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Joselito

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J
O

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Joselito
O M e n i n o D r ag ã o

Samuel Cardeal

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“Mas, quando tudo era um sonho, foi preciso
desafiar o mantra e descobrir que viver disso é
diferente de viver isso. E essa geração hoje vive
isso. Por isso, a cada dia mais, ela vive disso.”
(R. Albuquerque)

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I - O Escolh

II - A Revel

III - A jorna

IV - Após a

V - Sá, a Fad

VI - Na Toc

VII - O Fan

Capítulo Fin

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Sumário

I - O Escolhido...................................................................................9

II - A Revelação............................................................................... 15

III - A jornada se inicia.................................................................. 19

IV - Após a primeira vez: O Guerreiro de Petróleo............... 31

V - Sá, a Fada Fazedora de Anjos................................................ 43

VI - Na Toca do Coelho................................................................ 55

VII - O Fantasma Que Comia Pipoca....................................... 63

Capítulo Final - Glória em Chamas............................................ 71

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jornada é sua
Quando
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de eleição.
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I
O Escolhido
Cada pessoa cursa uma jornada própria e particular; tal
jornada é sua, além disso, pertence a cada um individualmente.
Quando o pequeno e nada grande Joselito disse sim àquela
proposta capciosa a qual lhe propuseram, não imaginava que
sua vida mudaria mais que temperamento de político em época
de eleição.
A vida nunca fora fácil para o rapaz, que desde cedo
precisou abandonar a escola para ajudar no sustento de seus 87
irmãos. Na casa de pau a pique onde morava e residia, nunca
havia espaço para todos, e o rodízio dos colchões era uma
realidade constante.
Sua mãe, Dercy, estava novamente prenha, o que
significava mais uma boca pra comer onde os outros já quase
não se alimentavam. Contudo, Abravanel, seu pai, jamais se
preocupava; o assistente de servente de pedreiro se orgulhava da
virilidade e se regozijava com o apelido que ganhara na pequena
e nada grande aldeia onde moravam. Todos o conheciam como
Vavá Benga de Mel, e os homens faziam de tudo para manter
suas esposas longe do portador de instrumento tão tentador e
irresistível.
Aquele dia parecia com outro qualquer. Joselito acordou
cedo, alimentou a Benga de Vavá com a ração de sempre e partiu
rumo ao trabalho, pedalando em sua bicicleta manufaturada
com sucata e mascando uma casca de limão que encontrara em
uma lata de lixo pelo caminho.
O pequeno guerreiro, de corpo franzino, pele ressecada,
pernas arqueadas e sorriso ímpar (só possuía os dentes ímpares),
pedalava por duas horas até chegar à casa de tolerância onde

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Joselito: O Menino Dragão

exercia a função de faz-tudo. Suas tarefas iam da faxina a chegou até e


massagem cardíaca em clientes que não aguentavam o vai-e- belos quanto
vem frenético das cortesãs em seu jogo sensual-pirofágico- — Boa
melodramático. efusivamente
O garoto pobre não entendia o sexo, mas não estranhava Joselito
nem se incomodava com as ereções que eventualmente estranheza d
testemunhava, posto que se acostumara com o pai caminhando pensantes nã
nu pela casa, ostentando sua benga doce mais em pé que peruca era quando p
de velha com laquê. — O tig
O dia passara ligeiro, nenhum cliente enfartara, e os — É...
habituais berros das “tolerantes” foram até mais parcimoniosos conversa não
que o costumeiro. Faltava apenas uma hora para o fim do seu não compree
turno, e Joselito já sentia todo o corpo doer como se houvesse — Quem é o
levado uma surra com o membro palpitante do pai. — Oh, q
Foi quando um cliente particularmente peculiar adentrou o chapéu e f
a parte interna do interior do recinto. O homem logo chamou se perguntou
a atenção do infante faz-tudo. Seu porte era altivo, ostentando Meu nome A
uma elegância como nunca se vira por aquelas bandas. Trajava — Mete
um terno amarelo ouro de corte refinado, cartola negra ornada mínimo mui
com pluma de cisnes marítimos e sapatos brancos e reluzentes — Metiê
de bico quadrado e cadarços dourados. O forasteiro sorria t – i – ê. Com
como um escravo alforriado e seus olhos eram como um par de — O qu
jabuticabas, mas sem as jabuticabas. — Não s
O novo cliente se aproximou do menino a passos lentos O important
e ritmados, parecia que estava dançando sobre uma gelatina Me diga, peq
cor de rosa sabor morango silvestre, porém, sem a gelatina — Com
cor de rosa sabor morango silvestre. Joselito, que tirava poeira — Oh,
dos móveis com um pano velho e puído, interrompeu suas imaginar. Eu
atividades e fitou o estrangeiro, embasbacado. Nunca antes vira mais longo q
alguém tão peculiar. Aquela caminhada do homem de cartola vosso pai. M
parecia mais lenta que qualquer outra, e o jovem faz-tudo sentia tenho a cont
um tremor na pélvis que não sabia o que significava. Depois de — Hmm
um tempo incontável que Joselito não pôde contar, o homem — Ora,

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Samuel Cardeal

da faxina a chegou até ele e, após exibir um sorriso brilhante de dentes tão
vam o vai-e- belos quanto os de um cachorro, finalmente se pronunciou:
l-pirofágico- — Boas tardes, jovem e pequeno cabaço! — disse
efusivamente.
o estranhava Joselito nada disse, encontrava-se tão estremecido pela
entualmente estranheza daquele estranho estrangeiro, que os pensamentos
caminhando pensantes não pensavam como o pensador que normalmente
é que peruca era quando pensava pensativo.
— O tigre de bengala comeu vossa língua, infame infante?
artara, e os — É... — o menino tentou articular uma fala, mas a
rcimoniosos conversa não era seu forte, já que vivia entre as meretrizes, e
o fim do seu não compreendia a maioria das obscenidades que elas diziam.
se houvesse — Quem é o senhor? — perguntou, enfim.
i. — Oh, que indelicadeza de minha parte — o homem tirou
iar adentrou o chapéu e fez uma reverência bem estranha, tanto que Joselito
ogo chamou se perguntou se o sujeito estava com distúrbios intestinais. —
, ostentando Meu nome Aldebaran Pirocoptero Metiê.
ndas. Trajava — Meteu? — indagou a criança, achando aquele nome no
negra ornada mínimo muito estranho.
e reluzentes — Metiê! — repetiu vagarosamente Aldebaran. — M – e –
steiro sorria t – i – ê. Com circunflexo no “ê”.
mo um par de — O que é circunfessonuê?
— Não seja burro, pequeno cabaço! E isso não é importante.
passos lentos O importante é que estou aqui para lhe fazer grandes revelações.
uma gelatina Me diga, pequeno Joselito...
m a gelatina — Como sabe meu nome, moço?
tirava poeira — Oh, pequeno indeflorado, eu sei mais coisas que pode
ompeu suas imaginar. Eu vivo nesse mundo há muito tempo, um tempo
ca antes vira mais longo que a serpente libertina que vive entre as pernas de
m de cartola vosso pai. Mas vamos ao que interessa. Não deseja saber o que
z-tudo sentia tenho a contar? Não está curioso?
a. Depois de — Hmmmm... Num sei!
ar, o homem — Ora, bolas! Como pode não saber se está curioso ou

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Joselito: O Menino Dragão

não. Mas... Que seja! Direi assim mesmo, meu bom cabacinho. — Pera
Vim de muito longe para encontrá-lo, pequeno. Percorri escolhido. E
desertos escaldantes, mares úmidos e molhados, enfrentei — Claro
bandidos no caminho e deflorei fêmeas virgens apenas para apropriado p
obter informações, até que, enfim, encontrei-o, caro Joselito. minha carru
Porque você é um garoto especial! toda a discriç
— Eu? Especial? Joselito
— Sim, muito especial. O vigésimo sétimo de 88 filhos. de vestes estr
Virgem, ainda que trabalhando em uma casa de prazeres lascivos. pipocava em
Nunca teve uma ereção, mesmo sendo filho do homem mais do sexo tântr
viril e bem dotado de toda a região. Por acaso o infante jamais nas calças m
sentiu que era diferente das outras crianças? sentimento i
— Mas o pai falou que sou assim porque ele me cutucou roupas excên
sem querer com sua vara de fazer neném! de determin
— Oh, como pode o energúmeno ter dito tamanho meretriz a of
absurdo? Não é nada disso, pequeno. Você é diferente porque boa mamade
é especial! Você, pobre diabo sem malícia e desconhecedor dos pertenceu.
deleites do coito, é o escolhido! — Eu v
Joselito perdeu a fala, perdeu o ar, perdeu a cor. Perdeu, Aldebar
simultaneamente, a fala, o ar e a cor. Joselito perdeu tudo. brancura clar
Depois, seu coração começou a bater como pandeiro de mulata — Entã
na hora do melhor da festa, quase triturando suas costelas E assim
mirradas sob a pele ressecada e de pouca carne. carruagem d
— E... E... Escolhido? e revelações.
— Sim, pequeno Joselito. Você tem grandes feitos a realizar,
e estou aqui para lhe conduzir a essa maravilhosa jornada.
— É o quê?
— Vou levá-lo para que cumpra seu destino. Para que
cumpra o destino do escolhido. Pois és os escolhido, e teu
destino é o destino do escolhido.
— E pra onde o moço vai levar eu?
— Oh, Joselito, pequeno virginal jamais ereto. Levar-te-ei
a conhecer o mundo! Pois tu és o escolhido, e escolha não tens.

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Samuel Cardeal

m cabacinho. — Peraí, moço. Até agora eu não entendi essa coisa de


no. Percorri escolhido. Escolhido pra mode fazer o quê?
os, enfrentei — Claro, como pude me esquecer. Mas aqui não é o local
apenas para apropriado para tal conversa. Venha comigo, pequeno cabaço,
caro Joselito. minha carruagem está à espera, e então conversaremos com
toda a discrição que assunto tão delicado demanda.
Joselito hesitou; mal conhecia aquele estranho estrangeiro
de 88 filhos. de vestes estranhas e estranheza peculiar. Contudo, a curiosidade
eres lascivos. pipocava em seu âmago, tal qual amantes inflamados na prática
homem mais do sexo tântrico. O pequeno tinha medo, estava quase urinando
nfante jamais nas calças mal lavadas e cheias de remendos, mas havia um
sentimento inexplicável que o impelia a seguir aquele sujeito de
me cutucou roupas excêntricas e fala engraçada. Então, em um rompante
de determinação, o pobre infante estufou o peito como uma
to tamanho meretriz a oferecer os fartos seios a um cliente amante de uma
rente porque boa mamadeira e proferiu com uma imponência que jamais lhe
hecedor dos pertenceu.
— Eu vou com o senhor!
cor. Perdeu, Aldebaran sorriu, e seus dentes alvos brilhavam com sua
perdeu tudo. brancura clara e reluzente.
ro de mulata — Então vamos, garoto, pois o mundo o espera.
uas costelas E assim saíram da casa de prazeres e rumaram até a
carruagem do curioso sujeito que chegara com tantas novidades
e revelações.
tos a realizar,
ornada.

no. Para que


olhido, e teu

o. Levar-te-ei
lha não tens.

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Ao sair
do lado de f
fresco, que o
que sentira n
seu corpo e
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Joselito
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II
A Revelação
Ao sair do bordel onde trabalhava, Joselito viu o exterior
do lado de fora de forma diferente, parecia que o ar era mais
fresco, que o céu era mais azul e a relva era mais verde. O temor
que sentira no começa se dissipara, e um tipo de alívio tomava
seu corpo e sua alma. A verdade era que o pequeno e pobre
faz-tudo de bordel jamais fora feliz. Sua casa era um local de
caos, não sabia o nome de metade dos irmãos e o pai jamais
conversava com ele.
Dercy estava sempre prenha, e nunca trabalhava; o pai
dedicava-se quase que integralmente à fornicação, quando não
com sua mãe, com qualquer outra mulher da aldeia, já que as
fêmeas faziam fila à porta de sua casa para provar o mel que
brotava do membro imponente de Abravanel. No fim das
contas, tudo que queria era sumir daquele lugar e nunca mais
ver os 87 catarrentos que escapuliram das mesmas entranhas
que ele. Cansara de ser explorado por todos aqueles inúteis, e
agora teria seu valor reconhecido e recompensado.
A carruagem de Aldebaran estava a poucos metros da casa
de prazeres, e logo que pôs os olhos nela, Joselito boquiabriu-
se; o veículo era verde-musgo, com desenhos dourados em alto
e baixo relevo. Suas dimensões eram assustadoras, duas ou três
vezes maiores que a casa onde morava. O estrangeiro abriu
uma porta lateral, revelando um estofado aveludado e tão alvo
quando seus dentes brancos e brilhantes.
— Entre, pequeno cabaço. Esta será sua morada durante
nossa fantástica viagem.
Joselito não hesitou, entrou ligeiro na carruagem, sentindo
a mão de Aldebaran espalmar suas nádegas para impulsioná-lo

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Joselito: O Menino Dragão

para dentro da nave. O garoto sentiu um aquecimento estranho Joselito


nos fundilhos, além de um pouco de prazer que não entendia. de rosquinha
Pensou ser o problema que tinha com gases intestinais, e que o sabia o que s
fazia expelir flatos de odores mortificantes. para ostentar
Em seguida, Aldebaran entrou, sentando-se de frente para — O qu
o jovem. Joselito fitou o homem, com um olhar curioso nos pela boca?
olhos, mas nada disse. Apenas mirou os olhos expressivos do — Qua
estrangeiro e aguardou pela explicação que ansiava que lhe fora voar. Tamb
prometida. necessariame
— Acho que lhe devo algumas explicações, não é mesmo, precisa saber
heroizinho virginal? dotado de po
Joselito não disse coisa alguma, mas assentiu vigorosamente que complet
com a cabeça, como um homenzinho sem braços que tenta — Taref
se livrar de uma lagartixa verde folha que caíra em sua cabeça — Sim,
cabeluda. para ser dign
— Bem, como já disse anteriormente, você é o escolhido. — E o
No entanto, és ignorante a respeito do que isso significa. Para preocupado
que entenda, precisamos voltar no tempo. Há milhares de anos, ventura teria
existiu um deus muito poderoso chamado Nauseabundus. Dragão.
Esse deus viveu por centenas de milhares de eras, vagando — Tudo
pelo cosmos e dobrando o tempo para matar o tédio. Um dia, Agora tente
Nauseabundus sentiu-se enfadado por aquela existência vazia; jornada tem
possuía tanto poder, mas de nada o servia. Então, o poderoso Joselito
deus resolveu dividir seu poder supremo com um humano. Mas esmagador,
não poderia ser qualquer humano. sonhando co
“Para isso, Nauseabundus escolheu alguém nobre, de vida. Pois ag
coração puro e corpo casto, e o marcou com o símbolo da rosca. de vida era a
Ficou definido, então, que a cada 300 anos uma criança nasceria se tornar o n
com um sinal de nascença em formato de rosquinha, e que este
seria o escolhido para se transformar no Menino Dragão.”
— Menino Dragão? — indagou Joselito, impressionado
com a história de Nauseabundus.
— Sim, meu caro. E você tem a marca, não é mesmo?

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Samuel Cardeal

nto estranho Joselito sempre teve vergonha da marca escura em formato


não entendia. de rosquinha que carregava na nádega esquerda. Mas agora que
nais, e que o sabia o que significava, sua vontade era andar sem calças apenas
para ostentar sua singularidade especial.
e frente para — O que é um Menino Dragão? Eu vou voar, e soltar fogo
curioso nos pela boca?
pressivos do — Quando a transformação estiver completa, sim, vai
que lhe fora voar. Também poderá expelir labaredas flamejantes, não
necessariamente pela boca... Mas isso não vem ao caso. O que
ão é mesmo, precisa saber é que, para transformar-se no Menino Dragão, ser
dotado de poderes extraordinários e longevidade inumana, terá
gorosamente que completar 5 tarefas que Nauseabundos lhe atribuirá.
os que tenta — Tarefas?
m sua cabeça — Sim, meu caro ignóbil. Tem que completar as tarefas
para ser digno do poder supremo do Menino Dragão.
o escolhido. — E o que terei que fazer? — indagou o pequeno,
gnifica. Para preocupado e amedrontado, imaginando os perigos que por
ares de anos, ventura teria que enfrentar para ser abençoado com o poder do
auseabundus. Dragão.
ras, vagando — Tudo a seu tempo, pequeno cabaço, tudo a seu tempo.
dio. Um dia, Agora tente dormir. Precisa descansar, pois amanhã a grande
tência vazia; jornada tem início.
o poderoso Joselito estava tomado pela curiosidade, mas o cansaço era
humano. Mas esmagador, e preferiu não reclamar. Logo estava dormindo,
sonhando com as coisas maravilhosas que veria em sua nova
m nobre, de vida. Pois agora tinha um objetivo em sua vida, e seu objetivo
olo da rosca. de vida era ascender às alturas mais distantes. Seu objetivo era
ança nasceria se tornar o novo Menino Dragão.
ha, e que este
Dragão.”
mpressionado

mesmo?

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Joselito
de chamá-lo
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— Ond
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— Oh...
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Joselito,
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III
A jornada se inicia
Joselito — ou “pequeno cabaço”, como Aldebaran gostava
de chamá-lo — acordou com as sacudidelas da carruagem de
seu novo mentor. Abriu os olhos preguiçosamente e encontrou
um Aldebaran pensativo. O homem da cartola fitava o lado de
fora pela janela, mas seus devaneios mentais pareciam navegar
em mares distantes.
— Onde estamos? — perguntou o jovem desconhecedor
das partes íntimas de uma mulher.
— Oh... Você acordou! — exclamou o homem, demorando
alguns segundos para sair do transe no qual se encontrava. —
Também, com esse pavimento deteriorado nosso transporte
está a sacolejar mais que saco de velho sem cueca.
O pequeno fez um esgar ao imaginar a bolsa escrotal
enrugada de um ancião despido na parte de baixo, ficando
intrigado ao pensar que a sua, que hoje era firme e bem formada,
também chegaria ao estado de maracujá de gaveta.
— Estamos a caminho de sua primeira missão, em um
povoado distante chamado Tretolândia.
Joselito, o menino virgem, esperou que seu interlocutor
prosseguisse com a explanação, mas Aldebaran nada disse, e
voltou a olhar pela janela, como se lembrasse de um amor não
correspondido que culminara em crime passional com direito a
esquartejamento, necrofilia e canibalismo.
— E qual é a tarefa? — indagou o infante, impaciente e
ansioso.
— Bem, Tretolândia e governada por um cruel ditador,
Avlis Cela, um homem capaz de esquartejar a própria mãe
apenas para ouvir o som dos ossos partindo. O povo o teme

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Joselito: O Menino Dragão

como funkeiros temem dicionários. da bexiga tam


— E a tarefa? — agora Joselito estava com medo, e já sentia visivelmente
algo pastoso e úmido espalhar-se no interior de sua roupa de e nem um po
baixo. — Que c
— Calma, menino cabaço; dir-te-ei o que deverás fazer. Não o ar com fo
se afobe, pois isso é só o começo — Aldebaran tirou do bolso olfato. — Oh
do paletó uma caixa prateada de onde pegou uma cigarrilha gritou ele, ch
cor de rosa. Acendeu o fumo e tragou com calma e vigor. — vamos parar
Sua tarefa é bem simples, posto que é a primeira. Avlis é um E pegue as r
ser muito poderoso, quando irritado, seu corpo chega a medir nunca irão p
quilômetros de altura, e um dedo seu pode esmagar multidões comestes par
sem muito esforço. Contudo, toda sua pujança advém de um do mundo in
item muito específico. O ditador tira seu poder do Baú Sagrado James e
das Tretas Milenares. Joselito, cab
— Baú... O quê? veemente e
— É um objeto minúsculo, e normalmente fica guardado pelo seu men
dentro de sua cueca. Sua missão é entrar na fortaleza e recuperar
o Baú Sagrado das Tretas Milenares. Apesar
— Como vou fazer isso!? — Joselito estava desesperado, maltratada p
sabia que era incapaz de surrar seu irmão mais novo, quem dirá aquecida. Jos
um gigante de poderes incomensuráveis. Iria morrer, e bem vezes, logo e
morrido. — Eu vou morrer, e bem morrido! dourado qu
— Acalme-se, jovem casto, tenho tudo sob controle. Há Enquanto se
uma entrada secreta no castelo, e por ser tão poderoso e temido, vida, o peque
Avlis não tem homens sob seu comando, fica sozinho o tempo que fitava o
todo. Farei com que consiga entrar na fortaleza, bastará que Aldebar
espere até que o tirano durma e tirar o baú de suas intimidades. forçado oriu
— E se ele acordar? É perigoso! seu emprega
— Se não houvesse perigo, não seria um desafio. Ademais, Joselito receb
precisa provar que é destemido e corajoso, caso contrário não — Qual
será digno de ser o Menino Dragão pelos próximos séculos. de marimbon
Joselito engoliu em seco. Agora, além da substância — Senh
pastosa que se espalhava entre o traseiro e a cueca, o líquido pelo garoto

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Samuel Cardeal

da bexiga também se esvaia sem pedir permissão, umedecendo


do, e já sentia visivelmente sua calça surrada e exalando um odor característico
ua roupa de e nem um pouco agradável.
— Que cheiro é esse? — perguntou-se Aldebaran, puxando
ás fazer. Não o ar com força para identificar o odor que lhe incomodava o
rou do bolso olfato. — Oh, pelos deuses, o menino se borrou todo! James! —
ma cigarrilha gritou ele, chamando pelo nome do condutor da carruagem —,
a e vigor. — vamos parar agora, o virginal defecou-se e urinou-se inteirinho.
. Avlis é um E pegue as roupas novas que comprei, esses trapos inservíveis
hega a medir nunca irão perder esse cheiro. Por mil demônios! O que foi que
ar multidões comestes para suas fezes federem tanto? Nem mesmo o enxofre
dvém de um do mundo inferior carrega odor tão desagradável.
Baú Sagrado James estacionou a carruagem serenamente, enquanto
Joselito, cabisbaixo, se envergonhava pela exposição tão
veemente e expansiva de sua intimidade orgânica perpetrada
ca guardado pelo seu mentor.
a e recuperar *
Apesar de estarem percorrendo uma região árida e
desesperado, maltratada pela natureza, havia um riacho de água cristalina e
o, quem dirá aquecida. Joselito achou aquilo estranho, mas não pensou duas
orrer, e bem vezes, logo estava nu, livrando-se do excremento e do líquido
dourado que impregnava sua pele com odores nauseantes.
controle. Há Enquanto se limpava como se fosse o primeiro banho de sua
oso e temido, vida, o pequeno incauto era observado de longe por Aldebaran,
nho o tempo que fitava o genital encolhido e em nunca usado do infante.
bastará que Aldebaran cessou sua perscrutação ao ouvir um pigarrear
intimidades. forçado oriundo de James. O condutor da carruagem encarava
seu empregador com um olhar de reprovação, que o mentor de
fio. Ademais, Joselito recebeu com desgosto.
ontrário não — Qual o problema, James? Por acaso engoliu uma caixa
s séculos. de marimbondos?
a substância — Senhor, acho que não é sensato manifestar sua lascívia
ca, o líquido pelo garoto tão cedo. Lembra-se do ocorrido com o último

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Joselito: O Menino Dragão

Menino Dragão? deixarei aqui


— Não fale bobagens. Estou apenas observando-o. Além — Mas
disso, aquela minhoquinha não faz nem cócegas. Agora trate de — Não
preparar a carruagem, logo vamos partir. segunda opç
* a ti imputad
Após o banho, que a propósito foi delicioso, Joselito vestiu as menininha q
roupas novas que lhe foram entregues por Aldebaran. As vestes Joselito
eram de um rosa berrante, e o pequeno casto achou que parecia líquido salga
roupa de mulherzinha. Seu novo mentor apenas lhe desferiu uma tremer e o e
palmada nas nádegas que estalou alto, repreendendo-lhe em de seu corpo
seguida por seu pensamento retrógrado. — Tudo
O percurso até a fortaleza do ditador foi curto. O pequeno e as lágrima
queria que o caminho fosse mais longo, pois desejava adiar o desfrutou do
máximo possível o encontro que podia significar o término de — Ótim
sua existência. A crianç
— Chegamos, jovem cabaço. É por essa parede que fortaleza. O
adentrarás o castelo do terrível Avlis Cela. coberto por
— Acho que não consigo — sussurrou o pequeno, com a prateados e p
voz trêmula e o pequeno membro ardendo de segurar o líquido extensão da
da bexiga que teimava em buscar o exterior. ramo de flor
Aldebaran fitou o infante com os olhos inflamados de — É aq
cólera. Retirou a luva de veludo da mão direita e esbofeteou do temível d
o rosto do pequeno com um único golpe. Seus dedos ficaram — Com
estampados em vermelho-rosado na face inocente do jovem bunda de ou
cabaço. — Com
— Aaaaai! — berrou o infante, esfregando o lugar agredido — Eu n
na débil tentativa de aliviar o ardor. — Quie
O mentor vestiu novamente a luva e desceu da carruagem. borrou. — H
— Agora venha até aqui e não se comporte como um para sua pas
covarde. procure o gi
— Mas... Mas... discreto e te
— Não tem “mas”. Se quer desistir de ser o próximo ser servido n
Menino Dragão e gozar da longevidade, poder e fortuna, eu o Um nó

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Samuel Cardeal

deixarei aqui mesmo e partirei em busca de um novo escolhido.


ndo-o. Além — Mas eu tenho a marca! Só eu po...
gora trate de — Não seja estúpido, virgem inocente! Sempre há uma
segunda opção. Agora, o que vai ser? Vais enfrentar o desafio
a ti imputado ou vai voltar correndo pra mamãe como uma
elito vestiu as menininha que perdeu as calças?
an. As vestes Joselito engoliu em seco. Os olhos arderam quando o
u que parecia líquido salgado começou a acumular, as pernas passaram a
desferiu uma tremer e o esfíncter ameaçava ceder aos impulsos peristálticos
endo-lhe em de seu corpo amedrontado.
— Tudo bem — respondeu o pequeno, com a voz falhando
. O pequeno e as lágrimas descendo pelo rosto inocente de quem nunca
ejava adiar o desfrutou do prazer genital.
o término de — Ótimo; vamos lá, então.
A criança seguiu Aldebaran até a parede dos fundos da
parede que fortaleza. O muro tinha mais de 12 metros de altura, e era
coberto por uma trepadeira de folhas alaranjadas e espinhos
ueno, com a prateados e perigosamente pontudos. Os dois caminharam pela
rar o líquido extensão da parede até que o mentor parou e apontou para um
ramo de flores cor de burro fugido.
flamados de — É aqui. Entrareis por esta falha e deflorarás a fortaleza
e esbofeteou do temível ditador Cela.
edos ficaram — Como vou passar pela parede? Aí tem mais espinho que
te do jovem bunda de ouriço!
— Como és burro, pequeno escolhido!
gar agredido — Eu não sou...
— Quieto! — vociferou Aldebaran; Joselito quase se
a carruagem. borrou. — Há um buraco na parede, previamente preparado
e como um para sua passagem. Escute-me bem, jovem Menino Dragão,
procure o gigante ditador e retire o baú de suas ceroulas. Seja
discreto e tente não acordá-lo, pois se isso acontecer, você vai
o próximo ser servido no jantar acompanhado de salada de flor-de-pica.
ortuna, eu o Um nó na garganta impediu que o pequeno aventureiro

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Joselito: O Menino Dragão

respondesse. Ele respirou fundo, buscando a coragem que ínfima abertu


jamais tivera, e penetrou a cavidade por entre a vegetação, espremesse a
partindo para uma investida da qual podia voltar em pequenos Da mesm
pedaços digeridos pelo temível e malvado Avlis Cela. lado de fora
* urina nos co
Se o pequeno filho de Vavá Benga de Mel achara enorme enorme recin
a fortaleza pelo lado de fora, quando chegou ao espaço além- pareciam ter
muro, se impressionou com a magnitude do lugar. Por um pés. Ao fim
breve momento, esqueceu-se do pavor que forçava seus dejetos escada, de de
a escapulirem pelo orifício a tal tarefa destinado. Mas logo Ele corr
recobrou a consciência de que estava ali para cumprir uma pequeno pre
tarefa, e devia fazê-lo mais que depressa, antes que o frágil fio de pedra áspera
coragem que o impelia a continuar se dissipasse por completo e a prática o fe
ele pusesse-se a correr como um animalzinho acuado corre do fim daquela
predador feroz. No pavi
Joselito avançou sorrateiramente, tomando cuidado para ruidosa do g
não pisar as folhas secas que ora ou outra surgiam em seu martelou-lhe
trajeto. O caminho do paredão até a entrada da fortaleza era infante só nã
longo, quando alcançou o portão principal, sua respiração já se esvaziara a
era pesada, resfolegava sedento, como se seus pulmões fossem Mas o jo
invadidos por mariposas de areia. das dificulda
Depois de recuperar parcialmente o fôlego, o infante com quase u
analisou bem as portas duplas de madeira. Eram tão altas cutucando o
que ele tinha dificuldade de enxergar seu topo. A maçaneta se fluiu em seu
encontrava a uma altura inalcançável para o pequeno casto, mas, Joselito
depois de muito observar aquela gigantesca porta, Joselito notou grandes gen
um desnível entre as duas. Aproximou-se bem e percebeu, com terrível e cru
alegria, que estava aberta. das enormes
O pequeno cabaço pôs-se a empurrar a porta, mas era acometeu o
muito pesada. Fez tanta força que a qualquer momento determinaçã
podia ter as hemorroidas estouradas. Mas, depois de minutos distância do
empreendendo todas as forças de seu ser, o menino foi capaz de Olhando
deslocar minimamente a enorme porta de madeira. Contudo, a tão assustado

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Samuel Cardeal

oragem que ínfima abertura foi suficiente para que seu mirrado corpinho se
a vegetação, espremesse até o interior da construção.
m pequenos Da mesma forma que a construção era majestosa vista do
la. lado de fora, seu interior parecia uma taberna suja e fedida a
urina nos confins de Tortuga. Joselito começou a andar pelo
hara enorme enorme recinto, que quase não tinha mobiliário e cujas paredes
espaço além- pareciam terem sido construídas por alguém sem mãos e sem
gar. Por um pés. Ao fim do inimaginavelmente extenso salão, uma larga
seus dejetos escada, de degraus que superavam a altura do menino Joselito.
o. Mas logo Ele correu até a escada. Para vencer o primeiro degrau, o
umprir uma pequeno precisou de três tentativas, saltando para se agarrar à
o frágil fio de pedra áspera que compunha a rústica escadaria. Dali para frente,
r completo e a prática o fez mais hábil, e não demorou para que chegasse ao
ado corre do fim daquela difícil escalada.
No pavimento superior, Joselito pôde ouvir a respiração
uidado para ruidosa do gigante malvado que repousava em paz. O coração
iam em seu martelou-lhe as costelas finas e o ar sumiu de seus pulmões. O
fortaleza era infante só não liberou o líquido dourado porque sua bexiga já
respiração já se esvaziara anteriormente.
mões fossem Mas o jovem casto não podia desistir agora. E, ao se lembrar
das dificuldades que passou espremido em uma pequena cabana
o, o infante com quase uma centena de pessoas, além do pai desfilando e
am tão altas cutucando os filhos com seu membro agigantado, a coragem
maçaneta se fluiu em seu espírito como esgoto em dia de enchente.
o casto, mas, Joselito inflou o peito e avançou em uma marcha digna dos
oselito notou grandes generais, seguindo confiante em direção ao leito do
rcebeu, com terrível e cruel Avlis Cela. A cada passo, o ronco que escapava
das enormes narinas do ditador aumentava, e a coragem que
rta, mas era acometeu o pequeno cabaço ia minguando. Contudo, sua
r momento determinação perdurou, e ele avançou até ficar a um palmo de
de minutos distância do grande homem muito grande.
foi capaz de Olhando o dono da fortaleza de perto, Joselito não o achou
. Contudo, a tão assustador quanto Aldebaran lhe fizera acreditar. Apesar de

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Joselito: O Menino Dragão

sua dimensão agigantada, Cela era franzino, de dedos finos e tossiu alto,
rosto angular. Os cabelos pretos eram curtos, e davam sinais Valesca em
de uma futura calvície, e um projeto de barba sujava o rosto de cabeça, respi
feição cansada, contudo jovem. força e corag
Vestia uma calça jeans ocultando as pernas de sabiá e uma O jovem
camisa preta com a inscrição “Calypso” sobre a figura de uma coragens, me
égua trotadora. Apesar da respiração sonora, entre roncos e que tal viage
suspiros, o corpo do malvado ditador quase não se movia.
O pequeno fitou a criatura por algum tempo, até que se Escuridã
lembrou que a tarefa deveria ser cumprida logo, e quanto mais O interio
esperasse, mais perigoso seria. Então, Joselito decidiu não pensar Joselito caiu
muito naquilo e partir para a ação. Esgueirou-se, bordeando o infantil. O lu
corpo imenso do enorme gigante grande. que emanav
Quando chegou próximo ao umbigo do desprezível levantou, em
monstro gigante de tamanho agigantado, o menino escorregou serem os pe
em uma secreção viscosa e com um cheiro que conhecia repulsa, mas
do bordel, mas não sabia sua origem. Para não cair, Joselito mais degrada
apoiou as mãos na barriga de Avlis, e logo o gigante se moveu Prenden
bruscamente. Contudo, o tirano não despertou, apenas lhe acometia
murmurou impropérios que a criança nunca ouvira, nem mesmo seu redor em
quando assistiu ao programa Hermes e Renato na TV do bordel. instaurado. A
O futuro Menino Dragão se recompôs, enxugou o suor enorme, e Jo
que abundava da testa suada e prosseguiu com seu avanço. o que viera b
No momento em que, enfim, chegou à barra da calça do dono Os minu
da Fortaleza, o pequeno estremeceu. Ao pensar que teria que membro ado
deflorar as ceroulas da criatura, lembranças antigas assaltaram- o pequeno p
lhe a memória; sofreu ao recordar de todas as vezes que seu pai mãos.
lhe castigara por acidentes causados pelo jeito desastrado de — Será
menino. Vavá lhe infligira punições degradantes, e o pequeno Joselito a
nunca esquecera todas as vezes que apanhara na cabeça por que, de fato
meio do instrumento petrificado e intumescido do pai. Excitado com
Os devaneios do pequeno infante se embaralharam e e agarrou-o
esvaneceram assim que o homem de proporções exageradas duas mãos e

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Samuel Cardeal

edos finos e tossiu alto, e todo o corpanzil tremeu como as nádegas de


davam sinais Valesca em uma apresentação artística. Joselito balançou a
va o rosto de cabeça, respirou fundo e pediu a Nauseabundus que lhe desse
força e coragem para enfrentar tão degradante desafio.
sabiá e uma O jovem escalou pela cintura do gigante e, em um ímpeto de
gura de uma coragens, mergulhou nas ceroulas do ditador, mesmo sabendo
tre roncos e que tal viagem podia não ter volta.
movia. *
o, até que se Escuridão.
quanto mais O interior da roupa íntima de Avlis era uma total escuridão.
u não pensar Joselito caiu sentando, sentindo algo macio sob seu traseiro
bordeando o infantil. O lugar era quente e aconchegante, contudo, o odor
que emanava dali era demasiado nauseante. O menino se
desprezível levantou, embrenhando-se em ramos densos que logo percebeu
o escorregou serem os pelos pubianos do ditador. Aquilo lhe causou certa
ue conhecia repulsa, mas manteve-se forte; afinal, passara por coisas bem
cair, Joselito mais degradantes na casa dos pais.
nte se moveu Prendendo a respiração para evitar o cheiro genital que
tou, apenas lhe acometia atrevido, o pequeno casto avançou, tateando ao
nem mesmo seu redor em busca do baú, já que nada enxergava no breu
V do bordel. instaurado. A extensão das intimidades do Grande Cela era
ugou o suor enorme, e Joselito passou grande período de tempo a procurar
seu avanço. o que viera buscar.
alça do dono Os minutos foram longos, e vez ou outra o menino sentia o
que teria que membro adormecido do gigante pulsar timidamente. De súbito,
s assaltaram- o pequeno parou, sentira algo duro e geométrico no tatear das
s que seu pai mãos.
esastrado de — Será que é o baú? — sussurrou para si.
e o pequeno Joselito apalpou toda a extensão do objeto até se convencer
cabeça por que, de fato, encontrara o Baú Sagrado das Tretas Milenares.
pai. Excitado com a descoberta, o guri apanhou o objeto santificado
aralharam e e agarrou-o contra o peito, apertando-o firmemente com as
s exageradas duas mãos e os dez dedos. Agora, bastava encontrar a saída das

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Joselito: O Menino Dragão

enormes ceroulas do monstro adormecido. — Eu...


Começou a correr na direção contrária, sentindo os — Oh! V
super pentelhos açoitarem-lhe a face púbere. Quando, enfim, O que signifi
alcançou os limites das cuecas monstruosa do monstro fazedor — Por f
de monstruosidades, foi surpreendido por um par de olhos gigante de so
maiores que as nádegas da mais fogosa das meretrizes do bordel — Mata
onde trabalhara até poucos dias atrás. Eu jamais m
O garoto que até poucos segundos transbordava felicidade Ainda mais s
e sentia-se o mais corajoso dos infantes, agora tremia como um — Cand
idoso com Parkinson tentando segurar seu membro enrugado — Sim..
e encolhido na débil tentativa de acertar o jato urinário dentro dá na mesm
da latrina. O líquido que se acumulara parcamente na bexiga tornar o Men
infantil correu ligeiro pernas abaixo, aquecendo e umedecendo — Com
a pele seca e esticada das pernas finas de sabiá desnutrido. se em curios
— Que es tú, cara de cú? — proferiu o dono da fortaleza, — Faz t
sua voz era como um trovão em um dia ensolarado de sol não é a prim
extremamente quente e bronzeante. — Entã
— E... E... E... — Joselito era incapaz de concatenar as — Claro
letras em um vocábulo inteligível. E agora, além da tremedeira e — Favo
da urina a empapar-lhe as calças, uma pasta morna se espalhava — Você
no traseiro, fazendo suas pequenas ceroulas penderem para preciso.
baixo como um coador de café usado. Joselito
— Por acaso comeram vossa língua, pequeno polegar? gigantesco in
— Eu... — Pois b
— Oh, por Satã e todos os demônios! Que cheiro de merda séculos. É ra
horrendo é esse? macho tem s
Joselito corou, só então percebendo que estava todo Vejo que é c
borrado dos dejetos resultantes da digestão. — Casto
— O que fazes em minha casa, minúsculo invasor? E por — Quan
que estava em minha cueca, pequeno pervertido. Você jamais
— Não, não... Não sou pervertido! — enfim, Joselito uma amiguin
conseguiu expressar algo em palavras. O infan
— Então por qual razão passeava em minhas intimidades? aquilo. Ainda

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Samuel Cardeal

— Eu... É que...
sentindo os — Oh! Viestes roubar o Baú Sagrado das Tretas Milenares!
ando, enfim, O que significa que você é O Candidato.
nstro fazedor — Por favor, não me mate, oh grande ditador e perigoso
par de olhos gigante de sotaque cosmopolita.
zes do bordel — Matar? Estás perturbado, pequeno inseto humano?
Eu jamais mataria uma criatura tão inútil e indefesa quanto tu.
va felicidade Ainda mais sendo O Candidato.
mia como um — Candidato?
ro enrugado — Sim... Claro, claro. Devem ter dito O Escolhido. Mas
nário dentro dá na mesma. Você está tentando cumprir as 5 tarefas para se
te na bexiga tornar o Menino Dragão.
umedecendo — Como sabe disso? — o medo do Escolhido transmutou-
nutrido. se em curiosidade e espanto.
da fortaleza, — Faz tempo que não colocam O Baú entre as tarefas, mas
arado de sol não é a primeira vez.
— Então, se não vai me matar, posso levar O Baú?
oncatenar as — Claro, desde que me faça um pequeno favor.
tremedeira e — Favor?
se espalhava — Você só sabe perguntar, criança? Cale-se e ouça o que
nderem para preciso.
Joselito assentiu, aguardando calado e ansioso a fala de seu
polegar? gigantesco interlocutor.
— Pois bem. Eu vivo sozinho nessa fortaleza há incontáveis
iro de merda séculos. É raro receber visitas, então me sinto solitário. E um
macho tem suas necessidades, mesmo um quase deus como eu.
estava todo Vejo que é casto, não é mesmo, pequeno?
— Casto?
vasor? E por — Quanta ignorância. Vou explicar em termos que entenda.
Você jamais colocou sua manjubinha pra brincar no aquário de
fim, Joselito uma amiguinha.
O infante sacudiu a cabeça, negando veementemente
ntimidades? aquilo. Ainda que não tivesse entendido grande coisa.

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Joselito: O Menino Dragão

— E o que quer que eu faça, moço grande?


— Oh, como você é doce. A primeira coisa a fazer e tirar
essas roupas cheirando merda de dragão e tomar um banho. O
banheiro fica no final do corredor à direita. Depois de limpo,
siga o corredor até a última porta, estarei esperando no meu
Após a
quarto.
Assim, Avlis se retirou, seguindo até seu quarto. Joselito
respirou fundo, e só então notou o futum que advinha de seus Duas ho
fundilhos borrados de excremento. cerca viva pe
— Um banho até que vai bem — disse para si. Andava deva
* que havia se
O banheiro do suposto ditador era bastante luxuoso, com e asco estam
toalhas brancas felpudas, uma banheira de mármore iraniano e o que lhe inc
água cristalina e aquecida descendo em uma cascata reluzente. A uma c
O pequeno logo entrou na banheira e sentiu um alívio ao se deliciava c
livrar-se dos dejetos que impregnavam sua pele púbere. Perdeu rosadas uma
a conta de quanto tempo ficou ali, relaxando sob a água morna e que se apro
sonhando com sua glória quando, enfim, se tornasse o Menino arraigado na
Dragão. aguardando
Findado o delicioso banho, o infante seguiu o caminho Joselito per
indicado. A porta do quarto do anfitrião estava entreaberta, charrete ond
mas a lacuna era mais que suficiente para o pequeno Candidato bolso e entre
passar. Entretanto, a visão que surgiu ante seus olhos não era grosseiro.
nada do que o jovem cabaço esperava. Pois, deitado em sua — É ele
cama, com as mãos entrelaçadas amparando a nuca e um olhar — Sim —
maldoso e convidativo, Avlis Cela estava completamente nu. Aldebar
dourado de
naquele mun
uma luz ilum
— Oh,
conseguiu?
— Não
entrou na ca

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fazer e tirar IV
um banho. O
ois de limpo,
ndo no meu
Após a primeira vez: O Guerreiro
arto. Joselito
de Petróleo
inha de seus Duas horas mais tarde, Joselito saiu pela mesma falha na
cerca viva pela qual entrara na fortaleza do temível Avlis Cela.
. Andava devagar, as pernas arqueadas, coxas separadas; parecia
que havia se borrado novamente. Contudo, a expressão de dor
uxuoso, com e asco estampada em seu rosto indicava que não era excremento
re iraniano e o que lhe incomodava sobremaneira.
a reluzente. A uma curta distância dos limites da propriedade, Aldebaran
um alívio ao se deliciava com um cachimbo metálico, expelindo pelas narinas
bere. Perdeu rosadas uma fumaça cheirosa de erva santa. Fitou o menino
água morna e que se aproximava lentamente, analisando atencioso o esgar
se o Menino arraigado na face do jovem. A principio, o mentor nada disse,
aguardando que o pequeno cabaço se manifestasse. Contudo,
u o caminho Joselito permaneceu em silêncio e, assim que alcançou a
entreaberta, charrete onde Aldebaran o esperava, apenas levou a mão ao
o Candidato bolso e entregou ao homem um objeto enrolado em um tecido
lhos não era grosseiro.
tado em sua — É ele? — indagou o adulto.
a e um olhar — Sim — respondeu o pequeno, de forma seca e desgostosa.
mente nu. Aldebaran abriu o embrulho e fez revelar um pequeno baú
dourado de brilho jamais visto em qualquer metal existente
naquele mundo ou em outros. Um brilho brilhante que reluzia
uma luz iluminada e reluzente.
— Oh, é ele! O Baú Sagrado das Tretas Milenares. Como
conseguiu?
— Não quero falar sobre isso! — emburrado, Joselito
entrou na carruagem e se sentou.

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Joselito: O Menino Dragão

Assim que o traseiro juvenil do menino tocou o assento, — Espe


uma dor incrivelmente intensa tomou seu orifício de assalto. O Com o
pequeno levantou-se em um salto, gritando despudoradamente Aldebaran se
como uma galinha nova ao sentir a lâmina da dona do galinheiro no solo. Mur
roçar-lhe o pescoço recém-despenado e anunciando seu futuro que o peque
como canja na panela da dona de casa que cortar-lhe-ia o compreende
pescoço sem penas que acabara de despenar com a mesma De repe
ferramenta do corte futuro. uma luz co
— Ai, caralho! chapéu, tom
— O que é isso, pequeno cabaço. Que grosseria! escuro e ens
— Vai se foder! Não é você que está todo arrombado! luz ia se diss
Aldebaran riu-se, até deixou o cachimbo cair ao predestinado
chão enquanto curvava-se sobre a barriga escarnecendo Uma fo
prazerosamente do pobre menino. uma queima
— Agora entendi, meu jovem. Acho que não posso mais excretor se d
chamá-lo de pequeno cabaço. de dor, mas
O homem não conseguia conter o divertimento, o que como um c
deixava Joselito cada vez mais furioso. Se possuísse um membro cabeça alarga
tão possante e rijo quanto o do pai, acertaria Aldebaran na seu mentor o
cabeça com toda sua força. Contudo, seu pequeno órgão era Logo o
inofensivo e nem mesmo conseguia ficar ereto. moldada a p
— Não tem graça! membro! A f
— Calma, meu pequeno, calma. Você conseguiu o primeiro e se precipita
item, e serás recompensado. A dor que lhe aflige passará. Quando
Joselito olhou nos olhos de Aldebaran, e um ínfimo fio silêncio tran
de esperança tomou seu olhar observador, transmutando-se ambiente. Jo
rapidamente em algo grande e muito maior do que algo pequeno. seu traseiro s
— Como assim, recompensado? até uma pon
— Ora, pequeno ex-cabaço. A transformação em Menino quanto o inst
Dragão não é feita em um passe de mágica quando se termina por escamas
a quinta tarefa. A mutação é gradativa. Agora que conseguiu o perceber que
Baú, passará pelo primeiro estágio da transformação. podendo enr
— Hã? Extasiad

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Samuel Cardeal

u o assento, — Espere e verá.


de assalto. O Com o Baú Sagrado das Tretas Milenares em mãos,
doradamente Aldebaran se levantou, retirou a cartola da cabeça e depositou-a
do galinheiro no solo. Murmurou algumas palavras em um idioma ininteligível
o seu futuro que o pequeno Joselito não entendia nem tampouco conseguia
rtar-lhe-ia o compreender como algo inteligível.
m a mesma De repente, totalmente inesperado, repentino e imprevisto,
uma luz cor de equino escapulidor emanou de dentro do
chapéu, tomando todo o ambiente e perfazendo um clarão
ia! escuro e ensurdecedor. A terra começou a tremer enquanto a
mbado! luz ia se dissipando vagarosamente. Foi então que o pequeno
bo cair ao predestinado sentiu.
scarnecendo Uma formigação se apoderou de seu traseiro, seguida de
uma queimação dolorida e gostosa. Joselito sentiu seu órgão
o posso mais excretor se dilatar, o orifício crescer e esquentar. Queria gritar
de dor, mas logo aquilo se transformou em algo deleitoso,
ento, o que como um cafuné carinhoso nas madeixas ressecadas de sua
um membro cabeça alargada. Sua língua travou, e foi incapaz de indagar ao
Aldebaran na seu mentor o que estava acontecendo.
no órgão era Logo o pequeno sentiu sua carne expandindo e sendo
moldada a partir de seu orifício recém-violado. Era um novo
membro! A formação se alongou, rompendo o calção que vestia
u o primeiro e se precipitando imponente para fora.
assará. Quando o processo chegou ao fim, tudo se aquietou, um
m ínfimo fio silêncio tranquilo e silenciosamente calmo tomou conta do
smutando-se ambiente. Joselito girou o pescoço e fitou sua nova forma. De
lgo pequeno. seu traseiro saía uma cauda grossa e comprida, que se afunilava
até uma ponta em forma de seta, tão dura quanto metal ou
em Menino quanto o instrumento procriador de seu pai. Era verde e coberta
o se termina por escamas brilhantes e resistentes. O pequeno se assustou ao
conseguiu o perceber que aquele novo órgão de seu corpo era articulado,
ão. podendo enrolar-se, esticar-se e atacar com força sobrenatural.
Extasiado, Joselito correu até a árvore mais próxima e

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Joselito: O Menino Dragão

desferiu um golpe certeiro com sua nova cauda. O tronco partiu- virgens ninfo
se ao meio, e a copa desabou ruidosa sobre o solo, levantando E aquele
poeira e espalhando folhas ressequidas pelo ar. O menino
sorriu, pulou, bateu palmas como um cabeleireiro homossexual Quando
ao atender um cliente espadaúdo de dotes apetitosos. Aldebaran à
— Isso é incrível! — gritou o pequeno, que já não sentia janelas o peq
mais o orifício arder. Na verdade, tinha um novo orifício sob a escuridão.
cauda, escamoso e durinho, que podia ser usado para diversos A crianç
fins sem lhe infligir dor alguma. mirrado e a
— Que bom que gostou. Agora vamos entrar no veículo, densas que m
pois há um longo caminho pela frente. Ainda temos quatro Caminhou p
tarefas a cumprir, meu pequeno, e não há tempo a desperdiçar. tateando o so
Com um sorriso espontâneo e largo no rosto, Joselito pois alguns
enrolou seu novo membro ao redor da própria cintura e entrou que aparente
na carruagem, tão feliz quanto uma prostituta quando atende um — Ai! —
idoso sem sangue a bombear seu esquecido órgão reprodutor recém-forma
que só quer brincar com o par de seios redondos e gostosos da — Oh,
mulher trepadeira. Aldebaran.
— E para onde vamos agora, mestre? — indagou a criança, — Por q
alegremente e com uma expressão tão imbecil quanto a de um — Cheg
participante de um reality show apresentado por um jornalista — E nã
que acha que os participantes são inteligentes quando não são — Não!
inteligentes nem por decreto. pode nos en
— Agora, meu caro ex-cabaço, vamos visitar uma terra — Quem
onde o sol não bate e onde os passarinhos não piam. Vamos escuro que n
para o Mundo Sem Sol de Lano. — Não
— E qual será minha tarefa? Lá os rabos
— Tudo ao seu tempo, criança. Agora descanse para sua iluminam até
próxima tarefa, na hora certa saberá dos detalhes. voltar à carr
Tomado por uma esfuziante alegria infantil, Joselito apenas por aqui.
assentiu. Abraçou sua longa cauda como quem se agarra a Os dois
um pau de sebo cujo cume ostenta notas de 100 reais e logo na própria c
adormeceu como um homem que acaba de ser abusado por 70 plenamente

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Samuel Cardeal

ronco partiu- virgens ninfomaníacas.


o, levantando E aquele descanso era mais que merecido.
O menino *
homossexual Quando acordou, o futuro Menino Dragão não encontrou
os. Aldebaran à sua frente. A carruagem estava parada, e pelas
já não sentia janelas o pequeno só enxergava uma densa, profunda e plena
orifício sob a escuridão.
para diversos A criança desenrolou a cauda que envolvia seu corpinho
mirrado e abriu lentamente a porta. As sombras eram tão
r no veículo, densas que mal enxergava um palmo à frente do órgão nasal.
emos quatro Caminhou por alguns metros praticamente às cegas, apenas
desperdiçar. tateando o solo com sua cauda dura e rija. Mas de nada adiantou,
osto, Joselito pois alguns metros à frente, bateu de frente com uma árvore
tura e entrou que aparentemente não estava ali 1 segundo antes.
do atende um — Ai! — o menino levou a mão à testa, sentindo o inchaço
o reprodutor recém-formado.
gostosos da — Oh, você está aqui — o pequeno reconheceu a voz de
Aldebaran.
ou a criança, — Por que está tão escuro aqui?
nto a de um — Chegamos ao Mundo Sem Sol de Lano.
um jornalista — E não podemos ao menos acender uma lamparina?
ndo não são — Não! Ainda não. Pois Lano, O Guerreiro de Petróleo,
pode nos encontrar antes da hora.
ar uma terra — Quem é esse Lano? E o que terei que fazer nesse lugar
piam. Vamos escuro que nem o inferno.
— Não diga bobagens crianças, o Inferno jamais foi escuro.
Lá os rabos queimam incessantemente e as chamas flamejantes
nse para sua iluminam até no lugar do corpo onde o sol não bate. Vamos
voltar à carruagem, então te explicarei o que deverá ser feito
selito apenas por aqui.
se agarra a Os dois voltaram lentamente até o veículo. Joselito tropeçou
reais e logo na própria cauda duas ou três vezes, ainda não se acostumara
usado por 70 plenamente à nova parte de seu corpo. Assim que entraram na

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Joselito: O Menino Dragão

carruagem, o mentor do futuro Menino Dragão cerrou as janelas mais que var
e acendeu um tímido lampião. Fez silêncio por alguns minutos, ventanias ve
enquanto o pequeno ex-virgem aguardava ansiosamente pelas leste do mun
explicações que ansiava. — Com
— Veja bem, pequena criança. Vou te contar tudo o que se parece! —
precisa saber, e espero que sua coragem não se esvaia após meu mais úmidos
relato. — Você
— Vou até o fim — afirmou o pequeno, como se fosse apontando p
grande coisa. não estava a
— Certo, então escute o que eu tenho a dizer, e não me qualquer tipo
interrompa ou sou capaz de fazer minhas necessidades nesse tomar todo o
seu rabo verde que não para de balançar. poderá acend
— Ok. — Com
— Lano é o último de uma dinastia muito antiga. Por as letras das
séculos viveu com seus irmãos do clã dos Kurumins da Tia chamado Joã
Carla. Contudo, aos poucos todos morreram, e apenas Lano — Eu ap
sobrou. Desde então, esta região, onde ele nasceu e sempre em linha reta
viveu, perdeu gradativamente toda e qualquer fonte de luz, alcançará a C
até se tornar escura como o orifício mais oculto no traseiro lamparina e s
de um gorila marchador. Com a perda da Família, Lano ficou — Com
amargurado, se tornando impiedoso e cruel. Para conservar sua — Bem,
juventude, se alimenta de viajantes incautos que, desavisados, o corpo de
atravessam por essas terras inférteis. churrasco be
“Mas Lano tem uma fraqueza: adora comer doce de chuchu. Eva não tin
Então, tudo o que deve fazer é persuadi-lo a lhe entregar sua abaixo dos o
espada de osso de lombo de smurf vermelho. Pegue isso — igualmente b
disse o homem, tirando um embrulho prateado do bolso. — É existem, deix
uma barra do mais puro e saboroso doce de chuchu de todo o mas que não
mundo. Mas não deixe que o Guerreiro de Petróleo lhe tome o pequeno des
doce sem antes ter a espada em mãos. Caso contrário, ele usará — E se
em ti a força dos círculos Kurumins, e nem mesmo se dispondo — Seja r
a ser sodomizado irá escapar da pujança viril de Lano.” lhe parta em
Joselito engoliu em seco, fitando o próprio rabo que tremia O peque

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Samuel Cardeal

rou as janelas mais que vara verde no vendaval do dia do vento na terra das
uns minutos, ventanias ventosas do outro lado do mundo a oeste do lado
amente pelas leste do mundo.
— Como vou encontrá-lo? Eu nem mesmo sei como ele
tudo o que se parece! — disse o menino, buscando coragem nos orifícios
aia após meu mais úmidos de sua intimidade espírito-emocional.
— Você deverá levar este lampião — disse Aldebaran,
mo se fosse apontando para o lampião acesso ao seu lado, mas que há pouco
não estava acesso, pois estava apagado, assim, não emitindo
er, e não me qualquer tipo de luz iluminadora que impedisse a escuridão de
idades nesse tomar todo o ambiente tornando-o escuro e sem luz. — Mas só
poderá acendê-lo quando alcançar a Clareira dos Quatro.
— Como? — Joselito entendeu tanto quanto você entende
antiga. Por as letras das músicas daquela banda liderada por um sujeito
mins da Tia chamado João e de sobrenome Gordo.
apenas Lano — Eu apontarei a direção, então andarás por 12 quilômetros
eu e sempre em linha reta, sem parar para descansar ou se alimentar. Só assim
onte de luz, alcançará a Clareira dos Quatro. Quando lá chegar, acenda a
o no traseiro lamparina e se aproxime confiante e cuidadoso de Lano.
, Lano ficou — Como saberei que é ele?
onservar sua — Bem, Lano é um ser bem peculiar. Não usa roupas, tem
desavisados, o corpo de músculos definidos e torneados, pele negra como
churrasco bem passado e não tem aquilo que Adão tinha mas
ce de chuchu. Eva não tinha. Seu nariz se resume a orifícios pequeninos
entregar sua abaixo dos olhos, que são brancos como a neve, onde pupilas
egue isso — igualmente brancas como a neve dão a impressão de que não
o bolso. — É existem, deixando ver apenas dois globos brancos como a neve,
hu de todo o mas que não são de neve, e podem te enxergar muito bem,
o lhe tome o pequeno descabaçado.
rio, ele usará — E se ele tentar me matar? Se Lano não quiser me ouvir?
se dispondo — Seja rápido e mencione o doce de chuchu antes que ele
no.” lhe parta em dois com suas espadas sagradas de osso cortante.
o que tremia O pequeno engoliu em seco, como se algo desprovido de

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Joselito: O Menino Dragão

umidade descesse por sua garganta sem ajuda de um liquido a fósforos e, c


lubrificar as mucosas ressecadas. entregue por
— Se estiver em perigo, cante uma canção de amor, talvez nada dizia pa
ele durma. Agora, pegue o doce a lamparina e vá. O tempo urge, árvores cent
e todo segundo é como barras de ouro: vale mais que dinheiro. assustadora.
Joselito fechou os olhos e fez uma oração silenciosa sem monstros or
fazer barulho, ou seja, totalmente em silêncio. Feito isso, rígidas e mu
apanhou os itens que lhe serviriam nessa assustadora jornada e uma coloraç
saiu da carruagem, enrolando a nova cauda no corpo e seguindo tardiamente
em frente como quem busca o fim do infinito num dia escuro O silênc
de sol de domingo. cantasse um
Os primeiros quilômetros foram os mais difíceis; Contudo, a c
desprovido de calçados para não denunciar sua presença com uma voz sur
ruídos de passadas, o infante teve as solas perfuradas por abandonado
diversos corpos estranhos, e sentiu mais dor do que quando — Que
fora deflorado pelo gigante da fortaleza. Com o avançar, seus ousa trazer a
pés foram ficando dormentes, e o sangue parou de verter — Doce
vertinosamente de seus pequenos membros de cinco dedos a entre os lábi
tocarem o solo áspero e obstaculoso. A escuridão que lhe fazia desenvolvido
quase perder o controle do próprio esfíncter, agora se fazia seu corpo co
menos incômoda, visto que os olhos se acostumaram à falta — O qu
de iluminação e já vislumbravam formas disformes em forma — Eu te
de silhuetas borradas como borrões de silhuetas sem forma quero fazer
definida, contudo bem formadas e distinguíveis tanto a olho nu rumo ao me
quanto sem utilização de aparelhos auditivos que auxiliassem o — Que
sentido visionário dos olhos videntes. guerreiro de
Foi quando a calma ocasionada pela monotonia do um sotaque
movimento retilíneo uniforme de sua caminhada dissipou-se, sua ousadia,
dando lugar a um temor que fazia sua bexiga ansiar por liberar em pedacinh
o líquido impuro contido em seu interior molhado. Joselito — Não
avistara a Clareira dos Quatro. guerreiro, qu
O pequeno se precipitou vagarosamente clareira adentro, árvores anciã
com as pernas a tremer e o pirulito a encolher. Apanhou os
1 Sinô
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Samuel Cardeal

um liquido a fósforos e, com dificuldade e relutância, acendeu a lamparina


entregue por seu mentor. A visão lhe emudeceu, e a voz que
amor, talvez nada dizia passou a não dizer nada. Ao seu redor, quatro grandes
tempo urge, árvores centenárias ornavam a clareira de forma sombria e
que dinheiro. assustadora. Eram de copas altas e galhos retorcidos, como
enciosa sem monstros oriundos de intestinos de orcs cristalizados em formas
Feito isso, rígidas e muito feias. As folhas eram escassas e ostentavam
ora jornada e uma coloração fosca e amarronzada, características de fezes
o e seguindo tardiamente expelidas por sistemas digestivos de pouca eficácia.
m dia escuro O silêncio era cortante, tão incômodo como seria se a Xuxa
cantasse uma canção da Anita em dupla com Dado Dollabela.
ais difíceis; Contudo, a calmaria melindrosa não durou muito tempo, e logo
resença com uma voz surpreendente irrompeu o clima sombrio de banheiro
rfuradas por abandonado de rodoviária do interior.
que quando — Que és tú, estúpido idiota, que adentra meus domínios e
avançar, seus ousa trazer a luz ao meu reino sombrio?
ou de verter — Doce de chuchu! — gritou o pequeno, expelindo por
nco dedos a entre os lábios tremelicantes as únicas palavras que seu pouco
que lhe fazia desenvolvido cérebro prejudicado pelo cagaço1 que dominava
gora se fazia seu corpo como um macho viril domina a fêmea no cio.
aram à falta — O que disseste, caro atrevido invasor forasteiro?
es em forma — Eu tenho doce de chuchu, o melhor de todo o reino. Só
sem forma quero fazer negócio com vossa santidade e já me vou embora
nto a olho nu rumo ao meu destino distante que não é aqui.
uxiliassem o — Quem disse que gosto de doce de chuchu?! — o
guerreiro de petróleo gritou, deixando sua voz anasalada e com
onotonia do um sotaque irritante da capital carioca. — Vai pagar caro por
dissipou-se, sua ousadia, pequeno filho de meretrizes baratas! Irei parti-lo
ar por liberar em pedacinhos e cozinhá-lo com pimenta do reino.
ado. Joselito — Não, por favor... — Joselito tentou implorar, mas o
guerreiro, que até então estava oculto sob a sombra da quatro
eira adentro, árvores anciãs, revelou-se no cento da clareira, gritando:
Apanhou os
1 Sinônimo de “medo do caralho”.
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Joselito: O Menino Dragão

— Cale a boca, criança irritante! Sua hora chegou, vou anatomia. Pa


matá-lo e depois torturá-lo até a morte! E o farei quantas vezes minutos adm
for preciso até que você morra! perfeito, e s
Joselito tremeu, o intestino trabalhou fora de hora e a cauda enrijec
bexiga esvaziou-se como bexiga em festa de criança. O cheiro devaneios ju
bateu nas narinas e a mente fervilhou em temores de morte e Temendo qu
dor. romântico e
Mãezinha, o que vou fazer?, pensava o pequeno, enquanto de javali her
tentava conter a torrente que descia ligeira abaixo na cauda. adormecido,
Foi quando a mente se clareou e o ex-casto lembrou-se das em uma Mar
orientações de seu excêntrico mentor. Consegu
Se estiver em perigo, cante uma canção de amor, talvez ele durma. sua nova rec
As palavras de Aldebaran ecoaram em sua mente e, tentando
abstrair o medo que lhe borrava as calças, pensou na música
mais romântica que já ouvira. Limpou a garganta como pôde e
emitiu um gralhar irritante que insistia em acreditar tratar-se de
música:

Ai modeuso,
Manda logo aí de riba, um caminhão de ripa na cacunda dela
Tomara que ela pegue tifo, pela vida sifu, e que quebre a espinhela;
Ai modeuso,
Manda logo esse castigo, ela brigou comigo, e não mais me quer eu
Tomara que a negócia dela encha de pereba, pra não dar pr’outros
homem o que anteonte era meu.

Após proferir os singelos versos da canção mais romântica


e singela que conhecia, Joselito boquiabriu-se. Apesar da
tentativa, jamais imaginara que algo tão inofensivo poderia
conter a ira homicida de guerreiro tão bravio e malvado.
Lano adormecera!
O candidato a Menino Dragão aproximou-se do corpo
dormente do guerreiro e pôde, pela primeira vez, notar em sua

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Samuel Cardeal

chegou, vou anatomia. Parecia um striper sem órgão mictor. Ficou por alguns
uantas vezes minutos admirando o corpo de Lano, que era anatomicamente
perfeito, e sentiu um calor agradável na pélvis e sentiu sua
de hora e a cauda enrijecer e aquecer. Quando libertou-se de seus lascivos
ça. O cheiro devaneios juvenis, fitou a espada objeto de sua empreitada.
s de morte e Temendo que o perigoso guerreiro despertasse de seu sono
romântico e febril, retirou a lâmina calciosa da bainha de couro
o, enquanto de javali hermafrodita e deu as costas para o sensual vilão
xo na cauda. adormecido, pondo-se a correr como um queniano mal nutrido
mbrou-se das em uma Maratona de São Silvestre.
Conseguira seu objetivo, e tudo o que queria era provar de
ele durma. sua nova recompensa.
e e, tentando
u na música
como pôde e
r tratar-se de

unda dela
re a espinhela;

ais me quer eu
o dar pr’outros

ais romântica
Apesar da
sivo poderia
vado.

se do corpo
notar em sua

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Sá, a
Da mes
clareira a pa
infante corre
veículo com
sem o Coiote
pela Acme.
O garoto
pernas acum
o acordeão n
que mal acre
a carruagem
cuspindo os
O menin
que não tives
e estar perto
cortinas e, co
Imediatamen
pequeno ave
a carruagem
chicoteados
poucos minu
Petróleo, e e

Joselito
uma área ilum
a escuridão d
que se aprox
a carroça e A

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V
Sá, a Fada Fazedora de Anjos
Da mesma forma que o medo fez Joselito seguir até a
clareira a passos lentos e silenciosos, agora fazia o pequeno
infante correr como o Papa-Léguas fugindo do Coiote em um
veículo com propulsão à foguete fabricado pela Acme; contudo,
sem o Coiote e sem o veículo com propulsão à foguete fabricado
pela Acme.
O garoto corria como nunca correra, o ácido lático em suas
pernas acumulou-se rapidamente e seu pulmão trabalhava como
o acordeão numa noite de forró mela-cueca. Avançou tão veloz,
que mal acreditou quando enxergou o vulto que representava
a carruagem de Aldebaran. Precipitou-se resfolegando, quase
cuspindo os pulmões em euforia.
O menino bateu na porta do veículo com desespero; ainda
que não tivesse avistado Lano, o guerreiro poderia ter acordado
e estar perto de pegá-lo. Aldebaran espiou para fora por entre as
cortinas e, com dificuldade, conseguiu identificar O Escolhido.
Imediatamente, o mentor abriu a porta e permitiu a entrada do
pequeno aventureiro. Em seguida, ordenou a James que pusesse
a carruagem para andar. O som do lombo dos cavalos sendo
chicoteados pelo condutor parecia música para os ouvidos. Em
poucos minutos, estariam fora dos domínios do Guerreiro de
Petróleo, e então Joselito poderia respirar aliviado.
*
Joselito só soltou a espada roubada quando alcançaram
uma área iluminada. O sol brilhava brilhante no céu iluminado e
a escuridão de minutos atrás era apenas mera lembrança. Assim
que se aproximaram de uma região povoada, James estacionou
a carroça e Aldebaran se dirigiu ao jovem.

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Joselito: O Menino Dragão

— Dê-me a espada, meu caro descabaçado. de pensar na


O pequeno não hesitou, entregou a espada imediatamente os fundilhos
e seus olhos brilhavam de excitação. Estava assanhado, ansioso rebolar no as
por saber qual seria sua recompensa por cumprir a segunda O sol m
tarefa. demoraria b
— Ora, ora... Não é que você conseguiu? Muito bem, ligeiro. Alde
pequeno, eu o congratulo por sua astúcia. conjecturava
— E a recompensa? — Joselito não aguentou esperar e que a nova
perguntou. exageradame
— Ah, já vai vir. onde você é e
Aldebaran tirou a cartola da cabeça e colocou-a sobre o enquanto um
assoalho da carruagem. Introduziu a ponta da espada e todo o chove lá for
resto foi sugado, como se aquele orifício não tivesse fundo, até seminua vom
que sobrasse apenas um resquício da luz que brilhou dentro do Mas, apó
chapéu. Joselito observava a tudo com espanto, admirado com ganhou o cé
aquele acontecimento sobrenatural. a carruagem
— Pronto, está feito — disse Aldebaran. e começou a
O menino ficou inerte, aguardando a próxima transformação. acordou des
Desde que ganhara a cauda, vinha fantasiando ter asas para voar Dragão.
ou poder expelir fogo pela garganta. No entanto, parecia que — Cara
nada mudara. Ele aguardou por algum tempo, mantendo-se que tomara.
calado, apesar da inquietação em seu íntimo, mas nada acontecia. de susto, seu
Por fim, não se aguentou e perguntou: — Desc
— Não vou ter outra transformação? idoso. — É q
— Claro que vai, garoto, mas tudo a seu tempo. A segunda — A tr
recompensa costuma se manifestar apenas durante a noite. Tenha Vamos dese
paciência. Terá séculos para gozar de suas novas habilidades. melhor que s
Descanse, vamos viajar até o anoitecer. Nosso próximo destino Joselito d
é distante por demais. Torcia para
Joselito murchou como pênis de velho quando acaba o muito lhe ag
efeito do viagra. Estava demasiadamente eufórico, e seu mentor Sentaram-se
jogara-lhe um balde de água fria. Sabia que deveria dormir, folhagem e
descansar para o que estava por vir, mas não conseguia parar começou a p

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Samuel Cardeal

de pensar na próxima recompensa, estava tão excitado que até


mediatamente os fundilhos se aqueceram e uma coceira entre-nádegas o fazia
ado, ansioso rebolar no assento.
ir a segunda O sol mostrava que não passava do meio dia, e que
demoraria bastante até o anoitecer. Seguiram viagem a galope
Muito bem, ligeiro. Aldebaran adormeceu facilmente, enquanto Joselito
conjecturava consigo mesmo sobre qual seria a habilidade
ou esperar e que a nova mutação lhe traria. Aquelas horas passaram
exageradamente lentas, como uma viagem num ônibus lotado
onde você é espremido por dois sujeitos cheirando a rato morto,
ou-a sobre o enquanto um terceiro ouve MC Ludmila no viva-voz do celular,
ada e todo o chove lá fora e todas as janelas estão fechadas, e uma criança
se fundo, até seminua vomita perto de você.
ou dentro do Mas, após uma tortuosa espera, o sol se escondeu e a noite
mirado com ganhou o céu, iluminada pela lua cheia e gordinha. Assim que
a carruagem parou, Joselito prostrou-se à frente de Aldebaran
e começou a sacudi-lo de forma insana. Assustado, o mentor
nsformação. acordou desferindo uma bofetada no rosto do futuro Menino
sas para voar Dragão.
parecia que — Caralho! — gritou o homem, recuperando-se do susto
mantendo-se que tomara. — O que está fazendo, estúpido. Quase me matou
da acontecia. de susto, seu pequeno filho de uma puta!
— Desculpe — disse o menino, voltando a ser um pênis
idoso. — É que nós chegamos, já anoiteceu e...
o. A segunda — A transformação, não é? — o pequeno assentiu. —
noite. Tenha Vamos desembarcar, pode acontecer a qualquer momento,
habilidades. melhor que seja ao ar livre.
ximo destino Joselito desceu na frente, afoito. Não via a hora de acontecer.
Torcia para serem asas, embora cuspir fogo fosse algo que
ndo acaba o muito lhe agradasse. Contudo, teve que esperar um pouco mais.
e seu mentor Sentaram-se na beira da estrada de terra, onde havia alguma
veria dormir, folhagem e árvores próximas. James acendeu uma fogueira e
nseguia parar começou a preparar um assado com o tatu que atropelara mais

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Joselito: O Menino Dragão

cedo. O pequ
Cerca de trinta minutos se passaram até que a criança cobrindo seu
sentisse algo acontecer. Começou com uma formigação, mas era humana
dessa vez por quase todo o corpo, do pescoço aos pés e dos e deitar-se s
pés ao pescoço. Depois, a pele esquentou, esquentou muito, orando aos
até Joselito sentir o corpo queimar de dentro para fora. Sentia- normalment
se como uma tilápia atirada ainda viva no óleo quente. Parecia
que seus órgãos internos liquefaziam-se, como se cada partícula Joselito
daquele projeto de homúnculo se reduzisse a leite de magnésia a carapaça
fervido num fogão à lenha de cimento vermelho. comichões e
De repente, o menino esqueceu-se da dor lancinante que lhe a doer, já que
tomava ao observar pequenas erupções por todo o seu corpo. Mas, co
Viu sua pele encardida ganhar uma tonalidade esverdeada e as sonhos, ond
erupções se organizarem. Aos poucos, a temperatura corporal sobrevoava a
baixou, até o infante sentir-se frio como uma pedra. Quando o seu suntuoso
frenesi do processo findou-se, Joselito pôde apreciar a plenitude lamber suas
daquela transformação. de dragão fl
Toda sua pele, do pescoço para baixa, havia se travesseiros
metamorfoseado em uma couraça escamosa, de um verde pequenas e l
vibrante e escuro. Era a mesma textura que revestia sua cauda sol matutino
articulada. O menino nada disse, mas sentia-se feliz como pinto De repe
no lixo. Mas sua euforia se fez em desalento quando James sumirem, se
anunciou que a refeição seria servida, e todos se juntariam para desengonçad
degustar os restos mortais do tatu atropelado. destino obitu
Joselito tentou se sentar, mas parecia estar revestido por uma vezes, até qu
armadura sem articulações. Sem conseguir conter a frustração, num pequen
a criança pôs-se a chorar como uma presidente do fã-clube do seus pulmõe
Justin Bieber. Quando Aldebaran viu aquela cena, quis rir, mas Joselito
achou de bom tom não fazê-lo. — Aco
— Acalme-se, pequeno ex-cabaço. As primeiras horas são menino com
assim mesmo. A couraça tem que se adaptar ao corpo. Vai ter a outra.
que comer em pé. Depois da refeição, James o ajudará a se Joselito
deitar, pela manhã seus movimentos voltarão ao normal. afogando. A

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Samuel Cardeal

O pequeno tentou enxugar as lágrimas, mas a couraça


ue a criança cobrindo seus dedos só fez arranhar a pele do rosto, que ainda
migação, mas era humana e frágil. Com dificuldade, conseguiu se alimentar
os pés e dos e deitar-se sobre a grama. Adormeceu com certa facilidade,
entou muito, orando aos deuses para que ao amanhecer pudesse se mexer
fora. Sentia- normalmente.
ente. Parecia *
ada partícula Joselito adormeceu incomodado, a posição rígida que
de magnésia a carapaça lhe obrigara a assumir fazia corpo doer, sentia
comichões em regiões que não alcançava e a bexiga já começava
nante que lhe a doer, já que nem mesmo o pequeno membro conseguia mover.
o seu corpo. Mas, contudo, conseguiu adormecer. Logo vieram os
erdeada e as sonhos, onde o menino já completara a transformação e
ura corporal sobrevoava alegremente os campos verdejantes que bordeavam
a. Quando o seu suntuoso castelo de mármore branco. Sentia o vento gelado
r a plenitude lamber suas escamas verdes e rígidas, e suas toneladas de carne
de dragão flutuavam leves como pluma de ganso que sai dos
a, havia se travesseiros após uma guerra de almofadas entre duas crianças
e um verde pequenas e levadas em uma casa confortável e bonita à luz do
tia sua cauda sol matutino e ao som de pássaros cantantes.
z como pinto De repente, sentiu suas asas encolherem até simplesmente
uando James sumirem, seu voo elegante transmutou-se em uma queda
ntariam para desengonçada e desesperada. No anseio de se livrar de um
destino obituário, o Menino Dragão se debateu, uma, duas, doze
tido por uma vezes, até que, sem sucesso algum em sua patética tentativa, caiu
a frustração, num pequeno lago. Como não sabia nadar, começou a se afogar,
o fã-clube do seus pulmões se encheram de água e...
quis rir, mas Joselito acordou.
— Acorda, garoto! — Aldebaran gritava, sacudindo o
as horas são menino com uma das mãos enquanto segurava seu chapéu com
orpo. Vai ter a outra.
ajudará a se Joselito abriu os olhos gritando, ainda pensando estar se
ormal. afogando. Aos poucos percebeu que aquilo não passara de um

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Joselito: O Menino Dragão

pesadelo. Levantou-se ligeiro, admirando o sol nascente que O infan


brilhava como uma lanterna de caminhão numa noite fria. toda a pele e
— Vamos logo, não temos tempo a perder. embriagado
Aldebaran se dirigiu à charrete, e o menino o seguiu de perto. Aldebaran an
Só quando estava prestes a entrar no veículo, Joselito percebeu como quem
que estava andando normalmente. Analisou a própria pele e a da carruagem
couraça dura estava lá, do mesmo jeito de quando aparecera. frente, frond
Contudo, suas articulações funcionavam perfeitamente, cheio de vida
mobilidade 100% funcional. Sentia-se mais forte, sentia-se mais Havia a
bonito. Sentia-se feliz. Muito, muito feliz. Tanto por estar mais vegetais, e b
forte, quanto por estar mais belo. entrasse pela
Sem nada dizer, ele entrou na charrete, com um sorriso cada passo q
como o do Coringa, inimigo do Homem Morcego, mas sem as das árvores
cicatrizes e a maquiagem. frutos pintav
— E então, para onde vamos? — indagou o pequeno Adentra
escamoso, já acomodado na carruagem. adentro, o pe
— Vamos à Floresta das Fadas. espécies, tod
— E o que terei que fazer lá? que fariam q
— Essa vai ser a mais fácil das tarefas. Terá apenas que Andou
procurar Sá, a Fada Fazedora de Anjos e lhe fazer um favor em bucólico e m
troca de um pouco de pó mágico. gostoso à be
— Que tipo de favor! — diferente das outras vezes, Joselito Um pon
ficara entusiasmado com o que ouvira. luz intensa e
— Isso, pequeno impuro, só Sá, A Fada Fazedora de Anjos de amora co
pode dizer. corpo não m
* um canto fo
Três dias de viagem. A carruagem só parava de correr desenhos an
quando a noite caia e logo com os primeiros raios de sol, por causa do
voltava a ganhar os caminhos tortuosos até a Floresta das Fadas. o cheiro e se
Enfrentaram tempestades, sol escaldante, caminhos estreitos Quando
e esburacados, animais famintos e ferozes, locais perigosos que já era
cercados de mal feitores, mas, enfim, alcançaram o tão almejado deslumbram
destino. Uma mu

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Samuel Cardeal

nascente que O infante estava extasiado; desde que transformara quase


oite fria. toda a pele em couraça draconiana, se achava um deus dourado
embriagado na sacada de um quarto no segundo andar. Quando
guiu de perto. Aldebaran anunciou que haviam chegado, saltou da carruagem
ito percebeu como quem sente o orifício coçar e se levanta às pressas. Fora
pria pele e a da carruagem, encontrou a grama mais verde que já vira. À sua
o aparecera. frente, frondosas árvores formavam um paredão esmeralda,
erfeitamente, cheio de vida e odores agradáveis.
entia-se mais Havia apenas uma pequena abertura entre os gigantes
or estar mais vegetais, e bastou a Joselito que Aldebaran apontasse para que
entrasse pela fissura e desaparecesse entre a densa floresta. A
um sorriso cada passo que dava, o menino se encantava mais, pois, além
, mas sem as das árvores e gramíneas, uma variedade impossível de flores e
frutos pintava o ambiente com todas as cores do arco-íris.
o pequeno Adentrando mais profundamente o interior interno floresta
adentro, o pequeno ex-cabaço cruzou com animais de todas as
espécies, todos fofinhos e cheirosos; traziam olhares tão ternos
que fariam qualquer ursinho carinhoso parecer Coração Gelado.
apenas que Andou por quilômetros sem fim, mas naquele cenário
um favor em bucólico e maravilhoso, parecia que não passara de um passeio
gostoso à beira do Tietê. Foi então que Joselito viu a Luz.
ezes, Joselito Um ponto a poucos metros do garoto brilhava com uma
luz intensa e maravilhosa. A luminescência tinha cheiro de bolo
ora de Anjos de amora com cobertura de chocolate, e aquecia friamente o
corpo não mais esquálido do pequeno grande herói. Então,
um canto foi entoado, e atraiu o menino como num daqueles
va de correr desenhos animados onde o personagem é atraído pelo olfato
raios de sol, por causa do cheiro bom de uma bela coxa de peru, porém sem
ta das Fadas. o cheiro e sem a coxa de peru.
hos estreitos Quando, enfim, alcançou a fonte luminosa, sua surpresa
is perigosos que já era tremenda galgou até o nível Chuck Norris de
tão almejado deslumbramento.
Uma mulher.

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Joselito: O Menino Dragão

Uma linda mulher. o pequeno


Uma linda. criaturas, que
E era uma mulher que assemelh
A jovem que, de pé, emitia aqueles fragmentos sonoros que — Oh! —
mais pareciam o assoviar dos deuses, era a visão mais linda que Sá solto
o pequeno quase Menino Dragão já gozara. Sua pele era branca as suas cria
como neve, translúcida como um painel de neon. Os cabelos, risadinhas sa
dourados e levemente ondulados, cobriam os seios firmes e em quanto afem
forma de pêra; Joselito vislumbrou uma auréola aparecer por — Há m
entre os fios brilhantes, e sentiu um formigamento abaixo do jovem, ainda
estômago, uma sensação ambígua que transitava entre o desejo concluo que
de morder aquela pele rósea e virginal e a vontade de ter um — Sim —
peitoral maior tão robusto e imponente em seu próprio corpo. — Entã
A fêmea encantadora tinha um corpo perfeitamente atribuirei um
delineado. Não usava qualquer peça de vestimenta, contudo, sua para receber
zona do agrião não era visível, pois uma esfera de luz ocupava — Eu...
seu lugar, como se emanasse da cavidade entre os grandes lábios. — Só is
Os pés, descalços, não tocavam o solo, e o menino achou aquilo Nunca pedir
inacreditável, posto que a delícia virginal não possuía asas para exigir uma c
a propulsão de sua soberba carcaça. pode ser...
— Olá, jovem criança! — soprou a mulher, dirigindo um A Fada
olhar hipnotizante ao impuro. o céu que nã
— O... O... Olá — Joselito não conseguia articular a fala, árvores. Tin
estava boquiaberto como nunca boquiabriu-se antes. E se 99 neurônio
continuasse olhando para a moça, boquiabrir-se-ia ainda mais. pó mágico.
— Como se chama, pequeno menino jacaré? beleza da mu
— Jo... Jo... — a voz embargou, travada na garganta. reta de umbi
— Seja bem vindo à Floresta das Fadas, jovem Jojô. Meu bem coberto
nome é Sá, A Fazedora de Anjos, e esses são meus filhos. finalmente te
Tão repentino quanto uma ereção induzida por Viagra, — Bem
milhares de pequenas luzes cintilantes brilharam ao redor de buscar, terá q
Sá. Era como um bando de vaga-lumes errantes, passeando ao — Brinc
redor da mulher de beleza arrebatadora. Após alguns segundos, tanto.

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Samuel Cardeal

o pequeno herói aguçou sua visão e conseguiu enxergar as


criaturas, que assemelhavam-se a minúsculas mulheres com asas
que assemelhavam-se às asas de minúsculas borboletas.
sonoros que — Oh! — foi tudo que Joselito conseguiu dizer.
ais linda que Sá soltou uma risadinha aguda, bem safadinha. Todas
le era branca as suas crias imitaram o ato, perfazendo uma orquestra de
Os cabelos, risadinhas safadinhas. Joselito também riu, e nem percebeu o
firmes e em quanto afeminado se portou ao fazê-lo.
aparecer por — Há muito tempo não recebo a visita de alguém tão
to abaixo do jovem, ainda sem pentelhos, mas pela aparência de sua pele,
ntre o desejo concluo que é o candidato a Menino Dragão.
de de ter um — Sim — respondeu o pequeno embasbacado.
óprio corpo. — Então, meu jovem, diga-me o que necessitas que lhe
erfeitamente atribuirei uma tarefa compatível que lhe provenha o merecimento
contudo, sua para receber a recompensa.
luz ocupava — Eu... Eu... Preciso de um pouco de pó mágico!
andes lábios. — Só isso? — a Fazedora de Anjos surpreendeu-se. —
achou aquilo Nunca pediram nada tão fácil. Infelizmente, não vou poder
uía asas para exigir uma compensação muito dispendiosa. Vejamos o que
pode ser...
dirigindo um A Fada mãe das fadinhas de risadinhas safadinhas mirou
o céu que não podia ser visto devido as copas densas das altas
icular a fala, árvores. Tinha uma expressão pensativa. Matutava com seus
antes. E se 99 neurônios qual tarefa seria justa em troca de um pouco de
ainda mais. pó mágico. Joselito aguardava ansioso, enquanto admirava a
beleza da mulher. Analisava suas pernas torneadas, sua barriga
ganta. reta de umbigo sensual, e imaginava como aquele corpo ficaria
m Jojô. Meu bem coberto de escamas verdes. Após uma longa espera, ele
filhos. finalmente teve a resposta de Sá, A Fada Fazedora de Anjos.
por Viagra, — Bem, pequeno candidato. Para conseguir o que viera
ao redor de buscar, terá que brincar comigo e com meus filhos e filhas.
passeando ao — Brincar? — Joselito esperava uma tarefa fácil, mas não
ns segundos, tanto.

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Joselito: O Menino Dragão

— Mas não é uma brincadeira comum, vamos brincar de adentrou um


dia da noiva. cobertas por
— Eu não sei como se brinca disso! pensara que
— Não se preocupe, criança, tudo vai dar certo; nós te o pior que lh
ensinamos, não é mesmo, meus bebês? Dentro
Nesse momento, as pequenas criaturas luminosas brilharam e intermináv
ainda mais intensamente, e começaram a se expandir. Segundos como as ma
depois, não eram mais pequenos vaga-lumes voando alegres, experiências
e sim centenas de homens e mulheres, nus, que emanavam Joselito trem
luminescência semelhante à de sua genitora. nem sonhav
— Venha — disse um homem brilhante cujo pênis era um cera fumega
bastão de luz prateada. — Vamos brincar. deixou-o tod
— Entregue à beleza viril do filho da Fada, Joselito — Não
estendeu a mão dracônica e se deixou levar pelo estranho por Aldebaran, r
um caminho de luz que não fazia ideia de onde o levaria. que lhe toma
* — Não
24 horas depois... — Ok,
Quando Sá dissera ao pequeno candidato que brincariam recompensa?
de “dia da noiva”, Joselito jamais imaginara que tal desafio fosse — Tanto
tão desafiador. Após uma longa jornada, o menino recebeu um Aldebar
pequeno embrulho de papel contendo o precioso pó mágico, e trazia divert
foi libertado para voltar até onde seu mentor o esperava. mentor dese
Joselito chegou cabisbaixo, com sua cauda escamosa se com o brilho
arrastando preguiçosa sobre a relva úmida de orvalho. Quando entre os ded
viu Aldebaran, não alterou sua marcha, nem mesmo pensava na Uma luz
recompensa da terceira tarefa. se do interio
— O que houve, pequeno? Por que estás tão acabrunhado? como um lus
— Toma seu pó — respondeu, emburrado, e entrou na tudo desapar
charrete. Apesar
Aldebaran o seguiu, mas o menino nada quis dizer. Os utilizara apen
acontecimentos das últimas 24 horas ainda ecoavam em sua perguntar, v
mente. fina, como s
Assim que foi levado pelo batalhão luminoso de Sá, Joselito Em seguida,

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Samuel Cardeal

os brincar de adentrou um salão bem iluminado, com paredes almofadas


cobertas por um tecido rosa-pink de doer os olhos. Se antes
pensara que o sacrifício que fizera da fortaleza de Avlis Cela era
certo; nós te o pior que lhe podia acontecer, agora sabia que não.
Dentro do salão rosa-pink, a criança passou por inúmeros
sas brilharam e intermináveis tratamentos de beleza. Alguns eram agradáveis,
dir. Segundos como as massagens redutoras de celulites, mas outros foram
ndo alegres, experiências aterradoras. Só de lembrar daquela cera quente,
e emanavam Joselito tremia-se todo. Teve arrancado de seu corpo pelos que
nem sonhava existirem. O pior foi a depilação íntima, aquela
pênis era um cera fumegante que partia do púbis e ultrapassava o rêgo
deixou-o todo ardido.
ada, Joselito — Não vai me dizer o que houve, pequeno? — indagou
estranho por Aldebaran, removendo a criança das traumáticas lembranças
evaria. que lhe tomavam a mente.
— Não quero falar sobre isso.
— Ok, não pergunto mais. Mas... Não está ansioso pela
e brincariam recompensa?
desafio fosse — Tanto faz.
recebeu um Aldebaran riu-se. A rabugice em um rapaz tão jovem lhe
pó mágico, e trazia divertimento. Já que o garoto não queria conversa, o
erava. mentor desembrulhou o pacote com pó mágico e admirou-se
escamosa se com o brilho hipnotizante da substância. Apanhou uma pitada
lho. Quando entre os dedos e atirou para dentro de sua cartola.
o pensava na Uma luz entre o fosforescente e o fluorescente evadiu-
se do interior do chapéu, formando uma fumaça translúcida,
cabrunhado? como um lusco-fusco numa noite fria de tempestade. E, então,
e entrou na tudo desapareceu.
Apesar de chateado, Joselito percebeu que seu mentor
uis dizer. Os utilizara apenas uma ínfima porção do pó e, antes que pudesse
vam em sua perguntar, viu Aldebaran ajeitar a substância em uma linha
fina, como se quisesse desenhar com os micro grãos mágicos.
e Sá, Joselito Em seguida, o homem comprimiu a lateral do nariz, tapando

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Joselito: O Menino Dragão

uma das narinas, abaixou a cabeça e tocou a narina livre no pó


luminoso.
Aldebaran aspirou toda a substância, até não restar nem
um grão.
— O que está fazendo? — esbravejou o candidato.
— Hã? — Aldebarã parecia anestesiado. Depois
— Por que chupou o pó mágico com o nariz? quedou ento
— Nauseabundus só precisa de um tiquinho, então praticamente
aproveitei o resto. Pó mágico dá um barato louco, ex-cabaço. semi-selados
Joselito bufou, mas estava destruído demais para dizer sentia-se rev
mais alguma coisa. Enrolou sua cauda dracônica em seu corpo que quase lh
draconiano e deixou suas consternações se perderem no mundo Desenro
dos sonhos. dracônico, o
os gases esto
— Aind
— Não
— A tra
— Eu ac
— Bem
demore.
— E ao
— À toc
— Que
— A toc
— E qu
— Bem
Coelho Mag
desafio de ra
você. Mas te
demônios pa
— Duv
resmungou o
— O qu

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a livre no pó
VI
o restar nem

dato.
Na Toca do Coelho
Depois da aspiração do pó mágico, Aldebaran também
quedou entorpecido. Os dois, mentor e candidato, despertaram
inho, então praticamente juntos. O homem tinha a boca seca e os olhos
ex-cabaço. semi-selados por secreções oculares. Joselito, por sua vez,
s para dizer sentia-se revigorado. Já não lhe doía tanto o local da depilação
m seu corpo que quase lhe arrancou as hemorróidas ainda jovens.
m no mundo Desenrolando-se da cauda espessa que lhe envolvia o corpo
dracônico, o futuro Menino Dragão se espreguiçou, liberando
os gases estomacais comuns ao despertar matutino.
— Ainda não veio? — inquiriu o mentor.
— Não veio o quê? — respondeu perguntando o menino.
— A transformação, criança! Já passou da hora.
— Eu acabei de acordar.
— Bem, estamos quase chegando, espero que isso não
demore.
— E aonde vamos, agora?
— À toca!
— Que toca?
— A toca do Coelho Mago!
— E qual será minha tarefa com esse tal Coelho?
— Bem, acho que sua vida não correrá muito risco. O
Coelho Mago gosta de jogos e enigmas, provavelmente fará um
desafio de raciocínio... Pensando bem, talvez seja arriscado para
você. Mas tenha fé, pequeno infeliz, ore para os deuses e os
demônios para que consiga cumprir o desafio do Coelho.
— Duvido que seja pior do que passei com a Fada —
resmungou o garoto.
— O que disse?

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Joselito: O Menino Dragão

— Nada, só pensando alto. Mas, o que devo coletar dessa Joselito


vez? no fogo, im
— Ah, é uma coisa simples, porém muito valiosa. O pela gargant
Dren’Obar! aconteceu, m
— Drenobar? canal se ince
— É um supositório mágico! Mas não se preocupe com o couraça e, en
que seja, apenas diga que precisa de um Dren’Obar; o Coelho Fogo!
sabe bem o que é. Contudo
— Tá certo, então. e sim de ou
— Bem, já chegamos à cidade. Vamos descer e prosseguir chama comp
a pé até... fundilhos do
Aldebaran parou de falar, pois Joselito arregalou os olhos gargalhava c
e começou a se debater como quem comera um enxame por Aquilo n
orifício diferente da boca. De repente, todo o corpo da criança no fim das
ficou incandescente, como se queimasse de dentro para fora. estava soltan
O candidato saiu aos saltos da charrete e pôs-se a rolar sobre o o importante
chão de terra batida. — Agor
O mentor, contudo, não se alarmou. Procurou a sombra sob andando; o m
uma árvore frondosa e ficou a observar o martírio do menino
impuro. Joselito rolou e se debateu por cerca de 20 minutos, Caminha
até que, simplesmente, tudo parou. Seu corpo voltou a normal. Coelho. Ald
Seu corpo voltou à cor verde. Seu corpo voltou à temperatura parecia estar
normal. Seu corpo, agora verde, voltou a não doer e o menino escamoso e
sentiu-se novamente forte. quando todo
Levantou-se serenamente, caminhou até seu mentor e — Cheg
indagou, curioso. — É aq
— O que aconteceu? que esperava
— Você agora possuiu o dom da pirofagia! — Não
— Piro... O quê? explicou o m
— Agora pode expelir fogo! velha e cheia
— E como faço isso? — perguntou, empolgado como uma até lá e bata
travesti em dia de carnaval. Joselito
— Apenas pense e faça. adquirir a ha

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Samuel Cardeal

coletar dessa Joselito parou por um momento. Mentalizou sua mente


no fogo, imaginou a labareda quente e encorpada passando
o valiosa. O pela garganta dracônica e saindo bela boca. A princípio, nada
aconteceu, mas após alguns minutos, sentiu um calor interno, o
canal se incendiando e, o suor brotando por entre as escamas da
ocupe com o couraça e, enfim, a chama irrompendo pela abertura.
ar; o Coelho Fogo!
Contudo, não foi da boca que saiu a labareda destruidora,
e sim de outro orifício. Sob a base da cauda dracônica, uma
e prosseguir chama comprida foi expelida, chamuscando ligeiramente os
fundilhos do garoto. Observando a certa distância, Aldebaran
lou os olhos gargalhava como um louco.
enxame por Aquilo não era exatamente o que o pequeno esperava, mas,
po da criança no fim das contas, achou divertido de qualquer maneira. Ele
ro para fora. estava soltando fogo! Não importava se era da boca ou do fiofó,
rolar sobre o o importante é que ele poderia queimar tudo o que quisesse.
— Agora que já se divertiu — disse o mentor —, vamos
a sombra sob andando; o mago não recebe visitas depois do anoitecer.
o do menino *
20 minutos, Caminharam por horas até alcançarem a residência do
ou a normal. Coelho. Aldebaran tinha os pés em frangalhos, mas Joselito
temperatura parecia estar em um passeio de escola. Desfilava seu corpo
r e o menino escamoso e sua cauda comprida com orgulho e sentia-se lindo
quando todos o olhavam, boquiabertos e admirados.
u mentor e — Chegamos! — Aldebaran anunciou.
— É aqui? — Joselito fitou a moradia; bem diferente do
que esperava.
— Não se engane pelas aparências, pequeno ex-cabaço —
explicou o mentor, apontando o casebre revestido de madeira
velha e cheia de cupins. — Nem tudo é o que parece. Agora vá
o como uma até lá e bata na porta.
Joselito estava cheio de confiança, principalmente após
adquirir a habilidade de soltar fogo pela bunda. Aproximou-se e

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Joselito: O Menino Dragão

bateu duas vezes na madeira apodrecida. A porta simplesmente — Qual


se abriu, como se uma mão a tivesse aberto, mas sem a mão que — Hmm
abri-la-ia. Olhou para trás e seu mentor apenas gesticulou para é visivelmen
que entrasse. E foi o que o pequeno fez. Se quer lev
Assim que entrou, a porta fechou atrás de si, tão adivinhações
fantasmagoricamente quanto abrira. Joselito seguiu por um — Tá bo
corredor escuro por incontáveis metros, contudo, sua pirofagia — Vam
retal lhe dera coragem extra que não se dissiparia tão fácil. pequeno púb
Ademais, seria apenas um jogo, sem perigos como quando — Pode
enfrentou o viril e musculoso Guerreiro de Petróleo. — O qu
Quando, enfim, o caminho se findou, o pequeno aportou Joselito
em um salão circular, extenso e de pé-direito altíssimo. Esperava adivinhas d
encontrar um sujeito velho, com chapéu pontudo e capa preta, boquetes e lo
mas não era nada disso. O salão estava quase todo vazio, com lembrar-se d
exceção de uma tela circular ao fundo, bem no alto. Era tipo no fundo alg
aquele telão redondo que aparece nos shows do Pink Floyd, involuntariam
mas sem o Pink Floyd e sem os clipes do Pink Floyd e outros — Cace
vídeos que costumam ser exibidos nos shows do Pink Floyd. burro.
No telão, a imagem de um rosto era projetada. Um rosto — Cert
em idade avançada, cabeça raspada e cavanhaque branco e aparenta.
encorpado. Tinha feições de alguém levemente bêbado que Joselito
defecou sem se lembrar de tirar as calças. O menino nada disse, acertado se n
mas a entidade começou a conversa. Mago não de
— O que deseja, candidato? — a voz era levemente irritante, — Próx
um pouco anasalada e com um sotaque carioca nada agradável. e quando bro
— Eu preciso de um Dren’Obar! Novame
— Oh, um Dren’Obar! E por acaso o pequeno descabaçado Tudo inútil.
sabe ao menos para que serve um Dren’Obar? de fazer seu
— Não, senhor; não sei. Mas não me interessa saber. Preciso que uma to
disso para completar a transformação, e cumprirei qualquer translúcidas
desafio que proponha para conseguir o Dren’Obar. conter o xin
— Determinação, gosto disso num homem. Se bem que tu pela língua ás
és apenas um franguinho, mas até que dá canja. liberdade.

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Samuel Cardeal

implesmente — Qual será o desafio?


m a mão que — Hmmm, senão vejamos. Você demonstra coragem, mas
sticulou para é visivelmente desprovido de astúcia e qualidades intelectuais.
Se quer levar consigo o Dren’Obar, terá que desvendar 3
de si, tão adivinhações que propor-te-ei.
uiu por um — Tá bom.
sua pirofagia — Vamos ver por quanto tempo sua coragem vai durar,
ria tão fácil. pequeno púbere. Vamos à primeira pergunta.
omo quando — Pode mandar!
o. — O que é, o que é: entra duro e seco, sai mole e pingando?
eno aportou Joselito pensou. Lembrava-se que o pai vivia fazendo
mo. Esperava adivinhas daquele tipo, principalmente sobre mulheres,
e capa preta, boquetes e loiras, mas não entendia bem, e agora não conseguia
o vazio, com lembrar-se de nenhuma delas. Forçou sua mente, buscando lá
lto. Era tipo no fundo alguma informação, mas nada veio, e quase expeliu
Pink Floyd, involuntariamente uma pequena labareda retal.
oyd e outros — Cacete!! — exclamou o menino, irritado por ser tão
ink Floyd. burro.
a. Um rosto — Certa resposta! Pelo visto não é tão estúpido quanto
ue branco e aparenta.
bêbado que Joselito arregalou os olhos, não entendia como tinha
o nada disse, acertado se nem mesmo fazia ideia da resposta. Mas o Coelho
Mago não deu tempo para que conjecturasse acerca do assunto.
ente irritante, — Próxima pergunta. O que é, o que é: nasce como anfíbio
da agradável. e quando brotam os pelos, muda de nome?
Novamente o infante fez força para descobrir a resposta.
descabaçado Tudo inútil. Quase perdera o controle do esfíncter na tentativa
de fazer seu cérebro homersimpsoniano funcionar melhor
aber. Preciso que uma torradeira. O flato escapou, com pequenas faíscas
rei qualquer translúcidas e multicoloridas. Irritou-se outra vez, e não pôde
. conter o xingamento que brotava da garganta, escorregando
e bem que tu pela língua áspera e se espremendo por entre os lábios buscando
liberdade.

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Joselito: O Menino Dragão

— Boceta! — praguejou. sua maldita r


— Certa resposta! O grito
— Hã! — Joselito surpreendeu-se outra vez. Entendia desapareceu.
aquilo cada vez menos. pequena caix
— Terceira e última pergunta. Se acertar, dar-te-ei o tão centímetros
cobiçado Dren’Obar. Mas se errar... — o olhar do Mago O menin
projetado na tela pinkfloydiana arrepiou todos os pelos que um objeto q
Joselito não possuía. A seguir, a entidade gargalhou de forma feita toscam
assustadora. polegar de u
— O que? — o infante precisava saber. para perto do
— Cale-se, menino! Para a terceira pergunta, usarei um duas nádega
versinho de um grupo obscuro de bardos moicanos. Aí está: pertencessem
“A mancha no tapete parecia mingau Depois
A mancha no tapete parecia mingau empedrado
Mas não era mingau entrado no c
O que era afinal?” mais que 15
— Hã? lado de fora.
O menino não acreditou que aquilo fosse a terceira haviam se re
charada. Não fazia o menor sentido. Aquilo para ele parecia e James.
mais estranho do que o Costinha banguela grávido e pulando A crianç
corda. Não havia como saber a resposta de uma coisa assim. acordar.
Joselito desesperou-se, pequenas chamas escaparam-lhe pelo — Oh!
orifício sob a cauda. Estava derrotado, nada lhe sobrara além de não esperass
uma derrota vergonhosa e o enfrentamento das consequências — E tro
àquele fracasso. — Não
— Porra! — gritou, já em lágrimas. — Eu desis... — Esta
— Certa resposta! — vociferou o Mago, com a fúria que ganhara
evidente na entonação da fala e no esgar o qual era sua face — Ah, c
agora. — Acertou, pequeno infeliz. e imediatame
— Eu... Venci? Dessa v
— Sim, venceu. Não sei como diabos uma criança tão feia fumaça amar
e burra conseguiu desvendar 3 de minhas milenares charadas, — Vam
mas você conseguiu. Sinto-me mal, preciso descansar. Pegue seguro ficarm

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Samuel Cardeal

sua maldita recompensa e não volte mais aqui!


O grito antecedeu a escuridão, pois a projeção circular
ez. Entendia desapareceu. Logo depois, luzes botaram do chão, e uma
pequena caixa emergiu de uma abertura retangular a poucos
r-te-ei o tão centímetros das patas dracônicas de Joselito.
ar do Mago O menino se ajoelhou e abriu a tampa de madeira, revelando
os pelos que um objeto que lhe causou estranhamento. Era uma escultura
ou de forma feita toscamente em pedra grosseira, tão grande quanto um
polegar de um pé adulto. A criança pegou o objeto e trouxe
para perto dos olhos. Riu ao perceber que ali estavam esculpidas
a, usarei um duas nádegas. Eram nádegas gordas e amassadas, bem feias se
os. Aí está: pertencessem a alguém, mas ainda assim nádegas.
Depois de rir um bocado, Joselito guardou o bumbum
empedrado no bolso e correu até a saída. A despeito de ter
entrado no casebre com o sol a pino, e ter permanecido não
mais que 15 minutos em seu interior, já era noite adiantada no
lado de fora. Os inúmeros transeuntes que circulavam mais cedo
e a terceira haviam se recolhido, e os únicos seres ainda ali eram Aldebaran
a ele parecia e James.
o e pulando A criança bateu na porta da charrete, fazendo seu mentor
coisa assim. acordar.
am-lhe pelo — Oh! Você conseguiu! — exclamou o homem, como se
brara além de não esperasse ver o garoto vivo.
onsequências — E trouxe sua bunda!
— Não seja insolente, seu...
is... — Esta aqui! — disse, estendendo as nádegas em réplica
com a fúria que ganhara do Mago.
era sua face — Ah, claro, o Dren’Obar! — Aldebaran apanhou o objeto
e imediatamente atirou-o dentro da cartola.
Dessa vez, apenas um pequeno estouro seguido de uma
ança tão feia fumaça amarelada e com cheiro de fezes variadas.
res charadas, — Vamos embora, logo — proferiu o mentor. — Não é
ansar. Pegue seguro ficarmos por aqui tão tarde assim.

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Joselito: O Menino Dragão

Joselito obedeceu, entrou na charrete e logo estavam se


afastando dali a galope ligeiro. Alguns minutos depois, ainda
com o veículo em movimento, o menino sentiu uma formigação
no rosto. Estava acontecendo! Mais uma transformação.
A pele queimou, e logo começou a mudar de cor, espessura
O Fan
e forma. Nariz e boca se alongaram, orelhas encolheram, Apesar
dentes se projetaram como membros masculinos em uma assistir era en
“Glory Hole”. Se tivesse televisão na casa de seus pais, Joselito e adormece
perceberia que aquela transformação em muito se assemelhava incendiando
à metamorfose sofrida por Michael Jackson naquele clipe. castelos com
Contudo, entretanto, todavia, sem o Michael Jackson e sem piromaníaca
aquela dançazinha descolada. para foder” “
Não demorou muito para terminar, e dessa vez não houve Não se l
dor. Quando chegou ao fim, o rosto de Joselito não lembrava com a char
em nada o original. Era um perfeito e autêntico rosto de dragão. alegre. Senti
Ele tossiu, e uma pequena chama se precipitou da bocarra feroz. vontade de
— Eu posso cuspir fogo! — entusiasmou-se a criança entendia o q
— É isso que os dragões fazem, gênio. Mas segura essa sua ignorar, cheg
ânsia, ou vai acabar incendiando nossa carruagem. Aldebar
— Eu vou botar pra foder! e branca e co
Aldebaran revirou os olhos e se virou para dormir. — Que
Joselito estava mais aceso que genitália de michê. o gato morto
— A Cu
um tom de
O mentor en
seja curioso,
temperamen
— Desc
— Estam
— Nunc
— Claro
terra onde vi
— Ele é

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o estavam se
depois, ainda VII
a formigação
mação.
or, espessura
O Fantasma Que Comia Pipoca
encolheram, Apesar da empolgação, se vangloriar sem ninguém para
os em uma assistir era enfadonho, e logo o quase Menino Dragão se cansou
pais, Joselito e adormeceu. No sono, sonhou que sobrevoava vilarejos
assemelhava incendiando pessoas e animais, destruindo condomínios e
aquele clipe. castelos com baforadas inflamáveis. Esbanjava felicidade
ckson e sem piromaníaca. Só não matou Joana D’arc, mas realmente “botou
para foder” “de com força”.
z não houve Não se lembrava quando o sonho terminara, mas acordou
ão lembrava com a charrete ainda em movimento. Estava descansado e
to de dragão. alegre. Sentia formigamentos e quenturas gostosinhas, e tinha
ocarra feroz. vontade de se esfregar em algum equino bem dotado. Não
criança entendia o que isso significava, por isso fez o possível para
gura essa sua ignorar, chegando a derramar um pouco de água nas partes.
Aldebaran já estava acordado, lendo um tomo de capa azul
e branca e com os olhos marejados de lágrimas.
rmir. — Que livro é esse? — indagou o menino, curioso como
hê. o gato morto.
— A Culpa é das Estrelas! — respondeu Aldebaran, com
um tom de voz terno, coisa que jamais Joselito ouvira antes.
O mentor enxugou uma lágrima e continuou. — É tão... Não
seja curioso, insolente! — Gritou o homem, voltando ao seu
temperamento usual.
— Desculpa. Onde estamos?
— Estamos a caminho de Nyahland.
— Nunca ouvi falar desse lugar.
— Claro que não. Não é um lugar para qualquer um. Lá é a
terra onde vive o grande deus dos dragões, Phanton Phik!
— Ele é perigoso? — Joselito não estava preocupado, pelo

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Joselito: O Menino Dragão

contrario, abundava confiança, mas estava curioso. quisesse se li


— Depende do que considera perigo, menino. E chega de borrar de me
perguntas, você vai descobrir tudo em menos de 10 minutos. em frente, ca
Joselito se resignou, estava feliz demais com sua nova desembocav
forma, principalmente por poder cuspir fogo pela boca e não interior do c
precisar mais queimar o fiofó para soltar labaredas. Como Lá dent
dissera Aldebaran, a viagem estava chegando ao destino, e em o membro
exatos 8 minutos, estavam de frente para uma fortaleza suntuosa frente, duas
e inacreditável. O prédio era esculpido em pedra bruta e tinha um mezanin
a forma perfeita de um imenso dragão de 4 asas. O garoto dracônico, s
boquiabriu-se, admirado com tamanha perfeição arquitetônica. arredondado
— Vamos descer — orientou o mentor. então, que s
Desembarcaram e caminharam até os portões da fortaleza. enxergar no
Aldebaran olhou para seu pupilo de forma austera, o que fez Caminho
Joselito esboçar um fio de tensão. Ficaram parados por alguns e logo tocha
minutos, apenas o silêncio os envolvia em sua aura silenciosa então, aquele
de cálida falta de ruídos. O garoto já estava bastante irritado sabia que era
quando, enfim, seu mentor voltou a proferir palavras pela boca. — Phan
— Este é o grande momento, pequeno. Será sua última que se precip
tarefa, e seu sucesso garantirá sua consagração e longevidade bordeado co
como o novo Menino Dragão! — fez um gesto teatral, típico — Venh
dos boiolas. — Agora vá, e sele seu destino, criança infeliz. A impon
— O que tenho que coletar? fina, meio a
— Tem que obter a benção de Phanton Phik. Para isso, ele Mago. Contu
te testará. Uma jaqueta
— Como? Calças Jeans
— Infelizmente, não posso responder a essa pergunta. eram do tipo
O que acontece na sala secreta de Phanton Phik fica na sala entretanto, li
secreta de Phanton Phik. Só quem já foi um Menino Dragão camisa branc
pode responder a tal questão, e não há ninguém vivo com tais Uma cam
características. Branca.
Joselito engoliu em seco, sentindo a garganta aquecer Do Blac
em chamas, como se o fogo que queimava em seu diafragma Uma. Ca

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Samuel Cardeal

quisesse se libertar para tostar alguns seres vivos. Após quase se


. E chega de borrar de medo, empurrou os grandes portões de pedra e seguiu
0 minutos. em frente, caminhando sobre uma trilha de paralelepípedos que
m sua nova desembocava em uma porta entreaberta que dava acesso ao
a boca e não interior do castelo.
edas. Como Lá dentro, encontrou um salão oval, mais extenso que
destino, e em o membro reprodutor agigantado de seu progenitor. À sua
eza suntuosa frente, duas escadas semicirculares que se encontravam em
bruta e tinha um mezanino rústico, contudo elegante. Seguindo seu instinto
as. O garoto dracônico, subiu os degraus até o topo, onde um umbral
rquitetônica. arredondado dava acesso a um ambiente escuro. Percebeu,
então, que sua última transformação lhe dera a habilidade de
da fortaleza. enxergar no escuro.
ra, o que fez Caminhou até um trono de pedra que se postava ao fundo,
s por alguns e logo tochas se acenderam por toda a borda do salão. Viu,
ra silenciosa então, aquele que o esperava. Não precisou de apresentações,
ante irritado sabia que era ele.
as pela boca. — Phanton Phik! — boquiabriu-se com a figura imponente
á sua última que se precipitava do trono de pedra ao fundo do grande salão
longevidade bordeado com tochas recém-acessas.
eatral, típico — Venha a mim, candidato!
a infeliz. A imponência, contudo, contrastava com a voz. Era meio
fina, meio anasalada, como uma imitação piorada do Coelho
Para isso, ele Mago. Contudo, Phanton Phik vestia-se com elegância invejável.
Uma jaqueta de couro legítimo, com golas retas e zíper prateado.
Calças Jeans da melhor grife de todo o mundo. Os calçados
sa pergunta. eram do tipo tênis, marca Nike, pareciam um pouco grandes,
fica na sala entretanto, lindamente maravilhosos. Por baixo da jaqueta, uma
nino Dragão camisa branca do Black Sabbath.
ivo com tais Uma camisa.
Branca.
nta aquecer Do Black Sabbath.
eu diafragma Uma. Camisa. Branca. Do. Black. Sabbath.

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Joselito: O Menino Dragão

O deus se levantou, fitando o pequeno meio dragão com corpo 72, ca


atenção e seriedade. Aquele olhar era enigmático. Tanto podia — Vamo
significar “vou te testar” quando podia significar “vou te pegar, — O qu
essa é a galera do avião”. A entidade caminhou ao redor do era aquela”.
pequeno futuro Menino Dragão, até que estacou à sua frente e — No fi
sorriu maliciosamente. personagem
— Está pronto para o teste, criança? e eu sou a...”
— Sim... Sim, senhor! a) C
— Tem certeza que deseja realmente ser o próximo Menino b) C
Dragão? c) L
— Sim! — respondeu com firmeza. d) C
— Ainda há tempo para voltar atrás. Se quiser desistir Joselito
agora, posso reverter a transformação e Aldebaran o levará de múltipla esco
volta para a casa. por fim, deci
— Não! — gritou, decidido. — Cura
— Deve entender, rapaz, que quando tudo era um sonho, — Certa
foi preciso desafiar o mantra e descobrir que viver disso é próxima per
diferente de viver isso. E essa geração hoje vive isso. Por isso, a não tem dire
cada dia mais, ela vive disso! aos universit
Joselito não entendeu bulhufas, aquilo era mais estranho O menin
que os clientes do bordel quando bebiam demais e ficavam seco que sua
dizendo absurdo e chamando a mãe para lhe limparem as fezes — Pergu
no entrenádegas. like?
— Entende o que eu quero dizer? — indagou Phanton a) B
Phik. b) W
— Sim, senhor. Entendo claramente. c) B
— Pois bem, vejo que está decidido. Que comece o teste! d) C
Nesse exato momento, luzes de neon brilharam no teto; A crianç
uma cortina dourada despencou por detrás do trono e um aquela língua
púlpito de vidro emergiu do chão à frente do deus. Sobre o sabia o que
púlpito que emergiu do chão à frente do deus, uma porção de os 4 dedos d
fichas brilhantes cujo verso estampava um pequeno dragão Uni duni
minimalista e a inscrição “SHOW DO PHIK” em fonte Arial, — Letr

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Samuel Cardeal

dragão com corpo 72, caixa alta e negrito.


Tanto podia — Vamos à pergunta que vale 1000 reais!
vou te pegar, — O que? — indagou Joselito, não entendendo que “porra
ao redor do era aquela”. Phanton ignorou-o.
sua frente e — No filme “Stallone Cobra”, de 1986, o protagonista e
personagem principal diz a seguinte frase: “ Você é uma doença,
e eu sou a...”
a) Culpa
ximo Menino b) Chuva
c) Luva
d) Cura
uiser desistir Joselito pôs-se a pensar. Ao menos as perguntas eram de
n o levará de múltipla escolha. Pensou até seus neurônios pegarem fogo e,
por fim, decidiu chutar uma alternativa.
— Cura!
a um sonho, — Certa resposta! — indicou o deus e apresentador. — A
viver disso é próxima pergunta vale 2000 reais! Lembrando que o candidato
o. Por isso, a não tem direito de pular, não pode pedir ajuda às placas nem
aos universitários, e se errar, vai se foder bonito!
ais estranho O menino engoliu em seco. Ultimamente engolia tanto em
is e ficavam seco que sua garganta parecia a cidade de São Paulo.
rem as fezes — Pergunta número 2. What does Marcellus Wallace look
like?
ou Phanton a) Black
b) White
c) Bitch
ece o teste! d) Careca
ram no teto; A criança começou a suar por entre as escamas. Não entedia
trono e um aquela língua, o que deixava impossível de responder. Mas ele
eus. Sobre o sabia o que fazer. Estendeu a mão e “numerou” mentalmente
ma porção de os 4 dedos de “a” a “c”, então começou a escolha.
ueno dragão Uni duni tê, salame minguê, o sorvete colorê foi esse da...
m fonte Arial, — Letra número C! — respondeu, como se houvesse

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Joselito: O Menino Dragão

convicção na resposta. O menin


— Certa resposta! — gritou o deus, sorridente como um claro; mas n
psicopata galã. — Pergunta valendo 3000 reais! Na formação objeto de se
clássica do grupo de super-sentai Power Rangers, qual animal é respirou fund
representado pelo ranger preto? no crânio e
a) Mastodonte sua vida. Aq
b) Tiranossauro Aquilo s
c) Triceratops Joselito
d) Pterodátilo uma similar
Porra do caralho, pensou Joselito. Não fazia ideia do que respondeu p
eram esses tais pauer renger. Sem opções, decidiu levar adiante — Letra
a estratégia do uni-duni-tê. Fez a contagem e respondeu. Um silê
— Letra número A. suavizaram e
— Certa resposta! Você é bem esperto, garoto. Ou tem não durou m
uma sorte da porra, não é? — Está
* Uma chu
Uma hora mais tarde, Joselito já havia perdido as contas e se derramo
de quantas perguntas respondera. A técnica, por incrível que quando se d
pareça, deu certo em todas elas. e escorreram
— Você foi muito bem, pequeno. Agora, vem a prova soltando laba
de fogo. A última e derradeira pergunta, valendo o grande e Logo se
cobiçado prêmio: a minha benção! resgando em
Palmas e risadas ecoaram de alto falantes que Joselito não moldou e se
notara anteriormente para se fazer
— Está preparado? Phanton
— Sim! — Joselito tremia por dentro e suava por fora, Dragão e lhe
como uma metáfora de si mesmo, no passado que antecede o dracônico.
presente que antecede o futuro, e vice-versa. — Gost
— Vamos lá! Quem é o pai de Luke Skywalker? Até que
a) Darth Vader
b) Kid Bengala
c) Mister Catra
d) Fabio Júnior

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Samuel Cardeal

O menino tremeu feito vara verde. Não sabia a resposta,


te como um claro; mas não podia errar, pois aquele momento não seria
Na formação objeto de segunda chance. Pela primeira vez na vida, Joselito
qual animal é respirou fundo e seu cérebro se oxigenou, sentiu uma dor aguda
no crânio e a cabeça inteira latejar. Aquilo era algo inédito em
sua vida. Aquilo era incrível.
Aquilo se chamava raciocínio.
Joselito começou a pensar, analisar os nomes, e percebeu
uma similaridade entre eles, com exceção de um. Então,
deia do que respondeu pela primeira vez com convicção.
levar adiante — Letra A!
ondeu. Um silêncio quieto tomou conta do recinto. As luzes
suavizaram e Phanton Phik assumiu um ar soturno. Mas aquilo
oto. Ou tem não durou muito, e logo o deus gritou efusivamente.
— Está certo!!!! Você ganhou!
Uma chuva de papel dourado despencou do teto inalcançável
do as contas e se derramou sobre o vencedor. Joselito custou a acreditar, e
incrível que quando se deu por si, lágrimas de alegria brotaram dos olhos
e escorreram pela tez dracônica. Em seguida, pulou de alegria,
vem a prova soltando labaredas acobreadas pela boca e pelos fundilhos.
o o grande e Logo sentiu uma queimação nas costas, a couraça se
resgando em dois pontos simétricos. A carne se expandiu, se
Joselito não moldou e se cobriu de escamas verdes e rijas. Não demorou
para se fazerem vistosas as duas asas em suas costas.
Phanton se aproximou do recém-abençoado Menino
va por fora, Dragão e lhe beijou a fronte, sussurrando algo em seu ouvido
e antecede o dracônico.
— Gostoso — foi o que Joselito ouviu.
r? Até que ele gostou.

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Dois mese
Após co
Dragão, Jose
terra de refo
que o abriga
servirem.
Ele voa
pássaros, vez
nas ovelhas
dias, depois
de mamute
metade mulh
Naquele
era perfeita,
regozijo de v
árvores só p
Desceu
sua propried
estava perfei
secas. Fitou-
línguas de fo
repetindo o
que dezenas
Estava f
mas aquela v
deixá-la para
dançavam co
como faz-tu

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Capítulo Final
Glória em Chamas
Dois meses depois.
Após concluir as 5 tarefas e ser consagrado o novo Menino
Dragão, Joselito foi presenteado com uma enorme extensão de
terra de reforma agrária, com um imponente e imenso castelo
que o abrigasse, além de animais de toda a sorte e súditos a lhe
servirem.
Ele voava sobre sua propriedade, divertindo-se com os
pássaros, vez ou outra tostando um deles ou lançando labaredas
nas ovelhas que pastavam distraídas. Fazia aquilo todos os
dias, depois voltava para os seus aposentos, onde comia carne
de mamute crua e era massageado nas escamas por odaliscas
metade mulher metade vaca.
Naquele dia, sentia-se especialmente animado. Aquela vida
era perfeita, e estava cada vez mais feliz. Transbordando seu
regozijo de vitória, pensou que seria divertido incendiar algumas
árvores só para vê-las queimar e tombar sem vida.
Desceu em rasante rumo à floresta que ainda fazia parte de
sua propriedade. Embrenhou-se até encontrar uma clareira. Ali
estava perfeito. Já era outono, e as árvores abundavam folhas
secas. Fitou-as por um momento e, em seguida, liberou as
línguas de fogo que saiam da boca e do fiofó. Girou 180 graus,
repetindo o movimento nos dois sentidos diversas vezes, até
que dezenas de árvores estivessem ardendo em chamas.
Estava feito, era hora de voltar para casa e fazer a refeição,
mas aquela visão era tão deslumbrante que Joselito não podia
deixá-la para trás sem admirá-la um pouco mais. As chamas
dançavam como as meretrizes do bordel onde outrora trabalhara
como faz-tudo, perfazendo movimentos sensuais e hipnóticos.

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Joselito: O Menino Dragão

O fogo brilhante era refletido pelos globos oculares dracônicos, habitava sua
aquecendo corpo e alma. palavras sus
Porém, muito repentinamente, uma das árvores despencou, venerado Na
projetando um dos galhos na direção do Menino Dragão. O — Pai, n
fragmento ardia em chamas compridas e violentas e logo o fogo ... E mo
tomou também o corpo de Joselito. Foi tudo tão rápido que o
menino não teve tempo para evitar, logo o fogo consumia todo
o seu corpo. O dragão se debateu sobre o solo, chamando pela
mãe, pelos animais, pelos súditos. Mas ninguém apareceu.
A dor lhe consumia as entranhas e nem mesmo a grossa
e dura couraça era capaz de arrefecê-la. Aos poucos, Joselito
foi perdendo as forças, e os movimentos bruscos passaram
a ser débeis e tímidos. O fogo continuava torrando a carne,
carbonizando órgãos e derretendo as escamas. Contudo, agora
o Menino Dragão sentia frio, como se dormisse ao relento em
uma noite de inverno. O corpo ficou dormente, e logo parecia
não existir.
Joselito era apenas consciência.
Mas não por muito tempo, pois o fragmento de racionalidade
que restava foi se apagando como o resto do fogo que terminava
de carbonizar sua carcaça já sem nenhuma gota de vida.
Antes de perecer completamente, o menino lembrou-se
de tudo que vivera até ali. As aventuras, as tarefas; lembrou-se
também do bordel, das mulheres quase nuas e dos homens quase
eretos. Por último, recordou da família, de todos os irmãos que
agora se esquecera o número, da mãe sempre grávida, e do pai –
seu querido pai — a lustrar seu membro viril enquanto escutava
Amado Batista em seu velho rádio de pilha.
Agora que tudo chegava ao fim, começava a se arrepender
de ter abandonado os seus, pensou no quanto o pai devia
estar triste e percebeu que por trás da alegria de dragão, sentia
saudades de seu genitor. Sentia muita saudades.
Assim, Joselito reuniu o último sopro de vida que ainda

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Samuel Cardeal

s dracônicos, habitava sua carcaça moribunda e proferiu, olhando para cima,


palavras sussurradas que, acreditava, chegariam ao grande e
s despencou, venerado Nauseabundos.
o Dragão. O — Pai, no céu tem benga?
e logo o fogo ... E morreu.
rápido que o
nsumia todo
amando pela
areceu.
mo a grossa
ucos, Joselito
os passaram
ndo a carne,
ntudo, agora
o relento em
logo parecia

acionalidade
ue terminava
vida.
lembrou-se
; lembrou-se
omens quase
s irmãos que
da, e do pai –
nto escutava

e arrepender
o pai devia
ragão, sentia

da que ainda

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