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O Poder em Movimento:
movimentos sociais e confronto
político (resenha)

Article · January 2012

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Rodrigo Salles Pereira dos Santos


Federal University of Rio de Jan…
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Rodrigo Salles Pereira dos Santos

O poder em movimento: movimentos


sociais e confronto político.
Tarrow, Sidney. Petrópolis: Vozes, 2009.

Um dos mais eminentes estudiosos à proposta, como em relação às for-


contemporâneos da ação coletiva, Sid- mas reativas estatais ao confronto e
ney Tarrow apresenta em O poder em aos mecanismos conectores de ma-
movimento: movimentos sociais e confron- croprocessos sociais e performances
to político, 1 seu único livro publicado confrontacionais, 4 objetivamos, nesta
no Brasil até o momento, um conjun- resenha, apontar algumas das contri-
to de reflexões teórico-metodológicas buições teórico-metodológicas mais
para a interpretação de suas formas gerais da abordagem da política con-
confrontacionais, em particular os mo- frontacional e dos movimentos sociais.
vimentos sociais. O livro, que está nu- É certo que essa abordagem se apre-
ma recente terceira edição na língua senta menos como uma teoria acabada
inglesa original, inscreve-se em pro- do que como uma agenda de pesquisa
jeto coletivo mais amplo sobre políti- baseada em um estoque diversificado
ca confrontacional ou confronto polí- de conceitos analíticos. Porém, como
tico (contentious politics) 2 que tem um ela irradia, mais do que eclipsa, nossa
marco importante também em Dyna- compreensão das condições nas quais
mics of contention, escrito com Charles surgem formas diversificadas de ação
Tilly e Doug McAdam, em 2001. 3
coletiva e os processos concretos nos
sociologia&antropologia | v.02.03: 309 – 315, 2012

No âmbito deste projeto, os mo- quais se desenvolvem, vale chamar a


vimentos sociais são compreendidos atenção para seus sentidos mais heu-
como “desafios coletivos baseados em rísticos.
objetivos comuns e solidariedade social Em outras palavras, defende-se
numa interação sustentada com as elites, aqui que, ao construir e investigar uni-
opositores e autoridade” (Tarrow, 2009: dades de análise complexas, a partir
21), e constituem um subgênero da de um enfoque amplo, centrado na
ação coletiva em um campo teórico e interação de sujeitos, ações e objetos
empírico ampliado por meio do con- de confronto, a abordagem da política
ceito matricial de confronto. confrontacional lega à teoria social
Ainda que questões específicas uma contribuição teórico-metodológi-
pudessem ser levantadas em relação ca propriamente relacional, que desa-
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fia antinomias cristalizadas nas ciên- row, 2009: 22). Por sua vez, propósitos
cias sociais lato sensu. Esta contribui- comuns podem se beneficiar em muito
ção transcende o estudo dos movi- de identidades coletivas legadas e/ou
mentos sociais, e pode ser generaliza- construídas, particularmente na me-
da, virtualmente, à totalidade dos fe- dida em que movimentos sociais se
nômenos da ação coletiva – o que se engajam efetivamente em canalizá-
pretende apenas indicar nos limites -las e compatibilizá-las. Em realidade,
desta resenha. a consistência da ação coletiva pare-
Em O poder em movimento, o con- ce depender da construção social da
fronto constitui o elemento indecom- identidade comum e, portanto, da so-
ponível das formas diversas da ação lidariedade social (Tarrow, 2009: 154)
coletiva. A singularidade da ação co- derivada desta.
letiva confrontacional situa-se, por- É por meio da combinação inova-
tanto, na oposição construída entre dora de reivindicações identitárias
aqueles que detêm poder e aqueles produzidas a partir de “comunidades
que, a priori, são destituídos de meios mais íntimas e especializadas” e efe-
institucionais de reivindicação. Am- tivamente solidárias, e do que Tarrow
bos, confronto e poder, são definidos define como “enquadramento inter-
como propriedades interativas que pretativo das identidades” (Tarrow,
conectam as esferas política e social. 2009: 155) que se configuram coletivi-
No entanto, na abordagem de Tar- dades mobilizáveis. Assim, a identida-
row, performances públicas de oposi- de coletiva construída opera como
ção concretas assumem um caráter elemento conectivo e antinômico du-
complexo, caracterizado tanto por rável dos movimentos sociais, mas
agências múltiplas e assimétricas, co- também de outras formas de ação co-
mo por condicionantes estruturais letiva, confrontacionais ou não.
igualmente variados quanto à extensão Importante, neste sentido, é o con-
e à escala. Nesse sentido, franqueiam a ceito adotado, de quadro de ação co-
análise das formas e mecanismos dis- letiva, de David Snow e Robert Benford
tintos de poder em sistemas de intera- (1992 apud Tarrow, 2009: 143), e defi-
sociologia&antropologia | v.02.03: 309 – 315, 2012

ções de agentes diversificados, intera- nido por estes como um esquema in-
ções estas que podem assumir formas terpretativo e seletivo, cuja proprieda-
conflituosas ou cooperativas. de mais importante é a capacidade de
No plano específico da análise dos condensar a variada experiência hu-
movimentos sociais, o autor faz uso de mana em um código passível de leitu-
uma gama de instrumentos relacionais ra e mobilização. A partir dele, Tarrow
que permite superar a oposição entre aponta para a dimensão da agência
ação e estrutura, como lembra Bringel social e para a natureza profundamen-
(2011: 69). Movimentos sociais consti- te criativa dos fenômenos de ação co-
tuem, assim, formas de ação coletiva letiva confrontacional.
construídas em torno de “interesses e No entanto, na condição de dispo-
valores comuns ou justapostos” (Tar- sitivos interpretativos de ênfase, po-
resenha | rodrigo salles pereira dos santos

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sitiva e negativa, mas também de projetando incidentes, episódios e


omissão, os quadros de ação coletiva campanhas com o potencial de trans-
não necessariamente limitam-se à di- formar a ambos.
mensão confrontacional e, portanto, à Dessa forma, Tarrow acentua as
“nomeação de descontentamentos” de propriedades criativas dos movimen-
grupos mais ou menos homogêneos de tos sociais na produção de significa-
agentes. Eles estruturam, na verdade, dos compartilhados, e de alvos e ad-
interações de uma variedade de agen- versários identificáveis. Nutridos por
tes de diferentes tipos – econômicos, identidades e objetivos herdados e
políticos e sociais – provendo signifi- construídos como coletivos, os movi-
cados compartilhados orientadores da mentos mobilizam, simultaneamente,
ação em geral. as dimensões emotiva e racional, ir-
Ademais, os quadros de ação cole- refletida e intencional da experiência
tiva possuem o potencial de organizar humana em sociedade.
a experiência dos agentes tanto em No entanto, em O poder em movi-
facções, antagonismos e disputas, mento, a motivação elementar para o
quanto em coalizões, alianças e acor- engajamento na ação coletiva, em ge-
dos. Encontram-se, portanto, na base ral, e na política confrontacional, em
de processos sociopolíticos ancorados particular, é condicionada, por assim
nas noções de crise, atraso e subde- dizer, por uma variável ambiental.
senvolvimento, de um lado, e de pros- Neste sentido, são as mudanças ope-
peridade, modernidade e desenvolvi- radas nas estruturas de oportunidades
mento, de outro. Pois que constroem e restrições políticas,5 dimensões con-
os significados atribuídos a determi- sistentes de encorajamento e desen-
nadas situações sociais, nutrem mo- corajamento à ação coletiva (Tarrow,
bilizações coletivas em múltiplas es- 2009: 38-39), que estabelecem as con-
calas. dições nas quais o confronto tende ou
De acordo com o autor, no caso da não a se manifestar.
ação coletiva confrontacional, a cons- Estruturas econômicas, políticas
trução destes quadros e sua mobiliza- e sociais dizem respeito, essencial-
ção para a ação constituem um verda- mente, a propriedades relativas à es-
deiro “empreendimento”. Empreendi- tabilidade da realidade social e, desta
mento que envolve a seleção e combi- forma, possibilitam o atendimento a
nação de símbolos no interior de uma demandas relativamente instituciona-
estrutura cultural tradicional, assim lizadas. No entanto, segundo Tarrow,
como a adição de insígnias novas, ope- nas ocasiões nas quais as fissuras
rando processos de alinhamento entre institucionais se tornam aparentes e
valores e interesses organizacionais mudanças disruptivas nas referidas
próprios e a referida estrutura. O ali- estruturas (fundamentalmente políti-
nhamento, noção tomada de emprés- cas, para o autor) se anunciam é que
timo também a Snow e seus colabora- oportunidades e restrições, aberturas e
dores, conecta ação e estrutura sociais, encerramentos, estimulam ou inibem
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os agentes a agir coletivamente. das quais surgiram, atraindo novas de-


A “relacionalidade” presente em O mandas e estimulando o ingresso de
poder em movimento é, ainda, de cará- novas organizações de movimento. Os
ter dinâmico. O modelo analítico que resultados de ciclos de confronto são
propõe apresenta um sistema de retro- em geral, ciclos de reformas que, em-
alimentação que apenas parte das mu- bora imprevisíveis, tendem a ampliar
danças na estrutura de oportunidades o espaço institucional de atendimento
e restrições políticas. Estas mudanças às demandas dos não poderosos.
produzem, por sua vez, alterações ao A temática da escalada processual
nível da agência coletiva, que selecio- da ação coletiva pode ser, assim, fi-
na e mobiliza dimensões profundas da nalmente tematizada a partir do que
cultura e de interesses e valores indi- Bringel (2011: 63) define como a espa-
viduais e coletivos, ensejando formas cialidade da política contestatória. Em
de ação coletiva confrontacional com realidade, os fenômenos relacionados
extensão temporal e capacidade re- ao que se convencionou como interna-
produtiva. Ela diz respeito, assim, aos cionalização e transnacionalização da
elementos de continuidade entre os ação coletiva vêm ocupando um espa-
próprios atos confrontativos. ço cada vez mais central nas ciências
No arsenal de ferramentas analíti- sociais.
cas mobilizadas por Tarrow, encontra- Tarrow trata especificamente do
-se, ainda, a noção de repertório de potencial de emergência e desenvol-
ação coletiva, introduzida por Char- vimento dos chamados movimentos
les Tilly. Conjunto relativamente li- sociais transnacionais, definidos como
mitado, embora renovável, de rotinas “interações contenciosas sustentadas com
reivindicativas, o repertório constitui opositores – nacionais ou não-nacionais
um elo-chave das formas de agência – através de redes de desafiantes organi-
passadas, presentes e futuras. Condi- zados e que ultrapassam fronteiras nacio-
ciona, assim, os modos operacionais nais” (Tarrow, 2009: 231). Contudo, as
da ação coletiva e as formas reativas premissas comuns sobre as quais se
indissociáveis de seus colaboradores e assentam os fenômenos de transna-
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opositores – estatais ou não. A inde- cionalização dos movimentos sociais,


pendência relativa destas interações em particular, assim como da ação co-
no plano concreto tem o potencial de letiva, em geral, são as da organização
desencadear, portanto, períodos par- em rede e da operação em escalas ge-
ticularmente conflituosos. ográficas múltiplas.
Segundo Tarrow, ciclos de con- O autor rejeita, entretanto, a con-
fronto, iniciados por ações coletivas cessão de prerrogativas analíticas à
confrontacionais independentes e escala global como dimensão-chave
desenvolvidos por estratégias reati- tanto das estruturas políticas e ma-
vas estatais incapazes de pôr termo croprocessos sociais quanto do en-
ao conflito, tendem a “transbordar” cadeamento de eventos de confronto
os limites das próprias reivindicações em incidentes, episódios e campanhas.
resenha | rodrigo salles pereira dos santos

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Assume, portanto, a globalização co- rando em diferentes escalas. Eventos


mo um quadro de ação coletiva cujos de contestação a agentes poderosos,
mecanismos e processos tradutores da organizados por meio de vínculos en-
estrutura de rede em ação permane- tre redes domésticas e transnacionais,
cem por ser explicados. Dessa forma, vêm apresentando, assim, grande po-
não se furta em afirmar que tencial transformativo. Sua comple-
os efeitos do ativismo transnacional na xidade escalar pode derivar em epi-
política doméstica podem ser sua fun- sódios e gerar reações de adversários
ção mais importante. As redes de ati- com potencial evolutivo para ciclos de
vismo transnacional podem ajudar os
confronto, podendo imprimir marcas
atores com poucos recursos a construir
duradouras.
novos movimentos domésticos a partir
de combinações de materiais nativos e Por fim, deve-se destacar que esta
importados (Tarrow, 2009: 240). apresentação panorâmica de O poder
em movimento buscou evidenciar al-
Facções e coalizões entre redes
gumas das muitas dimensões da sín-
sociais domésticas, estruturadas por
tese teórico-metodológica proposta
meio de relações formais e/ou infor-
por Sidney Tarrow. Buscou-se enfocar
mais, e redes transnacionais, inibem
essencialmente, a contribuição ímpar,
ou induzem processos de transcen-
relacional e dinâmica, que esta oferece
dência escalar, isto é, vinculam recur-
para o estudo do fenômeno da ação
sos e mecanismos de reivindicação e
coletiva, em suas variadas formas e
legitimação de pleitos em diferentes
dimensões.
escalas e, portanto, produzem ações
Estudiosos dos movimentos so-
coletivas de desafio e confronto mul-
ciais, das ciências sociais em geral e
tidirecionais.
também de áreas afins têm, portanto,
O referido processo, como aponta
muito a se beneficiar da leitura desse
o autor, é particularmente relevante
livro que, malgrado ele mesmo esteja
considerando a profunda assimetria
em movimento, dada a nova edição
de recursos que envolve, em grande
que está conhecendo em língua ingle-
medida, a interação das elites com as
sa neste momento, apresenta ao leitor
massas em escala local. Desse modo,
brasileiro um programa de pesquisa
acordos e disputas entre redes domés-
promissor, alternativo às visões mais
ticas e transnacionais de movimentos
disjuntivas dos fenômenos econômi-
sociais e agentes coletivos tendem a
cos, políticos e sociais.
ampliar a oferta de oportunidades no
interior das estruturas econômicas,
Resenha recebida para publicação
políticas e sociais que abarcam a ope-
em fevereiro de 2012.
ração dos agentes desafiantes locais,
produzindo efeitos imprevisíveis.
O arguto exame de Tarrow abre um
flanco analítico importante, com foco
nos mecanismos de influência mútua
entre quadros de ação coletiva ope-
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Rodrigo Salles Pereira dos Santos é professor ad-


junto da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
e doutor em Ciências Humanas – Sociologia, pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua
na área sociologia econômica e do desenvolvimento,
com pesquisas sobre os seguintes temas: desenvolvi-
mento econômico e regional, redes de produção glo-
bais, mineração e indústria siderúrgica.
resenha | rodrigo salles pereira dos santos

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NOTAS

1 Power in movement: collective action, social movements and po-


litics é o título da publicação original em inglês, de 1994.

2 Ver entrevista com Sidney Tarrow nesta edição de Sociologia


& Antropologia. Ver, também, os elucidativos comentários
de Breno Bringel (2011) acerca da recepção indireta das
teorias norte-americanas da ação coletiva e tardia da obra
de Tarrow no Brasil.

3 Para uma descrição pormenorizada da síntese proposta da


ação coletiva confrontacional, ver McAdam, Tarrow & Tilly
(2009).

4 Conforme nos lembra o próprio Tarrow, ao tratar do percur-


so intelectual de Charles Tilly até a abordagem da política
confrontacional. Ver Tarrow (2008).

5 O conceito de estrutura de oportunidades e restrições polí-


ticas, hoje amplamente utilizado e desenvolvido pelos te-
óricos da ação coletiva, remonta originalmente ao clássico
de Charles Tilly, From mobilization to revolution, publicado
em 1978.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bringel, Breno. A busca de uma nova agenda de pesquisa


sobre os movimentos sociais e o confronto político: diálogos
com Sidney Tarrow. Política & Sociedade, 2011, 10, p. 51-73.

McAdam, Doug; Tarrow, Sidney & Tilly, Charles. Para mapear


o confronto político. Lua Nova: Revista de Cultura e Política,
2009, 76, p. 11-48.

____. Dynamics of contention. Cambridge: Cambridge Univer-


sity Press, 2001.

Tarrow, Sidney. Charles Tilly and the practice of contentious


politics. Social Movement Studies, 2008, 7/3, p. 225-246.

Tilly, Charles. From mobilization to revolution. Reading, MA:


Addison-Wesley Publishing Co., 1978.

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