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Identidade brasileira: Diálogos entre os filmes Saludos Amigos

(1942) e Rio, Zona Norte (1957)


Fernando Figueiredo Alves

Em plena Era Vargas (período que percorre de 1930 a 1945 no Brasil), o


governo dos Estados Unidos da América criaram, em 1933, a “Política da Boa
Vizinhança”, com o intuito de estreitar as relações políticas e econômicas entre os
países da América Latina. Uma das justificativas do acordo seria fortalecer a exploração
de mercado dos países latino-americanos, em troca de subsídios que melhorariam a
economia desses países. Para isso, muitas vezes, utilizavam-se dos grandes meios de
comunicação - arma ideológica poderosa - para sustentarem o laço de amizade proposto
na política. No início dos anos 1940, Walt Disney enviou para a América do Sul, um
grupo de 16 pessoas para pesquisarem alguns personagens que serviriam de base para
novas criações animadas. O objetivo era conhecer os costumes, a música, o jeito de
vestir e se comportar da população daquela região. Surgiu, então, o personagem Zé
Carioca (ou Joe Carioca, para os norte americanos), cujas características principais
serão apresentadas a seguir. É bom lembrar que a “Política da Boa Vizinhança” e,
consequentemente, a criação de Zé Carioca, produziram uma visão deturpada e
totalmente estereotipada do povo e da cultura brasileira, visão esta, que infelizmente
ainda está enraizada no imaginário dos países estrangeiros.
1. Zé Carioca é um papagaio verde, com calda azul e vermelha (claramente uma
alusão as cores da bandeira estadunidense), elegantemente bem vestido, olhos claros,
chapéu palheta na cabeça e sempre com um charuto e um guarda-chuva nas mãos. Essas
características, a meu ver, corresponderiam a um homem branco.

2. É o malandro carioca (utiliza-se do “jeitinho brasileiro” para sair de qualquer


situação inusitada, desde que isso lhe seja vantajoso), boêmio, conhecido por seu
desprezo por qualquer tipo de trabalho, gosta de samba, mulheres e futebol. Vale
observar que a personalidade de Zé Carioca será bem mais explorada nos quadrinhos
posteriores ao filme em questão.

A primeira aparição de Zé Carioca foi em 1942 no filme Saludos Amigos (título


original), produzido pelo próprio Walt Disney. A animação é composta por quatro
segmentos (cerca de 10 minutos cada), portanto, quatro curtas-metragens independentes
entre si: Lago Titicaca, Pedro, El Gaucho Goofy e Aquarela do Brasil (parte do filme
que nos interessa aqui). Saludos Amigos recebeu três indicações ao Oscar, sendo elas:
Melhor Mixagem de Som, Melhor Canção Original e Melhor Trilha Sonora.

Aquarela do Brasil inicia-se com um plano de cima sobre a capa de um livro


intitulado Watercolor of Brazil. A música (que dá título ao curta) começa a tocar. O
livro se abre e logo aparecem os créditos da animação. Em seguida, vemos uma página
em branco e a sombra de um homem com um pincel na mão, que começa a preencher a
folha com desenhos de montanhas, árvores e flores. O desenho começa a ficar animado
e a tinta azul do pincel forma um rio que corre sobre as matas representadas na tela. Há,
posteriormente, uma mudança na cor na tinta. O vermelho de uma flor se transforma em
dois flamingos, que dançam o samba de Ary Barroso. É importante notar que o
flamingo só pode ser encontrado em seu habitat natural na região Norte do país, ou seja,
muito distante do Rio de Janeiro, cidade em que se passa o curta-metragem. Um
coqueiro se transforma em uma ave; Um cacho de bananas em tucanos (aliás, muito mal
representados, já que o tucano apresenta plumagem preta e branca, além de bico mais
alaranjado, ao contrário do filme, em que vemos a ave com as plumas preta e azul e bico
amarelo). Finalmente, nas últimas pinceladas do pintor, Pato Donald surge em cena. Em
sua frente, continuando com o desenho, é apresentado Zé Carioca (na voz de José
Oliveira).
Pato Donald estende a mão para firmar a nova amizade, mas Zé Carioca vai em
direção ao novo amigo de braços abertos. Ele diz: “Ora, venha-me dar um abraço. Um
mesmo daqueles, um quebra-costelas, um bem carioca, bem amigo. Seja bem-vindo,
meu caro”. Pato Donald estranha o abraço caloroso, mas se anima em seguida, quando
Zé Carioca o convida para conhecer o Rio de Janeiro e o samba. Pato Donald pergunta:
“O que é samba?”. A resposta de Zé Carioca é na forma de dança ao som de Tico Tico
no Fubá (de Zequinha de Abreu). Na cena, fica evidenciada a cordialidade, alegria e
simpatia do povo brasileiro.

Os dois amigos dançam pelas calçadas de Copacabana e sentam em um bar de


nome Cachaça, mesma bebida que Donald prova. O consumo do drink seria algo
rotineiro e cotidiano para o povo brasileiro? O homem com o pincel retorna para dar fim
ao filme. Pato Donald, em silhueta, dança samba com Carmen Miranda, enquanto
letreiros em néon de bairros nobres do Rio de Janeiro aparecem na tela. Passemos agora
para análise de Rio, Zona Norte.

Rio, Zona Norte é um filme de 1957, dirigido por Nelson Pereira dos Santos e
narra a história de Espírito da Luz Soares (interpretado por Grande Otelo), compositor
de samba em busca de sucesso e reconhecimento, que tem o sonho interrompido pelas
injustiças sociais e condições quase sub-humanas do meio em que vive. A criação do
personagem foi inspirada na vida do cantor e compositor Zé Keti, amigo pessoal do
realizador. Ao propósito, o filme foi um grande fracasso de bilheteria e mal recebido
pela crítica.

Nelson Pereira iniciou nos anos 1950, um movimento de cinema independente


brasileiro, em parceria com cineastas como Alex Viany (Agulha no Palheiro, 1953),
Roberto Santos (A Hora e a Vez de Augusto Matraga, 1965), entre outros, que criaram
as bases estéticas do Cinema Novo. Esses realizadores se opunham as grandes empresas
cinematográficas brasileiras (em especial a Vera Cruz) que se propunham a fazer um
cinema emulativo de Hollywood (baseado em grandes orçamentos, locações em
estúdios e “cinema de gênero”). Ao invés desse sistema industrial, eles se inspiraram no
neorrealismo italiano, realizando trabalhos com orçamentos baixos, locações reais (fora
de estúdios) e temas que retratassem a realidade social do Brasil. Vale ressaltar, que o
próprio Nelson Pereira dos Santos, em seu texto intitulado Manifesto por um cinema
popular (1970), enfatiza que o seu Rio, Zona Norte não é neorrealista e também acusa a
crítica de má compreensão da obra. Ele diz: “Naquela época a crítica ficou neo-realista
e o filme não era neo-realista. A crítica exigia que o filme tivesse paisagens de bairros
da Zona Norte, quando não era nada disso. É um filme mais psicológico, que passa todo
ele na cuca do compositor”. Apesar de ter mais urgência em criar uma identidade nova
para o cinema brasileiro do que propriamente realizar um cinema à la Rossellini,
podemos dizer que alguns traços se assemelham a esse cinema italiano do pós-guerra, a
começar pelo título de três palavras citando o nome da cidade: Rio, Zona Norte faz
referência direta a Roma, Cidade Aberta (1945). No âmbito mais cinematográfico, a
construção da mise-en-scène do realizador é na forma de capturar e apreender
imediatamente a realidade, filmar “as coisas como ela são”.

No início do filme, vemos imagens quase documentais do subúrbio do Rio de


Janeiro, com destaque para as linhas de trem da Central do Brasil, morros e casas de
favelas. Em seguida, surge Espírito caído ao lado dos trilhos, sendo socorrido por
funcionários da ferroviária. Logo, somos retomados ao passado que será mostrado a
busca incessante do protagonista em alcançar algum prestígio como compositor de
samba. Essas mesmas imagens da Zona Norte do Rio serão retomadas no final do filme,
revelando, na verdade, uma perspectiva (subjetiva) do olhar de Espírito, que estaria
prestes a cair do trem e falecer horas depois em um hospital. A construção narrativa,
portanto, é baseada em flashbacks, em que Nelson alterna momentos do passado com a
agonizante luta de Espírito para sobreviver a queda do trem em movimento.

Rio, Zona Norte, estrutura-se em volta de três personagens principais:

1. Espírito da Luz: protagonista negro, raramente retratado com tamanha


importância no cinema brasileiro realizado anteriormente. Personagem com caráter e
imenso poder criativo (compositor de sofisticados sambas).

2. Maurício (interpretado por Jece Valadão): O “vilão”, homem branco de classe


média, que rouba um samba de Espírito para se autopromover, e ainda, lhe ilude com
falsas promessas de uma “parceria promissora”, que nunca virá a acontecer.

3. Moacir (interpretado por Paulo Goulart): homem branco, entendedor de


música clássica e violinista frustrado, que vê em Espírito um grande potencial de
sucesso.

É importante notar, que tanto Maurício quanto Moacir, ambos homens brancos
de classe média, representam o racismo brasileiro: Espírito necessita da intervenção de
Moacir para tentar eternizar seus sambas; Maurício estabelece com Espírito uma relação
exploratória e de total desprezo, baseado em mentiras. A trama, envolta dessas três
figuras, retrata a decadência profissional de Espírito. Porém, a desilusão não acontece
somente pelo viés do trabalho, mas também pelas relações familiares, que por sua vez,
estão diretamente ligadas as condições (sociais e financeiras) em que o protagonista
vive.
Espírito, logo no início, conhece Adelaide, mulher mais jovem que ele, na qual
pretende se casar. Em uma das cenas mais memoráveis do filme, e que, a meu ver, a que
mais se aproxima de Rossellini, Espírito acorda em sua casa (simples, pequena de
apenas um cômodo) ao lado da futura esposa, se arruma para sair e diz a ela que logo
irão se mudar para uma residência maior (de dois cômodos). Em seguida, em um plano
geral, os dois saem e descem o morro em que moram (neste momento, Nelson Pereira
do Santos mostra de forma magistral a pobreza do subúrbio carioca). O cineasta se
revela muito habilidoso em registrar pequenos espaços, utilizando sutis movimentos de
câmera (em sua maioria pan e zoom), sempre deixando os dois personagens em quadro.
Aliás, durante todo filme, predomina-se planos mais abertos e longos.

Espírito também tem um filho chamado Lourival. O adolescente se encontrava


em um reformatório e fugiu, dizendo ao pai que iria para São Paulo arranjar um
trabalho. Porém, o plano não dá certo e Lourival se envolve em um assalto mal
sucedido, em que furta o mercado do amigo de Espírito. Esse episódio abala também o
relacionamento amoroso entre o protagonista e Adelaide (Espírito diz que o filho vai
voltar a morar com ele, gerando uma opinião contrária por parte de Adelaide, dizendo
que não vai abrigar um ladrão em casa). Os outros assaltantes se revoltam com Lourival
e acabam por assassiná-lo. A tristeza toma conta de Espírito e ele compõe um samba
que é apresentado para Ângela Maria, cantora de sucesso (interpretada por ela mesma).
Ela gosta da música e resolve gravá-la. Este é o momento no qual Espírito atinge seu
ápice.

Apesar da tentativa de Espírito em enfrentar a vida com alegria, sempre com um


sorriso no rosto, o filme é tomado por desilusões amorosas, familiares e profissionais,
que acontecem devido ao mau caráter e indiferença de seus “amigos” e do ambiente
precário em ele vive. Na última cena do filme, Moacir e Honório visitam Espírito no
hospital e esperam sua morte. Os dois caminham pelas ruas do Rio de Janeiro e
conversam sobre os sambas compostos por Espírito (que permanecerão desconhecidos
pela população). No livro História do Cinema Brasileiro, Fernão Ramos comenta:
“Quando [Espírito] morre, o colega erudito é chamado ao hospital e lamenta
amargamente não ter ajudado mais o sambista quando vivo. Agora restam apenas duas
ou três músicas (…) para preservar sua memória: a culpa pela morte do sambista é, no
fundo, do compositor burguês” (p. 307-308).

Para finalizar a análise das duas obras, elencarei as diferenças representativas


(em relação a uma identidade brasileira) nos filmes Saludos Amigos (sequência
Aquarela do Brasil) e Rio, Zona Norte. Mas antes, é importante salientar que há uma
distância de 15 anos entre as duas produções, além de perceber que ambos os filmes se
desenvolvem em uma organização ideológica e dramática, através da relação entre seus
protagonistas com a música, especificamente o samba.
Saludos, Amigos Rio, Zona Norte
(Aquarela do Brasil)

Características do Papagaio estiloso, bem Homem negro, pobre,


protagonista vestido, olhos claros compositor de samba.
(personificação do homem
branco), apreciador de
samba.

Locação Zona Sul do Rio de Janeiro Zona Norte do Rio de


(Copacabana). Janeiro (Subúrbio).

Paisagem Beleza natural do Rio de Estação Central do Brasil,


Janeiro, calçada de morros, casas precárias.
Copacabana.

Personalidade do Malandro, boêmio, Bom caráter, honesto, tenta


protagonista simpático, alegre. viver alegremente (apesar
dos percalços sociais).

Relação interpessoal do “Amigo de todos”. Cercado de falsos amigos.


protagonista

Destino do protagonista Salão de dança. Morte. Não consegue


alcançar seu sonho.

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