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ENSAIO ESSAY 1

Integralidade e tecnologias de atenção à saúde:


uma narrativa sobre contribuições conceituais à
construção do princípio da integralidade no SUS

Comprehensiveness and healthcare technologies:


a narrative on conceptual contributions to the
construction of the comprehensiveness principle
in the Brazilian Unified National Health System

Integralidad y tecnologías de atención a la salud:


una narrativa sobre contribuciones conceptuales a
la construcción del principio de la integralidad en Artur Olhovetchi Kalichman 1
José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres 2
el Sistema Único de Salud brasileño

Resumo

Dentre os princípios do SUS, o de integralidade talvez seja o mais desa- 1 Centro de Referência e Correspondência
Treinamento DST/AIDS, A. O. Kalichman
fiador na construção da Reforma Sanitária. É objetivo deste estudo iden- Secretaria de Estado da Saúde Centro de Referência e
tificar momentos críticos do debate conceitual em torno da integralidade de São Paulo, São Paulo, Treinamento DST/AIDS,
Brasil. Secretaria de Estado da Saúde
e suas contribuições para a reflexão acerca de tecnologias de atenção à 2 Faculdade de Medicina, de São Paulo.
saúde no âmbito do SUS. O ensaio percorre algumas construções concei- Universidade de São Paulo, Rua Santa Cruz 81, São
tuais que se aproximam da questão da integralidade como princípio nor- São Paulo, Brasil. Paulo, SP 04121-000, Brasil.
artur@crt.saude.sp.gov.br
teador de programas e ações de saúde em diversos planos e dimensões da
organização da atenção à saúde – das interações intersubjetivas à orga-
nização de redes regionais. O estudo se baseou em revisão não sistemática
da literatura sobre o tema da integralidade e afins na produção do campo
da Saúde Coletiva brasileira nas últimas cinco décadas. Propõe-se uma
cronologia/tipologia que se estende dos anos 1960 à década de 2010, divi-
dindo-a em quatro períodos/categorias julgados significativos. A narrativa
não pretende ser exaustiva, mas construir uma referência compreensiva
capaz de contribuir para análises, avaliações e debates acerca da organi-
zação da atenção à saúde no SUS conforme o princípio da integralidade.

Integralidade em Saúde; Atenção à Saúde; Tecnologia Biomédica;


Regionalização

http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00183415 Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00183415, ago, 2016


2 Kalichman AO, Ayres JRCM

Introdução A construção da narrativa

Dentre os princípios doutrinários do Sistema O interesse em identificar e contrastar constru-


Único de Saúde brasileiro (SUS), o de integrali- ções conceituais afins à integralidade ao longo
dade talvez seja o mais desafiador na constru- da recente história do SUS surgiu de uma inves-
ção conceitual e prática da Reforma Sanitária. tigação acerca da operacionalização desse prin-
É ele que diz respeito diretamente à forma dos cípio na experiência concreta de um conjunto
serviços se organizarem, envolvendo os saberes de serviços e ações de saúde no Estado de São
de profissionais, de usuários e da comunida- Paulo 7. A percepção, porém, de que esses qua-
de, buscando amalgamar, nos planos da gestão dros conceituais, ao mesmo tempo em que per-
e da assistência, a qualidade técnica do traba- mitiam elucidar alcances e limites das ações e
lho ao sentido político de direitos e cidadania serviços estudados, demonstravam um interesse
envolvidos na construção de um cuidado efeti- que extrapolava essas experiências singulares,
vo à saúde. Configura, assim, elemento funda- estimulou os autores a sistematizar e divulgar
mental para que a universalidade e a equidade tal recuperação ao modo de uma narrativa de al-
da atenção à saúde, princípios consubstanciais cance mais amplo, válida para a reflexão sobre
ao de integralidade, se realizem de modo pleno, integralidade e arranjos tecnológicos da atenção
permitindo ao SUS perseguir os objetivos de que à saúde de um modo mais geral.
se investiu na Constituinte de 1988 1. Por outro A narrativa é um recurso discursivo que bus-
lado, e pelo fato mesmo de ser uma construção ca articular temporalidade, personagens, cená-
em devir, uma experiência produzida em ato rios e trama de modo a construir uma referência
no processo de consolidação do SUS, ele não se de sentido, um horizonte de compartilhamento
deixa apreender completamente por qualquer dialógico de uma experiência prática ou reflexiva
tentativa de definição precisa, a priori e defini- 8. No presente estudo, a narrativa está interessa-

tiva, mas comporta-se antes como um horizonte da em destacar como alguns sentidos assumidos
de diálogo 2. Ele instrui e é instruído pelo con- pela integralidade – não fragmentação da aten-
junto de sujeitos e práticas cotidianas, é ação e ção à saúde, respeito aos sujeitos e seus direitos,
reflexão, resultado da polifonia na interação en- atenção à especificidade das necessidades de
tre valores, proposições políticas e instrumen- indivíduos e comunidades, busca de interações
tos que movem as práticas de saúde rumo à sua intersubjetivas ricas e criativas, interação entre
reconstrução na perspectiva da Reforma Sani- saberes técnicos e práticos dos diversos sujeitos,
tária 2,3,4. No momento delicado por que passa articulação de diferentes profissionais, serviços
a construção do SUS, no qual, não obstante os e setores relacionados à construção da saúde –
seus inúmeros sucessos, uma série de obstácu- foram se organizando em quadros conceituais
los ameaçam a plena realização das propostas mais ou menos sistemáticos, relacionados a
concebidas e pactuadas na Constituição Federal propostas técnicas diversas, aplicados a planos
de 1988 5, a recuperação histórica de alguns dos também diversos (desde as interações entre pro-
diversos sentidos conceituais e práticos assumi- fissional e usuário até processos de gestão), mas
dos pela integralidade ao longo da construção do sempre ricos em expressar seus desafios simulta-
SUS mostra-se estratégico não apenas para com- neamente técnicos, éticos e políticos.
preendermos as configurações concretamente Nesse sentido, parte-se do rastreamento de
assumidas hoje por esse princípio, mas também noções como “integração de serviços” e “atenção
como forma de identificar nortes para ações polí- integral” que tiveram penetração nos discursos
ticas em defesa do SUS, de sua qualidade técnica, médico-sanitários pré-SUS, embora ainda com
legitimidade social e sustentabilidade. Portanto, conotações bastante diversas das que viria a as-
sem desconsiderar a multidimensionalidade teó- sumir a integralidade como princípio, passa-se
rica e prática do tema, mas privilegiando neste pelas discussões das Ações Programáticas, Clí-
ensaio o ponto de vista da produção acadêmica nica Ampliada, Vulnerabilidade, Humanização e
e a perspectiva específica da reflexão acerca das Cuidado, até chegar às Linhas e Redes de Cuida-
“tecnologias de atenção à saúde” 6, é objetivo do do, tidas como a mais recente proposição tec-
presente estudo revisitar algumas construções nológica na busca da integralidade. As Linhas e
conceituais significativas para o debate concei- Redes de Cuidado, como ponto de chegada da
tual em torno da integralidade no Brasil ao longo narrativa, não representam o ponto de maior
das últimas cinco décadas, buscando contribuir maturidade ou legitimidade da trajetória concei-
para a elucidação de elementos-chave no modo tual da integralidade. Tampouco os conceitos de
como compreendem a questão da integralidade, “integração de serviços” e “atenção integral”, seus
propiciando a reflexão, debate e adensamento pontos de partida, devem ser entendidos como
teórico desse princípio. bases de um desenvolvimento imanente e neces-

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sário do que veio depois. Apenas se assume, com Duas noções fundamentais relacionadas à de
base em aprendizados vindos da epistemologia integralidade são trazidas dos Estados Unidos –
histórica 9 e da hermenêutica filosófica 10, que a integração de serviços (nos anos 1920) e atenção
recuperação do sentido de qualquer tradição dis- integral (comprehensive care) 13. Articulando-se
cursiva não pode ignorar ingenuamente o poder entre si progressivamente ao longo da primei-
elucidativo de suas expressões mais atuais, assim ra metade do século XX, essas noções acabam
como sempre se beneficiará do resgate de ele- por se tornar centrais em um movimento que se
mentos linguísticos sobre os quais se ergueram, contrapunha à intensa especialização da prática
ainda que para transformá-los ou negá-los. médica e à maciça incorporação de tecnologias
A narrativa aqui desenvolvida baseou-se em biomédicas para o diagnóstico e tratamento, es-
revisão crítica, não sistemática, de literatura jul- tando na origem das propostas da Medicina In-
gada pertinente em face das considerações aci- tegral e da Medicina Comunitária como modelos
ma. Foram incluídos livros, artigos de periódicos, de organização da atenção à saúde 14,15. Emba-
teses acadêmicas e publicações técnicas acessa- sada no modelo de História Natural da Doença
dos em diferentes bases de indexação, conforme e Níveis de Prevenção 16, essa contraposição se
conveniência, e eleitos segundo critérios exclu- dá tanto pelo entendimento do ser humano co-
sivamente baseados na linha de argumentação mo um todo “biopsicossocial”, postulando a ne-
que os autores pretendem submeter à aprecia- cessidade de uma assistência integral à saúde de
ção e ao debate público. Não se discriminou a cada pessoa, quanto pela necessária integração e
literatura discutida entre bibliografia primária articulação das ações de promoção, prevenção,
ou secundária, posto que, no caso deste estudo, tratamento e reabilitação, de forma a garantir
textos programáticos e comentários críticos nem a integralidade da atenção à saúde também do
sempre se distinguem com precisão. Com base ponto de vista da organização da atenção.
em alguns dos constructos, debates e inflexões Na década de 1970, começaram a surgir
práticas identificadas, propõe-se uma cronolo- dentro das universidades brasileiras serviços de
gia/tipologia que se estende dos anos 1960-2010, assistência organizados pela lógica da atenção
dividindo-a em quatro períodos/categorias jul- integral à saúde e da saúde comunitária. Na Fa-
gados significativos. culdade de Ciências Médicas, Universidade do
A narrativa assim construída não pretendeu Estado do Rio de Janeiro (UERJ) foi inaugurado,
ser exaustiva quanto ao inventário das propo- em 1972, o Ambulatório de Medicina Integral
sições e debates sobre a integralidade, nem re- (AMI) 17 e na Faculdade de Medicina, Universi-
clama para si qualquer tipo de autoridade histo- dade de São Paulo (FMUSP), em 1977, o Centro
riográfica. Uma rápida consulta às publicações de Saúde Escola Samuel Barnsley Pessoa (CSEB)
do Laboratório de Pesquisas sobre Práticas da 18, apenas dois exemplos de várias iniciativas se-

Integralidade (LAPPIS) 11, por exemplo, será su- melhantes ocorridas nesse período.
ficiente para verificar a pujança e variedade da O AMI foi implantado como um serviço liga-
produção sobre o tema. A exploração de outras do ao Hospital Universitário Pedro Ernesto, en-
contribuições também relevantes, como a pro- fatizando a necessidade da atenção integral no
dução sobre a Vigilância da Saúde 12, não caberia atendimento a cada paciente: “...o paciente que
no espaço e escopo deste artigo. O que se preten- chegava ao hospital tinha que necessariamen-
de é fundamentar, no resgate histórico e inter- te ser decomposto em aparelhos ou órgãos para
pretação dos quadros conceituais incluídos na receber os cuidados que necessitava ...isto leva a
narrativa, a construção de uma referência com- uma fragmentação característica de uma Medi-
preensiva capaz de contribuir para análises, ava- cina de tecnologia avançada e completamente
liações e debates acerca de como o princípio da ‘desumanizada’ ...Formamos médicos que sabem
integralidade se relaciona a tecnologias de aten- atender dentro de subespecialidades exigindo
ção à saúde em seus diferentes planos. exames complementares sofisticados e tornando
a Medicina desnecessariamente cara e restrita” 17
(p. 432).
Pelos caminhos da integralidade no SUS Já o CSEB, embora pertencente à USP, nasce
integrado à rede estadual de Centros de Saúde
Integração de serviços, atenção integral – que foi consolidada durante a segunda gestão de
antecedentes da integralidade (1960-1970) Walter Leser como Secretário de Estado da Saú-
de de São Paulo (1975-1979). Essa rede e a po-
A integralidade surge como princípio do SUS na lítica de programação que a faria operar, foram
Constituição de 1988, embora noções afins te- a proposta paulista para responder à demanda
nham sido introduzidas no debate acadêmico por ampliação de cobertura assistencial para as
da saúde bem antes, nas décadas de 1950/1960. chamadas populações carentes não cobertas

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pela medicina previdenciária de então 19. A pro- na conceituação de integralidade algum tempo
gramação em saúde buscava integrar as inter- depois, como se verá.
venções de caráter individual e coletiva por uma A década de 1980 foi marcada pela implan-
lógica de saúde pública, buscando articular as tação das Ações Integradas de Saúde (AIS) e do
antigas ações de educação em saúde e de aten- Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde
ção a algumas doenças infecciosas à necessária (SUDS), estratégias que avançam na incorpora-
expansão de cobertura assistencial, tanto médi- ção e ampliação do acesso à assistência médica
ca quanto de outras ações de caráter individual individual dentro da rede pública de saúde e no
e coletivo. processo de descentralização e fortalecimento
A proposta de programação em saúde dos da esfera estadual no Sistema de Saúde. Em 1986,
anos 1980 buscava, então, por intermédio da in- ocorreu a VIII Conferência Nacional de Saúde,
tegração e interação de diversas práticas e profis- síntese do movimento pela Reforma Sanitária e
sionais, organizar o trabalho dos serviços e suas que, de certa forma, antecipa o que dois anos de-
equipes multiprofissionais em torno de uma pois se tornariam as bases do SUS na nova cons-
atenção integral à saúde 19. tituição brasileira 5.
No final da década de 1970 ocorre a confe- No final dos anos 1980 e início dos anos
rência de Alma-Ata (Cazaquistão), na qual se 1990, emerge a proposta da Ação Programática
cunha a proposta de saúde para todos no ano em Saúde, formulada mediante as experiências
2000, entendida como estado de completo bem- colocadas pelo trabalho assistencial e gerencial
estar biopsicossocial. Essa definição, largamen- desenvolvido no CSEB pelo Departamento de
te coincidente com a ideia da atenção integral e Medicina Preventiva da FMUSP. Essa proposta
centrada em práticas de atenção primária, avan- foi descrita por seus formuladores como uma re-
ça na construção de um conceito da saúde que leitura da Programação em Saúde paulista dos
a toma não apenas como ausência de doença e anos 70 sob as novas perspectivas trazidas pela
não apenas na sua dimensão biológica. Tais pro- Reforma Sanitária e seus compromissos éticos e
postas e definições da saúde que reconhecem políticos com a saúde como um direito de todos
seus determinantes sociais e reclamam para o e a construção de um sistema que fosse instru-
sistema de saúde um papel também mais am- mento de sua promoção e garantia 19.
plo de emancipação e melhoria das condições Os anos 1990 trazem como marca impor-
sociais, repercutem no movimento, que no país, tante o estabelecimento da Estratégia Saúde da
ganha o nome de Reforma Sanitária e se integra, Família (ESF), inicialmente Programa Saúde da
não sem reconstruções críticas, à construção do Família (PSF), como organizadora da atenção
SUS e da própria luta pelo final da ditadura e pela primária dentro do SUS. A atenção primária
redemocratização do país 5,20. continuava sendo vista como porta de entrada
do Sistema, mas seu “modelo assistencial e tec-
A integralidade à época da construção do nológico” passava a ser orientado pela proposta
SUS (1980-1990) da ESF. Em São Paulo, o modelo de programa-
ção em saúde originalmente implantado por
O conceito de integralidade, no novo sentido Walter Leser começara a ser desmontado e, em
que adquire no contexto da Reforma Sanitária, 1987, ocorreu o fim da carreira de médicos sa-
foi primeiramente utilizado pelo Ministério da nitaristas e de sua vinculação com os cargos de
Saúde no Brasil em 1983, quando começava a direção dos Centros de Saúde. Esses passaram
ser preparado o Programa de Assistência Inte- a ser denominados unidades básicas de saúde e
gral à Saúde da Mulher (PAISM). O Ministério da a operar em uma lógica assistencial que perde a
Saúde divulgou oficialmente o PAISM em 1984 vinculação programática 22.
por documento: Assistência Integral à Saúde da A proposta de Ação Programática, a par disso,
Mulher: Bases de Ação Programática 21. É inte- seguia buscando configurar-se como uma estra-
ressante notar nesse documento o duplo alcance tégia de efetivação da atenção integral baseada
da integralidade: orientar o conjunto das ativi- na identificação e resposta a necessidades de
dades propostas para a promoção, prevenção e saúde epidemiologicamente apreendidas e de-
assistência da população de mulheres; e propor mocraticamente validadas, buscando um “mo-
atendimento integral à saúde de cada uma delas, delo assistencial” socialmente organizado que
em todos os seus ciclos e necessidades de vida, e articulasse as ações de intervenção coletivas e
não apenas nos aspectos maternos ou reprodu- assistenciais individuais. Essa proposta começa-
tivos. Vale ressaltar também a participação ativa va também a problematizar a própria dimensão
de mulheres oriundas do movimento feminista e técnica das práticas e processos de trabalho em
de saúde e das universidades na construção do saúde e a forma como estão organizadas em um
PAISM, aspecto que será ativamente valorizado “modelo tecnológico”, sua produtividade e sua

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efetividade na promoção e recuperação da saúde desdobramentos práticos buscam encaminhar


da população 23. a superação dos limites colocados pela clínica
No início dos anos 1990, embora comparti- tradicional e suas versões “degradadas” para um
lhando alguns dos compromissos da proposta trabalho em saúde que reconhece sujeitos e suas
de Ação Programática, Campos 24 aponta a li- necessidades, valoriza seus saberes e se corres-
mitação de seu alcance para outros pontos de ponsabiliza por seus projetos terapêuticos.
atenção da rede para além da atenção primária. Partindo da teoria do processo de trabalho
Aponta também a pouca problematização das em saúde, Merhy 29 apresenta uma tipologia das
questões gerenciais e de planejamento e orga- tecnologias utilizadas pelo médico no seu en-
nização dos serviços no âmbito da proposta. Por contro com um usuário. As tecnologias duras,
fim, questiona se a vinculação da clínica ao saber leve-duras e leves, articulam e portam, respec-
epidemiológico por si só seria capaz de mudar tivamente: os instrumentos e intervenções de
substancialmente sua efetividade como tecnolo- base científico-tecnológica, como procedimen-
gia de atenção à saúde. tos e exames; os conhecimentos de base cientí-
O desenvolvimento e desdobramentos do fica utilizados para a “captura” e enquadramento
trabalho deste autor vão produzir, a partir de clínico e epidemiológico do mundo do usuário;
meados dos anos 1990, a proposta de uma Clí- os saberes e práticas baseados na subjetividade
nica Ampliada, conceito que será retomado pos- que movem e informam o médico e o usuário no
teriormente, assim como o de equipes de refe- momento mesmo da relação que se estabelece
rência e novas estratégias de gestão dos serviços entre ambos.
de saúde 25. Da predominância de uso de cada um desses
Como apontam Mota & Schraiber 22, também três tipos de tecnologia e de como se dá o balan-
foram feitas críticas à proposta de Ação Progra- ço entre eles derivam, segundo esse autor, dife-
mática no que se refere à sua sustentabilidade, rentes qualidades dessa relação. Quanto mais se
visto que o custo para efetivá-la plenamente li- usa as tecnologias duras, mais a relação é captu-
mitava as possibilidades de sua expansão para rada pelo enquadramento científico tecnológico
outros contextos 26. biomédico, tanto na identificação de necessida-
Em texto de 1995, Ayres 27 problematiza, por des, como na definição das finalidades do traba-
sua vez, as limitações dos enfoques da clínica lho. Quanto mais tecnologias leves informem a
tradicional e da epidemiologia do risco frente relação, mais ela se torna permeável ao mundo, à
às pretensões emancipatórias e inclusivas da presença do usuário na definição das necessida-
população/pacientes e dos trabalhadores da des e finalidades do trabalho. Há, portanto, uma
saúde mesmo no âmbito da proposta de Ação tensão na produção de um Projeto Terapêutico
Programática. O autor ressalta “que no trabalho dentro dessa disputa e captura de necessidades
em saúde os objetos são sujeitos” 27 (p. 73) e argui e finalidades.
até que ponto a clínica tradicional e o conceito O autor avança e considera que as tecnolo-
de risco são capazes de “discriminar e efetivar” a gias leves se associam ao que caracteriza como a
presença dos sujeitos nos processos de trabalho dimensão cuidadora do trabalho médico no que
em saúde. ele tem em comum com outros tipos de trabalho
De forma contemporânea às preocupações em saúde, enquanto as leve-duras e duras asso-
expressas acima, foi publicado no Brasil o livro ciam-se a outra dimensão do trabalho médico
A AIDS no Mundo 28 que trouxe para nosso con- que é profissional centrada e própria de seu re-
texto o conceito de vulnerabilidade. Como se lerá corte científico tecnológico específico. Depen-
adiante, a vulnerabilidade será entendida como dendo do modelo de atenção, a dimensão cui-
um conceito com potencial para encaminhar a dadora pode estar anulada pelo predomínio da
superação das limitações do paradigma do risco dimensão “profissional específica”.
dentro do trabalho com a AIDS e também na saú- O autor também aponta como aspectos que
de coletiva de forma mais ampla 2,28. caracterizam a dimensão cuidadora do trabalho
médico um posicionamento ético que propicie o
A integralidade desde a experiência do SUS diálogo com acolhimento e criação de vínculo e
(2000-2010) responsabilização, o reconhecimento das formas
como o usuário constrói e expressa sua necessi-
Em 2000, Merhy 29 e Ayres 30 protagonizam um dade de saúde e a articulação de saberes para a
rico e produtivo debate, que parece expressar de construção de um projeto terapêutico.
forma eloquente as novas feições assumidas pela Debatendo o artigo de Merhy 29, Ayres 30, par-
discussão da integralidade no contexto dos anos tindo da concordância com o conjunto de pro-
2000. Da mesma forma que as proposições da posições apresentadas no texto e com a proposta
Clínica Ampliada, o conceito de Cuidado e seus de que a noção de Cuidado pode carrear para

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a assistência legítimas aspirações por saúde de dos conceitos de integralidade e Cuidado para a
indivíduos e populações, aponta uma dúvida a orientação e gestão de modelos “tecnológicos”
respeito de tratá-la como tecnologia, ainda que para além da atenção primária, bem como sua
adjetivada de leve. Sustenta que a intersubjetivi- aplicação para o planejamento, organização e
dade viva do momento assistencial permite es- gestão do modelo “assistencial” mediante pro-
capar a uma objetivação dessubjetivadora exata- posta de Linhas e Redes de Cuidado. Na mesma
mente porque ali se efetiva uma troca, um espaço direção, Franco & Magalhães Jr. 37 apresentam a
relacional que extrapola o tecnológico, embora experiência da Secretaria de Saúde de Belo Hori-
dependa dele. zonte chamada BH-VIDA: Saúde Integral.
Ayres considera que o saber que informa es- No texto de Cecílio & Merhy 36, anteriormente
se espaço relacional e permite a plena presença citado, o foco é colocado na integralidade pelo
do usuário no ato assistencial não é de natureza ponto de vista hospitalar e de como articular tan-
técnica ou científica e sim prática, no sentido da to o cuidado integral ao paciente internado como
tradição aristotélica que distingue praxis, techne o cuidado hospitalar na Linha e na Rede de Cui-
e episteme. dado como um todo. Já a experiência da cidade
Em textos posteriores, Ayres 31,32 amplia e de Belo Horizonte, relatada por Franco & Maga-
adensa essa discussão com um recorte que a lhães Jr. 37, tem como ponto de partida a Atenção
toma pela sua dimensão filosófico-conceitual. Básica, organizada pelas equipes de Saúde da
O saber que se dirige ao êxito técnico constrói Família e sua responsabilidade como gestora do
objetos, enquanto o saber na direção do suces- cuidado integral da saúde de seus usuários, tanto
so existencial é o que constitui sujeitos, afirma. no âmbito de sua resolubilidade, que se espera
Partindo desse posicionamento, o autor propõe a seja qualificada e potencializada, como no enca-
subsunção do interesse pelo controle técnico das minhamento regulado do paciente por todos os
doenças na ideia de sucesso prático, tomando níveis ou pontos de atenção da rede de serviços.
os projetos de felicidade das pessoas como hori- Esse texto aponta a inovação de desenvolver
zonte normativo para as intervenções que, então, e operar linhas de cuidado dentro das práticas
poder-se-á chamar propriamente de Cuidado. assistenciais do SUS e as vê como “uma primeira
Em 2001, foi lançado pelo Ministério da Saú- experiência de radical integralidade na atenção à
de o Programa Nacional de Humanização da As- saúde” 37 (p. 131). Pela proposta, as linhas de cui-
sistência Hospitalar. Como discutido por Deslan- dado seriam organizadas por áreas, como aten-
des 33, o termo humanização, tal como apresen- ção ao idoso, saúde da criança, saúde materna,
tado nessa política, ainda que não se constitua atenção ao agudo, atenção às doenças cardiovas-
em suporte teórico-metodológico claramente culares e saúde bucal.
definido, buscava informar “uma nova práxis na Ambos os textos destacam os desafios da ges-
produção de cuidado em saúde associada ao re- tão da Linha de Cuidado – seja dentro de cada
conhecimento dos direitos dos pacientes, de sua nível ou serviço, seja no conjunto da rede e no
subjetividade e cultura, além do reconhecimento caminhar do usuário por seus diversos pontos –
do profissional” 33 (p. 7). Fica evidente a proximi- para a garantia da integralidade e da qualidade
dade da proposta de humanização com o con- da atenção à sua saúde. São discutidos, então,
junto de temas e preocupações abordados até alcances e limitações das estratégias para geren-
aqui sobre a integralidade do cuidado em saúde. ciar dentro do hospital, de forma colegiada com
Tanto é assim que a humanização é retomada e as equipes multiprofissionais e as corporações,
trabalhada nesta perspectiva por muitos, senão as unidades de produção e linhas de cuidado, ou
todos, os demais autores aqui citados. garantir a pactuação e o compromisso técnico e
Também em 2001, foi publicado o livro Os político entre todos os atores que controlam ser-
Sentidos da Integralidade na Atenção e no Cuida- viços e recursos assistenciais, nos diferentes pon-
do à Saúde 34. Trata-se do primeiro livro de uma tos de atenção da rede de cuidado no município.
série de publicações do LAPPIS, acima citado. Em 2004, o Programa Nacional de Humaniza-
Nesse livro, Cecilio 35 e Cecilio & Merhy 36 ção da Assistência Hospitalar é ampliado como
apontam dois temas incorporados pelo SUS co- uma política para o conjunto das ações e servi-
mo estratégias de implementação da integralida- ços de saúde e renomeado como HumanizaSUS.
de. O primeiro é a própria humanização. O outro Nessa sua nova versão são lançadas várias car-
é a noção de linha e rede de cuidado, também tilhas que vão dando mais concretude teórica e
presente no mesmo capítulo e retomado e apro- metodológica para essa política.
fundado posteriormente em outro texto, cujo tí- A cartilha do HumanizaSUS, que teve a pri-
tulo é A Integralidade do Cuidado como Eixo da meira edição publicada em 2008 38, retoma os
Gestão Hospitalar 36. Nesses textos, é interessan- conceitos de Clínica Ampliada, equipes de refe-
te confirmar a expansão do campo de aplicação rência e de gestão democrática nos serviços de

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ATENÇÃO À SAÚDE: NARRATIVA SOBRE O PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE NO SUS 7

saúde como estratégias concretas para promover de grandes áreas voltadas para uma mesma fi-
a humanização, tanto da atenção quanto da ges- nalidade e para um mesmo objeto (encargo)” 40
tão. Essa preocupação e vinculação entre as for- (p. 854). Esse novo tipo de arranjo ou “departa-
mas de realizar a atenção e gerir os profissionais, mento” é denominado pelo autor de unidade de
equipes, serviços e a própria rede é uma marca produção 38,39,40.
importante, tanto dos textos que abordam as Campos & Amaral 40 propõem também estra-
Linhas e Redes de Cuidado como daqueles que tégias de gestão, a seu ver, as mais apropriadas
tratam da Clínica Ampliada. para assegurar a gestão democrática das unida-
Valendo-se das contribuições do filósofo e des de produção. É proposta uma estratégia de
militante esquerdista Antônio Gramsci, da feno- cogestão colegiada, envolvendo as equipes de
menologia materialista de Sartre e dos trabalhos referência e o gestor da unidade de produção,
desenvolvidos no campo da psiquiatria por Fran- que teriam reuniões periódicas para avaliação,
co Basaglia, Campos 39 defende ser fundamental elaboração de projetos e decisões estratégicas.
ampliar o objeto de trabalho da clínica. Para além Instâncias também colegiadas articulariam as
das doenças, seria necessário incorporar como diferentes unidades de produção, seus gestores e
seu “encargo” e “responsabilidade” também os a superintendência do hospital. É sugerida tam-
“problemas de saúde” (situações que ampliem bém a participação dos usuários em Conselhos
o risco ou vulnerabilidade das pessoas). Mas o Gestores e outras formas.
autor aponta como ampliação mais relevante a A vinculação das dimensões da gestão do cui-
consideração de que não há problema de saú- dado individual, da gestão dos serviços em que
de ou doença que não estejam “encarnados” em esse cuidado é produzido e de sua gestão sistêmi-
sujeitos, em pessoas. “Clínica do sujeito: essa é a ca nas linhas e redes é apontada e retomada por
principal ampliação sugerida” 39 (p. 852), conclui Cecilio 41. Pela interpretação do conto A Morte
o autor. de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói, o autor descreve e
Nesse sentido, as finalidades e objetivos do analisa as diferentes características, atores e pro-
trabalho clínico também devem ser ampliados, cessos micro e macropolíticos envolvidos em ca-
incluindo não só a produção da saúde, por dis- da uma das três dimensões da gestão do cuidado
tintos meios – curativos, preventivos, de reabili- denominadas de profissional, organizacional e
tação ou com cuidados paliativos, mas também sistêmica. Essas três dimensões são descritas co-
ampliando a autonomia dos usuários. mo círculos concêntricos denotando a interação
A proposta de equipes de referência multi- e “imanência entre elas”.
profissionais e com trabalho interdisciplinar re- O autor aponta o potencial criativo das tec-
conhece e valoriza como atividade clínica não nologias leves que surgem no próprio encontro
só a prática médica, mas também a dos outros entre usuário e profissional para a efetivação da
profissionais da saúde. Reconhece também a ne- integralidade do cuidado nessa dimensão, res-
cessidade de recorrer a outros conhecimentos já gatando pela narrativa ficcional suas principais
sistematizados na psicologia, pedagogia, antro- características. Discute, então, como a gestão
pologia, ciências sociais e outras para informar organizacional e a gestão sistêmica do cuidado
sobre o “funcionamento do sujeito quando con- poderiam propiciar ou dificultar a realização
siderado para além de sua dimensão orgânica ou desse potencial nos encontros entre profissio-
biológica” 40 (p. 853). nais e usuários e nos demais encontros que ocor-
A proposta de projetos terapêuticos singula- rem em todos os nós das várias dimensões da
res, elaborados conjuntamente pelas equipes de rede assistencial 41.
referência para casos mais complexos, é uma das O autor ressalta que tais nós são “conexões
estratégias colocadas pelo autor como forma de humanas”, cuja potência criativa pode ser mais
criação de um ambiente de trabalho propício à ou menos realizada dependo de como se dá o
abertura das estruturas disciplinares. Essa estra- exercício da gestão da rede como um todo, de
tégia busca também a construção de responsabi- como ela informa, modela e monitora a gerência
lidade e vínculo entre equipe de saúde e pacien- dos serviços e de como ela, por sua vez, informa,
te, bases para o exercício da Clínica Ampliada. modela e monitora o cuidado produzido em cada
Essa mesma equipe de referência, ou um encontro entre profissionais e usuários.
conjunto delas, é apontada como orientadora Aponta, então, duas estratégias de gerência
para a formação de uma “unidade nuclear de organizacionais denominadas como instrumen-
poder gerencial”. Organizar os serviços e depar- tal e comunicativa e assumidas como modelos
tamentos dentro dos hospitais não com base polares. A estratégia instrumental teria um cará-
em especialidades médicas ou de outro corte ter normativo de implantação de projetos, pro-
profissional, mas sim em “equipes interprofis- cessos e fluxos de trabalho definidos pela alta di-
sões e interespecialidades organizadas em função reção sem participação dos trabalhadores e dos

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usuários. Já a estratégia comunicativa buscaria de construir saberes compreensivo-interpretati-


construir coletivamente esses projetos, proces- vos, produtores de sínteses aplicadas” 2 (p. 16). A
sos e fluxos, reconhecendo a presença e as ne- proposição do Cuidado é retomada como con-
cessidades de trabalhadores e usuários. O autor junto de princípios e procedimentos capazes
afirma também que, em contextos reais, as duas de “recompor competências, relações e implica-
estratégias podem ser (e são) utilizadas conco- ções ora fragmentadas, empobrecidas e desco-
mitantemente. Destaca, no entanto, a tendência, nexas” 2 (p. 18), de modo a estreitar as conexões
associada ao uso excessivo das estratégias ins- entre capacidades técnicas e sensibilidade às as-
trumentais, denominadas de “gerencialismo”, de pirações práticas de sujeitos, concorrendo para a
empobrecer o potencial criativo e as possibilida- efetiva construção de seus projetos de felicidade.
des de efetivação da integralidade do cuidado no Finalmente, a Humanização é vista como a di-
encontro entre o usuário e o profissional. mensão ética implicada na prática dos saberes
Como se pôde ver até aqui, o princípio da in- e fazeres da integralidade, a disposição para o
tegralidade e a busca pela sua efetivação tem se encontro entre os profissionais de saúde, e deles
dirigido a diversos planos e dimensões da aten- com os usuários na perspectiva de emancipação
ção à saúde. Viu-se também que as diversas con- dos sujeitos 2.
formações que adquirem nessa diversidade de
aplicações, embora guardando especificidades, A formalização das redes e o futuro da
dialogam entre si e apresentam convergências, integralidade (de 2010 em diante)
divergências e complementaridades.
Apontando para esse amplo alcance do con- Com base na síntese acima, e considerando os
ceito, Ayres 2 identifica 4 eixos em torno dos quais últimos desdobramentos apontados, especial-
a integralidade tem sido experimentada como mente no respeitante ao eixo das articulações
movimentos reconstrutivos no campo da saúde: acima citado, esta narrativa finalizará na publi-
a) Eixo das necessidades – diz respeito à qualida- cação da Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de
de e natureza da escuta, acolhimento e resposta a 2010 42, que estabelece diretrizes para a organi-
necessidades que não se restrinjam a distúrbios zação das Redes de Atenção à Saúde no âmbito
morfológicos ou funcionais do organismo, sem do SUS. Entende-se ser essa proposição a mais
descuidar deles; recente expressão da busca pela efetivação da in-
b) Eixo das finalidades – remete aos graus e tegralidade como princípio do e no SUS. Antes
modos de integração entre ações de promoção de se dedicar à análise da proposta política defi-
da saúde, prevenção de agravos, tratamento de nida nessa Portaria, serão recuperadas de forma
doenças e sofrimentos e recuperação da saúde/ sumária e muito breve algumas grandes polí-
reinserção social. Lida com a noção de eficiência ticas estruturantes do SUS que a antecederam
dos serviços e de seu acesso oportuno e conve- para que a última possa ser colocada em pers-
niente por indivíduos, famílias e comunidades; pectiva histórica.
c) Eixo das articulações – refere-se aos graus e As quatro Normas Operacionais Básicas
modos de composição dos saberes interdiscipli- (NOB) editadas em 1991, 1992, 1993 e 1996 ti-
nares, equipes multiprofissionais e ações inter- nham como principal objetivo regular o processo
setoriais para criar as melhores condições para de descentralização gerencial e de transferência
oferecer resposta efetiva às necessidades de saú- de recursos e responsabilidades do Ministério da
de em uma perspectiva ampliada; Saúde para a esfera estadual e particularmente
d) Eixo das interações – problematiza a quali- municipal dentro do SUS. A Norma Operacio-
dade e natureza das interações nas práticas de nal das Ações de Saúde (NOAS 2001) vem como
cuidado, objetivando condições efetivamente estratégia de “correção de rumo” de um proces-
dialógicas entre os sujeitos participantes dos en- so de municipalização considerado excessivo e
contros relacionados à atenção à saúde, condi- em busca da construção da regionalização da
ção de realização dos eixos anteriores. assistência à saúde. Entre 2006 e 2010, tem-se a
O autor 2 indica, nessa situação, três proposi- fase dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e
ções conceituais, respectivamente, no plano do de Gestão, constituindo no seu conjunto o Pac-
saber, da técnica e da ética, que lhe parecem fe- to pela Saúde. O Pacto de Gestão, com a criação
cundas para instruir modelos de atenção à saúde das Comissões Gestoras Regionais (CGR) define
pelo princípio da integralidade. São elas: a Vulne- claramente o espaço regional como “locus pri-
rabilidade, o Cuidado e a Humanização. vilegiado de construção das responsabilidades
O quadro da Vulnerabilidade é apresentado pactuadas, uma vez que é esse espaço que permite
como um modo de saber que busca “fazer a Epi- a integração de políticas e programas por meio
demiologia dialogar com outras ciências e com da ação conjunta das esferas federal, estadual
outros saberes não científicos, uma possibilidade e municipal” 42.

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ATENÇÃO À SAÚDE: NARRATIVA SOBRE O PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE NO SUS 9

A política de organização da Rede de Atenção gestão tradicionais, na busca pela integralidade.


à Saúde é colocada como “estratégia para supe- Pode-se constatar também que o conceito de
rar a fragmentação da atenção e da gestão nas vulnerabilidade começa a ser incorporado nessa
Regiões de Saúde e aperfeiçoar o funcionamento portaria para as análises das situações de saú-
político-institucional do SUS, com vistas a asse- de, por mais que o enfoque de risco ainda seja o
gurar ao usuário o conjunto de ações e serviços mais prevalente.
que necessita com efetividade e eficiência” 42. Vê- É importante destacar que a portaria tam-
se aqui também a vinculação entre atenção e ges- bém incorpora várias estratégias e dispositivos
tão no diagnóstico da fragmentação de ambas na vindos de outros referencias teóricos na área da
produção do cuidado em saúde no SUS. gestão em saúde. Dois desses referenciais valem
Outro trecho da portaria aponta que: “[a]... ser destacados. O da “qualidade” e o da “medici-
organização da atenção e da gestão do SUS [...] se na baseada na evidência”. A utilização de critérios
caracteriza por intensa fragmentação de serviços, como segurança, eficácia, adequação ao usuário
programas, ações e práticas clínicas demonstrado e de diretrizes e protocolos clínicos na definição
por: (1) lacunas assistenciais importantes; (2) fi- e manejo das tecnologias e práticas em saúde a
nanciamento público insuficiente, fragmentado serem utilizadas nas Linhas e Redes de Cuida-
e baixa eficiência no emprego dos recursos, com do parece também uma atualização importante
redução da capacidade do sistema de prover in- da proposta.
tegralidade da atenção à saúde; (3) configuração Outra dimensão da atualização desse mo-
inadequada de modelos de atenção, marcada pela delo de atenção à saúde diz respeito ao caráter
incoerência entre a oferta de serviços e a necessi- regional das Linhas e Redes, determinado pelo
dade de atenção [...]; (4) fragilidade na gestão do processo de descentralização e municipalização
trabalho com o grave problema de precarização do SUS. Isso implica a pactuação das três esfe-
e carência de profissionais em número e alinha- ras de governo ou, ao menos, do nível estadual
mento com a política pública; (5) a pulverização e municipal/regional. Essa pactuação, em uma
dos serviços nos municípios; (6) pouca inserção relação que se pretende mais horizontal e soli-
da Vigilância e Promoção em Saúde no cotidiano dária, formalmente contratada entre os entes da
dos serviços de atenção, especialmente na Atenção federação, focada nas necessidades de saúde da
Primária em Saúde (APS)” 42. população daquela região e com a participação
A portaria conceitua as Redes de Atenção à de seus representantes, pode ajudar a superar a
Saúde como arranjos organizativos de ações e verticalização, centralização e a fragmentação
serviços de saúde, de diferentes densidades tec- apontada na gestão e nas políticas e programas
nológicas que, integradas por meio de sistemas do SUS.
de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam
garantir a integralidade do cuidado. Pode-se ver
que o conceito de Rede atualiza o modelo de Considerações finais
atenção, mas ainda visando à articulação das
ações de promoção, prevenção e assistência em São vividas no presente momento as interpela-
seus diversos pontos e níveis de atenção na busca ções que vêm sendo produzidas pela implanta-
da integralidade do cuidado. Essa atualização se ção das Redes Regionais Temáticas, e são experi-
vale tanto das elaborações teóricas advindas do mentados os alcances e limites deste novo mode-
trabalho com a integralidade e suas estratégias lo na superação da fragmentação da atenção e da
de operacionalização quanto do próprio proces- gestão em saúde para a produção de um cuidado
so de amadurecimento e descentralização geren- integral. Vale então, à guisa de conclusão, e reto-
cial do SUS, ainda que com todos os problemas mando questões que foram apontadas na tessi-
apontados acima. tura do enredo desta narrativa, apontar alguns
As Linhas e Redes de Cuidado, como modelo dos desafios enfrentados na construção e gestão
de atenção à saúde, buscam dar conta dos vá- desse modelo de atenção dentro do SUS.
rios níveis de atenção mantendo na Rede Básica O primeiro deles, e talvez o mais importante,
de Saúde, organizada por intermédio da ESF, a é a distância que existe entre a formulação de
porta de entrada principal e a responsabilidade propostas e políticas e sua efetiva realização. Po-
pela gestão do cuidado do paciente e pelo aces- de-se exemplificar tal ordem de desafios ao se to-
so regulado a todos os pontos e níveis do siste- mar como exemplo a questão da atenção à saúde
ma. A proposta incorpora também muitos dos da mulher. Viu-se que aqui se produziu a primei-
conceitos, arranjos e dispositivos elaborados ra experiência institucionalmente organizada de
com base nas proposições da clínica ampliada busca da integralidade no cuidado por meio de
e do cuidado, acima mapeadas, para a supera- modelo da ação programática, concretizada na
ção das limitações, tanto da clínica quanto da proposta do PAISM. Foi essa, também, a primeira

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área temática a contar com a proposição técnica e principalmente dos seus espaços e instâncias
de uma Rede de Cuidado pelo Ministério da Saú- de articulação e gestão regional representam um
de, que veio a ser conhecida como Rede Cegonha enorme desafio político e institucional.
43. Entre o PAISM e a Rede Cegonha, foi lançado O funcionamento dos colegiados regionais
em 2002 o Programa Humanização do Parto 44 e, de gestão, em que se dão as negociações entre os
em 2004, a Política Nacional de Assistência Inte- municípios e deles com a representação das Se-
gral à Saúde da Mulher 45. cretarias Estaduais, reproduzem muitas das assi-
Apesar da atualização sucessiva das propos- metrias de poder antes identificadas apenas nas
tas de efetivação de um cuidado humanizado, relações com o Ministério da Saúde, e também
integral e baseado nas evidências científicas re- são atravessados pelos interesses dos diferentes
presentado por essas políticas e modelos, a di- municípios e pela maior ou menor capacidade
mensão do cuidado profissional pouco se moveu de articulação da instância estadual 47.
naqueles sentidos propostos. A persistência do As estratégias de consolidação dessa instân-
elevado número de partos por via cesariana na cia regional dentro do SUS tem gerado propostas
rede privada, de episiotomia e indução do parto que vão da qualificação e responsabilização sa-
na rede pública e a ausência de acompanhantes nitária dos munícipios e estados para uma ges-
durante o trabalho de parto em ambas demostra tão mais republicana dos espaços regionais 48,49
a força de resistência que pode existir em práticas até as que apontam um esgotamento do modelo
profissionais e culturas institucionais fortemente atual e propõem a criação de uma nova forma
arraigadas em poderes e ideologias impermeá- de gestão tripartite do SUS, não mais com base
veis, ou mesmo contrários a tais proposições. municipal e sim regional e de base autárquica
Essas forças “blindam” o núcleo tecnológico e a como forma de reverter a fragmentação atual do
organização dos processos de trabalho, apesar sistema 50.
das evidências científicas apontarem necessida- Como se verifica, não são poucos nem pe-
des de mudança e legítimos anseios da gestão e quenos os desafios colocados para a efetivação
das usuárias dos serviços 46. da integralidade, seja no plano da atenção, da
Outros desafios relevantes são relativos, de gestão ou da construção de políticas. Todavia,
um lado, à centralização ou verticalização das e em que pesem a eficácia e a potência sempre
propostas programáticas e, de outro, à fragmen- relativas dos modelos de atenção em saúde em
tação da gestão sistêmica do cuidado, associadas face das realidades concretas e complexas, a con-
à excessiva ênfase na municipalização. A propos- tinuidade e radicalização do processo de implan-
ta de redes regionalizadas de atenção à saúde tação das redes regionais de atenção parece ser
tem o propósito de “corrigir”, de uma só vez, es- um caminho possível, desde que não perca sua
ses dois problemas da gestão do cuidado no SUS. sintonia com as demais esferas de reconstrução
Em que pese a real potencialidade das redes re- das práticas de saúde e ouça as múltiplas vozes
gionalizadas de atenção à saúde como estratégia que defendem, com o princípio da integralidade,
de “correção de rumo”, a consolidação das redes o direito de todos à saúde.

Colaboradores Agradecimentos

A. O. Kalichman contribuiu substancialmente para a Gostaríamos de agradecer aos revisores pelas críticas
concepção do artigo, fez sua primeira versão e a revisão e contribuições que, sem dúvida, contribuíram para a
final para submissão. J. R. C. M. Ayres contribuiu subs- melhoria deste manuscrito.
tancialmente para a concepção do artigo e fez sua revi-
são crítica com importantes contribuições intelectuais.

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ATENÇÃO À SAÚDE: NARRATIVA SOBRE O PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE NO SUS 11

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ATENÇÃO À SAÚDE: NARRATIVA SOBRE O PRINCÍPIO DA INTEGRALIDADE NO SUS 13

Abstract Resumen

Comprehensiveness is the most challenging principle Entre los principios del Sistema Único de Salud brasi-
for building health reform in the Brazilian Unified leño (SUS), el de integralidad tal vez sea el que más de-
National Health System (SUS). This study aims to safíos supone de todos los presentes en la construcción
identify critical moments in the conceptual debate de la Reforma Sanitaria. El objetivo de este estudio es
on comprehensiveness and its contributions to reflec- identificar momentos críticos del debate conceptual,
tion on healthcare technologies in the SUS. The essay en torno a la integralidad y sus contribuciones, pa-
addresses some conceptual constructs that approach ra la reflexión acerca de tecnologías de atención a la
comprehensiveness as an underlying principle in salud en el ámbito del SUS. El ensayo recorre algunas
health programs and actions at various levels and in construcciones conceptuales que se aproximan a la
various dimensions of the healthcare organization – cuestión de la integralidad, como un principio director
from intersubjective interactions to the organization de programas y acciones de salud en diversos planos
of regional networks. The study was based on a non- y dimensiones de la organización de la atención a la
systematic literature review on comprehensiveness salud, desde las interacciones intersubjetivas, a la or-
and related themes in the Brazilian public health field ganización de redes regionales. El estudio se basó en
in the last five decades. The study proposed a chronol- una revisión no sistemática de la literatura sobre el
ogy/typology spanning the 1960s to the 2010s, divided tema de la integralidad y cuestiones afines en la pro-
into four significant periods or categories. The nar- ducción del campo de la Salud Colectiva brasileña
rative is not intended to be exhaustive, but to build a durante las últimas cinco décadas. Se propone una
comprehensive reference base capable of contributing cronología/tipología que se extiende desde los años 60
to analyses, assessments, and debates on healthcare a la década de 2010, dividiéndola en cuatro períodos/
organization in the SUS according to the comprehen- categorías considerados como significativos. La na-
siveness principle. rrativa no pretende ser exhaustiva, sino construir una
referencia comprensiva capaz de contribuir a análisis,
Integrality in Health; Health Care; Biomedical evaluaciones y debates, a cerca de la organización de
Technology; Regional Health Planning la atención a la salud en el SUS, según el principio de
la integralidad.

Integralidad em Salud; Atención a la Salud;


Tecnología Biomédica; Regionalización

Recebido em 06/Nov/2015
Versão final reapresentada em 25/Abr/2016
Aprovado em 13/Jun/2016

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(8):e00183415, ago, 2016

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