerá dos agregados.
Arranque generalizado do acabamento, descasque significativo do
betão e eventual cor cinzento avermelhado / esbranquiçado; os
Nível C varões ainda estão aderentes ao betão, sem que mais que um
varão no caso de pilares ou até 10% da armadura principal no caso
de vigas e lajes, tenha encurvado.
Considerações gerais e tipos de reforço 23

Danos severos, descasque generalizado do betão deixando à vista


praticamente toda a armadura; o betão possui uma cor amarelo
acastanhado; mais do que um varão no caso de pilares ou até 50%
da armadura principal no case de vigas e lajes, encurvou, podendo
Nível D
existir distorção dos pilares; eventuais fissuras de corte com
poucos milímetros de largura nos pilares; eventuais fissuras de
flexão / corte com vários milímetros de largura nas vigas e lajes e
possíveis flechas apreciáveis.

Tabela 2.8 - Coeficiente υR para danos provocados pela corrosão (CEB, 1983).

Tipo de NÍVEL DE DANOS


Construção Nível A Nível B Nível C Nível D
Nova 0,95 0,80 0,60 0,35
Antiga 0,85 0,70 0,50 0,25

Manchas de ferrugem, alguma fendilhação longitudinal, perda de


Nível A
secção de armadura < 1%.
Manchas de ferrugem, alguma fendilhação longitudinal e
Nível B transversal, algum descasque do betão, perda de secção da
armadura < 5%.
Manchas de ferrugem, fendilhação extensa, descasque significativo
Nível C
do betão, perda de secção da armadura < 10%.
Manchas de ferrugem, fendilhação extensa, descasque do betão
Nível D em algumas zonas deixando a armadura à vista, perda de secção
da armadura < 25%, eventuais deslocamentos residuais.

Os valores de cálculo das propriedades dos materiais obtêm-se a partir dos


seus valores característicos pela aplicação dos coeficientes de minoração das
propriedades dos materiais. De acordo com CEB (1983), estes coeficientes
poderão ser inferiores aos utilizados no cálculo de estruturas novas, não sendo
referido, contudo, um valor para os mesmos.
Caso não se disponha de informação precisa acerca dos materiais
realmente aplicados na estrutura, aplicam-se os coeficientes de segurança de
minoração das propriedades dos materiais, habituais em estruturas de betão
armado.
Os estados limites de utilização deverão ser verificados tendo em
consideração, do lado das acções, os esforços actuantes em combinações de
serviço e, do lado da resistência, elementos estruturais com as suas
características de rigidez (rigidez axial e de flexão), reduzidos de um
24 Capítulo 2

coeficiente υK correspondente a 80% dos valores indicados na Tabela 2.6 à


Tabela 2.8 (CEB, 1983).

2.2.4 CARACTERIZAÇÃO DO TIPO DE INTERVENÇÃO

Para caracterizar o tipo de intervenção a levar a efeito, define-se o


coeficiente de capacidade, Φ, dado pela expressão:

Φ (2.4)

Onde:
Rd’ – esforço residual resistente de cálculo;
Sd – esforço actuante de cálculo.

A tomada de decisão quanto à natureza da intervenção, baseia-se nos


critérios indicados na Tabela 2.9.

Tabela 2.9 - Relação entre coeficientes de capacidade e o grau de intervenção (CEB,


1983).

COEFICIENTE DE CAPACIDADE, Φ ACÇÃO


Φ≥1 Não reforçar
0,67 < Φ < 1 Reparar e eventualmente reforçar
0,50 < Φ < 0,67 Reforçar
Φ ≤ 0,50 Demolir

2.2.5 BASES PARA O DIMENSIONAMENTO DE REFORÇOS

O dimensionamento de elementos reforçados deve ser baseado na filosofia


dos estados limite, de acordo com a regulamentação portuguesa e europeia em
vigor para estruturas novas.
As acções a considerar no dimensionamento deverão ser as previstas nos
regulamentos consoante o tipo de utilização da estrutura, ou outras acções
Considerações gerais e tipos de reforço 25

específicas que se apliquem ao projecto de reforço em causa. Os coeficientes


de majoração das acções deverão ser os já indicados na secção 2.2.3.
Os coeficientes de segurança de minoração das propriedades dos materiais
existentes ( , ) poderão ser reduzidos, caso se disponha de informação
rigorosa acerca dos materiais realmente aplicados na estrutura. Caso contrário,
deverão adoptar-se os coeficientes de segurança habituais em estruturas de
betão armado.
Relativamente aos materiais de reforço, os coeficientes de minoração a
aplicar deverão ser os adequados ao tipo de material e sistema de reforço
aplicado, de forma a que se mobilizem tensões mais baixas, compatíveis com a
transmissão de esforços a ser feita (Ripper, 2005). No caso dos materiais betão
e aço, o CEB recomenda os valores indicados nas tabelas

Tabela 2.10 - Valores de γc' para betão cofrado em obra (CEB, 1983).

Espessura adicional
Controlo de < 100 mm > 100 mm
qualidade e
inspecção Acessibilidade
Baixa Normal Baixa Normal
Alto 1,80 1,65 1,50 1,50
Médio 1,95 1,80 1,65 1,50

Tabela 2.11 - Valores de γc' para betão projectado (CEB, 1983).

Controlo de Acessibilidade
qualidade e Baixa Normal
inspecção
Alto 1,95 1,80
Médio 2,10 1,95

Tabela 2.12 - Valores de γs' para o aço (CEB, 1983).

Controlo de
qualidade e Armaduras novas
inspecção
Alto
1,40
Médio
26 Capítulo 2

Quando se considera um estado limite último, deve verificar-se que Sd ≤ Rd


em que Sd traduz o valor de calculo de um esforço actuante, calculado de
acordo com o já descrito na secção 2.2.3, e Rd o valor de cálculo do esforço
resistente da estrutura reforçada.
Na determinação dos esforços resistentes da secção de betão armado
reforçada, poder-se-á adoptar uma das seguintes estratégias:

i. Aplicação do chamado “Método dos coeficientes globais”, que consiste


no cálculo da resistência da secção, adoptando os modelos de
comportamento das secções de betão armado novas, admitindo a
inexistência de danos, a ligação perfeita entre materiais e a inexistência
de estados de tensão prévios (antes da aplicação do reforço).
Posteriormente, aplica-se um coeficiente redutor de monolitismo, γn,R,
dependente da técnica de reforço utilizada, de forma a ter em
consideração a imperfeição da ligação entre o elemento de betão
armado e o reforço. Adoptando-se esta estratégia, o esforço resistente
passa a ser dado por:

, (2.5)

ii. Modelação da estrutura danificada e análise das tensões iniciais.


Incorporação no modelo do reforço incluindo a modelação da interface
entre elementos existentes e elementos de reforço.

Com a aplicação do “Método dos coeficientes globais” admite-se um


comportamento monolítico da secção, impondo desta forma um diagrama de
extensões linear ao longo da secção reforçada.
Considerações gerais e tipos de reforço 27

No cálculo das secções de betão armado reforçadas, assumem-se ainda as


seguintes hipóteses:

i. As secções planas mantêm-se planas após o carregamento;


ii. É satisfeito o princípio de equilíbrio de forças na secção;
iii. A resistência à tracção do betão é desprezada.

Para que os métodos descritos em i. e ii. sejam verosímeis, a estrutura


deverá ser escorada e aliviada de todas as cargas que possam ser removidas
durante a execução do reforço, garantindo desta forma níveis de tensão baixos
e mobilização do reforço para as cargas de serviço (Appleton & Gomes, 1997).
Quanto aos métodos de análise estrutural, sugere-se uma análise linear com
redistribuição de esforços ou uma análise não linear. A utilização deste tipo de
análise justifica-se pela necessidade de consideração do carregamento prévio
da estrutura, o qual conduziu a uma redistribuição de esforços, de acordo com
a rigidez relativa entre elementos fissurados e não fissurados.

2.3 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE TÉCNICAS DE REFORÇO

As técnicas de reparação e reforço de estruturas de betão armado são,


geralmente, consideradas activas ou passivas, dependendo de como as cargas
actuam nos componentes adicionais utilizados no reforço. As soluções cuja
resistência não é mobilizada até que sejam aplicadas cargas adicionais
(permanentes ou variáveis) e/ou até que ocorra deformação adicional, são
denominadas de passivas.
Por outro lado, existem várias situações onde deformações adicionais não
são aceitáveis. Nestes casos, a capacidade resistente do reforço deve ser
mobilizada de imediato classificando-se estas soluções como activas.
Os sistemas activos de reforço requerem que seja aplicado pré-esforço aos
elementos a reparar, ou a remoção temporária das cargas aplicadas (tanto
permanentes como variáveis) bem como uma combinação das duas situações
(ver Figura 2.1).
28 Capítulo 2

Viga de betão reforçada com varões de aço pré-tensionados.

Os varões pré-esforçados permitem que a viga resista


imediatamente às cargas aplicadas (permanentes e
sobrecargas).

Figura 2.1 – Sistema de reforço activo.

Os sistemas passivos funcionam bem quando se conseguem antecipar as


cargas variáveis. Por exemplo, o reforço de uma ponte para suster cargas mais
elevadas pode requerer unicamente um sistema passivo. Contudo, se um
elemento da estrutura está com esforços demasiadamente elevados, a única
escolha poderá ser a utilização de uma solução activa. Assim, consegue-se
eliminar de imediato a situação de esforços em excesso através da mobilização
da capacidade resistente dos elementos de reforço (ver Figura 2.1 e Figura 2.2).

Viga de betão reforçada com chapa de aço colada.

A chapa de aço só é solicitada quando são aplicadas as


sobrecargas. À medida que a viga flecte, a capacidade
resistente da placa começa a ser solicitada.

Figura 2.2 – Sistema de reforço passivo.

Outro aspecto importante prende-se com o comportamento dos materiais


quando se pretende considerar determinada solução de reparação e reforço de
estruturas de betão armado. Deve-se considerar, não só, o comportamento do
material no seu estado curado mas também durante o processo de aplicação e
cura.
Muitas técnicas de reforço envolvem o uso de polímeros, argamassas à
base de cimento e betões. Estes materiais apresentam fracas resistências
durante o processo de cura. Se, por qualquer motivo, este processo é alterado,
Considerações gerais e tipos de reforço 29

o resultado pode traduzir-se numa performance abaixo da esperada. Por


exemplo, quando se procede ao reforço de ligações viga – pilar para aumentar
a capacidade resistente à flexão, algumas das ligações podem ser sujeitas a
movimentos contínuos (rotações) devido ao aquecimento diurno provocado
pelo sol (ver Figura 2.3).

Encamisamento de betão para


aumentar o momento resistente.
Viga

Aparecimento de fissuração
quando o betão jovem é sujeito
a movimentos.

Pilar

Figura 2.3 – Fissuração do material de reforço durante o seu processo de cura.

Se a reparação incluir a construção de um encamisamento com betão,


poderá ocorrer a fissuração do betão nas primeiras 24 horas, o que pode tornar
a reparação questionável. Uma melhor solução para este caso, será a
utilização de chapas de aço em combinação com ancoragens e polímeros de
cura rápida.
Quando se está a ponderar a utilização de técnicas de reparação e reforço,
é igualmente importante considerar o comportamento estático e dinâmico da
estrutura e dos elementos que a compõem. Uma viga fissurada poderá parecer
estática mas, em muitos casos, a fissura mexe-se ligeiramente devido às
alterações nas cargas variáveis ou a esforços induzidos pelas variações de
temperatura. Estes movimentos podem não ser perceptíveis a olho nu, mas
quando o movimento da fissura é medido através de instrumentação adequada,
a fenda poderá exibir movimentos regulares e significativos.
Várias reparações não têm sucesso quando se injecta epoxy em fendas que
não estabilizaram. Ao aplicar a resina epoxy numa fenda deste tipo,
30 Capítulo 2

desenvolvem-se tensões de tracção após o processo de cura. Se estes


esforços de tracção ultrapassam a capacidade resistente do elemento, surge
uma nova fenda adjacente à que foi reparada, como se ilustra na Figura 2.4,
(Emmons, 1994).

A fenda movimenta-se devido às variações de temperatura

ºC

Injecção das fendas com epoxy

ºC

A injecção de epoxy pode não resultar se


ocorrerem movimentos excessivos
Figura 2.4 – Injecção de epoxy em fendas não estabilizadas.

Sobeja referir que é possível optar-se por reforçar um dado elemento


estrutural unicamente a uma determinada característica resistente que se
conclui insuficiente. Desta forma, opta-se por uma técnica de reforço específica
em detrimento de outras, designando-se esta forma de actuar por
reparação/reforço selectivo.

2.4 TIPOS DE REFORÇO

Na generalidade, as técnicas de reforço estão divididas em dois grupos


distintos, seja pela adição de novos elementos resistentes, seja pelo reforço de
elementos resistentes já existentes.
Considerações gerais e tipos de reforço 31

A adição de novos elementos passa, por exemplo, pela implementação de


paredes resistentes dentro de um pórtico, a adição de paredes resistentes de
ambos os lados de um pilar, o contraventamento metálico em forma de “X” de
um pórtico ou a adição de contrafortes.
Por outro lado, o reforço dos elementos existentes normalmente é
conseguido através do encamisamento de aço com injecção de argamassa; a
colocação de cantoneiras nos cantos do pilar original, ligadas por travessas; o
encamisamento de betão com armadura em malha; a colagem de chapas de
aço e, por fim, a colagem de placas compósitas (Júlio, 2002).

2.4.1 REPARAÇÃO OU REFORÇO POR ENCAMISAMENTO COM


BETÃO ARMADO (BETÃO MOLDADO “IN SITU”)

Esta técnica será a mais aplicada pelas vantagens que apresenta, uma vez
que é de simples execução e recorre à utilização de estratégias e materiais
“correntes”. Comparando com a técnica que recorre à aplicação de armaduras
exteriores, o encamisamento com betão garante maior protecção ao fogo e à
corrosão das armaduras suplementares.
Por outro lado, apresenta como inconvenientes o aumento da dimensão dos
elementos reforçados e o tempo de espera necessário para a presa e
endurecimento (aquisição de resistência) do betão.
A espessura mínima do encamisamento deverá ser de 10 cm, em geral, ou
de 6 cm, no caso de serem utilizados betões com aditivos (super-plastificantes)
e agregados cuja dimensão máxima (dmáx) não ultrapasse os 20 mm.
O aspecto crítico deste tipo de reforço é, sem dúvida, a ligação do betão
novo ao betão velho, particularmente devido ao efeito da retracção.
Para melhorar as características desta ligação e atenuar os efeitos da
retracção, devem-se adoptar procedimentos adequados (Matos, 2000).
Nos próximos parágrafos descrevem-se os mesmos.

Remoção do betão deteriorado ou desagregado

De forma a remover o betão deteriorado ou desagregado, é necessário ter


em conta a dimensão da superfície a intervir. Assim, para pequenas superfícies
32 Capítulo 2

e locais de difícil acesso de equipamentos mecânicos, deve-se utilizar a


escarificação manual. Para grandes superfícies, deverá ser empregue a
escarificação mecânica.
Para o desbaste e preparação de grandes superfícies, deve-se usar o disco
de desbaste e para as operações de demolição, o martelo pneumático (Matos,
2000).

Limpeza e preparação das superfícies

Sendo esta uma das tarefas mais importantes, deve-se atender a uma
cuidada remoção de gorduras no betão, de corrosão das armaduras e
eliminação de poeiras. Com a escarificação superficial, pretende-se aumentar a
rugosidade da superfície de contacto para facilitar a aderência.
Para proceder a estes trabalhos, existem várias técnicas e equipamentos
utilizados, a saber:
ƒ Lixamento e escovamento, manual ou mecânico (eléctrico);
ƒ Jacto de areia (por via seca ou húmida);
ƒ Jactos de água ou ar comprimido;
ƒ Aspiração;
ƒ Lavagem com soluções ácidas ou alcalinas.

Após proceder à limpeza das superfícies, deve-se saturar as superfícies dos


betões com água, durante as 6 horas anteriores à colocação do novo betão
(Matos, 2000).

Aplicação do betão

O processo de aplicação do novo betão deve ser cuidadoso, com a


consistência adequada aos espaços a preencher e de modo a evitar a
formação de bolsas de ar.
A cura do novo betão deve ser adequada (por um período de pelo menos 10
dias), por molhagem, cobertura com elementos saturados ou utilizando um
agente de cura.
Considerações gerais e tipos de reforço 33

O betão a utilizar no encamisamento deve ter características compatíveis


com o betão existente, devendo a sua resistência à compressão ser cerca de
5 MPa superior à do betão existente.
Existem vários tipos especiais de betões e argamassas com características
apropriadas para trabalhos de reparação e de reforço estrutural. Em seguida,
referem-se as principais características dos mesmos.

Betões de retracção compensada e expansivos


Utilizam cimentos expansivos, substituindo total ou parcialmente o cimento
comum. Estes tipos de betões podem ser também conseguidos por meio de
aditivos expansivos (alumínio em pó de limalha de ferro, por exemplo).

Betões modificados por polímeros


Nestes betões, os polímeros substituem parte do cimento (actuando como
modificadores cimentícios) ou parte da água da amassadura, o que permitem
funcionar como redutores de água (plastificantes), melhorando a
trabalhabilidade e reduzindo a retracção. Da mesma forma, permitem melhorar
a aderência com o betão existente e actuar como agentes de cura (reduzindo,
mas não eliminando, as necessidades dos procedimentos de cura).
Possibilitam, ainda, um aumento da resistência a alguns ataques químicos.
No entanto estes betões são mais sensíveis a elevadas temperaturas (acção
do fogo) e são menos alcalinos tendo, por isso, menor resistência à
carbonatação.

Argamassas e betões à base de resinas (ligantes sintéticos)


No reforço/reparação estrutural são geralmente utilizadas argamassas e
betões à base de resinas epoxy, substituindo o cimento. Requerem condições
especiais de trabalho, pois os dois componentes da resina (resina e
endurecedor) são bastante sensíveis à temperatura e, na generalidade, à
humidade.
Assim, a resina epoxy é bastante influenciada pela temperatura, não se
conseguindo realizar os trabalhos em condições satisfatórias a temperaturas
aproximadamente inferiores a 10 ºC; além disso, é uma reacção fortemente
34 Capítulo 2

exotérmica o que, em tempo quente, pode vir a dar origem a retracções


importantes.
Contrariamente ao que sucede com a resina que tem uma aderência
excelente às superfícies de betão limpas e secas, o betão com resina não tem,
normalmente, boa aderência ao betão já existente. Para se conseguir uma
aderência perfeita deve-se aplicar primeiramente sobre o betão existente uma
camada de resina pura (líquida).
O betão de resinas não é alcalino e portanto não fornece protecção à
penetração do gás carbónico e à carbonatação do betão armado sob o
encamisamento. Por isso é indispensável prever um revestimento adequado da
superfície do betão de resinas (por exemplo, com a aplicação de uma camada
de resina pura).
Por outro lado, os betões de resinas têm, normalmente, resistência superior
à dos betões “normais” mas possuem módulo de elasticidade inferior, aspectos
que devem ser tidos em devida atenção.
Do ponto de vista de resistência ao fogo, o betão com resinas tem baixa
resistência ao calor. Em geral, as resinas utilizadas perdem a sua resistência
para temperaturas da ordem dos 100 ºC.
Na Tabela 2.13 apresentam-se as características mecânicas típicas das
argamassas de resinas epoxy e dos sistemas de resina epoxy (Matos, 2000).

Tabela 2.13 – Características mecânicas típicas de argamassas de resinas epoxy.


Propriedades Resinas Argamassas de resina
Resistência à compressão frs,c = 100 MPa (50 – 150) frm,c ≅ 0,75 frs,c
Resistência à tracção frs,t ≅ frs,c frm,t ≅ 0,50 frs,t
Resistência à tracção em
frs,m ≅ 0,50 frs,c frm,m ≅ 0,50 frs,m
flexão
Fluência para pequenos
Igual à da argamassa normal
volumes
500 – 30000 MPa, dependendo do tipo de resina,
endurecedor, cargas e respectivas proporções.

Geralmente:
Módulo de elasticidade Resinas para injecção
E ~ 1000 – 2000 MPa

Resinas para outras aplicações


E ~ 2000 – 4000 MPa
Considerações gerais e tipos de reforço 35

2.4.2 ENCAMISAMENTO OU REPARAÇÃO COM BETÃO PROJECTADO

O betão projectado é um processo mecânico de aplicação de betão sob


pressão, por projecção, de uma forma contínua. Apresenta características
idênticas às do betão usual, distinguindo-se principalmente pelo processo da
aplicação e pela dimensão dos agregados.
O betão projectado apresenta excelente aderência ao betão existente
(quando devidamente aplicado sobre superfícies tratadas) e armaduras,
garantindo um comportamento praticamente monolítico com o betão de base.
O alto grau de compactação e a baixa relação água/cimento asseguram boas
características de resistência. Pode ser aplicado sobre qualquer superfície
(vertical, inclinada ou mesmo tectos), realizando qualquer tipo de formas, sem
ou com um mínimo de cofragens.
Por outro lado, da sua aplicação sobre superfícies extensas, decorre um
maior risco do aparecimento de fissuras por retracção. Surge, então, a
necessidade de prever armadura de pele e de garantir uma cura adequada por
meio de repetidas molhagens.
De forma a se obter uma superfície de acabamento adequada, é necessário
aplicar algumas camadas específicas de acabamento (Matos, 2000).

Tecnologias
O betão projectado apresenta, basicamente, duas formas de aplicação: via
seca e via húmida.
Na via seca, os agregados húmidos e o cimento são misturados e lançados
por ar comprimido para a pistola de projecção onde lhes é adicionada a água
sob pressão. Na Figura 2.5 apresenta-se de forma esquemática o processo de
fabrico do betão projectado por via seca.

Agregados
Máquina de
Betoneira
projecção
Canhão de
Cimento
projecção

Água Bomba de água


Figura 2.5 – Betão projectado por via seca.
36 Capítulo 2

No processo de aplicação por via húmida, a água, o cimento e os agregados


são previamente misturados e transportados por ar comprimido até ao canhão
de projecção onde é injectado mais ar para lançamento, como se descreve de
forma ilustrada na Figura 2.6.

Agregados

Máquina de Canhão de
Cimento Betoneira
projecção projecção

Água Ar comprimido

Figura 2.6 – Betão projectado por via húmida.

Apresentam-se, na Tabela 2.14, as principais características das duas


tecnologias de aplicação do betão projectado.

Tabela 2.14 – Principais características das tecnologias de aplicação do betão projectado.

Via seca Via húmida


ƒ Geralmente dmax < 10 a 20 mm; ƒ dmax limitado pelo equipamento de
ƒ Mais adequada para agregados bombagem;
leves e porosos;
ƒ A água (consistência) é controlada ƒ A água é controlada na misturadora
na pistola de aplicação; (betoneira) e há mais garantias no
controle da quantidade utilizada;
ƒ Sem grandes problemas de ƒ Comprimento de transporte
comprimento de transporte – condicionado pela trabalhabilidade da
permite maiores comprimentos de mistura;
mangueira do que a via húmida;
ƒ Relação água/cimento de 0,40 ou ƒ Maior relação água/cimento
menos; necessária pela bombagem;
ƒ Perdas por ricochete podem atingir ƒ Menos perdas por ricochete (10 a
os 40%; 20%);
ƒ Betões de maior resistência; ƒ Menor produção de pó durante as
operações;
ƒ Dificuldade de aplicação em tectos
(necessidade de um acelerador de
presa);
ƒ Maior uniformidade no produto
aplicado;
ƒ Menores espessuras de aplicação;
ƒ Equipamento de menores ƒ Equipamento mais caro;
dimensões que se pode montar ƒ Geralmente utilizado em trabalhos de
rapidamente; grandes dimensões.
ƒ Aplicação em trabalhos pequenos e
grandes.
Considerações gerais e tipos de reforço 37

Um dos principais problemas associados à aplicação do betão projectado


consiste no ricochete, o qual depende de vários factores. Nomeadamente a
composição do betão (relação água/cimento, granulometria dos agregados), a
velocidade de saída da mistura, o ângulo e distância do impacto, a espessura
da camada aplicada e a habilidade do operador.
Os valores típicos da percentagem de rejeição referente a este fenómeno
são de 5 a 10% para lajes/pavimentos, 15 a 30% em paredes verticais ou
inclinadas e de 25 a 40% em tectos.
A relação água/cimento a utilizar deve ter em atenção as perdas de
agregado por ricochete, o que torna a mistura mais rica em cimento.
A aplicação do betão projectado deve fazer-se por camadas de 4,5 cm, não
se devendo contudo ultrapassar a espessura máxima de 20 cm (Matos, 2000).

Fases da reparação/reforço com betão projectado

Para proceder à reparação/reforço com betão projectado, torna-se


necessário proceder à remoção do betão deteriorado ou desintegrado (com
formão ou escarificador). Escarificar o betão de suporte de modo a aumentar a
sua rugosidade e descobrir as armaduras existentes; limpar a superfície do
betão e eventual corrosão das armaduras (utilizar jactos de areia sob pressão);
remover depois todas as sujidades com jactos de água sob pressão.
Depois das superfícies devidamente limpas, é necessário saturar o suporte
com água durante (pelo menos) as seis horas anteriores à aplicação do betão
projectado. Colocar convenientemente os novos varões da armadura e prever
armadura de pele (rede electrosoldada, tipo “malhasol”, por exemplo) para
evitar a fissuração por retracção. Assegurar a fixação das armaduras e colocar
as cofragens necessárias (ver Figura 2.7), aplicar o betão projectado e curar as
superfícies por molhagens sucessivas, por um período mínimo de 7 horas
(Matos, 2000).
38 Capítulo 2

Madeira (prumos)

1ª fase de aplicação 2ª fase de aplicação

2ª fase 2ª fase

1ª fase
Cofragem

Figura 2.7 – Betão projectado: utilização de cofragens.

Betão projectado com fibras de aço

Com o objectivo de aumentar consideravelmente a resistência à tracção bem


como a sua ductilidade, é habitual incluir no betão fibras de aço (aço de baixo
teor de carbono, comprimento menor que 5 cm e diâmetro entre 3 a 5 mm),
geralmente não ultrapassando 5% do peso do betão fresco.
Para evitar a corrosão das fibras, a última camada com aproximadamente
2 cm de espessura não deve conter fibras de aço (Matos, 2000).

2.4.3 REPARAÇÃO OU REFORÇO COM RESINAS EPOXY E


ELEMENTOS METÁLICOS

Esta técnica apresenta várias vantagens tais como a rapidez de execução, a


compatibilidade com o projecto inicial (arquitectura), apresentar instalações
auxiliares simples e ausência de materiais húmidos.
No entanto, necessita de pessoal qualificado e especializado, um controle de
qualidade dos materiais utilizados e fiscalização rigorosa.
Considerações gerais e tipos de reforço 39

Em resumo, a fixação das armaduras exteriores (chapas de aço ou perfis


metálicos) é geralmente efectuada com adesivos epoxídicos, os quais podem
ser aplicados por espalhamento sobre as superfícies a fixar, ou por injecção
preenchendo os espaços entre a superfície da peça a reforçar e o elemento de
reforço. A ligação pode ser complementada com buchas metálicas. De forma a
garantir boas condições de ligação do reforço, é necessário proceder a uma
cuidadosa preparação, não somente da superfície de betão a reforçar, como
também das chapas.
Os inconvenientes que acarreta cingem-se à corrosividade do aço, havendo
grande probabilidade da zona da colagem (interface betão – adesivo – aço) se
deteriorar; a dificuldade de manipulação de pesadas chapas de aço no local da
obra (especialmente em superfícies curvas); necessidade de suportes
provisórios durante o tempo de cura do adesivo; limitação do comprimento das
chapas, por restrições do seu transporte, podendo dar origem à necessidade
de execução de emendas (Dias & Barros, 2005).

Materiais e conceitos principais

Resinas epoxy
Tipicamente, as resinas epoxy são constituídas por dois componentes que,
quando combinados, conduzem a um processo de polimerização e
consequente endurecimento. Na Figura 2.8 apresenta-se, esquematicamente,
este processo e suas características.

Resina - Irreversível
- Afectada pela temperatura
Polimerização
- Fortemente exotérmica
- Sem formação de produtos residuais (sem
Endurecedor retracção).

Figura 2.8 – Características das resinas epoxy.


40 Capítulo 2

Conceitos principais
Apresentam-se, resumidamente, os conceitos e definições mais importantes
no que diz respeito a resinas epoxy. Este tema será novamente abordado e
aprofundado no ponto 2.2.4, na reparação ou reforço com polímeros reforçados
com fibras, onde as resinas desempenham um papel deveras crucial.

Tempo de utilização Período de tempo após a mistura, durante o qual deve


(“Pot-life”) ser aplicado o produto.
Depende bastante da temperatura – o aumento da
temperatura diminui o pot-life.
A 20 ºC o “pot-life” das resinas usualmente utilizadas na
construção pode variar entre 45 e 120 minutos.
Para resinas utilizadas em injecções é da ordem dos 15
a 20 minutos – resinas de “cura rápida”.

Tempo de contacto Período de tempo no qual as peças a ligar devem ser


(“Open – time”) unidas, logo que a resina lhes tenha sido aplicada
(colagens).

Viscosidade Importante para as aplicações por injecção. É também


bastante dependente da temperatura.

Na generalidade, com o aumento da temperatura, a viscosidade e o “pot-life”


diminuem.
Existe no mercado uma grande variedade de produtos deste tipo, cujas
características e propriedades variam (e podem mesmo ser adaptadas)
consoante as formulações, dependendo dos componentes utilizados, relações
da mistura, aditivos, agregados, etc.
As recomendações a ter em conta para as formulações a utilizar em
trabalhos de reparação ou de reforço, passam pelos seguintes pontos:

ƒ Adequado “pot-life”, baixo tempo de endurecimento (polimerização) e


boa trabalhabilidade (viscosidade);
ƒ Cura independente da temperatura e da humidade (o mais possível);
Considerações gerais e tipos de reforço 41

ƒ Boa tolerância em relação a misturas incorrectas;


ƒ Excelentes características de ligação e de adesão ao betão e ao aço,
não (ou minimamente) afectadas pela humidade;
ƒ Retracção e fluência negligenciáveis;
ƒ Boa resistência ao efeito de temperaturas elevadas;
ƒ Baixos valores da viscosidade para trabalhos de injecção e de
impregnação e altos valores da viscosidade para aplicações em
colagens;
ƒ Módulos de deformabilidade não muito baixos, para evitar reduções de
rigidez estrutural.

Betão
Neste caso, o betão de suporte para ser alvo da aplicação de reforços por
elementos metálicos, deve ter uma tensão característica de rotura à
compressão superior à classe C16/20.

Aço
Recomenda-se a utilização de aços macios com tensão de cedência inferior
a 400 MPa (preferencialmente o S235 para elementos metálicos), com vista a
explorar, em estado limite último, a sua plasticidade (Matos, 2000).

Tecnologias

Adição de chapas metálicas em elementos de betão armado

Preparação das superfícies


No que toca à preparação inicial das superfícies, é necessário ter em
atenção o seguinte:

Betão Utilização de um martelo de agulhas ou de jacto de areia para


limpar a superfície e aumentar, de modo não excessivo, a sua
rugosidade.
Aspiração da superfície final para retirar pó e “leitadas”.
42 Capítulo 2

Chapa de aço Remoção de óxidos (imersão rápida em solução ácida) e


limpeza da superfície com agentes dissolventes.
Galvanização ou aplicação de um primário para protecção
anti-corrosiva.
Protecção temporária (até ao momento da colagem) por
película aderente.

Colagem sem injecção


Proceder à aplicação da resina nas superfícies a colar e sua junção (ter em
atenção o “pot-life” e o “open-time” da resina).
Fixar e apertar (geralmente por elementos metálicos), durante o tempo
adequado à polimerização (endurecimento) da resina (mínimo de 24 horas,
geralmente).
De ressalvar que a película de resina não deve exceder os 2 mm.

Ligação chapa-betão por injecção


Neste procedimento de aplicação, a viscosidade da resina deve ser
adequada ao processo de injecção, sendo a preparação das superfícies
idêntica ao descrito para o processo de colagem sem injecção.
A chapa é colocada na sua posição e selada perimetralmente (betume de
ferro, argamassa de presa rápida, etc.). Deve-se também proceder à
colmatação de fissuras adjacentes, para impedir a saída da resina durante a
injecção.
Procede-se à instalação de tubos injectores (tubos plásticos de 20 em 20 cm,
ao longo do vedante perimetral) e injecta-se a resina, por pistola especial, no 1º
tubo até aparecer no 2º tubo. Quando isto acontecer, fecha-se o 1º tubo e
continua-se a injecção pelo 2º tubo e assim sucessivamente.
No último tubo termina-se a injecção aplicando-se uma pressão que garanta
o preenchimento total do espaço entre a chapa e o betão, sem destruir a
selagem perimetral ou danificar o betão.
Por este processo resultam também “injectadas” as fissuras anexas do
elemento de betão a reforçar.
Considerações gerais e tipos de reforço 43

Como se pode constatar, este processo é de execução mais exigente e


delicada do que o anterior.

Utilização de fixações metálicas


A ligação chapa-betão por injecção pode ser reforçada pela utilização de
fixações metálicas, especialmente nas zonas de ancoragem (extremidades)
das chapas metálicas.
As buchas são colocadas antes da injecção e facilitam a fixação da chapa
durante o processo de injecção (Matos, 2000).

2.4.4 REPARAÇÃO OU REFORÇO COM POLÍMEROS REFORÇADOS


COM FIBRAS

Os materiais compósitos apresentam várias vantagens para o campo de


reforço de estruturas. Nomeadamente a sua elevada resistência, o baixo peso
específico, a elevada resistência à corrosão, boa resistência à fadiga, bom
amortecimento ao choque e facilidade de aplicação.
Contudo, há que ter em conta o seu custo elevado, a necessidade de rigor
no dimensionamento e no conhecimento das propriedades da estrutura
aquando do reforço, a baixa resistência ao fogo, a sua elevada toxicidade, a
necessidade de pessoal qualificado e rigoroso controlo de qualidade (Barros,
2006).
Essencialmente, os materiais compósitos são formados por dois
constituintes: as fibras, as quais apresentam grande resistência, elevado
módulo de elasticidade e têm a forma de filamentos de pequeno diâmetro; e a
matriz, a qual envolve completamente as fibras, permitindo boa transferência
de tensões entre as fibras interlaminares e no plano.
Da conjugação destes dois componentes, surge a verdadeira essência que
caracteriza a família dos “Fiber Reinforced Polymer” (FRP) e as suas
relevantes propriedades mecânicas, físicas e químicas, quando comparados
com os materiais homólogos tradicionais (Juvandes, 1999).
44 Capítulo 2

Materiais
O reforço de estruturas de betão armado existentes, através da aplicação de
compósitos de FRP, passa pela técnica de colagem destes ao betão com o
auxílio de um adesivo. No final, o desempenho geral do reforço vai ser
condicionado pelo comportamento a curto e longo prazo dos dois materiais
(FRP e adesivo).
Seguem-se alguns conceitos fundamentais referentes a estes materiais bem
como alguns dos produtos disponíveis no mercado, nomeadamente ao nível
das fibras, do compósito de FRP e do adesivo de colagem (Juvandes, 1999).

Fibras
A “American Society for Testing Materials (ASTM) – Committee D30” define
fibras como materiais alongados com dimensão na razão de 10/1, no mínimo,
com uma secção transversal de 5x10-2 mm2 e uma espessura máxima de
0.25 mm.
Nos FRP’s, as fibras representam as componentes de resistência e rigidez
do compósito e, por este motivo, torna-se necessário existir um critério de
selecção em função de parâmetros como o tipo de fibra (composição química),
o seu grau de concentração, o seu comprimento (curtas ou longas) e a forma
como se dispõem no seio da matriz. Deste último parâmetro, conclui-se que a
resistência à tracção e o respectivo módulo de elasticidade são máximos para
a direcção principal das fibras e reduzem progressivamente de valor, quando o
ângulo em análise se afasta daquela direcção.
As fibras exibem um comportamento perfeitamente elástico, sem presença
de tensão de cedência e deformação plástica, ao contrário dos metais.
Na generalidade, as fibras em filamento contínuas, designadas “Contínuous
Fibers”, são as mais indicadas para o reforço de estruturas de betão, devido à
possibilidade de orientação numa determinada direcção com vista à
optimização do seu desempenho estrutural.
As principais fibras contínuas comercializadas para aplicações de
engenharia civil, com especial ênfase no reforço com sistemas de FRP, são o
vidro (G), o carbono (C) e a poliamida aromática (aramida (A) ou Kevlar® (K)).
Considerações gerais e tipos de reforço 45

Como se pode constatar através da Figura 2.9, as fibras de carbono


possuem uma elevada resistência à tracção e maior valor do módulo de
elasticidade, quando em comparação com as restantes fibras (Juvandes, 1999).
Na Tabela 2.15, apresentam-se as propriedades das fibras mais comuns.

σ G-S
(MPa)
C-HS
A-HM A-IM
3000
G-AR

C-HM G-E

2000
Aço Pré-Esforçado

1000

Aço Betão Armado

ile no
Poliprop
Nylon

1 2 3 4 5 ε (%)
Figura 2.9 – Comportamento à tracção de fibras e metais.

Tabela 2.15 – Propriedades mecânicas e físicas de vários tipos de fibras (Barros, 2006).
Material Módulo de Resistência à Densidade
elasticidade tracção (kg/m3)
(GPa) (MPa)
Betão 20 – 40 1–3 2400
Aço 200 – 210 240 – 690 7800
Fibras de vidro 69 – 72 1860 – 2680 1200 – 2100
Fibras de carbono 200 – 800 1380 – 6200 1500 – 1600
Fibras de aramida 69 – 124 3440 – 4140 1200 – 1500

Compósitos de FRP
A família dos compósitos de FRP resulta, sobretudo, da conjugação de fibras
contínuas de reforço orgânicas ou inorgânicas, com a resina termoendurecível
(matriz) e com as cargas de enchimento designadas por “fillers”. A partir das
principais fibras comercializadas como o vidro (G), o carbono (C) e a aramida
(A), constroem-se os respectivos compósitos reforçados denominados
46 Capítulo 2

internacionalmente por GRFP (Glass Fiber Reinforced Polymer), CFRP


(Carbon Fiber Reinforced Polymer) e AFRP (Aramid Fiber Reinforced Polymer).
O comportamento final de um FRP está intimamente ligado aos materiais
que o constituem, do teor e da disposição das fibras principais de reforço, da
interacção entre os referidos materiais e do processo de fabrico do componente
final. Os factores intervenientes neste comportamento são a orientação, o
comprimento, a forma e a composição das fibras, as propriedades mecânicas
da resina da matriz, bem como a adesão entre as fibras e a matriz.
A matriz polimérica (resina termoendurecível) tem como funções transmitir
os esforços entre as fibras e a estrutura envolvente e, ainda, proteger as fibras
da agressividade ambiental e dos danos mecânicos. Do mesmo modo, as
propriedades da matriz influenciam a resistência ao corte, interlaminar e no
plano, do FRP. Representa, também, o suporte físico contra a instabilidade das
fibras sob acções de compressão. Por estes motivos, a selecção da matriz
deve ser criteriosa, justificando-se, geralmente, a opção pelas resinas
termoendurecíveis do tipo epoxy, no caso dos sistemas de FRP mais utilizados
na técnica de reforço por colagem.
Assim e neste contexto, os compósitos de FRP são considerados materiais
não homogéneos e anisotrópicos. As propriedades dos FRP podem variar com
a composição, o processo de fabrico e as condições futuras de trabalho
(temperatura, agressividade do ambiente e o tempo). Desta forma, a
informação necessária para o projecto da aplicação de sistemas de FRP,
envolve a consideração destes factores no conhecimento à priori de dois níveis:

ƒ Caracterização estática a curto prazo do estado final do compósito a


aplicar (geralmente obtido do fornecedor);
ƒ Definição de factores de redução para atender à exposição ambiental
a longo prazo (temperatura, humidade, agressão química, fluência,
fadiga, etc.).

As principais formas comercializadas para os FRP, admitindo a configuração


geométrica espacial e a disposição das fibras, podem ser classificadas em três
grandes grupos: unidireccionais, bidireccionais e multidireccionais. No caso
Considerações gerais e tipos de reforço 47

especifico do reforço de estruturas de betão armado com FRP, interessa


distinguir duas formas principais de FRP incluídas nesses três grupos: os
sistemas pré-fabricados e os sistemas curados in situ (Juvandes, 1999).

Sistemas pré-fabricados
A forma mais comum usada nas aplicações de reforço estrutural e
desenvolvida na Europa, tem a designação geral de “Laminate”, apesar de, em
algumas publicações, referirem-se a “Plate” ou “Strip”.
Consiste na substituição das tradicionais chapas metálicas rígidas, por
sistemas laminados semi-rígidos de FRP do tipo unidireccional. Estes resultam
da impregnação de um conjunto de feixes ou camadas contínuas de fibras por
uma resina termoendurecível, consolidadas por um processo de pultrusão com
controlo da espessura e da largura do compósito. A orientação unidireccional
das fibras confere ao laminado a maximização da resistência e da rigidez na
direcção longitudinal. Em contraste, os casos de arranjos bidireccionais e
multidireccionais das fibras no plano repartem as propriedades mecânicas
pelas várias direcções (Juvandes, 1999).

Sistemas curados “in situ”


Outro processo nas aplicações de colagem a elementos de betão consiste
na aplicação de feixes de fibras contínuas, com a forma de fios, mantas ou
tecidos em estado seco ou pré-impregnado, sobre um adesivo epoxy
previamente espalhado na superfície a reforçar. O adesivo tem as funções de
impregnar o grupo de fibras, proporcionar a polimerização do conjunto num
compósito de FRP e, por fim, desenvolver propriedades de aderência na
ligação do FRP ao material existente. Segundo o conceito de FRP, este
sistema só o será fisicamente após a execução do reforço, ou seja,
polimerizado ou endurecido in situ e deverá ter um comportamento semelhante
ao dos laminados pré-fabricados, desde que a superfície a reforçar esteja
convenientemente regularizada.
No que respeita ao critério de agrupamento das fibras no plano, distinguir-
se-ão os dois casos mais citados na literatura internacional, a manta e os
tecidos, que se resumem na Tabela 2.16.
48 Capítulo 2

Tabela 2.16 – Mantas e tecidos empregues nos sistemas FRP curados in situ (Juvandes,
1999).
ORIENTAÇÃO
DESIGNAÇÃO DESCRIÇÃO ESTADO
DAS FIBRAS
Disposição de faixas
contínuas e paralelas de Secas
Mantas fibras sobre uma rede Unidireccionais
“sheets” de protecção. Pré-
(200 – 300 g/m2) impregnadas 1
Entrelaçamento Bidireccionais
“Woven direccionado de dois 0/90º
roving” 2 fios ou faixas de fibras. 0/+45º
(600 – 800 g/m2) 0/-45º Secos
Espalhamento aleatório
das fibras num tapete
rolante que,
“Mat” 2 posteriormente, é Multidireccional
Tecidos
pulverizado com resina
para adquirir
consistência.
Fios contínuos tecidos Unidirecional Pré-
por um processo têxtil ou impregnados 1
“Cloth” 2 convencional. Bidirecional
(150 – 400 g/m2) ou
Multidirecional
1
– aplicação de uma camada suave de resina sem a cura total, de modo a criar alguma
coesão entre as fibras (estado “prepreg”).
2
– designação internacional para o arranjo das fibras no plano.

Das várias fibras disponíveis no mercado, os sistemas reforçados com fibras


de carbono CFRP, apresentam as características que melhor se ajustam aos
compromissos exigidos pelo reforço de estruturas de betão com a técnica de
colagem. Esta conclusão é partilhada por vários autores com artigos publicados
em conferências internacionais, quer no domínio da investigação quer na área
da construção, sobre o comportamento de sistemas de CFRP com as formas
aqui descritas. No confronto com as restantes fibras destacam-se factores
decisivos como as maiores resistências à tracção e à compressão, o valor do
módulo de elasticidade longitudinal mais próximo do do aço (ver Figura 2.10), o
bom comportamento à fadiga e a boa resistência alcalina (Juvandes, 1999).
Considerações gerais e tipos de reforço 49

3000

2500
Tensão de Tracção (MPa)

2000 Aço de pré-esforço

1500
RP RP
RP
GF AF
CF

1000

Aço normal
500

0
0 1 2 3 4 5

Deformação (%)
Figura 2.10 – Comportamento à tracção de vários sistemas de FRP e aço.

Adesivos
A selecção de um sistema de FRP inclui, para além do compósito de FRP, o
estabelecimento do agente responsável pela sua colagem aos elementos a
reforçar, designado por adesivo ou cola.
Os sistemas comercializados, na generalidade, utilizam adesivos que têm
sido formulados, especificamente, para optimizar o seu comportamento
estrutural, na vasta gama de condições ambientais a que possam estar sujeitos.
Os adesivos principais nestes sistemas são da classe geral dos epóxidos, dos
vinilester e dos poliéster insaturados.
No caso dos laminados pré-fabricados, o agente adesivo é um material
distinto do compósito de FRP sendo, nas aplicações realizadas na Europa, do
tipo epoxy. Nestes, são usados sistemas de resinas de dois componentes, a
resina de epoxy e um endurecedor e, regra geral, a primeira é livre de
solventes e tem enchimento mineral (por exemplo, quartzo).
Nos sistemas de FRP curados “in situ”, o agente adesivo é a própria resina
de impregnação das fibras e de polimerização em compósito de FRP. Neste
caso, a literatura internacional atribui o termo “Saturating Resin” para distingui-
lo da designação corrente de adesivo (situação anterior dos laminados). Este
50 Capítulo 2

apresenta o papel de matriz do FRP e promove a transferência de esforços


entre as fibras e destas para a superfície colada. O sistema, em geral, recorre a
resinas de saturação do tipo epoxy, composto por dois componentes
devidamente doseados (a resina e o endurecedor).
Em qualquer dos dois casos, a polimerização do epóxido é traduzida pela
reacção química entre o oxigénio da resina e o hidrogénio das aminas contidas
no endurecedor. Para se obter um bom produto epóxido, a mistura dos
componentes, resina de epoxy e endurecedor, deve ser adequada de modo a
que qualquer molécula do segundo estabeleça ligação com as moléculas da
primeira. A densidade destas ligações e, consequentemente, o grau de
endurecimento do adesivo são funções da estrutura química da resina ainda
líquida, do agente de endurecimento e das condições de reacção, como o
tempo e a temperatura.
As reacções são lentas a baixas temperaturas, obrigando a tratamentos
apropriados abaixo dos 5º C e melhoradas em ambientes quentes. O aumento
do número de ligações no adesivo traduz-se num incremento do módulo de
elasticidade, da temperatura de transição vítrea, da estabilidade térmica e da
resistência química. Refira-se, ainda, que após uma cura à temperatura
ambiente, as propriedades do adesivo podem ser implementadas com uma
pós-cura a quente.
Para as aplicações de reforço em engenharia civil, é muito difícil ajustar um
só tipo de adesivo que satisfaça todos os casos desejados. Por isso, no
mercado existe uma grande variedade de formulações de epóxido, com
possibilidade de modificação para melhorar a resposta do adesivo às
especificações de aplicação, bem como a possibilidade da junção de uma
quantidade de adições, tais como cargas, solventes, flexibilizantes e pigmentos.
O sucesso do adesivo irá depender da correcta preparação e aplicação da
mistura, baseada nas especificações do fornecedor.
As principais características de um adesivo de epoxy não endurecido
consistem na viscosidade, no tempo de utilização, no tempo de cura, na
toxicidade e no endurecimento em contacto com a humidade ou água. Neste
contexto são importantes as noções de tempos de utilização e de contacto, já
Considerações gerais e tipos de reforço 51

introduzidas na secção 2.2.8, quando abordadas as reparações com resinas


epoxy e elemento metálicos.
Assim, o tempo de utilização (“pot-life”) é o intervalo de tempo após a
mistura da resina base e restantes componentes, durante o qual o material
líquido é utilizável sem dificuldade. Esgotado o tempo de utilização, qualquer
formulação de resina perde drasticamente as suas características de aderência,
pelo que não deve ser utilizada. Os valores podem variar entre uns minutos e
várias horas. O tempo de utilização diminui com o aumento da temperatura e
da quantidade de material a preparar, uma vez que há libertação de calor
durante a cura. A presença de cargas (inertes) aumenta o tempo de utilização,
pois estas absorvem parte do calor libertado na reacção, diminuindo a
temperatura atingida pela resina.
O tempo de contacto (“open-time”), é o termo aplicado às formulações para
colagem. É o intervalo de tempo que decorre entre o momento em que a
formulação é aplicada na superfície a colar e o instante em que esta principia a
endurecer e deixa de ser possível efectuar a colagem. A junção das peças
deve ser realizada neste intervalo de tempo para que a colagem apresente as
características desejadas. O tempo de contacto é influenciado pela temperatura
ambiente e pela temperatura do suporte. A natureza da superfície a colar
condiciona também as características da colagem.
O tipo de agressividade a que o adesivo se submeterá posteriormente,
condiciona as principais características da formulação endurecida,
designadamente, a resistência mecânica (tracção, compressão e flexão), a
aderência às superfícies, a retracção durante a cura, o módulo de elasticidade,
a extensão na rotura, o coeficiente de dilatação térmica, a resistência química,
a resistência à temperatura e o comportamento a longo prazo.
Devem-se ainda destacar os produtos que, apesar de não possuírem
características do tipo adesivo, complementam e melhoram o desempenho
daqueles e que se designam por primários e por regularizadores de superfície.
O primário apresenta a característica de penetrar na superfície do betão por
capilaridade, de modo a melhorar a propriedade adesiva da superfície, para a
recepção da resina de saturação ou do adesivo. Por seu lado, o produto de
regularização elimina pequenas irregularidades na superfície com vista a evitar
52 Capítulo 2

a formação de bolhas de ar e garantir uma superfície lisa para a colagem do


FRP. Estes dois produtos são indispensáveis, principalmente, para as
aplicações de sistemas de FRP endurecidos “in situ” (fios, mantas e tecidos)
(Juvandes, 1999).
Na Tabela 2.17, apresentam-se as propriedades mecânicas e físicas de
algumas resinas puras.

Tabela 2.17 – Propriedades mecânicas e físicas de algumas resinas puras (Barros, 2006).
Resina Módulo de elasticidade Resistência à Extensão na Densidade
(GPa) tracção rotura (kg/m3)
(MPa) (%)
Poliéster 2.1 – 4.1 20 – 100 1.0 – 6.5 1000 – 1450
Epoxy 2.5 – 4.1 55 – 130 1.5 – 9.0 1100 – 1300

Aplicação de Reforços de Polímeros Reforçados com Fibras


De um modo geral, a técnica de aplicação de um reforço exterior ao
elemento de betão envolve duas fases, ou seja, a preparação das superfícies a
colar (1ª fase) e a colagem dos materiais compósitos (2ª fase). Entretanto,
inserido nestas duas fases situa-se o processo de confirmação do estado
actual da resistência de aderência na interface betão-adesivo-compósito de
CFRP, isto é, caracterização da ligação colada, fundamental para a previsão do
bom desempenho do reforço.

Tratamento da superfície da ligação


A preparação das superfícies de interface entre o betão e o compósito de
CFRP deve ser bem cuidada, de modo a obter-se as condições necessárias à
boa aderência do adesivo. Assim, expõem-se de seguida os processos e os
produtos mais utilizados no tratamento das superfícies de ligação, tendo em
conta as instruções propostas nas informações técnicas dos produtos de
reforço.

Laminados pré-fabricados
Como processos aconselháveis para o betão, normalmente recorre-se à
utilização da picagem com passagem de escova de aço, a projecção de jacto
Considerações gerais e tipos de reforço 53

de areia e ainda, a decapagem com martelo de agulhas (ilustrado na Figura


2.11), de modo a extraírem-se gorduras, óleos, partículas soltas ou leitanças.

Figura 2.11 – Martelo de agulhas (LeadVane Industrial Co., Ltd., 2008).

Após a limpeza, é necessário remover toda a poeira da superfície no


momento de aplicação do adesivo.
Nos casos particulares de superfícies bastante irregulares, deve-se proceder
à reparação da superfície com a aplicação de argamassa de reparação à base
de resinas epoxy. Quanto aos laminados, estes devem ser limpos com um
desengordurante.

Figura 2.12 - Aplicação de laminados pré-fabricados.

Mantas flexíveis
Quando se pretende utilizar mantas flexíveis no reforço de estruturas, é
necessário remover as sujidades e a fina camada de leitada de cimento,
através do polimento com um esmeril e posterior projecção de jacto de ar.
54 Capítulo 2

Procura-se, desta forma, obter uma superfície lisa e com exposição dos
agregados superficiais.
No sentido de melhorar as propriedades aderentes da camada de betão da
interface, aplica-se um primário e corrigem-se as irregularidades pontuais da
superfície, com o revestimento à espátula de uma argamassa de resina de
epoxy tipo "Putty". O primeiro melhora a coesão das partículas no betão e a
adesão ao compósito, através da impregnação do produto no betão. O
segundo proporciona a plena adesão da área do compósito à superfície do
betão. Após a aplicação do primário e do "Putty" deixam-se curar os produtos,
nas condições de temperatura e humidade ambiente, durante dois dias no
mínimo, de modo a obter-se o grau desejável para a aplicação posterior do
compósito de CFRP.
Em qualquer dos dois sistemas, devem corrigir-se as irregularidades
pontuais da superfície do betão, com o revestimento à espátula de uma
argamassa de resina epoxy, de modo a proporcionar a plena adesão da área
do compósito ao betão. As superfícies com concavidades devem ser,
igualmente, evitadas ou corrigidas, visto serem zonas propícias ao
destacamento prematuro do CFRP.

Figura 2.13 - Aplicação de mantas flexíveis.


Considerações gerais e tipos de reforço 55

Colagem de laminados pré-fabricados


As tarefas a realizar na aplicação de laminados pré-fabricos prendem-se
com a limpeza do laminado com um produto desengordurante e preparação do
adesivo. Aplicação deste ao laminado e ao elemento a reforçar e,
seguidamente, junção do laminado com a superfície de betão, com a
compressão do conjunto para obter e uniformizar a espessura de colagem
(≈ 2 mm) com a exclusão das partes do adesivo em excesso.

Colagem de mantas flexíveis


A aplicação de mantas flexíveis passa pela aplicação, a pincel, da primeira
camada de adesivo/resina de saturação, espalhamento do adesivo (ou resina)
com um rolo e adição da primeira camada de manta de FRP com a
compressão desta, de modo a impregnar as fibras e eliminar vazios.
Em seguida, aplica-se, a pincel, a segunda camada de adesivo/resina de
saturação e posterior espalhamento do adesivo (ou resina) com um rolo, o qual
antecede a adição da segunda camada da manta de FRP e compressão da
mesma.
No caso de múltiplas camadas, o processo repete-se.
Somente após a conclusão do ciclo de cura do sistema compósito, que nas
condições de temperatura (23 ºC) e humidade ambientes se traduz numa
semana (período recomendado pela literatura), pode admitir-se que um produto
deste género satisfaz as condições de uma armadura adicional do tipo FRP.

Avaliação da aderência ao betão


Segundo a literatura específica nesta área, depois de tratada a superfície do
betão, devem realizar-se ensaios de "bond-test", isto é, ensaios de
caracterização das tensões de tracção e de corte superficiais do betão, para se
estimar o valor máximo da designada tensão de aderência da ligação entre os
materiais (junta betão-adesivo-compósito). A superfície do betão deve
apresentar a maior resistência possível à tracção e ao corte, de modo a permitir
a máxima transferência de forças entre si e o compósito. Nestes termos, a
tensão de aderência ao betão no ensaio de arrancamento por tracção ou "pull-
off' é aceitável para valores médios de tensão de tracção iguais ou superiores a
56 Capítulo 2

1,4 MPa, segundo o ACI 440F (1999), e a 1,5 MPa, propostos pelo CEB (CEB-
GTG 21, 1990), por Meier (1997-b) e pelas homologações Nr. Z-36.12-29 (1997)
e Nr. Z-36.12-54 (1998) do DIBt. Caso contrário, não é conveniente efectuar o
reforço exterior com colagem.
Os ensaios directos de aderência sobre a superfície do betão podem ser
executados de duas formas, mediante os objectivos que se pretenda obter,
mas sempre com o princípio comum de que se avaliam características
superficiais. No caso de arrancamento por tracção de uma pastilha metálica
previamente colada no betão (teste de "pull-off' subscrito na pré-norma prEN
1542, 1998), mede-se a resistência a tracção perpendicular à ligação. Se a
mesma pastilha for extraída por um movimento de torção ("torque-test"),
quantifica-se a resistência ao corte.
Do conjunto reduzido de ensaios definidos por vários investigadores sobre
este assunto, o ensaio de arrancamento por tracção é, actualmente, utilizado
in situ para análise da aderência na ligação entre materiais e superfícies de
betão. O ensaio consiste na medição da força de tracção necessária para o
arrancamento de pastilhas metálicas (secção circular ou quadrada)
previamente coladas à superfície do betão com uma cola tipo epoxídica (ver
Figura 2.14). O valor da tensão de tracção (neste contexto admite-se igual a
tensão de aderência) obtém-se dividindo o esforço de tracção na rotura pela
secção da pastilha. Para circunscrever a tensão de aderência à área real da
colagem, pode efectuar-se uma pré-carotagem no perímetro da pastilha
(secção circular), de modo a penetrar cerca de 1,5 cm no elemento de betão.
Os modos de ruína podem ocorrer por corte integral ao longo de uma
superfície de betão, por rotura do adesivo, por destacamento na interface de
ligação dos materiais ou, por último, pela conjugação dos três casos. Se a
ruína se manifestar no betão ou no adesivo, determina-se a resistência à
tracção dos mesmos e este valor é um limite mínimo para a resistência da
ligação. Se a ruína ocorrer, uma parte na interface de ligação e a outra no
betão ou no adesivo, significa que a resistência a tracção dos dois é
semelhante e o valor determinado é considerado como um valor médio da
aderência (Juvandes, 1999).
Considerações gerais e tipos de reforço 57

Figura 2.14 – Ensaio de arrancamento por tracção (“pull-off”) (Barros, 2006).


58 Capítulo 2
59

CAPÍTULO 3
REPARAÇÃO E REFORÇO DE NÓS DE PÓRTICOS DE
BETÃO ARMADO

3.1 INTRODUÇÃO

Regra geral, encontra-se pouco clara a noção de que os nós viga-pilar de


estruturas porticadas de betão armado necessitem de armadura específica. Isto
deve-se ao facto de os nós serem, até certo ponto, automaticamente
guarnecidos de armadura através de uma pormenorização conservadora das
estruturas porticadas correntes de betão armado.
Este antigo reforço passivo foi posto em causa quando se tornou parte da
prática de dimensionamento das últimas décadas, a consideração da
alternância da direcção das cargas, as quais induzem acções inelásticas.
Hoje em dia, a filosofia de dimensionamento requer que os nós viga-pilar
possuam capacidade suficiente para suster a máxima resistência à flexão de
todos os elementos a ele ligados. Quando estas imposições inelásticas
tornaram-se regra, descobriu-se que a pormenorização habitual nem sempre
era suficiente.
Desta forma, foi levada a cabo diversa investigação analítica e experimental
e, estranhamente (fazendo o paralelo com as estruturas metálicas), os
princípios a aplicar no dimensionamento dos nós viga-pilar de estruturas
porticadas de betão armado ainda não são de consenso geral (CEB, 1996).

3.2 PRINCÍPIOS MECÂNICOS

Os princípios fundamentais relacionados com os nós viga-pilar, podem ser


mais facilmente assimilados através de considerações simples de estática.
Considerando, em primeiro lugar, uma análise estática de uma estrutura
porticada sujeita a um carregamento lateral (ver Figura 3.1), a existência de
esforços de corte na zona do nó é evidente, devido ao gradiente de momentos
que se gera ao longo dos eixos das vigas e dos pilares que ali confluem. A
grandeza deste esforço de corte é relativamente grande, o que se compreende,
60 Capítulo 3

uma vez que o gradiente de momentos é muito mais acentuado ao longo do nó


do que no vão dos elementos adjacentes.

(a)

M V
V,pilar

M
V,viga
V,nh

V,nv

(b)

Figura 3.1 – Estrutura porticada carregada lateralmente. a) Momentos devido às cargas


horizontais; b) Gradientes de momentos flectores e esforços transversos ao longo de um
nó interior.

Considerando uma abordagem estática da região de um nó interior isolado


(Figura 3.2), é evidente como as forças são transmitidas ao nó através dos
elementos que a ele conectam.
Nas estruturas porticadas carregadas lateralmente, irá formar-se
compressão de flexão no betão em cantos opostos do nó, sugerindo a
formação de uma biela de compressão diagonal. Esta compressão de flexão é
originária dos esforços transmitidos pelas vigas e pilares.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 61

Figura 3.2 – Acções actuantes em um nó interior (adaptado de CEB, 1996).

A armadura das vigas e dos pilares que atravessam os nós de uma estrutura
porticada carregada lateralmente estará sujeita à tracção numa fronteira, e à
compressão na outra, querendo dizer que existe um potencial de transferência
de uma quantidade significativa das forças para o nó, através da união por
aderência ao longo do seu perímetro. É importante assimilar que podem
ocorrer ambos estes mecanismos de aplicação de forças, o que seria
reconhecido como corte no nó. Qualquer incapacidade de resistir a estas forças
poderá ser reconhecida como rotura ao corte no nó. Por conseguinte, roturas
do nó, sejam elas devidas ao esforço de corte ou não, podem ocorrer devido a
qualquer uma das três possibilidades (ou todas elas em conjunto):

ƒ perda de resistência da ligação por aderência ao longo da fronteira do nó;


ƒ incapacidade de resistir às tensões internas do nó resultantes da
mobilização, com sucesso, das forças de aderência ao longo do seu
perímetro;
ƒ incapacidade do núcleo do nó de resistir à compressão diagonal.

O debate acerca dos mecanismos de resistência dos nós já se arrasta


durante várias décadas. Este tem sido direccionado para qual dos mecanismos
resistentes prevalecerá num dado instante crítico, para nós de estruturas
sujeitas a acções inelásticas cíclicas. A incapacidade de se alcançar um
62 Capítulo 3

consenso resultou em perspectivas de dimensionamento conflituosas em


muitos países, bem como uma confusão geral acerca da influência das
variáveis de dimensionamento na performance global do nó (CEB, 1996).

3.3 PARÂMETROS DE DIMENSIONAMENTO

As considerações relativamente simples dos parágrafos anteriores, fornecem


uma base suficiente para a introdução de quase todos os parâmetros
importantes do dimensionamento de nós de pórticos, bem como para efectuar
comentários qualitativos acerca da sua função (CEB, 1996).

3.3.1 VOLUME DO NÓ

Tal como acontece com qualquer elemento estrutural, o impacto óbvio do


aumento das dimensões do nó seriam de baixar as tensões para uma dada
força aplicada. Normalmente, as dimensões do nó não são tratadas como uma
variável activa no seu dimensionamento, uma vez que elas são estabelecidas
anteriormente através das proporções das vigas e dos pilares, levadas a cabo
na consideração da performance geral da estrutura porticada. Em termos
práticos, quando são consideradas alterações para o dimensionamento do nó,
as dimensões de maior interesse são a largura e a altura da secção do pilar.
Isto deve-se ao facto de os esforços aplicados no nó serem determinados pela
capacidade à flexão da viga, a qual, numa situação de projecto de pilar
forte / viga fraca, deve ser mantida baixa o suficiente de modo a prevenir a
formação de rótulas por flexão nos pilares.
O aumento da largura do pilar oferece o benefício conjunto de reduzir as
tensões de corte no nó e de baixar as necessidades de ligação por aderência
ao longo dos varões da viga que passam pelo nó, tendendo a suprimir todos os
três modos de rotura descritos anteriormente (CEB, 1996).
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 63

3.3.2 RESISTÊNCIA DA LIGAÇÃO POR ADERÊNCIA

Quando a resistência da ligação por aderência não é a adequada para


suportar o solicitado pelos elementos do pórtico ligados ao nó, a rotura do
núcleo deste torna-se menos provável de acontecer. Será o mesmo que dizer
que a resistência global de um nó numa estrutura porticada é tal que os
mecanismos de corte do nó estão associados à resistência da ligação por
aderência. Se esta ligação é o elo mais fraco, a capacidade resistente total do
nó não será atingida, embora seja detectada a perda de rigidez da conexão.
Embora qualquer fonte de perda de rigidez da conexão não seja desejável no
dimensionamento de estruturas porticadas, a rotura da ligação por aderência
deverá ser considerada como prematura para a conexão em si, uma vez que
impede o desenvolvimento da capacidade total do nó (CEB, 1996).

3.3.3 ESFORÇO AXIAL DO PILAR

Uma vez que influencia a profundidade da zona de compressão por flexão


no pilar, é razoável esperar que o esforço axial do pilar irá influenciar o
funcionamento do nó. À medida que o esforço de compressão no pilar aumenta,
obrigando a zona de compressão a estender-se ainda mais ao longo das
fronteiras do nó, será esperado que se forme uma biela de compressão
diagonal mais pronunciada. Mas à medida que as tensões verticais aumentam,
esta biela de compressão torna-se cada vez menos diagonal, sugerindo que a
sua contribuição para a resistência ao corte se torna cada vez menos
significativa (CEB, 1996).

3.3.4 ARMADURAS NO NÓ

Assumindo que a rotura da ligação por aderência não suscita a transmissão


de forças significativas para o núcleo do nó, prevê-se que as armaduras
participem nos mecanismos de resistência ao corte. Para a porção do esforço
de corte que se desenvolve como resultado das forças de aderência
distribuídas em torno da periferia do nó, tanto as armaduras horizontais como
64 Capítulo 3

verticais existentes no núcleo, irão contribuir para a resistência a este tipo de


esforço, tal como o funcionamento dos estribos num elemento de flexão.
A porção da resistência ao corte do nó que resulta da formação da biela de
compressão diagonal está dependente do confinamento do núcleo. É este
confinamento que suportará a resistência à compressão. Neste caso, somente
será eficaz a aplicação no nó de reforços fechados (ou cintas), uma vez que
todos os outros tipos de soluções dependem da ligação por aderência para
funcionar como reforço de confinamento.
Muitas das vezes, somente o reforço horizontal ao corte no nó é
pormenorizado com recurso a cintas fechadas (CEB, 1996).

3.3.5 RAZÃO DE RESISTÊNCIA À FLEXÃO VIGA-PILAR

Enquanto esta é, certamente, uma importante variável na consideração da


performance global da estrutura porticada, tem pouco a ver com o
dimensionamento dos nós. Excepto na determinação se é a capacidade da
viga ou do pilar que irá estabelecer a força a utilizar no dimensionamento do nó.
Adicionalmente a estas variáveis, que seguem considerações básicas
aplicadas mesmo a modelos simples de nós viga-pilar, existem muitos mais
parâmetros que se sabe serem influentes. Na maioria, estas variáveis
adicionais são o que distinguem nós de estruturas espaciais porticadas
estaticamente indeterminadas, da forma tradicional de provetes utilizados em
laboratório (CEB, 1996).

3.3.6 INFLUÊNCIA DAS LAJES

As lajes de piso que existem quase sempre nas intersecções viga-pilar,


exercem influência importante no comportamento do nó de duas maneiras
distintas. As armaduras da laje podem contribuir para uma solicitação ao corte
no nó mais elevada, ao aumentarem a capacidade à flexão da viga. Por outro
lado, a laje irá controlar o crescimento horizontal do nó, sobretudo quando o
envolve completamente.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 65

É conhecido que a dimensão da influência das armaduras da laje na


capacidade de resistência à flexão das vigas depende da configuração do nó
(interior, exterior, extremidade ou canto), da rigidez das vigas transversais e da
magnitude dos deslocamentos relativos entre pisos. Normalmente, o primeiro
efeito da laje é quantificável através de uma largura efectiva na zona onde se
assume que a armadura da laje participa totalmente como reforço no topo da
viga. Resultados experimentais demonstram que a largura de participação
efectiva e a aderência superior (o espaçamento entre pórticos paralelos
adjacentes) não se formam sempre, o qual é prova do impedimento ao
crescimento horizontal que permite à laje confinar um nó (CEB, 1996).

3.3.7 VIGAS TRANSVERSAIS

Qualquer modo de rotura ao corte irá necessitar de um aumento de volume


do núcleo do nó. Uma vez que as vigas transversais podem restringir este
aumento de volume, pode-se esperar que estas melhorem a resistência ao
corte do nó.
O impedimento do aumento de volume do núcleo do nó pode acontecer se
as vigas transversais estiverem axialmente restringidas e, até certo ponto,
devido à aderência ao longo das armaduras que passam através do nó.
De notar uma vez mais que a largura total da laje nem sempre participa na
resposta à flexão da viga. É plausível esperar que o aumento da viga devido à
resposta inelástica à flexão será restringido, até certo ponto, pela totalidade da
estrutura porticada (CEB, 1996).

3.4 DISPOSIÇÕES REGULAMENTARES

O regulamento que terá, em breve, aplicação nacional e que prevê o


dimensionamento e colocação de armaduras de reforço em nós de pórticos de
betão armado, é o Eurocódigo 8 (EN1998-1).
Desta forma, nos próximos parágrafos transcrevem-se os aspectos
fundamentais do dimensionamento de nós de pórtico de acordo com o EC8.
66 Capítulo 3

3.4.1 DISSIPAÇÃO DE ENERGIA E CLASSES DE DUCTILIDADE

O dimensionamento de edifícios em betão armado resistentes à acção


sísmica, deverá proporcionar à estrutura uma capacidade para dissipar energia
sem uma redução substancial da sua resistência global às acções verticais e
horizontais. Na situação de dimensionamento sísmico, será definida uma
resistência adequada de todos os elementos, e as necessidades de
deformações não–lineares das regiões críticas devem ser comensuradas
através da ductilidade global assumida nos cálculos.
Em alternativa, os edifícios em betão armado podem ser dimensionados
para uma baixa ductilidade e baixa capacidade de dissipação de energia,
através da aplicação das regras da EN1992-1-1:2004, para a situação de
dimensionamento sísmico, e descurando as estipulações da EN1998-1. Esta
forma de dimensionamento só é recomendada nos casos de baixa sismicidade,
e a classe de ductilidade classifica-se de baixa ou classe L (low).
Todos os outros edifícios de betão armado, resistentes à acção sísmica,
devem ser dimensionados de forma a apresentarem capacidade de dissipação
de energia e um comportamento global dúctil. Este comportamento dúctil está
assegurado se, na generalidade, estiver envolvido um grande número de
elementos da estrutura, espalhados pelos vários pisos. Desta forma, os modos
de rotura dúctil (de flexão, por exemplo) devem anteceder os modos de rotura
frágil (corte, por exemplo) com suficiente certeza.
Assim, os edifícios de betão armado dimensionados desta forma, são
divididos em duas classes de ductilidade: DCM (ductilidade média) e DCH
(ductilidade elevada), dependendo da sua capacidade de dissipação de energia.
Ambas as classes correspondem a edifícios dimensionados e pormenorizados
de acordo com prescrições específicas de resistência aos sismos, dotando a
estrutura da capacidade de desenvolver mecanismos estáveis, associados a
grande dissipação de energia sob a acção de repetidas cargas de sentidos
reversíveis, sem sofrer roturas frágeis (CEN, 2004).
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 67

3.4.2 DIMENSIONAMENTO DE NÓS DE PÓRTICOS PARA


ESTRUTURAS DA CLASSE DCM (DUCTILIDADE MÉDIA)

Segundo o Eurocódigo 8 (cláusula 5.4.3.3), a armadura horizontal de


confinamento em nós de ligação entre vigas e pilares cuja contribuição para a
resistência à acção sísmica é preponderante, não deve ser inferior ao
especificado na cláusula 5.4.3.2.2(8)-(11) para as regiões críticas do pilar, com
a excepção do caso seguinte:

Se o nó possuir vigas em todos os seus quatro lados cujas larguras (bw)


são, no mínimo, três quartos da dimensão da secção paralela do pilar (bc),
o espaçamento da armadura de confinamento horizontal pode ser
aumentado para o dobro do especificado anteriormente, sem exceder
150 mm (ver Figura 3.3).

bw

bc
Figura 3.3 - Nó interior.

Deve ser colocado, pelo menos, um varão vertical (entre os varões de canto
do pilar) em cada lado do nó que liga vigas e pilares sísmicos primários.
A cláusula 5.4.3.2.2 do Eurocódigo 8 especifica a pormenorização de pilares
principais com contribuição para a resistência ao sismo, no que respeita a
ductilidade local.
68 Capítulo 3

As disposições são as seguintes:

(1)P – A razão total de armadura longitudinal (ρ1) não deve ser inferior a
0,01 e superior a 0,04. Em secções simétricas, deve ser disposta
armadura simetricamente (ρ = ρ’).

(2)P – Deve ser colocado pelo menos um varão intermédio entre varões
de canto, ao longo de cada face do pilar, de forma a assegurar a
integridade do nó de ligação viga – pilar (ver Figura 3.4).

Figura 3.4 - Secção transversal de pilares.

(3)P – As regiões até uma distância de lcr a partir das secções de topo de
pilares principais com contribuição para a resistência ao sismo, devem ser
consideradas como regiões criticas, tal como apresentado na Figura 3.5.

lcr

lcr

Figura 3.5 - Regiões críticas em pilares principais.


Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 69

(4) – Na ausência de informação mais precisa, o comprimento da região


crítica lcr (em metros), pode ser calculada através da expressão seguinte
Equação (3.1):

; ; 0,45 (3.1)
6

Onde,
hc – é a maior dimensão da secção transversal do pilar (em metros);
lcl – é o comprimento livre do pilar (em metros)

(5)P – Se lcl / hc < 3, então toda a altura do pilar sísmico primário deve ser
considerada como região critica e reforçada convenientemente.

(6)P – Na região critica da base de pilares principais, deve ser atribuído


um valor do factor de curvatura de ductilidade (μΦ) pelo menos igual ao
especificado na cláusula 5.2.3.4(3).

(7)P – Se, para o valor especificado de μΦ, é necessária uma tensão no


betão maior do que εcu2 = 0,0035 para qualquer ponto da secção, deve ser
efectuada uma compensação resultante da perda de resistência devido
ao descasque do betão, através de um confinamento adequado do núcleo,
tendo como base as propriedades de betão confinado da
EN1992-1-1:2004, 3.1.9.

As disposições seguintes são as referidas na cláusula 5.4.3.3(1), no que


respeita aos nós de pórticos (cláusula 5.4.3.2.2):

(8) – O especificado em (6)P e (7)P pode ser considerado satisfeito se


(Equação 3.2):

· 30 · · · , · 0,035 (3.2)
70 Capítulo 3

Onde,
ωwd – razão volumétrica mecânica de confinamento das cintas, no interior
volume das cintas de confinamento
das regiões criticas: · ;
volume do núcleo de betão

μΦ – valor do factor de curvatura de ductilidade;


vd – esforço axial de cálculo, normalizado (vd = NEd / Ac x fcd);
εsy,d – valor de cálculo da tensão de tracção do aço, na cedência;
hc – profundidade total da secção (paralela à direcção horizontal, na qual
se aplica o valor de μΦ usado em (6)P);
ho – profundidade do núcleo confinado (até ao eixo das cintas);
bc – total da largura da secção;
bo – largura do núcleo confinado (até ao eixo das cintas);
α – factor de confinamento efectivo, igual a α = αn x αs, com:

a) Para secções rectangulares:

1 (3.3)
6· ·

1 · 1 (3.4)
2· 2·

Onde,
n – número total de varões longitudinais amarrados lateralmente por
cintas ou estribos;
bi – distância entre varões amarrados consecutivos (ver Figura 3.6,
também para bo, ho, s).

b) Para secções circulares com cintas circulares e diâmetro do núcleo


confinado igual a Do (até ao eixo das cintas):
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 71

1 (3.5)

1
(3.6)

c) Para secções circulares com cintas em espiral:

1 (3.7)

1
(3.8)

bi

bo bc

S
ho
hc

bc

Figura 3.6 – Confinamento do núcleo de betão.

(9) – Deve ser considerado um valor mínimo de ωwd igual a 0.08, dentro
da região crítica (lcr) na base de pilares principais com contribuição para a
resistência à acção sísmica;

(10)P – Dentro das regiões criticas de pilares principais com contribuição


para a resistência à acção sísmica, devem ser colocadas cintas de, pelo
72 Capítulo 3

menos, 6 mm de diâmetro com um espaçamento tal que a ductilidade


mínima esteja assegurada e que a encurvadura local dos varões
longitudinais seja prevenida. A disposição das cintas deve ser tal que a
secção beneficie das condições de tensões triaxais produzidas por estas.

(11) – As condições mínimas do ponto (10)P podem ser consideradas


satisfeitas se as seguintes condições forem cumpridas:

a) O espaçamento, s, das cintas (em milímetros) não excede:

; 175; 8 · (3.9)
2

Onde,
bo – a menor dimensão do núcleo de betão (em milímetros), até ao eixo
das cintas;
dbL – o menor diâmetro dos varões longitudinais (em milímetros).

b) A distância entre varões longitudinais consecutivos amarrados por


cintas não excede 200 mm, tendo em conta 9.5.3(6) da EN1992-1-
1:2004.

(12)P – A armadura transversal dentro da região critica na base dos


pilares principais com contribuição para a resistência à acção sísmica,
pode ser determinada tal como especificado na EN1992-1-1:2004, de
forma que o valor da carga axial normalizada na situação de
dimensionamento sísmico seja inferior a 0.2, e que o valor do factor de
comportamento, q, usado no dimensionamento não exceda 2.0.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 73

3.4.3 DIMENSIONAMENTO DE NÓS DE PÓRTICOS PARA


ESTRUTURAS DA CLASSE DCH (DUCTILIDADE ELEVADA)

Para estruturas da classe DCH (ductilidade elevada), o Eurocódigo 8


estabelece, para os nós de pórticos, os seguintes requisitos (cláusula 5.5.3.3).

(1)P – A compressão diagonal induzida no nó pelo mecanismo de bielas


diagonais, não pode exceder a resistência do betão à compressão, na
presença de tensões de tracção transversais.

(2) – Na ausência de um modelo mais preciso, o requisito de (1)P pode


ser satisfeito através das seguintes regras:

a) Para nós interiores viga – pilar, a seguinte expressão deve ser


satisfeita [Equação (3.10)]:

· · 1 · · (3.10)

Onde,

0,6 · 1
250
hjc – distância entre as camadas extremas de varões do pilar;
bj – tal como definido abaixo;
vd – esforço axial normalizado no pilar, acima do nó;
fck – em MPa.

Vjhd é dado por (para nós viga – pilar interiores):

· · (3.11)

Onde,
AS1 – área da armadura superior da viga;
74 Capítulo 3

AS2 – área da armadura inferior da viga;


VC – esforço de corte no pilar, acima do nó, obtido através da análise
sísmica de dimensionamento;
γRd – factor que tem em conta um aumento dos esforços devido ao
endurecimento do aço em tensão e não deve ser inferior a 1.2.

b) Nós exteriores viga – pilar:

Vjhd deve ser inferior a 80% do valor do termo à direita da Equação (3.10),
em que:

Vjhd é dado pela seguinte expressão:

· · (3.12)

Onde:
AS1 – área da armadura superior da viga;
VC – esforço de corte no pilar, acima do nó, obtido através da análise
sísmica de dimensionamento;
γRd – factor que tem em conta um aumento dos esforços devido ao
endurecimento do aço em tensão e não deve ser inferior a 1.2.

E a largura efectiva do nó, bj, é dada por:

Se : ;  0,5 ·
Se : ;  0,5 ·

E bc – largura do pilar; bw – largura da viga.

(3) Deverá ser materializado um confinamento adequado do nó (tanto


horizontal como vertical), de forma a limitar as tensões máximas de
tracção diagonais (σct) a fctd. Na ausência de um modelo mais preciso,
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 75

este requisito pode ser cumprido através da colocação de cintas


horizontais com um diâmetro não inferior a 6 mm no interior do nó, de
forma que:

· · (3.13)
· ·

Onde:
Ash – Área total das cintas horizontais;
Vjhd – definido acima no ponto (2), alíneas a) e b);
hjw – distância entre a armadura inferior e superior da viga;
hjc – distância entre as camadas extremas de varões do pilar;
bj - definido em (2);
vd – esforço axial de cálculo normalizado do pilar acima (vd = NEd / Ac x fcd);
fctd – valor de cálculo da resistência à tracção do betão, de acordo com a
EN1992-1-1:2004.

(4) Como alternativa à regra especificada em (3), a integridade do nó


após fissuração diagonal pode ser mantida através de cintas de reforço
horizontais. Para este fim, a seguinte área total de cintas horizontais
deverá ser colocada no nó.

a) Em nós interiores:

· · · · 1 0,8 · (3.14)

b) Em nós exteriores:

· · · · 1 0,8 · (3.15)
76 Capítulo 3

Onde γRd é igual a 1.20 (cf 5.5.2.3(2)) e o esforço axial normalizado vd


refere-se ao pilar acima do nó no caso da expressão da alínea a), ou ao
pilar abaixo do nó para a expressão da alínea b).

(5) As cintas horizontais calculadas em (3) e (4) devem ser distribuídas


uniformemente ao longo da profundidade hjw entre os varões inferiores e
superiores da viga. Em nós exteriores, devem abranger as dobras em
direcção ao nó dos varões das vigas.

(6) Deverá ser colocada armadura de reforço vertical adequada no pilar


que passa pelo nó, de forma que:

2
, · · (3.16)
3

Onde Ash é a área total de cintas horizontais de acordo com (3) e (4), e
ASv,i denota a área total de varões intermédios colocados nas faces
relevantes do pilar, entre os varões de canto (incluindo varões que
contribuem para a armadura longitudinal dos pilares).

(7) Aplica-se a cláusula 5.4.3.3(1), conforme definido em 2 para as


estruturas DCM.

(8) Aplica-se a cláusula 5.4.3.3(2), idem.

(9)P Aplica-se a cláusula 5.4.3.3(3)P, idem.


(CEN, 2004)
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 77

3.5 TÉCNICAS DE REPARAÇÃO E REFORÇO DE NÓS DE PÓRTICOS


EM BETÃO ARMADO

A pesquisa mais relevante efectuada no campo da reparação e reforço de


nós de pórticos conduziu às seguintes estratégias de reparação: reparação
com epoxy, remoção e reposição, encamisamento de betão armado ou pré-
esforçado, encamisamento com elementos metálicos e/ou a adição de
elementos externos de aço e aplicação de materiais compósitos reforçados
com fibras. Cada técnica requer um nível diferente de pormenorização bem
como a consideração do trabalho necessário, custo, interferência com a
ocupação do edifício e campo de aplicação.
O objectivo principal desta secção é o de estabelecer uma hierarquia em
termos de resistência, entre os pilares, vigas e nós, de forma que a resistência
sísmica e necessidades de ductilidade possam ser acomodadas através dos
mecanismos de formação de rótulas dúcteis nas vigas, em vez da formação de
rótulas nos pilares ou modos de ruptura ao corte nos nós.
Em estruturas dimensionadas para acções verticais, onde as vigas são,
muitas vezes, mais robustas que os pilares, o reforço do pilar não é,
geralmente, suficiente por si só. Desta forma, o nó torna-se no próximo elo
fraco devido à falta de reforço ao corte, à descontinuidade da armadura inferior
da viga ou outra pormenorização construtiva não dúctil. Assim, a capacidade
resistente ao corte e o confinamento efectivo do nó deve ser melhorado.
Atingir tal melhoria é um desafio em estruturas reais tridimensionais, devido
à presença de vigas transversais e da laje de piso, o que limitam a
acessibilidade ao nó, e devido às dificuldades em se atingir os valores de
resistência dos elementos externos de reforço (como é o caso de placas de aço,
mantas ou varões de materiais compósitos reforçados com fibras) no interior da
pequena área que delimita o nó.
Presentemente, as técnicas testadas ou não têm em conta a geometria
tridimensional de um nó de pórtico real e são aplicáveis apenas a casos
especiais, ou resultam em configurações arquitectónicas não desejáveis,
devido ao aumento de tamanho dos elementos.
Pode-se observar na Figura 3.7, as disposições construtivas correntes das
armaduras de estruturas de betão armado, onde não se previu qualquer reforço
78 Capítulo 3

do nó. Estas disposições resultam, na generalidade dos casos, num valor


máximo de 2% para a armadura longitudinal dos pilares; as sobreposições
destas armaduras são efectuadas acima da laje de piso; as cintas dos pilares
apresentam espaçamentos elevados o que resultam num baixo confinamento
do núcleo de betão; pouco ou nenhum reforço ao corte nos nós; armadura
inferior das vigas descontínua, com comprimento de amarração insuficiente;
juntas construtivas/de betonagem abaixo e acima do nó e capacidade
resistente à flexão dos pilares abaixo da capacidade resistente das vigas
(Engindeniz, Kahn, & Zureick, 2005).

Figura 3.7 – Disposições típicas de armaduras dos nós de estruturas correntes de betão
armado.

3.5.1 REMOÇÃO E REPOSIÇÃO

A remoção parcial ou total e a subsequente reposição do betão é usada para


nós que apresentam níveis elevados de deterioração com betão esmagado,
varões longitudinais que sofreram encurvadura, ou cintas que atingiram a
ruptura.
Antes de se proceder à remoção do material danificado, a estrutura deve ser
temporariamente escorada de forma a garantir a sua estabilidade.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 79

Dependendo da quantidade de betão removido, poderá ser necessário


adicionar mais algumas cintas ou varões longitudinais de reforço.
Em geral, é usado como substituto um betão de elevada resistência com
baixa ou nula retracção. Deve, ainda, ter-se um especial cuidado de forma a se
conseguir uma boa aderência entre o betão novo e o betão existente.
A pesquisa efectuada sobre esta técnica de reparação, realizada em pórticos
de uma direcção (nós de pórticos com vigas numa só direcção) demonstra que
esta técnica não altera o modo de ruptura dos protótipos ensaiados que
possuíam uma ou nenhuma cinta. Os protótipos com duas cintas apresentaram,
contudo, um aumento considerável da sua capacidade depois da reparação,
desenvolvendo rótulas nas vigas sem provocar danos no nó (Karayannis,
Chalioris, & Sideris, 1998) e (Tsonos, 2001).
Claramente, um nó viga - pilar que apresenta betão esmagado e varões que
atingiram a ruptura, não pode ser reforçado por nenhum outro método sem se
proceder à remoção e reposição do betão danificado. Estes resultados
mostram que a técnica pode ser usada, por si só, para reforço quando aplicado
betão de substituição de alta resistência e baixa retracção.
Isto, contudo, baseia-se no pressuposto que o nó danificado está acessível,
o que raramente acontece em edifícios correntes.
Resta referir que, se somente o troço final da viga for reparado com esta
técnica, a alta resistência dos materiais de reparação pode provocar uma
migração dos danos da viga para o nó e pilar, por reparar (Engindeniz, Kahn, &
Zureick, 2005).

3.5.2 ENCAMISAMENTO DE BETÃO

Uma das mais antigas e comuns soluções para a reabilitação de pórticos de


betão é envolver o pilar existente (juntamente com a região do nó) em novo
betão com armaduras longitudinais e transversais suplementares. A
continuidade dos varões longitudinais adicionados ao longo do nó, requer a
demolição da laje nos cantos do pilar (ver Figura 3.8). A adição de armaduras
de reforço ao corte do nó tornam o processo ainda mais trabalhoso uma vez
80 Capítulo 3

que as vigas são também perfuradas e a dobragem de estribos in-situ torna-se


necessária.

Grupos de varões
#1 #2

Amarração de
canto
Estrutura existente Perfurações na laje

Cantoneiras de aço
64x64x10 mm

Figura 3.8 – Encamisamento de nós com betão (planta).

Pilar existente
Laje
Perfurações na laje

Estrutura em aço
(cantoneiras e barras de aço)

Figura 3.9 – Encamisamento de nós com betão (perspectiva).

Estudos realizados sobre esta técnica levados a cabo em nós de pórticos


interiores e exteriores, envolveram o encamisamento do pilar, a região do nó e,
por vezes, parte da viga. A rigidez e capacidade de dissipar energia
aumentaram nos protótipos de nós interiores, com excepção para nós
exteriores que apresentaram menor capacidade de dissipação energética
depois do reforço. Contudo, os resultados demonstraram que, se só for
encamisado o pilar, isto não é o suficiente para restaurar a performance sem
que se levante o problema de transferência de cargas entre as vigas e o pilar
(Corazao & Durrani, 1989).
Outro estudo efectuado em nós sujeitos a cargas bidireccionais, eliminou a
necessidade de perfurar as vigas para fazer passar a armadura de
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 81

confinamento, através da colocação de uma grade metálica estrutural em torno


do nó (ver Figura 3.9). Esta estrutura metálica é constituída por uma série de
cantoneiras com a finalidade de resistirem à expansão lateral do nó e uma
série de placas metálicas a unirem as cantoneiras entre si.
As condições em estudo passavam por encamisar somente o pilar ou
também as vigas. A secção critica localizou-se dentro do encamisamento para
o caso de ser somente o pilar encamisado, enquanto que a zona de rotura
migrou para fora da grade, no caso das vigas serem também encamisadas
(Alcocer & Jirsa, 1993).
Foi também estudado o caso de encamisamento com betão na situação em
que um ou mais lados de um determinado nó de ligação entre pilares e vigas,
se encontra inacessível devido a estruturas adjacentes.
Assim, foram reparados protótipos de nós de extremidade com estribos no
nó insuficientes ou em falta, através de encamisamento de betão de elevada
resistência (~60 MPa) em três faces, e um outro sem estribos de reforço no nó
foi reforçado com encamisamento em duas faces. Foram colocados estribos
adicionais de confinamento do nó através da perfuração da viga, e foram
colocadas pequenas barras transversais dentro dos ganchos dos varões da
viga na região do nó, para melhorar a ancoragem destas barras.
Nos casos dos reforços em duas e três faces, o modo de rotura depois do
reforço, (o qual envolvia perda significativa de betão bem como danos nas
extremidades dos pilares), foi melhorado através da formação de uma rótula na
viga e instabilidade por encurvadura da armadura respectiva. A zona que não
foi encamisada não apresentou quaisquer danos (Tsonos, 2001) e (Tsonos,
2002).
Uma das desvantagens mais aparente das técnicas de reforço por
encamisamento de betão está relacionada com os trabalhos difíceis de
executar, tais como a perfuração da laje, vigas e, por vezes, a dobragem in-situ
das armaduras de reforço do nó. A necessidade de perfurar a viga pode ser
eliminada através da colocação de uma grade metálica em torno do nó
(consultar Figura 3.9), mas resulta numa má aparência.
O encamisamento com betão resulta num aumento da dimensão dos
elementos o que reduz o espaço disponível do piso e aumenta a massa. Os
82 Capítulo 3

trabalhos necessários para levar a cabo este tipo de reforço entram em conflito
com a ocupação do edifício, o que poderá muito bem aumentar os custos da
reabilitação.
Por fim, estas técnicas de reforço alteram as características dinâmicas do
edifício (por exemplo, em estudos foram detectados acréscimos de 120% no
período do 1º modo e um acréscimo de 73% no corte basal). A alteração das
características dinâmicas pode aumentar os esforços em sítios não desejáveis,
e pode requerer uma reanálise cuidadosa.
Contudo, as técnicas de reforço por encamisamento com betão conduziram
a um aumento da resistência dos nós, migrando a zona de rotura para a viga e
aumentaram, de uma forma geral, a resistência lateral e capacidade de
dissipação de energia (Engindeniz, Kahn, & Zureick, 2005).

3.5.3 ELEMENTOS EXTERIORES DE AÇO

No que respeita à utilização do aço no reforço de nós viga-pilar com


armaduras insuficientes ou inexistentes, têm sido utilizadas várias
configurações de elementos exteriores de aço para aumentar a capacidade de
carga e a ductilidade dos mesmos. Estes encamisamentos metálicos consistem
em chapas lisas ou corrugadas e tubos circulares ou rectangulares, pré-
fabricados em partes e soldados no local. O espaço entre a estrutura metálica
e os elementos de betão armado é injectado com argamassa de baixa
retracção e, muitas vezes, os elementos de aço são ancorados mecanicamente
ao betão para aumentar o confinamento. Também já foram utilizadas várias
metodologias para ligar as placas às faces dos elementos, que passam pela
utilização de adesivos e parafusos, e ligando estas placas entre si usando
secções laminadas (cantoneiras, por exemplo).
Um estudo realizado envolveu o reforço de nós exteriores e interiores
através da aplicação de placas de aço externas em cada face do pilar, fixadas
por parafusos e resinas epoxídicas e soldadas nos cantos com cantoneiras
(Corazao & Durrani, 1989). Foi ainda aumentada a região do nó, através da
adição de betão nos espaços entre vigas (ver Figura 3.10 e Figura 3.11).
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 83

Chapas de aço de 6 mm Parafusos 13x102 mm


coladas
Cantoneiras de aço
51x51x6 mm

3 3

Chapa de aço de 6 mm
(apenas em nós interiores) 2 2

1 1

Alçado

Figura 3.10 – Reforço com elementos exteriores de aço (alçado).

"Loops" de aço
Cantoneiras soldados à cantoneira

Chapas

Parafusos

Corte no betão
Secção 1 - 1 Secção 2 - 2 Cintas de reforço

Secção 3 - 3
Figura 3.11 – Reforço com elementos exteriores de aço (cortes).

As chapas ligadas a cada face do pilar inferior e superior foram


aparafusadas ao betão existente perto do nó, e ligadas entre elas por
cantoneiras contínuas soldadas que atravessaram a laje. No caso do nó interior,
foi também colada e aparafusada uma chapa à parte inferior do nó aumentado.
Observou-se que as fendas anteriores à intervenção migraram para os
limites da zona aumentada, após ter sido executado o reforço e não foram
detectados indícios de danos no pilar ou nos seus reforços externos.
Em outro estudo (Beres et al., 1992) foram consideradas duas disposições
diferentes de placas externas no reforço de um nó interior, o qual conectava
vigas possuindo armaduras inferiores descontínuas. Para prevenir o arranque
84 Capítulo 3

dos varões inferiores das vigas, o nó interior foi reforçado através do


aparafusamento de duas secções em U à parte inferior das vigas e interligadas
através de duas barras de aço na zona do pilar (ver Figura 3.12). Os danos
foram transferidos da zona reforçada para outras partes do nó. O objectivo do
reforço externo do nó é o de forçar a que se formem rótulas de flexão nas vigas
e aumentar o confinamento do nó.

16 mm diâmetro, com 127 mm


de comprimento e bucha química

Pilar existente

Alçado 1

Barras 25x13 mm
Cantoneiras
de aço

Camada de argamassa Alçado inferior


com 13 mm

Alçado 2

Figura 3.12 – Reforço com elementos exteriores de aço.

Outra tipologia de reforço propõe a utilização de chapas de aço corrugadas


como forma de aumentar a rigidez (Ghobarah, Aziz, & Biddah, 1997) e (Biddah,
Ghobarah, & Aziz, 1997). Este encamisamento de aço corrugado preenchido
com grout, tem como intenção providenciar um confinamento lateral inicial na
zona de comportamento elástico do pilar bem como servir de reforço adicional
ao corte para o pilar, viga e nó.
Pode ser observado nas figuras seguintes, a secção transversal das chapas
de aço corrugadas (Figura 3.13) bem como as peças utilizadas antes (Figura
3.14) e após a aplicação (Figura 3.15).
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 85

p a
L
d R
t

p=68 mm, d=13 mm, t=2.8mm, R=17.5 mm, L=18.8 mm, a=27º

Figura 3.13 – Características da chapa de aço corrugada.

Aço corrugado
(t=2.8 mm)
Orificios para parafusos
de ancoragem

Cantoneira em aço
76x76x10 mm

Viga
Pilar

Figura 3.14 – Encamisamento com chapas de aço corrugadas (antes da aplicação).

Grout de baixa retracção (25 mm)


Soldadura

Encamisamento em
chapa de aço corrugado

Folga de 20 mm
Cantoneira em aço

Grout de baixa retracção

Figura 3.15 – Encamisamento com chapas de aço corrugadas (após aplicação).


86 Capítulo 3

Os testes realizados em quatro nós exteriores unidireccionais demonstraram


que este sistema proposto pode alterar o modo de rotura ao corte para um
modo de rotura dúctil por flexão na viga, quando se procede ao encamisamento
do pilar e da viga.
Os autores acreditam que, comparando com encamisamento de betão, a
utilização de encamisamentos de aço pode reduzir significativamente o tempo
de execução devido à prefabricação. Contudo, existem desvantagens
significativas tais como a corrosão, dificuldade em manipular as pesadas
chapas de aço e a estética questionável no caso de chapas corrugadas.
Os encamisamentos metálicos podem resultar num aumento excessivo da
capacidade resistente, mesmo quando só se pretende o efeito de confinamento.
Este aumento excessivo pode conduzir a modos de rotura inesperados.
Mesmo que estas desvantagens sejam ignoradas, é difícil aplicar estas
soluções a nós tridimensionais existentes. A presença da laje de piso, por
exemplo, torna a aplicação difícil senão mesmo inviável, de soluções como a
apresentada na Figura 3.15. Embora tenham sido propostos encamisamentos
de chapa de aço corrugada constituídos por duas peças para nós interiores,
exteriores e de canto com laje de piso, não existem dados suficientes que
validem a sua performance (Engindeniz, Kahn, & Zureick, 2005).

3.5.4 POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRAS

Desde 1998 que os esforços de pesquisa na área de reforços de nós de


pórticos viga-pilar, se têm focado na utilização de polímeros reforçados com
fibras (FRP), seja na forma de mantas flexíveis coladas com epoxy, faixas
manufacturadas ou varões colocados junto da superfície. O relativo custo inicial
elevado dos FRP’s é ultrapassado pelas suas vantagens tais como a razão
resistência/peso, a resistência à corrosão, facilidade de aplicação, baixos
custos de mão-de-obra bem como a capacidade de não aumentarem
significativamente as dimensões dos elementos. São bastante atractivos pela
sua flexibilidade de aplicação, ou seja, a orientação das fibras pode ser
ajustada para que objectivos específicos de reforço tais como o aumento da
resistência, do confinamento ou ambos, possa ser alcançado.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 87

Um sistema externo de FRP colado requer que a superfície de betão seja


exaustivamente limpa (removidos todos os materiais soltos e as fissuras
injectadas com epoxy em estruturas danificadas), seja aplicado um primário de
epoxy e cada elemento seja colocado entre duas camadas de resina.
Presentemente, a literatura sobre nós reforçados com FRP’s consiste
principalmente em testes bidimensionais simplificados e estudos analíticos.
Foi proposta a utilização de varões de polímeros reforçados com fibras de
carbono (CFRP), combinada com mantas coladas exteriormente (observar
Figura 3.16), para reforçar nós interiores unidireccionais numa tentativa de
deslocar a rotura em primeiro lugar do pilar para o nó e, seguidamente, do nó
para a viga (Prota et al., 2001) e (Prota et al., 2002).

CFRP unidireccional
Pilar (2 camadas) t=0.33 mm
CFRP unidireccional
(2 camadas) t=0.33 mm

Viga

4 varões laminados de CFRP

Tipo 2 Tipo 3

CFRP unidireccional
(2 camadas) t=0.33 mm CFRP unidireccional
(2 camadas) t=0.33 mm
CFRP colocado a 90º

6 varões laminados de CFRP CFRP colocado a 0º e 90º

4 varões laminados de CFRP


4 varões laminados de CFRP

Tipo 4 Tipo 5
Figura 3.16 – Reforço com mantas e/ou laminados de CFRP (alçados).
88 Capítulo 3

Os varões de CFRP foram colocados em roços preenchidos com epoxy,


perto da superfície (ver Figura 3.17). Contudo, não foi possível controlar os
modos de rotura, não se alcançando um colapso dúctil da viga.

Varões laminados de CFRP


colocados perto da superfície
(Ø = 8 ou 9.5 mm)

Rasgos preenchidos
com epoxy

Corte
Figura 3.17 – Reforço com mantas e/ou laminados de CFRP (corte).

A solução tipo 2 deslocou a rotura da zona de compressão para a zona de


tracção do pilar, para cargas axiais baixas, enquanto que para cargas elevadas,
ocorreu uma rotura conjunta do pilar e do nó. A adição de varões de CFRP
como reforço de flexão ao longo do pilar (tipo 3), conduziu a uma rotura por
corte do nó. Quando se reforçou o nó (tipo 4), a interface pilar – nó ruiu, o que
foi atribuído ao término da manta de FRP naquela posição como forma de ter
em conta a presença da laje de piso. Os acréscimos de reforço atingidos foram
de 7% a 33% para o tipo 2, 39% a 62% para o tipo 3 e 37% a 83% para o tipo 4.
O esquema de reforço tipo 5 utilizando um encamisamento em U da viga e
do nó, resultou num modo de rotura similar ao tipo 4.
Uma outra solução de reforço consiste na utilização de polímeros reforçados
com fibras de vidro (GFRP). Foram concebidas e testadas várias soluções para
reparar nós de pórticos danificados, através da aplicação de mantas
unidireccionais e bidireccionais (±45º). Como se pode observar na Figura 3.18,
as tipologias T1R e T2R, cujos nós estavam danificados e posteriormente
reparados, foram reforçadas com mantas de GFRP as quais foram ancoradas
mecanicamente usando chapas de aço e barras de fixação que atravessam o
nó. Esta ancoragem na tipologia T1R demonstrou-se eficaz, levando o GFRP à
ruptura por tracção. O mesmo já não aconteceu na tipologia T4 onde a
aplicação do GFRP não surtiu nenhum efeito, devido à falta de ancoragem
mecânica e à consequente descolagem.
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 89

Na tipologia T2R não foi observada qualquer descolagem do compósito nem


fissuração de corte no nó. A ruptura deveu-se à formação de uma rótula
plástica na viga.
A aplicação das tiras diagonais de GFRP na tipologia T9 foi facilitada através
da colocação de barras de aço triangulares nos quatro cantos do nó. Contudo,
esta disposição não conseguiu travar a expansão do nó de betão, levando a
uma ruptura simultânea da viga e do nó (Ghobarah & Said, 2002).

Barras de ancoragem

1 camada GFRP
(+45º, -45º)
2 camadas GFRP
(+45º, -45º)

Placa de protecção

Alçado
Tipologia T1R Tipologia T2R
Placa de protecção

GFRP (+45º, -45º)

Barras de ancoragem Planta

Barras em aço triangulares

3 camadas GFRP
1 camada GFRP (unidireccional)
(não ancorada)
(+45º, -45º)

Alçado Alçado
Tipologia T4 Tipologia T9

GFRP (+45º, -45º) GFRP


(unidireccional)
Planta Planta
Figura 3.18 – Várias tipologias de reforço com GFRP ensaiadas.
90 Capítulo 3

Na Figura 3.19 e Figura 3.20 podem-se observar outras variantes utilizadas


para reforçar nós sem cintas de reforço ao corte e com ancoragem inadequada
dos varões da armadura inferior da viga (El-Amoury & Ghobarah, 2002). Os
ensaios realizados em ambos os esquemas resultaram, aproximadamente,
num aumento de 100% na capacidade de carga. A rotura da tipologia TR1
deveu-se à descolagem completa dos compósitos das superfícies da viga e do
pilar bem como do arranque dos varões longitudinais inferiores da viga. No
caso TR2, a utilização de duas chapas metálicas em forma de U eliminaram a
descolagem do GFRP e reduziram a degradação da resistência.

Barras de ancoragem de
Ø12 mm, atravessando o nó

GFRP (+45º, -45º, 0)

4 camadas de GFRP
unidireccionais

Parafusos com bucha química


de 16 mm

Figura 3.19 – Reforço com GFRP (tipologia TR1).


Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 91

Chapas de aço de 3 mm de
espessura em forma de U

GFRP (+45º, -45º, 0)

Barras de fixação Ø 25 mm
Cantoneira em aço 500x225x8 mm
Parafusos Ø 20 mm

8 camadas de GFRP
unidireccionais

Figura 3.20 – Reforço com GFRP (tipologia TR2).

Foi ainda estudada a utilização de mantas de CFRP em nós exteriores


unidireccionais. Com a disposição das mantas de acordo com a Figura 3.21, a
rotura por corte do nó foi deslocada para a interface viga – pilar, com um
mínimo de danos no encamisamento de CFRP. Os aumentos na resistência ao
corte do nó e dissipação de energia foram de 5% e 200% respectivamente.
92 Capítulo 3

Viga
Vista superior
Pilar
1 camada
4 camadas em cada
direcção diagonal
Folga de 102 mm

Folga de 25 mm
1 camada
2 camadas

1 camada

Folga de 25 mm
Vista Vista
Posterior Frente

Vista inferior
Figura 3.21 – Reforço com CFRP.

Uma análise da literatura existente sobre FRP indica que compósitos


colados exteriormente podem eliminar algumas das mais importantes
limitações (por exemplo, dificuldades construtivas ou aumento das dimensões
dos elementos) de outras soluções de reforço e, ainda, melhorar a capacidade
de resistência ao corte do nó bem como deslocar a rotura para mecanismos de
viga de rótulas dúcteis. Tais melhorias foram atingidas mesmo com a aplicação
de baixas quantidades de FRP’s, através da disposição das fibras numa
direcção de ±45º na região do nó e por encamisar as extremidades dos
elementos para fixar as mantas a ±45º e aumentar o confinamento.
Diversos estudos demonstraram que o comportamento deste tipo de reforço
é dominado pela descolagem dos compósitos da superfície do betão, indicando
a necessidade de uma preparação cuidada da superfície bem como a utilização
de ancoragens mecânicas, conduzindo a um confinamento do nó mais eficaz e
a uma utilização mais optimizada da resistência das fibras. Os autores
acreditam que o desenvolvimento de tais métodos de ancoragem pode criar um
Reparação e reforço de nós de pórticos de betão armado 93

potencial elevado na aplicação de FRP’s no reforço de nós tridimensionais, os


quais estão ainda por testar.
Embora não sejam necessários conhecimentos elevados, a selecção e
aplicação de FRP’s requer considerações cuidadas das condições do ambiente
(por exemplo, temperatura e humidade) no momento da aplicação e,
igualmente, no decurso do tempo de serviço (Engindeniz, Kahn, & Zureick,
2005).

3.5.5 CONCLUSÕES RELATIVAMENTE ÀS TÉCNICAS DE


REPARAÇÃO E REFORÇO DE NÓS DE PÓRTICOS DE BETÃO
ARMADO

Como conclusões da literatura actual relativa à performance, reparação e


reforço de nós viga-pilar de betão armado sem armadura específica para as
acções sísmicas, retêm-se as seguintes (Engindeniz, Kahn, & Zureick, 2005):

a) Os problemas mais importantes relativos a nós existentes sem


armadura específica para as acções sísmicas, estão bem identificados.
Contudo, a investigação dos seus efeitos no comportamento sísmico
tem sido limitada ao teste de nós isolados unidireccionais (sem laje de
piso, vigas transversais ou cargas bidireccionais) e modelos de
edifícios às escalas 1/8 e 1/3, os quais podem não traduzir o
comportamento real da estrutura;
b) As técnicas de reforço com epoxy têm apresentado sucesso limitado no
que respeita na reparação da ligação de armaduras, no preenchimento
de fendas e no restabelecimento da resistência ao corte em nós
unidireccionais. Contudo, alguns autores acreditam ser um método
inadequado e sem garantias. Acredita-se também que a injecção de
nós com laje de piso será também, difícil;
c) O encamisamento de betão armado de pilares e da região do nó, é um
método eficaz. Por outro lado, é o mais trabalhoso devido às
dificuldades em colocar no nó, reforço adicional ao corte. A montagem
de uma estrutura metálica externa em torno do nó, em vez de se
adicionar reforços internos, revelou-se eficaz no caso de nós interiores
94 Capítulo 3

tridimensionais. Estes métodos são óptimos para criar mecanismos


pilar forte – viga fraca, mas sofrem de consideráveis perdas de espaço
no piso, introduzindo alterações no funcionamento do edifício;
d) Os encamisamentos de aço e grout testados até hoje, não podem ser
aplicados aos casos em que esteja presente a laje de piso. Se não
forem dimensionados convenientemente, tais métodos podem resultar
num aumento excessivo da capacidade resistente e criar modos de
rotura inesperados. Placas de aço fixadas externamente com secções
laminadas têm sido eficazes na prevenção de roturas locais tais como
arranque da armadura inferior das vigas; foram também usadas com
sucesso em conjunto com encamisamentos de betão armado em torno
do nó.
e) Compósitos de polímeros reforçados com fibras (FRP) fixados
exteriormente, eliminam algumas das limitações mais importantes de
outros métodos de reforço tais como dificuldades de execução e
aumento do tamanho dos elementos. A resistência ao corte de nós
unidireccionais exteriores é melhorada com a colocação de fibras
orientadas a ±45º na região do mesmo. Contudo, só foram observados
alguns modos de rotura dúcteis em vigas, enquanto que nos restantes,
as mantas dos compósitos descolaram da superfície de betão antes
que se formasse uma rótula plástica. É necessário o desenvolvimento
de métodos fiáveis de ancoragem de forma a evitar a descolagem e a
mobilizar a total capacidade resistente das fibras dentro da pequena
área do nó, podendo levar à utilização dos FRP’s no reforço de nós
tridimensionais;
f) A maior parte dos métodos de reforço desenvolvidos até ao momento
possuem uma aplicabilidade limitada, se alguma, quer seja devido à
não consideração da laje de piso (ou seja, vigas transversais e laje de
piso) das estruturas reais ou devido a restrições arquitectónicas. Os
testes realizados até ao momento têm considerado somente cargas
unidireccionais. Desta forma, a investigação nesta área está longe de
completa sendo necessário bastante trabalho para se conseguirem
métodos de reforço eficazes, de baixo custo e aplicabilidade.
95

CAPÍTULO 4
REPARAÇÃO E REFORÇO DE PILARES DE BETÃO
ARMADO

4.1 INTRODUÇÃO

O reforço de pilares de betão armado tem por objectivo, na generalidade dos


casos, o aumento da sua capacidade resistente em flexão (armadura
insuficiente para as acções sísmicas, por exemplo); e/ou o aumento da
capacidade resistente em compressão (alteração das cargas de utilização,
secção insuficiente, etc.).
Além dos aumentos das capacidades resistentes referidas, podem surgir
situações onde apenas se necessita de um aumento da ductilidade do
elemento, com vista a uma melhoria do comportamento sísmico de
determinado edifício (aumento da capacidade de dissipação de energia). Isto é
conseguido através de um aumento da cintagem dos pilares o que, além da
vantagem já referida, confere um aumento da capacidade resistente em
compressão devido ao consequente efeito de cintagem.
A melhoria da resistência em flexão composta pode ser obtida através da
adição de elementos metálicos ou através de encamisamento com betão.
Nas situações de clara insuficiência de resistência à compressão simples é,
em geral, utilizado o encamisamento de betão por ser mais eficiente, embora
se possa também proceder ao reforço através de elementos metálicos (Costa &
Matos, 2000).
Uma outra técnica emergente para o aumento da capacidade resistente à
compressão de pilares de betão armado, a qual apresenta diversas vantagens
nomeadamente ao nível da estética e rapidez de execução, é o reforço com
polímeros reforçados com fibras (FRP). Esta técnica permite um aumento
considerável do confinamento do pilar e, consequentemente, da sua
capacidade resistente à compressão.
O reforço de pilares merece especial atenção, especialmente nos casos em
que o seu dimensionamento foi efectuado sem atender ao efeito das acções
horizontais. Esta prática era comum na generalidade do projecto de edifícios de
96 Capítulo 4

betão armado construídos até à década de 80. Por este motivo, a ocorrência de
acções sísmicas de intensidade média a elevada, poderá introduzir nestas
construções danos consideráveis sendo, os pilares, elementos críticos uma vez
que o seu colapso conduz, geralmente, à rotura global da estrutura.
Uma das estratégias possíveis para diminuir o impacto humano e material da
ocorrência deste tipo de eventos, passa por reforçar as zonas críticas deste
tipo de estruturas. Podendo, de forma simplificada, considerar-se a acção
sísmica como de carácter cíclica, e sendo os pilares elementos fulcrais na
garantia da estabilidade global de uma estrutura porticada de betão armado,
será de todo oportuno a exploração dos benefícios proporcionados por
sistemas de reforço que aumentem a capacidade de absorção de energia deste
tipo de elementos, quando submetidos a acções cíclicas. Sendo a acção cíclica
horizontal a que merece especial cuidado, dado introduzirem esforços de flexão
e corte, é no entanto também importante avaliar a eficácia de sistemas de
reforço no comportamento de elementos de pilar submetidos a acções cíclicas
de compressão. Neste caso, importa que os sistemas de reforço aumentem o
confinamento do betão dos pilares e evitem a encurvadura das armaduras
longitudinais (Ferreira & Barros, 2006).
Apresentam-se, em seguida, cada uma destas técnicas detalhadamente.

4.2 REFORÇO DE PILARES POR ENCAMISAMENTO DE BETÃO


ARMADO

Para a aplicação desta técnica, é necessário ter em conta a limitação da


espessura do encamisamento (devido às condições de lançamento do betão e
diâmetro do agregado), bem como considerar a secção necessária para resistir
aos esforços previstos.
No dimensionamento deste tipo de reforço, normalmente considera-se que
somente o reforço irá resistir aos esforços, ficando a resistência do núcleo a
favor da segurança. Despreza-se a contribuição do núcleo pois, ainda que
exista, o seu valor é de difícil previsão (Costa & Matos, 2000). Esta
consideração, embora pelo lado da segurança, poderá conduzir a soluções
anti-económicas e peças de dimensões elevadas.
Reparação e reforço de pilares de betão armado 97

No que toca à execução e como já referido no Capítulo 2, existem


fundamentalmente dois métodos: encamisamento de betão armado moldado
in-situ e encamisamento por betão projectado.
Em ambos os métodos torna-se necessário, numa primeira fase, proceder à
picagem do betão superficial e posterior limpeza. Em seguida é colocada a
armadura nova e, no caso da betonagem ser realizada com o auxílio de
cofragens, procede-se à sua montagem (ver Figura 4.1 e Figura 4.2).

1ª Etapa
Escarificação

Figura 4.1 - Encamisamento de pilares com betão armado (escarificação) (Matos, 2000).

2ª Etapa
Armadura nova

3ª Etapa 4ª Etapa
Cofragens Enchimento com o
novo betão

Figura 4.2 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ (Matos, 2000).

Como é evidente, a utilização de cofragens introduz algumas dificuldades no


processo de betonagem. Esta pode ser efectuada através de furos na laje,
procedendo-se ao enchimento através do piso superior (ver Figura 4.3).
98 Capítulo 4

Enchimento pela laje Abertura na laje

Armadura nova

Cofragens
Pilar existente

Figura 4.3 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ


(enchimento pela laje) (Matos, 2000).

No caso em que o enchimento do molde é efectuado pela lateral, é prática


corrente deixar-se uma folga na cofragem de 5 cm no topo do pilar. Esta folga é
depois rematada através da aplicação de argamassa de epoxy de baixa
retracção (consultar Figura 4.4).

Enchimento pela lateral

Superficies escarificadas

5 cm
Argamassa de epoxy

Figura 4.4 - Encamisamento de pilares com betão armado moldado in-situ


(enchimento pela lateral) (Matos, 2000).

Chama-se a atenção para uma boa vibração do betão, com vista a evitar a
acumulação de agregados em determinadas zonas da peça. Uma vez que a
utilização de vibradores convencionais pode ser complicada, o uso de
vibradores de cofragem pode ser uma boa alternativa. Em ambos os casos,
observar os tempos de vibração de forma a reduzir a segregação do betão.
Reparação e reforço de pilares de betão armado 99

No caso de ser utilizado betão projectado, deverão seguir-se as


recomendações já referidas no Capítulo 2 (secção 2.2.2). Em ambas as
técnicas, os varões da nova armadura podem ser ancoradas aos elementos
resistentes existentes, através de selagens de argamassa de epoxy (ver Figura
4.5).

Pilar existente

Betão projectado
Armadura nova

Selagem dos varões


com argamassa de epoxy
Figura 4.5 - Encamisamento de pilares com betão projectado (Matos, 2000).

Reparação local de pilares danificados com encamisamento de betão


Nos casos em que os pilares se encontram danificados numa determinada
zona e estes possuem uma capacidade resistente de pelo menos 45%,
procede-se inicialmente à picagem do betão, à eliminação do betão
desintegrado e à preparação das superfícies sãs de betão. Em seguida,
soldam-se os varões principais necessários e colocam-se os estribos de, pelo
menos, 8 mm de diâmetro e separados de 10 a 20 cm em toda a zona afectada.
Procede-se então à betonagem da zona afectada, respeitando-se as
dimensões do encamisamento pré-estabelecidas e ao longo de uma altura que
ultrapasse a zona afectada em 1,5 vezes a maior dimensão do pilar.
Nestes casos, adoptam-se os seguintes valores mínimos (ver Figura 4.6):
100 Capítulo 4

Pilar existente
t ≥ 50 mm, no caso de se
recorrer a betão projectado;
t ≥ 70 – 100 mm, no caso de
betão moldado in-situ;
Reforço local t
Estribos: Ø8 espaçados
0,10 m a 0,15 m;
Esforços:
R M, N R ∆R

Figura 4.6 - Reforço de pilares por encamisamento de betão armado (Costa & Matos,
2000).

Nos casos de pilares com grandes danos, procede-se a uma picagem


adequada seguida de uma eliminação do betão desintegrado, descobrindo-se
as armaduras. Soldam-se os novos varões de reforço, colocam-se cintas de
8 mm de diâmetro distantes de, aproximadamente, 5 cm nas zonas danificadas
e de 10 cm a 20 cm nas restantes zonas do pilar. Em seguida, procede-se à
betonagem em toda a altura do pilar. As novas armaduras são ligadas às
existentes por meio de conectores que transmitem as cargas (ver Figura 4.7)
(Costa & Matos, 2000).
Reparação e reforço de pilares de betão armado 101

Ac A'c

As

A's

Conectores

Figura 4.7 - Reforço de pilares por encamisamento de betão armado (reforço localizado).

4.3 REFORÇO DE PILARES COM ADIÇÃO DE ELEMENTOS


METÁLICOS

O reforço de pilares através da adição de elementos metálicos é eficiente


sobretudo nas situações de insuficiência de armaduras. Em geral, são
utilizadas chapas de aço ou cantoneiras coladas com resina epoxy.
Na Figura 4.8 apresenta-se a situação mais corrente de reforço de pilares
através da adição de elementos metálicos (sem e com posterior
encamisamento de betão armado).
102 Capítulo 4

a) b)

Figura 4.8 - Reforço de pilares com adição de elementos metálicos: a) simples, b) com
encamisamento de betão armado.

Os elementos metálicos deverão possuir dimensões mínimas. No caso da


utilização de cantoneiras (armadura longitudinal), a sua dimensão não deve ser
inferior a uma secção L50x50x5 (dimensões de acordo com a norma
EN10056-1:1998 e tolerâncias de acordo com a norma EN10056-2:1994).
Quando se utilizam barras transversais, a sua largura não deve ser inferior a
25 mm (com 4 mm de espessura, mínimo) ou varões de 10 mm de diâmetro,
espaçados 0,10 m. No caso de se colocar um encamisamento de betão
armado, a sua espessura não deve ser inferior a 40 mm quando se recorre a
betão projectado, ou 50 mm no caso de betão moldado in-situ. A armadura de
distribuição a empregar nesta situação será uma malha quadrada de varões de
8 mm de diâmetro espaçados a 0,10 m (Costa & Matos, 2000).
Reparação e reforço de pilares de betão armado 103

A forma mais simples de colocação destes elementos, passa pela utilização


de resina epoxy para a sua fixação ao pilar a reforçar, tal como se pode
observar na Figura 4.9.

Por. A

Cantoneira metálica

Cantoneiras
metálicas
Fixação com resina
de epoxy

Por. A

Figura 4.9 - Reforço de pilares com cantoneiras metálicas.

Para além da ligação dos elementos metálicos por colagem com resina
injectada, pode complementar-se esta união através de soldadura às
armaduras iniciais, como ilustrado na Figura 4.10(a). A adopção de buchas só
é viável no caso de a dimensão da armadura de reforço ser suficientemente
elevada de forma a permitir que as buchas não colidam com a armadura
existente, como indicado na Figura 4.10(b). É recomendável ainda, que os
elementos longitudinais, colocados nos cantos da secção, sejam ligados entre
si através de barras soldadas, como ilustrado na Figura 4.10(c). Estas barras
podem ser utilizadas para o reforço da armadura transversal (Costa & Matos,
2000).
104 Capítulo 4

(a) (b) (c)


Figura 4.10 - Reforços de pilares - pormenores de ligação.

Nas situações em que o tamanho das cantoneiras permite a fixação destas


ao pilar através de parafusos, pode-se recorrer à solução apresentada na
Figura 4.11. Neste caso, aplicou-se uma rede de metal distendido para servir
de base a uma camada de argamassa de epoxy de revestimento final. Desta
forma, é possível ocultar os elementos metálicos de reforço. Como
inconveniente, salienta-se o aumento das dimensões da peça reforçada.

Parafusos com bucha


química
Parafusos com
bucha química

Cantoneira
Argamassa
epoxidica

Chapas
Cantoneiras
Rede de metal distendido
ligada às cantoneiras

Figura 4.11 - Reforço de pilares (aplicação com parafusos) (Matos, 2000).


Reparação e reforço de pilares de betão armado 105

Uma técnica que confere um certo estado de pós-tensão e incremento do


confinamento, consiste em pré-aquecer as chapas transversais antes de as
soldar às cantoneiras. Com a diminuição de temperatura, as chapas terão a
tendência de recuperar o seu tamanho original, pelo que introduzirão um
estado de tensão à peça (ver Figura 4.12).

Soldaduras

Pilar existente

Chapa 25 mm largura
Cantoneira 4 mm de espessura
(cada 100 mm)
Figura 4.12 - Cintas pré-aquecidas e soldadas (Matos, 2000).

Em alternativa às chapas transversais, estas podem ser substituídas por um


varão em espiral de 6 mm de diâmetro, espaçado 50 mm e soldado às
cantoneiras (ver Figura 4.13) (Matos, 2000).

Soldaduras

Pilar existente

50 mm
Cantoneira
Espiral Ø6 mm
Soldaduras

Figura 4.13 – Cintas em espiral soldadas.


106 Capítulo 4

Em substituição das cantoneiras e das chapas transversais, existe a


alternativa de utilizar chapas de aço coladas e soldadas, as quais envolvem
toda a secção. Nesta metodologia, existe também a alternativa de pré-aquecer
as chapas de forma a criar um estado de pós-tensão (ver Figura 4.14 e Figura
4.15).

50 mm

50 mm

Pilar existente

Chapa de aço 100 mm de largura


2 mm de espessura
(cada 250 mm)

Figura 4.14 - Chapas de aço coladas com resina epoxy (Matos, 2000).

Soldaduras
50 mm

Pilar existente
Chapa aquecida
e soldada

Chapa de aço aquecida


100 mm de largura
2 mm de espessura
(cada 250 mm)

Figura 4.15 - Chapas de aço aquecidas, soldadas e coladas com resina epoxy (Matos,
2000).

A solução da Figura 4.15, poderá ser inviabilizada se for necessária uma


temperatura muito elevada no aquecimento das chapas. Esta temperatura
influencia o processo de cura do adesivo epoxy, pelo que se deverá ter
especial atenção de quais os limites do produto que se pretende seleccionar.
Reparação e reforço de pilares de betão armado 107

Quando apenas se pretende reforçar a armadura transversal e,


consequentemente, o confinamento, a solução da Figura 4.16 recorre a chapas
apertadas com parafusos e seladas com resina de epoxy. De salientar a
vantagem da pré-fabricação em detrimento da estética.

Por. A

Porca
Estribos em
chapa Parafuso
Chapa metálica
Resina de epoxy

Por. A

Figura 4.16 - Reforço da armadura transversal através de chapas metálicas (Matos, 2000).

Na Figura 4.17 apresenta-se um pormenor da ligação das armaduras de


reforço do pilar num nó. Esta ligação é constituída por dois quadros metálicos,
em cantoneira, que são ligados através de um perfil ou de um varão, conforme
ilustrado na figura. Desta forma é também garantida uma amarração eficaz das
armaduras longitudinais de reforço (Costa & Matos, 2000).
108 Capítulo 4

Quadro metálico Chapa de reforço


em cantoneira
Alternativa em Alternativa em
varão cantoneira

Viga longitudinal

Viga transversal
Quadro metálico
em cantoneira Chapa de reforço

Figura 4.17 - Pormenores de ligação das armaduras de reforço de um pilar num nó.

Na Figura 4.18 apresenta-se uma forma de ligação das chapas ou perfis a


uma fundação utilizando um quadro metálico em cantoneira. Este quadro é
ancorado à fundação através de chumbadouros introduzidos em furos e
selados com resina epoxy que, para esta aplicação, deve ser fluida. Com base
em resultados experimentais, é recomendado para este tipo de ligação a
utilização de um comprimento de amarração pelo menos igual a metade do
valor preconizado no REBAP (1983) para a amarração aço-betão. Com efeito,
verifica-se que a realização do furo com diâmetro superior ao do varão
furo 1,50 · varão , faz aumentar a superfície da ligação ao betão (Costa &
Matos, 2000).
Reparação e reforço de pilares de betão armado 109

Chapa de reforço
Quadro metálico
em cantoneira

Chumbadouro

Figura 4.18 - Ligação das armaduras de reforço à fundação.

4.4 REFORÇO DE PILARES COM POLÍMEROS REFORÇADOS COM


FIBRAS (FRP)

As técnicas de reforço de pilares através da utilização de polímeros


reforçados com fibras (FRP) são, na globalidade, mais eficazes e mais
económicas que as técnicas convencionais.
Além disso, a substituição das técnicas tradicionais por estes materiais
compósitos de fibras de carbono e de vidro, tem como vantagens o elevado
valor dos factores resistência/peso e rigidez/peso, a elevada resistência à
corrosão, leveza, durabilidade e facilidade de aplicação destes materiais
(Ferreira et al., 2001).
Apesar de existirem vários tipos de fibras de reforço como já abordado no
Capítulo 2, as soluções a seguir apresentadas vão-se centrar nos compósitos
reforçados com fibras de carbono.
A investigação que tem sido levada a cabo sobre estas tipologias de reforço
tem-se centrado, basicamente, na aplicação de mantas de polímeros
reforçados com fibras de carbono (CFRP) e laminados de fibras de carbono.
Dentro da aplicação de mantas de CFRP como reforço de pilares, estas
podem envolver toda a superfície exterior do elemento (ver Figura 4.19 (a)) ou
apenas certas partes deste (ver Figura 4.19 (b)), tirando partido, neste último
caso, da existência das cintas metálicas que, por si só, já proporcionam algum
110 Capítulo 4

confinamento ao betão e resistência à encurvadura das armaduras


longitudinais (Ferreira & Barros, Elementos de Pilar de Betão Armado
Confinados com Sistemas de CFRP Submetidos a Carregamento Cíclico de
Compressão, 2006), bem como obter uma significativa poupança de material.
Estas formas de reforço permitem aumentar substancialmente o
confinamento dos pilares e, consequentemente, a capacidade resistente à
compressão.

Armadura longitudinal

Armadura transversal

Faixas CFRP

(a) (b)

Figura 4.19 - Reforço de pilares com mantas de CFRP: (a) sistema


contínuo, (b) sistema por faixas.

Os resultados obtidos em ensaios de provetes de betão armado confinados


com estas duas técnicas e submetidos a ensaios cíclicos e monotónicos de
compressão directa, permitiram concluir que estes sistemas de confinamento
proporcionam aumentos significativos de capacidade de carga (Ferreira &
Barros, 2006).
Comparando para a mesma percentagem de confinamento, o sistema de
confinamento por faixas com o sistema de confinamento contínuo, verifica-se
que o sistema de confinamento contínuo permite maior capacidade de carga.
No entanto, tal só é significativa para extensões axiais do provete superiores a
cerca de 10 ‰. Além disto, deve ser tido em conta o maior custo de aplicação
do sistema contínuo, uma vez que requer o tratamento de toda a superfície do
Reparação e reforço de pilares de betão armado 111

elemento, enquanto que os sistemas por faixas só exigem o tratamento das


áreas onde são instaladas as faixas de CFRP (Ferreira & Barros, Elementos de
Pilar de Betão Armado Confinados com Sistemas de CFRP Submetidos a
Carregamento Cíclico de Compressão, 2006).
Em estudos levados a cabo para caracterizar a performance de faixas de
manta de CFRP no confinamento de pilares de betão armado, observou-se que
a capacidade de carga e a extensão axial aumentam com o número de
camadas de CFRP (Ferreira & Barros, 2005).
Apresenta-se nas figuras seguintes, uma solução proposta por (Appleton J. ,
2007), para a reparação e reforço de um pilar de um viaduto que apresentava o
betão de recobrimento descascado devido à corrosão das armaduras (ver
Figura 4.20).

Figura 4.20 - Aspecto do pilar antes da reparação (Appleton J. , 2007).

A solução executada passou pela reparação da camada de recobrimento


destacada e posterior aplicação de mantas de fibra de carbono (ver Figura
4.21).
112 Capítulo 4

(a) (b)
Figura 4.21 - Solução proposta: (a) estado actual; (b) secção reparada (Appleton J. ,
2007).

Na Figura 4.22 pode observar-se o aspecto final do pilar reparado, após


aplicada a pintura de protecção e acabamento.

Figura 4.22 - Aspecto final do pilar reparado (Appleton J. , 2007).

No que se refere à utilização de laminados de fibras de carbono no reforço


de pilares, estes permitem materializar reforços à flexão de fácil execução. O
sistema proposto por Ferreira et al. (2001) e que se apresenta na Figura 4.23,
foi submetido a um conjunto de ensaios com vista a estabelecer o seu
comportamento e performance no reforço de pilares com modos de rotura por
flexão. O reforço é constituído por laminados de fibras de carbono com
Reparação e reforço de pilares de betão armado 113

9.5x1.5 mm2 de secção transversal, embutidos no betão de recobrimento


recorrendo à utilização de ligantes epóxidos.

2
Ranhuras de 5x15 mm

Laminados de fibras de carbono

Betão de recobrimento Sapata


substituído por argamassa
epóxida

100-150 mm

Perfuração de 100 - 150 mm de


profundidade na sapata para
fixação dos laminados de fibras de
carbono

Figura 4.23 - Reforço de pilares com laminados de fibras de carbono.

O reforço dos provetes ensaiados passou pela remoção do betão de


recobrimento do elemento de pilar, na zona da rótula plástica. Em seguida,
foram efectuadas ranhuras de 5 mm de largura por 15 mm de profundidade em
toda a altura do pilar, para alojar as tiras de laminado de fibras de carbono. Na
sapata, no alinhamento das ranhuras, foram efectuadas perfurações com
aproximadamente 100 mm de comprimento, de forma a fixar os laminados à
sapata. Antes de serem aplicados os laminados, as ranhuras e os furos foram
limpos, utilizando-se escovas de aço e ar comprimido. As ranhuras foram
preenchidas com um composto constituído por duas partes de resina epóxida e
uma de endurecedor, sendo as tiras de laminado inseridas de seguida. Por fim,
a zona da rótula plástica e as perfurações na sapata foram preenchidas com
uma argamassa epóxida constituída por uma parte (em peso) de um composto
epóxido e três partes (em peso) de areia fina previamente lavada e seca. O
composto epóxido era constituído por duas partes de resina epóxida e uma
parte de endurecedor.
Os resultados obtidos permitiram concluir que é imprescindível selar
devidamente quaisquer fendas que existam no pilar com um composto epóxido.
Além disso, se as operações de reforço forem devidamente executadas e se
114 Capítulo 4

houver um controlo de qualidade dos materiais de reforço, a capacidade de


carga de pilares com rotura por flexão, pode aumentar significativamente,
mesmo em pilares com danos elevados, por aplicação desta técnica. Desde
que as zonas de dano sejam devidamente tratadas, este aumento é similar em
pilares danificados e intactos. Nos elementos de pilar ensaiados, constatou-se
que este aumento foi mais significativo nos pilares com menor percentagem de
armadura longitudinal. Tal deve-se ao facto de a zona de rotura dos pilares
reforçados, com a menor percentagem de armadura longitudinal, ter sido
substituída por uma argamassa epóxida de elevada resistência à compressão e
à tracção. Com o aumento da percentagem de armadura longitudinal, a
fendilhação distribuiu-se num comprimento maior, pelo que passaram a existir
fendas fora da zona reforçada. Dado não se ter procedido à selagem das
fendas aquando da aplicação dos laminados, ocorreram concentrações de
tensões nos laminados que atravessavam essas fendas, levando à sua rotura
precoce. Estes factos devem estar na base do aumento médio de 92% da
capacidade de carga última registado nos pilares reforçados com a menor
percentagem de armadura longitudinal, e de somente 34% nos pilares
reforçados com a percentagem intermédia. Assim, em pilares fendilhados, a
presente técnica parece só ser eficaz se as fendas forem devidamente seladas.
No que respeita à viabilidade económica, esta técnica de reforço exige o
desenvolvimento de equipamento que permita a execução das ranhuras com a
profundidade desejada e com o alinhamento pré-estabelecido, e que assegure
o preenchimento homogéneo das ranhuras para a selagem dos laminados.
Estes equipamentos necessitam de ser de simples manuseio, para que o
tempo de execução dos procedimentos de reforço não questione a viabilidade
da sua aplicação (Ferreira et al., 2001).
115

CAPÍTULO 5
REPARAÇÃO E REFORÇO DE VIGAS DE BETÃO
ARMADO

5.1 INTRODUÇÃO

Tal como já referido no capítulo anterior e à semelhança dos pilares, o


reforço de vigas de betão armado pode ser necessário quando se pretende
alterar o tipo de utilização de um determinado edifício, conduzindo a acções
actuantes que ultrapassam o previsto inicialmente em projecto. Desta forma,
torna-se necessário proceder ao reforço dos vários elementos resistentes e, no
caso particular das vigas, de proceder ao seu reforço à flexão e ao corte (e
eventualmente, à torção).
Esta consciência de reforçar, parte de uma utilização responsável da
estrutura o que nem sempre acontece. Existem inúmeras situações de
utilização indevida das estruturas o que, associado a execução e/ou projecto
deficiente, conduzem a uma necessidade urgente de reforço, de forma a evitar
o colapso estrutural e consequências óbvias que daí advêm.
Além destes aspectos, a redução da resistência dos materiais resultante da
sua degradação (carbonatação do betão e corrosão das armaduras), a
ocorrência de acidentes (sismos, incêndios, explosões, cheias, etc.), podem
conduzir à necessidade de reforço.
Resta ainda referir os casos de elementos estruturais que, posteriormente a
uma operação de reforço à flexão, o seu modo de rotura passa a ser por corte.
Esta ocorrência deve ser evitada dado que a rotura por corte é frágil e quase
instantânea. Assim, à necessidade de um reforço à flexão pode, também, estar
associada a necessidade de um reforço ao esforço transverso.
No que diz respeito a vigas de betão armado, no presente capítulo irá ser
abordado o reforço à flexão e ao corte através das técnicas mais correntes,
cujos comportamentos são mais conhecidos e cuja aplicação está mais
generalizada.
116 Capítulo 5

5.2 REFORÇO DE VIGAS POR ENCAMISAMENTO DE BETÃO


ARMADO

5.2.1 REFORÇO À FLEXÃO

Quando estamos perante vigas submetidas a cargas superiores àquelas


inicialmente projectadas, ou o betão existente é de má qualidade, ou há falta de
armaduras, pode-se realizar um reforço por meio de um encamisamento de
betão de resistência adequada e envolvendo armaduras previamente
posicionadas.
Esta técnica traz enormes vantagens, dada a simplicidade de execução, o
que permite uma maior eficácia e uma boa garantia nos trabalhos traduzindo
uma grande economia. Por outro lado, este tipo de reforço gera elementos
finais de dimensões muito superiores às iniciais de projecto e impõe um certo
tempo para a colocação em carga da estrutura, tempo esse necessário para
que o betão endureça e ganhe resistência.
A camada de betão de reforço trabalha unido ao betão existente, pela
aderência entre ambos, constituindo, assim, uma peça solidária (Costa & Matos,
2000).
Os cuidados a seguir na execução deste tipo de reforço estão descritos no
Capítulo 2, referindo-se, adicionalmente, que as armaduras de reforço por
encamisamento mais usadas são varões, malhas soldadas e estribos. Deve-se
verificar sempre a possibilidade de ancoragem dos novos varões nos já
existentes e garantir a ancoragem das armaduras em cavidades, devendo para
o efeito, fazer-se um orifício tal que a diferença entre o diâmetro do furo e o
diâmetro do varão seja aproximadamente 5.0 mm (Costa & Matos, 2000).
A soldagem eléctrica é o método mais geral para se unir as armaduras
novas e velhas. Deve-se, contudo, considerar a capacidade de soldadura dos
aços, devendo dar-se preferência à utilização de aços macios (Costa & Matos,
2000).
Uma tipologia de reforço à flexão por encamisamento com betão armado de
vigas e lajes é explicitado na Figura 5.1.
Reparação e reforço de vigas de betão armado 117

As'

t'
Conectores

As

Asr

Figura 5.1 – Reforço de vigas e lajes por encamisamento com betão armado.

Na generalidade, o valor mínimo a adoptar para t no caso de vigas, e t’ no


caso de lajes, é de 50 mm. As armaduras mínimas são Asr ≥ 3Ø12 e
As’ ≥ #Ø8 c/0.20 (Costa & Matos, 2000).
Nas situações em que não é conveniente aumentar à secção da viga, seja
por razões arquitectónicas ou funcionais, a armadura de reforço à flexão pode
ser colocada ao nível da armadura existente (caso exista espaço para a sua
colocação), ou numa camada superior. Este método passa por demolir
parcialmente a viga existente, conduzindo a secções de dimensão semelhante
à inicial, tal como se pode observar na Figura 5.2. A superfície de contacto
entre o betão existente e o novo betão deverá apresentar-se rugosa e
impregnada com um adesivo epoxy.
118 Capítulo 5

Escarificação 1
3 10 mm
Armadura nova
Armadura existente
min. 20 mm
min. 20 mm

Figura 5.2 - Reforço de vigas por escarificação parcial - colocação de armaduras (Matos,
2000).

A Figura 5.3 ilustra uma forma de ancorar a armadura longitudinal aos


pilares, através de selagem com resinas epoxy.
Viga

Selagem com
resina epoxy

Pilar >6 cm

Figura 5.3 - Reforço de vigas por escarificação parcial - ancoragem da armadura


longitudinal inferior (Matos, 2000).

Quando o reforço implica o aumento da secção transversal da viga, seja por


insuficiência de resistência ao corte ou para aumentar a altura útil da armadura
longitudinal inferior de flexão, o posicionamento desta obriga à colocação de
estribos adicionais. Estes podem desempenhar funções apenas de montagem
ou ser resistentes.
Na Figura 5.4 observa-se uma forma de colocação da nova armadura
longitudinal inferior de reforço, recorrendo-se a “estribos de posicionamento”
ancorados na alma da viga. De notar que não se torna necessário proceder à
furação da laje em cada posição da nova armadura transversal. Posteriormente
são abertos alguns orifícios na laje para se proceder ao enchimento do molde
com o novo betão (ver Figura 5.5).
Reparação e reforço de vigas de betão armado 119

Furos selados com


resina epoxy
1
3 min. 20 cm
Armadura existente

Armadura nova

Figura 5.4 - Reforço de vigas à flexão através de estribos de posicionamento ancorados


na viga (Matos, 2000).

Aberturas na laje

Cofragem

Novo betão
Figura 5.5 - Reforço de vigas à flexão através de estribos de posicionamento ancorados
na viga - betonagem (Matos, 2000).

O método da Figura 5.6 e Figura 5.7 implica a furação da laje em cada


posição da nova armadura transversal. Por outro lado, os novos estribos
poderão ser contabilizados no reforço ao corte da viga em questão.
120 Capítulo 5

Aberturas na laje

Escarificação
1
3
Armadura existente
Armadura nova de reforço

Figura 5.6 - Reforço de vigas à flexão e ao corte por encamisamento de betão armado
(Matos, 2000).

Adesivo epoxy
Encamisamento de argamassa
de epoxy

Figura 5.7 - Reforço de vigas à flexão e ao corte por encamisamento de betão armado ou
argamassas especiais (Matos, 2000).

A última técnica de reforço de vigas através de encamisamento de betão


armado, prende-se com a utilização de betão projectado. Na Figura 5.8
pode-se observar um exemplo da aplicação desta técnica com a ancoragem da
armadura transversal à laje, através de resinas epoxy.
Reparação e reforço de vigas de betão armado 121

Selagem com
resina epoxy

1ª etapa
2ª etapa

Nova armadura

3ª etapa

Figura 5.8 - Reforço de vigas por encamisamento de betão projectado (Matos, 2000).

5.2.2 REFORÇO AO CORTE

Como já referido anteriormente, existem metodologias de reforço à flexão


que também introduzem uma componente de reforço ao corte (caso do método
da Figura 5.6 e Figura 5.7). Contudo, existem situações onde só se torna
necessário proceder ao reforço ao corte, poupando-se material quando se
executa unicamente este reforço.
Na Figura 5.9 apresenta-se a prática mais comum de reforço ao corte por
encamisamento local de betão ou argamassas à base de resinas epoxy.

Soldaduras

Furos preenchidos Novos estribos


com argamassas de (min Ø8 c/0.20)
resinas 50 mm
Ø12

Figura 5.9 - Reforço ao corte: disposições construtivas (Bezelga & Azevedo, 2001).

Esta técnica de reforço consiste, essencialmente, em colocar novos estribos


nos espaços compreendidos entre a armadura transversal existente,
aumentando, desta forma, a área de aço por unidade de comprimento (ver
Figura 5.10).
122 Capítulo 5

Estribos de reforço
Argamassa de epoxy
Figura 5.10 - Reforço ao corte: localização dos estribos de reforço (Bezelga & Azevedo,
2001).

Como é óbvio, é necessário proceder à prévia localização da armadura


transversal existente. Com o auxílio de um detector de armaduras (ver Figura
5.11), é possível localizar a armadura existente sem escarificar todo o betão de
recobrimento da viga, colocando-se a armadura de reforço em rasgos entre a
armadura existente detectada.

Figura 5.11 - Detector de armaduras (Proceq SA, 2008).

Para melhor se compreender a realização desta metodologia, seguem-se


algumas figuras que ilustram as diversas etapas.
Reparação e reforço de vigas de betão armado 123

Sulcos
Escarificação

Laje

Viga

3 cm

Figura 5.12 - Reforço ao corte: escarificação das zonas onde será colocada a nova
armadura (Matos, 2000).

Como se pode observar na Figura 5.12 e após a localização da armadura de


corte existente, procede-se à abertura de sulcos na viga que delimitarão a zona
onde será colocada a nova armadura. Procede-se, então, à escarificação do
betão entre os sulcos.
Coloca-se a nova armadura na zona escarificada e sela-se com argamassa
de reparação à base de resinas epoxy (ver Figura 5.13 e Figura 5.14).

Escarificação

Nova armadura

3 cm

Figura 5.13 - Reforço ao corte: colocação da nova armadura (Matos, 2000).

Nova armadura Argamassa de epoxy


Figura 5.14 - Reforço ao corte: selagem com argamassa de epoxy dos novos estribos
(Matos, 2000).
124 Capítulo 5

Na Figura 5.15 é proposto um sistema alternativo de reforço de vigas com


armadura insuficiente ao corte. O processo é relativamente simples,
efectuando-se furos inclinados de forma a coser as fendas de corte. Em
seguida insere-se a armadura de reforço, constituída por varões rectilíneos e
selam-se os furos através de uma injecção de grout.
O único inconveniente desta técnica prende-se com a possível instabilidade
elástica que a broca pode sofrer. Este fenómeno surge quando o comprimento
necessário da broca para efectuar o furo, é excessivo. Isto resulta em furos que
não são rectilíneos o que pode acarretar problemas na colocação da armadura
de reforço.

Fendas de corte

Estribos existentes
Orifícios
diagonais
Armadura
existente

Novo reforço colocado


em furos e posteriormente
injectados com grout
Figura 5.15 - Reforço ao corte através de varões inclinados (adaptado de Emmons, 1994).

5.3 REFORÇO DE VIGAS POR ADIÇÃO DE ELEMENTOS METÁLICOS

A adição de armaduras exteriores é naturalmente uma técnica adequada


quando há deficiência nas armaduras existentes e as dimensões dos
elementos estruturais e a qualidade do betão se consideram ser adequadas.
Em geral, são utilizadas chapas de aço ou perfis metálicos. Estes elementos
Reparação e reforço de vigas de betão armado 125

podem ser ligados por simples colagem com resina epoxy ou com resina epoxy
aplicada por injecção. A ligação pode e deve ser complementada com buchas
metálicas (Costa & Matos, 2000).
Como já referido no Capítulo 2, a adopção de qualquer destas técnicas
requer uma cuidadosa preparação das superfícies do betão e das chapas para
garantir condições de boa ligação entre as chapas de reforço e o betão
existente.
Quando não são utilizadas buchas metálicas na ligação, é recomendada
uma espessura entre 3 e 5 mm e uma largura inferior a 300 mm das chapas. A
espessura da resina deve ser da ordem de 1 a 3 mm uma vez que espessuras
elevadas conduzem a uma ligação menos eficiente (Costa & Matos, 2000).

5.3.1 REFORÇO À FLEXÃO

Na Figura 5.16 e Figura 5.17 apresentam-se as dimensões recomendadas


para o reforço à flexão, utilizando chapas metálicas sem e com buchas
metálicas, respectivamente.

3 mm ≤ ts ≤ 5 mm
tg ≤ 2 mm

tg 50 mm ≤ bs < 300 mm
Resina epoxy
Chapa de aço bs ts
Figura 5.16 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Dimensões recomendadas (Costa &
Matos, 2000).
126 Capítulo 5

3 mm ≤ ts ≤ 12 mm
tg ≤ 2 mm
tg
bs ≥ 80 mm
Resina epoxy
Chapa de aço ts
Parafuso com
bs
bucha metálica
Figura 5.17 - Reforço à flexão com chapas e buchas metálicas. Dimensões
recomendadas (Costa & Matos, 2000).

Conforme já referido, o reforço com chapas metálicas deve ser


complementado com buchas metálicas. Estas têm o seu contributo principal no
reforço da capacidade última da ligação. Os ensaios experimentais têm
mostrado que a amarração com buchas metálicas é muito eficiente.
Nalguns casos em que não foi utilizada esta técnica, observou-se o
arrastamento da chapa nas suas extremidades, o que conduziu a um colapso
prematuro. Assim, se se conceber a ligação sem buchas, recomenda-se pelo
menos a aplicação de buchas nas extremidades das chapas, de modo a evitar
aquele tipo de rotura.
Um outro aspecto a considerar é a vantagem desta ligação mista em caso
de incêndio uma vez que, se a ligação por colagem for afectada, a ligação
mecânica pelas buchas metálicas continuará efectiva.
Quando se pretender uma melhor amarração da armadura de reforço, deve
prolongar-se esta armadura até à extremidade da viga e aí efectuar-se uma
ligação ao pilar através de uma cantoneira metálica, como ilustrado na Figura
5.18.
Reparação e reforço de vigas de betão armado 127

Quadro metálico
em cantoneira
Chapas de
reforço

Cantoneira Secção do pilar

(a) (b)
Figura 5.18 - Pormenores de ligação das chapas de reforço: (a) nas extremidades de
vigas; (b) num nó de pórtico.

Em vigas contínuas pode ser dada amarração e continuidade à armadura de


reforço na zona do nó, através da utilização de um quadro metálico, constituído
por cantoneiras, que envolve o pilar (ver Figura 5.18(b)). Este quadro, ligado ao
pilar por colagem e, eventualmente, através de buchas metálicas, permite a
transferência de forças mesmo nas situações em que as vigas das duas
direcções perpendiculares possuem armaduras de reforços. Este quadro
torna-se também muito útil na ligação das armaduras de reforço aos pilares
(Costa & Matos, 2000).
Na Figura 5.19 e Figura 5.20, apresenta-se uma variante onde se conjuga a
fixação da chapa metálica através de adesivos epoxy e parafusos com bucha
metálica. De notar a existência de furos de purga, sendo possível a colagem
por adesivo injectado.

Laje
Viga

Chapa metálica
Figura 5.19 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Vista lateral (Matos, 2000).
128 Capítulo 5

Bucha metálica Viga


Adesivo epoxy

Chapa metálica

Porca
Furo
Parafuso

Figura 5.20 - Reforço à flexão com chapas metálicas. Pormenor (Matos, 2000).

5.3.2 REFORÇO AO CORTE

À semelhança para o reforço à flexão, existem também dimensões


recomendadas para o reforço de vigas de betão armado ao corte, através de
chapas metálicas. Na Figura 5.21, apresentam-se as dimensões
recomendadas para o reforço somente com chapas e, na Figura 5.22, para os
reforços com chapas e buchas metálicas.

ts ≤ 3 mm
Chapa de aço dr
tg ≤ 2 mm
dr ≥ 100 ts
tg ts
Resina epoxy
Figura 5.21 - Reforço ao corte com chapas metálicas. Dimensões recomendadas (Costa
& Matos, 2000).
Reparação e reforço de vigas de betão armado 129

ts ≤ 8 mm
Chapa de aço dr
tg ≤ 2 mm
Parafuso com dr ≥ 100 ts
bucha metálica
tg ts
Resina epoxy

Figura 5.22 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Dimensões


recomendadas (Costa & Matos, 2000).

Nas figuras seguintes, indicam-se alguns pormenores - tipo da ligação de


chapas para o reforço transverso.

Cantoneira

Alçado lateral

Figura 5.23 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Chapa contínua (Costa &
Matos, 2000).

Alçado lateral
Cantoneira

Vista inferior

Figura 5.24 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Chapas descontínuas
(Costa & Matos, 2000).
130 Capítulo 5

Alçado lateral
Cantoneira

Vista inferior

Figura 5.25 - Reforço ao corte com chapas metálicas envolvendo a viga (Costa & Matos,
2000)

Relativamente à Figura 5.23, indica-se uma solução executada com uma


chapa contínua. Este tipo de reforço apresenta o inconveniente de uma
elevada área de betão a preparar e uma maior dificuldade na injecção. Na
ligação superior recomenda-se a utilização de uma cantoneira que é fixada
através de buchas à face inferior da laje.
Na Figura 5.24 e Figura 5.25, apresenta-se um reforço ao esforço transverso
com chapas descontínuas. Nesta solução recomenda-se para além da
cantoneira na face superior, a utilização de cantoneiras na face inferior da viga
ligadas por barras. Deste modo, garante-se uma eficiente amarração das
forças transmitidas pelas bielas de compressão (Costa & Matos, 2000).
Em detrimento da utilização da cantoneira, outra metodologia propõe o
reforço ao corte através de chapas metálicas fixadas à viga com parafusos
munidos de bucha metálica e injecção de resinas epoxy. Este método pode-se
observar na Figura 5.26.

Laje

Viga Parafusos

Chapa metálica
Estribos em chapa metálica

Figura 5.26 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas (Matos, 2000).
Reparação e reforço de vigas de betão armado 131

Na Figura 5.27 pode-se ver o pormenor da fixação da chapa à alma da viga.

Chapa metálica

Porca

Parafuso

Furo

Bucha metálica Adesivo epoxy

Figura 5.27 - Reforço ao corte com chapas e buchas metálicas. Pormenor (Matos, 2000).

5.4 REFORÇO DE VIGAS COM POLÍMEROS REFORÇADOS COM FIBRAS


(FRP)

À semelhança dos reforços com polímeros reforçados com fibras para


pilares, as metodologias de reforço de vigas utilizando os mesmos materiais,
centralizam-se nos polímeros reforçados com fibras de carbono (CFRP).
Nos tópicos seguintes, passam-se a descrever técnicas de reforço à flexão e
ao corte, objecto de estudos laboratoriais que tiveram por finalidade, avaliar o
seu comportamento.

5.4.1 REFORÇO À FLEXÃO

De uma forma geral, os estudos já efectuados sobre o reforço à flexão com


materiais compósitos de CFRP de elementos de betão armado (vigas e faixas
de laje) demonstram que o comportamento estrutural é significativamente
melhorado ao nível da resistência. No entanto, tem-se verificado que é difícil
obter o total aproveitamento do reforço de CFRP, ou seja, atingir a rotura do
compósito em simultâneo com o esmagamento do betão. Isto deve-se ao facto
de se verificar a ocorrência de ruínas prematuras intercalares, ao longo da
junta de ligação betão – adesivo – CFRP, que culminam no destacamento
antecipado do reforço (Dias et al., 2002).
132 Capítulo 5

As técnicas que a seguir se apresentam e que foram sujeitas a ensaios


laboratoriais para aferir a sua performance, cingem-se à colagem de dois
sistemas compósitos de CFRP unidireccionais: o curado “in situ” (manta flexível)
e o pré-fabricado (laminado).
Na Figura 5.28 pode-se observar a aplicação, por colagem superficial, do
sistema de manta flexível unidireccional e do sistema pré-fabricado.

Laminado CFRP
Manta CFRP (2 camadas - 0º)

Figura 5.28 - Reforço à flexão com manta flexível unidireccional e laminados de CFRP
(Dias et al., 2002).

A variante seguinte apresenta um conjunto de mecanismos exteriores de


fixação do compósito longitudinal (neste caso concreto, um sistema curado
“in situ”), tendo-se recorrido a presilhas executadas com mantas de CFRP (ver
Figura 5.29).

Manta CFRP (1 camada - 90º)

Manta CFRP (1 camada - 0º)

Manta CFRP (2 camadas - 0º)


Figura 5.29 - Reforço à flexão com mantas e presilhas flexíveis (Dias et al., 2002).
Reparação e reforço de vigas de betão armado 133

Como se pode observar, o reforço longitudinal é constituído por duas


camadas de manta flexível com as fibras orientadas a 0º. As presilhas de
fixação são constituídas por uma camada de manta com 10 cm de largura e as
fibras com a mesma orientação que o reforço longitudinal; e outra camada de
manta com a mesma largura e maior comprimento mas com as fibras
orientadas a 90º. A Figura 5.30 ilustra esta solução adoptada para as presilhas
executadas com mantas de CFRP.

90º

Figura 5.30 - Presilhas executadas com mantas de CFRP (Dias et al., 2002).

O critério de escolha, sem a preocupação de uma estratégia de reforço ao


corte, do número de presilhas e da sua posição, foi estabelecido recorrendo ao
modelo da treliça de Morsch (Dias et al., 2002).
Os resultados dos ensaios levados a cabo sobre modelos de vigas
reforçadas com estas técnicas, permitiram concluir que a técnica de reforço,
utilizando a colagem de sistemas compósitos de CFRP unidireccionais, resulta
num aumento significativo da capacidade última de carga e num razoável
incremento de rigidez, quando se compara com vigas não reforçadas.
Permitiu ainda constatar que a flecha correspondente à carga máxima
verificada nas vigas reforçadas foi menor e que, apesar das vigas reforçadas
com o sistema da manta apresentarem resultados semelhantes (carga máxima,
flecha máxima, extensão máxima medida), verifica-se que o tipo de mecanismo
exterior de fixação do compósito usado (presilhas) permitiu a rotura do CFRP.
134 Capítulo 5

Mais uma vez atestou-se que as consequências de uma deficiente aplicação


do reforço podem conduzir a uma quase ineficácia deste (Dias et al., 2002).
Uma variante de reforço por laminados de CFRP passa pela inserção em
ranhuras do sistema pré-fabricado, tal como ilustrado na Figura 5.31.

Figura 5.31 - Reforço à flexão com laminados de CFRP (Dias & Barros, Reforço ao Corte
de Vigas T de Betão Armado por Inserção de Laminados de CFRP, 2005).

5.4.2 REFORÇO AO CORTE

A utilização de materiais compósitos de CFRP no reforço ao corte, deriva de


se pretender evitar os aspectos negativos que são apontados às técnicas de
reforço tradicionais já apresentadas.
Basicamente são duas as técnicas de reforço ao corte com materiais
compósitos de CFRP desenvolvidas até ao momento: por colagem externa de
compósitos de CFRP (mantas e laminados) e por inserção de varões de CFRP
em entalhes realizados no betão de recobrimento.
Vários estudos experimentais têm demonstrado que a colagem externa de
compósitos de CFRP (mantas e laminados) permite aumentar
consideravelmente a resistência ao corte de vigas de betão armado. No
entanto, em resultado da ocorrência de roturas prematuras, principalmente
devida ao descolamento antecipado do CFRP, o nível de tensão máxima
aplicado no reforço é bastante inferior à sua resistência última. Além disto,
estes modos de rotura são frágeis e quase instantâneos. Estes factos,
associados à susceptibilidade dos compósitos de CFRP colados externamente
quer à acção do fogo como a actos de vandalismo, têm motivado a realização
de investigação de forma a se contornar os pontos frágeis desta técnica.
Reparação e reforço de vigas de betão armado 135

Assim e nesse sentido, foi desenvolvida a técnica de inserção de laminados


de CFRP em entalhes efectuados no betão de recobrimento das faces laterais
de vigas de betão armado. Esta técnica permite aumentar significativamente a
capacidade de carga, ao mesmo tempo que garante uma maior protecção do
reforço de CFRP pois este encontra-se inserido no interior do elemento
estrutural e não colado externamente. Um dos aspectos menos positivos desta
técnica é a necessidade de ter de se efectuar entalhes com grandes dimensões
no betão de recobrimento, o que se torna num processo moroso (Dias & Barros,
2005) .
Apresenta-se em primeiro lugar, o reforço de vigas de betão armado ao corte
recorrendo a mantas flexíveis de CFRP, coladas externamente.

Apoio Apoio

Figura 5.32 - Reforço de vigas ao corte através de mantas flexíveis de CFRP.

Conforme se pode observar na Figura 5.32, a técnica resume-se à colagem


de faixas de mantas de CFRP. Estas mantas possuem a forma de U,
envolvendo a parte inferior e faces laterais da viga, e as suas fibras
encontram-se orientadas a 90º.
No que diz respeito aos laminados inseridos em entalhes nas faces laterais
das vigas, estes podem ser verticais (ver Figura 5.33) ou inclinados (ver Figura
5.34).
136 Capítulo 5

Figura 5.33 - Reforço ao corte por laminados de CFRP verticais.

Apoio
Figura 5.34 - Reforço ao corte por laminados de CFRP inclinados.

No que diz respeito a estas metodologias apresentadas, investigação


experimental permitiu concluir que a utilização de compósitos de CFRP como
elementos resistentes ao esforço transverso, colados externamente ou
inseridos no betão de recobrimento, permite aumentar significativamente a
capacidade máxima de carga de vigas de betão armado com rotura por corte.
De entre as duas tipologias de reforço (com mantas flexíveis de laminados),
a que permite maior incremento da carga máxima e da capacidade
deformacional das vigas é a baseada na inserção de laminados em entalhes
efectuados no betão de recobrimento das faces laterais das vigas (Dias &
Barros, 2005).
No que diz respeito à inclinação dos laminados de CFRP inseridos em
entalhes, a solução inclinada é mais eficaz. Esta inclinação poderá adoptar os
valores de 45º ou 60º, sendo este último valor o que apresentou maiores
valores de capacidade de carga de serviço nos ensaios experimentais.
Verificou-se, ainda, que o aumento da percentagem de CFRP aplicada foi
acompanhado por um aumento da capacidade resistente máxima da viga. No
entanto, esse aumento não foi proporcional, verificando-se que a solução a 60º
Reparação e reforço de vigas de betão armado 137

foi a que se aproximou mais da referida proporcionalidade. Este facto pode


indiciar a existência de um “ponto óptimo” que optimiza a relação ganho de
resistência / percentagem de CFRP (Dias & Barros, 2006).
Ainda comparando os laminados inseridos em entalhes verticais e inclinados,
os últimos tornam-se mais eficazes à medida que a altura da viga aumenta
(Dias & Barros, 2005).
Os modos de rotura das vigas reforçadas ao corte com laminados de CFRP
inseridos no betão de recobrimento são menos frágeis que os verificados nas
vigas reforçadas com mantas de CFRP coladas externamente e a sua técnica
de execução é mais rápida e fácil de executar, pelo que mais económica (Dias
& Barros, 2005).
138 Capítulo 5
139

CAPÍTULO 6
ESTUDO DE ESTABILIDADE DA SALA DAS
INQUIRIÇÕES DO ARQUIVO DISTRITAL DE BRAGA

6.1 INTRODUÇÃO

Como forma de complementar a parte teórica desta dissertação, segue-se a


análise de um caso prático real, onde se descreve toda a metodologia seguida
para a análise de estabilidade da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de
Braga.
Em 2005, o Arquivo Distrital de Braga (ADB), por intermédio da sua directora,
Dra. Maria da Assunção Vasconcelos†, solicitou aos Serviços Técnicos (STec)
da Universidade do Minho que fosse efectuado um estudo de estabilidade do
edifício do ADB. Por sua vez, os Serviços Técnicos solicitaram o
reencaminhamento deste estudo para o Departamento de Engenharia Civil
(DEC) da Universidade do Minho. Assim, o DEC apresentou uma proposta para
a execução dos trabalhos à reitoria. O início dos trabalhos deu-se após a
adjudicação dos mesmos. Devido às dificuldades de intervenção neste tipo de
edificado foi necessário definir um plano de intervenção faseado. Assim, o
presente capítulo descreve os trabalhos efectuados na Sala das Inquirições,
bem como as principais conclusões obtidas.

6.2 RECOLHA DE INFORMAÇÃO

Para a elaboração do presente estudo foi efectuada uma recolha de


informação disponível. Esta colecta de informação incluiu documentação
existente no ADB, nos STec, na Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais (DGEMN) e, também, através de visitas feitas ao local. Assim, nos
pontos seguintes faz-se referência à documentação seleccionada e,
sumariamente, aos aspectos relevantes verificados nas visitas.


Faleceu em 2006
140 Capítulo 6

6.2.1 DOCUMENTAÇÃO

De toda a documentação existente, a datada a partir do século XX tem


particular relevância para o estudo em causa. Nesta incluem-se memórias,
prospectos, fotografias, e alguns elementos em suporte digital. De seguida,
indica-se sumariamente o âmbito de cada um deles.

a. Memória descritiva original datada de 1931, no qual se descreve a


geometria dos principais elementos estruturais, bem como, a
pormenorização das armaduras e a composição do betão (documento
facultado pela DGEMN). A memória descritiva original está incluída no
Anexo I;

b. Plantas de arquitectura com inclusão da designação das diferentes salas


que constituem o edifício, datada de 1976 (documento facultado pelo ADB).
As plantas de arquitectura estão incluídas no Anexo II;

c. Levantamento geométrico actual em suporte digital, no qual se inclui


apenas plantas de arquitectura dos diferentes pisos que constituem o
edifício em estudo (documento facultado pelos STec);

d. Documento sobre o Antigo Paço Arquiepiscopal de Braga / Biblioteca


Pública e Arquivo Distrital de Braga, que inclui um levantamento
histórico e fotos do edifício (documento em www.monumentos.pt, Fevereiro
de 2006).

6.2.2 VISITAS

No decorrer dos trabalhos, foram efectuadas diversas visitas ao ADB com o


objectivo de recolher informação detalhada, bem como, validar o levantamento
geométrico disponível. Assim, nestas visitas efectuaram-se as seguintes
tarefas:
ƒ recolha de informação fotográfica;
ƒ levantamento de todas as dimensões dos elementos estruturais, bem
como a sua posição relativa;
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 141

ƒ localização das armaduras dos elementos resistentes de betão


armado;
ƒ quantificação da sobrecarga actuante na laje de piso da Sala das
Inquirições;
ƒ extracção de carotes de betão dos pilares e vigas principais, em
número de três na totalidade;
ƒ extracção de um provete de armadura.

6.3 DESCRIÇÃO DO EDIFÍCIO

6.3.1 RESUMO HISTÓRICO

O Antigo Paço Arquiepiscopal de Braga, presentemente Arquivo Distrital de


Braga, Biblioteca Pública de Braga e Reitoria da Universidade do Minho, foi
inicialmente construído no ano de 1336, pelo Arcebispo D. Gonçalo Pereira.
Desde então, foi sujeito a inúmeras obras de ampliação e reconstrução que se
prolongaram até ao século XX.
De 1422 a 1436, o Arcebispo D. Fernando da Guerra, bisneto de D. Pedro I
e D. Inês de Castro, manda reconstruir e ampliar o Paço Arquiepiscopal, sendo
trabalhadores oficiais do Arcebispo, Gil Vasques (carpinteiro), Fernão Martins
(mestre de obras) e João Gonçalves (pedreiro).
Em 1439, é concluída a torre do Paço e entre 1505 e 1532, o Arcebispo
D. Diogo de Sousa manda fazer diversas reformas no Paço e colocar a
chamada “Fonte dos Castelos”, no Largo do Paço.
Entre 1545 e 1549, o Arcebispo D. Manuel de Sousa ordena a construção da
ala Norte do Largo do Paço, e em 1594 é concluída a ala Oeste do Largo do
Paço, mandada fazer pelo Arcebispo D. Frei Agostinho de Jesus. Em 1709, o
Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles amplia o edifício, alterando as fachadas
das alas viradas para o Largo do Paço e manda construir uma capela.
De 1740 a 1750, o Arcebispo D. José de Bragança amplia o Paço,
ordenando a construção do corpo barroco, virado à Praça do Município bem
como a reconstrução da capela mandada fazer pelo seu antecessor. Entre
1758 e 1789, o Arcebispo D. Gaspar de Bragança enriquece a biblioteca do
Paço com um número notável de encadernações.
142 Capítulo 6

Durante o 2º quarto do século XIX, D. Miguel e a sua corte instalam-se no


Paço. Em 1834 os Arcebispos são confinados à parte do edifício situado a Este
do Largo do Paço, sendo instalada no edifício a Prefeitura do Minho e mais
tarde, o Governo Civil e várias repartições públicas.
A 15 de Abril de 1866, um violento incêndio destrói toda a ala barroca, virada
à Praça do Município, assim como parte do espólio da biblioteca de D. Gaspar
de Bragança. Em 1871 são demolidas as ruínas desta ala e as pedras
guardadas.
Em 1911 os Arcebispos são expulsos definitivamente do Paço, sendo lá
instalado o Quartel do Regimento de Infantaria n.º 8, o Tribunal de Comarca e
os Bombeiros Municipais. A 18 de Novembro de 1912, por ordem da Comissão
Central dos Bens Eclesiásticos, foram vendidos à Irmandade da Senhora do
Parto, cinco fontanários existentes no jardim interior do Paço, por 10$00.
A 28 de Março de 1918 o edifício é cedido ao Ministério de Instrução Pública,
instalando-se na ala onde estavam os Arcebispos, o Museu D. Diogo de Sousa.
Em 1920, o Dr. Alberto Feio solicita a adaptação do edifício para biblioteca e
arquivo, tendo-se destruído, em 1921, a capela de D. José de Bragança que se
situava junto à fachada Norte do corpo barroco.
Em 1922 é elaborado o projecto de ampliação do Paço para as novas
instalações da biblioteca e arquivo. Na ala Oeste do Largo do Paço ainda se
encontrava instalado o quartel.
É em 1930 que o Paço sofre profundas obras de transformação e
remodelação para instalação da Biblioteca Pública de Braga e Arquivo Distrital
de Braga, com a intenção de demolir os oito edifícios particulares que fecham o
pátio interior e a reconstrução do corpo barroco. Em 1934 concluem-se as
obras de reconstrução do corpo barroco sob a direcção do Engenheiro Almeida
Freire, e a 1 de Dezembro de 1934, é inaugurada a Biblioteca Pública de Braga.
Da Figura 6.1 à Figura 6.5 apresentam-se diversas fotografias e desenhos
relativos às obras efectuadas.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 143

Figura 6.1 - Desenho do “Alçado F” existente antes do restauro do edifício (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN].

Figura 6.2 - Desenho do “Alçado F” utilizado para a realização do restauro (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN].
144 Capítulo 6

Figura 6.3 - Desenho do “Alçado 6” existente antes do restauro do edifício (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN].

Figura 6.4 - Desenho do “Alçado 6” utilizado para a realização do restauro (desenho não
datado) [Desenho extraído da base de dados da DGEMN].

Em 1937 procede-se a obras de reconstrução no corpo medieval, sob a


direcção dos Engenheiros Jorge Viana e Fernandes de Sá. Em 1939, estas
obras encontram-se praticamente concluídas.
Em 1940 é solicitada a restituição e anulação do contrato de venda dos
cinco fontanários, alegando o incumprimento do mesmo e são entregues
diversas dependências para instalação de um museu etnográfico.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 145

Após a morte do Engenheiro Duarte Pacheco em 1943, é interrompido o


processo de expropriação dos oito edifícios, sendo proposto pelo Vereador
António Maria dos Santos da Cunha, a remoção das grades que fechavam o
Largo do Paço.

(a) (b)
Figura 6.5 - Aspecto do edifício antes (a) e após a conclusão das obras de 1934 (b)
[Fotos extraídas da base de dados da DGEMN].

Durante 1944 procedeu-se à restauração da fachada virada para o Largo


D. João Peculiar, e em 1945 efectuou-se a demolição de uma capela que se
encontrava a NE do Paço, para construção da Rua Eça de Queirós.
Em 1946 é elaborado um projecto de arranjo paisagístico do Largo do Paço,
incluindo a supressão do muro gradeado que fechava o terreiro. Neste mesmo
ano, são cedidos e transportados para o Paço, os cinco fontanários que lhe
pertenciam originalmente. Na Figura 6.6 inclui-se uma fotografia do aspecto do
Paço antes da demolição do gradeado (parcialmente visível no lado esquerdo
da foto).
146 Capítulo 6

Figura 6.6 - Aspecto do Paço antes da supressão do muro gradeado [Foto extraída da
base de dados da DGEMN].

Durante 1947, surge a intenção de demolir o edifício do Mercado Municipal


que se encontrava no meio da Praça do Município, para desafogo do corpo
barroco e dos Paços do Concelho e em 1948, é apresentado pelo Arquitecto
Francisco de Azeredo um projecto para arranjo paisagístico da Praça do
Município. No ano seguinte, em 1949, é elaborado o projecto de mobiliário para
a Biblioteca encontrando-se a ala medieval ainda em reconstrução.
Em 1950 iniciam-se as obras de arranjo da Praça do Município e em 1955, a
construção do Jardim de Santa Bárbara. No dia 14 de Julho do mesmo ano, é
dada autorização para retirar o gradeamento do Largo do Paço.
Procede-se à demolição do Mercado Municipal em 1956, e são retiradas as
grades e o jardim do Largo do Paço, tornando-o uma praça pavimentada e
aberta à Rua do Souto.
Em 1964 e por decisão camarária, os cinco elementos da Fonte do Pelicano
que se encontravam desmantelados no jardim do Paço, foram deslocados para
a Praça do Município e reconstruídos na mesma praça.
Iniciam-se as obras de adaptação das alas central e Este, viradas ao Largo
do Paço, para instalação da reitoria da Universidade do Minho, por ordem da
Direcção-Geral de Construções Escolares (DGCE), em 1973. Na ala destinada
ao Museu D. Diogo de Sousa, a maior parte das dependências estavam
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 147

desocupadas, havendo apenas no primeiro piso uma loja de artesanato da


secção de turismo da Câmara Municipal de Braga, O Tribunal de Comarca e no
segundo piso, a Alliance Française e o Instituto Minhoto de Estudos Regionais.
Em 1976, o Arquivo Distrital e a Biblioteca Pública são integradas na
Universidade do Minho, e em 1977, o Museu D. Diogo de Sousa abandona as
instalações do Paço.

6.3.2 TIPOLOGIA

A arquitectura do edifício apresenta uma mistura de vários estilos tais como


o gótico, maneirismo, barroco, rococó e revivalista, com um marcado vinco
religioso residencial.
Em planta apresenta três corpos diferenciados de épocas distintas (ver
Figura 6.7), que se foram interligando, formando uma configuração irregular.
Assim, este conjunto constitui um corpo quinhentista com traços de maneirismo
misturados com elementos decorativos barrocos; um corpo medieval de origem
gótica, reconstruído no século XX segundo modelos neogóticos; e um corpo
barroco, totalmente refeito no século XX, com decorações barrocas e rococós.
Apresentam-se nas figuras seguintes, as plantas dos vários pisos que
compõem o edifício. Estas plantas foram facultadas pelos STec e
correspondem, de uma forma aproximada a utilização actual do edifício.
Refira-se que a ala mais à direita (de acordo com a Figura 6.7), assim como,
o corpo horizontal seguinte são utilizados pela reitoria e serviços
administrativos da Universidade do Minho, enquanto que as restantes alas são
utilizadas pelo Arquivo Distrital e pela Biblioteca Pública. O tipo de utilização
das diferentes partes que constituem o edifício, mais ou menos actual, pode ser
encontrado através da consulta das plantas existentes no Anexo II. Nestas
plantas também pode ser encontrada a designação que foi atribuída às
diferentes salas.
Da Figura 6.8 à Figura 6.10 apresentam-se as actuais plantas de
arquitectura dos diferentes pisos que constituem o Largo do Paço. Nestas
encontra-se assinalada, a linha interrompida, a sala objecto de estudo do
presente relatório.
148 Capítulo 6

Figura 6.7 - Localização do Arquivo Distrital de Braga.

Figura 6.8 - Planta do Piso 1 (desenho facultado pelos STec em suporte digital).
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 149

Figura 6.9 - Planta do Piso Intermédio (desenho facultado pelos STec em suporte digital).

Figura 6.10 - Planta do Piso 2 (desenho facultado pelos STec em suporte digital).
150 Capítulo 6

6.4 ESTUDO DA SALA DAS INQUIRIÇÕES

Tal como referido anteriormente, no presente capítulo apenas se incluem os


estudos efectuados ao nível da Sala das Inquirições. Assim, nas próximas
secções apresenta-se o levantamento geométrico efectuado aos elementos
estruturais de betão armado, bem como, as inspecções e ensaios realizados
com vista à caracterização mecânica do betão e das armaduras. Foi também
determinada a localização e quantificação das armaduras nos diferentes
elementos estruturais.

6.4.1 CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA

De forma a se definir correctamente a geometria dos elementos estruturais,


nomeadamente vigas, pilares e laje da Sala das Inquirições, começou-se por
validar o levantamento geométrico existente, facultado pelos STec, através de
medições com o auxílio de fita métrica e distanciómetro a laser.
Na Figura 6.11 apresenta-se a planta estrutural da laje do Piso 2. É possível
constatar que a laje de piso é suportada por diversas nervuras. Por sua vez
estas nervuras descarregam a sua carga nas paredes de fachada e nas vigas
principais V1, V2 e V3. Parte desta carga das vigas é suportada por três pilares
P1, P2 e P3.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 151

P3 V3
N1

P2 V2

P1 V1

Figura 6.11 - Identificação dos elementos estruturais.

Na Figura 6.12 apresenta-se a planta estrutural da laje de piso com inclusão


das dimensões dos diferentes elementos estruturais resultantes do
levantamento geométrico efectuado. Refira-se que estas medidas incluem o
reboco aplicado, sendo este valor muito variável (valores de 1 cm a 4 cm). Não
se incluem dimensões das vigas V1 e V2, bem como do pilar P1, em virtude de
o acesso a estes elementos estruturais ser extremamente difícil envolvendo,
não só a movimentação de livros centenários, mas também a realização de
trabalhos de carpintaria para a remoção dos ornamentos existentes.
152 Capítulo 6

1.80 1.73 1.77 1.68


0.23 1.69 1.69
0.23 1.62
0.23 0.23
0.23
0.23

3.27
P3
V3 0.54
6.02

0.55
1.79 1.72 1.70 1.71 1.73 1.69
1.67

0.34
N1

3.42
0.24 0.23 0.23
0.23 0.23
0.23
P2
V2 0.54
6.05

0.56
1.76 1.72 1.66 1.71 1.74
1.67 1.79
0.25 0.23 0.24
16.69

0.24 0.24 0.23

3.49
V1 P1 5.95

1.91 1.73 1.60 1.50 1.72 1.78 1.89


0.23 0.24 0.24
0.22 0.25 0.23

4.46
13.58

(a)

13.35
4

15.70
.7

20
20

.6
16.69

13.58

(b)
Figura 6.12 - Levantamento geométrico efectuado: (a) geometria das nervuras, vigas e
pilares; (b) geometria em planta da laje de piso da Sala das Inquirições.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 153

A espessura da laje foi determinada em duas zonas distintas: através da


realização de um furo F1 (ver Figura 6.11) e através de um buraco realizado na
laje (ver na Secção 6.4.2). Através destes foi possível concluir que a laje tem
uma espessura aproximada de 15 a 18 cm (incluindo reboco da face inferior e
revestimentos na face superior).

6.4.2 DETECÇÃO DAS ARMADURAS

Com o objectivo de validar os dados incluídos no projecto original,


procedeu-se à detecção das armaduras dos vários elementos estruturais de
betão armado que constituem a estrutura em causa. Esta detecção foi
efectuada com recurso a métodos não destrutivos e através de abertura de
roços. Adoptaram-se os seguintes métodos não destrutivos: o detector de
armaduras e o georadar. Contudo, devido às limitações destes dois métodos
houve necessidade de efectuar algumas detecções de armaduras através da
realização de roços.
No Anexo III inclui-se o relatório relativo à detecção das armaduras com
recurso ao georadar. Na Figura 6.13 ilustram-se fotos relativas à realização dos
trabalhos detecção das armaduras com recurso ao georadar.
O recurso à realização de roços nos elementos estruturais deveu-se
fundamentalmente ao facto dos métodos anteriormente referidos não indicarem
com o rigor pretendido o diâmetro das armaduras, bem como eventual
sobreposição de armaduras. Assim, efectuaram-se roços nos pilares P2 e P3
(no terço inferior, em termos de altura dos pilares), na viga principal V3, na
nervura N1, bem como na laje de piso da Sala das Inquirições (ver Figura 6.11
a localização das zonas de intervenção). Da Figura 6.14 à Figura 6.16
apresentam-se fotos dos roços efectuados. Refira-se ainda que, no caso dos
pilares, apenas se efectuaram roços em parte da secção transversal em virtude
dos consideráveis valores de recobrimento encontrados. Com base nestes
roços foi possível extrair as seguintes conclusões:
ƒ os valores dos recobrimentos das armaduras apresentam uma amplitude
considerável, variando entre 3.5 cm e 13 cm;
ƒ os diâmetros das armaduras longitudinais não apresentam valor constante;
154 Capítulo 6

ƒ todas as armaduras inspeccionadas apresentam-se em excelente estado


de conservação com ausência de quaisquer vestígios de corrosão.

(a) (b)
Figura 6.13 - Utilização do georadar para detecção das armaduras transversais (a) e as
armaduras longitudinais (b) no pilar P2.

(a) (b)
Figura 6.14 - Armaduras longitudinais visíveis no pilar P2.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 155

Varão superior

Varão inferior

(a) (b)
Figura 6.15 - (a) Armadura longitudinal inferior e estribos da viga V3; (b) Armadura
longitudinal inferior com disposição em duas camadas na nervura N1.

Figura 6.16 - Armadura da laje de piso da Sala das Inquirições. Nesta figura é também
visível a armadura de momentos negativos da viga V3.

6.4.3 ANÁLISE COMPARATIVA

Após a conclusão do levantamento geométrico e detecção das armaduras,


procedeu-se a uma análise comparativa dos resultados obtidos pelos diferentes
métodos utilizados e o que consta da memória descritiva do projecto original.
Esta análise encontra-se sintetizada na Tabela 6.1.
Nos parágrafos que seguem apresenta-se uma análise à Tabela 6.1, bem
como os valores adoptados para os diversos parâmetros de caracterização dos
diferentes elementos estruturais necessários aos estudos de estabilidade
efectuados e descritos na secção 6.5.
156 Capítulo 6

Pilares
Relativamente aos pilares verifica-se que existe uma significativa
discrepância entre os elementos do projecto original e o efectivamente
existente. Curiosamente verifica-se que associada à diminuição das dimensões
da secção transversal, existe um acréscimo de armadura. Contudo, com esta
variação (do projecto original para o executado) há uma diminuição da
capacidade resistente em cerca de 40%. Nestas circunstâncias e atendendo ao
facto de não ter sido possível efectuar um levantamento exaustivo,
adoptaram-se valores conservativos, a saber:
ƒ geometria da secção transversal: 0.48 x 0.48 m2;
ƒ armadura longitudinal: 4Ø25;
ƒ armadura transversal (cintas): Ø6//0.50.

Vigas principais
No caso das vigas principais verificou-se uma maior concordância entre o
projecto original e o executado. Refira-se que não foi possível determinar a
quantidade de armadura longitudinal superior em virtude das vigas se
localizarem em zonas de estantes com livros. Assim, nestas circunstâncias
consideram-se os seguintes valores:
ƒ geometria da secção transversal (base x altura): 0.30 x 0.60 m2;
ƒ armadura longitudinal inferior: 4Ø28;
ƒ armadura longitudinal superior: 4Ø25;
ƒ armadura transversal (estribos): Ø6//0.225.

Nervuras
Também para as nervuras verificou-se concordância entre o projecto original
e o existente. Assim, consideram-se os seguintes valores:
ƒ geometria da secção transversal (base x altura): 0.20 x 0.30 m2;
ƒ armadura longitudinal inferior: 4Ø24;
ƒ ausência de armadura superior;
ƒ armadura transversal (estribos): Ø6//0.15.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 157

Laje
Os valores adoptados para o estudo da laje foram os seguintes:
ƒ espessura: 0.10 m;
ƒ armadura na direcção do menor vão: Ø9//0.20;
ƒ armadura na direcção do maior vão: Ø9//0.15.
158 Capítulo 6

Tabela 6.1 - Análise comparativa entre o projecto original, levantamento geométrico e


inspecção visual e resultados obtidos através do georadar.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 159

Tabela 6.1 (Cont.) – Análise comparativa entre o projecto original, levantamento


geométrico e inspecção visual e resultados obtidos através do georadar.
160 Capítulo 6

6.4.4 CARACTERIZAÇÃO DOS MATERIAIS ESTRUTURAIS

Com o objectivo de caracterizar mecanicamente o betão e o aço existente na


estrutura procedeu-se à extracção de carotes de betão e provetes de armadura,
respectivamente. Nas secções que se seguem descrevem-se os trabalhos
efectuados e os resultados obtidos.

6.4.4.1 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DO BETÃO

Foram extraídas 3 carotes de betão com vista à caracterização mecânica do


betão. Duas carotes foram extraídas dos pilares P2 e P3 sensivelmente a meia
altura destes, e uma carote foi extraída na viga V2, sensivelmente a um terço
do vão (junto ao pilar P2). A título ilustrativo apresenta-se na Figura 6.17 uma
foto relativa à extracção da carote no pilar P2. No Anexo IV apresentam-se
mais detalhes relativos à extracção, realização dos ensaios e obtenção dos
resultados.

Figura 6.17 - Extracção da carote de betão do pilar P2.


Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 161

Na caracterização das propriedades do betão a partir de provetes extraídos


de betão in situ, foi utilizada a pré-norma prEN 13791 (Technical Committee
CEN/TC 104 2003). Esta norma define que a resistência característica é dada
pelo menor dos seguintes dois valores:

fck ,is = fm( n ),is − k (6.1)

fck ,is = fis,lowest + 4 (6.2)

em que fm( n ),is é a resistência média dos provetes, fis,lowest é a menor


resistência dos provetes, e k é igual a 6.0, quando o número de provetes varia

entre 3 e 6. No presente caso fm( n ),is = 25.9 MPa e fis,lowest = 20.0 MPa .
Assim, os resultados obtidos conduzem uma resistência característica do
betão de 19.9 MPa (consultar o Anexo IV). De acordo com a pré-norma
prEN 13791 (2003) esta resistência corresponde a um betão da classe C20/25.
Por último será de referir que esta classe de betão corresponde à classe
expectável para estruturas com antiguidade idêntica.

6.4.4.2 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DAS ARMADURAS

Com vista à caracterização mecânica da armadura foi extraído uma amostra


de armadura existe na laje. Para tal aproveitou-se a abertura realizada na laje
aquando da detecção das armaduras (ver Figura 6.16). No Anexo V
apresenta-se os resultados obtidos no ensaio de tracção efectuado. Face aos
resultados obtidos irá considerar-se que as armaduras da presente estrutura
pertencem à classe de resistência A235. Refira-se, mais uma vez, a classe de
resistência obtida corresponde à classe expectável para estruturas com
antiguidade idêntica.
162 Capítulo 6

6.5 CÁLCULOS DE ESTABILIDADE

Os cálculos de estabilidade efectuados envolvem a verificação da segurança


aos correspondentes Estados Limite Últimos de todos os elementos estruturais
de suporte à Sala das Inquirições, nomeadamente laje, nervuras, vigas
principais e pilares.
Foram efectuadas duas análises distintas. Uma primeira referente às actuais
condições de carregamento (situação actual) e, uma segunda correspondente
à solicitação regulamentar.

6.5.1 QUANTIFICAÇÃO DAS ACÇÕES

6.5.1.1 SOBRECARGA PARA A SITUAÇÃO ACTUAL

A Sala das Inquirições serve presentemente de arquivo a documentos


processuais e a variadas publicações. Estes documentos estão armazenados
em diversas prateleiras, sendo as mais relevantes para este trabalho, as que
se encontram no centro da sala. Tratam-se de 9 estantes metálicas de 8.15 m
de comprimento, 0.60 m de largura e 2.40 m de altura. Na Figura 6.18
apresenta-se uma foto da Sala das Inquirições na qual se desta o arquivo aí
existente.
Como forma de quantificar o peso das estantes, estas foram divididas em
dois grupos distintos em virtude da carga, a saber: quatro do tipo T1 e cinco do
tipo T2. A distribuição espacial das estantes encontra-se ilustrada na Figura
6.19.
Foram pesadas 10 pastas retiradas aleatoriamente de cada tipo de estante
(T1 e T2), tendo-se obtido o correspondente peso (ver Figura 6.20). Na Tabela
6.2 apresentam-se os valores obtidos para cada uma das pastas pesadas,
assim como, o correspondente valor médio.
Atendendo a que cada estante é constitutiva por 9 divisões em planta, 6
prateleiras, e em cada prateleira existem 2 filas de 8 pastas, obtém-se a
seguinte carga para as estantes tipo T1 (ver Figura 6.21):
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 163

Qm,T 1 =9 divisões × 6 prateleiras × 2 filas × 8 pastas × 3.82 kgf


(6.3)
=3300.5 kgf = 32.37 kN

De igual forma também é possível obter o peso das estantes do tipo T2 (ver Figura
6.21):

Qm,T 2 =9 divisões × 6 prateleiras × 2 filas × 8 pastas × 4.98 kgf


(6.4)
=4302.7 kgf = 42.20 kN

Figura 6.18 - Vista geral da Sala das Inquirições.


164 Capítulo 6

1.90

1.88
2.64
T.2
2.58

0.87
T.2

1.00
T.2

0.75
T.2

0.81
T.2

0.90
T.1

0.96
T.1

0.94
T.1

0.82
0.60

T.1
2.63
8.15

Figura 6.19 - Distribuição das estantes na Sala das Inquirições.

Tabela 6.2 - Peso em kilogramas força das pastas das estantes tipo.

Pasta Estante tipo T1 Estante tipo T2

1 3.70 5.00
2 4.00 5.00
3 4.00 5.30
4 3.70 4.50
5 4.00 4.50
6 3.55 4.80
7 3.75 5.00
8 3.75 5.65
9 3.80 4.80
10 3.90 5.10
Média 3.82 (4.1%) 4.98 (7.0%)
Nota: o valor entre parêntesis corresponde ao coeficiente de variação.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 165

Figura 6.20 - Pesagem das pastas existentes nas estantes da Sala das Inquirições.

Assim, o valor total aproximado da sobrecarga correspondente às estantes


existentes presentemente na Sala das Inquirições é igual a:

Qm = 4 x Qm,T1 + 5 x Qm,T2 = 340.48 kN (6.5)

Sabendo que a área da sala onde as estantes se encontram implantadas é


aproximadamente igual a 12.41 m x 8.15 m = 101.14 m2 obtém-se a seguinte
sobrecarga uniformemente distribuída:

340.48 kN
qm = = 3.4 kN/m2 (6.6)
101.14 m2

Assim, o valor indicado na expressão (6.6) será utilizado como valor


característico da sobrecarga nas análises efectuadas para as actuais
condições de carregamento. A adopção desta carga uniforme ao longo de toda
a laje poderá não constituir o cenário mais desfavorável.
166 Capítulo 6

6.5.1.2 SOBRECARGA REGULAMENTAR

De acordo com o Eurocódigo 1 – Parte 1.1 (CEN, 2002) o tipo de utilização


da sala em estudo enquadra-se na categoria E1, à qual está associada uma
sobrecarga, qk, igual a:

qk =7.5 kN/m2 (6.7)

Figura 6.21 - Aspecto geral das estantes.

6.5.2 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DA LAJE

6.5.2.1 DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS

Na verificação da segurança da laje da Sala das Inquirições consideram-se


as seguintes acções actuantes:
ƒ Acções permanentes
- peso próprio da laje (espessura de 0.10 m) …………….. 2.5 kN/m2
- peso próprio dos revestimentos (espessura de 0.08 m)…1.6 kN/m2
ƒ Acções variáveis
- Análise 1: sobrecarga actual ……………………………... 3.4 kN/m2
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 167

- Análise 2: sobrecarga regulamentar ……………………… 7.5 kN/m2


Nestas circunstâncias os valores de cálculo da carga actuante por unidade
de área para ambos os estudos são os seguintes, respectivamente:

pSd ,1 = 1.35 × g k + 1.5 × qk


(6.8)
= 1.35 × 4.1 + 1.5 × 3.4 = 10.6 kN m2

pSd ,2 = 1.35 × g k + 1.5 × qk


(6.9)
= 1.35 × 4.1 + 1.5 × 7.5 = 16.8 kN m2

Com base no levantamento geométrico efectuado (ver Figura 6.12)


constata-se que a laje se encontra apoiada em todo o seu contorno quer nas
nervuras quer nas vigas principais. O facto de haver uma significativa rigidez
relativa entre as nervuras e as vigas principais, poderá conduzir a um
comportamento essencialmente unidireccional. Por outro lado será de realçar
que existe variação da geometria dos diferentes painéis. Por último, refere-se o
facto do posicionamento das armaduras quer de momentos positivos, quer de
momentos negativos ser a meia altura da laje. Perante este cenário e com o
objectivo de verificar a segurança da laje, optou-se por efectuar uma
modelação por elementos finitos. Assim, na Figura 6.22 apresenta-se a
geometria adoptada para os painéis que constituem a laje. Esta teve por base o
levantamento geométrico efectuado (ver Secção 6.4.1). Por simplificação
admitiu-se que, quer os alinhamentos verticais, constituídos pelas nervuras,
quer os alinhamentos horizontais, constituídos pelas vigas principais eram
perfeitamente rectilíneos. Para a análise numérica utilizou-se o software de
elementos finitos FEMIX (Sena et al., 2007). A estrutura laminar foi modelada
com elementos finitos de casca (formulação de Mindlin) de 8 nós com
integração Gauss-Legendre 2x2. As nervuras e as vigas também foram
modeladas com recurso a elementos de casca, com o objectivo da sua rigidez
relativa ser tida em consideração na modelação, tendo sido adoptada a mesma
ordem de integração da laje. Foram adoptados elementos de barra na
modelação dos pilares.
168 Capítulo 6

0.7 1.91 1.96 1.99 1.9 1.91 1.91 1.73

0.94
3.91

22 23 24 25 26

3.44
27 28
4.03

15 16

3.76
17 18 19 20 21
3.98

8 9 10 11 12

3.8
13 14
4.68

4.65
1 2 3 4 5 6 7
x

2.09 1.96 1.83 1.73 1.95 2.01 2.01

Figura 6.22 - Geometria adoptada para os painéis no estudo da laje. Nota: as dimensões
indicadas na figura encontram-se em metros.

Para as condições de apoio da estrutura, admitiu-se que a laje se encontra


simplesmente apoiada em todo o seu contorno. Na base dos pilares admitiu-se
encastramento perfeito. Na Figura 6.23 apresenta-se o aspecto geral da malha
de elementos finitos utilizada na modelação da estrutura.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 169

Figura 6.23 - Malha de elementos finitos utilizada no estudo da laje.


170 Capítulo 6

Em conformidade com o anteriormente dito foram elaborados dois estudos


de estabilidade distintos. O primeiro correspondente à situação actual de
carregamento e o segundo correspondente à solicitação regulamentar. Assim,
para se efectuarem estes estudos consideram-se as seguintes combinações de
acções indicadas na Tabela 6.3. Na Figura 6.24 apresenta-se a malha de
elementos finitos utilizada nas simulações numéricas. Nesta também se inclui a
zona em que se admitiu a existência da sobrecarga para as actuais condições
de carregamento (ver trama na Figura 6.24).

Tabela 6.3 - Combinações de acções usadas no estudo da laje.


Combinação Análise Valor de cálculo das acções
• Na zonas das estantes: 10.6 kN/m2
1 Situação actual
• Nas restantes zonas: 8.6 kN/m2
• Nos painéis ímpar: 16.8 kN/m2
2 Situação regulamentar
• Nos painéis par: 5.6 kN/m2
• Nos painéis ímpar: 5.6 kN/m2
3 Situação regulamentar
• Nos painéis par: 16.8 kN/m2
• Painéis 1 a 7 e 15 a 21: 16.6 kN/m2
4 Situação regulamentar
• Restantes painéis: 5.6 kN/m2
• Painéis 8 a 14 e 22 a 28: 16.6 kN/m2
5 Situação regulamentar
• Restantes painéis: 5.6 kN/m2

6 Situação regulamentar • Todos os painéis: 16.8 kN/m2


Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 171

Figura 6.24 - Malha de elementos finitos utilizada no estudo da laje.

Da Figura 6.25 à Figura 6.30 apresentam-se as deformadas relativas às 6


combinações de acções usadas no estudo da laje. A partir destas é possível
constatar a complexidade de funcionamento da laje, sendo claro que os três
pilares existentes “criam” uma zona de elevada rigidez que fazem com que a
laje, numa “primeira fase” tenha um funcionamento unidireccional. Nestas é
também notório que as maiores deformações ocorrem nos painéis de
extremidade em virtude da sua localização e pelo facto de apresentarem
maiores vãos
172 Capítulo 6

Figura 6.25 - Deformada da laje para a combinação 1: situação actual.

Figura 6.26 - Deformada da laje para a combinação 2: situação regulamentar com


sobrecarga nos painéis ímpar.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 173

Figura 6.27 - Deformada da laje para a combinação 3: situação regulamentar com


sobrecarga nos painéis par.

Figura 6.28 - Deformada da laje para a combinação 4: situação regulamentar com


sobrecarga nos painéis 1 a 7 e 15 a 21.
174 Capítulo 6

Figura 6.29 - Deformada da laje para a combinação 5: situação regulamentar com


sobrecarga nos painéis 8 a 14 e 22 a 28.

Figura 6.30 - Deformada da laje para a combinação 6: situação regulamentar com


sobrecarga em todos os painéis.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 175

6.5.2.2 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESFORÇOS DE FLEXÃO

A determinação das necessidades de armadura foi efectuada com recurso a


um módulo de cálculo automático de armaduras existente no FEMIX. Este
módulo realiza o cálculo das armaduras de acordo com a proposta de Lourenço
e Figueiras (1993). No Anexo VI apresentam-se as necessidades de armaduras
obtidas para todas as combinações de acções. Inclui-se uma síntese das
necessidades na Tabela 6.4.
Na Secção 6.4.3 encontra-se referido que, com base no levantamento
efectuado, as armaduras existentes na laje são as seguintes (ver também
Figura 6.24):

Asx (∅9 // 0.20) = 3.18 cm2 m (6.10)

Asy ( ∅9 // 0.15 ) = 4.24 cm2 m (6.11)

Assim, com base nas armaduras existentes na laje e nos resultados obtidos
da modelação é possível concluir, em termos de esforços de flexão, que:
ƒ para as actuais condições de carregamento a laje em algumas zonas não
verifica as condições de segurança. O défice de armaduras para resistir
aos momentos flectores positivos na direcção x, ocorre fundamentalmente
nos painéis de canto. No que diz respeito às armaduras para resistir aos
momentos flectores negativos, o défice é junto aos pilares na direcção x e
perpendicularmente às vigas principias na direcção y. Refira-se que nestes
painéis foi considerada uma sobrecarga (regulamentar) de 2 kN/m2. Este
valor excede em muito o valor actualmente existente;
ƒ para as condições de carregamento regulamentares, verifica-se que a laje
apresenta um défice de armadura considerável, em especial nos painéis de
canto. Nestas circunstâncias pode-se afirmar que a laje não verifica as
condições de segurança.
176 Capítulo 6

Tabela 6.4 - Necessidades de armadura em [cm2/m] para as diferentes combinações.


+ + − −
Combinação Asx Asy Asx Asy

1 4.28 3.23 15.24 10.24


2 6.26 4.93 19.20 11.74
3 5.80 5.68 19.14 12.58
4 7.82 6.02 21.59 15.50
5 6.43 4.46 18.15 11.34
6 7.67 6.90 28.62 17.37

6.5.2.3 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AO ESFORÇO TRANSVERSO

A determinação da capacidade resistente da laje aos esforços transversos


foi efectuada em conformidade com o postulado em 6.2 do Eurocódigo 2 (CEN,
2004). De acordo com esta regulamentação o esforço resistente é dado pela
seguinte expressão:

v Rd = v Rd ,c = CRd ,c k (100 ρ l fck )


13
d ≥ 0.035k 3 2fck1 2 (6.12)

No presente caso, os parâmetros que constituem a expressão (6.12) tomam


os seguintes valores:

CRd ,c = 0.12

k =2
ρlx 6.989 10 ; ρly 9.319 10
fck = 20 MPa

d = 4.55 mm

Assim, os valores obtidos são os seguintes:

v Rd ,x = 26.3 kN/m (6.13)


Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 177

v Rd ,y = 29.0 kN/m (6.14)

Na Tabela 6.5 indicam-se os valores de cálculo do esforço transverso


actuante para as diferentes combinações. Comparando estes valores com os
correspondentes valores resistentes verifica-se que a laje verifica a segurança
quer para a situação actual quer para a situação regulamentar de
carregamento.

Tabela 6.5 - Valores de cálculo do esforço transverso actuante para as diferentes


combinações em [kN/m].
Esforço
Comb. 1 Comb. 2 Comb. 3 Comb. 4 Comb. 5 Comb. 6
transverso
vEd,x [kN/m] 11.2 17.1 14.3 21.4 13.7 16.4
vEd,y [kN/m] 14.9 14.3 14.2 17.9 15.0 15.4

6.5.3 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DAS NERVURAS

6.5.3.1 DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS

Para a determinação dos esforços nas nervuras considerou-se como


esquema estrutural o ilustrado na Figura 6.31. Foi considerado o cenário mais
desfavorável, i.e., seleccionou-se a nervura que apresentasse maior vão e
maior largura de influência. Assim foi-se conduzido aos seguintes valores:
L = 4.5 m e uma largura de influência de 2.0 m.

Figura 6.31 - Esquema estrutural adoptado no cálculo dos esforços das nervuras.

Tal como no estudo da laje, também aqui foram efectuadas duas análises,
uma para a situação actual e outra para a solicitação regulamentar, as quais
conduziram aos seguintes valores de cálculo actuantes:
178 Capítulo 6

pSd ,1 = acções da laje×largura de influência + peso próprio da viga

(
=10.6 kN m2 × 2.0 m + 1.35 × 25 kN m3 × 0.2 m × 0.3 m ) (6.15)
= 23.2 kN m
e
pSd ,2 = acções da laje×largura de influência + peso próprio da viga

(
=16.8 kN m2 × 2.0 m + 1.35 × 25 kN m3 × 0.2 m × 0.3 m ) (6.16)

= 35.6 kN m

Estas acções conduzem aos seguintes valores de cálculo dos esforços


transversos (VEd,1 e VEd,2) e momentos flectores (MEd,1 e MEd,2):

23.2 × 4.5
VEd ,1 = = 52.2 kN (6.17)
2

35.6 × 4.5
VEd ,2 = = 80.1 kN (6.18)
2

23.2 × 4.52
MEd ,1 = = 58.7 kN ⋅ m (6.19)
8

35.6 × 4.52
MEd ,2 = = 90.1 kN ⋅ m (6.20)
8

6.5.3.2 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESFORÇOS DE FLEXÃO

Para a verificação da segurança aos esforços de flexão procedeu-se à


determinação da capacidade resistente da secção transversal das nervuras,
tendo sido adoptado o modelo referido em 3.1.7(3) do Eurocódigo 2 (CEN,
2004). Na Figura 6.32 apresentam-se os principais parâmetros para a
determinação do momento resistente da secção transversal das nervuras.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 179

0.80x
f cd

Fc

0.24 m
0.30 m

x
Fs

As=4Ø24
0.20 m
Figura 6.32 - Secção transversal das nervuras.

Assim, a força resultante do bloco rectangular de tensões no betão é dada


por:

Fc = 0.8 ⋅ x ⋅ 0.20 ⋅ fcd = 2133.33 x (6.21)

enquanto que a força resultante das armaduras, na hipótese destas estarem


plastificadas é dada por

235 × 103
Fs = As fyd = 18.10 × 10 −4 × = 369.9 kN (6.22)
1.15

A determinação da posição do eixo neutro, x, resulta da igualdade das


expressões (6.21) e (6.22), conduzindo a

x = 0.17 m (6.23)

Sabendo que nas fibras mais comprimidas de betão se encontra instalada


uma extensão εcu3 = 3.5 ‰, e que a posição do eixo neutro dada pela
expressão (6.24), a extensão nas armaduras, εs, é determinada através da
seguinte expressão
180 Capítulo 6

3.5 × 10 −3 3.5 × 10 −3 + ε s
=
0.17 m 0.24 m (6.24)
−3
⇔ ε s = 1.44 × 10

Como a extensão de cedência das armaduras, εyd, é igual a 1.02‰, logo a


hipótese da plastificação das armaduras está correcta. Nestas circunstâncias o
momento resistente é dado por

MRd = Fc × ( d − 0.4 x )
(6.25)
= 2133.33 × 0.17 × ( 0.24 − 0.4 × 0.17 ) = 62.4 kN ⋅ m

Em virtude do valor obtido e atendendo aos momentos actuantes dados nas


expressões (6.19) e (6.20), em termos de esforços de flexão é possível concluir
o seguinte:
ƒ para a situação actual as nervuras verificam as condições de segurança;
ƒ para o carregamento regulamentar as nervuras não verificam as
condições de segurança.

6.5.3.3 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESFORÇOS DE CORTE

De acordo com cláusula 6.2.3(1) do Eurocódigo 2 (CEN, 2004) a capacidade


resistente de vigas ao esforço transverso que não necessitam de armadura
específica é dada por:

VRd ,c = CRd ,c k (100 ρ l fck )


13
bw d ≥ 0.035k 3 2fck1 2bw d (6.26)

No presente caso, os parâmetros que constituem a expressão (6.26) tomam


os seguintes:

CRd ,c = 0.12

200
k = 1+ = 1.913
240
18.10
ρl = = 0.0377 ⇒ ρl = 0.02
20 × 24
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 181

fck = 20 MPa

bw = 200 mm

d = 240 mm

Assim, obtém-se o valor de

VRd ,c = 37.7 kN (6.27)

Dado que a capacidade resistente das nervuras ao esforço transverso na


ausência de armadura específica é inferior ao valor de cálculo do esforço
transverso actuante, será necessário verificar a segurança com a inclusão das
armaduras de esforço transverso. Assim, de acordo com Eurocódigo 2 (CEN,
2004) a capacidade resistente de vigas ao esforço transverso com armadura
específica é dada por:

VRd = min {VRd ,s ; VRd ,max }


⎧A (6.28)
= min ⎨ sw z fywd cot θ ; α cw bw zν 1fcd ( cot θ + tanθ )⎫⎬
⎩ s ⎭

No presente caso, os parâmetros que constituem a expressão (6.28) tomam


os seguintes valores:

Asw = 2 × 0.28 × 10 −4 m2

s = 0.15 m
z = 0.9d = 0.9 × 0.24 = 0.216 m

fywd = 235 1.15 MPa

cot θ = 2.5
α cw = 1.0

ν 1 = 0.6

fcd = 20 1.5 MPa


182 Capítulo 6

Assim, segundo o Eurocódigo 2 (CEN, 2004) a capacidade resistente é dada


por:

VRd = 41.2 kN (6.29)

Assim, tomando como valor para a capacidade resistente ao esforço


transverso o valor indicado na equação (6.29) e comparando este com os
esforços de cálculo actuantes a uma distância d dos apoios (VEd,1 = 46.6 kN e
VEd,2 = 71.6 kN) é possível concluir o seguinte:
ƒ quer para a situação actual, quer para o caso da sobrecarga
regulamentar, as nervuras não verificam a segurança ao esforço
transverso;
ƒ contudo, para a situação actual a diferença é próxima dos 10%, podendo
afirmar-se que nestas circunstancias as condições de segurança são
verificadas.

6.5.4 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DAS VIGAS

6.5.4.1 DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS

Para a determinação dos esforços actuantes nas vigas procedeu-se de


forma idêntica à adoptada para as nervuras. Assim, considerou-se como
esquema estrutural o ilustrado na Figura 6.33. Foi considerado o cenário mais
desfavorável, i.e., seleccionou-se a viga que apresentasse maior vão e maior
largura de influência. Assim foi-se conduzido a uma largura de influência de
4.35 m.

p1 p2

7.30 m 6.20 m
Figura 6.33 - Esquema estrutural adoptado no cálculo dos esforços das vigas principais.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 183

Para estudo deste elemento estrutural consideram-se 4 combinações. A


primeira corresponde à situação actual, enquanto que as restantes 3 dizem
respeito à sobrecarga regulamentar, no qual se considerou alternância de
sobrecargas. Nos próximos parágrafos detalha-se a determinação das cargas
actuantes.

Combinação 1: situação actual com sobrecarga em ambos os tramos

p1 = p2 = acção proveniente da laje +p.p. das nervuras + p.p. da viga


= 10.6 kN m2 × 4.35 m +
(
1.35 × 25 kN m3 × 0.2 m × 0.3 m × 6 nervuras ) ( 7.3 m + 6.20 m ) + (6.32)
1.35 × ( 25 kN m 3
× 0.3 m × 0.6 m )
= 46.1 + 3.9 + 6.1 = 56.1 kN m

Combinação 2: situação regulamentar com sobrecarga no 1º tramo

p1 = acção proveniente da laje +p.p. das nervuras + p.p. da viga


= 16.8 kN m2 × 4.35 m +
(
1.35 × 25 kN m3 × 0.2 m × 0.3 m × 6 nervuras ) ( 7.3 m + 6.20 m ) + (6.33)
1.35 × ( 25 kN m 3
× 0.3 m × 0.6 m )
= 73.1 + 3.9 + 6.1 = 83.1 kN m

p2 = acção proveniente da laje +p.p. das nervuras + p.p. da viga


= 5.6 kN m2 × 4.35 m +
(
1.35 × 25 kN m3 × 0.2 m × 0.3 m × 6 nervuras ) ( 7.3 m + 6.20 m ) + (6.34)
1.35 × ( 25 kN m 3
× 0.3 m × 0.6 m )
= 24.4 + 3.9 + 6.1 = 34.4 kN m

Combinação 3: situação regulamentar com sobrecarga no 2º tramo

p1 = 34.4 kN m (6.35)

p2 = 83.1 kN m (6.36)
184 Capítulo 6

Combinação 4: situação regulamentar com sobrecarga em ambos os tramos

p1 = p2 = 83.1 kN m (6.37)

A determinação dos esforços foi efectuada com recurso ao software


SAP2000 (versão 10.0.5). Da Figura 6.34 à Figura 6.41 apresentam-se os
diagramas de esforços transversos e momentos flectores obtidos.

Figura 6.34 - Combinação 1: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN].

Figura 6.35 - Combinação 1: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m].

Figura 6.36 - Combinação 2: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN].

Figura 6.37 - Combinação 2: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m].


Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 185

Figura 6.38 - Combinação 3: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN].

Figura 6.39 - Combinação 3: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m].

Figura 6.40 - Combinação 4: diagrama de esforços transversos. Nota: unidades em [kN].

Figura 6.41 - Combinação 4: diagrama de momentos flectores. Nota: unidades em [kN•m].

6.5.4.2 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AOS ESFORÇOS DE FLEXÃO

Para a verificação da segurança aos esforços de flexão procedeu-se à


determinação da capacidade resistente da secção transversal das vigas quer
para momentos positivos, quer negativos. Para tal foi utilizado um software de
cálculo automático da autoria de Sena & Pereira (2007) que permite determinar
186 Capítulo 6

a capacidade resistente de secções rectangulares de betão armado


duplamente armadas sujeitas a flexão composta. O modelo numérico foi
desenvolvido em conformidade com as propostas do Eurocódigo 2 (CEN, 2004)
para a determinação dos esforços resistentes em elementos sujeitos a esforços
axiais e de flexão. Assim, este usa a lei tensão-extensão parábola-rectângulo
para o betão descrita em 3.1.7(1) e, a lei tensão-extensão bi-linear com
endurecimento para o aço, descrita em 3.2.7(2). Na Figura 6.42 apresentam-se
os principais parâmetros utilizados no modelo numérico. Refira-se que o
Eurocódigo 2 não permite a utilização de aços da classe S235. Assim, para
contornar o problema, considerou-se a existência deste e com características
de ductilidade idênticas aos aços da classe C (ver Anexo C do Eurocódigo 2).

A' s=4Ø25
f cd

F's
0.05 m

Fc
x
0.60 m

0.05 m

Fs

As=4Ø28
0.30 m

Figura 6.42 - Secção transversal das vigas principais para a determinação da capacidade
resistente.

Assim, os valores obtidos para os momentos flectores resistentes positivos e


negativos, bem como, as correspondentes profundidades relativas dos eixos
neutros foram, respectivamente,

+
MRd = 269 kN ⋅ m; ξ = x h = 0.108 (6.38)
e

M Rd = 217kN ⋅ m; ξ = x h = 0.096 (6.39)
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 187

Para a situação actual é possível constatar que o momento actuante é de


324 kN·m (ver Figura 6.35). A relação entre o momento resistente e o momento
actuante é:

δ = 217 324 = 0.67 (6.40)

o que de acordo com o Eurocódigo 2 (CEN, 2004), não é possível efectuar


uma verificação de segurança baseada numa análise elástica com
redistribuição de esforços, sem determinação explicita da capacidade de
rotação. Assim, no presente estudo procedeu-se à determinação da
correspondente rotação plástica. Dado que o 1º tramo da viga apresenta o
maior vão, será este o caso mais desfavorável. Assim, na Figura 6.43 e Figura
6.44 apresentam-se os diagramas de esforços após redistribuição.

Figura 6.43 - Combinação 1: diagrama de esforços transversos após redistribuição de


esforços. Nota: unidades em [kN].

Figura 6.44 - Combinação 1: diagrama de momentos flectores após redistribuição de


esforços. Nota: unidades em [kN•m].
188 Capítulo 6

A esta nova configuração está associada um valor da rotação plástica, θs, o


qual foi determinado por cálculo automático, tendo-se obtido o valor de

θs = 2.42 × 10 −3 rad (6.41)

A determinação da rotação plástica admissível é referida na Secção 5.6.3 do


Eurocódigo 2 (CEN, 2004), sendo dada pela expressão

⎛ MSd ⎞
θ pl ,d kλ = θ pl ,d ⎜ ⎟ 3 (6.42)
⎝ VSd ⋅ d ⎠

que no presente caso toma o valor de,

⎛ 217 ⎞
32.5 × 10−3 ⎜ −2
⎟ 3 = 2.44 × 10 rad (6.43)
⎝ 234 ⋅ 0.55 ⎠

Como o valor da rotação plástica, θs, não excede o valor máximo admissível,
pode-se concluir que a redistribuição de esforços adoptada (ver Figura 6.43 e
Figura 6.44) é admissível.
Comparando o valor do momento actuante no vão, igual a 272 kN·m, com o
momento resistente, igual a 269 kN·m, é possível concluir que se pode
considerar que a segurança para as condições actuais de carregamento é
verificada. Será ainda de referir que, como é evidente, para a solicitação
regulamentar, a segurança não é verificada.

6.5.4.3 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA AO ESFORÇO TRANSVERSO

Segundo a cláusula 6.2.3(1) do Eurocódigo 2 (2004) a capacidade resistente


de vigas ao esforço transverso que não necessitam de armadura específica é
dada por:

VRd ,c = CRd ,c k (100 ρ l fck )


13
bw d ≥ 0.035k 3 2fck1 2bw d (6.44)
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 189

No presente caso, os parâmetros que constituem a expressão (6.44) tomam


os seguintes valores:
CRd ,c = 0.12

200
k = 1+ = 1.603
550
24.6
ρl = = 1.49 × 10−2
30 × 55
fck = 20 MPa

bw = 200 mm

d = 550 mm

Assim, obtém-se o valor de

VRd ,c = 98.4 kN (6.45)

Dado que a capacidade resistente das nervuras ao esforço transverso na


ausência de armadura específica é inferior ao valor de cálculo do esforço
transverso actuante (VEd = 204 kN a uma distância d do apoio intermédio), será
necessário atender à existência das armaduras de esforço transverso. Assim,
de acordo com Eurocódigo 2 (CEN, 2004) a capacidade resistente de vigas ao
esforço transverso com armadura específica é dada por:

VRd = min{VRd ,s ; VRd ,max }


⎧A (6.46)
= min ⎨ sw z fywd cot θ ; α cw bw zν 1fcd ( cot θ + tanθ )⎫⎬
⎩ s ⎭

No presente caso, os parâmetros que constituem a expressão (6.46) tomam


os seguintes valores:

Asw = 2 × 0.28 × 10 −4 m2

z = 0.9d = 0.9 × 0.55 = 0.495 m

fywd = 235 1.15 MPa

cot θ = 2.5
190 Capítulo 6

α cw = 1.0

ν 1 = 0.6

fcd = 20 1.5 MPa

Assim, segundo o Eurocódigo 2 (CEN, 2004) a capacidade resistente é dada


por:

VRd = 64.1 kN (6.47)

De acordo com Artigo 53.º do REBAP (1983) a capacidade resistente de


vigas ao esforço transverso é dada pela seguinte expressão:

Asd
VRd = Vcd + Vwd = τ 1bw d + 0.9d fyd (6.48)
s

o que para o presente caso conduz à seguinte valor

VRd = 130 kN (6.49)

Assim é possível concluir que recorrendo a qualquer um dos regulamentos


não se cumprem os critérios de verificação da segurança para as presentes
análises.

6.5.5 VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA DOS PILARES

Na verificação da segurança dos pilares apenas se considerou a situação


actual visto que na análise dos diferentes elementos estruturais envolvidos, é
notória a ausência da segurança para a sobrecarga regulamentar (7.5 kN/m2).
Efectuou-se o estudo do pilar P2 em virtude deste actualmente ser o pilar mais
sobrecarregado (ver Figura 6.11). Para este estudo considerou-se o troço do
pilar compreendido entre o piso 0 e o piso intermédio. Este troço apresenta um
comprimento de 3.5 m.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 191

Atendendo à geometria da secção transversal adoptada, bem como, a


armadura longitudinal existente (ver Figura 6.45), a capacidade resistente do
pilar é dada por:

NRd = fcd ⋅ Ac + As ⋅ fyd


20 235 (6.50)
= × 103 × 0.482 + × 103 × 0.001963
1.5 1.15
= 3473 kN

0.10
4Ø25

0.48
0.10
0.10 0.10

0.48
Figura 6.45 - Secção transversal do pilar P2. Nota: unidades em [m].

A determinação dos esforços actuantes em pilares obriga a atender aos


efeitos de segunda ordem (encurvadura). O Eurocódigo 2 (CEN, 2004) detalha
este aspecto na Secção 5.8. No presente estudo foi feita a verificação da
dispensa aos efeitos de segunda ordem e, verificou-se que esta é possível em
ambas as direcções principais. Nestas circunstancias os esforços actuantes
reduzem-se ao esforço axial que, para a situação actual de carregamento, é
igual a:

NEd = 734 kN (6.51)

Notar que foi desprezado o momento de continuidade no pilar, bem como o


momento devido às imperfeições geométricas (ver Secção 5.2 do Eurocódigo 2,
2004) face à grandeza do esforço axial.
192 Capítulo 6

Assim, comparando o esforço axial resistente (expressão (6.50)) com o valor


actuante (expressão (6.51)), constata-se que o pilar verifica a segurança em
termos de esforços normais e de flexão.
Relativamente à armadura transversal (cintas) estas apresentam um
espaçamento não regulamentar (0.50 m entre cintas). Este tipo de armaduras
tem dois objectivos fundamentais: conferir ductilidade ao pilar e evitar a
encurvadura dos varões longitudinais. No que diz respeito à ductilidade esta
não é conseguida, pois o afastamento entre cintas é considerável, sobretudo
junto aos nós. A encurvadura dos varões longitudinais, neste caso, é
minimizada pelo facto destas armaduras apresentarem um recobrimento
considerável.

6.6 CONCLUSÕES

No presente capítulo detalharam-se os estudos efectuados na Sala das


Inquirições do Arquivo Distrital de Braga. Estes envolveram o levantamento
geométrico e a detecção das armaduras dos elementos estruturas de betão
armado que constituem a sala em estudo. Foi também realizada a
caracterização mecânica dos materiais estruturais (aço e betão).
Do levantamento efectuado verificou-se que a laje do piso é suportada por
um conjunto de 24 vigas de pequena dimensão (nervuras) que, por sua vez,
descarregam a sua carga em 3 vigas principais. Cada uma destas vigas
principais, é constituída por dois tramos, estando simplesmente apoiada nas
extremidades em paredes de alvenaria e, a sensivelmente meio vão, apoiada
num pilar.
Da caracterização mecânica dos materiais conclui-se que o betão é da
classe C20/25 e as armaduras da classe A235.
Foram efectuadas duas análises com vista à verificação da segurança: uma
respeitante à situação actual (sobrecarga existente de 3.4 kN/m2) e outra
correspondente à sobrecarga regulamentar (7.5 kN/m2).
Com base nos estudos de estabilidade efectuados conclui-se o seguinte:
ƒ No estudo correspondente à situação actual as nervuras verificam os
critérios de segurança regulamentares. A laje apresenta armaduras de
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 193

flexão insuficientes. As vigas principais e os pilares apresentam


armaduras transversais insuficientes;
ƒ Todos os elementos estruturais que constituem a Sala das Inquirições
não verificam a segurança para o estudo em que se considerou a
sobrecarga regulamentar.

Perante estas conclusões recomenda-se o seguinte:


ƒ Não aumentar o nível de sobrecarga existente na Sala das Inquirições;
ƒ Proceder com a maior brevidade possível a uma das seguintes
hipóteses:
1. monitorização da estrutura de modo a determinar o real estado de
tensão dos diferentes elementos estruturais;
2. reduzir o nível de carga actualmente existente na estrutura;
3. proceder ao reforço da estrutura em análise.

6.7 SOLUÇÕES DE REFORÇO

6.7.1 REFORÇO DA LAJE À FLEXÃO

Como se pôde observar, os painéis de laje maciça possuem armadura


insuficiente para o nível de sobrecarga actual. Além do mais, a armadura
existente está colocada a, sensivelmente, meia altura da laje, sendo difícil
mobilizar a sua capacidade resistente.
Assim, de forma a minimizar a intervenção na estrutura existente, a solução
de reforço proposta passa pela colocação de uma camada de 10 cm de betão
na face superior da laje. Adicionalmente, será colocada uma nova camada de
armadura, na face superior da laje, visto a existente ser insuficiente para resistir,
por si só, aos esforços instalados.
Para resistir aos momentos flectores negativos, será colocada outra malha
de armadura como se pode observar na Figura 6.46.
194 Capítulo 6

Armadura positiva de reforço

Armadura negativa de reforço

10 cm

10 cm

As,existente

Figura 6.46 - Reforço da laje à flexão.

Esta solução tem a vantagem de ser de fácil execução, sendo unicamente


necessário proceder ao tratamento da face superior da laje. Para este efeito,
toda a sala deverá ser desocupada para se proceder à remoção dos
revestimentos e picagem da superfície.
Após a picagem, toda a superfície deverá ser lavada com jactos de água
sobre pressão, de forma a eliminar quaisquer poeiras e aumentar a rugosidade
da superfície.
Resta referir que nos cálculos que se seguem foi admitida continuidade entre
o novo e o velho betão. Assim, torna-se também importante a desocupação da
sala como forma de descarregar a laje e “anular” os esforços iniciais, bem
como deformações elásticas.
No que se refere a materiais, o betão novo será da mesma classe resistente
do existente (C20/25), tendo-se admitindo classe A400 para as armaduras de
reforço. A armadura existente será desprezada sendo considerada, unicamente,
a nova armadura positiva de reforço.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 195

6.7.1.1 QUANTIFICAÇÃO DE ACÇÕES E OBTENÇÃO DE ESFORÇOS

Admitindo a nova camada de 10 cm de betão, o peso próprio total da laje


(incluindo revestimentos) será:

Gk = 0.15 x ρc + Gk,rev = 0.20 x 25 + 1.00 = 6.00 kN/m2 (6.52)

No que se refere à sobrecarga de utilização, foi considerado o valor de


4 kN/m2.
As combinações de esforços consideradas foram as seguintes:
- Combinação 1: 1.35 x Gk + 1.5 x Qk Painéis ímpares
- Combinação 2: 1.35 x Gk + 1.5 x Qk Painéis pares
- Combinação 3: 1.35 x Gk + 1.5 x Qk Painéis 1 – 7 e 15 – 21
- Combinação 4: 1.35 x Gk + 1.5 x Qk Painéis 8 – 14 e 22 – 28
- Combinação 5: 1.35 x Gk + 1.5 x Qk Painéis ímpares e pares

Assim, a carga actuante será:

Psd = 1.35 x Gk + 1.50 x Qk = 1.35 x 6.00 + 1.50 x 4.00 = 14.10 kN/m2 (6.53)

Para a obtenção do momento máximo positivo e negativo, teve-se em conta


o facto de haver uma significativa rigidez relativa entre as nervuras e as vigas
principais. Desta forma, recorreu-se novamente a cálculo automático para a
obtenção dos esforços para cada combinação, através de modelação por
elementos finitos.
Os valores obtidos para o momento flector foram os seguintes (ver Tabela
6.6):

Tabela 6.6 - Resultados obtidos: valores máximos dos momento flectores (unidades em
kN.m/m)
Combinação Mx+ Mx- My+ My-
1 16.1 -31.1 13.4 -24.6
2 17.9 -32.0 12.7 -25.1
3 23.6 -31.3 16.4 -27.4
4 17.9 -33.2 12.0 -20.2
5 16.2 -29.2 10.9 -26.2
196 Capítulo 6

6.7.1.2 DETERMINAÇÃO DA ARMADURA RESISTENTE AO MOMENTO


FLECTOR POSITIVO

Com esta nova secção, determinou-se qual a área da nova armadura,


tendo-se desprezado no cálculo, a contribuição da existente.
Para a determinação da armadura resistente ao momento flector positivo,
recorreu-se às fórmulas simplificadas sugeridas por D'Arga e Lima et al. (1999),
para vigas rectangulares. Segundo os autores, o momento reduzido (μ) é dado
por:

(6.54)
· ·

Na expressão (6.54), os vários parâmetros tomam os seguintes valores:

Msd = 23.6 kN.m/m


b = 1.00 m
d = 0.095 m
fcd = 13.3 MPa

Obtendo-se o seguinte valor para o momento reduzido:

μ = 0.20 (6.55)

Em seguida e como μ ≤ 0.31, determinou-se a percentagem mecânica de


armadura com base na seguinte expressão:

· 1 (6.56)

Obteve-se, assim, o valor de:

ω = 0.24 (6.57)
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 197

Utilizando a expressão (6.58) para a percentagem mecânica de armadura,


determinou-se o valor da área de armadura necessária (As).

· (6.58)
·

Assim, no presente caso, os parâmetros da expressão (6.58) tomam os


seguintes valores:

ω = 0.24
b = 1.00 m
d = 0.095 m
fsyd = 347.83 MPa
fcd = 13.3 MPa

Pelo que se obteve o valor:

As = 8.72 cm2/m (6.59)

Desta forma, será colocada uma malha quadrada de varões de aço de


12 mm de diâmetro, afastados 0.125 m.

6.7.1.3 DETERMINAÇÃO DA ARMADURA RESISTENTE AO MOMENTO


FLECTOR NEGATIVO

Para a determinação da armadura resistente ao momento flector negativo,


recorreu-se à mesma metodologia.
Assim, na expressão (6.54), os vários parâmetros tomam os seguintes
valores:

Msd = 33.20 kN.m/m


b = 1.00 m
d = 0.18 m
fcd = 13.3 MPa
198 Capítulo 6

Obtendo-se o seguinte valor para o momento reduzido:

μ = 0.077 (6.60)

Como μ ≤ 0.31, determinou-se a percentagem mecânica de armadura através


da expressão (6.56), tendo-se obtido o seguinte valor:

ω = 0.083 (6.61)

Utilizando a expressão (6.58) para a percentagem mecânica de armadura,


determinou-se o valor da área de armadura necessária (As) para resistir aos
momentos flectores negativos.
Assim, os parâmetros da expressão (6.58) tomam os seguintes valores:

ω = 0.083
b = 1.00 m
d = 0.18 m
fsyd = 347.83 MPa
fcd = 13.3 MPa

Pelo que se obteve o valor de:

As = 5.71 cm2/m (6.62)

Assim, será colocada uma malha quadrada de varões de aço de 10 mm de


diâmetro, afastados 0.125 m.
Resta referir que seria ainda necessário proceder à verificação da junta de
betonagem, seguindo o estipulado na cláusula 6.2.5 do Eurocódigo 2 (CEN,
2004). Esta verificação poderá obrigar à colocação de conectores, na interface
do velho com o novo betão.
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 199

6.7.2 REFORÇO DAS VIGAS AO CORTE

Como referido na secção 6.5.4, as vigas principais não possuem armadura


transversal suficiente. Assim, serão colocados novos estribos envolvendo a
secção existente, amarrados no topo superior. Para este efeito, será
necessário proceder à furação da laje na zona da colocação da nova armadura
(ver Figura 6.47).

Novos estribos 5 cm

0.40

Figura 6.47 - Reforço das vigas ao corte.

A envolver as novas armaduras da classe de aço A400, será colocada uma


camada de 5 cm de betão igual ao existente (C20/25), depois de escarificada e
limpa a superfície.
Desta forma, a nova secção passará a ter 40 cm de base por 65 cm de
altura.
Para a obtenção das novas armaduras, foi seguido o estipulado no
REBAP (1983).

6.7.2.1 QUANTIFICAÇÃO DE ACÇÕES E OBTENÇÃO DE ESFORÇOS

Conforme a expressão (6.52) da secção 6.7.1, a acção proveniente da laje


devido ao peso próprio, é de 6.00 kN/m2. Admitindo o mesmo valor para a
sobrecarga (4 kN/m2), o valor da carga de cálculo actuante por unidade de área,
proveniente da laje, é de:
200 Capítulo 6

Sd = 1.35 x Gk + 1.50 x Qk = 1.35 x 6.00 + 1.50 x 4.00 = 14.10 kN/m2 (6.63)

A carga actuante nas vigas, admitindo as acções provenientes da laje e uma


largura de influência de 4,35 m, o peso próprio das nervuras e da nova secção
da viga, é de:

Psd = 14.10 x 4.35 + 3.90 + 8.78 = 74.02 kN/m (6.64)

Para a obtenção dos esforços, recorreu-se ao mesmo modelo da secção


6.5.4, com a sobrecarga em ambos os tramos (ver Figura 6.33).
Assim, o esforço de corte máximo obtido foi de:

Vsd,máx = 329.07 kN (6.65)

6.7.2.2 DETERMINAÇÃO DA ARMADURA DE ESFORÇO TRANSVERSO

De acordo com o Artigo 53.º do REBAP (1983), o valor de cálculo do esforço


transverso resistente de uma dada secção é dado pela expressão:

VRd = Vcd + Vwd (6.66)

E em que Vcd é obtido pela expressão:

Vcd · bw · d (6.67)

No presente caso, os valores dos parâmetros da expressão (6.67) assumem


os seguintes valores:

τ1 = 650 kPa
bw = 0.40 m
d = 0.55 m

Pelo que se obteve o valor:

Vcd = 143 kN (6.68)


Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 201

Vwd é obtido pela seguinte expressão:

0,9 · · · · 1 · (6.69)

Nesta expressão, os vários parâmetros tomam os seguintes valores:

d = 0.55 m
fsyd = 347.83 MPa
α = 90º

Substituindo estes valores na expressão (6.66) e igualando Vrd a Vsd,máx,


obtém-se o valor da área de armadura resistente de esforço transverso, por
unidade de comprimento (Asw / s).
Desta forma, o valor obtido foi de:

Asw / s = 10.81 cm2/m (6.70)

Esta área de armadura corresponde à colocação de estribos de 12 mm de


diâmetro, espaçados 0.10 m.

6.7.3 REFORÇO DA ARMADURA TRANSVERSAL DOS PILARES

Tal como exposto na secção 6.5.5, a armadura transversal dos pilares


apresenta espaçamento não regulamentar. Desta forma, a sua capacidade de
conferir ductilidade é reduzida pois o seu afastamento ainda é considerável.
Como referido, a encurvadura dos varões longitudinais é minimizada pelo facto
destas armaduras apresentarem um recobrimento considerável.
Assim, torna-se necessário proceder ao reforço da armadura transversal de
modo a que esta cumpra o regulamentar, dotando os pilares das características
mencionadas.
202 Capítulo 6

6.7.3.1 DETERMINAÇÃO DA ARMADURA TRANSVERSAL


REGULAMENTAR

Para a determinação do espaçamento máximo e diâmetro da armadura


transversal, recorreu-se ao Artigo 122.º do REBAP (1983). Este refere que o
espaçamento dos varões da armadura transversal não deve exceder o menor
dos seguintes valores: 12 vezes o menor diâmetro dos varões da armadura
longitudinal, a menor dimensão da secção do pilar e 30 cm.
Assim e para o presente caso, o espaçamento é dado por:

e = min {12 x 25 ; 480 ; 300} = 300 mm (6.71)

O mesmo artigo refere que sempre que se utilizem nas armaduras


longitudinais varões com diâmetro igual ou superior a 25 mm, a armadura
transversal deve ser constituída por varões de diâmetro não inferior a 8 mm.
Desta forma, a armadura transversal de reforço a colocar será constituída
por cintas de 8 mm de diâmetro, espaçadas 0.30 m.

6.7.3.2 SOLUÇÃO DE REFORÇO

Conforme já referido, a armadura longitudinal dos pilares apresenta um valor


elevado de recobrimento. Isto aliado ao valor obtido para o espaçamento
regulamentar da armadura transversal, inviabiliza a picagem desta camada
para a colocação da nova armadura e posterior betonagem, pois seria
necessário demolir grande parte do pilar.
Assim, optou-se pela colocação de faixas de mantas de polímeros
reforçados com fibras de carbono (CFRP), curadas in situ, com o espaçamento
obtido, por ser esta a opção mais simples de executar e que não necessita de
grande intervenção na estrutura existente (ver Figura 6.48).
Estudo da Sala das Inquirições do Arquivo Distrital de Braga 203

Faixas CFRP

Figura 6.48 - Reforço da armadura transversal dos pilares.

6.7.3.3 DETERMINAÇÃO DA LARGURA E NÚMERO DE CAMADAS DAS


FAIXAS DE CFRP

Para a execução deste reforço, será utilizada manta flexível de fibras de


carbono, curadas in situ, do tipo “S&P C-Sheet 240”, do fabricante S&P Clever
Reinforcement Company, de 200 g/m2 de densidade.
Segundo as fichas técnicas do fabricante, esta manta apresenta as
seguintes características (Tabela 6.7).

Tabela 6.7 - Propriedades da manta de CFRP (S&P, 2008).


Manta Espessura Tensão Extensão Módulo de
da manta máxima máxima elasticidade
(mm) (MPa) (%) (GPa)
S&P C-Sheet 240 0.117 3800 1.55 240

A força instalada numa cinta de 8 mm de diâmetro (As = 0.50 cm2) e em aço


A400, na cedência, é dada por:

50 mm2 · 400
Fs 20 kN (6.72)
10
204 Capítulo 6

A área equivalente de manta de CFRP é:

Fs 3800 20 10
ffu ACFRP 5.79 mm2 (6.73)
ACFRP 1.10 ACFRP

Na expressão (6.73), adoptou-se o factor parcial γm igual a 1.10, conforme o


estipulado na norma CNR-DT 200/2004 (CNR, 2004) para aplicações do tipo A.
Admitindo faixas com 20 mm de largura, cada camada terá uma secção de:

20 x 0.117 = 2.34 mm2 (6.74)

E o número de camadas será igual a:

5.79 / 2.34 = 2.47 camadas (6.75)

Tendo-se adoptado, 3 camadas de CFRP.


De acordo com a secção 4.8.2.2 da norma CNR-DT 200/2004 (CNR, 2004),
deverá ser deixado um comprimento de amarração de, pelo menos, 200 mm na
extremidade final da última camada de CFRP.
Resta ainda referir que os cantos do pilar devem ser arredondados, de modo
a evitar a rotura precoce da manta de CFRP.
205

CAPÍTULO 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 CONCLUSÕES

Nesta dissertação apresentam-se diversas técnicas de reparação e reforço


de estruturas de betão armado, numa óptica de avaliar o “estado da arte” e, ao
mesmo tempo, de concentrar num único documento as técnicas mais
importantes. A inclusão de um caso de estudo veio enriquecer a componente
teórica com um exemplo real, preenchendo assim uma lacuna bastante
recorrente na literatura da especialidade.
Foram abordadas as várias etapas da elaboração de um projecto de
reabilitação de estruturas de betão armado, com vista a sistematizar o
complexo processo que inclui fases importantes, tais como a recolha de
informação sobre a estrutura a reabilitar, caracterização de materiais, entre
outras.
De um modo geral, foram sintetizadas as técnicas mais divulgadas de
reparação e reforço referindo-se, para cada uma delas, quais os detalhes e
cuidados mais relevantes na sua execução.
Além da abordagem de reparação e reforço dos elementos correntes de
estruturas porticadas (vigas e pilares), foi igualmente incluído um capítulo
referente à reparação e reforço de nós de pórticos. Tratando-se de uma zona
importante em estruturas porticadas inseridas em zonas com significativa
actividade sísmica, é geralmente menosprezada na fase de projecto,
admitindo-se que o seu reforço é automaticamente realizado através das
armaduras das vigas e pilares que atravessam o nó. Tal situação pode resultar
insuficiente face a acções horizontais expressivas.
O reforço e/ou reparação de um nó de pórtico é uma tarefa deveras árdua,
uma vez que este está envolvido pelos elementos estruturais que nele
concorrem e pelas próprias lajes de piso. As técnicas apresentadas referem-se,
na sua maior parte, a estudos experimentais levados a cabo em modelos
simplificados sem a existência de lajes de piso, por exemplo, ou somente em
nós exteriores, pelo que a sua selecção e aplicação deve ser encarada com
206 Capítulo 7

algumas reservas e espírito crítico. Torna-se, assim, importante que a


investigação desenvolvida no âmbito do reforço de nós de pórticos de betão
armado se focalize em técnicas de largo espectro de aplicabilidade,
aumentando o desempenho estrutural e, ao mesmo tempo, minimizando o
impacto arquitectónico.
É obvio que uma maior consciencialização sobre a necessidade de um
correcto dimensionamento dos nós de pórticos, de acordo com as linhas
regedoras dos mais recentes códigos de dimensionamento evita, de raiz, a
necessidade da execução destas técnicas complexas.
Além do reforço dos elementos referidos, foi também abordado o reforço dos
elementos estruturais mais correntes, nomeadamente as vigas e pilares,
descrevendo-se as técnicas mais comuns. Destas salientam-se aquelas que
envolvem o reforço com materiais compósitos, por serem as de maior facilidade
de execução (não descurando a necessidade de mão-de-obra especializada) e
que implicam um menor impacto no aspecto arquitectónico do elemento.
Os materiais compósitos empregues actualmente (fibras de carbono, por
exemplo), possibilitam acréscimos elevados na capacidade resistente do
elemento reforçado, sendo necessário um estudo cuidado da sua aplicação de
modo a que não se obtenham comportamentos inesperados da estrutura.
Ainda sobre o reforço com materiais compósitos, resta referir que é deveras
importante uma boa ancoragem deste ao elemento a reforçar, de forma a
minimizar o descolamento do material compósito e consequente ineficácia do
reforço.
Por último, descreveu-se pormenorizadamente um caso de estudo desde o
levantamento geométrico, caracterização de materiais, até à sua verificação
estrutural e reforço. Desta secção, além da mais-valia que advém do estudo de
um caso real, interessa reter que por vezes é possível executar reforços
estruturais de uma forma muito rápida e expedita, sem uma intervenção
excessivamente aprofundada na estrutura. Foi o caso do reforço da laje à
flexão a qual, com apenas uma pequena camada de betão, permitiu a
colocação de armaduras de reforço, conferindo a capacidade resistente
necessária.
Considerações finais 207

Assim, torna-se evidente que um estudo aprofundado da estrutura existente


aliada a uma selecção criteriosa da solução de reforço, poderá conduzir a
intervenções menos onerosas e com menor impacto no imóvel a intervir.
No caso concreto do Arquivo Distrital de Braga, as soluções de reforço
propostas neste trabalho apresentam contornos meramente académicos.
Devido ao valor patrimonial do imóvel, seria preferível remover as cargas
resultantes de uma utilização para a qual este não está preparado, evitando
intervenções que alteram a traça arquitectónica original.

7.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

Os desenvolvimentos que se consideram mais importantes, a realizar no


âmbito desta dissertação são os seguintes:

ƒ recolha de novas técnicas de reforço de nós de pórticos de betão


armado, à medida que surge nova investigação na área e cuja
aplicabilidade seja mais abrangente;
ƒ elaboração de um manual de dimensionamento para as diversas
técnicas abordadas nesta dissertação, com exemplos de aplicação;
ƒ desenvolvimento de uma ferramenta de cálculo automático adaptável
ao dimensionamento de um tipo específico de reforço;
ƒ aplicação da ferramenta de cálculo automático a vários exemplos de
reforço e aprofundamento da análise por avaliação do desempenho
das estruturas.
208 Capítulo 7
209

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213

ANEXO I
DGEMEN: MEDIÇÕES / MEMÓRIA DESCRITIVA
214
214 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 215
216
216 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 217
218
218 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 219
220
220 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 221
222
222 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 223
224
224 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva 225
226
226 Anexo I – DGEMEN: medições / memória descritiva
227

ANEXO II
ADB: PLANTAS DE ARQUITECTURA

Figura II.1 – Planta de arquitectura do Piso 1.


228
228 Anexo II – ADB: plantas de arquitectura

Figura II.2 – Planta de arquitectura do Piso Intermédio.


Anexo II – ADB: plantas de arquitectura 229

Figura II.3 – Planta de arquitectura do Piso 2.


230
230 Anexo II – ADB: plantas de arquitectura
231

ANEXO III
DETECÇÃO DE ARMADURAS POR GEORADAR
232
232 Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar
Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar 233
234
234 Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar
Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar 235
236
236 Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar
Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar 237
238
238 Anexo III – Relatório da detecção das armaduras por georadar
239

ANEXO IV
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DO BETÃO

Na Figura IV.1 indicam-se os locais de onde forma extraídas as carotes,


enquanto que nas figuras IV.2, IV.3 e IV.4 o aspectos das carotes após
extracção, após terem sido rectificadas e ensaiadas, respectivamente. A
geometria dos carotes (diâmetro e altura), após rectificados encontra-se
indicada na Tabela IV.1.

(a) (b)

(c)
Figura IV.1 Identificação das carotes. Pilar P2 (a), pilar P3 (b) e viga V3 (c).

Figura IV.2 – Aspectos das carotes após a sua extracção.


240
240 Anexo IV – Caracterização mecânica do betão

Figura IV.3 – Aspectos das carotes após terem sido rectificadas.

Figura IV.4 – Aspectos das carotes após terem sido ensaidas.

Os ensaios das carotes foram efectuados numa máquina universal em


controlo de força. Os valores da força máxima, bem como a correspondente
tensão máxima encontram-se indicados na Tabela IV.1. Devido ao facto de dos
provetes ADB-S2 e ADB-S3 apresentarem uma relação altura/diâmetro inferior
a 2, houve necessidade de corrigir a correspondente tensão máxima (ASTM
Committee C-9, 1990). Assim, na última coluna Tabela IV.1 indicam-se os
valores das tensões máximas corrigidas. Com base nestes valores obteve-se
uma tensão média de compressão de 25.9 MPa à qual está associado um
coeficiente de variação de 20.9%. Refira-se que se obteve um valor do
coeficiente de variação considerável.

Tabela IV.1 – Valores da geometria, força e tensão máximas nos provetes ensaiados.
Geometria [mm] Força Tensão Tensão máx.
Provete Massa [g] máxima máxima corrigida
Diâmetro Altura
[kN] [MPa] [MPa]
ADB-S1 94.6 140.9 3099 140.9 20.0 20.0
ADB-S2 94.8 219.9 2885 219.9 31.1 30.8
ADB-S3 94.7 188.8 3277 188.8 26.8 26.8
241

ANEXO V
CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA DAS ARMADURAS
Nas Figuras V.1 e V.2 apresentam-se fotos relativas ao provete de armadura
após a sua extracção e após a realização do correspondente ensaio de tracção.
Nas Figuras V.3 e V.4 apresentam-se os resultados obtidos a partir do software
incluído na prensa utilizada para o efeito. Assim, obteve-se um módulo de
elasticidade igual a 156 GPa, uma tensão limite convencional de
proporcionalidade a 0.2% igual a 253 MPa e uma tensão de rotura igual a
372 MPa.

Figura V.1 – Aspecto do provete de armadura após a sua extracção.

Figura V.2 – Aspecto final provete de armadura após ensaio.


242
242 Anexo V – Caracterização mecânica das armaduras

Figura V.3 – Resultados obtidos no varão ensaiado.


Anexo V – Caracterização mecânica das armaduras 243

Figura V.4 – Resultados obtidos no varão ensaiado.


244
244 Anexo V – Caracterização mecânica das armaduras
245

ANEXO VI
MODELAÇÃO NUMÉRICA DA LAJE

Figura VI.1 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 1.

Figura VI.2 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 1.
246
246 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.3 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 1.

Figura VI.4 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 1.
Anexo VI – Modelação numérica da laje 247

Figura VI.5 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 2.

Figura VI.6 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 2.
248
248 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.7 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 2.

Figura VI.8 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 2.
Anexo VI – Modelação numérica da laje 249

Figura VI.9 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 3.

Figura VI.10 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 3.
250
250 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.11 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 3.

Figura VI.12 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 3.
Anexo VI – Modelação numérica da laje 251

Figura VI.13 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 4.

Figura VI.14 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 4.
252
252 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.15 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 4.

Figura VI.16 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 4.
Anexo VI – Modelação numérica da laje 253

Figura VI.17 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 5.

Figura VI.18 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 5.
254
254 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.19 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 5.

Figura VI.20 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 5.
Anexo VI – Modelação numérica da laje 255

Figura VI.21 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção x para a


Combinação 6.

Figura VI.22 – Necessidades de armaduras na face inferior na direcção y para a


Combinação 6.
256
256 Anexo VI – Modelação numérica da laje

Figura VI.23 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção x para a


Combinação 6.

Figura VI.24 – Necessidades de armaduras na face superior na direcção y para a


Combinação 6.

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