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Sumário

Apresentação ........................................................................................................................................... 3
Aula 01 - Educação Ambiental e Cidadania ......................................................................................... 4
Cidadania ambiental: o mundo é um só! ....................................................................................................................4
Consumo sustentável ..........................................................................................................................................................7
Justiça climática ou ambiental? .......................................................................................................................................9
As ferramentas da Educação Ambiental (EA): engajamento, aprendizagem social e gestão
participativa ......................................................................................................................................................................... 11
Transição para uma gestão de baixo carbono ....................................................................................................... 13
Aula 02 – Inserindo a lente climática nas estratégias de Planejamento Urbano e
Socioambiental .................................................................................................................................................................... 17
O que o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima diz sobre as cidades? ............................... 17
Municípios Educadores Sustentáveis (MÊS): uma estratégia da Educação Ambiental (EA) ................... 19
Alguns instrumentos de planejamento: a conexão necessária ......................................................................... 21
Plano de Gestão Integrada da Orla ............................................................................................................................ 23
As cidades resilientes estão preparadas para lidar com a mudança do clima? ......................................... 24
E as áreas rurais onde estão as populações tradicionais? .................................................................................. 26
Aula 03 - Vamos conhecer mais iniciativas para mitigar e adaptar-se aos efeitos da mudança
do clima? ................................................................................................................................................................................. 30
Agricultura familiar e sistemas agroflorestais ......................................................................................................... 30
Verdes nas cidades ........................................................................................................................................................... 33
Agora, vamos ver qual a colaboração da administração pública para mitigar as emissões de Gases
de Efeito Estufa (GEE) ....................................................................................................................................................... 35
E a sua casa? ........................................................................................................................................................................ 37
E você? ................................................................................................................................................................................... 39

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Apresentação

Olá, seja bem-vindo(a) ao último módulo do nosso curso! Vamos relembrar tudo que aprendemos até
aqui.
No Módulo 01, procuramos inserir alguns conceitos sobre mudança do clima para podermos dialogar
sobre esse assunto com mais tranquilidade.
Já no Módulo 02, vimos a trajetória das conferências e negociações mundiais para tentar estabilizar os
efeitos do aquecimento global, bem como as decisões vinculantes que emergiram das Conferência das Partes
(COPs) fazendo com que os países implementassem políticas de mitigação e adaptação.
No Módulo 03, conhecemos os biomas, suas características e as vulnerabilidades socioambientais bem
como as respectivas políticas ambientais de mitigação e adaptação. Vimos também as consequências de eventos
climáticos extremos em áreas urbanas devido ao uso e ocupação do solo de forma inadequada, as emissões de
Gases de Efeito Estufa (GEE) geradas de nossas matrizes energética, para o setor industrial e os reflexos da
poluição na saúde.
Agora no Módulo 04, vamos falar da educação ambiental para uma sociedade de baixo carbono o que
nos leva pelos caminhos da cidadania, do engajamento, da justiça e aprendizagem social. Vamos colocar em
prática nosso aprendizado durante o curso nas ações cotidianas e mostrar aos gestores alguns instrumentos de
planejamento.

Na Aula 01, que tem como título Educação Ambiental e Cidadania, vamos discorrer sobre os
seguintes assuntos:
Cidadania ambiental: o mundo é um só!
Consumo sustentável.
Justiça climática ou ambiental?
As ferramentas da Educação Ambiental (EA): engajamento, aprendizagem social e gestão
participativa.
Transição para uma gestão de baixo carbono.

Na Aula 02, que tem como título Inserindo a lente climática nas estratégias de planejamento
urbano e socioambiental, vamos discorrer sobre os seguintes assuntos:
O que o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima diz sobre as cidades?
Municípios Educadores Sustentáveis (MÊS): uma estratégia da Educação Ambiental (EA).
Alguns instrumentos de planejamento: a conexão necessária.
As cidades resilientes estão preparadas para lidar com a mudança do clima?
E as áreas rurais onde estão as populações tradicionais?

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Na Aula 03, que tem como título Vamos conhecer mais iniciativas para mitigar e se adaptar aos efeitos
da mudança do clima?, vamos discorrer sobre os seguintes assuntos:
Agricultura familiar e sistemas agroflorestais.
Verdes nas cidades.
Agora vamos ver qual a colaboração da administração pública para mitigar as emissões
de Gases de Efeito Estufa (GEE).
E a sua casa?
E você?

Aula 01 - Educação Ambiental e Cidadania

A partir desta aula, vamos construir alguns conceitos para reflexão. Não colocaremos novos conteúdos
sobre mudança do clima, pois a cada dia surgem novos estudos, evidências, políticas, desastres, negociações,
conflitos, eventos extremos etc.
Vamos dialogar como cidadãos, tendo em mente que as mudanças internas/individuais e ações
coletivas devem interagir no conjunto de estratégias de adaptação à mudança do clima.

Cidadania ambiental: o mundo é um só!

“Senhor cidadão
Senhor cidadão
Me diga, por quê
Me diga por quê
Você anda tão triste?
Tão triste
Não pode ter nenhum amigo”
(Tom Zé)

A Educação Ambiental é uma ferramenta da cidadania ambiental


Quando percebemos que as questões ambientais não têm barreiras ou fronteiras, estamos querendo
dizer que o usufruto dos serviços ecossistêmicos fornecidos pela natureza é um direito do ser humano neste
planeta e esse direito deve ser conquistado.

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O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) define o cidadão ambiental
como um:

[...] cidadão crítico e consciente que compreende, que se interessa, reclama e


exige seus direitos ambientais e que, por sua vez, está disposto a exercer sua própria
responsabilidade ambiental”.

Estão implícitos nessa definição dois conceitos: a igualdade e a participação.


A cidadania ambiental pode ser configurada por meio de alguns elementos, entre eles: os direitos à
vida, ao desenvolvimento sustentável, ao ambiente sadio, os deveres ambientais e a participação real
para defender os direitos e levar à prática os deveres.
Segundo Carvalho (2001), podemos dizer que a cidadania ambiental faz parte da trajetória de vida do
sujeito ecológico, o que significa um modo de ser relacionado à adoção de um estilo de vida ecologicamente
orientado.

Assista ao vídeo da Micrometragem desenvolvida em 2014 pelo Ministério da Cultura


(MinC) em parceria com Ministério do Meio Ambiente (MMA) por meio do edital
"Resíduos sólidos em 1 minuto":

https://www.youtube.com/watch?v=UmH4nPz_kn4

A Educação Ambiental (EA) pode ser uma ferramenta fundamental para a formação de uma cultura
comprometida com as questões ambientais se desenvolvida como processo contínuo de conhecimento,
reflexão, compreensão e ação. A diversidade de concepções inseridas no campo da EA vai muito além do
discurso conservador e preservacionista, ela se realiza de diferentes maneiras quanto aos objetivos, sentidos e
significados.

Na perspectiva dos educadores, o tema Educação Ambiental e Mudança do Clima, responde por pelo
menos quatro desafios (TRISTÃO,2002):
“enfrentar a multiplicidade de visões”, isto é, o educador precisa fazer conexões, identificar e
compreender todas as interpretações relacionadas ao meio ambiente;
“enfrentar a multiplicidade de visões”, isto é, o educador precisa fazer conexões, identificar e
compreender todas as interpretações relacionadas ao meio ambiente;

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“superar a pedagogia das certezas”, o que remete a pensar nos riscos produzidos e nas incertezas
científicas;
“superar a lógica da exclusão”, o qual se refere à necessidade de superação das desigualdades
sociais.

Dessa forma, a busca por um ambiente saudável, com uma postura menos consumista e mais reflexiva
é almejado pela Educação Ambiental (EA) por meio da prática da cidadania ambiental* e participativa que,
extrapolando o debate teórico, foca na participação dos grupos interessados, tais como: as comunidades e/ou
população local para identificar e apontar possíveis soluções dos problemas socioambientais.
*A cidadania participativa deve-se configurar nos objetivos dos movimentos sociais voltados para as inter-relações da escola,
da comunidade, dos representantes políticos com o meio ambiente. Por sua vez, a condição de se sentir parte integrante de determinado
grupo ou meio propicia o despertar de um sentimento de empoderamento capaz de promover alterações nas práticas sociais dos grupos
inseridos nesse meio. Segundo Jacobi (2005), o principal desafio para as atividades voltadas para a Educação Ambiental está associado
à capacidade de consolidar um compromisso de envolvimento e sensibilização dos diversos atores sociais nessas atividades.

Assim, o principal desafio para as atividades voltadas para a Educação Ambiental (EA) está associado à
capacidade de consolidar um compromisso de envolvimento e sensibilização dos diversos atores sociais nessas
atividades (JACOBI, 2015).

O que tem a ver com o nosso tema?


Vimos que a questão ambiental se associa fortemente ao conceito de risco ambiental, uma vez que é
crescente a percepção de que um dos componentes vitais da qualidade de vida humana é o ambiente
ecologicamente equilibrado. Vimos também que há uma inevitável confluência entre a luta em busca de
melhores condições de vida e a cidadania ambiental.
A relação entre cidadania ambiental e a mudança do clima ocorre em todos os territórios, mas é
mais visível nos grandes centros urbanos, devido ao crescimento desordenado, ausência de planejamento, oferta
de água tratada e resíduos sólidos.
A Educação Ambiental (EA) como instrumento de cidadania, oferece aprendizados e estratégias de
educação para a população como parte fundamental de qualquer política ou gestão sobre o clima.
Nós vamos ver nas próximas aulas, que existem políticas e fóruns de discussão na sua cidade que
podem te auxiliar na elaboração de projetos para sua comunidade, para as escolas do bairro e até mesmo na
gestão ambiental da prefeitura.

No tópico anterior, conversamos um pouco sobre cidadania, cidadania ambiental e vimos que esses
conceitos estão associados às noções de igualdade, participação e empoderamento. No tópico a seguir, vamos
continuar falando de cidadania, mas inserindo outros aspectos – o cuidado com o planeta sob a perspectiva do
consumo individual, ou seja, parte da nossa contribuição rumo a uma sociedade de baixo carbono.

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Consumo sustentável

Assista ao vídeo: Repente do Consumo Sustentável , esse vídeo foi selecionado


para 4ª Mostra do CTV:

https://www.youtube.com/watch?v=hpPzCSa_LHA

O consumo é uma preocupação antiga


A partir da Rio 92, os impactos causados pelo consumo surgiram como uma questão de política
ambiental relacionada às propostas de sustentabilidade. Ficou cada vez mais claro que estilos de vida diferentes
contribuem de forma diferente para a degradação ambiental. Ou seja, os estilos de vida de uso intensivo de
recursos naturais, principalmente das elites dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, são um dos
maiores responsáveis pela crise ambiental.

Você já deve ter ouvido falar de consumo consciente, ético, solidário, responsável, verde e sustentável.
Diante dessa profusão de termos, essas expressões surgiram como forma de incluir a preocupação com aspectos
sociais, e não só ecológicos, nas atividades de consumo.
Nestas propostas, os consumidores devem incluir, em suas escolhas de compra, um compromisso ético,
uma consciência e uma responsabilidade quanto aos impactos sociais e ambientais que suas escolhas e
comportamentos podem causar em ecossistemas e outros grupos sociais, na maior parte das vezes geográfica
e temporalmente distante.
É uma compulsão que leva o indivíduo das classes sociais abastadas a comprar de forma ilimitada e
sem necessidade bens, mercadorias e/ou serviços. Ele se deixa influenciar excessivamente pela mídia, o que é
comum em um sistema dominado pelas preocupações de ordem material, na qual os apelos do capitalismo
calam fundo na mente humana.
A Revolução Industrial agilizou o processo de fabricação. A indústria trouxe o desenvolvimento, em
um modelo de economia liberal, que hoje leva ao consumismo alienado de produtos industrializados. O
aumento da escala de produção incrementou o volume de mercadorias em circulação, o mundo se modificou
profundamente.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015, o


consumo das famílias, assim como a economia brasileira - medida pelo Produto Interno
Bruto (PIB), teve o pior desempenho desde o início da série histórica do PIB, em 1996.

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O consumo caiu por que estamos mais pobres ou por que estamos ficando mais inteligentes?
Bem, mais ou menos.
Se por um lado estamos conscientes que padrões de sucesso não são medidos por dinheiro e que
comportamentos éticos valem muito mais do que uma bolsa de R$5000,00 feita por trabalho escravo na
Indonésia. Por outro, a pobreza reduz nossa capacidade de consumir produtos com melhor eficiência
energética, com tecnologias mais sustentáveis tais como: eletroeletrônicos, lâmpadas led, ecodesigner,
alimentos orgânicos etc.
Além disso, a pobreza expõe as pessoas a uma série de outros problemas ambientais como: doença,
falta de saneamento básico e de água potável, maior ocorrência de habitações em áreas de risco, e assim por
diante.

...sobre consumo e mudança do clima.


Cada produto que consumimos tem uma história que: começa na extração de matérias-primas e
termina no descarte do produto.
Cada etapa desse processo gera emissão de gases. Escolhas de consumo que privilegiem o máximo
aproveitamento dos produtos adquiridos permitem que se evite desperdício que se reduza a emissão de gases
de efeito estufa. Além disso, o consumidor pode escolher comprar de empresas que se preocupam em reduzir
os impactos da produção sobre a mudança do clima.
Já vimos durante o curso que o modelo de produção e consumo tem uma escala planetária que envolve
relações econômicas entre países. Para esse processo ser ambientalmente sustentável será necessária uma
transformação radical nas matrizes energéticas, nas relações comerciais, na ressignificação do Produto Interno
Bruto (PIB) como fonte de riqueza, nas políticas ambientais enfim, no nosso padrão de desenvolvimento.
Já vimos durante o curso que o modelo de produção e consumo tem uma escala planetária que envolve
relações econômicas entre países. Para esse processo ser ambientalmente sustentável será necessária uma
transformação radical nas matrizes energéticas, nas relações comerciais, na ressignificação do Produto Interno
Bruto (PIB) como fonte de riqueza, nas políticas ambientais enfim, no nosso padrão de desenvolvimento.

Assista ao vídeo do Instituto Akatu mostrando algumas dicas para diminuir os


impactos do seu consumo na Mudança do Clima:

http://www.akatu.org.br/Dicas

Já falamos que existe um círculo vicioso no qual a produção e o consumismo geram emissões de Gases
de Efeito Estufa (GEE) o qual está profundamente relacionado à mudança do clima, cujas consequências deixam
uma parte da população mais vulnerável e limitam seu acesso aos recursos naturais.

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Agora, estamos falando de quem não consome e nem tem acesso aos elementos mais básicos de
consumo para sobrevivência; de quem é deslocado de suas casas devido a um evento climático extremo ou
instalação de grandes obras. O consumo sustentável, a justiça ambiental são elementos da cidadania ambiental.

Justiça climática ou ambiental?

“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar”.

(Martin Luther King)

O conceito de justiça climática se originou do paradigma da justiça ambiental e da percepção de que


os impactos da mudança do clima atingem de forma e intensidade diferentes grupos sociais. Os casos de
injustiça climática ocorrem quando a dimensão dos desastres naturais afeta de modo desigual e injusto
determinados grupos sociais, em certas áreas geográficas. Por isso a justiça climática inseriu no seu campo de
atuação as dificuldades sociais, econômicas e ambientais específicas de um determinado espaço geográfico,
tanto no âmbito local e regional, quanto entre países e continentes.
Já a Justiça Ambiental é mais ampla, analisa os problemas sociais e econômicos causados pelos fatores
ambientais.

Segundo Acselrald (2010), a justiça ambiental representa, em síntese, um conjunto de princípios e


práticas que permitem que nenhum grupo social, seja étnico, de classe ou gênero, suporte uma parcela
desproporcional das consequências ambientais negativas de operações econômicas e decisões políticas, assim
como a ausência e omissão de políticas que vigem em benefício de toda a população.
Tal concepção implica, portanto, a consagração jurídica e política do direito a uma vida segura, sã e
produtiva para todos, em que o meio ambiente seja considerado na sua totalidade, incluindo suas dimensões:
ecológicas, físicas, econômicas, sociais, políticas e estéticas.
Percebemos que a justiça do clima está inserida na justiça ambiental no qual o modelo econômico de
desenvolvimento atual se baseia na visão de que as principais condições para a felicidade são escassas: somente
alguns considerados ganhadores, conseguiriam alcançá-las. Os demais, vistos como perdedores, vão ficando
para trás.
Essa visão estimula a competição, a violência, o medo da escassez e a necessidade de acumular sempre
mais (LAYRARGUES, 2000).

Além disso, a poluição e os riscos ambientais provocados por indústrias petrolíferas, mineradoras e
pelo agronegócio, entre outros empreendimentos, não atingem a sociedade de maneira uniforme.

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Sabemos que injustiças sempre geram conflitos. O consumo desenfreado e o uso intensivo de recursos
naturais somente se viabilizam porque a distribuição dos benefícios é desigual e os impactos negativos sempre
recaem entre grupos historicamente vulnerabilizados.
Populações negras, indígenas, pobres e trabalhadoras têm menos recursos políticos, financeiros e
informacionais para se protegerem. É no território desses grupos que seguem sendo instalados os
empreendimentos mais impactantes colocando em perigo a saúde e os modos de vida dessas populações.
(http://fase.org.br/)
As grandes obras de infraestrutura, por exemplo: hidrelétricas, energia eólica, rodovias, portos, indústria
naval, mineração e outros provocam o surgimento de conflitos ambientais de grandes proporções, pois
demandam uma série de ações de realocações ou locomoções que geram mudanças substantivas na vida de
populações locais.
No Brasil e na América Latina, a exploração dos recursos naturais em grande escala, para fins
meramente econômicos, é considerada a raiz da ampliação dos conflitos ambientais, onde se registra o maior
número de assassinatos de ambientalistas.
Pois bem, os conflitos ambientais existem em função da injustiça ambiental onde há uma imposição
desproporcional dos riscos ambientais às populações menos dotadas de recursos financeiros, políticos e
informacionais. Essa realidade provoca efeitos no campo, mas também nas cidades, pois sabemos que as favelas
são alvos de um mercado imobiliário privatizante.

Em um projeto inédito, a Universidade Autônoma de Barcelona mapeou conflitos


ambientais em todo mundo. No mapa, o Brasil aparece em terceiro lugar (ao lado da
Nigéria) em número de disputas, enquanto a mineradora brasileira Vale ocupa a quinta
posição no ranking de empresas envolvidas nessas questões.

Entre os 58 conflitos ambientais em curso no Brasil há disputas agrárias como o caso de


Lábrea, cidade no Amazonas próxima à fronteira com o Acre e Rondônia, onde
agricultores são vítimas da ameaça de madeireiros e grileiros.

Há ainda diversos conflitos indígenas, disputas por recursos hídricos e por reservas
minerais. Vários conflitos estão associados à expansão da agricultura, mineração,
hidroelétricas e exploração de petróleo em áreas de terras altas e no litoral - e destaca
entre as áreas afetadas os territórios de comunidades tradicionais que, historicamente,
viviam de forma sustentável (BBC, 2014, on-line).

Anteriormente, discorremos sobre justiça ambiental e conflitos ambientais e podemos dizer que a
perspectiva de gerar mais injustiças e conflitos devido aos efeitos da mudança do clima é inequívoca.
Por isso, alguns centros de pesquisa já estão trabalhando a justiça climática e educação ambiental,
como o Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (GPEA-UFMT) que
busca identificar os grupos sociais mais vulneráveis.
Agora, neste próximo tópico, vamos falar de mais estratégias ligadas à Educação Ambiental: a gestão
participativa, o engajamento e aprendizagem social.
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As ferramentas da Educação Ambiental (EA): engajamento, aprendizagem social
e gestão participativa

“O desenvolvimento humano só existirá

se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade,


participação, solidariedade e liberdade”.

(Betinho)

Já mencionamos anteriormente que a relação entre Educação Ambiental e Mudança do Clima está na
democratização de saber. Vimos que existe uma necessidade social cada vez maior de construir conhecimentos
que possam lidar com os cenários ambientais previstos dentro do contexto da mudança do clima bem como
entender as controvérsias de suas formulações.
O desafio é dar concretude a este conhecimento e transformá-lo em uma aprendizagem social onde o
engajamento e a gestão participativa são os caminhos possíveis para consolidar uma sociedade de baixo
carbono.
Enquanto o engajamento trata do envolvimento, a interação e o relacionamento que o sujeito tem com
uma ideia, um tema ou, projeto, a aprendizagem social é um novo desafio para Educação Ambiental, pois
envolve uma aprendizagem pública a qual oportuniza os diferentes atores envolvidos a aprofundar seu
conhecimento; ampliar os diálogos e estabelecer laços de confiança e cooperação; administrar e resolver
conflitos, buscar soluções de compromissos com a gestão ambiental.
Segundo Jacobi (2009), a noção básica do aprendizado social é como “aprender junto para
compartilhar”. Trazer esse conceito para a gestão ambiental de baixo carbono implica em reconhecer que nosso
modelo de desenvolvimento está ultrapassado, que nossas escolhas podem ou não contribuir para aumentar as
emissões de GEE, que os conflitos ambientais originários das populações vulneráveis tendem a aumentar e que
devemos entender o meio ambiente como bem público como um direito de cidadania.

Assista ao vídeo: Minuto Ambiental - Participação Social – Sistema Ambiental


Paulista, 2016:

https://www.youtube.com/watch?v=doMBNtvl49E

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Quanto mais participativa a gestão, melhor o aprendizado
As instâncias participativas consultivas e/ou deliberativas das políticas ambientais podem ser
consideradas instâncias abertas à aprendizagem social, a exemplo dos conselhos de meio ambiente, dos comitês
de gestão de bacias hidrográficas e das audiências públicas, que podem cumprir o papel de serviço à democracia
e à proteção ambiental (JACOBI et al., 2009).
Também os encontros, as conferências e eventos de articulação intelectual e política com vistas às
discussões sobre a gestão ambiental participativa e demais espaços de diálogos são formas educativas de
engajamento na transversalidade dos grupos, dos interesses, dos movimentos sociais e culturais.
Nesse sentido, a Educação Ambiental participativa deve primar por atividades que estimulem a
produção de valores, hábitos e ações, que visem alternativas de solução para os problemas ambientais,
relacionando os fatores psicossociais, históricos e culturais, com aspectos políticos, éticos e estéticos.

Os espaços formais e informais de diálogo e decisões


Cada vez mais a população, juntamente com o Poder Público, tem sido chamada a participar da gestão
ambiental do município ou do estado. Uma das formas de viabilizar este procedimento é por meio da criação
de Conselhos de Meio Ambiente.

CEMA e CMMA
Os Conselhos de Meio Ambiente (Estaduais ou Municipais) são espaços de construção coletiva, nos
quais se pode exercer o direito de cidadania e ao mesmo tempo o dever constitucional de defender e preservar
o meio ambiente. Tem um papel muito importante para a gestão de baixo carbono, pois podem sugerir a criação
de leis, adequação e regulamentação daquelas existentes para estabelecer limites mais rigorosos para a
qualidade ambiental e também pode indicar ao órgão ambiental municipal a fiscalização de atividades
poluidoras.

As Comissões Interinstitucionais de Educação Ambiental (Estaduais e Municipais) - CIEAs tem como


função construir e coordenar a Política Estadual de Educação e promover a educação ambiental em seus
aspectos formal e não formal com a colaboração da sociedade civil. Para uma gestão de baixo carbono, as
campanhas, projetos nas escolas, controle social são algumas possíveis agendas para essa Comissão. Além
destes existem outros espaços que podem contribuir para capilarizar as ações e políticas de Educação Ambiental.

No tópico anterior, falamos das estratégias da Educação Ambiental para uma gestão ambiental, ou seja,
a ideia da participação, resolução de conflitos e consensos que compõe o aprendizado social e ambiental para
inserção da lente climática nas políticas públicas.

Agora, vamos começar a ver o que que podemos fazer como gestores ou como cidadãos e também
entender melhor a governança da Política Nacional da Mudança do Clima.

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Transição para uma gestão de baixo carbono

“Eu semeio vento na minha cidade,

Vou pra rua e bebo a tempestade”.

Chico Buarque

A transição para uma economia de baixo carbono é um desafio que exigirá do poder público e da
sociedade em geral mudanças profundas nos modelos atuais de produção, gestão, usos da energia/insumos e
consumo.
Entretanto, esta transição também cria oportunidades para investimentos em inovação tecnológica,
desenvolvimento de novos processos produtivos mais eficientes e criação de novos produtos.

Veja abaixo quais seriam as principais formas de atuação dos diferentes setores para uma economia de
baixo carbono.

Transição para uma nova economia de baixo carbono:

Atuação do Setor Governamental: Incentivos fiscais, políticas de compras sustentáveis, políticas de


apoio a negócios sustentáveis pelas instituições financeiras públicas, execução eficaz da política de comando e
controle na legislação ambiental, incorporação transversal da sustentabilidade nas políticas de governo;
orientação das empresas estatais para investimentos em energias renováveis, eficiência energética, diminuição
da geração de resíduos, aproveitamento de resíduos como subprodutos para a indústria, uso racional da água
e compras sustentáveis.

Atuação das Instituições financeiras privadas: Incentivos fiscais, políticas de compras sustentáveis,
políticas de apoio a negócios sustentáveis pelas instituições financeiras públicas, execução eficaz da política de
comando e controle na legislação ambiental, incorporação transversal da sustentabilidade nas políticas de
governo; orientação das empresas estatais para investimentos em energias renováveis, eficiência energética,
diminuição da geração de resíduos, aproveitamento de resíduos como subprodutos para a indústria, uso racional
da água e compras sustentáveis.

Atuação do Setor Produtivo (indústria, comércio e serviços): Incorporação do conceito de ciclo de


vida dos produtos e serviços nas estratégias de sustentabilidade corporativa; indução dos fornecedores a
práticas sustentáveis; implementação de políticas de eficiência energética e ampliação do suprimento de

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energias renováveis; uso racional da água; gestão sustentável dos resíduos; investimento em pesquisas para o
desenvolvimento de tecnologias limpas; gestão climática (inventário de emissões, políticas de corte nas
emissões, projetos de créditos de carbono, programas de adaptação).

Vamos recordar os espaços de governança existentes no Brasil que tratam sobre a Mudança do Clima.

Temos a Política Nacional de Mudanças Climáticas, Lei 12.187 de 29 de dezembro de 2009, que
determina, entre outros aspectos:
A meta brasileira de redução de 36,1 a 38,9% nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) até
2020, comparando com o cenário tendencial;
A necessidade de se criar planos setoriais de mitigação e adaptação às mudanças do clima.

O Decreto que regulamenta a lei - Decreto 7.390/2010 - estabelece:


Valor de emissões no cenário tendencial (ou valor de referência) para 2020, o que permite
transformar a meta em um valor máximo de emissão de 2 GtCO2e em 2020;
O conteúdo mínimo dos planos setoriais – inclusive com metas especificas;
A publicação de estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa pelo Ministério de
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Para implementação da Política Nacional de Mudanças Climáticas, há uma série de instrumentos que
incluem:

Plano Nacional de Mudanças Climáticas: estabelecido em 2008, passou por um processo de revisão e
visa identificar, planejar e coordenar as ações para mitigar as emissões de gases de efeito estufa geradas no
Brasil.
Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima: tem como objetivo geral promover a gestão e
redução do risco climático no país frente aos efeitos adversos associados à mudança do clima, de forma a
aproveitar as oportunidades emergentes, evitar perdas e danos e construir instrumentos que permitam a
adaptação dos sistemas naturais, humanos, produtivos e de infraestrutura.

Plano Nacional de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais: organiza as ações de


identificação e alerta para desastres naturais bem como ações de prevenção e mitigação de riscos à vida humana
associados a estes desastres.

Inventário Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa: documento publicado em


intervalos de 4/5 anos que contém um detalhado inventário de todas as fontes de emissão e remoção de gases
de efeito estufa no Brasil. A partir de 2013, passaram a ser elaboradas também estimativas anuais de emissão.

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Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas: abrangem diferentes setores
da economia definindo ações, indicadores e metas para mitigação das emissões e adaptação para as mudanças
climáticas. Os planos abrangem os seguintes setores: prevenção e controle do desmatamento; agricultura,
energia, indústria de transformação, mineração, siderurgia, transportes e saúde. Pesca e gestão de resíduos
também devem ter planos elaborados.

Relatório Nacional de Avaliação sobre Mudanças Climáticas (RAN): publicado em sua primeira
versão em 2013, apresenta os avanços do conhecimento sobre as mudanças climáticas no Brasil. Também analisa
e identifica as necessidades de mitigação e adaptação às mudanças do clima. O RAN é elaborado pelo Painel
Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Também existem dois mecanismos específicos de financiamento:

Fundo Clima: que recebe recursos do Tesouro para aplicação em projetos, estudos e empreendimentos
que visem à mitigação da mudança do clima e à adaptação a seus efeitos.
Fundo Amazônia: recursos de doações proporcionais às reduções de emissão por desmatamento e
aplica em projetos que promovam a conservação e o uso sustentável da floresta.

No governo federal, a agenda do clima tem como pontos focais: Ministério do Meio Ambiente e
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Em geral, os assuntos relacionados ao desenvolvimento da articulação federativa, planejamento e
regulação setorial, além do desenho de políticas públicas de mitigação e adaptação, são dirigidas ao MMA e os
assuntos ligados à pesquisa e inovação, estimativas e inventários de emissões e gestão do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) são tratados pelo MCTI.
Atualmente, a principal instância de decisão sobre política de clima é a Comissão Interministerial
sobre Mudanças do Clima (CIM) formada por representantes em nível de secretariado e de 16 ministérios sob
a coordenação da Casa Civil da Presidência.

Em 2000, foi criado o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), dirigido pelo Presidente da
República e que, em tese, funciona como uma espécie de caixa de ressonância das demandas e percepções da
sociedade sobre o tema. O Fórum não tem função deliberativa e sua composição é bastante fluida e flexível.
Para disseminar conhecimentos sobre causas e efeitos das mudanças climáticas, em 2008, foi
estabelecida a Rede Clima – Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, que reúne
dezenas de grupos e instituições de pesquisa no Brasil.
Também em 2008, foi constituído o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) que tem como
objetivo central reunir, sintetizar e avaliar as informações sobre mudanças climáticas (em grande parte
fomentadas pela Rede Clima) e produzir o Relatório Nacional de Avaliação (RAN).

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Chegamos ao final da Aula 01, e aqui aprendemos algumas ações que o poder público, setores
produtivos e financeiros podem fazer para diminuir as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE).

Na Aula 02 que tem como tema Inserindo a lente climática nas estratégias de planejamento urbano e
socioambiental, falaremos da gestão ambiental municipal e quais os instrumentos que podem auxiliar o gestor
e a sociedade.
Até lá.

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Aula 02 – Inserindo a lente climática nas estratégias de
Planejamento Urbano e Socioambiental

Olá, bem-vindo(a) à segunda aula do Módulo 04! Na aula passada, falamos de algumas ações que o
poder público, setores produtivos e financeiros podem fazer para diminuir as emissões de GEE.
Nesta aula, vamos falar da gestão ambiental municipal e quais os instrumentos que podem auxiliar o
gestor e a sociedade.

Vamos lá?

O que o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima diz sobre as cidades?

“A adaptação se converteu em um eufemismo de injustiça social a nível mundial.


Enquanto os cidadãos do mundo desenvolvido estão a salvo, os pobres, vulneráveis e
famintos estão expostos todos os dias de suas vidas à dura realidade das mudanças
climáticas”.

Desmond Tutu

Nos últimos anos, o Brasil avançou na implementação de políticas públicas de desenvolvimento urbano
que relacionam o planejamento urbano e a gestão de riscos na perspectiva da prevenção e, mais recentemente,
considerando os impactos previstos em decorrência da mudança do clima.
O censo do IBGE (2011) mostrou que os municípios com mais de 100 mil habitantes representam
apenas 5% (283) do total de municípios brasileiros (5.565), e comportam mais da metade da população brasileira
– 54.7% (104,4 milhões de pessoas).

O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA)


Enfatiza para as cidades uma abordagem nacional ao mesmo tempo em que ressalta a necessidade de
existir um protagonismo por parte dos gestores municipais e do setor privado para que se estabeleçam diretrizes
de adaptação em nível local. Também ressalta a importância de existir um planejamento integrado de uso e
ocupação do solo com a infraestrutura associada à avaliação de riscos climáticos, assim como é imprescindível
que sejam adotados conceitos urbanísticos sustentáveis, com menor uso de recursos naturais.

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Vamos ver do que se trata?

As diretrizes do PNA referente ao eixo CIDADES:

Articulação entre as três esferas de governo – federal, estadual e municipal - visando às funções públicas
de interesse comum em regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
Promoção da ocupação urbana diversificada contribuindo para a redução da expansão
desordenada e da exposição da população a riscos advindos da ocupação de áreas suscetíveis;
Elaboração de projetos específicos de expansão urbana, orientando processos de parcelamento,
uso e ocupação do solo urbano dentro de padrões adequados e adaptados aos riscos relacionados à mudança
do clima;
Realização das obras de contenção de encostas e elaboração de Plano Municipal de Redução de
Riscos (PMRR), ampliando o número de municípios beneficiados – incluindo aqueles inseridos no Cadastro
Nacional de Municípios com Áreas Suscetíveis à Ocorrência de Deslizamentos, Inundações ou Processos
Geológicos ou Hidrológicos Correlatos (CadRisco);
Inserção das diretrizes de adaptação à mudança do clima na implementação do Plano Nacional
de Saneamento Básico (Plansab);
Implantação da Drenagem Urbana Sustentável voltada à redução das enchentes e inundações,
devendo observar, sempre que possível, princípios de adaptação baseada em ecossistemas (AbE);
Apoio à implementação e melhorias dos sistemas de abastecimento de água e de esgotamento
sanitário;
Apoio às ações de melhoria dos sistemas de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,
visando à ampliação da coleta seletiva nos municípios, à disposição adequada dos rejeitos e à erradicação dos
lixões, visto que o aumento de precipitações pluviais intensas decorrentes de mudança do clima ocasiona maior
carreamento de chorume dos lixões;
Apoio à gestão e disseminação de informações relacionadas às mudanças climáticas que possam
subsidiar a elaboração de diagnóstico e o desenvolvimento de estratégias de adaptação em sinergia com o
planejamento urbano;
Apoio ao desenvolvimento de estudos sobre os impactos das mudanças climáticas nas diferentes
cidades e a formação e capacitação de recursos humanos e a disseminação de recursos tecnológicos para o uso
e gerenciamento de informações, visando à aplicação das estratégias e metodologias estabelecidas.

Segundo o PNA, as principais vulnerabilidades das cidades são:

Municípios de pequeno porte – com menos de 50 mil habitantes: menos recursos para
infraestrutura e serviços básicos. Limitadores de desenvolvimento e alta vulnerabilidade socioeconômica.
Pobreza. Problemas de saneamento.

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Municípios de médio porte – de 50 a 100 mil habitantes: Muito variável. No geral, possuem mais
recursos que os pequenos. Quanto maior o município, maior aderência a instrumentos de planejamento urbano.
Municípios de grande porte e metrópoles – de 500 mil até 1 milhão de habitantes ou mais:
Eventuais problemas de drenagem e saneamento. Possuem mais recursos e capacidade para lidar com
problemas estruturais e de serviços básicos. Forte desigualdade social e consequentes problemas de habitação
normalmente ligados ao saneamento. Inadequação do Sistema de Drenagem devido à intensa
impermeabilização. Consequente contaminação dos recursos hídricos.

Na página do MMA tem vários projetos e ferramentas de monitoramento desenvolvidos pelo Ministério
do Meio Ambiente e parceiros.
Conheça os projetos: http://www.mma.gov.br/clima/adaptacao/projetos#saiba-mais-3
Se você pertence a uma ONG, pode fazer uma atividade que vai te auxiliar na elaboração de estratégias
de adaptação para mudança do clima chamada JOGO DO CLIMA: http://gvces.com.br/jogo-do-
clima/?locale=pt-br

No tópico anterior, falamos sobre as principais vulnerabilidades e estratégias relacionadas às cidades


no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA).
Agora, vamos continuar falando das cidades com outro olhar – vamos considerá-la um espaço educador
e cheio de oportunidades que pode contribuir para a mitigação e adaptação à mudança do clima.
Mas antes, inspire-se a seguir com o a fala do Professor e filósofo Mario Sergio Cortella.

Municípios Educadores Sustentáveis (MÊS): uma estratégia da Educação


Ambiental (EA)

“Por que eu preciso morar em grandes cidades, viver desesperado dentro de um


carro para lá e para cá, restringir imensamente o meu tempo de convivência com as
pessoas de quem eu gosto, reduzir o meu ócio criativo para ficar num lugar onde vão me
oferecer apenas e tão-somente dinheiro? “

(Mario Sergio Cortella)

Em 2005, o Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (DEA/MMA) lançou


uma publicação chamada Município Educador Sustentável (MES) com o objetivo de incentivar mudanças de
valores e não apenas o debate ou ações centradas na construção de estruturas físicas e institucionais.

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Dentro de uma proposta educacional, procurou definir quais políticas públicas precisam ser
implementadas pela União e pelos Estados para estimular/apoiar os municípios a desenvolverem ações
transformadoras.
A publicação convida as pessoas a valorizarem a sua cidade por meio de implementação de projetos
de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida.
Vimos que os municípios devem estar preparados para se adaptarem às mudanças do clima e isto tem
a ver com maturidade política dos gestores e dos munícipes. A gestão ambiental engloba a educação, a saúde,
a produção e a distribuição de alimentos, a preservação patrimonial da cidade, a questão do lixo, a luta pela
conquista de mais espaços públicos, enfim, a qualidade de vida.

As estratégias sugeridas incluem debates, diálogo e ação que engloba quatro processos educativos
simultâneos:

Formação de Educadores Ambientais: São processos formativos oferecidos por parceiros locais ou
regionais, que possibilitem a formação de um número cada vez maior de educadores ambientais.
Educomunicação Ambiental: São estratégias interativas e participativas de comunicação com
finalidade educacional e de tomada de decisão, envolvendo a produção e a divulgação de materiais
educacionais, campanhas de educação ambiental e o uso de meios de curto, médio e largo alcance.
Escolas e outras Estruturas e Ações Educadoras: São estruturas dos municípios, a partir das quais
acontecem ações e/ou projetos voltados à sustentabilidade, tais como a definição de planos, projetos,
programas, legislação e políticas de meio ambiente, educação, saúde, transportes etc.
Instâncias e Processos Participativos: São os conselhos, colegiados, redes e coletivos que se propõem
a realizar projetos e ações em prol da sustentabilidade e, ao mesmo tempo, discutir valores, métodos e objetivos
de ação, a fim de educar e de se autoeducarem para a sustentabilidade.

Para organizar as demandas e decisões, é sugerido instituir um Comitê Local que pode ser também
regional, ou seja, um grupo formado por representantes de vários municípios que já possui algum arranjo
administrativo como consórcios, bacia hidrográfica, Áreas de Proteção Ambiental (APAs) ou outras afinidades
territoriais, culturais e ambientais.
A constituição do Comitê Local pode estar inserida no Conselho Municipal de Meio Ambiente, Conselho
das Cidades, Conselho de Gestão de Resíduos Sólido – onde pode haver um espaço para este tipo de debate. A
atribuição do Comitê é construir um projeto socioambiental local que será apresentado num Seminário Regional
onde as propostas serão discutidas e as parcerias socializadas.

O que podemos aproveitar desta proposta para nosso tema?


A proposta do MES é uma forma de colocar em prática nosso aprendizado por meio de algumas
iniciativas que podem contribuir para uma sociedade de baixo carbono, tais como:

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A criação de cursos, oficinas ou outras atividades de formação de educadores/gestores
ambientais participantes da sociedade sobre Educação Ambiental e Mudança do Clima;
Participação da criação ou revisão do Plano Diretor do Município com inserção da lente climática;
A criação e a consolidação de um Programa Municipal de Educação Ambiental, a ser
progressivamente realizado dentro e fora das escolas do município;
A interação entre os Comitês de Bacias Hidrográficas e suas Associações de Micro Bacias para
ações de mitigação e adaptação;
Incentivar a implantação de trabalhos comunitários e sempre associados à Educação Ambiental,
na regeneração de matas ciliares em rios e em riachos, ao lado da implantação, quando devida, de Unidades de
Conservação e de Reservas Legais.

Você deve estar se perguntando: estas ações já são implementadas no meu município - então, qual a
novidade?
A novidade é inserir a lente climática como mais uma variável para conduzir nossas ações individuais
e coletivas. Por exemplo, para diminuir nossa pegada de carbono, podemos deixar o carro mais em casa e,
quando possível, caminhar ou tomar uma condução coletiva. Podemos tratar do “lixo” como se ele fosse um
problema da cidade e não apenas nosso – reciclando ou aproveitando alguns resíduos que podem virar “outras
coisas úteis”. Podemos participar dos trabalhos de criação de um grande parque municipal nos terrenos
públicos, ou de uma área de proteção ambiental (APA), na serra e nas matas da divisa de nosso município.
Podemos nos unir aos trabalhos realizados nas escolas municipais como, por exemplo, mobilizar as
crianças e a comunidade para uma campanha de limpeza de um pequeno rio do bairro ou de replantio de
árvores para recompor as suas matas ciliares.

Enfim...quando você for realizar alguma ação, tente colocá-la numa lente climática visando diminuir as
emissões de GEE.

No tópico anterior, conhecemos a proposta de Munícipio Educador Sustentável (MES). Trata-se de uma
metodologia que utiliza as estratégias de Educação Ambiental para a gestão socioambiental em nível local. No
tópico a seguir, vamos refletir sobre os demais instrumentos de planejamento.

Alguns instrumentos de planejamento: a conexão necessária

“Para onde vão os trens, meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no
mapa, e depois o pai ria: também para lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se
mova o trem, tu não te moves de ti.”

(Hilda Hilst)

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O descompasso entre as informações contidas nos documentos de planejamento e gestão territorial
em relação à tomada de decisão para intervenções concretas sempre foi um problema para o gestor. Além de
reduzir os benefícios dos investimentos públicos, muitos planos e projetos de intervenção no município não se
conectam entre si, com sobreposição de informações que comprometem sua eficácia.

Temos uma série de instrumentos de planejamento e gestão territorial tais como:

Plano Diretor Participativo


Plano de Mobilidade Urbana e Plano de Habitação
Agenda 21
O Zoneamento Ecológico Econômico
Plano de Gestão Integrada da Orla
Plano de Saneamento Básico e Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
Plano Municipal de Redução de Riscos
Plano de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica

Esses devem estar em sinergia para reduzir conflitos, aperfeiçoar e melhorar a implementação das
políticas socioambientais nos municípios brasileiros. Percebemos que existe uma necessidade de se ampliar a
capacidade municipal de promover uma articulação para dar maior eficiência na ação governamental.
Vamos mostrar alguns conteúdos dos planos já produzidos os quais incluem estratégias de mitigação
e adaptação à mudança do clima. Que tal assistirmos a um vídeo?

Assista ao vídeo Panorama Ipea - Zoneamento Ecológico Econômico:

https://www.youtube.com/watch?v=uAT90WJ-tjo

O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE)


Também chamado Zoneamento Ambiental, tem como objetivo viabilizar o desenvolvimento
sustentável a partir da compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com a conservação ambiental.
Este mecanismo de gestão ambiental consiste na delimitação de zonas ambientais (grandes regiões, estados ou
microrregiões) com atribuição de usos e atividades compatíveis segundo as características (potencialidades e
restrições) de cada uma delas.
Considerando que cada zona terá características ambientais, sociais, econômicas e culturais distintas,
vulnerabilidades e potencialidades próprias, o ZEE procura estabelecer alternativas de uso e gestão que
oportunizam as vantagens competitivas do território.

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Neste contexto, são informadas todas as ações de preservação e desenvolvimento de âmbito nacional
e regional, tais como: os Planos de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas,
existentes na Amazônia Legal e no Cerrado; as Políticas de Desenvolvimento Regional (PNDR) e de Defesa (PND);
o Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC); o Programa Territórios da Cidadania; e os Planos de
Desenvolvimento Regionais.

Plano de Gestão Integrada da Orla

A orla marítima constitui a faixa de contato da terra firme com um corpo de água e pode ser formada
por sedimentos não consolidados (praias e feições associadas) ou rochas e sedimentos consolidados,
geralmente na forma de escarpas ou falésias de variados graus de inclinação. O estabelecimento de faixas de
proteção ou de restrição de usos desses espaços vem sendo adotado para manter as características paisagísticas
e para prevenir perdas materiais em decorrência da erosão costeira.

Assista ao vídeo: Projeto Orla – MMA:

https://www.youtube.com/watch?v=uAT90WJ-tjo

As ações do Projeto Orla buscam o ordenamento dos espaços litorâneos sob domínio da União,
aproximando as políticas ambiental e patrimonial, com ampla articulação entre as três esferas de governo e a
sociedade que vai auxiliar o gestor local na urbanização costeira planejada e adaptada à mudança do clima.
Sendo uma intervenção municipal, o projeto Orla está integrado com o Plano Diretor, a Regulação do
Uso e Ocupação do Solo; o Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro e o Plano Municipal de Gerenciamento
Costeiro.

Os cuidados com os recifes


Os recifes de coral se distribuem por cerca de 3.000 km ao longo da costa nordestina, desde o Maranhão
até o sul da Bahia, e são considerados um dos mais antigos e ricos ecossistemas da Terra. Sua importância
ecológica, social e econômica é indiscutível. Os ambientes recifais são considerados, juntamente com as florestas
tropicais, uma das mais diversas comunidades naturais do planeta.
Uma pequena parte dos recifes brasileiros está protegida por meio de Unidades de Conservação, que
são áreas protegidas por lei, criadas com o objetivo de conservar a natureza. Em 2001, o Ministério do Meio
Ambiente fez uma campanha para esclarecer aos turistas e aos moradores das comunidades litorâneas a
importância de se preservar os recifes de coral ao realizar qualquer atividade nessas áreas.

Sabemos que muitas atividades humanas contribuem para esta degradação como: a coleta de corais, a
sobrepesca e a pesca predatória, o desenvolvimento e a ocupação costeira, a deposição de lixo e resíduos

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tóxicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o turismo desordenado e até mesmo o mau uso do solo como
desmatamento, queimadas e incêndios florestais ao longo das bacias hidrográficas (MMA).

No tópico anterior, vimos alguns instrumentos de planejamento ambiental e territorial tais como o
Zoneamento Ecológico-Econômico que trabalha com várias escalas de territorialidade - regional, estadual e
municipal – e o Projeto Orla que é implementado somente pelos municípios costeiros.

No próximo tópico, vamos falar das cidades resilientes e das conexões com os Planos Diretores e outras
políticas para mitigar e adaptar as cidades à mudança do clima

As cidades resilientes estão preparadas para lidar com a mudança do clima?

“Nas cidades a vida é mais pequena

Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,

Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que nossos olhos nos podem dar

E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver”.

(Alberto Caeiro)

Em um cenário em que mais de 80% da população brasileira vive no ambiente urbano, as cidades
assumem papel de protagonistas na implementação de ações sustentáveis e no enfrentamento das mudanças
climáticas
Quando uma cidade é bem planejada, os desastres ambientais ou eventos climáticos extremos são
minimizados, pois há um esforço do poder público em impedir ou adaptar as ocupações irregulares construídas
em planícies de inundação ou em encostas íngremes.
O gestor municipal tem a incumbência de antecipar e mitigar os impactos dos desastres, incorporando
tecnologias de monitoramento, alerta e alarme para a proteção da infraestrutura, dos bens comunitários e
individuais – incluindo suas residências e bens materiais –, do patrimônio cultural e ambiental e do capital
econômico.

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Vamos ver este exemplo na Colômbia? Assista ao vídeo: Cidades e soluções:

http://g1.globo.com/globo-news/cidades-e-solucoes/videos/t/cidades-e-
solucoes/v/cidades-e-solucoes-conheca-exemplos-de-planejamento-urbano-na-
colombia/4704743/

O planejamento urbano é um processo que visa melhorar a qualidade de vida das cidades,
independente de seu tamanho. O instrumento existente que organiza a cidade é o Plano Diretor. Trata-se de
um processo que analisa questões como: localidade, investimento, crescimento demográfico e industrial.

O Plano Diretor tem como principal finalidade o estabelecimento de princípios, diretrizes e normas
para orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada na construção dos espaços urbano e rural na
oferta dos serviços públicos essenciais. Umas das estratégias do Plano diretor é o zoneamento – onde é possível
separar uma cidade por zonas específicas, de acordo com a aptidão do terreno e atividades existentes em cada
uma delas. O conjunto dos instrumentos de planejamento que vimos aqui são fundamentais para tornar uma
cidade resiliente.

Cidades resilientes
A Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UN/ISDR, 2004) define
resiliência como “[...] a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade, exposto a riscos potenciais, de se
adaptar, resistindo ou transformando-se, a fim de atingir e manter um nível aceitável de funcionamento e
segurança estrutural”.
As áreas urbanas representam um sistema denso e complexo de serviços interconexos. Como tal,
enfrentam um crescente número de aspectos que conduzem ao risco de desastre, tais como:
O crescimento das populações urbanas e o aumento de sua densidade, ampliando as
ocupações de planícies costeiras, ao longo de encostas instáveis e de áreas de risco;
Ausência de fiscalização, recursos humanos e capacidades no governo local;
A governança local fragilizada e a participação insuficiente da sociedade no planejamento
e gestão urbana;
A gestão dos recursos hídricos, dos sistemas de drenagem e de resíduos sólidos
inadequada causando deficiências sanitárias, inundações e deslizamentos;
O declínio dos ecossistemas devido às atividades humanas, que comprometem a
capacidade de oferecer serviços essenciais, como, por exemplo, a proteção e regulação contra
inundações;
Os serviços de emergência descoordenados, que afetam a capacidade de rápida resposta
e preparação para enfrentamento de eventos climáticos extremos.

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A deterioração da infraestrutura e padrões de construção inseguros, que podem levar ao
colapso das estruturas;
Os efeitos adversos das mudanças climáticas, com um impacto sobre a frequência, a
intensidade e a localização das inundações e outros desastres relacionados ao clima;

Sua cidade é resiliente?


O gestor precisa pensar em estratégias e políticas públicas que considerem cada aspecto mencionado
anteriormente, como parte de uma visão global para tornar cidades mais resilientes e habitáveis.
Podemos começar com algumas medidas para mitigar as emissões de GEE, por exemplo:

Reduzir a emissão de gases poluentes pelas indústrias por meio de legislação municipal
especifica acompanhado pela fiscalização da Secretaria Municipal de Meio Ambiente;
Redução da queima de combustíveis fósseis por meio do transporte – que pode ser feita
pela ampliação da rede de transporte público ou sistema de rodízio de carros;
Redução do desmatamento nas áreas rurais ou urbanas e ampliação de unidades de
conservação municipal ou estadual;
Apoiar e incentivar os centros de pesquisas, universidades e indústrias no
desenvolvimento de novas tecnologias de baixo carbono e matrizes energéticas de origem vegetal;
Ter uma política de coleta seletiva e reciclagem de lixo;
Utilizar o gás metano nos aterros sanitários para gerar energia domiciliar.

No tópico anterior vimos algumas características de cidades resilientes elaboradas pela ONU. Vimos
também que existem muitos instrumentos e estratégias para minimizar o impacto da mudança do clima nas
cidades tornando-as resilientes aos efeitos de eventos climáticos extremos.

A seguir, vamos falar sobre as populações consideradas pelo Plano Nacional de Adaptação à Mudança
do Clima (PNA), como extremamente vulneráveis à mudança do clima.

E as áreas rurais onde estão as populações tradicionais?

“Quem vive da floresta


Dos rios e dos mares
De todos os lugares
Onde o sol faz uma fresta
Quem a sua força empresta
Nos quilombos nas aldeias
E quem na terra semeia
Venha aqui fazer a festa.”

(Letra e música Gilvan Santos)


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De acordo com o último relatório do IPCC (AR5, 2014), as populações mais pobres - notadamente as
de países tropicais - serão as mais afetadas pela mudança do clima. Essa condição traduz-se na carência de
condições socioeconômicas estáveis face às intempéries climáticas, o que pode resultar na perda de vidas,
doenças, aumento da fome, perdas materiais e de moradias, eliminação de meios de produção e de fontes de
renda.
O PNA identificou grupos sociais de maior vulnerabilidade à mudança do clima no contexto brasileiro,
visando reduzir impactos negativos e promover ações e estratégias que estejam alinhadas com os objetivos do
desenvolvimento regional e sustentável e da adaptação à mudança do clima – chamados de Grupos
Populacionais Tradicionais e Específicos (GPTEs).
Neste sentido, apresentou duas abordagens e uma ferramenta para promoção da adaptação desses
povos: abordagem territorial do município; uma abordagem por biomas com utilização da AbE - Adaptação
baseada em Ecossistemas.
A primeira abordagem trata de um projeto do Governo Federal, coordenado pelo MMA em parceria
com a FIOCRUZ que compõe um índice de vulnerabilidade municipal dividido em subíndices de exposição,
sensibilidade e capacidade de adaptação. Veja o quadro abaixo:

Para elaborar a segunda estratégia, foi utilizada a Adaptação Baseada em Ecossistemas (AbE) por
biomas. Segundo o PNA, os GPTE estão concentrados principalmente no Bioma Amazônico (60,3%) e no
Bioma Caatinga (19,9%). Na Amazônia, está a maior parte dos integrantes de grupos relacionados ao meio
ambiente – extrativistas (68,7%), ribeirinhas (79,9%) e povos indígenas (42,1%).

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É sempre bom lembrar...
A AbE tem como premissa possibilitar às populações incrementar sua capacidade adaptativa, a partir
do uso dos serviços ecossistêmicos e da biodiversidade como parte de uma estratégia de adaptação mais ampla.
Esta estratégia busca auxiliar as pessoas e as comunidades a se adaptarem aos efeitos negativos da mudança
do clima em nível local, nacional, regional e global. Esta ferramenta aplica lentes climáticas no uso da
biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos e envolve processos participativos de múltiplos atores.

O que são serviços ecossistêmicos?

https://www.youtube.com/watch?v=xqAKdKUCCa0

Estratégias propostas pelo PNA


Devido à grande ausência de dados para medir a vulnerabilidade das populações mais sensíveis dentro
dos biomas, faz-se necessário:
Construir estratégias de cooperação entre os estados e os municípios;
Construir metodologias de identificação e mensuração das vulnerabilidades sociais considerando
a diversidade de grupos (não apenas dos GPTEs) e territórios nos diferentes biomas;
Fomentar ações multissetoriais e socioeconômicas de governança visando à promoção e
mudança da forma de desenvolvimento das políticas governamentais em termos de infraestrutura básica de
saúde e de prevenção contra a mudança do clima e os eventos extremos;
Fomentar a inclusão social dos povos mais vulneráveis dando ênfase na capacitação para gerar
autonomia em populações altamente dependentes de subsídios governamentais;
Identificar hotspots de pobreza no território e onde estes se cruzam com as áreas de maior
vulnerabilidade físico-ambiental e climática;
Fomentar iniciativas de ordenamento territorial, garantindo o acesso ao território e o
desenvolvimento de ações de inclusão produtiva aliadas ao manejo sustentável dos recursos do território e de
recuperação de áreas degradadas, quando couber.

Você sabia que, entre as diversas discussões paralelas ao Acordo de Paris, foi destacada a Adaptação
baseada em Ecossistemas (AbE)? Veja a seguir.

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Entre as diversas discussões paralelas ao Acordo de Paris, foi destacada a Adaptação
baseada em Ecossistemas (AbE), que leva em consideração o equilíbrio dos ambientes
naturais como ferramenta para minimizar os efeitos das alterações do clima. Um dos pontos
que deve ser considerado nesta abordagem é a ideia de que adaptação não é apenas um
tema ambiental, mas relacionado à sustentabilidade das comunidades vulneráveis.

Muito bem! Chegamos ao final da Aula 02 e aqui vimos quais os instrumentos que podem auxiliar o
gestor e a sociedade. Abordamos também as características de alguns planos em realidades distintas entre as
cidades.

Já na Aula 03, que tem como título Vamos conhecer mais iniciativas para mitigar e se adaptar aos
efeitos da mudança do clima?, conheceremos alguns projetos que servirão de inspiração para você
implementar no seu município.

Até a próxima a aula!

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Aula 03 - Vamos conhecer mais iniciativas para mitigar e adaptar-
se aos efeitos da mudança do clima?

Olá, seja bem-vindo(a) à terceira aula de nosso Módulo 04, a última aula do curso!
Na aula passada, vimos algumas estratégias contra a mudança do clima propostas pelo PNA, tanto em
áreas urbanas como nas áreas rurais, moradias das populações tradicionais. Vimos também que existem vários
instrumentos de planejamento e estratégias de diálogos que podem auxiliar o gestor a tornar sua cidade mais
resiliente aos efeitos dos eventos climáticos extremos.

Nesta última aula do nosso curso, vamos mostrar alguns projetos que estão sendo implementados para
você se inspirar e implementar em seu município.

Preparado(a)? Então, bons estudos!

Agricultura familiar e sistemas agroflorestais

“No rancho fundo

Bem pra lá do fim do mundo

Onde a dor e a saudade

Contam coisas da cidade...”

(Ary Barroso)

Vamos iniciar falando sobre uma proposta fundamental para a mitigação e adaptação dos agricultores
familiares: a agroecologia!

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Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as mudanças do clima terão fortes
efeitos negativos para a agricultura familiar das regiões Norte e Nordeste do país nas próximas
décadas. De acordo com o levantamento, os efeitos das mudanças do clima são uma ameaça não
somente à segurança alimentar dessas comunidades rurais — que já registram baixos Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) — como à produção de alimentos no país, uma vez que
a agricultura familiar responde pela maior parte do alimento consumido domesticamente no
Brasil.

Para saber mais, acesse : https://nacoesunidas.org/mudancas-climaticas-ameacam-agricultura-


familiar-nas-regioes-norte-e-nordeste-diz-centro-da-onu/

Apesar de reconhecer os impactos da mudança do clima no conjunto do setor agrícola, são os


agricultores familiares os agentes mais vulneráveis, que precisarão de mais suporte para se adaptar.
A agricultura familiar é responsável pela grande parte da comida produzida nacionalmente. As perdas
causadas por eventos referentes ao clima no âmbito da agricultura familiar impactarão não somente na
segurança alimentar dos agricultores diretamente, mas também nos demais consumidores, dependentes
indiretamente dos produtos cultivados.
Como em outras regiões do mundo, a maioria da população pobre rural também vive em áreas que
são suscetíveis a risco. São as regiões Norte e Nordeste do Brasil, que concentram a grande maioria de
estabelecimentos da agricultura familiar.

Estratégias de adaptação
Por meio da utilização de práticas agroecológicas e outras práticas sustentáveis, os pequenos
agricultores e produtores familiares de pequeno porte podem compensar os efeitos das atuais crises econômica
e ambiental - relacionadas aos efeitos da mudança do clima. Essas abordagens envolvem a manutenção e o
aperfeiçoamento da biodiversidade e representam uma estratégia viável de longo prazo para aprimorar a
resiliência do ecossistema agrícola aos efeitos da mudança do clima.

Alguns exemplos de práticas agroecológicas:


Sistemas de múltiplas culturas de cultivo;
Sistemas agroflorestais;
Jardinagem doméstica;
Coleta de plantas selvagens;
Uso da diversidade genética local;
Melhoria do solo, incluindo material orgânico;
Gerenciamento da água;
Cultivo de plantas resistentes à seca;
Produção de plantas de biomassa, entre outras.

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A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) foi
instituída pelo Decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012, firmando o
compromisso do Governo Federal em “[...] integrar, articular e adequar políticas,
programas e ações indutores da transição agroecológica, da produção orgânica e
de base agroecológica, como contribuição para o desenvolvimento sustentável e
a qualidade de vida da população, por meio do uso sustentável dos recursos
naturais e da oferta e consumo de alimentos saudáveis.” Em 2013, foi elaborado o
Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) 2013-2015,
também conhecido como Brasil Ecológico, como um dos instrumentos da Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Seu objetivo é articular e
implementar programas e ações indutoras da transição agroecológica, da
produção orgânica e de base agroecológica, como contribuição para o
desenvolvimento sustentável, possibilitando à população a melhoria de qualidade
de vida por meio da oferta e consumo de alimentos saudáveis e do uso
sustentável dos recursos naturais.

Assista ao vídeo Brasil Agroecológico - Plano Nacional de Agroecologia e


Produção Orgânica (Planapo):

https://www.youtube.com/watch?v=ICz3NGOl2Ec

Sistemas Agroflorestais

Assista ao vídeo Sistemas Agroflorestais e a Agricultura Natural:

https://www.youtube.com/watch?v=D4l0pRuS-OA

Assista ao vídeo Manejo agroecológico do solo:

https://www.youtube.com/watch?v=iSk90lpH7a4

Os sistemas agroflorestais (SAFs) são consórcios de culturas agrícolas com espécies arbóreas que
podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. A tecnologia ameniza limitações do
terreno, minimiza riscos de degradação inerentes à atividade agrícola e otimiza a produtividade a ser obtida. A
utilização de árvores é fundamental para a recuperação das funções ecológicas, uma vez que possibilita o
restabelecimento de boa parte das relações entre as plantas e os animais. Os componentes arbóreos são
inseridos como estratégia para o combate da erosão e o aporte de matéria orgânica, restaurando a fertilidade

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do solo. Saiba mais em : https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-
servico/112/sistemas-agroflorestais-safs

Uma novidade!
Você já ouviu falar da agricultura sintrópica?

Assista ao vídeo sobre o trabalho de Ernest Götsch:

http://vivagreen.com.br/organicos/fazenda-ja-produz-em-larga-escala-com-o-
metodo-da-agrofloresta-de-ernst-gotsch/

Assista uma aula prática do Ernest:

https://www.youtube.com/watch?v=W-UGjSz_rRU

Verdes nas cidades

“Quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por
eles...”

(Rubem Alves)

No tópico anterior, vimos que as práticas agroecológicas são estratégias poderosas que potencializam
os serviços ecossistêmicos para mitigar e adaptar os efeitos da mudança do clima, além de gerar renda aos
pequenos agricultores.
Agora, vamos ver quais iniciativas estão sendo realizadas nas cidades com este mesmo propósito. Você
percebeu que a dinâmica do nosso curso é sempre mudar de lugar para termos uma visão bem abrangente
sobre nosso tema?

As cidades estão crescendo muito rapidamente! O aumento indiscriminado da industrialização e


urbanização nos últimos anos tem afetado o número de construções urbanas e, consequentemente, provocado
degradações e impactos ambientais.
Da forma como existe, a cidade introduz modificações no clima. O clima urbano é um exemplo da
modificação do clima local pelo homem. Repensar tal questão hoje é refletir sobre a qualidade de vida na cidade,
permitindo o controle do conforto ambiental, do consumo energético e dos impactos ambientais. Uma das

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formas de amenizar as ilhas de calor ou o aumento do clima no centro da cidade é construir áreas verdes na
malha urbana.
A introdução do conceito de parque urbano foi uma das soluções encontradas pelos arquitetos e
urbanistas para mitigar os efeitos da mudança do clima. O parque urbano é uma área verde com função
ecológica, estética e de lazer, no entanto, com uma extensão maior que as praças e jardins públicos
Existem outras tipologias de áreas verdes urbanas e, no geral, são consideradas como o conjunto de
áreas intraurbanas que apresentam cobertura vegetal, arbórea (nativa e introduzida), arbustiva ou rasteira
(gramíneas) e que contribuem de modo significativo para a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental nas
cidades.
Quais são as áreas verdes das cidades?
As áreas verdes nas cidades estão presentes numa enorme variedade de situações tais como: as Áreas
de Preservação Permanente (APP) nos corpos d’água e encostas, os canteiros centrais; as praças, parques
urbanos, parque balneário e esportivo; jardim botânico; jardim zoológico; alguns tipos de cemitérios; faixas de
ligação entre áreas verdes florestas e Unidades de Conservação (UC) urbanas; jardins institucionais e os terrenos
públicos não edificados.

As áreas verdes urbanas têm um papel muito importante!


Uma das funções das áreas verdes é regular o clima. O sombreamento por árvores, por exemplo, pode
melhorar o microclima das cidades tropicais como as existentes no Brasil. Muitos arquitetos e especialistas
afirmam que a vegetação nas cidades é capaz de melhorar o conforto térmico, psicológico e fisiológico dos
indivíduos.
A inserção da vegetação no meio urbano é uma forma de adaptação às mudanças do clima decorrentes
das alterações do solo urbano. Quando inserida regularmente na estrutura das cidades, é uma boa pratica não
somente pelo seu potencial de arrefecimento nas áreas de pedestre, mas também por controlar a radiação de
onda longa e curta no solo (ABREU, 2012).
A arborização traz inúmeros benefícios para a cidade. Além de dar estabilidade ao solo onde está
inserida, as raízes das árvores propiciam a maior fixação da terra, diminuindo os riscos de deslizamentos e
erosão. Ela filtra as impurezas das águas, impedindo a condução direta de poluentes ao lençol freático e ainda
reduz a poluição.

Que tal pensar em um projeto de arborização urbana como uma proposta de mitigação e
adaptação à mudança do clima?
Em muitas cidades brasileiras, os gestores não fazem um planejamento de arborização de forma
adequada, pois muitos projetos baseiam-se em métodos puramente empíricos, desprovidos de um
conhecimento real do assunto, o que acaba acarretando um grande número de problemas nas redes de
distribuição de energia elétrica, telefônica, calçadas, sistemas de abastecimento de água e esgoto.

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Para fazer um projeto de arborização de ruas e praças, é necessário fazer o uso de critérios técnico-
científicos para o estabelecimento da arborização nos estágios de curto, médio e longo prazos. Vamos enumerar
alguns aspectos que precisam ser considerados na elaboração de projetos de arborização:

Escolha adequada da espécie em função do local a ser plantado;


Respeitar os valores culturais, ambientais e de memória da cidade;
Privilegiar espécies nativas regionais;
Articular os espaços públicos às áreas particulares, valorando a função social e ambiental
da propriedade particular;
Utilizar alternativas técnicas para distribuição da energia elétrica e iluminação pública,
visando diminuir a quantidade e intensidade de poda de árvores;
Planejar a manutenção da arborização.

Precisamos nos atentar para o fato de que os planos diretores feitos nas últimas
três décadas apontam os baixos índices de área verde por habitante, muito aquém dos
supostamente adequados de 12 m² por habitante. Quando for feita a revisão do Plano
Diretor na sua cidade, verifique se a vegetação está inserida de forma adequada na
malha urbana. Vimos a quantidade de benefícios que isso traz.

Assista ao vídeo Entrevista: Queda de árvores:

https://www.youtube.com/watch?v=_VuWOZgldCo

Agora, vamos ver qual a colaboração da administração pública para mitigar as


emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

“Sustentabilidade é equação entre o que você poupa e o que você desperdiça.”

(Luís Nykyson Lisboa Pinheiro)

No tópico passado, falamos de algumas ações que podem mitigar os efeitos da mudança do clima nas
cidades, como por exemplo a criação de parques, hortas e APAs – ou seja, podemos colocar, num cenário cinza,
alguns tons de verde e sentir o benefício que isso traz para nós e para o planeta.

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Agora, vamos visitar a sede do Poder Público e ver se o gestor também está fazendo sua parte para
diminuir a emissão de GEE.

O Ministério do Meio Ambiente tem um programa que incentiva a agenda ambiental na administração
pública que se chama A3P.
Sabemos que as administrações públicas (federal, estaduais e municipais) são os grandes demandantes
de bens e serviços e também produtoras e geradores de resíduos. Em todo o mundo, o poder de compra e
contratação do Poder Público tem um papel de destaque na orientação dos agentes econômicos quanto aos
padrões do sistema produtivo e do consumo de produtos e serviços. No Brasil, estima-se que as compras
governamentais movimentem cerca de 10% a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Com isso em mente, o Ministério do Meio Ambiente implementou em 1999 um projeto que buscava a
revisão dos padrões de produção e consumo e a adoção de novos referenciais de sustentabilidade ambiental
nas instituições da administração pública. Mas foi somente em 2007 que a A3P ganhou status de programa de
governo.
Assim, a A3P passou a incorporar os princípios da responsabilidade socioambiental nas atividades da
Administração Pública, por meio do estímulo a determinadas ações que vão, desde uma mudança nos
investimentos, compras e contratações de serviços pelo governo, passando pela sensibilização e capacitação
dos servidores, pela gestão adequada dos resíduos naturais utilizados e resíduos gerados, até a promoção da
melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho.

Em 2012, os Ministérios do Planejamento, Meio Ambiente, Minas e Energia


e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome conjugaram quatro programas
que eram trabalhados de forma separada:
o Programa de Eficiência no Gasto (PEG);
o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel);
o próprio A3P e a Coleta Seletiva Solidária;
e criaram o Projeto Esplanada Sustentável (PES).
Os primeiros resultados do PES indicam uma queda significativa nos
gastos da administração com papel, energia elétrica e água, promovendo
um impacto positivo no orçamento dos Ministérios e no meio ambiente.
Além disso, o mercado passou a ser dirigido para aumentar a número de
mercadorias com materiais reciclados e com maior sustentabilidade no
processo produtivo. Há, por exemplo, uma nova variedade de papéis
produzidos por materiais reciclados e não clorados, que diminuem a
dependência da celulose do eucalipto, como o papel feito com bagaço de
cana-de-açúcar.

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E os municípios?
O município é o ente administrativo da federação onde os problemas ambientais ocorrem diretamente
num território e na sociedade local, sendo a administração municipal responsável em grande parte pela tomada
de decisão e execução da gestão ambiental.
Segundo pesquisa IBGE/MUNIC (2013), do total de 5.570 municípios investigados, 2.286 afirmaram ter
alguma iniciativa em relação ao consumo sustentável e 584 municípios apontaram a A3P como uma dessas
iniciativas.
Em 2015, o MMA realizou uma pesquisa em profundidade nos 584 municípios que afirmaram
implementar o programa A3P. Os resultados apontaram que, do universo pesquisado, apenas 30 municípios
utilizavam critérios ambientais para licitações e compras sustentáveis.
Percebemos que o resultado ainda é incipiente quando se realiza uma pesquisa em profundidade para
conhecer o que realmente os municípios estão fazendo na gestão ambiental da administração pública.
Municípios pequenos, que são a grande maioria no Brasil, têm maior dificuldade de implementar uma gestão
administrativa e ambiental.

E a sua casa?

“Lembro que o meu corpo descansa na minha cama que está no meu quarto, que
fica na minha casa, que existe na minha rua, que é uma das ruas de meu bairro,
que está na minha cidade e no meu município, que faz parte de meu estado que é
um dentre outros de meu país, que fica em meu continente e que comparte com
outros o nosso mundo, o de um planeta do Sistema Solar a que damos o nome
de Terra.”
(Luís Nykyson Lisboa Pinheiro)

No tópico anterior, falamos um pouco da responsabilidade do poder público na administração da “sua


casa”, de como racionalizar o consumo e os gastos das instituições públicas de forma sustentável.
Agora, vamos falar do lugar onde você mora: a sua casa.
As mudanças do clima e a escassez de recursos naturais exigem novas formas de organização
empresarial e política. Isso inclui a revisão da cadeia produtiva da construção civil – vamos falar da construção
sustentável.
A construção sustentável é uma forma de se construir casas e edifícios, harmonizando-os com o meio
ambiente. Ela procura, durante toda sua produção e pós-construção, amenizar os impactos à natureza,
reduzindo o máximo possível os resíduos e utilizando com eficiência os materiais e bens naturais, como água e
energia.

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Para tanto, recomenda-se:
Mudança dos conceitos da arquitetura convencional na direção de projetos flexíveis com
possibilidade de readequação para futuras mudanças de uso e atendimento de novas necessidades,
reduzindo as demolições;
Busca de soluções que potencializem o uso racional de energia ou de energias renováveis;
Gestão ecológica da água;
Redução do uso de materiais com alto impacto ambiental;
Redução dos resíduos da construção com modulação de componentes para diminuir
perdas e especificações que permitam a reutilização de materiais.

Algumas dicas para você ter uma casa sustentável:


A elaboração de um projeto de arquitetura na busca por uma maior sustentabilidade deve
considerar todo o ciclo de vida da edificação, incluindo seu uso, manutenção e sua reciclagem ou demolição.
O caminho para a sustentabilidade não é único e muito menos possui receitas, mas sim depende do
conhecimento e da criatividade de cada parte envolvida.
Quando você for construir uma casa, você precisa levar em consideração:
A adequação do projeto ao clima do local para minimizar o consumo de energia e otimizar as
condições de ventilação;
A iluminação e aquecimento naturais com atenção para a orientação solar adequada;
Os materiais disponíveis no local, pouco processados, não tóxicos, potencialmente recicláveis,
culturalmente aceitos, propícios para a autoconstrução e para a construção em regime de mutirões, com
conteúdo reciclado;
A utilização de coletor solar térmico para aquecimento de água, de energia eólica para
bombeamento de água e de energia solar fotovoltaica, com possibilidade de se injetar o excedente na rede
pública;
A prevenção da coleta e utilização de águas pluviais com dispositivos economizadores de água e
para reuso de águas;
A prevenção do tratamento adequado de esgoto no local e, quando possível, o uso de banheiro
seco;
A valorização dos elementos naturais no tratamento paisagístico na área externa, privilegiando o
uso de espécies nativas;
A destinação de espaços para produção de alimentos e compostagem de resíduos orgânicos.

Atenção!
Evite o uso de materiais químicos prejudiciais à saúde humana ou ao meio ambiente na sua construção,
como por exemplo o amianto. O amianto é uma fibra mineral que foi muito utilizada ao longo do século XX,
que solta uma “poeira assassina”. As constantes doenças causadas em trabalhadores da indústria de amianto,
trabalhadores da construção civil, mineiros e mecânicos que lidam com freios foram estudadas e comprovou-

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se a periculosidade do material. O problema dá-se na inalação do amianto: as fibras do pó estimulam mutações
celulares dentro do organismo que originam tumores que podem causar câncer de pulmão. Para saber mais:
http://www.ecycle.com.br/component/content/article/35/471-amianto-os-problemas-do-inimigo-intimo.html

Habitação popular sustentável


Os gestores podem induzir e fomentar a construção de habitações sustentáveis de interesse social por
meio da legislação urbanística e código de edificações, incentivos tributários e convênios com as concessionárias
dos serviços públicos de água, esgotos e energia.

Para projetar um loteamento, por exemplo, recomenda-se:


adaptação à topografia local, com redução da movimentação de terra;
preservação de espécies nativas;
previsão de ruas e caminhos que privilegiem o pedestre e o ciclista e contemplem a
acessibilidade universal;
previsão de espaços de uso comum para integração da comunidade e, preferencialmente,
de usos do solo diversificados, minimizando os deslocamentos.

A arquitetura bioclimática permite integrar várias áreas do saber, criando


modelos e projetos únicos para cada situação, podendo considerar não só os
aspectos climáticos como também aspectos ambientais, culturais e
socioeconômicos. Com as suas raízes nas construções dos nossos antepassados, a
arquitetura bioclimática tornou-se um conceito de construções que utilizavam
técnicas ancestrais para iluminação e conforto térmico adaptado ao clima da
região. Além disso, eram utilizados materiais locais, o que permitia uma
diversificação e uma exploração limitada de cada tipo de material. Desse conceito,
utilizando esses princípios, nasce a ideia de construção sustentável.

E você?

“O que nós somos é o que fazemos, e o que fazemos é o que o ambiente


nos faz fazer.”
(John Watson)

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Este é o último tópico do nosso curso. No início, recorremos para alguns conhecimentos que tivemos
nas aulas de ciências do ensino médio, onde buscamos entender um pouco sobre o clima e as evidências
científicas sobre o aquecimento do planeta.

Depois, viajamos pelo mundo afora para acompanhar os eventos e as negociações mundiais sobre
mitigação e adaptação dos efeitos da mudança do clima.

Voltamos ao Brasil e fomos conhecer os biomas, os serviços ecossistêmicos, as ameaças, as


oportunidades e as políticas públicas que surgiram para enfrentar essa nova realidade.

Voltamos para nosso município e tivemos uma roda de conversa sobre Educação Ambiental,
participação, engajamento e outras estratégias para colocar na nossa pauta de cidadão. Demos uma passada
nas áreas rurais para falar dos sistemas agroflorestais e, na volta para nossa cidade, verificamos que existem
vários instrumentos de planejamento que podem tornar nossa vida melhor. Fomos até as prefeituras e depois
fomos para nossas casas.
Percebeu, que aos poucos, diminuímos a escala da nossa conversa até chegar em você? Neste último
tópico, vamos falar com você!

Nós fazemos parte de um sistema construído historicamente onde os valores e atitudes adotados pelas
últimas gerações provocaram impactos ambientais – alguns irreversíveis – como a mudança do clima. Será que
conseguiremos achar uma saída?
Os impactos ambientais estão relacionados entre si e são baseados em valores que geram uma
determinada concepção de mundo, de vida, de felicidade, de sociedade. A sociedade ocidental valoriza muito a
realização pessoal, o conforto, o poder e o status e para isso, é preciso possuir e acumular bens, ocupar uma
posição de mando, acima dos outros. Como os bens são finitos e as posições sociais são relativas, a sociedade
se estrutura de forma hierarquizada.
No entanto, já percebemos que a mudança de valores, comportamento e atitudes estão
horizontalizando essa hierarquia porque temos que nos adaptar a uma nova realidade. Uma pesquisa qualitativa
realizada pelo Instituto Akatu em 2016 buscou responder à seguinte pergunta:
Quais são os fatores que aceleram e os que dificultam a mudança de comportamento das pessoas
para que elas adotem estilos sustentáveis de vida?

O estudo, feito com pessoas de diferentes perfis demográficos, desvendou as barreiras para a mudança
de comportamento do consumidor na direção da adoção de práticas sustentáveis:
Medo da mudança e sair da zona de conforto;
Obstáculos físicos encontrados em função de idade, saúde ou condição física, tornam mais
difícil a adoção de práticas sustentáveis;

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Obstáculos para a adaptação do espaço em ambientes da casa e, em alguns casos, a falta
de espaço pode tornar mais difícil a adoção de práticas sustentáveis;
Preço mais alto. A crença de que o que é mais sustentável é mais caro – o que não é
necessariamente verdade – atrapalha a mudança;
Percepção de impotência, isolamento e desconexão diante do tamanho dos problemas
ambientais a serem resolvidos – com a sensação de que a atitude individual pode não impactar o todo.

A pesquisa também identificou a existência de gatilhos que induzem a mudança de comportamento e


de valores que facilitam a opção por caminhos mais sustentáveis. Vamos indicar alguns exemplos (AKATU,2016):

Simplicidade é a máxima sofisticação. Práticas sustentáveis podem ser simples de adotar


e tornar a vida mais fácil, podendo ser até mais divertida;
Toda viagem começa com o primeiro passo. Adotar apenas algumas práticas sustentáveis,
mesmo que com pequenos resultados de cada uma, é melhor do que tentar fazer todas e desistir;
Oportunidade de contribuição. Muitas pessoas querem contribuir para um mundo melhor,
mas não sabem como. O engajamento individual e a percepção de que a mudança coletiva tem início
na contribuição de cada um são oportunidades observadas na adoção de práticas sustentáveis;
Experiência e vivência. A prática é mais inspiradora do que o discurso. As pessoas se
motivam ao participar diretamente da criação da mudança e da vivência de seus impactos;
Faço parte de algo maior. Entender que os praticantes são os protagonistas da mudança,
que são parte de algo maior e estão interconectados com o coletivo facilita a adoção de práticas
sustentáveis.

As mudanças não são feitas a partir de uma receita, pois você tem que estar convencido de que valem
a pena e vão torná-lo(a) uma pessoa mais feliz. Vimos durante o curso que a mudança do clima não é uma lenda
– é uma realidade, e quanto mais entendemos sobre este tema, maior será nossa mudança individual e maior a
possibilidade de acordos entre os países para minimizar impactos e promover o desenvolvimento sustentável.

Olhe só como algumas ações simples já podem fazer uma grande diferença:

01 - Repense e reavalie o seu consumo individual;


02 - Tenha o compromisso de consumir 10% a menos de energia do que consome, tanto na sua casa
como na sua empresa;
03 - Evite produtos com muitas embalagens e reutilize produtos e embalagens;
04 - Procure criar na sua instituição a campanha do “transporte solidário” - vá de bicicleta para o
trabalho;
05 - Comece separando o lixo entre o seco (reciclável) e o úmido (orgânico);

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06 - Compre comida fresca em vez de comida congelada, que contém muito sódio e outros
conservantes;
07 - Consuma mais produtos orgânicos, agroecológicos e da agricultura familiar. O solo do cultivo
orgânico captura e guarda mais gás carbônico do que o solo da agricultura convencional, que também recorre
aos defensivos agrícolas e fertilizantes que são poluentes;
08 - Evite comer alimentos com agrotóxicos e colabore com as organizações de agricultores familiares;
09 - Vote em partidos, candidatos e governantes com propostas e ações que viabilizem e aprofundem
a prática da construção de uma sociedade de baixo carbono;
10 - Conheça e valorize as práticas de responsabilidade social de empresas, pessoas, iniciativas ou
hábitos de redução de carbono (TAMAIO, 2013);
11 - Questione o modelo de produção e consumo;
12 – Organize-se para colaborar em causas sociais que enfrentem os empreendimentos destruidores
do meio ambiente;
13 - Busque participar de grupos, colegiados e movimentos ambientais;
14 - Mude seus hábitos alimentares e repense o consumo de carne e atividades agropecuárias que
promovam a destruição florestal;
15 - Proteja a biodiversidade, plante arvores e cuide para que elas possam crescer.

Este filme ilustra nossa conversa sobre mudança do clima na perspectiva


do novo Código Florestal. Clique aqui e assista A Lei da Água - Filme
Completo:
https://www.youtube.com/watch?v=jgq_SXU1qz

Concluindo...

Vimos que podemos fazer um monte de coisas, como cidadãos, educadores, empresários
e gestores!
Lembre-se de que a Mudança do Clima é um problema global. Sendo assim, a redução de
carbono terá o mesmo impacto, não importando onde as práticas sejam executadas.

Você percebeu que a mudança do clima não é causada somente por poluição de carro, indústria e dias
muitos quentes e secos... Esse fenômeno perpassa todas as atividades econômicas, afeta a saúde dos biomas –
principais provedores da regulação do clima - , está imbricado no nosso modelo econômico de produção e
consumo, tem ligação direta com oferta de água, alimentos e com o bem-estar da população.

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O equilíbrio do sistema climático na Terra, fenômeno complexo e “invisível”, é fundamental para nossa
sobrevivência. A meta de limitar o aquecimento em até 1,5°C com base nos níveis pré-industriais proposta pelo
Acordo de Paris, em 2016, é um imenso desafio e requer decisões estruturantes dos governos mundiais e
implementação de políticas robustas para esse fim.

Caro(a) cursista, chegamos aqui ao final deste curso!


Para fechá-lo com chave de ouro, que tal relembrarmos alguns pontos importantes estudados durante
nossa caminhada?

No Módulo 01, apresentamos as noções básicas sobre Mudança do Clima, suas causas e efeitos na
natureza e nas sociedades humanas.
Mostramos o senso de urgência e a necessidade de transformação imediata das pessoas e da sociedade,
de modo que os impactos resultantes da Mudança do Clima possam ser minimizados.

Em seguida, no Módulo 02, apresentamos os eventos e as negociações para o enfrentamento da


Mudança do Clima pelas Nações Unidas (ONU) e pelo Brasil.
Tratamos do regime jurídico internacional, um sistema de regras, pactuado entre governos, que
regulam as ações dos diversos atores sobre o assunto para enfrentar o aquecimento global.
Logo após, no Módulo 03, reconhecemos as características dos biomas brasileiros e as suas
vulnerabilidades socioambientais, bem como as políticas ambientais de mitigação e adaptação.
Apresentamos os impactos e medidas de adaptação à mudança do clima nos biomas brasileiros e nas
áreas urbanas.

Finalmente, no Módulo 04, falamos da educação ambiental para uma sociedade de baixo carbono, o
que nos levou pelos caminhos da cidadania, do engajamento, da justiça e aprendizagem social.
É isso aí! Colocamos em prática nosso aprendizado durante o curso nas ações cotidianas e mostramos
aos gestores alguns instrumentos de planejamento.

Esperamos que este curso tenha despertado sua curiosidade e vontade de ir mais fundo no tema. E,
assim, nos despedimos de você, agradecendo sua companhia e empenho ao longo deste trajeto.

Não se esqueça de realizar os exercícios do módulo e a Avaliação final. Pratique os conceitos


aprendidos!
Até mais!

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