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Redução da maioridade penal: o argumento falacioso e

equivocado
Amarildo Alcino de Miranda

Muitos vêem na alternativa da redução da maioridade penal uma formula para


diminuir o crescente nível de violência em nosso país, o que é um argumento falacioso
e equivocado. Com tal propósito este trabalho procura apresentar uma posição, não
dominante, pois não esta em consonância com o discurso da maioria da mídia sobre a
problemática, porém apresenta uma visão não só legalista, mas uma análise histórica
e sociológica do fenômeno da marginalidade juvenil.
Ao longo da história o homem tem lutado pelo poder, quer para conquistá-lo,
quer para preservá-lo, e muitas vezes de forma egoísta, criando com isto uma
verdadeira batalha social, e propiciando, nesta filosofia de vida por ele adotada uma
desigualdade social, que faz parte constante da conjuntura social vigente.
Neste contexto de extrema exclusão social, percebe-se o fenômeno da
marginalização, que é o contingente populacional não integrado, não participante do
sistema produtivo. Assim, o calibrador do dinamismo da economia seria o mercado de
trabalho.
A experiência histórica, não só no caso brasileiro, tem mostrado que quando
uma economia se industrializa, a oferta de mão-de-obra não qualificada é geralmente
muito abundante. Isto se deve ao fato de que, por um lado, o deslocamento de amplas
massas humanas, que são expelidas do meio rural e vêm à cidade a procura de
melhores condições de vida e, por outro lado, à aceleração do crescimento
demográfico que resulta da queda dos índices de mortalidade, fenômeno que se
observa em toda a sociedade em processo de industrialização e modernidade.
Então a marginalidade seria uma prática moldada nas e pelas condições
sociais e históricas em que os homens vivem.
Neste sentido o menor marginalizado não surge por acaso. Ele é fruto de um
estado de injustiça social crônico que gera e agrava o pauperismo em que sobrevive a
maior parte da população. Na medida em que a desigualdade econômica e a
decadência moral foram crescendo nestes últimos anos, aumentou cada vez mais o
número de menores empobrecidos.
Onde está a explicação para tudo isso? Em geral se diz, e com razão, que a
explicação reside nas rápidas transformações que se dão por causa da
industrialização e da urbanização do país. Tal processo provoca um impacto sobre a
economia, organização social e a cultura do mundo rural. Entre outras coisas surge o
êxodo rural com conseqüente inchaço das cidades brasileiras, para as quais acorre
um número imenso de famílias em busca de melhores condições de vida e de
trabalho. A capacidade de atendimento social da infra-estrutura urbana é demasiado
pequena para receber esta demanda. Não há como dar trabalho, moradia, escola,
alimento, assistência médico-hospitalar para tanta gente. O resultado só pode ser a
marginalização das famílias, dos cidadãos, das crianças. Estas em especial, são
vítimas de inúmeras carências e, expostas aos perigos da cidade, vítimas também do
abandono total ou parcial, da malandragem e da delinqüência.
A causa real deste fenômeno doloroso vem do próprio modelo econômico. É
sobre ele que se assenta o inegável crescimento de nossa produção industrial e
agrícola. Só que este modelo gera para uns poucos uma acumulação crescente de
riqueza e a renda fica desigualmente distribuída. Somando-se ao fato de que os
grandes recursos e investimentos que entram no país (boa parte da dívida externa e
os capitais nacionais) são aplicados dentro dos objetivos de expansão, produção,
consumo e fabricação de armas. Ignoram-se os despossuídos, os 50% da população
que não têm, nem nunca tiveram, participação nos benefícios e no produto do trabalho
que sacrificadamente realizam.
Assim o egoísmo pessoal se estrutura em nível social e ocasiona uma tão
grande desorganização nas relações entre as pessoas e as classes que umas passam
a dominar sobre as outras, a oprimi-las e escravizá-las. E este egoísmo se torna ainda
mais cruel quando rodeado pelos ídolos do poder, do dinheiro, do prazer, e do saber,
opressores. É neste nível que devemos buscar soluções, iniciativas adequadas à
nossa realidade, se quisermos chegar à raiz verdadeira e última do problema social
posto, no qual a criança empobrecida é uma das vítimas mais atingidas.
O governo, pelo outro lado, inoperante, com um sistema educacional
fragilizado, onde mais exclui do que insere, com professores desmotivados, em face
das condições de trabalho e por políticas de remuneração inexpressivas.
Neste contexto, a saída do menor de sua casa é inevitável, pois está tentando
fugir das condições precárias da vida familiar e vê na rua sua única saída, inserindo-se
no mundo do crime. Uma vez na rua, depara-se com uma estrutura de desigualdade
gigantesca, e tenta a todo custo igualar-se às demais crianças com poder econômico
superior ao seu, por meio de práticas de diferentes atos infracionais.
A rua para o menor marginalizado passa a ser palco de sua vida, onde
encontra outros menores, que não o discriminam, e com estes passa a ter
relacionamentos de partilha de miséria, das angústias, sonhos, formando o que chama
grupos ou bandos de menores de rua.
Neste sentido os menores excluídos aumentam, e proporcionalmente o Estado
não acha alternativa, dentro do atual modelo, para controlar os elevados números de
atos infracionais cometidos por estes.
Por outro lado, a pressão da sociedade que excluiu, e agora além de excluir,
quer punir, quer garantias para a tranqüilidade social.
Logo, a sociedade com o apoio da mídia tem trazido para a discussão a
questão da redução da maioridade penal, pois segundo alguns desavisados, a
imputabilidade penal deve ser reduzida para dezesseis anos, e chegam ao cúmulo de
afirmar que a Lei 8.069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente, é um incentivo à
criminalidade, pois não pune o menor infrator.
Primeiramente, há que se ressaltar que o número de atos infracionais
cometidos por menores tem aumentado, como os índices de violência, em igual
proporção, tem aumentado, mas jogar para o Direito Penal a responsabilidade para a
solução de grave problema social, que é crônico e estrutural, é pura ingenuidade.
Outro aspecto falacioso é afirmar que os menores não são punidos por seus
atos, porque a imputação existe, há apenas uma diferença do ponto de vista da
conseqüência jurídica, onde ao maior aplica-se pena, e quando menor, aplica-se
medida sócio-educativa. Então temos a pena como conseqüência para quem pratica
crime, e medidas sócio-educativas para quem comete ato infracional. Portanto, o que
o Estatuto da Criança e do Adolescente quer é proteger a criança excluída
socialmente como já foi visto, da realidade do sistema prisional brasileiro, onde se
constata a sua ineficiência para a clientela que possui, ainda mais agora, para atender
os adolescentes, se tal proposta vier a ser implementada.
Percebe-se pelas razões aqui tratadas, sob os aspectos sociológicos, o menor
é vitima de uma sociedade de consumo desumana e muitas vezes cruel. Há, portanto,
a necessidade de ser tratado e amparado por políticas sociais fortes, e não ser apenas
punido do ponto de vista penal.
Cabe, neste sentido, ao Estado mantenedor da ordem pública, representante
dos interesses coletivos, responsável pela elaboração e aplicação das leis, chamar
para si a responsabilidade pelo crescimento do numero de menores infratores, e
certamente perceberá a flagrante omissão e a total falta de políticas que propiciem
condições dignas às famílias de menor poder aquisitivo.
Portanto, há necessidade do Estado fazer a sua parte, contribuindo com a
erradicação da pobreza, instituindo programas sociais sérios que garantam moradia,
saúde, educação e trabalho, ou seja, políticas de inclusão séria, eficientes, e não
políticas compensatória, obsoletas.
Então este discurso da redução da maioridade penal, manipulado muitas vezes
por interesses políticos demagógicos que vêm ao encontro a uma sociedade
assustada, é sem sobra de dúvida um retrocesso de uma legislação moderna e
emancipadora como é o ECA. Ao mesmo tempo ferem de morte os direitos humanos
daqueles que não têm e nunca tiveram a oportunidade de inclusão social.
É alarmante como as manifestações frente aos números de violência, em favor
da redução da maioridade penal, até de setores que lutaram pela implantação do ECA,
manifestações emocionalmente muitas vezes comprometidas, que acham que a única
reação social, frente a estes números é a redução da maioridade penal. Não podemos
permitir que este discurso, como já aconteceu com outros temas jurídicos, como, por
exemplo, a lei dos crimes hediondos, assuma uma discussão eminentemente modista,
sob pena de promovermos mudanças que não venham de encontro aos interesses da
justiça social.
Já vimos este filme, políticas imediatistas, resoluções tomadas no calor dos
acontecimentos, que, pela ingenuidade da população e pelo sensacionalismo da
mídia, geralmente, tendem a serem políticas desastrosas e equivocadas, do ponto de
vista jurídico.
Outro aspecto que há de ser levando em consideração, são os dados
estatísticos que apontam para impossibilidade da recepção de mais presos no atual
sistema prisional, senão vejamos: o sistema prisional nacional tem 331.457 presos,
para um total de vagas de 180.950, ou seja, já possui uma superlotação. Existe déficit
de aproximadamente 70.852 vagas. (Estatística Criminal de 2004)
No Estado de Santa Catarina, se possui dados estatísticos bastante
complexos: do total de 494.271 boletins de ocorrência, foram oferecidas 41.139
denúncias e, destas, 7.266 foram condenados, existindo 7.558 presos no Estado, o
qual possui capacidade carcerária de 5.871 vagas. Isso, com 7.500 mandados de
prisão para serem cumpridos. Existe déficit de 9.187 vagas em Santa Catarina
(Estatística Criminal de 2004).
Não precisa ser um especialista em política criminal para perceber que o
sistema é ineficiente para punir, além do que não se entrará no mérito do atendimento
dado aos presos fazendo-se análise tão-só das estatísticas. Assim, implementar a
redução da maioridade penal é aumentar em muito o número de apenados e, portanto,
será estar diante de um monstro cuja capacidade de resposta é ineficiente e ineficaz.
Ademais, esta discussão sobre a redução da maioridade penal não é algo
novo, esteve na pauta do império e no governo de Jânio Quadros, onde existia um
anteprojeto, cujo enfoque era tentar punir os jovens que praticavam a “subversão”:
fumavam maconha.
Repita-se que no Brasil temos uma legislação de excelente qualidade,
reconhecida por diversos paises como uma das mais evoluídas, que é o ECA, o qual
possui bons comandos legais. Porém, o que é falha é a seriedade na aplicação do
mesmo. O ECA, além de medidas sancionadoras, possui as medidas de caráter
protetivo que jamais foram implementadas pelo Estado Brasileiro. Neste caso, deveria
a população exigir do Estado primar pela lei existente, através da correta aplicação, ao
invés de buscar outras alternativas instáveis e inseguras.
Defender esta postura de redução é andar na contramão da historia, pois se
sabe da falência da pena de prisão. As sociedades mais evoluídas estão defendendo
no sentido de minimizar a intervenção estatal, impondo cada vez mais a diminuição de
penas restritivas de liberdade, pois os sistemas prisionais existentes não cumprem seu
papel, porquanto se tornaram centros de depósitos humanos antiquados, que não tem
conseguido ressocializar ninguém, muito pelo contrario, tem aumentado mais a revolta
desta população encarcerada.
É preciso um amplo debate nacional, sem paixões, um debate amadurecido,
analisando a problemática sobre vários aspectos, não só o aspecto legalista, mas os
fatores de ordem estrutural. Aplicar o ECA na sua plenitude, e não só seus
instrumentos rígidos, ou seja, as medidas punitivas, mas sim seu caráter de
ressocialização, apesar de seus instrumentos possuir na sua maioria o caráter punitivo
de suas ações. Precisa-se também, transformar os centros de atendimentos, hoje
reduzidos a casas de tortura, e não centros de recuperação de jovens, enfrentando o
desrespeito ao estatuto como algo presente.
É preciso, também, ter a compreensão de que o Brasil é um país jovem, em
que quase a metade da população está na faixa etária de 0 a 24 anos, e, portanto, há
de merecer deste e de futuros governantes toda atenção com relação a políticas
sociais sólidas, que venham ao encontro da solução para esta catástrofe social
imposta, que é o fenômeno da marginalidade social juvenil.
Concluo, afirmando ser equivocada a idéia de redução da maioridade penal,
que coloca o adolescente que comete ato infracional, como sendo o único responsável
pela crescente onda de criminalidade, e que, enquanto ficamos nesta discussão
estéril, famílias inteiras estão sem um teto, crianças cada vez mais dormem ao relento,
e governos irresponsáveis continuam a nos governar.
A vida social requer mais do que isto colocado, ou de qualquer lei punitiva:
exige solidariedade, fraternidade e igualdade de oportunidade para todos. E termos a
consciência de que uma opção equivocada pode representar o recrudescimento da
delinqüência, e a implantação de um estado de barbárie, onde a violência passe a ser
algo rotineiro, que vai representar um retrocesso, jogando um grande número de
adolescentes num sistema carcerário falido.
Diante de todo o exposto, resta a clareza de que a violência não se dá por falta
de medidas repressoras, mas sim por falta de políticas de inserção, e que possam dar
uma perspectiva social mínima à população excluída.

REFERÊNCIAS
BARROS, Wellington Pacheco. A interpretação sociológica do direito. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 1995.
FURTADO, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. 5 ª ed. São Paulo:
Nacional, 1975.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Tradução de Moacyr Gadotti e Lílian Lopes
Martin. 11ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1968.
SINGER, Paul. Economia política do trabalho. São Paulo: Hucitec, 1977.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é adolescência. São Paulo: Brasiliense, 1985.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o nascimento da prisão. Tradução de Ligia M.
Ponde - Vassal. Petrópolis: Vozes, 1977.
GADOTTI, Moacir. A educação contra a educação. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1984.

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