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Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Produção de texto
Ano(s)
3º
4º
5º
Material necessário
Lápis
Borracha
Desenvolvimento
1ª etapa
Converse com a turma sobre a atividade que você vai propor, explicando que ela será
importante para o planejamento das próximas aulas e vai ajudar todos a escrever com mais
segurança. A tarefa é reproduzir por escrito uma fábula (de conhecimento da turma) que
será lida por você em sala.
2ª etapa
Depois da leitura, converse sobre o enredo para que as crianças se familiarizem ao máximo
com a história. Você pode solicitar que contem a fábula oralmente para ter a certeza de
que todos têm condições de reproduzi-la por escrito. Por fim, peça que os alunos a escrevam
por conta própria.
Avaliação
Características do gênero
- Modifica o conflito principal da história.
- Não evidencia a relação entre os personagens.
- Não constrói o clímax.
- Transforma o desfecho da história.
- Não constrói o texto de modo a retomar ideias anteriores para dar unidade de sentido
(coesão referencial).
- Não usa marcadores temporais.
Assim que preencher a análise de todos os alunos, faça a tabulação dos dados. Se você tiver
acesso a um computador e um software de edição de planilhas (do tipo Excel), esse trabalho
poderá ser feito com mais rapidez. Consolide os dados e verifique quantas vezes os
problemas listados aparecem no texto de cada criança. Em seguida, registre o total de vezes
que esse problema aparece em todo o grupo. Com base nesse diagnóstico, liste os
problemas principais que precisam ser trabalhados com toda a turma, tratando-os como
conteúdos prioritários para o semestre.
Essa análise também vai permitir que você identifique dificuldades individuais dos alunos.
Uma opção para tratá-las é planejar atividades em grupos, desde que eles reúnam alunos
com diferentes níveis de conhecimento. Dessa forma, os estudantes mais avançados
poderão interagir com aqueles que têm dificuldades para que possam se desenvolver juntos.
Tenha cuidado ao formar esses grupos. O nível de conhecimento dos alunos deve ser
variado, porém, não muito. Caso contrário, corre-se o risco de o aluno com dificuldade não
conseguir acompanhar o colega mais avançado.
Flexibilização
Para alunos com paralisia cerebral, mas com um nível razoável de compreensão, ofereça
uma explicação individual a respeito da atividade que será realizada e marque no quadro
todas as etapas da aula. A repetição é fundamental para o acompanhamento.
Se o aluno ainda não dominar a escrita, explore bastante o reconto oral e a leitura das
ilustrações. O reconto pode ser gravado em áudio e explorado junto com todo o grupo.
Deficiências
Intelectual
Física
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Retextualização.
Gênero causo.
Ano(s)
4º
5º
Tempo estimado
20 aulas.
Material necessário
Cartolinas, livro Alexandre e Outros Heróis (Graciliano Ramos, 206 págs., Ed. Record, tel.
21/2585-2000, 23,90 reais), computador com acesso à internet e gravador.
Causo 'O Lenhador' contado por Rolando Boldrin no programa Senhor Brasil, da TV Cultura
Desenvolvimento
1ª etapa
Pergunte aos alunos se eles já ouviram algum causo, conhecem pessoas que contam causos e
compartilhe a informação de que esse será o gênero estudado a partir de agora. Explique
que se trata de uma forma particular de contar histórias típicas do interior, que não são,
necessariamente verdadeiras. Se alguma criança se lembrar de algum causo, peça que conte
aos colegas.
2ª etapa
Convide a turma para assistir um causo O Lenhador - contado por Rolando Boldrin. Discuta
de que se trata o causo, como é a linguagem usada pelo contador e como seria o causo se ele
fosse contado com a norma culta da língua. O sentido seria o mesmo? Despertaria risos e
gargalhadas da plateia, como as mostradas no vídeo?
3ª etapa
Apresente o livro Alexandre e Outros Heróis para a criançada. Explique que os causos ali
apresentados, parte do folclore nordestino, foram escritos por Graciliano Ramos, um
importante escritor brasileiro. Leia o primeiro capítulo do livro - Primeira Aventura de
Alexandre - em voz alta para a turma. É interessante que as crianças tenham o texto em
mãos para acompanharem a leitura. Ao término da leitura converse sobre a escrita do causo,
comparando-a com o vídeo assistido. Levante as seguintes questões:
Que características o texto lido tem que ajudam o leitor entender melhor a história?
Quais recursos o autor usa para deixar o texto com características de um causo?
4ª etapa
Apresente aos alunos o causo A Mulher do Boticário, contado por Rolando Boldrin. Explique
às crianças que a tarefa agora é, coletivamente, passar o causo do oral para o escrito e que
esse processo tem o nome de retextualização. Para isso, em primeiro lugar, é necessário ter
o causo de Boldrin transcrito na íntegra. Para que os alunos conheçam como é feito o
processo de transcrição e as características do material, transcreva os primeiros minutos do
vídeo no quadro, destacando a importância de ser fiel à fala do narrador e também de
indicar as pausas (com reticências), os marcadores de fala (como né, olha e daí) e a
entonação (com pontos de exclamação e interrogação). Peça que a turma transcreva um
pequeno trecho seguinte para conhecer como se dá o processo. Depois, distribua cópias da
transcrição completa e exponha o mesmo texto no quadro.
5ª etapa
Para prosseguir com o processo de retextualização, ensine aos estudantes o que fazer com o
material transcrito. Primeiro, é necessário analisá-lo. Existem muitos termos informais e
marcadores de fala? Há vários termos repetidos? Quais? As conjugações verbais são
adequadas aos sujeitos das orações?
Peça que as crianças identifiquem essas características fazendo marcações na transcrição
utilizando canetas coloridas.
6ª etapa
Agora é hora de a garotada tomar algumas decisões com base nas marcações anteriores para
retextualizar, de fato, o causo. Os termos repetidos serão eliminados ou eles são
importantes para manter as características do causo em questão? É preciso reordenar os
parágrafos para que a produção fique coerente? Quais marcas de oralidade devem ser
mantidas? O causo será escrito com o mesmo narrador utilizado pelo contador do causo?
7ª etapa
Com base na transcrição exibida no quadro, comece a reescrita do causo. Você será o
escriba: peça que os alunos orientem o que você deve fazer. Esclareça que nesse processo, é
importante consultar o texto transcrito e as marcas feitas constantemente, ler e reler o
material que está sendo escrito, ir e vir várias vezes, reescrever o que for necessário, inserir
e retirar palavras para garantir qualidade ao material. Encerrada a tarefa, leia o causo em
voz alta e peça que a turma analise o resultado, comparando-o com o causo do vídeo.
8ª etapa
Organize a classe em trios ou quartetos e selecione um causo para cada um. Explique que a
tarefa é retextualizar outros causos. Para selecionar o material a distribuir, você deve buscar
outros causos na internet, contados por Boldrin ou por outros contadores, como Almir Sater,
que narra A Lenda em https://www.youtube.com/watch?v=jNJJZXodjtU.
Antes de distribuir o material para os alunos, assista aos vídeos previamente para garantir
que o conteúdo é adequado à idade da turma. Providencie cópias da transcrição completa
para que os trios ou quartetos não percam tempo com essa etapa. Durante a
retextualização, é importante circular pela sala, fazendo algumas intervenções diretas e
anotando os aspectos que deverão ser retomados. Encerrada a análise da transcrição e
iniciada a revisão, interrompa o trabalho e recolha as produções.
9ª etapa
Analise as produções dos trios ou quartetos e escolha uma delas que apresente os erros mais
comuns cometidos pelos alunos para apresentá-lo no quadro e promover uma discussão
com toda a turma. Converse sobre a importância dos sinais de pontuação, o tempo verbal, as
marcas da oralidade, as repetições de palavras (oriente para as substituições pronominais e
lexicais) e também sobre as marcas de oralidade mantidas.
10ª etapa
Devolva as produções dos trios ou quartetos com bilhetes, trecho a trecho, se necessário,
para que os estudantes voltem a trabalhar no material, a fim de melhorá-lo. Lembre-se de
fazer anotações que instiguem e direcionem a turma. Evite deixar marcações diretivas ou
correções explícitas.
11ª etapa
A próxima etapa de revisão de cada causo não será feita por nenhum integrante do trio ou
do quarteto e sim por colegas de outros grupos. Esse distanciamento do texto (e a
consequente proximidade com o texto de outra pessoa) é valioso para que as crianças
pensem sobre diferentes formas de escrever, conheçam novos recursos, se deparem com
outros problemas e tenham de resolvê-los. Encerrada essa etapa, providencie a devolução
do material para os grupos e peça que eles finalizem a retextualização. Recolha os causos e
analise o material.
Avaliação
Como tarefa de casa, peça que as crianças procurem entre os familiares e conhecidos,
alguém que conheça um bom causo para contar para a turma e que possa ir até à escola
narrar a história. A tarefa da classe será retextualizar o causo coletivamente. Oriente a
turma a organizar a gravação do causo e discuta com a sala a importância desse
procedimento e os perigos de confiar a tarefa à memória. Características importantes podem
ser perdidos, tal como a variação na entonação da fala do narrador e detalhes sobre o causo.
Encerrada a apresentação do causo, oriente todo o processo de retextualização. Para que a
garotada não perca tempo com o processo de transcrição, lembre-se de entregá-la pronta ao
grupo.
Créditos:
Claudia Tondato
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VERSÃO BETA
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
2 ou 3 aulas
Material necessário
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
A designação material gráfico diverso abrange um conjunto variado de textos nos quais a
linguagem não-verbal está sempre presente (associada ou não à linguagem verbal). Nesse
conjunto encontram-se, por exemplo, propagandas, tiras, charges, fotos, desenhos, esquemas,
gráficos e tabelas. Este tipo de assunto é um dos temas da Prova Brasil.
Inicie a atividade explicando aos alunos que eles farão um exercício de leitura e que o texto
que será objeto desse exercício inclui a linguagem não-verbal. Verifique as hipóteses dos
alunos para o tipo de texto que receberão e aproveite para avaliar seu conceito a respeito das
modalidades verbal e não-verbal. Se necessário, esclareça.
2ª etapa
Apresente os textos e pergunte à classe de que tipo de material gráfico se trata. Se for
necessário, ajude a estabelecer a diferença entre tabela, esquema e gráfico, mencionando
exemplos do cotidiano (tabela de jogos de um campeonato esportivo, esquema da
transmissão de um vírus, gráfico do desmatamento no Brasil etc).
Estimule a classe a refletir sobre a função de materiais gráficos como esse, indagando: em que
suportes eles costumam circular? Eles costumam constituir um texto isolado ou acompanham
outros textos? Qual sua importância?
Chame a atenção da turma para a referência bibliográfica do material em questão e explique
que ele acompanha uma notícia publicada no jornal sobre os resultados de um levantamento
feito por dois pesquisadores.
3ª etapa
Após o primeiro exame do texto pelos alunos, esclareça eventuais dúvidas a respeito dos
termos nele empregados. Convém deixar claro que as "causas externas" reúnem, além de
homicídios, acidentes e outras causas não-naturais. As "causas mal definidas" indicam uma
imprecisão no atendimento médico. O grupo designado por "negros" inclui pretos e pardos.
4ª etapa
Ainda em uma leitura coletiva, proponha questões sobre os elementos básicos de um gráfico:
quem o produziu, o que ele investiga e quantifica e que título lhe foi atribuído. Isso é
importante para que os alunos percebam o que devem levar em conta na primeira abordagem
desse tipo de texto, a fim de realizarem leituras semelhantes de forma autônoma.
Sugestões
a) Qual a fonte do material gráfico publicado no jornal? O que se pode afirmar a respeito de
sua credibilidade?
b) Os gráficos presentes nesse material apresentam o resultado de que investigação?
c) Você julga que os responsáveis por essa investigação tinham uma hipótese a ser
confirmada?
d) Qual é o título geral do material gráfico? Esse título antecipa uma avaliação dos resultados
apresentados?
e) Quais os títulos específicos das duas partes do material gráfico?
Aproveite para ver se os alunos identificam a frase "Homicídios e acidentes matam mais
negros do que brancos" (na parte superior do texto) como um elemento estranho à estrutura
desse tipo de material gráfico, por emitir uma interpretação dos dados apurados. Convém
também certificar-se de que eles compreendem as siglas UFRJ e SUS, mencionadas na fonte do
material gráfico.
5ª etapa
Solicite aos alunos que formem trios de trabalho. Eles devem registrar em seus cadernos
algumas constatações a partir do exame dos dados presentes nos gráficos. Se necessário,
sugira um exemplo, dentre os que se seguem:
a) Entre os homens, os negros morrem mais por homicídios, e os brancos, por doenças.
b) De 1999 a 2005, cada vez menos mulheres brancas morriam por problemas no parto e cada
vez mais negras morriam por esse motivo.
c) Os negros (homens e mulheres) e as mulheres brancas tiveram a mesma taxa de aumento
na morte por HIV/Aids.
d) As mortes por causas mal definidas são mais expressivas entre os negros.
Peça que cada grupo apresente suas observações. Se houver alguma que não se justifica pelos
gráficos, ajude o grupo a rever sua conclusão.
Avaliação
Durante a leitura compartilhada, analise o grau de dificuldade da turma em relação a esse tipo
de material gráfico. Ao longo da apresentação dos grupos, analise a pertinência das
observações feitas.
Além disso, proponha que os grupos respondam por escrito à questão seguinte: Depois de
examinar os gráficos e de refletir sobre o que eles apresentam, que explicação você julga haver
para a diferença entre as causas predominantes na morte de negros e as predominantes na
morte de brancos? Examine posteriormente as respostas dadas e avalie se os alunos fizeram
inferências desejadas, abordando questões econômicas, sociais e históricas.
O diagnóstico obtido por esses três instrumentos vai nortear com que frequência a atividade
com material gráfico diverso deve ser proposta.
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
Cinco aulas.
Material necessário
Livros de antologia da literatura brasileira com os textos selecionados para a atividade: O Asno,
de Ferreira Gullar, A Serra do Rola-Moça, de Mário de Andrade (1893-1945), Máquina Breve,
de Cecília Meireles (1901-1964), e Balada do Amor Através das Idades, de Carlos Drummond
de Andrade (1902-1987). Os textos podem ser encontrados em sites de poesia, como o Jornal
de Poesia.
Desenvolvimento
1ª etapa
Inicie com a sondagem do conhecimento prévio dos alunos sobre o gênero narrativo e, em
especial, sobre o poema narrativo. Pergunte sobre as características desse tipo de poema.
Verifique se eles apontam que é uma história contada em forma de poesia, que existem versos
que podem ou não rimar e que personagens são responsáveis pelas ações contadas em uma
sequência temporal. Continue com a leitura do poema Máquina Breve, de Cecília Meireles.
Depois, leia o poema O Asno, uma fábula de La Fontaine adaptada em versos por Ferreira
Gullar. Peça que os alunos comparem os dois para dizer qual deles é um poema narrativo. Os
versos de Cecília Meireles constituem um poema não narrativo, pois reproduzem um
acontecimento ou um fato isolado, ou seja, não contam propriamente uma história. Quanto à
sequência temporal, destaque o momento estático apresentado, em que apenas é permitido
ao leitor imaginar o passado e o futuro. No caso da produção de Ferreira Gullar, observe que
há uma história sendo contada dentro da estrutura "começo, meio e fim" - que é uma
característica própria de poemas essencialmente narrativos. Peça que a moçada identifique
momentos encadeados entre si, os quais promovem a coesão e a coerência e obedecem a uma
sequência temporal. Solicite a reescrita, em prosa, da obra de Ferreira Gullar, mantendo as
características do texto narrativo (história ocorrida no passado - às vezes, bem recente - e
contada em por meio das ações de personagens, dentro de um sequenciamento temporal).
Depois, peça que alguns estudantes leiam seus textos para a turma. Questione as dificuldades
enfrentadas e comente os trabalhos.
2ª etapa
Apresente o poema A Serra do Rola-Moça, de Mário de Andrade, juntamente com uma breve
biografia do autor, situando-o na estética do Modernismo brasileiro. Proceda uma segunda
leitura em voz alta, dessa vez pedindo que os alunos prestem atenção no desenrolar dos
acontecimentos, no suspense criado desde o início. A essa altura, a garotada já pode concluir
que se trata de um poema narrativo. Solicite que recontem A Serra do Rola-Moça uns para os
outros, ou para a classe, para que percebam diferentes modos eficazes de contar uma mesma
história.
3ª etapa
Apresente o poema Balada do Amor Através das Idades, de Carlos Drummond de Andrade.
Chame a atenção para o fato de que ele conta cinco histórias: quatro de amores frustrados e
uma com final feliz. Esse comentário pode provocar curiosidade ainda maior sobre o objeto de
estudo. Sugira novas leituras do poema: silenciosa e individual ou dramatizada, para toda a
classe. Esclareça as eventuais dificuldades de vocabulário e as menções a fatos históricos
(guerra de Troia, Roma no tempo dos cristãos, a Revolução Francesa, os tempos modernos).
Apresente a proposta de adaptação do poema para o teatro, com a criação de diálogos,
figurinos e cenários, sugerindo a seleção de apenas um episódio ou uma cena para ser
representada. Convém falar um pouco sobre os personagens: o "eu" (que narra) e o "você" (a
quem ele se dirige). Essa característica, que deixa clara a percepção de um público, ajudará na
criação e no fazer teatral.
4ª etapa
Para a encenação, divida as turmas em cinco grupos, de modo que cada um encene uma das
histórias do poema. As tarefas devem ser divididas: alguns criam os diálogos, enquanto outros
pensam e preparam os figurinos e o cenário.
5ª etapa
Apresentação para a classe da dramatização. Em seguida, reserve um momento para a
autoavaliação.
Avaliação
Faça uma avaliação oral. Numa conversa com a turma, procure abordar desde o entendimento
da estrutura do poema narrativo até as características e a criatividade da dramatização. Peça
que cada aluno diga o que aprendeu. Assim, todos compartilharão o aprendizado. Ao longo de
todo o processo, observe os resultados, anotando as conclusões e refletindo sobre a
experiência para subsidiar a elaboração da sua próxima sequência didática.
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Foco narrativo;
Análise literária;
Gênero fantástico;
Comentário;
Paródia
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
Seis aulas
Material necessário
Livro Histórias extraordinárias. Edgar Allan Poe, 272 págs, Companhia das Letras, tel (11)
3707-3500, preço 21 reais
Se possível, um computador ligado à Internet.
Desenvolvimento
1ª etapa
Pergunte aos alunos se eles já ouviram falar do escritor Edgar Allan Poe e se conhecem alguma
obra que ele publicou. Conte à turma a história dele.
Poe nasceu em 1809 e morreu em 1849. Sua obra é vasta em qualidade artística e transita por
diversos gêneros. O autor escreveu desde poemas até novelas, porém os contos são
considerados a parte mais relevante de sua obra. "Crimes na rua Morgue", short story de sua
autoria, inaugura, em 1841, o gênero policial. No entanto, o autor norte-americano pode ser
considerado um escritor fantástico antes de ser contista policial, pois suas obras vão muito
além de tramitações de crimes. Os crimes de Edgar Allan Poe costumam ser envoltos em
situações sobrenaturais, enigmáticas e misteriosas; causando hesitação, curiosidade e
aguçando a perspicácia de seus leitores.
2ª etapa
Peça aos alunos que observem o título Histórias extraordinárias e formulem hipóteses em
relação a ele. Observe que a capa contém a figura de um gato preto e pergunte à turma o que
esse animal sugere.
Faça uma leitura compartilhada do conto "O gato Preto" e depois recolha as impressões gerais.
3ª etapa
Pergunte para a classe por que Edgar A. Poe escolheu um gato preto? Não poderia ser
qualquer outro animal?
O próprio narrador explicita, ao longo de sua narrativa, sua adoração pelos animais. Releia
para a sala:
"Gostava de modo especial dos animais, e meus pais permitiam-me possuir grande variedade
de bichos de estimação. Com eles, gastava a maior parte de meu tempo e nunca me sentia tão
feliz como quando lhe dava comida e os acariciava[...]
Casei-me cedo e tive a felicidade de encontrar em minha mulher um caráter não oposto ao
meu.[...] Tínhamos pássaros, peixes dourados, um lindo cachorro, coelhos, um macaquinho e
um gato. (Poe, E.A, p.70)"
Peça que os alunos formulem hipóteses oralmente para a escolha do gato preto. Depois de
discuta o tema com a classe, conte a eles algumas histórias sobre as superstições envolvendo a
figura do gato preto.
Gato preto
O grego Heródoto (484-425 a.C), considerado "o pai da História", afirmava que os egípcios
antigos eram "os mais escrupulosamente religiosos de todos os homens". Entre eles, a religião
estava presente em qualquer um dos aspectos da vida, e na origem dos deuses encontrava-se
razão para divinização de diversos animais, entre os quais o crocodilo, o cão ou o gato, este um
animal doméstico que se transformou em cosmopolita porque é o único felino que vive
espontaneamente na residência dos homens.
Mas seus hábitos noturnos, decorrentes provavelmente da preferência pela caça não só de
ratos, como também de répteis, pequenas aves e até mesmo a apanha de peixes, quando ela é
possível, fizeram nascer e crescer na Idade Média a idéia de que ele tinha parte com o
demônio, principalmente se fosse preto, porque essa era a cor que simbolizava as trevas onde
o diabo vivia. E essa crença chegou a tal ponto que o papa Inocêncio VIII (1432-1492) não
hesitou em incluí-lo na lista dos "mais procurados" pelo tribunal eclesiástico conhecido como
Inquisição, responsável pela condenação, mutilação e morte de um número indeterminado de
homens e mulheres acusados da prática de bruxaria, feitiçaria ou heresia.
São muitas as histórias sobre a fama negativa dos gatos. Numa delas, diz-se que em certa noite
de 1560, um deles, de cor negra, foi perseguido a pedradas por algumas pessoas. Machucado,
ele procurou refúgio na casa de uma velha senhora que costumava abrigar esses animais sem
dono. No dia seguinte, os moradores da Lincolnshire - cidade inglesa onde supostamente
ocorreu o caso - perceberam que a anciã também apareceu machucada, surgindo daí a
conclusão de que ela era uma bruxa, e de que a forma de gato nada mais era que seu disfarce
noturno. Também na França os gatos não tinham boa vida. Mas em 1630 o rei Luis XIII (1601-
1643) resolveu amenizar o dia a dia desses felinos proibindo que fossem perseguidos. Uma
outra história conta que Charles I (1600-1649), rei da Inglaterra, acreditava que seu gato preto
lhe trazia boa sorte, e seu medo de perdê-lo era tanto que o mantinha dia e noite sob
vigilância. Um dia depois da morte do gato, ele foi preso e em seguida executado.
Na mitologia escandinava, uma lenda sobre Freia, ou Freija, deusa do amor e patrona da
fecundidade, diz que sua carruagem era puxada por dois gatos pretos que depois de servi-la
por sete anos transformavam-se em feiticeiras. Tempos depois, já na Idade Média, esses
felinos foram associados ao demônio, e por serem animais de atividade predominantemente
noturna, criaram em torno de si a ideia de que além de sobrenaturais e servidores de bruxas,
ou até mesmo as próprias bruxas, eram também possuidores de poderes apavorantes e
personificação do mal e do mistério, daí porque qualquer coisa de ruim que acontecesse, a
culpa lhes era sempre atribuída. A história também revela que em tempos passados a punição
por determinados crimes incluía a extirpação da língua do condenado, sendo esse órgão dado
em seguida aos animais. Quem garante que não tenha se originado daí a frase "O gato comeu
sua língua?".
Muito embora os gatos domésticos não sejam mencionados na Bíblia, a lenda assegura que
eles foram criados quando em determinado momento a Arca de Noé ficou infestada de ratos.
Para resolver o problema, Noé ordenou que o leão espirrasse, e foi desse espirro que se
formou o gato.
http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=115930
Pergunte à turma se eles sabem o que é "superstição". Tente chegar, junto com os alunos, a
uma definição. Ex: Superstições são crenças sobre relações de causa e efeito que não se
adequam à lógica formal, nem ao pensamento racional.
4ª etapa
Como vimos, o narrador é também personagem. É do seu ponto de vista que tudo é visto e
narrado. Sendo assim, narra de um centro fixo, limitado às suas percepções, pensamentos,
sentimentos, crenças, superstições e, quiçá, delírios.
Releia com a classe fragmentos que possam nos levar a desconfiar do narrador, como, por
exemplo, a introdução do conto:
"PARA A NARRATIVA MUITO ESTRANHA, embora familiar, que ora começo a escrever, não
espero nem peço crédito. Louco, na verdade, seria eu se o esperasse num caso em que meus
sentidos rejeitam seu próprio testemunho."
Em "O gato preto", o foco narrativo em 1ª pessoa foi importantíssimo para acentuar o mistério
que paira sobre a história. O leitor não dispõe de meios para avaliar a veracidade do
depoimento, já que tudo é contado pela ótica do narrador, que, já na introdução do conto,
aponta para uma ambivalência de sua história: real ou irreal? Loucura ou verdade?
Extraordinário ou doméstico? É essa ambivalência um dos recursos da condução do conto para
o gênero fantástico.
5ª etapa
Conceito de Fantástico
O poeta José Paulo Paes (1996), tradutor de Histórias extraordinárias, explica-nos o que vem a
ser uma narrativa fantástica:
Se você se der ao trabalho de ir até o dicionário para saber o que quer dizer fantástico, vai
verificar que essa palavra designa tudo quanto seja fantasioso, fantasmagórico, mero produto
da imaginação. Em suma, o oposto do real. Real, por sua vez, não é apenas aquilo cuja
existência pode ser comprovada pelos nossos sentidos, mas sobretudo aquilo que ninguém
põe em dúvida seja verdadeiro.
Quando uma narrativa explora a oposição entre o real e o fantástico, diz-se que é uma
narrativa fantástica[...]
Num conto fantástico, em nenhum momento o leitor perde a noção da realidade. Por não
perdê-la é que lhe causa surpresa o acontecimento ou acontecimentos estranhos, fora do
comum ou aparentemente sobrenaturais que de repente parecem desmentir a solidez do
mundo real até então descrito no conto. Nesse momento de surpresa e de perplexidade, está
o próprio sal da literatura fantástica. Daí um dos seus estudiosos, Tzvetan Todorov, a ter
definido como aquela que provoca, no espírito do leitor, uma dúvida insolúvel entre uma
explicação natural e uma explicação sobrenatural para os estranhos fatos que ele narra.
In: Edgar Allan Poe ET alii. Histórias fantásticas. São Paulo: Átiva, 1996. P-3-4.
6ª etapa
Se tiver acesso à Internet, assista com a turma a animação "O gato preto". Há, no mesmo site,
outras releituras do conto que podem ser mostradas aos alunos.
Avaliação
Proponha aos estudantes uma avaliação por meio da escrita criativa. Peça que os alunos criem
uma paródia do conto "O gato preto", de Edgar Allan Poe, na perspectiva do gato.
Paródia
Objetivos:
a) Desenvolver a habilidade de produzir uma paródia, de forma coesa e coerente;
b) Exercitar a habilidade de usar Foco Narrativo.
Ofereça a eles um fragmento inicial do texto (pode ser o fragmento abaixo ou um de sua
própria autoria) e peça que concluam a narrativa.
Vou contar uma história - e não se admire por isso, pois os animais falam desde os tempos de
Esopo. Não seria eu agora que me calaria diante de fatos tão horrendos. A verdade é que sofri,
não só por mim, mas pela minha dona. Que mulher! Você já sabe, não preciso dizer o quanto
ela era dócil, o quanto tinha predileção por animais. Em nossa companhia, existiam pássaros,
peixes dourados, cachorro, coelhos, um macaquinho. Porém, eu era o seu maior amor. Sim, ela
me amava.
- E ele?
Quando fui morar naquele mausoléu, recebi, no início, amor incondicional. Quer dizer,
pensava que era. Mal sabia eu que tudo não passava de uma grande cilada.
- Uma cilada?
Sim, fazia parte de seu plano diabólico. Meus pelos se eriçam só de pensar que um dia o amei.
Caí na armadilha. Deu-me demonstrações de afeto, eu acreditei. Vivia a seus pés, seguia-o a
qualquer parte da casa. E não me diga que era a bebida. Hoje eu sei que ele já era mau. O
álcool só lhe deu coragem para concretizar seu plano diabólico.
- Conte-me tudo.
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Forma literária;
Paráfrase, análise e interpretação; Ditadura Militar no Brasil.ção,>
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
Cinco aulas.
Material necessário
- Livro O Nariz e Outras Crônicas. Luís Fernando Veríssimo, 112 págs, Editora Ática, Coleção
Para Gostar de Ler, tel (11) 3990-1612, preço 26,90
- Se possível, um computador ligado à Internet.
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
Esta é a quinta de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura
literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Sondagem oral
Pergunte se os alunos já ouviram falar do cronista Luís Fernando Veríssimo. Conhecem alguma
obra que ele publicou? E sobre Crônica, já ouviram falar?
A partir desta primeira sondagem, inicie sua aula, apresentando à turma o escritor, bem como
o gênero crônica. Se julgar necessário, entregue aos alunos o texto do boxe abaixo.
Luís Fernando Veríssimo se firmou como escritor por meio da profissão de jornalista. A partir de 1970,
começou a escrever crônicas para o jornal Folha da Manhã e logo se consagrou como escritor.
A definição do gênero Crônica até hoje é uma questão polêmica. Segundo o autor Jorge de Sá, no
livro A Crônica, a aparência de simplicidade "decorre do fato de que a crônica surge primeiro no
jornal, herdando a sua precariedade, esse seu lado efêmero de quem nasce no começo de uma leitura
e morre antes que se acabe o dia, no instante em que o leitor transforma as páginas em papel de
embrulho, ou guarda os recortes que mais lhe interessam no arquivo pessoal. O jornal, portanto,
nasce, envelhece e morre a cada 24 horas. Nesse contexto, a crônica também assume sua
transitoriedade, dirigindo-se inicialmente a leitores apressados, que leem nos pequenos intervalos da
luta diária, no transporte ou no raro momento de trégua que a televisão lhes permite. Sua elaboração
também se prende a essa urgência: o cronista dispõe de pouco tempo para datilografar o seu texto,
criando-o, muitas vezes, na sala enfumaçada de uma redação. Mesmo quando trabalha no conforto e
no silêncio de sua casa, ele é premiado pela correria com que se faz um jornal, o que acontece mesmo
com suplementos semanais, sempre diagramados com certa antecedência.
No livro "O Nariz", de Luis Fernando Veríssimo, há uma crônica intitulada "Ela". Peça que os
alunos anotem individualmente suas ideias a respeito deste título. O que ele deve significar?
2ª etapa
Leia com a turma o conto "Ela" e peça que os alunos comentem suas impressões gerais. Em
seguida pergunte se, após a leitura, as ideias que tinham a respeito do significado do título
"Ela" se mantiveram ou foram alteradas? Justifique.
Década de 1970
antesdachuva.zip.net
Na década de 1970, o Brasil ainda vivia sob o peso da ditadura militar e do Ato Institucional No 5. Não
havia liberdade de imprensa e os opositores ao regime eram perseguidos e torturados.
Sob interesse dos governos militares e aproveitando o milagre econômico e a vitória da seleção
brasileira em 1970, surgiam slogans e canções ufanistas como "Brasil, ame-o ou deixe-o" e "pra frente
Brasil"
Em aulas expositivas dialogadas, analise a crônica "Ela" com a turma, obedecendo aos
procedimentos de análise literária organizados abaixo:
1) Paráfrase:
A paráfrase é a primeira parte da análise. Ela é um resumo do enredo, um "contar a história
com as suas próprias palavras", por isso deve ser curta e objetiva, deve resumir-se apenas ao
essencial.
Exemplo:
A crônica "Ela" conta a história da influência crescente da televisão na vida de uma família
brasileira, entre as décadas de 1960 e 1970.
Confirme se a sala está de posse dessa compreensão mínima. Caso não esteja, retome a leitura
compartilhada.
2) Análise:
Analisar é "desmontar" o texto, é verificar quais são as partes que o compõe e como elas se
articulam. Cada obra literária tem inúmeros elementos que, articulados, a constituem. A ideia
não é investigar todos - nem seria possível - mas apenas alguns. Quais? A análise deve
construir argumentos que sustentem a interpretação. É ela que vai conduzir o leitor através do
seu raciocínio.
Não podemos nos esquecer também que, em arte, forma é conteúdo. Por isso, é preciso
ressaltar a contribuição que alguns aspectos formais possam vir a ter na economia da crônica.
O que são aspectos formais? São elementos que se referem menos diretamente a o que está
sendo dito e mais ao como está sendo dito. O tipo de narrador, a caracterização de algum
personagem, o tempo, o espaço e o tipo de discurso são alguns dos elementos formais que
podem ser fundamentais para desvendar mistérios.
Ao observar a crônica escolhida, é fácil perceber algo que, em sua forma, lhe chame a atenção.
Por exemplo, o fato de a crônica "Ela" possuir inúmeras referências históricas não pode passar
despercebido. Partindo do princípio que o escritor Luís Fernando Veríssimo domina
plenamente a sua arte, devemos acreditar que tais referências contribuem para o sentido do
texto.
Outro elemento formal que chama atenção é o fato de o pronome pessoal "ela" sugerir, desde
o título, uma personificação do objeto televisor. Tal personificação, que se intensifica ao longo
do texto, também é produtora de sentido.
Existem inúmeros elementos passíveis de análise em uma boa obra literária. Se tivermos um
olhar atento no que se refere à forma, então já será possível traçar um caminho seguro pelo
qual nossa análise pode seguir. Retomemos o tema depois.
Exemplo de análise
O título da crônica "Ela", por ser um pronome pessoal, sugere que a narrativa vai falar de uma pessoa
do sexo feminino. Tal sugestão é intensificada nas primeiras frases:
"Ainda me lembro do dia em que ela chegou lá em casa. Tão pequenininha! Foi uma festa."
"Botamos ela num quartinho dos fundos. Nosso filho - naquele tempo só tínhamos o mais velho - ficou
maravilhado com ela. Era um custo tirá-lo da frente dela para ir dormir."
Note que foram usadas citações de trechos da crônica. Isso não só é possível como geralmente é
muito útil. Quanto mais sua análise der voz ao texto, melhor.
Então a crônica realiza uma primeira quebra de expectativa com efeito de humor: percebemos que se
trata de um aparelho de TV.
"- Eu não ligava muito pra ela. Só pra ver um futebol, ou política. Naquele tempo tinha política. Minha
mulher também não via muito. Um programa humorístico, de vez em quando. Noites Cariocas...
Lembra de Noites Cariocas?- Lembro. Vagamente. O senhor vai querer mais alguma coisa."
A partir do trecho acima, a crônica de Luís Fernando Veríssimo diz a que veio: temos a percepção de
que o narrador-personagem narra sua história em diálogo com um interlocutor que, provavelmente,
é um garçom que não parece muito disposto a escutá-lo. Temos uma referência ao golpe militar de
1964 ("Naquele tempo tinha política.") e podemos deduzir que os acontecimentos narrados têm início
antes do Golpe e o narrador fala ao garçom ainda durante a repressão. Temos também, completando
a referência temporal, a alusão a um programa televisivo de 1961: "Noites Cariocas".
3) Comentário:
O comentário se faz necessário no momento em que a análise solicita informações externas à
obra literária para elucidar seu sentido profundo. Isso porque a Literatura, apesar de sua
relativa autonomia, faz parte do tecido social em que está inserida. Como explica Antonio
Candido no livro Na sala de aula: caderno de análise literária, as "circunstâncias de sua
composição, o momento histórico, a vida do autor, o gênero literário, as tendências estéticas
de seu tempo, etc. Só encarando-a assim teremos elementos para avaliar o significado da
maneira mais completa possível (que é sempre incompleta, apesar de tudo)". Nessa crônica as
referências à história do Brasil são de fundamental importância para a compreensão do leitor.
4) Continuação da análise:
A partir de então o narrador conta que a família comprou um aparelho maior e o mudou para a copa,
interferindo nos hábitos da família. Note que ele jamais deixa de personificar a televisão:
"Aí ela já estava mais crescidinha. Jantávamos com ela ligada, porque tinha um programa que o
garoto não queria perder. (...) A empregada também gostava de dar uma espiada. José Roberto Kelly."
Aqui vale recorrer novamente ao comentário: Na entrada dos anos 60, a popularização dos desfiles de
carnaval marcou o início da ascensão do samba-enredo e o declínio da marchinha e dos blocos. José
Roberto Kelly foi um dos últimos compositores que brilharam no gênero, com Cabeleira do Zezé e
Mulata Iê-Iê-Iê., antes do Ato Institucional no 5, de 1968.
A narrativa continua contando como a televisão muda os hábitos da casa do narrador, assim como os
da família brasileira: sua mulher começa a seguir apaixonadamente as telenovelas.
"Foi então que surgiu um personagem novo nas nossas vidas que iria mudar tudo. Sabe quem foi?
- Quem?
- O Sheik de Agadir. Eu, se quisesse, poderia processar o Sheik de Agadir. Ele arruinou meu lar."
Conforme o tempo passa e as novelas despertam interesse da família, a TV avança da copa para a sala
de visitas, interferindo na vida social do casal. O narrador passa a marcar o tempo em função das
telenovelas:
"- Nosso filho menor, o que nasceu depois do Sheik de Agadir, não saía da frente dela. Foi
praticamente criado por ela."
Note que, à medida em que aumenta a influência do televisor, o recurso à personificação o torna
cada vez mais humano e imperativo, enquanto a família, por sua vez, vai se tornando cada vez mais
objetificada:
"Minha mulher sucumbiu às novelas. Não queria mais sair de casa." "Ninguém conversava dentro de
casa." "Agora todos jantam na sala para acompanhá-la."
A situação chega ao limite com a novela Dancin´Days, de 1978, quando a esposa muda a decoração da
sala para combinar com a maquiagem de Júlia -a atriz Sônia Braga. O narrador/personagem pede à
família que escolha entre ele e a TV, mas a família responde com um terrível silêncio. Quanto mais ele
deseja contar sua história, menos seu interlocutor deseja escutá-lo, com pressa de fechar o bar:
"_ Está bem. Mas agora vá para casa que precisamos fechar. Já está quase clareando o dia..."
Então a crônica entra no registro da fantasia, com o pai de família tentando desligar a televisão como
quem comete um assassinato.
"Se tocar em mim, você morre". Uma voz feminina, mas autoritária, dura. Tremi. Ela podia estar
blefando, mas podia não estar."
Finalmente a crônica termina com a narrativa do fracasso do homem em se livrar do terrível aparelho.
6) Interpretação:
A interpretação corresponde à questão "do que fala o texto?". Ela é a exposição do sentido
profundo da obra literária. É ele que estamos buscando desde o início. Quando analisamos,
queremos saber o que está dito por meio dos silêncios, nas entrelinhas; o que se origina da
relação íntima entre forma e conteúdo. Se na análise desmontamos o texto em partes, na
interpretação temos de reorganizá-lo como um todo, um todo de sentido capaz de reunir
forma e conteúdo. Afinal, do que fala a crônica de Luís Fernando Veríssimo?
Exemplo de interpretação
"Ela" narra a influência desagregadora da televisão na vida de uma família entre as décadas de 60 e
80. Mais que isso, as inúmeras referências históricas presentes na crônica permitem traçar um
paralelo entre a família do narrador e a família brasileira. O humor crítico de L. F. Veríssimo mostra
como a população brasileira se aliena diante da cultura de massa televisiva, tornando-se coisa,
enquanto a televisão, personificada, torna-se gente.
Avaliação
Peça aos alunos que busquem as referências de alienação e cultura de massas no conto "Auto-
Entrevista". Pode ser um trabalho para casa.
Bibliografia
Na sala de aula: caderno de análise literária. Antonio Candido, Editora Ática, 1993, p. 33.
Internet
Objetificação, Coisificação ou Reificação
Personificação ou Prosopopéia
Narração e tempo do narrado, ver sequência do 6º ano: "Os cavalinhos de Platiplanto".
Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Intertextualidade;
Paródia;
Paráfrase, análise e interpretação;
Eu lírico ou Eu poético.
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
Quatro aulas
Material necessário
Livro Belo Belo e outros poemas. Manuel Bandeira, 48 págs, José Olympio, tel (21) 2585 2000,
preço 32 reais
Poema O Adeus de Teresa, de Castro Alves
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
Esta é a sétima de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura
literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Teresa
1) a) O que fala o poema? Faça uma "paráfrase", ou seja, explicite seu conteúdo no nível mais
literal possível.
Na paráfrase, o leitor deve ater-se ao que as palavras significam literalmente, no seu sentido usual,
como se estivessem fora de contexto. Quando interpretamos um poema, buscamos o figuradseu
sentido, aquele que só existe em situações não usuais. Para isso, temos que ler nas entrelinhas.
Assim, literalmente o poema Teresa apresenta um Eu-Lírico que observa Teresa em três
momentos diferentes e, em cada um deles, obtém uma impressão diversa.
2) Do que fala o poema? Arrisque uma interpretação do sentido figurado, das entrelinhas de
Teresa.
O poema figura uma aproximação amorosa entre o Eu-lírico e Teresa. Num primeiro momento, ele
rejeita a sua aparência física; num segundo momento, se interessa pelo seu olhar; por fim, se
apaixona cegamente.
Verifique se a classe conseguiu atingir o sentido figurado do poema. Mostre a eles que, para
entendê-lo por completo, é preciso analisar a intertextualidade por traz dele.
2ª etapa
Na primeira estrofe, o Eu-lírico conta que, quando viu Teresa pela primeira vez, achou-a estúpida.
Note que primeiro ele olha para as pernas - o que pode sugerir que ela seja mais alta que ele - e
depois para o rosto. A escolha da palavra "cara" sugere também um Eu-lírico de pensamento infantil,
pois a perna é estúpida e Teresa tem cara de perna.
Na segunda estrofe, percebemos uma mudança de olhar do Eu-lírico sobre Teresa: ele atenta para o
olhar da moça - não para os olhos ou para a "cara" - e reflete sobre sua maturidade.
Na última estrofe, as palavras são empregadas no sentido figurado com mais opacidade. A metáfora
utilizada por Bandeira exige reconhecimento da intertextualidade com o texto bíblico do Gênesis, em
que é descrita a versão cristã para a criação do Universo.
3ª etapa
Análise intertextual
É importante reforçar que antes da criação do céu e da terra, havia apenas um universo
caótico e sem forma, e que as ações nas narrativas sobre a Origem se dão no sentido de
ordenar esse caos.
Cabe reforçar também que a explicação científica para a origem do Universo só se tornou
hegemônica na Europa, no século XIX. Antes disso, o homem produzia explicações mitológicas,
a fim de dar sentido aos fenômenos que nos cercam. A essas explicações, damos o nome de
mito.
4ª etapa
Interpretação
Retome a discussão da aula anterior e a última estrofe de Teresa. Peça que os alunos busquem
no poema os versos que remetem à explicação cristã para a criação do Universo. Em seguida,
perguntar o que muda do fragmento bíblico para os versos de Bandeira.
Podemos deduzir que o Eu-lírico se apaixona por Teresa na terceira estrofe. No verso "Na
terceira vez não vi mais nada", o poema dialoga com uma metáfora da fala cotidiana - estar
cego de paixão, ou "o amor é cego". Os dois últimos versos confirmam a paixão na medida em
que parodiam o texto bíblico, invertendo a ordenação divina em desordem passional. Mais
ainda, o encontro do céu e da terra sugere o enlace erótico de forma sublimada.
Não há maneira de se estudar a paródia sem mencionar o nome de Mikhail Bakhtin. Em Problemas da
poética de Dostoievski, Bakhtin (2005) afirma que, por meio dos diálogos interdiscursivos presentes
no discurso dostoievskiano, é possível constatar dois fenômenos: a estilização e a paródia. Na
estilização, o autor emprega o discurso de um outro e movimenta-o sem negar os princípios do
discurso modelar. No entanto,
É diferente o que ocorre com a paródia: nesta, como na estilização, o autor fala a linguagem do outro,
porém, diferentemente da estilização, reveste esta linguagem de orientação semântica oposta à
orientação do outro. A segunda voz, uma vez instalada no discurso do outro, entra em hostilidade com
o seu agente primitivo e o obriga a servir a fins diametralmente opostos. O discurso se converte em
palco de luta entre duas vozes. Por isso, é impossível a fusão de vozes na paródia, como o é possível na
estilização ou na narração do narrador. (BAKHTIN, 2005, p.194).
A paródia, como modalidade interdiscursiva, conta sempre com o leitor. Jenny (1979), ao discutir a
importância do leitor na percepção da intertextualidade, afirma que cada referência comporta duas
possibilidades de leitura: em uma, o discurso de outrem é encarado como "parte integrante da
sintagmática do texto", sem que o leitor se preocupe em desvendá-lo. Em outra, as menções poderão
ser investigadas e o leitor compreenderá o sentido provocado pela referência intertextual. Nesse tipo
de leitura, exige-se um maior grau de preparo do leitor.
Avaliação
No site do Brasil Escola, você encontra mais informações sobre sentido literal e figurado
Para saber mais sobre intertextualidade, leia "Intertextualidade, norma e legibilidade", de Gerard
Vigner
Literatura na escola - 7º ano: Romance de José J. Veiga
Publicado por
Objetivo(s)
Ano(s)
6º
7º
8º
9º
Tempo estimado
Dez aulas
Material necessário
- Livro Sombras de reis barbudos. José J. Veiga. São Paulo: Difel, s/d.
Desenvolvimento
1ª etapa
Introdução
Esta é a oitava de uma série de 16 sequências didáticas que formam um programa de leitura
literária para o Ensino Fundamental II. Veja, ao lado, o conteúdo completo.
Antecipação/Motivação/Sensibilização
José J. Veiga
José Jacinto Pereira Veiga (1915-1999) nasceu em Corumbá, uma pequena vila a 150
quilômetros de Goiânia, em Goiás. Dizia dever a escolha de seu nome literário à ajuda de
Guimarães Rosa que, com argumentos numerológicos e estilísticos, sugeriu José J. Veiga, na
altura da publicação do livro de estreia "Os Cavalinhos de Platiplanto", em 1959. Depois dessa
obra vieram: A hora dos ruminantes (1966), A máquina extraviada (1968), Sombras de reis
barbudos (1972), Os pecados da tribo (1976), Professor Burrim e as quatro calamidades (1978),
De jogos e festas (1980), Aquele mundo de Vasabarros (1981), Torvelinho dia e noite (1985), A
casca da serpente (1989), Tajá e sua gente (1985), Relógio belisário (1996).
Em 1997 recebeu o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra. Faleceu aos 84 anos,
em 1999. Seus livros foram lançados também nos Estados Unidos, Inglaterra, México, Espanha,
Dinamarca. Suécia, Noruega e Portugal.
Explique aos alunos que os dados biográficos interessam-nos para conhecer um pouco da vida
do autor, quantas obras escreveu, quais prêmios ganhou. Deixe claro que uma análise literária
que leva apenas em consideração a vida do autor, tende ao equívoco, já que o escritor é
decisivo só no momento da escritura. Depois de a obra estar pronta, ela fala por si só. O autor
apenas cria, imagina a história, as personagens, o cenário e cria alguém responsável pelo ato
de narrar: o narrador. Sendo assim, como afirma o contista Dalton Trevisan (Record, 1979),
"nada tem a dizer fora dos livros. Só a obra interessa, o autor não vale o personagem. O conto
é sempre melhor que o contista."
Peça que os alunos respondam oralmente. A partir do título "Sombras de reis barbudos", o que
você espera da história?
Em seguida, faça uma leitura compartilhada do capítulo 1 do livro, "A chegada", seguida de
troca de impressões gerais.
2ª etapa
"Está bem, mãe. Vou fazer a sua vontade. Vou escrever a história do que aconteceu aqui desde
a chegada de tio Baltazar. Sei que esse pedido insistente é um truque para me prender em
casa, a senhora acha perigoso eu ficar andando por aí mesmo hoje, quando os fiscais já não
fiscalizam com tanto rigor. Talvez seja mesmo uma boa maneira de passar o tempo, já estou
cansado de bater pernas pelos lugares de sempre e só ver essa tristeza de casas vazias, janelas
e portas batendo ao vento, mato crescendo nos pátios antes tão bem tratados, lagartixas
passeando atrevidas até em cima dos móveis, gambás fazendo ninho nos fogões apagados, se
vingando do tempo em que corriam perigo até no fundo dos quintais."
- Quem é o narrador desse fragmento? Ele participa da história? Como você o caracteriza?
- O narrador conta os fatos no momento em que eles ocorrem ou após algum tempo? Retire
do texto fragmentos que comprovem sua resposta.
Se possível, prepare um quadro no qual o aluno, retirando exemplos da obra, consiga visualizar
a presença dos dois tempos: o da narração e o do narrado. Apresente alguns exemplos e peça
que o aluno complete a tabela.
Tempo da narração Tempo do narrado
Mas a história que vou contar começa [...]¿ Coma qualquer coisa e venha falar com
mesmo é com a chegada de tio Baltazar ele. Ele tem uma surpresa para você [...]
Comente com a turma que, por meio da análise, percebemos que quem nos conta os fatos é
um narrador em 1ª. pessoa que, como foi dito, a pedido da mãe, resolve contar a história do
que aconteceu em sua cidade desde a chegada de tio Baltazar. Assim, via memória, recupera
os fatos vividos por ele. Aqui, como em "A Ilha dos Gatos Pingados" e "Cavalinhos de
Platiplanto" (ver sequência didática - 6º ano- Contos de José J. Veiga) há uma diferença entre o
tempo da enunciação e o tempo do enunciado.
- Por que Lucas resolve escrever suas memórias? Qual sua percepção em relação à cidade?
3ª etapa
Após ler os capítulos com os alunos, ressalte que, como a história é narrada em um momento
diferente dos fatos vividos, o narrador mostra-se mais maduro. Por esse motivo, à medida que
rememora os fatos, tece comentários a respeito deles. Observe:
"É curioso como certas coisas vão acontecendo em volta da gente sem a gente perceber, e
quando vê já estão aí firmes e antigas" (p. 7)
"Meu pai vivia correndo naqueles dias; se ele soubesse para onde estava correndo teria
moderado o passo." (p. 13)
No decorrer dos três primeiros capítulos o narrador, já mais maduro, demonstra não saber de
todos os fatos que sucederam. Veja:
"Como foi eu não sei direito. Só sei que houve uma briga no cartório [...]"
"Pelas conversas aqui em casa fiquei sabendo que a grande dificuldade era o capital"
"Até hoje não sei o que aconteceu entre eles no início para gerar tanta prevenção"
- A que fator você atribui a falta de conhecimento de Lucas sobre os fatos relatados?
- Levando em consideração o não-conhecimento de Lucas em relação a todos os fatos, pode-se
dizer que o relato é confiável?
Leia o fragmento a seguir:
Quando tio Baltazar começa a falar no projeto da Companhia meu pai se mudou para as
nuvens.
4ª etapa
Em classe, entregue as seguintes questões e peça aos alunos que respondam por escrito:
De repente os muros, esses muros. Da noite para o dia, eles brotaram assim retos, curvos,
quebrados, descendo, subindo, dividindo as ruas, tapando vistas, escurecendo, abafando. Até
hoje, não sabemos se eles foram construídos aí mesmo nos lugares ou trazidos de longe já
prontos e fincados aí.
No princípio quebrávamos a cabeça para achar o caminho de uma rua à rua seguinte, e
pensávamos que não íamos nos acostumar; hoje podemos transitar por toda parte até de
olhos fechados, como se os muros não existissem.
Discuta a questão da resignação. Mostre à sala que, por medo, as pessoas desistiam de lutar,
aceitavam tudo sem questionar, a ponto de não estranharem mais a opressão.
- Arrisque uma interpretação: por qual motivo aparecem muros na cidade? O que eles
significam?
- Após a construção dos muros, surge a figura do fiscal. Qual era seu papel?
- Ainda no início do capítulo 4, o narrador menciona o respeito que o pai obteve com o cargo
de fiscal. O respeito obtido é o mesmo que tio Baltazar recebia da população? Por quê?
- No cargo de fiscal, Horácio tinha algumas funções. Quais eram elas?
Observe para a sala como os muros impediam que os cidadãos de Taitara soubessem o que
acontecia na cidade. A falta de visão, imposta por eles, cria nos habitantes o hábito de olhar
para cima, para os urubus que a sobrevoavam. Observá-los passa a ser a única distração das
pessoas. Por esse motivo, compram binóculos, lunetas e telescópios.
No dicionário, ou seja, em seu sentido literal, urubu é a designação dada a várias aves
rapinadoras, da família dos Catartídeos, que circulam no ar à procura de carniça, de que
unicamente se alimentam.
Comente com os alunos que qualquer liberdade era aniquilada pela Companhia, pois nada
poderia fugir ao seu controle, ainda que fosse um simples divertimento.
5ª etapa
Nossa vida voltou à triste rotina de fitar muro, contornar muro, praguejar contra muro ¿ e
esperar por algum acontecimento indefinido que nos tirasse desse molde. Os dias se
emendavam iguais, de tão iguais se confundiam e pareciam um só. Tínhamos caído em um
desvio onde a ideia de tempo não entrava, a vida era uma estrada comprida sem margens nem
marcos, estar aqui era o mesmo que estar ali, o hoje se confundia com o ontem e o amanhã
não existia nem em sonho; nós esperávamos qualquer coisa, mas já nem sabíamos se era para
adiante ou para trás.
- O que representa a possibilidade de ver o mágico, Grande Uzk, na rotina dos moradores?
- O que Grande Uzk fez de tão sensacional?
- Como os moradores saíram do espetáculo?
Mas a verdade é que o Grande Uzk ajudou muito a nossa vida, e sem ele ficou mais difícil
aguentar a realidade. Depois que ele foi embora levando suas mágicas naquelas canastras
enormes, as pessoas andavam pelas ruas como sonâmbulas, indiferentes, desinteressadas,
esbarrando umas nas outras, pisando as botinas engraxadas dos fiscais e pagando caro pela
distração.
- A vinda do mágico à cidade não é comprovada, parece ser mais um desejo coletivo, uma via
de escape daquela realidade tão amarga. Que fragmentos do romance põem em dúvida a
existência de Grande Uzk.
- Por que o narrador afirma que sem a presença do mágico ficou mais difícil enfrentar a
realidade?
- Depois que o mágico foi embora, a Companhia caprichou na vingança pelos dias de
encantamento junto de Grande Uzk. Que atitude ela tomou?
Ainda no capítulo 6, Horácio (pai de Lucas) começa a se aproximar do filho. Observe:
Não cheguei a abraçá-lo e até beijá-lo porque me faltava com ele a intimidade que eu tinha
com mamãe. Mas naquele momento eu o vi como pai mesmo. "Felizmente gorou. Um mal que
veio para bem." Ele parecia aliviado. Talvez não fosse difícil nos entendermos como amigos se
ele deixasse mesmo o emprego. [...]
- Qual era a postura do pai de Lucas antes dessa tentativa de aproximação?
Explicar para o aluno que a personagem Horácio é esférica, possui uma complexidade
psicológica. Como mote para as discussões, leia o fragmento a seguir, se possível o entregue
aos alunos:
Para Forster, "as personagens, flagradas no sistema que é a obra, podem ser classificadas em
planas e redondas. As personagens planas são construídas ao redor de uma única ideia ou
qualidade. Geralmente, são definidas em poucas palavras, estão imunes à evolução no
transcorrer da narrativa, de forma que as suas ações apenas confirmem a impressão de
personagens estáticas, não reservando qualquer surpresa ao leitor. [...]
As personagens classificadas como redondas, por sua vez, são aquelas definidas por sua
complexidade, apresentando várias qualidades ou tendências, surpreendendo
convincentemente o leitor. São dinâmicas, são multifacetadas, constituindo imagens totais e,
ao mesmo tempo, muito particulares do ser humano
(Brait, Beth. A personagem . São Paulo: Ática, 1985)
6ª etapa
Peça que os alunos respondam por escrito. Pode ser uma atividade em dupla.
- Ao longo desses capítulos, o pai tenta mudar de vida e instalar um armazém. Porém, a
instalação não acontece de forma fácil. Por quê?
- Há mudança no tratamento dispensado ao pai de Lucas pelas pessoas que antes o
respeitavam? Por qual motivo?
A cidade viveu dias intensos de chuva. A tal ponto de ninguém conseguir sair de casa. Quando
a chuva passou e o Sol voltou a brilhar, Taitara pareceu até mais feliz. Veja:
As ruas lavadas davam à cidade um aspecto renovado, e se não fossem os muros, sempre em
pé, sempre antipáticos, podia-se pensar que o tempo feliz não tardaria. Nas praças e jardins,
nos quintais, nos pátios as plantas brotavam com um viço impressionante, e a quantidade de
borboletas que apareceram de repente, como nascidas do contato do sol com a umidade da
terra, deixava todo mundo intrigado mas contente com o colorido benfazejo. O tempo feliz
estava no ar. A alegria era tanta que íamos esquecendo a Companhia.
- Como tentativa de proibir qualquer liberdade e alegria, novas proibições foram impostas pela
Companhia. Quais são elas?
7ª etapa
Retome com o aluno o fato de o tempo da narração ser diferente do tempo do narrado. Essa
distância temporal permitiu que o narrador-personagem amadurecesse. Assim, ao se lembrar
dos fatos, poderia refletir sobre eles. É o que ocorre quando se lembra de Felipe, filho de Dr.
Marcondes. Leia para a sala:
Felipe de Dr. Marcondes disse uma coisa muito certa, só agora é que percebo. Um homem foi
ferrado de arraia numa pescaria aqui perto, disseram que ele chorou uma tarde e uma noite
pedindo aos companheiros que o matassem porque a dor era insuportável. Comentei o caso
com Felipe, ele não ficou impressionado como eu esperava; disse apenas que isso ou era fita
ou exagero ou lenda porque não existe dor insuportável; dor insuportável ninguém sabe como
é porque ainda não sofreu.
Já mais crítico, Lucas reflete sobre a situação vivida em Taitara. E dá razão à fala de Felipe.
Observe:
Pensando agora em nossa situação aqui, vejo que Felipe tinha razão. Todo mundo vem
dizendo há muito tempo que a vida está insuportável, e que se continuar assim... Pois
continua, e cada dia piora, e estamos aí aguentando. Quando parece que não vamos aguentar
mais e cair no desespero, alguém inventa um passatempo para nos distrair.
Reitere com a classe que ver urubus, encantar-se com o mágico, subir a um lugar alto e olhar
os campos e estradas além das divisas de Taitara eram as distrações inventadas para conseguir
suportar uma realidade repressora.
Insista com os alunos que o surgimento dos muros, a amizade dos moradores com urubus, o
voo dos moradores são alegorias.
Uma alegoria é uma representação tal que transmite um outro siginificado em adição ao
significado literal do texto. Em outras palavras, é uma coisa que é dita para dar a noção de
outra, normalmente por meio d¿alguma dedução moral.
É bastante fácil confundir a alegoria com a metáfora, pois elas têm muitos pontos em comum.
Para melhor entender o que seja uma alegoria, podemos citar alguns exemplos.
O mais conhecido exemplo de alegoria é provável que seja O Mito da Caverna, de Platão. O
autor referia-se aos mitos e superstições de seus contemporâneos, comportamento que ficou
representado pela alegoria da caverna em que as pessoas ficariam presas e imóveis, sem
jamais poder contemplar diretamente o que acontecia fora dali.
(http://cursodeportugues.blogarium.net/figuras-de-linguagem-alegoria/)
Atividades orais:
Pergunte aos alunos:
Se possível, leve o professor de História para contextualizar o período da Ditadura Militar. Caso
isso possa ocorrer, acrescente mais uma aula ao cronograma.
Após contextualização, retome com o aluno que a obra Sombras de reis barbudos foi publicada
em 1972, em plena ditadura Militar. Sendo assim, ela pode ser lida como uma alegoria do
período de opressão no Brasil. Contudo, mostre aos alunos a atualidade da obra. Pelo
procedimento alegórico, ela se torna mais abrangente, servindo como alegoria de situações de
opressão em geral, não apenas do Brasil da ditadura. Deve ser lida como um romance que
flagra a resignação humana diante da opressão, mas também a resistência ao status quo e a
busca pela liberdade.
Avaliação
De posse ao livro, peça uma atividade escrita e individual. Pode seguir o rol de questões:
Agora que já conhece a obra, analise o título "Sombras de reis barbudos". Leve em
consideração as suas inferências no início do projeto, o significado do título, suas expectativas
para a história se mantiveram ou foram alterados? Por quê?
rei
sm (lat rege) 1 Soberano de um reino; o chefe do Estado de um país monárquico; soberano de
uma monarquia; monarca; príncipe reinante. 2 O marido ou o pai da rainha. 3 Título do pai do
rei. 4 Pessoa que exerce um poder absoluto. 5 Indivíduo mais notável entre outros da sua
classe, em determinada atividade
sombra
sf (lat sub illa umbra) 1 Espaço privado de luz, ou tornado menos claro, pela interposição ou
presença de corpo opaco; a falta de luz produzida pela presença de um corpo opaco. 2
Escuridão, trevas, noite. 3 poét Coisa que parece impalpável e imaterial como a sombra. 4
Mancha, nódoa. 5 Defeito, mácula, senão. 6 Alma, espírito. 7 Espectro, fantasma, manes,
visão. 8 Indivíduo que acompanha ou persegue constantemente outro. 9 Aparência, sinal,
traço, vestígio. 10 Ligeira noção; tintura, visos. 11 Pessoa ou coisa que decaiu da sua antiga
grandeza ou poder. 12 Poder, proteção, valor. 13 Imagem imperfeita, representação vaga. 14
A intercepção da luz, produzida pela folhagem das árvores.
Estava lá um senhor magro de olhos fundos vestido de branco falando com voz de corda
grossa de violão. Quando cheguei esse homem dizia com a maior naturalidade que não tem
ninguém voando. Estranhei mas fiquei calado, podia ser alguma brincadeira entre os dois. Mas
seu Chamun falou perguntando:
Então nós todos estamos malucos?
Malucos propriamente não. Estamos sofrendo de uma alucinação coletiva. [...]
- Qual o significado de alucinação coletiva no contexto da obra?
Créditos:
Helena Weisz
Mestre em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP)
Créditos:
Mestre em Literatura e Crítica Literária pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC- SP)
AUTORNova Escola
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Publicado por
Objetivo(s)
Conteúdo(s)
Ano(s)
7º
9º
Tempo estimado
3 aulas.
Material necessário
Material impresso;
Canetas;
Quadro branco;
Desenvolvimento
1ª etapa
Fazer uma sondagem sobre o que os alunos já conhecem sobre tipos de texto, através
de um diálogo.
2ª etapa
3ª etapa
4ª etapa
Após a produção, solicitar a leitura em voz alta desses textos e estimular as diferenças
entre os tipos de textos, apesar de tratarem de um tema comum (no exemplo, o tema
é família).
5ª etapa
Na aula seguinte levar para a turma os textos produzidos pelos alunos, sem esquecer
de colocar a autoria em cada um deles (isso estimula o gosto pela autoria);
Realizar atividades de compreensão e interpretação a partir dos textos criados
(conforme exemplo abaixo).
Avaliação