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Algo que me tem inquietado na prática profissional é os clientes encaminhados por médicos
(e outros profissionais da saúde) chegarem com uma demanda muito bem determinada por
psicoterapia de orientação cognitivo-comportamental. Logo nos primeiros contatos, os quais
costumam ser por telefone, perguntam qual abordagem utilizamos e até nos pedem indicação
de colegas que trabalham nessa perspectiva. É importante que as pessoas estejam esclarecidas
em relação aos tipos de tratamento disponíveis e o respeito ao seu direito de escolha por
aquele ao qual deseja se submeter. Então, não é o fato de estarem informadas sobre as
abordagens dentro da Psicologia que me incomoda; a final de contas, o saber não é
propriedade privada nossa.
O que me incomoda são os nossos colegas usarem de sua força no mercado para criar um
lobby, enquanto nós, psicólogos, não estamos suficientemente articulados como categoria
para defender nossos interesses e acabamos ficando a mercê desses movimentos. O que
fundamenta esse lobby é um argumento plausível: evidências científicas de eficácia da
abordagem supracitada. Nesse ponto, meu incômodo deixa o campo do ressentimento e passa
a ser uma inquietação produtiva, urdindo o desejo de discutir com meus alunos e colegas as
limitações e perspectivas da prática psicoterapêutica de orientação psicanalítica, pensando em
fortalecer esse corpo profissional e, consequentemente, a forma como nos posicionamos no
mercado.
Quando estudantes ou mesmo durante a atuação profissional orientada pela Psicanálise, quem
nunca se questionou sobre as limitações desta abordagem, no que tange a aspectos como a
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Esta controversa tem seus fundamentos e desdobramentos históricos, é claro! Como todo
campo de saber, a Psicanálise está em constante batalha por espaço no mercado e legitimidade
na comunidade científica. Ela adotou uma postura bem rígida em seu início por diversas
razões, dentre as quais caberia destacar: a originalidade da visão de homem-mundo que
apresentou, além da necessidade de se afirmar como um campo independente. Além disso,
esteve permeada por relações de poder, no que diz respeito à categoria profissional e situação
social de seu proponete – Freud, médico, vienense e de descendência judia.
Essa breve reflexão pauta a nossa postura em relação à apropriação da Psicanálise pelos
profissionais. Acreditamos que esta seja uma condição para as orientações teórica-
metodológicas operarem de fato. A final de contas, uma atuação não atenta às contigências
está atrelada a práticas ineficazes e descontextualizadas, fadadas a perder credibilidade e
espaço para outras propostas. Apesar disso, nenhuma abordagem adquire consistência interna
e se constitui como prática profissional caso não crie (e recrie) diretrizes.
Diante dessa breve contextualização, cabe salientar, não é nosso intuito fomentar
controversas, mas afirmar a possibilidade de uma Psicanálise afinada com determinadas
exigências da contemporaneidade, tais como a atuação do psicólogo junto a comunidades
menos abastadas em dispositivos de saúde pública. Reconhecemos, pois, o corpo teórico da
Psicanálise como fundamento, buscando embasar uma técnica que dela se diferencia.
Esse tipo de proposta parte da necessidade emergente de antender a pessoas que estão em
sofrimento, proporcinando alívio, num primeiro momento, para então trabalhar no sentido de
promover insigth, se as suas condições psíquicas assim permitirem. Essas pessoas,
normalmente, estão tão acometidas pela dor que seria difícil, custoso em termos de tempo,
investimento financeiro e energia vital, escavar o inconsciente sem balizar os conteúdos na
borda. Portanto, propomos uma atuação pautada pelo diagnóstico, planejamento e avaliação
do processo, focalizando certos objetivos e, em alguns casos, delimitando o tempo de
intervenção.
Agora que você está a par da proposta, vamos estudar e discutir os fundamentos teóricos, bem
como as orientações técnicas e casos clínicos da abordagem que dá nome desse tópico
especial. A principal referência dessa apostila é o livro de Eduardo Alberto Braier,
“Psicoterapia breve de orientação psicanalítica”. Porém, outros materiais de estudo serão
propostos no transcorrer da disciplina, de modo a enriquecer nossas discussões e aprofundar
no assunto.
3. BREVE HISTÓRICO
Freud foi o precursor da Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica, pois, seus primeiros
trabalhos foram de duração relativamente curta. Conforme se fizeram progressos e se
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Katarina
Freud não usou a hipnose com esta senhorita que apresentava crises de ansiedade, há 2 anos,
tendo sido exclarecida sua sintomatologia em uma única conversa. Com o desenrolar do
tratamento, descobriu-se que os sintomas estavam relacionados a uma situação na qual flagrou
o tio tendo relações sexuais com uma moça, momento no qual apresentou os sitomas por
primeira vez. A jovem trouxe um grupo de histórias sobre investidas do tio embriagado contra
ela própria e, no fim das contas, revelou-se que se tratava de seu próprio pai.
Dora
A jovem passou por um tratamento de 11 semanas que girou em torno de 2 sonhos. Ela
apresentava uma dispineia1 relacionada a duas situações: a relação frustrada dos pais e a
relação da família com um casal de amigos (o pai flertava com a esposa do amigo, o qual
estava apaixonado por ela). Os sonhos foram interpretados como representações do desejo
sexual pelo pai, o que motivou interrupção do tratamento, tendo sido este fato favorecido pela
não análise da transferência.
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seguiria os passos do pai, que exercia ainda muita influência sobre ele, ou se seguiria seu
próprio caminho. O tratamento durou cerca de um ano e obteve bons resultados.
visando que deixasse os ganhos secundários da doença e impedir o escoamento da libido pelas
vias habituais para obter um investimento pré-consciente. Não indicava esse procedimento a
todos os pacientes, pois, seu uso indiscriminado poderia aumentar as resistências.
Firenczi relatou dificuldades técnicas com uma paciente histérica que apresentava
investimentos amorosos para com ele, os quais insistia em analisar, sem resultados. O
tratamento foi interrompido algumas vezes, até que o terapeuta impediu a paciente de
manifestar formas veladas de masturbação durante as sessões (cruzar as pernas e fazer xixi).
Assim, começaram a aparecer lembranças, materiais que contribuiram para entendimento da
origem de seus sentimentos.
Firenczi apresentou uma série de restrições ao método ativo, salientando que nunca se deve
começar com a atividade, a qual é mais indicada nos términos de tratamento. Segundo ele,
deve-se tomar cuidado para que a atividade não se torne uma sugestão (direcionamento do
fluxo da libido). Além do mais, não se deveria anunciar o término de tratamento, senão
quando a conflitiva estiver resolvida e restar apenas romper a relação terapêutica. Não se deve
também dar sinais de contratransferência positiva, pois, a análise se propõe a favorecer a
repetição de experiências de privação em condições favoráveis à sua correção. Indicou a
técnica ativa para os casos de tique/gagueira, obsessão, frigidez e impotência.
No desenrolar de seu trabalho, Firenczi desenvolveu a análise mútua, na qual o analista pode
verbalizar sua contratransferência e ser analizado pelo paciente. Em seus diários apresentou
reflexões teóricas e técnicas, além de comentários sobre a obra de Freud e sua relação com o
mentor. Assim como Rank, assinalou a importância do aqui-e-agora no tratamento, sem negar
a importância de recuperar memórias infantis.
Rank teve um estilo mais fechado que dificultou seu reconhecimento como precursos da
psicoterapia breve. Foi um dos que divergiram de seus colegas, dando maior ênfase às
relações pré-edípicas na formação da personalidade (trauma de nascimento e relação mãe-
bebê) e à separação/individuação no processo terapêutico, propondo a terminalidade do
tratamento como estratégia terapêutica. Propunha que nosso papel, qual o de uma parteira, é
separar a libido do objeto no qual está fixada, recorrendo à repetição do trauma de nascimento
na relação terapêutica. Em sua concepção, todo indivíduo nascido estaria abandonado e
tenderia ao retorno, à morte, à regressão e à neurose, por medo de se lançar ao desconhecido.
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Por fim, cabe mencionar o trabalho de Franz Alexander e Thomas French, o qual é
considerado um marco na psicoterapia breve. Eles romperam com a Psicanálise corrente de
modo mais incisivo que Firenczi e Rank, propondo uma atitude mais ativa do terapeuta, desde
o início do processo. Sinalizaram as diferenças entre as reações de figuras parentais e aquelas
do terapeuta, sendo que a atitude mais adequada e compreensiva deste último favorece uma
experiência emocional corretiva.
Como se pode depreender dessa breve exposição, os pioneiros da psicoterapia breve foram o
próprio Freud, bem como seus discípulos e dissidentes, Firenczi e Rank. As primeiras
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proposiçõs guardavam ainda uma forte relação com a Psicanálise corrente e foram percebidas
maiores cisões com compilado de Alexander e French. Podemos encontrar um relato dessas
contribuições no livro de Theodor Salomão Lowenkron, “Psicoterapia Psicanalítica Breve”.
4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Na psicoterapia breve os objetivos terapêuticos são mais limitados do que seriam em uma
análise convensional; são determinados conforme as necessidades imediatas da pessoa. Os
objetivos podem se colocar em termos de superação de sintomas e enfrentamento de situações
atuais. Apesar de limitados, devem ser dinamicamente interpretados, de modo que seus efeitos
possam se extender a situações correlatas.
No que tange à técnica, o psicoterapeuta terá uma postura diferente daquela adotada pela
analista em relação a diversos aspectos. Segue uma breve exposição dos principais aspectos a
serem considerados e da forma como são tratados em ambas as técnicas.
Conflitos:
Na Psicanálise são tratados como uma fixação em relações primárias de natureza edípica que
se manifesta em situações atuais. A análise passará por sua revivência na relação terapêutica,
a fim de que sejam resolvidos através da elaboração. Na psicoterapia breve, primeiramente,
escolhem-se os conflitos que serão focalizados e estariam mais diretamente relacionados à
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Resitência:
Tratam-se de obstáculos que a própria pessoa opõe para o acessso ao insconsciente, sendo
estes interpretados como resistência ao tratamente e, portanto, à cura. Freud distinguiu cinco
formas de resistência em seu trabalho, sendo as quais: regressão, transferência, ganho
secundário da doença, inconsciente (id) e exigências socias (superego). Na Psicanálise
convencional a interpretação das resistências concorre para o prolongamento do tratamento.
Na psicoterapia breve algumas resistências serão analisadas, outras respeitadas e reforçadas.
Frequentemente, trabalharemos com defesas maníacas (negação, onipotência, etc.), barreiras
repressivas para acesso a conteúdos diretamente relacionados ao sofrimento, bem como
mecanismos de isolamento, intelectualização, projeção, entre outros. No entanto, evitaremos
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Insigth e elaboração:
O insigth diz respeito à tomada de consciência da própria realidade psíquica, o que não se
limita à compreensão racional, mas também inclui uma parcipação afetiva intensa, isto é,
contato com aspectos do inconsciente. Já a elaboração se refere a um processo gradual de
descoberta do sentido de alguma interpretação ou insigth. A finalidade das interpretações do
analista, as quais se tratam de um instrumento de trabalho da maior importância na
Psicanálise, seria incitar na pessoa o insigth a respeito de seus conflitos, sendo esta uma
condição para mudanças na personalidade. A elaboração é um operador conceitual que
também concorre para o prolongamento do tratamento, pois, depreende da incursão de
resistências, regressão e neurose de transferência. Na psicoterapia breve deve ser nosso
objetivo promover insigth, sempre que as condições psíquicas da pessoa assim permitirem,
focalizando a situação atual e possibilitando, assim, recuperação da capacidade para enfrentar
o conflito. A extensão do trabalho com o insigth será limitada, restringindo-se a experiências
incipientes de autoconhecimento, as quais podem estimular a auto-observação ou a
continuidade do processo com uma psicoterapia prolongada. Nesse tipo de proposta, o insigth
terá maior participação cognitiva que afetiva; haverá sim uma ressonância afetiva, embora não
tão vívida quanto seria em uma análise convencional. Esta será, na medida do possível,
controlada com a focalização de aspectos atuais da relação psicoterapêutica e da realialidade
externa da pessoa. Da mesma forma, a elaboração também não terá o sentido originalmente
empregado na Psicanálise. Apenas facilitaremos o início de um processo de elaboração que
pode ser levado a cabo pela pesssoa para além do setting terapêutico.
Funções egóicas:
Consideramos que o insigth facilitado pela interpretação do analista seja a forma mais
utilizada de fortalecer o ego. No entanto, há outras maneiras de fazê-lo, tais como técnicas de
apoio emocional. Esse tipo de técnica costuma ser depreciado no meio psicanalítico, devido
ao risco de fomentar relações de dependência. Mas, elas parecem a única alternativa quando a
pessoa não está em condições de suportar um processo terapêutico interpretativo e se busca,
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Focalização:
Na psicoterapia breve o trabalho é focado na problemática apresentada pela pessoa, de modo
tal que deixamos de lado outras dificuldades; diferentemente da Psicanálise corrente em que o
foco não faz parte do enquadramento da técnica.
Planejamento:
Outro aspecto distintivo da psicoterapia breve em relação à Psicanálise corrente é o
planejamento, o qual concerne ao desenvolvimento de um plano de tratamento que
compreende desde o diagnóstico à avaliação dos resultados.
Situação-problema:
Trata-se de uma situação que se apresenta na vida de uma pessoa, em razão da qual passa a ter
dificuldades para se adaptar e, geralmente, motiva a consulta. Pode ser provocada por algum
evento, como um acidente, uma gravidez ou a morte de um ente querido, diante do qual a
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Foco:
Implica em concentrar a tarefa em determinado sintoma ou problemática, contribuindo para
tornar mais efetiva a atividade terapêutica em função das metas traçadas e, eventualmente, de
sua limitada duração. No entanto, não é somente a limitação temporal que justifica o emprego
desse operador conceitual, pois, também pode ser utilizado em psicoterapias nas quais a
pessoa não está em condições de passar por uma análise convencional, porque é muito idosa,
por exemplo. O enfoque implica em manter coerência em relação à fixação de objetivos
terapêuticos prioritários, planejar o tratamento, combater a passividade do psicoterapeuta e se
contrapor à neurose de transferência. O foco será entendido sob o prisma da psicopatologia,
podendo ser traduzido como uma estrutura integrada por distintos fatores intervenientes na
gênese da situação-problema, sendo constituído por um conjunto de hipóteses a respeito dos
mecanismos operantes. Todo foco é definido pelo motivo da consulta e por um conflito
nuclear que se insere em uma situação grupal específica. Esse são elementos de uma situação
que condensa um conjundo de determinantes, os quais: aspectos caracterológicos, histórico-
genéticos, momento evolutivo individual e grupal, além de determinantes do contexto social
mais amplo. A escolha da situação-problema e do consequente foco dependerá, dentre outros
fatores, de critérios pessoais e de experiências prévias do psicoterapeuta. O foco é
determinado a partir de entrevistas clínicas e do psicodiagnóstico, constituindo-se em
elemento decisivo para o planejamento do tratamento e melhores prognósticos, permitindo um
trabalho mais efetivo. Às vezes, urde uma mudança de foco, em razão de situações novas na
vida da pessoa, descoberta de elementos importantes que foram omitidos durante o
diagnóstico, término do tratamento, mediante a iminência da separação cliente-psicoterapeuta.
Ponto de urgência:
Conflito inconsciente que, pela ação de fatores atuais, internos ou externos, torna-se motivo
de ansiedade e outras defesas. O trabalho se volta imediatamente para esse ponto quando ele
emerge, de modo tal que o psicoterapeuta se concentrará em interpretá-lo. O ponto de
urgência tanto pode ser relacionado à conflitiva focal quanto pode ser extra-focal como, por
exemplo, uma situação de emergência que acomete a pessoa e acaba desviando o foco do
trabalho. Obstinar-se em seguir com o foco sem considerar essa manifestação resulta ineficaz.
Antes de seguir, faz-se necessário desembaraçar o campo para que seja possível reestabelecer
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a concentração. Enquanto o foco se desenvolve sobre uma única estrutura (no máximo duas,
como no caso de término de tratamento), o ponto de urgência é muito variável.
5. ORIENTAÇÕES TÉCNICAS
A história clínica pode nos oferecer informações valiosas para compreender a situação atual
da pessoa, uma vez que, em sua história de vida, determidados padrões patológicos de
conduta podem se repetir. Para coletar essas informações podemos usar um modelo de
anamnese, apesar de não haver necessidade de seguir rigidamente um protocolo de perguntas.
Deve haver um interesse particular pelo motivo da consulta que está, geralmente, ligado à
situação-problema sobre a qual se empreenderão esforços psicoterapêuticos. Vale investigar a
fundo os antecedentes dessa situação, os sintomas que a acompanham e suas repercussões.
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Inicialmente, pode-se deixar que o paciente exponha livremente para, em seguida, direcionar
questionamentos sobre seu histórico pessoal e familiar.
A delimitação do foco é o principal ponto da técnica, porque ele orientará todo o trabalho
posterior. Em alguns casos é fácil identifical o foco e estabelecer os objetivos
psicoterapêuticos, porque há um quadro agudo. Em outros é difícil, pois, a pessoa apresenta
quadros generalizados e nós não conseguimos identificar um problema como ponto de partida.
A delimitação do foco para aprofundamento na conflitiva depende da identificação do ponto
de urgência e da elaboração da hipótese psicodinâmica, da qual fazem parte os diagnósticos
até aqui citados.
A respeito do psicodiagnóstico, cabe um adendo: o uso de testes pode ser muito últil,
principalmente em se tratando de psicoterapias com temporalidade delimitada. Uma
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infinidade de instrumentos pode ser utilizada para otimizar o acesso a informações sobre o
paciente, cabendo citar: escalas, testes de inteligência, de atenção e expressivo-projetivos.
Embora possamos dispor de um tempo razoável para psicodiagnóstico, fazê-lo resulta muito
positivo em termos de agilidade no processo terapêutico.
Por fim, é imprescindível dar um feedback da avaliação diagnóstica, mesmo quando tenha
sido realizadas por outro da equipe ou profissionais externos. O psicoterapeuta deve informar
as impressões que teve da problemática apresentada pela pessoa em linguagem acessível. Os
objetivos dessa conduta seriam: acolher a pessoa e fornecer esclarecimentos a respeito de sua
problemática, buscando contribuir com o estabelecimento de um vínculo e reforçar sua
motivação para se engajar na psicoterapia; facilitar a escolha de metas terapêuticas, depois de
sugerir o conflito do qual decorre a problemática.
Nesse momento, podemos usar interpretações panorâmicas como recurso, as quais permitem
esboçar psicodinamismos subjacentes à situação-problema. Além disso, devemos dar à
pessoa, sempre que possível, boas perspectivas prognósticas, pois, isto a ajudará a confiar no
trabalho desenvolvido e na sua possibilidade de melhora.
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Quanto ao tempo de tratamento, este pode varia segundo as condições institucionais do local
onde o serviço está sendo oferecido, as situações colocadas pela pessoa e o acordo
estabelecido com o psicoterapêuta. A estimativa levará em consideração os objetivos que se
pretende alçançar e poderá ser repactuada. Findado o tempo, é importante realizar uma
avaliação dos resultados obtidos e, a partir daí, tomar uma decisão que pode incluir término
definitivo do tratamento, recontrato, sessões de acompanhamento periódico e, até mesmo,
nova indicação psicoterapêutica.
Resulta útil à promoção de uma atitude colaborativa informar a cerca de como procederá o
tratamento, explicitando as funções de cada uma das partes. Convém explicar que a
psicoterapia serve para elucidar pontos obscuros da situação, os quais estão relacionados à
manutenção do sofrimento. Até que a pessoa se acostume com o procedimento de
interpretação, é interessante advertí-la da possibilidade de desconforto, principalmente no
início. Além disso, cabe dizer que o terapeuta pode ajudar com seus conhecimento e sua
perspectiva, pois, estando do “lado de fora” da situação vê pontos cegos à própria pessoa.
Também é importante informar que tipo de recursos pretende utilizar, salientando o porquê
dessa predileção. Por fim, as questões de praxi devem ser estabelecidas: posição espacial do
psicoterapeuta em relação à pessoa, horários e frequência das sessões, período de diagnóstico
e data do término do tratamento, férias e feriados, honorários, etc.
5.5 Planejamento
5.6 Tratamento
como estas incidem sobre elementos que concorrem para o prolongamento da psicoterapia,
contribuindo com o desenvolvimento de uma relação transferencial positiva sublimada.
Vale ressaltar o papel ativo do psicoterapêuta, que funcionará como catalisador no processso.
Frequentemente, utilizará intervenções não-interpretativas, como perguntas, assinalamentos,
sugestões, informações e, às vezes, tomará a iniciativa na comunicação, propondo o tema a
ser tratado. Essas intervenções são mais diretivas e têm um propósito diferente da
interpretação, a qual visa elucidar a conflitiva focal. O psicoterapêuta pode utilizá-las para
ajudar a pessoa a enfrentar problemas cotidianos, bem como direcionar o foco do trabalho,
escolhendo as situações a serem tratadas e excluindo outras.
A associação livre pode ter algumas vantagens, por exemplo, quando utilizada com pessoas
que tendem a intelectualização como defesa e com aquelas cujo acesso ao conteúdo
traumático ajudaria no aprofundamento da temática focal. O psicoterapeuta deve analisar a
oportunidade para utilizar esse recurso, considerando a capacidade da pessoa de responder a
ele de forma positiva.
As intervenções do psiterapeuta devem manter três condições: coerência interna, quer dizer,
um conjunto de intervenções deve ser estrategicamente empregado, evitando-se cair no
improviso; proporção elevada de intervenções não-interpretativas, tais como assinalamentos,
perguntas e comentários, visando contrabalançar os efeitos suscitados por intervenções
interpretativas, como por exemplo, desenvolvimento de uma relação de dependência; e, por
fim, a partir de intervenções interpretativas ou não, estimular a pessoa a verbalizar conteúdos
relacionados à problemática focal.
Uma maneira interessante de utilizar intepretações deste último tipo, evitando-se desenvolver
uma neurose de transferência, é acompanhá-la de algum assinalamento a cerca de relações
externas à psicoterapêutica. Além disso, é coveniente ressaltar aspectos coexistentes na
pessoa, como por exemplo, padrões de relação infantis e adultos, ao mesmo tempo. Outra
forma de apresentar as interpetações seria por meio de sugestões e perguntas, mostrando certa
humildade oposta a idealizações em relação ao psicoterapeuta. Para isto, precisamos mostrar à
pessoa de que aspectos do conteúdo trazido tiramos as interpretações.
Quando se percebe que a pessoa não evoluirá no processo de tomada de consciêcia, torna-se
necessário realizar um trabalho interpretativo mais profundo em torno de conflitos
psicogenéticos. Nesse caso, cabe tomar alguns cuidados, pricipalmente em se tratando de
interpretações relacionadas ao psicoterapeuta, destacando-se:
Certificar-se de que a pessoa é capaz de receber as interpretações, sem apresentar
reações desfavoráveis ao tratamento;
Dispor de condições de enquadramento, principalmente temporais, propícias;
Assegurar que os fatores hitórico-genéticos inclusos nas interpretações matenham
conexão com a problemática focal;
Trabalhar parcialmente o conflito infantil, evitando abrir feridas nas defesas e se
limitando ao que for necessário para obter certa mobilidade;
Facilitar a compreensão de determinantes hitóricos do conflito atual, ao invés de
promover revivescência do conflito infantil na relação transferencial.
Por fim, a conformação das intervenções interpretativas é que produzirá determinado efeito: o
desenvolvimento da regressão e da neurose de transferência ou, pelo contrário, a neutralização
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Interpretação de sonhos:
Diante dos sonhos, o psicoterapeuta tomará a mesma atitude que ante a outros produtos da
atividade psíquica (atos falhos, fantasias, etc.), isto é, trabalhará com esses materias na
medida em que considere útil ao desenvolvimento do tratamento. O primeiro critério a ser
considerado é guardar relação entre conteúdo onírico e problemática focal. Convém fazer uma
breve exploração do material trazido e, a partir disto, verificar a pertinência de analisá-lo.
Mesmo que não derive na formulação de uma interpretação e seja uma análise de alçance
limitado, sonhos são materiais riquíssimos para uma compreensão dinâmica da pessoa. É
indicado interpretar somente aspectos pré-conscientes latentes, evitando se referir a desejos
infantis inconscientes. Quer dizer, que nos concentraremos nos conteúdos que parecem mais
claros à pessoa, pois, a limitação temporal não nos permite aprofundar em mecanismos
oníricos. O método para interpretação dos sonhos seguirá as orientações gerais até aqui
explicitadas: pode-se utilizar a associação livre, observando-se a focalização e as reservas
necessárias ao controle de fenômenos transferenciais.
No geral, não são necessárias e indicadas mais do que duas sessões semanais, sendo que, na
maioria dos casos, somente uma sessão semanal basta. Mais que isto, relações regressivo-
dependentes poderiam ser fomentadas. No entanto, em alguns casos, como quando a pessoa
está em crise ou tende ao acting out2, é coveniente iniciar com um número maior de sessões e
ir diminuindo aos poucos. Quanto à duração das sessões, costuma ser proveitoso entre 40 e 50
minutos, tendo em vista que o psicoterapeuta desempenha um papel ativo e despende grande
esforço para otimizar o tempo.
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limites e alcance. Contextos Clínicos, 9(1):86-97, 2016. doi: 10.4013/ctc.2016.91.07
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A pessoa não acessa um conteúdo reprimido e não consegue verbalizá-lo; mas o expressa em suas ações, de
modo inconsciente, especialmente dentro da relação transferencial.