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RESUMO: O presente artigo tem como objetivo fazer alguns apontamentos acerca do conceito de
transferência desenvolvido por C. G. Jung, bem como uma análise sobre o manejo e a importância da
transferência em sua proposta de trabalho psicoterapêutico. A seguir, tratar-se-á a respeito de como a
psicologia analítica trabalha com as questões relacionadas aos conteúdos inconscientes da psique,
articulando-os às problemáticas apresentadas na dinâmica clínica.
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Luiz Felipe Campos Monteiro é graduando do Curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa e realizou este
trabalho sob a orientação do Prof. Frederico Ricciardi.
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fundo, motivos, impulsos instintuais. O paciente, contudo, nada sabe a respeito desses
motivos elementares, ou não os conhece com intimidade suficiente. Ensinamo-lo a
compreender a maneira pela qual essas formações mentais altamente complicadas são
compostas; remetemos os sintomas aos impulsos instintuais que os motivaram;
assinalamos ao paciente esses motivos instintuais, que estão presentes em seus sintomas,
e dos quais, até então, não tinha consciência — como o químico que isola a substância
fundamental, o ‘elemento’ químico, do sal em que ele se combinara com outros elementos
e no qual era irreconhecível. Da mesma forma, no que diz respeito àquelas manifestações
mentais do paciente que não são consideradas patológicas, mostramos-lhe que apenas em
certa medida ele estava consciente da sua motivação — que outros impulsos instintuais,
dos quais permanecera em ignorância, haviam cooperado na causação dessas
manifestações.” (FREUD, 1918, p. 174.)
“O papel fundamental que a alquimia atribui na idéia do matrimônio místico não nos
surpreenderá se atentarmos para o seguinte: a expressão coniunctio usada
freqüentemente para designá-la significa, antes de mais nada, aquilo que hoje chamamos
de ligação química e aquilo que atrai os corpos a serem ligados entre si e hoje é
chamado de afinidade” [...] “ A idéia de coniunctio consegue, assim, esclarecer, por um
lado, o mistério profundo da ligação química e exprimir, por outro lado, enquanto
mitologema, o arquétipo que representa a união dos opostos, tornando-se uma imagem da
unio mystica” (JUNG, 1988, p. 160-161).
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JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 1988. v. XVI.
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“Não há a mesma consistência ou a mesma evolução nas opiniões de Jung sobre o valor
da transferência. Bem ao contrário, esta é a única área, em todos os seus escritos sobre a
transferência, em que ele continuamente se contradiz. Ele chega a se contradizer no
mesmo artigo. Isto talvez indique algum conflito emocional pessoal de Jung com relação
ao assunto da transferência.”
“Transferência ou não-transferência, isso não tem nenhuma relação com a cura... Se não
houver transferência, tanto melhor. Você obtém o material da mesma maneira. Não é a
transferência que possibilita ao paciente trazer à luz os elementos; você obtém dos
sonhos todo o material que poderia desejar. Os sonhos trazem à tona tudo o que é
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No que tange a tais afirmativas inflamatórias, Jacoby (1987, p. 10) expõe o contexto no qual Jung ministrava
suas conferências: “Ele desejava continuar um debate a respeito dos elementos do sonho e de sua expansão, mas
sua audiência era formada principalmente por médicos que desejavam ouvir suas opiniões sobre transferência”.
Ainda que Jacoby tente contextualizar a evidente irritação de Jung, tal fato vem a contribuir para a compreensão
do privilégio de análise dos conteúdos inconscientes em contraposição às questões de ordem transferencial na
psicologia junguiana.
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Para Jung, uma neurose é fruto de um desenvolvimento patológico unilateral da personalidade cujas origens
remontam à infância.
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JACOBY, M. O Encontro Analítico. São Paulo: Cultrix, 1987. p. 10.
9
JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 130. v. XVI.
10
Ibid, p. 130.
11
Ibid, p. 131.
12
Ibid, p. 130.
13
Ibid, p. 5.
14
Ibid, p. 68.
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Por que um autor da Psicologia iria escolher uma série de ilustrações de um livro de
alquimia do século XV para explanar o fenômeno da transferência na prática da
psicoterapia?
Uma possível resposta pode ser vislumbrada quando se compreende a importância
das idéias filosófico-mitológicas como referenciais para a organização e o
restabelecimento das forças instituais do paciente. Jung legitima tais conhecimentos como
ferramentas importantes da prática psicoterapêutica, uma vez que defende que os mitos, os
mitologemas e os sonhos são produções da psique, e, assim, expressões através de
imagens; situações que estão relacionadas à liberação de energias psíquicas necessárias ao
desenvolvimento da personalidade do paciente. Deste modo, a partir da compreensão de
que as neuroses são manifestações de uma dissociação psíquica muitas vezes relacionada
à repressão de impulsos instituais, e tendo-se que os instintos “não são impulsos cegos,
espontâneos e isolados, mas estão intimamente ligados a imagens de situações típicas, e
não há a menor possibilidade de desencadeá-los, se as condições dadas não
correspondem à imagem apriorística da situação (arquétipo)”15, as imagens e os temas
dos mitologemas – e aí se encontram as imagens do Rosarium Philosophorum –
constituem-se como símbolos intrinsecamente relacionados à libertação dos impulsos
instintivos. Tem-se aí sua importância terapêutica, vista na prática clínica através da
amplificação dos sonhos, por exemplo. Tais imagens têm eficácia terapêutica na medida
em que contribuem (tendo em vista o contexto psicossocial do paciente) com a integração
de conteúdos inconscientes pela consciência. Na conclusão do ensaio “Psicologia da
Transferência”, Jung ressalta:
15
Ibid, p. 88.
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Posto isso, pode-se entender quais as bases teóricas e práticas que sustentam o
privilégio dado por Jung no trabalho com os conteúdos inconscientes, sejam estes os
sonhos, devaneios, desenhos ou mitos. Tal posicionamento é sustentado pela Psicologia
Analítica até o presente momento; como afirma Jacoby (1987, p. 9): “há maior interesse
entre os junguianos no material do inconsciente (sonhos, desenhos, etc.) do que nas inter-
relações entre o analista e o analisando”. Dessa forma, podemos retornar às metáforas
mencionadas no início do artigo e refletir sobre como as imagens escolhidas por Freud e
Jung, de fato, são um reflexo de suas peculiaridades e problematizações acerca de seus
objetos de estudo. A singularidade de cada perspectiva possibilita, a quem se dedica a
estudá-las, um posicionamento que permite observar a importância e legitimidade dos
pontos de vista defendidos por cada autor, num movimento semelhante à percepção das
particularidades da Química e da Alquimia.
Referências Bibliográficas