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MONTEIRO, Luiz Felipe C.

Apontamentos sobre o conceito de transferência na Psicoterapia


Junguiana

RESUMO: O presente artigo tem como objetivo fazer alguns apontamentos acerca do conceito de
transferência desenvolvido por C. G. Jung, bem como uma análise sobre o manejo e a importância da
transferência em sua proposta de trabalho psicoterapêutico. A seguir, tratar-se-á a respeito de como a
psicologia analítica trabalha com as questões relacionadas aos conteúdos inconscientes da psique,
articulando-os às problemáticas apresentadas na dinâmica clínica.

PALAVRAS-CHAVE: Psicoterapia Junguiana; Transferência; Compensação; Conteúdos Inconscientes.

As metáforas da Química e da Alquimia utilizadas por Sigmund Freud e Carl


Gustav Jung sobre o processo analítico e psicoterapêutico convida-nos a refletir acerca
dos referenciais teóricos que fundamentam a prática clínica. A partir dessas duas
metáforas, a proposta do presente artigo é descrever alguns referenciais da psicoterapia
com base em Jung, dando especial ênfase ao conceito de transferência, suas manifestações
e repercussões, assim como na importância dada ao trabalho com os conteúdos
inconscientes da psique.
É interessante notar que ambas as teorias utilizam a palavra análise para
constituírem suas respectivas denominações – Psicanálise e Psicologia Analítica. Com
relação a isto, Freud se faz uma pergunta interessante: “Por que ‘análise’ – que significa
dividir ou separar, e sugere uma analogia com o trabalho, levado a efeito pelos químicos,
com substâncias que encontram na natureza e trazem para seus laboratórios?” (FREUD,
1918, p. 173).
É fazendo uso dessa analogia que ele define a especificidade do método
psicanalítico. Vejamos em seu comentário:

“Os sintomas e as manifestações patológicas do paciente, como todas as suas atividades


mentais, são de natureza altamente complexa; os elementos desse composto são, no

1
Luiz Felipe Campos Monteiro é graduando do Curso de Psicologia da Faculdade Ruy Barbosa e realizou este
trabalho sob a orientação do Prof. Frederico Ricciardi.
2

fundo, motivos, impulsos instintuais. O paciente, contudo, nada sabe a respeito desses
motivos elementares, ou não os conhece com intimidade suficiente. Ensinamo-lo a
compreender a maneira pela qual essas formações mentais altamente complicadas são
compostas; remetemos os sintomas aos impulsos instintuais que os motivaram;
assinalamos ao paciente esses motivos instintuais, que estão presentes em seus sintomas,
e dos quais, até então, não tinha consciência — como o químico que isola a substância
fundamental, o ‘elemento’ químico, do sal em que ele se combinara com outros elementos
e no qual era irreconhecível. Da mesma forma, no que diz respeito àquelas manifestações
mentais do paciente que não são consideradas patológicas, mostramos-lhe que apenas em
certa medida ele estava consciente da sua motivação — que outros impulsos instintuais,
dos quais permanecera em ignorância, haviam cooperado na causação dessas
manifestações.” (FREUD, 1918, p. 174.)

O modelo da química como um saber alicerçado nos fundamentos da cientificidade


permite uma reflexão sobre quais os objetivos de Freud com tal analogia. Ainda que este
não seja o objetivo deste artigo, cabe aqui uma pequena provocação: Qual o caráter
simbólico de tal analogia acerca da posição da Psicanálise frente ao campo de saber
daquela época? Não estaria Freud galgando um estatuto científico para a sua técnica,
quando a põe em analogia com os processos químicos?
Em contrapartida, temos Jung, que utiliza a metáfora alquímica para discorrer
sobre as repercussões transferenciais da psicoterapia. Em seu ensaio “A Psicologia da
Transferência”2, Jung interpreta o fenômeno da transferência a partir de um grupo de
ilustrações do livro alquímico Rosarium Philosophorum. Nessas imagens que se
apresentam de forma seqüenciada, o tema dominante é o matrimônio místico ou o termo
chamado Coniunctio.

“O papel fundamental que a alquimia atribui na idéia do matrimônio místico não nos
surpreenderá se atentarmos para o seguinte: a expressão coniunctio usada
freqüentemente para designá-la significa, antes de mais nada, aquilo que hoje chamamos
de ligação química e aquilo que atrai os corpos a serem ligados entre si e hoje é
chamado de afinidade” [...] “ A idéia de coniunctio consegue, assim, esclarecer, por um
lado, o mistério profundo da ligação química e exprimir, por outro lado, enquanto
mitologema, o arquétipo que representa a união dos opostos, tornando-se uma imagem da
unio mystica” (JUNG, 1988, p. 160-161).

2
JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 1988. v. XVI.
3

Procedendo-se da mesma maneira que na análise da metáfora freudiana,


perguntamos: Qual a mensagem simbólica relacionada à escolha da metáfora alquímica
para a descrição da transferência? Que condições teóricas ou práticas da Psicologia
Analítica sustentam a escolha de Jung? Seus posicionamentos frente à questão do
fenômeno da transferência, ao longo de sua teoria, permitem algumas conjecturas.

O Conceito de Transferência na obra de C. G. Jung

Segundo alguns comentadores do conceito junguiano de transferência


(STEINBERG, 1992; JACOBY, 1987), as posições de Jung sobre tal conceito eram
muitas vezes divergentes e, até mesmo, contraditórias. No que diz respeito às formulações
freudianas sobre a transferência em contraposição às de Jung, Steinberg (1992, p. 19)
sugere:

“Não há a mesma consistência ou a mesma evolução nas opiniões de Jung sobre o valor
da transferência. Bem ao contrário, esta é a única área, em todos os seus escritos sobre a
transferência, em que ele continuamente se contradiz. Ele chega a se contradizer no
mesmo artigo. Isto talvez indique algum conflito emocional pessoal de Jung com relação
ao assunto da transferência.”

No início de suas formulações, sobre o que viria a constituir-se a Psicologia


Analítica, Jung concordava com Freud no que concerne à fundamental importância da
transferência para o processo analítico. Contudo, em outro momento, durante suas
conferências na Tavistock Clinic de Londres, em 1935, ele argumenta veementemente3:

“Transferência ou não-transferência, isso não tem nenhuma relação com a cura... Se não
houver transferência, tanto melhor. Você obtém o material da mesma maneira. Não é a
transferência que possibilita ao paciente trazer à luz os elementos; você obtém dos
sonhos todo o material que poderia desejar. Os sonhos trazem à tona tudo o que é

3
No que tange a tais afirmativas inflamatórias, Jacoby (1987, p. 10) expõe o contexto no qual Jung ministrava
suas conferências: “Ele desejava continuar um debate a respeito dos elementos do sonho e de sua expansão, mas
sua audiência era formada principalmente por médicos que desejavam ouvir suas opiniões sobre transferência”.
Ainda que Jacoby tente contextualizar a evidente irritação de Jung, tal fato vem a contribuir para a compreensão
do privilégio de análise dos conteúdos inconscientes em contraposição às questões de ordem transferencial na
psicologia junguiana.
4

necessário” (JUNG, v. XVIII apud JACOBY, 1987, p. 9.)

Em seu ensaio intitulado “O Valor terapêutico da ab-reação”4, onde discorre sobre


o método terapêutico que tem por objetivo a catarse dos nós afetivos dos complexos, Jung
defende a importância da relação transferencial entre o médico e o paciente. Ele afirma
que a re-vivência ou a repetição dramática de uma situação traumática – a descarga afetiva
por si mesma – possui um valor terapêutico limitado. Segundo Jung (1988), o que garante
a eficácia de tal método é a relação estabelecida entre o médico e o paciente, através da
transferência deste perante o psicoterapeuta.
Nesse sentido, ele reintera que a transferência constitui uma tentativa de o paciente
estabelecer uma relação positiva com o médico em vista de uma compensação frente à
“precariedade de sua relação com a realidade”5. Este ponto de vista entra em
concordância com uma tendência de Jung em compreender a transferência, não apenas
como um fenômeno relativo às projeções infantis (sentido redutivo), mas, também, num
sentido teleológico e criativo6 – “o paciente transfere para o analista os elementos
específicos necessários ao desenvolvimento da personalidade, e não só recordações do
passado” (STEINBERG, 1992, p. 12).
Como ele deixa claro durante todo o ensaio, um relacionamento saudável entre o
médico e o paciente possui uma maior pontecialidade terapêutica do que uma relação
hierárquica e estandardizada. É a respeito da contraposição de posturas que Jung
descortina sua crítica ao método analítico-redutivo, que objetiva a explicação das causas
das transferências e projeções do paciente.

“A constante redução de todas as projeções à sua origem – e a transferência é justamente


composta de projeções – pode ter considerável interesse histórico e científico, mas jamais
criará um ajustamento do paciente à vida, por frustrar toda e qualquer tentativa por ele
feita para estabelecer uma relação humana normal, devido à decomposição incessante de
toda relação em seus componentes originais” (JUNG, 1988, p. 129).

Apesar de criticar tal perspectiva, Jung reconhece a necessidade de se explorar as


possíveis causas da neurose, a fim de se criar uma síntese posterior. Ele se detém na
descrição do modelo redutivo-explicativo para apresentar sua “contra-proposta”.
Uma vez que compreende a psique como um sistema regido pelo princípio da
4
JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 1988. v. XVI.
5
Ibid, p. 131.
6
Um questionamento extremamente pertinente nessa perspectiva seria: “Que atitude na vida consciente desse
paciente busca ser compensada por esta transferência?”
5

compensação, cuja neurose se constitui como uma dissociação psíquica7, Jung vê na


relação médico-paciente uma possibilidade para que este integre seus conteúdos
inconscientes não integrados à consciência. Aí está a especificidade de Jung no manejo da
transferência: a psicoterapia junguiana não se fundamenta a partir de análises
transferenciais, pois acredita que a transferência é uma forma de projeção que distorce a
possibilidade de um relacionamento autêntico. Sendo assim, ela surge no processo
terapêutico como uma tentativa de a psique do paciente compensar a “falta de um
verdadeiro relacionamento humano”8.
Fica dessa forma patente a importância que Jung dá ao fenômeno da transferência
na dinâmica da terapia e no desenvolvimento da personalidade do paciente, ainda que seu
objetivo seja possibilitar, através da integração dos conteúdos inconscientes – logo
projetivos –, a redução da atividade transferencial do paciente perante o psicoterapeuta.
“Quando as projeções são reconhecidas como tais, cessa esse tipo peculiar de
relacionamento, ou transferência, e tem início o problema do relacionamento pessoal”9.
Tal integração possibilita o surgimento de uma relação humana, “de pessoa a
pessoa”10, para além dos “grilhões da transferência”11, que criam uma “relação ilusória”12.
Esse modelo relacional é denominado por Jung como Dialético; nele, o “terapeuta
vivencia junto um processo evolutivo individual”13
Posto isso, Jung reintera a posição de Freud e afirma a necessidade de o analista
ter passado pelo processo analítico. O percurso de uma psicoterapia somente pode trilhar
caminhos já conhecidos pelo analista, uma vez que estão vivenciando junto um processo;
o conhecimento sobre seus complexos e “pontos cegos” são preponderantes para o
encaminhamento e desenvolvimento da psicoterapia.
E assim, Jung remete-nos mais uma vez à metáfora alquímica: “O encontro de
duas personalidades é como uma mistura de duas substâncias químicas diferentes: no
caso de se dar uma reação, ambas se transformam”14. É esse caráter reativo que permite a
inter-subjetividade; logo, a circulação de movimentos inconscientes (transferências e
contra-transferências), que estarão participando no âmbito terapêutico sob a forma de
projeções, sonhos e possíveis interpretações por parte do analista.
Dado que as condições sobre o trabalho com a transferência foram apresentadas,

7
Para Jung, uma neurose é fruto de um desenvolvimento patológico unilateral da personalidade cujas origens
remontam à infância.
8
JACOBY, M. O Encontro Analítico. São Paulo: Cultrix, 1987. p. 10.
9
JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 130. v. XVI.
10
Ibid, p. 130.
11
Ibid, p. 131.
12
Ibid, p. 130.
13
Ibid, p. 5.
14
Ibid, p. 68.
6

dois questionamentos ficaram sem averiguação suficiente: Qual a mensagem simbólica


relacionada à escolha da metáfora alquímica para a descrição da transferência? Que
condições teóricas ou práticas da Psicologia Analítica sustentam a escolha de Jung? A
partir de tais questões, pretende-se uma compreensão sobre os mecanismos de tratamento,
na Psicologia Analítica das produções inconscientes (sonhos, mitos ou fantasias), já que,
nessa perspectiva, o enfoque psicoterapêutico está na análise e no desenvolvimento de tais
conteúdos.

A importância da análise dos conteúdos inconscientes na Psicologia de C.


G. Jung

Por que um autor da Psicologia iria escolher uma série de ilustrações de um livro de
alquimia do século XV para explanar o fenômeno da transferência na prática da
psicoterapia?
Uma possível resposta pode ser vislumbrada quando se compreende a importância
das idéias filosófico-mitológicas como referenciais para a organização e o
restabelecimento das forças instituais do paciente. Jung legitima tais conhecimentos como
ferramentas importantes da prática psicoterapêutica, uma vez que defende que os mitos, os
mitologemas e os sonhos são produções da psique, e, assim, expressões através de
imagens; situações que estão relacionadas à liberação de energias psíquicas necessárias ao
desenvolvimento da personalidade do paciente. Deste modo, a partir da compreensão de
que as neuroses são manifestações de uma dissociação psíquica muitas vezes relacionada
à repressão de impulsos instituais, e tendo-se que os instintos “não são impulsos cegos,
espontâneos e isolados, mas estão intimamente ligados a imagens de situações típicas, e
não há a menor possibilidade de desencadeá-los, se as condições dadas não
correspondem à imagem apriorística da situação (arquétipo)”15, as imagens e os temas
dos mitologemas – e aí se encontram as imagens do Rosarium Philosophorum –
constituem-se como símbolos intrinsecamente relacionados à libertação dos impulsos
instintivos. Tem-se aí sua importância terapêutica, vista na prática clínica através da
amplificação dos sonhos, por exemplo. Tais imagens têm eficácia terapêutica na medida
em que contribuem (tendo em vista o contexto psicossocial do paciente) com a integração
de conteúdos inconscientes pela consciência. Na conclusão do ensaio “Psicologia da
Transferência”, Jung ressalta:

15
Ibid, p. 88.
7

“A ‘theoria’ da alquimia – e acredito tê-lo demonstrado – nada mais é, essencialmente, do


que uma projeção de conteúdos inconscientes, ou seja, das formas arquetípicas, inerentes
a todas as modalidades da fantasia em seu estado puro, tais como as encontramos nos
mitos e lendas, por um lado, e por outro, nos sonhos, nas visões, nos delírios dos
indivíduos” (JUNG, 1988, p. 304).

Posto isso, pode-se entender quais as bases teóricas e práticas que sustentam o
privilégio dado por Jung no trabalho com os conteúdos inconscientes, sejam estes os
sonhos, devaneios, desenhos ou mitos. Tal posicionamento é sustentado pela Psicologia
Analítica até o presente momento; como afirma Jacoby (1987, p. 9): “há maior interesse
entre os junguianos no material do inconsciente (sonhos, desenhos, etc.) do que nas inter-
relações entre o analista e o analisando”. Dessa forma, podemos retornar às metáforas
mencionadas no início do artigo e refletir sobre como as imagens escolhidas por Freud e
Jung, de fato, são um reflexo de suas peculiaridades e problematizações acerca de seus
objetos de estudo. A singularidade de cada perspectiva possibilita, a quem se dedica a
estudá-las, um posicionamento que permite observar a importância e legitimidade dos
pontos de vista defendidos por cada autor, num movimento semelhante à percepção das
particularidades da Química e da Alquimia.

Referências Bibliográficas

JUNG, C. A Prática da Psicoterapia. Obras Completas de C. G. Jung. Petrópolis: Vozes,


1988. v. XVI.

FREUD, S. Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica (1918). Edição Eletrônica


Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. v.
XVII.

JACOBY, M. O Encontro Analítico. São Paulo: Cultrix, 1987.

STEINBERG, W. Aspectos Clínicos da Terapia Junguiana. São Paulo: Cultrix, 1992.

HALL, J. A. A experiência Junguiana. São Paulo: Cultrix, 1992.


8

ROBERTSON, R. Guia Prático de Psicologia Junguiana. São Paulo: Cultrix, 1995.

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