Assim, dizer a realidade é dizer a unidade do fenômeno e sua essência de condições históricas, e tem por função petrificar essas
o petrificar essas condições
e não dizer a sua coincidência. A essência é, pois, o fenômeno cons- em favor dos interesses dominantes. ciente de si mesmo, consciente de sua determinação e concretude: O mundo real é um mundo em que as coisas, as relações, são "O conceito da coisa é a compreensão da coisa e compreender a coisa vistas como produtos do homem social, e o mundo da pseudoconcre- significa conhecer-lhe a estrutura" (Kosik, 1969: 16). 1 ticidade é justamente a visão da existência autônoma dos produtos do homem. Este último é abstrato exatamente porque desvinculado do processo que determina sua produção. Por isso, o mundo da pseudo- concreticidade atinge o campo do pensar, pois é o momento em que (} pensamento operado no real é apreendido pelo sujeito histórico de o aspecto fenomênico da coisa é produto natural da práxis coti- lllodo falso. diana. Essa práxis cria a representação como forma de movimento e de existência da coisa. o momento da conceituação inclui a análise e a síntese. Esse l' o esforço sistemático e crítico que visa captar a coisa em si. A A representação pode ser contraditória com a estrutura da coisa nll1ceituação supera os momentos falsos da representação e subsume e seu conceito correspondente, conceito esse que é o que proporciona os momentos de revelação através de uma análise que, intencionada ao homem a compreensão da coisa e do real e que se expressa em pelas relações sociais, capta a essência que não é manifesta e deter- conceitos correntes sem maior rigor teórico. I\lina o fenômeno de modo real. A análise torna-se, então, método, A representação é um complexo de fenômenos do cotidiano que ;I( 1 decompor o todo ingenuamente percebido para tentar reproduzir penetra a consciência dos indivíduos, assumindo um aspecto abstrato 11 estrutura da coisa e compreendê-Ia. Para isso, deve primeiramente quando essa percepção do imediato está desvinculada do processo real destruir a pseudoconcreticidade, como condição do processo de des- que determina sua produção. O elemento próprio das representações vl'lldamento da lei do fenômeno. é o duplo sentido. O fenômeno indica a essência e, ao mesmo tempo, a esconde. Mas essa representação não constitui uma qualidade natural Nesse desvendamento, tenta-se captar o movimento da coisa na da coisa e da realidade: é a projeção, na consciência do sujeito, de IIlisa em movimento, o que exige a captação das relações existentes determinadas condições históricas petrificadas. 11:1realidade social dos homens como uma união dialétiea entre o :dlJl'ito e o objeto. Ou seja, a realidade não é mais naturalizada, mas "O que confere a estes fenômenos o caráter de pseudoconcretici- dade não é a sua existência por si mesma, mas a independência com hl:;luricizada, ao ser considerada como produto da práxis humana, já que ela se manifesta" (Kosik, 1969: 11). tJ\ll' o mundo histórico é o mundo dos processos dessa práxis. Captar o fenômeno na sua essência não é negar o fenômeno, mas O momento da conceituação supõe um distanciamento do mo- destruir sua pretensa independência e ressaltar sua conexão e unidade 1I11"II1u da representação. Esse distanciamento, ao possibilitar a análise, com a essência através de oposições e mediações. I'"~;sibilita também a elaboração de uma síntese em que o todo é O momento da representação é um momento abstrato porque, 1Ip,llI'1l percebido de modo a compreender suas relações mais signi- 111 111 ivas. ainda que realmente inserido nas relações essenciais, pensa a realidade em direção oposta à natureza desta. Isolando o que é dialético, faz-se I':ssas relações significativas se estabelecem como meios mais acompanhar de uma percepção do todo que é não só ingênua, mas ,11 II ,1llgentes a fim de compreender o processo da realidade em seu também caótica e obscura. Esse isOlamento, por sua vez, é produto dllllllllismo. Compreender esse processo implica um ato de apropria- ',1111• pelos sujeitos humanos, do determinante estrutural. Tal ato de 1. As ressonâncias metafísicas da expressão essência levam o próprio Kosik a '11'lllpriação torna-se possível através desses meios abrangentes que são usar nesse momento a expressão estrutura. Poder-se-ia denominá-Ia determi- 'I. ,'alegorias. Isso significa que elas por si só não ordenam os fenô- nante estrutural, cujos elementos determinados podem ser considerados não só como manifestações, mas como resultantes das relações de determinação. lIIoIIOS, mas a perspectiva mais ordenada e abrangente que dão aO real E para que a expressão determinante estrutural se veja descaracterizada de I" 1IIIite aos sujeitos humanos que dela se apossam uma forma de ressonâncias estruturalistas, é preciso não ignorar a presença do homem como 'li 1I11\~itO mais objetiva. mediado e mediador neste processo. da educação nessa mesma realidade. As categorias ajudam a entender Elas são, pois, reí~~~ existentes no movimento da coisa, rela- o todo, cujos elementos são os constituintes da realidade e, nele, os ções essenciais, de caráter objetivo, cu}a. C'ompr~ensão possibilita. o elementos da educação. desvendamento do fenômeno na sua propna reahdade. As categonas, '/~xistindo como forma de relação entre os fenômenos, expressam a Essa metodologia, nas categorias, é concebida no interior de uma estrutura das rt:lações existentes entre os mesmos. Mas essa expres- teoria geral da realidade, expressa na filosofia da práxis.2 são não seria possível sem a capacidade que o homem tem de captar A categoria da contradição (poder-se-ia denominá-Ia de lei, dado os fenômenos e suas relações e de produzir conceituações. seu alcance globalizante) é a base de uma metodologia dialética. Ela "Desta maneira, a dialética, que primitivamente é a legalidade da é o momento conceitual explicativo mais amplo, uma vez que reflete realidade em si, passa a ser secundariamente, e como expressão subje- ü movimento mais originário do real. A contradição é o próprio motôr\ tiva da primeira, por via da compreensão adquirida pela ciência da interno do desenvolvimento. Conceber uma tal metodologia sem a·- lógica, a legalidade do mund~ ~as id~ias. Se de~conh:cerr:nos .est~ relação de origem, de precedencla, CaIremos na mversao IdealIsta contradição é praticamente incidir num modo meta físico de compre- (Pinto Vieira, 1969: 67). ender a própria realidade. A racionalidade do real se acha no movi- mento contraditório dos fenômenos pelo qual esses são provisórios .e. As categorias, como expressão conceitual, dão conta de uma certa superáveis. A contradição é sinal de que a teoria que a assume leva! realidade da forma mais abrangente possível. Essa expressão não é em conta que ela é o elemento-chave das sociedades. neutra e se revela comprometida com uma determinada visão de mundo. Por isso, nem todas as categorias são igualmente valorizadas Sob o ponto de vista da sociedade, negar a contradição no movi- em todas as teorias. Ao contrário, numa perspectiva formal, a con- mento histórico é falsear o real, representando-o como idêntico, per- tradição, por não ser visualizada na realidade objetiva, não é t~mbém manente e a-histórico. O que termina por afetar a concepção de edu- visualizada no pensamento, senão sob forma de inverdade ou aCIdente. cação, pois, ao retirar dela a negação, passa-se a representá-Ia dentro Essa perspectiva acentuará o princípio de não-contradição, por não Jc um real que se desdobra de modo linear e mecânico. reconhecer em suas categorias o movimento, o dinamismo e a trans- A categoria da totalidade justifica-se enquanto o homem não formação, cuja essência é a contradição. busca apenas uma compreensão particular do real, mas pretende uma Da mesma forma, outras categorias podem ser vistas da mesma visão que seja capaz de conectar dialeticamente um processo parti- maneira. O uso delas, não só na sua expressão verbal, mas na pró- cular com outros processos e, enfim, coordená-Io com uma síntese pria intencionalidade que as informa, já evidencia uma tomada de cxplicativa cada vez mais ampla. posição face ao real-concreto. Sob o ponto de vista da sociedade, eliminar a totalidade signi- A dialética como processo e movimento de reflexão do próprio fica tomar os processos particulares da estrutura social em níveis autô- real não visa apenas conhecer e interpretar o real, mas por transfor- nomos, sem estabelecer as relações internas entre os mesmos. Consi- má-Io no interior da história da luta de classes. É por isso que a derar a educação como processo particular da realidade, sem aceitar reflexão só adquire sentido quando ela é um momento da práxis social 11 própria totalidade, isto é, sua vinculação imanente às relações sociais,
Nignifica tomá-Ia como universo separado.
'.humana. A categoria da mediação se justifica a partir do momento em que li real não é visto numa divisibilidade de processos em que cada ele- Illento guarde em si mesmo o dinamismo de sua existência, mas numa As categorias propostas se inserem nesse contexto da praxls. Pre- Il'ciprocidade em que os contrários se relacionem de modo dialético e tendem ser consideradas tanto no processo da realidade que as produz, lontraditório. A interação entre os processos permite situar o homem quanto na sua utilização como instrumentos de análise em vista de I limo operador sobre a natureza e criador das idéias que representam il própria natureza. Os produtos dessa operação (cultura) tomam-se uma acão social transformadora, já que a análise também faz. parte .-dessa ~ção. De modo especial, oferecem subsídios nos atos de inves- \ tigar a natureza da realidade social e as vinculações das propriedades