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Introdução

televisão e história
Ana Paula Goulart Ribeiro
Igor Sacramento
Marco Roxo

O que há em comum em uma casa de quarto e sala de um município peque-


no no interior do país e um apartamento moderno, recheado da mais avançada
tecnologia? Ambas as residências devem ter ao menos um aparelho de televisão.
Talvez o apartamento tenha vários, espalhados em quartos, salas e por vezes até na
cozinha e nos banheiros. Telas de alta definição e acesso a muitos canais. O único
aparelho da casinha certamente estará em lugar nobre. Pois poucas, pouquíssimas
são as casas brasileiras que não têm ao menos um aparelho. Por vezes até onde a
eletricidade ainda não chegou, a televisão está lá. Funciona a óleo.
Hoje onipresente, a televisão era uma incógnita quando sua primeira trans-
missão foi ao ar, em setembro de 1950. Ao longo de sua existência, foi se firman-
do como a mídia de maior impacto na sociedade brasileira. Ela é a principal
opção de entretenimento e de informação da grande maioria da população do
país. Para muitos, é a única. Suas imagens pontuam – e mobilizam em muitas
formas – a vida e as ações de milhares de pessoas. A televisão faz parte, enfim,
da vida nacional. Ela está presente na estruturação da política, da economia e da
cultura brasileiras.
História da televisão no Brasil

Apesar disso, ainda existem poucos estudos históricos realizados sobre a


televisão brasileira. Majoritariamente, os que existem oscilam entre o “generalis-
mo”, que tende a perder os detalhes dos fatos e processos, e o “particularismo”,
que, preso a uma análise pontual, desconsidera a dimensão contextual mais am-
pla. Em parte, esse impasse é provocado pela própria diversidade dos aspectos
(sociais, culturais, econômicos, estéticos, tecnológicos, discursivos, editoriais e
políticos) da televisão e dos seus tipos (comercial, aberta, a cabo, pública, estatal,
comunitária, universitária etc.), bem como pela variedade de seus gêneros (jorna-
lismo, dramaturgia e entretenimento).
Apesar das dificuldades de se trabalhar com um objeto tão multifacetado,
têm sido realizadas, nos últimos anos, pesquisas com o objetivo comum de desfa-
zer certos impasses teóricos e metodológicos enfrentados para, assim, consolidar
e diversificar a análise histórica da televisão brasileira. E é justamente a trajetória
desse meio de comunicação que este livro conta. Para isso, nós, os organizadores,
convidamos pesquisadores que aceitaram o desafio de analisar e contextualizar a
televisão. São pesquisadores das áreas de Antropologia, Comunicação, História e
Sociologia, especialistas no assunto e que partem da ideia de que a análise televisiva
requer a consideração do caráter multifacetado dessa mídia (social, político, econô-
mico, cultural, discursivo, estético, produtivo, profissional e tecnológico). Assim,
além de proporcionar uma leitura sistemática dos mais recentes estudos sobre o as-
sunto, o livro permite uma revisão histórica que tanto pode servir como fonte para
consultas quanto suscitar o interesse pela realização de novas pesquisas sobre ou-
tros episódios, personagens, produtos e processos televisivos não abordados aqui.
Os capítulos analisam os laços indissolúveis entre as “dimensões internas” (as-
pectos empresariais, técnicos, artísticos, discursivos e profissionais, bem como as
rotinas de produção e as estratégias de programação) e as “dimensões externas” (as
pressões institucionais, o ambiente regulatório, a política nacional, a transforma-
ção econômica, as mudanças tecnológicas, as condições de produção, as estéticas
e lógicas de recepção) ao fazer televisivo.
Um ponto fundamental a destacar é a relevância dada à análise dos pro-
gramas televisivos. No nosso entender, não é possível uma história que não seja
elaborada para mostrar como os processos televisivos e sociais se constituem es-
pecífica e mutuamente a ponto de não existir, senão de modo simplificadamente
convencionado, televisão e sociedade como dois campos distintos. A televisão na
sociedade e a sociedade na televisão não existem como meros reflexos de um no
outro, mas como balizas dinâmicas, intercambiáveis, negociáveis e em disputas. É
essa dialética que não se pode perder. Ao longo deste livro, a história da televisão

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Introdução

assume forma concreta com os agentes, individuais e institucionais, e as relações,


fazeres e disputas existentes.
A obra foi dividida em seis partes, seguindo as décadas de existência da tele-
visão no Brasil. Na primeira, “Anos 1950: a televisão em formação”, são analisadas
a sua estruturação, as experimentações realizadas pelas primeiras emissoras (TV
Tupi, tv Paulista, TV Record e TV Rio) e a emergência de um público televisivo.
No capítulo “Imaginação televisual e os primórdios da tv no Brasil”, Marialva
Carlos Barbosa reflete sobre a formação de um imaginário tecnológico sobre a
televisão, antes e imediatamente após a implantação da primeira emissora, a TV
Tupi Difusora, de São Paulo, e comenta as reações do público diante da consti-
tuição de uma nova mídia e, também, de um novo público – o público televisivo.
Em seguida, Cristina Brandão destaca, dentro da programação da época, os pro-
gramas de teledramaturgia (telenovelas e teleteatros), marcados pela adaptação
de clássicos da literatura nacional e estrangeira, mas também contando com a
criação inédita de autores brasileiros, novos artífices da televisão.
Na segunda parte, “Anos 1960: a televisão em ritmo de popularização”, en-
contram-se os capítulos que discutem a popularização da televisão, no momento
em que houve o aumento de telespectadores das classes populares e a consequen-
te produção de programas que procuravam conquistá-los. Nessa década, três no-
vas emissoras (TV Excelsior, TV Globo e TV Bandeirantes) entraram na disputa
pelo público.
Alexandre Bergamo analisa as imagens elaboradas no período sobre o públi-
co televisivo entre os produtores de televisão, tanto entre aqueles que vinham do
teatro consagrado ou do rádio popular (e imaginavam a televisão como continui-
dade daqueles meios) quanto entre aqueles que se especializaram como profissio-
nais de televisão. O autor demonstra o quanto as diferentes imagens do público
implicaram a realização de programas com formatos distintos, dedicando maior
atenção ao estudo da teledramaturgia. O capítulo “A mpb na era da tv” trata dos
populares programas musicais produzidos nessa década que, na constituição de
um público televisivo, imbricaram-se com o musical. Marcos Napolitano analisa
os programas “Fino da Bossa” e “Jovem Guarda” e mostra como se deram as rela-
ções entre a música popular brasileira e a tv, bem como as disputas entre a mpb e
a Jovem Guarda pela conquista do público musical e televisivo.
A terceira parte, “Anos 1970: a televisão em tempos de modernização”, tra-
ta das transformações por que a televisão brasileira passou na década de auge e
declínio da Ditadura Militar. Nos anos 1970, a televisão se modernizou não só
pela sua centralidade no projeto de integração nacional do Estado autoritário,

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História da televisão no Brasil

mas também pela necessidade mercadológica de renovação. Nesse momento, a


administração, a produção, a programação e o quadro de profissionais televisivos
mudaram. Uma emissora se destacou na conquista da liderança e na realização de
um conjunto de inovações: a TV Globo. Os capítulos dessa parte se concentram
nessas mudanças e em seus impactos no cenário televisivo. Ana Paula Goulart
Ribeiro e Igor Sacramento abordam as estratégias e práticas de modernização de-
senvolvidas pelas emissoras brasileiras de televisão, especialmente pela Globo, no
contexto de implantação, expansão e consolidação da rede nacional. Os autores
comentam a campanha pela higienização do grotesco nos programas de auditório,
em prol da conquista do “padrão de qualidade” e, depois, analisam as mudanças
ocorridas no jornalismo e na dramaturgia em direção à modernização das lingua-
gens e formatos. Em seguida, Regina Mota analisa o programa “Abertura”, da
TV Tupi, que foi dirigido por Fernando Barbosa Lima e que teve como um dos
apresentadores o cineasta Glauber Rocha. A autora demonstra como se deu tele-
visualmente o encontro do pioneirismo do diretor televisivo com a inventividade
do cineasta, que, naquele programa, fazia seu testamento estético e político.
A quarta parte do livro, “Anos 1980: a televisão em transição democrática”,
discute as novas formas de popularização da televisão brasileira no contexto de
distensão política e de reconfiguração do mercado com o fim da TV Tupi, o
aparecimento do sbt e da TV Manchete. Maria Celeste Mira analisa a estratégia
de popularização da emissora de Silvio Santos, que gerou polêmicas, mas também
influenciou a programação de sua principal concorrente, a TV Globo. Em segui-
da, Marco Roxo, depois de traçar uma gênese da presença do “mundo cão” na
televisão, escreve uma história cultural dos programas telejornalísticos que surgi-
ram no contexto dos anos 1980 e serviram aos projetos de popularização de suas
emissoras. “Aqui e Agora” (TV Tupi), “Aqui Agora” (sbt) e “O Povo na tv” (sbt)
são os programas destacados pelo autor. Ao final dessa parte, Marina Caminha
analisa as narrativas ficcionais televisivas juvenis produzidas nos anos 1980, espe-
cialmente o seriado “Armação Ilimitada”, da TV Globo.
“Anos 1990: a televisão em divergência” é o título da quinta parte do livro,
que conta com capítulos que analisam as mudanças no cenário televisivo diante
da consolidação de um modelo democrático neoliberal no país. Nesse momento,
houve a consolidação de novas emissoras (sbt e Manchete), a passagem da admi-
nistração da TV Record da família Machado de Carvalho para a Igreja Universal
do Reino de Deus, comandada pelo bispo Edir Macedo. Valério Cruz Brittos e
Denis Gerson Simões estudam a reestruturação do mercado televisivo em face
do novo cenário de multiplicidade de ofertas para os consumidores de produtos

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Introdução

audiovisuais, com a ampliação de canais de tv aberta, a entrada do sistema de


tv por assinatura e a popularização do videocassete e do videogame. Os autores
procuram entender as estratégias das emissoras para vencer a concorrência num
contexto pré-digitalização. Depois, Beatriz Becker trata precisamente de uma das
mudanças ocorridas na televisão brasileira daquele momento. “Pantanal”, novela
escrita por Benedito Ruy Barbosa e dirigida por Jayme Monjardim, propôs uma
nova forma de fazer ficção televisiva, mostrando que um produto de qualidade
pode conquistar a audiência. Por fim, Kleber Mendonça analisa as tentativas da
TV Globo, no campo do telejornalismo, de fazer frente à popularização ditada
pelas outras emissoras, especialmente pela TV Record e pelo sbt. O autor estuda
o “Linha Direta”, programa que combinou a autoridade jornalística, a linguagem
melodramática e a interatividade tecnológica para conquistar o público.
A última parte do livro, “Anos 2000: a televisão em convergência”, também
conta com dois capítulos, que tratam das transformações na programação televi-
siva ocasionadas pela produção de novos formatos, pelo boom de reality shows, pela
digitalização da tv e pela crescente relação com o cinema e com a internet. No
capítulo “Cinema e televisão no contexto da transmediação”, Yvana Fechine e
Alexandre Figueirôa observam, primeiramente, as novas tendências da programa-
ção televisiva, voltada a programas interativos e a reality shows. Depois, analisam as
múltiplas relações entre a televisão e o cinema: o impacto no cenário televisivo da
consolidação da Globo Filmes e de seus produtos audiovisuais transmidiáticos, a
produção ficcional do núcleo Guel Arraes (da TV Globo) e o lançamento do Pro-
grama de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro, ou doc
tv (iniciativa do Ministério da Cultura). Ana Silvia Médola e Léo Vitor Redondo
analisam as transformações na produção ficcional nas redes nacionais abertas
diante do impacto das tecnologias digitais e de suas promessas de interatividade.
Os autores observam como a produção teledramatúrgica tem se reestruturado
em busca de maior interação com o seu público, tornando-se mais espalhada e
presente em diferentes mídias digitais.

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