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TÓPICO ESPECIAL EM PSICOLOGIA


PSICOTERAPIA BREVE DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E ESTUDO DE CASO
PROFA. ME. LÍBIA MONTEIRO MARTINS

1. ANTES DE COMEÇAR, UM DESABAFO...

Algo que me tem inquietado na prática profissional é os clientes encaminhados por médicos
(e outros profissionais da saúde) chegarem com uma demanda muito bem determinada por
psicoterapia de orientação cognitivo-comportamental. Logo nos primeiros contatos, os quais
costumam ser por telefone, perguntam qual abordagem utilizamos e até nos pedem indicação
de colegas que trabalham nessa perspectiva. É importante que as pessoas estejam esclarecidas
em relação aos tipos de tratamento disponíveis e o respeito ao seu direito de escolha por
aquele ao qual deseja se submeter. Então, não é o fato de estarem informadas sobre as
abordagens dentro da Psicologia que me incomoda; a final de contas, o saber não é
propriedade privada nossa.

O que me incomoda são os nossos colegas usarem de sua força no mercado para criar um
lobby, enquanto nós, psicólogos, não estamos suficientemente articulados como categoria
para defender nossos interesses e acabamos ficando a mercê desses movimentos. O que
fundamenta esse lobby é um argumento plausível: evidências científicas de eficácia da
abordagem supracitada. Nesse ponto, meu incômodo deixa o campo do ressentimento e passa
a ser uma inquietação produtiva, urdindo o desejo de discutir com meus alunos e colegas as
limitações e perspectivas da prática psicoterapêutica de orientação psicanalítica, pensando em
fortalecer esse corpo profissional e, consequentemente, a forma como nos posicionamos no
mercado.

2. PROPOSTA DO TÓPICO ESPECIAL

Quando estudantes ou mesmo durante a atuação profissional orientada pela Psicanálise, quem
nunca se questionou sobre as limitações desta abordagem, no que tange a aspectos como a
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adequação da proposta teórico-metodológica às circunstâncias atuais? Pois bem, esta é uma


questão muito controversa! Há colegas que questionam as apropriações conceituais e
adaptações técnicas, sob o pretexto de carecerem de consistência e validade teórico-científica;
outros questionam as práticas ortodoxas, afirmando que tenderiam a ser elitistas e
descontextualizadas.

Esta controversa tem seus fundamentos e desdobramentos históricos, é claro! Como todo
campo de saber, a Psicanálise está em constante batalha por espaço no mercado e legitimidade
na comunidade científica. Ela adotou uma postura bem rígida em seu início por diversas
razões, dentre as quais caberia destacar: a originalidade da visão de homem-mundo que
apresentou, além da necessidade de se afirmar como um campo independente. Além disso,
esteve permeada por relações de poder, no que diz respeito à categoria profissional e situação
social de seu proponete – Freud, médico, vienense e de descendência judia.

Os que se arriscam no empreendimento de ressignificar a Psicanálise lidam com esses fluxos


de conservação de identidade da abordagem e acabam se vendo às voltas com a seguinte
questão: “Ao nos apropriarmos de seu arcabouço, não a estaríamos descaracterizando?”.
Diante dessa inquietação epistemológica caberia uma reflexão: “Que atuação profissional não
mobilizaria uma releitura de orientações teórico-metodológicas?!”.

Entendemos que, ao atuarmos, não estamos simplesmente aplicando orientações prévias ao


contato com o campo. Na verdade, para ser uma atuação eficiente, há de se considerar as
circunstâncias envolvidas, as quais podem ser previstas de forma razoável, mas não podem ser
determinadas com precisão inquestionável. Além do mais, a cada momento, produzimos
modos de relação diversos e, com isso, nossas formas de pensar e agir se modificam. Isso
implica em reconsiderar teorias e propostas de intervenção a respeito da subjetividade
humana.

Ademais, as orientações vêm como consequência de um processo de sistematização, isto é,


decorrem de uma disposição à investigar a própria prática e, a partir disto, produzir diretrizes
para ações futuras. O desenvolvimento de qualquer abordagem depreende desse movimento
constante de produção, apropriação e transformação de práticas. Se você reparar na
morfologia dessas últimas palavras verá que elas têm o sufixo ação em comum. Isto não é por
acaso!
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Essa breve reflexão pauta a nossa postura em relação à apropriação da Psicanálise pelos
profissionais. Acreditamos que esta seja uma condição para as orientações teórica-
metodológicas operarem de fato. A final de contas, uma atuação não atenta às contigências
está atrelada a práticas ineficazes e descontextualizadas, fadadas a perder credibilidade e
espaço para outras propostas. Apesar disso, nenhuma abordagem adquire consistência interna
e se constitui como prática profissional caso não crie (e recrie) diretrizes.

Diante dessa breve contextualização, cabe salientar, não é nosso intuito fomentar
controversas, mas afirmar a possibilidade de uma Psicanálise afinada com determinadas
exigências da contemporaneidade, tais como a atuação do psicólogo junto a comunidades
menos abastadas em dispositivos de saúde pública. Reconhecemos, pois, o corpo teórico da
Psicanálise como fundamento, buscando embasar uma técnica que dela se diferencia.

Esse tipo de proposta parte da necessidade emergente de antender a pessoas que estão em
sofrimento, proporcinando alívio, num primeiro momento, para então trabalhar no sentido de
promover insigth, se as suas condições psíquicas assim permitirem. Essas pessoas,
normalmente, estão tão acometidas pela dor que seria difícil, custoso em termos de tempo,
investimento financeiro e energia vital, escavar o inconsciente sem balizar os conteúdos na
borda. Portanto, propomos uma atuação pautada pelo diagnóstico, planejamento e avaliação
do processo, focalizando certos objetivos e, em alguns casos, delimitando o tempo de
intervenção.

Agora que você está a par da proposta, vamos estudar e discutir os fundamentos teóricos, bem
como as orientações técnicas e casos clínicos da abordagem que dá nome desse tópico
especial. A principal referência dessa apostila é o livro de Eduardo Alberto Braier,
“Psicoterapia breve de orientação psicanalítica”. Porém, outros materiais de estudo serão
propostos no transcorrer da disciplina, de modo a enriquecer nossas discussões e aprofundar
no assunto.

3. BREVE HISTÓRICO

Freud foi o precursor da Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica, pois, seus primeiros
trabalhos foram de duração relativamente curta. Conforme se fizeram progressos e se
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aprofundou os conhecimentos na Psicanálise o tratamento passou a ser prolongado. Segue um


breve percurso de Freud:

 Anna O. (Breuer, período pré-psicanalítico)


Apresentava paralisias, anestesias, problemas de visão e fala, sintomas relacionados à morte
do pai. Foi tratada com o método da cartase e da hipnose, por um período de 18 meses, antes
de receber alta, tendo apresentado recaídas, apesar do significativo progresso.

 Katarina
Freud não usou a hipnose com esta senhorita que apresentava crises de ansiedade, há 2 anos,
tendo sido exclarecida sua sintomatologia em uma única conversa. Com o desenrolar do
tratamento, descobriu-se que os sintomas estavam relacionados a uma situação na qual flagrou
o tio tendo relações sexuais com uma moça, momento no qual apresentou os sitomas por
primeira vez. A jovem trouxe um grupo de histórias sobre investidas do tio embriagado contra
ela própria e, no fim das contas, revelou-se que se tratava de seu próprio pai.

 Dora
A jovem passou por um tratamento de 11 semanas que girou em torno de 2 sonhos. Ela
apresentava uma dispineia1 relacionada a duas situações: a relação frustrada dos pais e a
relação da família com um casal de amigos (o pai flertava com a esposa do amigo, o qual
estava apaixonado por ela). Os sonhos foram interpretados como representações do desejo
sexual pelo pai, o que motivou interrupção do tratamento, tendo sido este fato favorecido pela
não análise da transferência.

 O homem dos ratos


Um homem de 30 anos apresentava uma neurose obsessiva grave, com ideias de que ratos
poderiam penetrar o ânus de seu pai, morto há 9 anos, e de sua amada. Além disso,
apresentava ideias suicidas, restrições a si mesmo em situações sem nexo aparente com a ideia
obsessiva e prejuízos em seu desempenho geral. Durante o processo de análise, descobriu-se
que as ideias suicidas eram uma penalidade pelo desejo de morte do pai e o medo de ratos
estava relacionado a uma punição por jogos sexuais que sofrera aos 6 anos de idade, a qual
promoveu uma fixação na sexualidade anal. A conflitiva girava em torno de resolver se

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seguiria os passos do pai, que exercia ainda muita influência sobre ele, ou se seguiria seu
próprio caminho. O tratamento durou cerca de um ano e obteve bons resultados.

 O homem dos lobos


Esta análise durou cerca de 4 anos com algumas interrupções. Tratava-se de um homem com
uma neurose grave e certa apatia que dificultava o progresso do tratamento, razão pela qual,
em determinado momento, Freud foi levado a anunciar o término, ocasionando a quebra de
resistências e o consequente desenrolar do processo. Freud analisou um sonho sobre lobos no
bosque, diante dos quais o paciente ficava aterrorizado. Verificou que esse sonho apontava
para uma neurose infantil (medo do lobo do conto de fadas), relacionada a uma cena de
cópula dos pais presenciada quando tinha pouco mais de 1 ano.

Em pronunciamentos subsequentes, como aquele realizado no Congresso de Psicanálise em


Budapeste, Freud apresentou uma posição ambígua em relação a “atividade do analista” e a
extensão da Psicanálise às massas. Sinalizou que essa atividade é necessária em alguns casos,
como a agorafobia, em que é indicado levar o paciente a enfrentar sua ansiedade para que
comece a fazer associações, e compulsões, a exemplo do homem dos ratos. Reconheceu a
restrição da Psicanálise às classes mais abastadas, em função de suas condições de
desenvolvimento, e estimulou a ampliação do acesso com a criação de centros de tratamento.
Apesar disso, salientou os riscos de que o “ouro puro” da análise livre se misture com o
“cobre” da sugestão.

Apesar de admitir que é desejável a abreviação da Psicanálise, Freud argumentou que


propostas como as de Firenczi (análise ativa) e Rank (trauma de nascimento) seriam inviáveis,
pois, entendia que diversos fatores concorrem para o prolongamento do tratamento. Salientou
que a tarefa analítica pode ser interminável, porque a resolução de uma conflitiva não exime o
desenvolvimento de novas. No entanto, considerava que o tratamento seria terminável,
ficando esta determinação a cargo da sensibilidade e experiência do analista.

Para entendermos a crítica de Freud em relação às tentativas iniciais de abreviar a Psicanálise,


vejamos as proposições de Firenczi e Rank. Firenczi foi o primeiro a propor ajustamentos
técnicos, inspirado nas próprias indicações de Freud. Além de utilizar a associação livre,
sugeriu que o paciente fosse estimulado a ter certos comportamentos que fizessem crescer a
tensão e emergir material inconsciente. Além disso, propunha renúncia de certos hábitos,
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visando que deixasse os ganhos secundários da doença e impedir o escoamento da libido pelas
vias habituais para obter um investimento pré-consciente. Não indicava esse procedimento a
todos os pacientes, pois, seu uso indiscriminado poderia aumentar as resistências.

Firenczi relatou dificuldades técnicas com uma paciente histérica que apresentava
investimentos amorosos para com ele, os quais insistia em analisar, sem resultados. O
tratamento foi interrompido algumas vezes, até que o terapeuta impediu a paciente de
manifestar formas veladas de masturbação durante as sessões (cruzar as pernas e fazer xixi).
Assim, começaram a aparecer lembranças, materiais que contribuiram para entendimento da
origem de seus sentimentos.

Firenczi apresentou uma série de restrições ao método ativo, salientando que nunca se deve
começar com a atividade, a qual é mais indicada nos términos de tratamento. Segundo ele,
deve-se tomar cuidado para que a atividade não se torne uma sugestão (direcionamento do
fluxo da libido). Além do mais, não se deveria anunciar o término de tratamento, senão
quando a conflitiva estiver resolvida e restar apenas romper a relação terapêutica. Não se deve
também dar sinais de contratransferência positiva, pois, a análise se propõe a favorecer a
repetição de experiências de privação em condições favoráveis à sua correção. Indicou a
técnica ativa para os casos de tique/gagueira, obsessão, frigidez e impotência.

No desenrolar de seu trabalho, Firenczi desenvolveu a análise mútua, na qual o analista pode
verbalizar sua contratransferência e ser analizado pelo paciente. Em seus diários apresentou
reflexões teóricas e técnicas, além de comentários sobre a obra de Freud e sua relação com o
mentor. Assim como Rank, assinalou a importância do aqui-e-agora no tratamento, sem negar
a importância de recuperar memórias infantis.

Rank teve um estilo mais fechado que dificultou seu reconhecimento como precursos da
psicoterapia breve. Foi um dos que divergiram de seus colegas, dando maior ênfase às
relações pré-edípicas na formação da personalidade (trauma de nascimento e relação mãe-
bebê) e à separação/individuação no processo terapêutico, propondo a terminalidade do
tratamento como estratégia terapêutica. Propunha que nosso papel, qual o de uma parteira, é
separar a libido do objeto no qual está fixada, recorrendo à repetição do trauma de nascimento
na relação terapêutica. Em sua concepção, todo indivíduo nascido estaria abandonado e
tenderia ao retorno, à morte, à regressão e à neurose, por medo de se lançar ao desconhecido.
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O papel do terapeuta seria ativar a vontade do paciente, inicialmente, fortalecendo suas


funções egóicas e oferencendo condições para que, progressivamente, adquira independência
em relação ao terapeuta. Freud estava disposto a aceitar essa concepção, reconhecendo que o
trauma de nascimento seria o protótipo da ansiedade de separação, mas não estava disposto a
aceitar toda uma reestruturação metodológica em torno dela.

Por fim, cabe mencionar o trabalho de Franz Alexander e Thomas French, o qual é
considerado um marco na psicoterapia breve. Eles romperam com a Psicanálise corrente de
modo mais incisivo que Firenczi e Rank, propondo uma atitude mais ativa do terapeuta, desde
o início do processo. Sinalizaram as diferenças entre as reações de figuras parentais e aquelas
do terapeuta, sendo que a atitude mais adequada e compreensiva deste último favorece uma
experiência emocional corretiva.

Sua pesquisa experimental partiu de 3 problemas: a ideia de que a profundidade do tratamento


é proporcional à sua duração e frequência das sessões; a suposição de que os resultados
obtidos por um número reduzido de sessões seriam superficiais; e de que o prolongamento se
justifica na necessidade de superar resistências, antes que se obtenham resultados
significativos. Esses autores descrevem a terapia nos seguintes passos: hipnose cartática,
sugestão em estado de vigília, associação livre, neurose de transferência e reeducação
emocional. Assim, propuseram a terminalidade do tratamento e flexibilidade no uso do
método psicanalítico, dando ênfase à experiência emocional e não à resolução da conflitiva.

Admitiram que, em alguns casos, seria necessário desenvolver a neurose de transferência e


útil uma abordagem mais direta da conflitiva com pacientes de ego mais forte, os quais seriam
capazes de suportar maior nível de tensão. O passado interessaria na medida em que se torna
fonte de comportamentos estereotipados, sendo a terapia centrada na situação-problema atual.
Classificam a abordagem desde a terapia de apoio à terapia em profundidade, sendo a
predileção por algum modelo determinada pelas especificidades do caso. Seriam
características da abordagem uma planificação baseada no diagnóstico e o uso cuidadoso da
interpretação como recurso terapêutico.

Como se pode depreender dessa breve exposição, os pioneiros da psicoterapia breve foram o
próprio Freud, bem como seus discípulos e dissidentes, Firenczi e Rank. As primeiras
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proposiçõs guardavam ainda uma forte relação com a Psicanálise corrente e foram percebidas
maiores cisões com compilado de Alexander e French. Podemos encontrar um relato dessas
contribuições no livro de Theodor Salomão Lowenkron, “Psicoterapia Psicanalítica Breve”.

4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

A Psicanálise assume como tarefa tornar consciente o inconsciente, reconstituindo a estrutura


da personalidade através da elaboração de conflitos primários. Quanto à psicoterapia breve de
orientação psicanalítica, os principais elementos a serem considerados para a sua
caracterização seriam: os fins terapêuticos, a temporalidade e a técnica em si. A seguir,
veremos os principais pontos de convergência e divergência entre a técnica psicanalítica
convencial e a psicoterapia breve.

Na psicoterapia breve os objetivos terapêuticos são mais limitados do que seriam em uma
análise convensional; são determinados conforme as necessidades imediatas da pessoa. Os
objetivos podem se colocar em termos de superação de sintomas e enfrentamento de situações
atuais. Apesar de limitados, devem ser dinamicamente interpretados, de modo que seus efeitos
possam se extender a situações correlatas.

A psicoterapia breve também se diferencia da Psicanálise em termos de temporalidade, pois,


pode ter seu limites fixados a alguns meses de tratamento. Essa condição contribui para que
não se desenvolva a fantasia de união com o analista, problema este frequentemente
enfrentado pelos analistas. Isso faz com que o processo seja estruturado e a relação terapêutica
adquira contornos mais definidos.

No que tange à técnica, o psicoterapeuta terá uma postura diferente daquela adotada pela
analista em relação a diversos aspectos. Segue uma breve exposição dos principais aspectos a
serem considerados e da forma como são tratados em ambas as técnicas.

 Conflitos:
Na Psicanálise são tratados como uma fixação em relações primárias de natureza edípica que
se manifesta em situações atuais. A análise passará por sua revivência na relação terapêutica,
a fim de que sejam resolvidos através da elaboração. Na psicoterapia breve, primeiramente,
escolhem-se os conflitos que serão focalizados e estariam mais diretamente relacionados à
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situação-problema apresentada pela pessoa, a qual, geralmente, motiva a procura pelo


tratamento. O trabalho não se aprofundará nas relações primárias e se circuscreverá sobre as
vivências cotidianas, evitando-se uma mobilização afetiva que favoreça a regressão. Em
alguns casos, é necessário e possível confrontar a pessoa com o conflito original, observando-
se sua capacidade de insigth e a relação deste com a situação-problema; sendo que esta
associação pode partir da própria pessoa. O terapeuta pode se sentir pressionado pelo tempo,
mas deve evitar associações precipitadas entre relações primárias e situações atuais.

 Regressão, dependência e transferência:


A regressão é entendida como uma revivência de modos de funcionamento típicos de etapas
anteriores do desenvolvimento. Na técnica psicanalítica, ela é intensionalmente fomentada,
pois, permite acesso a conteúdos recalcados, facilitando assim o processo de elaboração. Isto
ancontece por meio do manuseio da relação terapêutica, na medida em que se manifestam os
fenômenos transferenciais, isto é, a atualização de modos de relação primária na interação da
pessoa com o seu analista. Na psicoterapia breve é esperada e desejável a experimentação de
pequenas doses de regressão, desde que seja o suficiente para promover insght em relação a
situações conflitivas atuais. Por outro lado, não é conveniente fomentar uma neurose de
transferência, porque esta estratégia não se sustentaria no tipo de enquadramento que técnica
propõe; portanto, não seria coerente que esse fosse o principal recurso terapêutico utilizado.
No entanto, às vezes, a tranferência é inevitável, principalmente, quando da proximidade do
término do tratamente. Assim, fazem-se necessários certos recursos terapêuticos para que esse
fenômeno não alcance demasiada intensidade e possa se configurar como um tipo de
transferência sublimada, prioritariamente positiva.

 Resitência:
Tratam-se de obstáculos que a própria pessoa opõe para o acessso ao insconsciente, sendo
estes interpretados como resistência ao tratamente e, portanto, à cura. Freud distinguiu cinco
formas de resistência em seu trabalho, sendo as quais: regressão, transferência, ganho
secundário da doença, inconsciente (id) e exigências socias (superego). Na Psicanálise
convencional a interpretação das resistências concorre para o prolongamento do tratamento.
Na psicoterapia breve algumas resistências serão analisadas, outras respeitadas e reforçadas.
Frequentemente, trabalharemos com defesas maníacas (negação, onipotência, etc.), barreiras
repressivas para acesso a conteúdos diretamente relacionados ao sofrimento, bem como
mecanismos de isolamento, intelectualização, projeção, entre outros. No entanto, evitaremos
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perturbar mecanismos defensivos caracteriológicos, seja porque queremos evitar excessiva


mobilização afetiva que seria de difícil manejo clínico, seja porque os consideramos úteis e
convenientes para o avanço tratamento. As resistências tendem a ser mais brandas na
psicoterapia breve, porque a qualidade do vínculo terapêutico não propricia o seu
desenvolvimento.

 Insigth e elaboração:
O insigth diz respeito à tomada de consciência da própria realidade psíquica, o que não se
limita à compreensão racional, mas também inclui uma parcipação afetiva intensa, isto é,
contato com aspectos do inconsciente. Já a elaboração se refere a um processo gradual de
descoberta do sentido de alguma interpretação ou insigth. A finalidade das interpretações do
analista, as quais se tratam de um instrumento de trabalho da maior importância na
Psicanálise, seria incitar na pessoa o insigth a respeito de seus conflitos, sendo esta uma
condição para mudanças na personalidade. A elaboração é um operador conceitual que
também concorre para o prolongamento do tratamento, pois, depreende da incursão de
resistências, regressão e neurose de transferência. Na psicoterapia breve deve ser nosso
objetivo promover insigth, sempre que as condições psíquicas da pessoa assim permitirem,
focalizando a situação atual e possibilitando, assim, recuperação da capacidade para enfrentar
o conflito. A extensão do trabalho com o insigth será limitada, restringindo-se a experiências
incipientes de autoconhecimento, as quais podem estimular a auto-observação ou a
continuidade do processo com uma psicoterapia prolongada. Nesse tipo de proposta, o insigth
terá maior participação cognitiva que afetiva; haverá sim uma ressonância afetiva, embora não
tão vívida quanto seria em uma análise convencional. Esta será, na medida do possível,
controlada com a focalização de aspectos atuais da relação psicoterapêutica e da realialidade
externa da pessoa. Da mesma forma, a elaboração também não terá o sentido originalmente
empregado na Psicanálise. Apenas facilitaremos o início de um processo de elaboração que
pode ser levado a cabo pela pesssoa para além do setting terapêutico.

 Funções egóicas:
Consideramos que o insigth facilitado pela interpretação do analista seja a forma mais
utilizada de fortalecer o ego. No entanto, há outras maneiras de fazê-lo, tais como técnicas de
apoio emocional. Esse tipo de técnica costuma ser depreciado no meio psicanalítico, devido
ao risco de fomentar relações de dependência. Mas, elas parecem a única alternativa quando a
pessoa não está em condições de suportar um processo terapêutico interpretativo e se busca,
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prioritariamente, remissão de sintomas. Por outro lado, podemos conseguir resultados


interessantes se utilizarmos técnicas de apoio alternadas com interpretações. Isto porque,
muitas pessoas tendem a se autodepreciar e precisam sentir que estão na direção certa para
continuar caminhando. Nesse sentido, podemos utilizar como recurso para o fortalecimento
egóico verbalizar aspectos sãos de sua personalidade.

 Focalização:
Na psicoterapia breve o trabalho é focado na problemática apresentada pela pessoa, de modo
tal que deixamos de lado outras dificuldades; diferentemente da Psicanálise corrente em que o
foco não faz parte do enquadramento da técnica.

 Multiplicidade de recursos terapêuticos:


Uma variedade de intervenções terapêuticas poderão ser utilizadas, a fim de que se alcancem
os objetivos, como por exemplo: assinalamentos, sugestões, informações, reasseguramento,
psicofármacos, técnicas grupais, comunitárias, intervenções em equipe multidisciplinar, etc. A
utilização desses instrumentos deve ser balizada por uma interpretação psicodinâmica para ser
coerente. A inclusão e eficácia desses recursos dependerá muito da flexibilidade do
psicoterapêuta, além de sua capacidade para realizar ajustes e combinações.

 Planejamento:
Outro aspecto distintivo da psicoterapia breve em relação à Psicanálise corrente é o
planejamento, o qual concerne ao desenvolvimento de um plano de tratamento que
compreende desde o diagnóstico à avaliação dos resultados.

Agora que já tratamos das principais diferenças entre um e outro procedimento,


continuaremos tratando de alguns aspectos que são específicos da psicoterapia breve, cabendo
destacar: situação-problema, foco, ponto de urgência e hipótese psicodinâmica inicial.

 Situação-problema:
Trata-se de uma situação que se apresenta na vida de uma pessoa, em razão da qual passa a ter
dificuldades para se adaptar e, geralmente, motiva a consulta. Pode ser provocada por algum
evento, como um acidente, uma gravidez ou a morte de um ente querido, diante do qual a
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pessoa apresenta reações adiversas, cabendo mencionar: ansiedade, depressão e sintomas


corporais.

 Foco:
Implica em concentrar a tarefa em determinado sintoma ou problemática, contribuindo para
tornar mais efetiva a atividade terapêutica em função das metas traçadas e, eventualmente, de
sua limitada duração. No entanto, não é somente a limitação temporal que justifica o emprego
desse operador conceitual, pois, também pode ser utilizado em psicoterapias nas quais a
pessoa não está em condições de passar por uma análise convencional, porque é muito idosa,
por exemplo. O enfoque implica em manter coerência em relação à fixação de objetivos
terapêuticos prioritários, planejar o tratamento, combater a passividade do psicoterapeuta e se
contrapor à neurose de transferência. O foco será entendido sob o prisma da psicopatologia,
podendo ser traduzido como uma estrutura integrada por distintos fatores intervenientes na
gênese da situação-problema, sendo constituído por um conjunto de hipóteses a respeito dos
mecanismos operantes. Todo foco é definido pelo motivo da consulta e por um conflito
nuclear que se insere em uma situação grupal específica. Esse são elementos de uma situação
que condensa um conjundo de determinantes, os quais: aspectos caracterológicos, histórico-
genéticos, momento evolutivo individual e grupal, além de determinantes do contexto social
mais amplo. A escolha da situação-problema e do consequente foco dependerá, dentre outros
fatores, de critérios pessoais e de experiências prévias do psicoterapeuta. O foco é
determinado a partir de entrevistas clínicas e do psicodiagnóstico, constituindo-se em
elemento decisivo para o planejamento do tratamento e melhores prognósticos, permitindo um
trabalho mais efetivo. Às vezes, urde uma mudança de foco, em razão de situações novas na
vida da pessoa, descoberta de elementos importantes que foram omitidos durante o
diagnóstico, término do tratamento, mediante a iminência da separação cliente-psicoterapeuta.

 Ponto de urgência:
Conflito inconsciente que, pela ação de fatores atuais, internos ou externos, torna-se motivo
de ansiedade e outras defesas. O trabalho se volta imediatamente para esse ponto quando ele
emerge, de modo tal que o psicoterapeuta se concentrará em interpretá-lo. O ponto de
urgência tanto pode ser relacionado à conflitiva focal quanto pode ser extra-focal como, por
exemplo, uma situação de emergência que acomete a pessoa e acaba desviando o foco do
trabalho. Obstinar-se em seguir com o foco sem considerar essa manifestação resulta ineficaz.
Antes de seguir, faz-se necessário desembaraçar o campo para que seja possível reestabelecer
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a concentração. Enquanto o foco se desenvolve sobre uma única estrutura (no máximo duas,
como no caso de término de tratamento), o ponto de urgência é muito variável.

 Hipótese psicodinâmica inicial:


Trata-se de uma tentativa de reconstruir a história dinâmica da pessoa para compreender sua
psicopatologia, incluindo as perturbações que nos sejam conhecidas, especialmente aquelas
correspondentes ao foco, a partir de dados coletados nas entrevistas clínicas iniciais e no
psicodiagnóstico. A hipótese será formulada a partir do referencial teórico da psicanálise e
pode ser modificada ao longo do tratamento. Ela é mais abrangente que o foco, pois, não se
restringe à situação-problema apresentada a qual se pretende resolver e ingloba todo o
conteúdo passível de inferência. A partir da formulação dessa hipótese, poderemos fazer uma
devolutiva e dicutir com a pessoa as metas, bem como elaborar um plano de tratamento.

Em termos de resultados, pesquisas têm demontrado a eficácia da terapia breve de orientação


psicanalítica, não somente em casos nos quais os problemas são mais brandos e recentes.
Apesar disso, pode se mostrar inficaz em alguns casos, como psicopatologias muito graves. A
avaliação dos resultados deve ser feita, inicialmente, em relação ao objetivos prefixados e à
situação sobre a qual se circunscreveu o foco. Depois, pode ser feita uma avaliação mais geral
para analisar os alcances do tratamento na vida da pessoa. Alguns dos resultados que podemos
esperar são:
1. Alívio de sintomas.
2. Mudanças relativas à situação-problema como, por exemplo, ter um desenvolvimento
mais satisfatório, superar inibições e recobrar a capacidade de tomar decisões.
3. Consciência da enfermidade psíquica.
4. Recuperação da auto-estima.
5. Mudanças em outras áreas, tais como: sexualidade, relações interpessoais e
desempenho escolar, principalmente se não foram diretamente abordadas na
psicoterapia.
6. Consideração de projetos para o futuro.
7. Modificações na estrutura da personalidade.

5. ORIENTAÇÕES TÉCNICAS

5.1 Entrevistas preliminares


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É sabida a importância das entrevistas clínicas para o desenvolvimento do tratamento. O


número de entrevistas varia conforme suas finalidades, sendo as quais:
1. Estabelecimento da relação tefapêutica.
2. Elaboração da história clínica.
3. Avaliação diagnóstica e prognóstica.
4. Devolução diagnóstico-prognóstica.
5. Estabelecimento de metas terapêuticas e duração do tratamento.
6. Explicitação do método de trabalho e fixação das demais normas contratuais.

As entrevistas preliminares se destinam ao estabelecimento de um vínculo terapêutico,


momento em que cliente e psicoterapeuta se conhecem e firmam um contrato de trabalho.
Trata-se de um momento propício para demostrar interesse pela problemática da pessoa e se
dispor a ajudar, transparecendo confiança em seu método de trabalho. Para isto, desde o
início, você precisa ser claro em sua comunicação, formulando perguntas que auxiliem no
diagnóstico e fornecendo informações sobre como funciona o tratamento. Ocasionalmente,
podem ocorrer assinalamentos e interpretações, limitando-se às seguintes situações:
 Orientar a relação transferencial, quando surjem obstáculos que levam à fuga do
tratamento.
 Devolução diagnóstico-prognóstica, na qual se pode recorrer a interpretações
panorâmicas.
 Detectar a capacidade da pessoa para uma psicoterapia de insight, empregando
prudentemente interpretações de ensaio.

5.2 História clínica

A história clínica pode nos oferecer informações valiosas para compreender a situação atual
da pessoa, uma vez que, em sua história de vida, determidados padrões patológicos de
conduta podem se repetir. Para coletar essas informações podemos usar um modelo de
anamnese, apesar de não haver necessidade de seguir rigidamente um protocolo de perguntas.

Deve haver um interesse particular pelo motivo da consulta que está, geralmente, ligado à
situação-problema sobre a qual se empreenderão esforços psicoterapêuticos. Vale investigar a
fundo os antecedentes dessa situação, os sintomas que a acompanham e suas repercussões.
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Inicialmente, pode-se deixar que o paciente exponha livremente para, em seguida, direcionar
questionamentos sobre seu histórico pessoal e familiar.

5.3 Avaliação diagnóstica e prognóstica

É preciso um diagnóstico minuncioso para respaldar a indicação clínica, a escolha dos


objetivos e o planejamento do tratamento. Os elementos para o diagnóstico podem ser obtidos
por meio de entrevistas clínicas, testes psicológicos e exemes cmplementares. Também é
preciso considerar o diagnóstico nosográfico-dinâmico, que inclui a avaliação das condições
egóicas, do grau de motivação para o tratamento e da capacidade para o insigth.

O diagnóstico nosográfico-dinâmico compreende identificação da enfermidade atual e


indicação do tipo de personalidade (neurótica, psicopática e psicótica). Além disso, deve
incluir um diagnóstico do grupo familiar de origem, sua dinâmica e influência na questão
atual. Também deve haver uma avaliação das funções egóicas da pessoa, tanto as disponíveis
quanto as que lhe faltam. Interessam-nos as funções egóicas básicas, tais como: percepção,
atenção, memória e pensamento; as relações objetais, no que diz respeito à qualidade e
intensidade de aspectos latentes e manifestos; o controle de impulsos, que pode estar
aumentado ou diminuído; a tolerância à ansiedade e frustração, com a experimentação de
interpretações de ensaio e levantamento de informações sobre como a pessoa tende a reagir ao
luto; o repertório de defesas, que ajuda a determinar a indicação terapêutica e o prognóstico; a
regulação da auto-estima, a qual geralmeente está baixa quando a pessoa procura por
tratamento; e, finalmente, uma avaliação da plasticidade do ego.

A delimitação do foco é o principal ponto da técnica, porque ele orientará todo o trabalho
posterior. Em alguns casos é fácil identifical o foco e estabelecer os objetivos
psicoterapêuticos, porque há um quadro agudo. Em outros é difícil, pois, a pessoa apresenta
quadros generalizados e nós não conseguimos identificar um problema como ponto de partida.
A delimitação do foco para aprofundamento na conflitiva depende da identificação do ponto
de urgência e da elaboração da hipótese psicodinâmica, da qual fazem parte os diagnósticos
até aqui citados.

A respeito do psicodiagnóstico, cabe um adendo: o uso de testes pode ser muito últil,
principalmente em se tratando de psicoterapias com temporalidade delimitada. Uma
16

infinidade de instrumentos pode ser utilizada para otimizar o acesso a informações sobre o
paciente, cabendo citar: escalas, testes de inteligência, de atenção e expressivo-projetivos.
Embora possamos dispor de um tempo razoável para psicodiagnóstico, fazê-lo resulta muito
positivo em termos de agilidade no processo terapêutico.

Na avaliação prognóstica intervém fotores da pessoa, do terapêuta e do contexto no qual o


serviço está sendo oferecido. As condições prognósticas favoráveis em relação ao terapêuta e
ao contexto seriam, respectivamente, domínio teórico-metodológico e contratransferência
positiva, possibilidades espaciais e temporais à realização da psicoterapia. No que diz respeito
à pessoa, os elementos para um prognóstico favorável são:
 Início recente e agudo do sofrimento ou problema atual.
 Grau da patologia.
 Condições favoráveis do meio familiar e social para o desenvolvimento da tarefa
psicoterapêutica.
 Ego forte, com funções básicas preservadas, capacidade de estabelecer boas relações
objetais e tolerar adequadamente a separação que sobrevirá com o término da terapia,
plasticidade de defesas, etc.
 Alto grau de motivação para o tratamento.
 Capacidade de insight.
 Possibilidade de determinar o foco antecipadamente.

Por fim, é imprescindível dar um feedback da avaliação diagnóstica, mesmo quando tenha
sido realizadas por outro da equipe ou profissionais externos. O psicoterapeuta deve informar
as impressões que teve da problemática apresentada pela pessoa em linguagem acessível. Os
objetivos dessa conduta seriam: acolher a pessoa e fornecer esclarecimentos a respeito de sua
problemática, buscando contribuir com o estabelecimento de um vínculo e reforçar sua
motivação para se engajar na psicoterapia; facilitar a escolha de metas terapêuticas, depois de
sugerir o conflito do qual decorre a problemática.

Nesse momento, podemos usar interpretações panorâmicas como recurso, as quais permitem
esboçar psicodinamismos subjacentes à situação-problema. Além disso, devemos dar à
pessoa, sempre que possível, boas perspectivas prognósticas, pois, isto a ajudará a confiar no
trabalho desenvolvido e na sua possibilidade de melhora.
17

5.3 Contrato de metas e tempo de duração

Depois da devolutiva diagnóstica, é hora de discutir com a pessoa os objetivos da


psicoterapia, até que entremos em acordo e eles sejam claramente colocados. Algumas
perguntas que podem nos ajudar, nesse momento, são: Quais suas expectativas acerca do
tratamento? Em que problemas você acredita necessitar de ajuda? Que tipo de ajuda supõe
necessitar? As respostas podem nos dar algumas pistas sobre a forma como compreende o
processo de adoecimento, seu nível de motivação para o tratamento e sua capacidade de
insigth.

Os objetivos devem ser alcançáveis, isto é, considerar as possibilidades da pessoa e do


terapêuta. Eles podem ser primários ou secundários, conforme a importância, imediatos ou
mediatos, segundo prioridade cronologicamente determinada, explícitos ou implícitos, se
forão ou não verbalizados durante o contrato. Alguns objetivos são gerais, tais como: elevar a
auto-estima e alcançar consciência da enfermidade, diferindo-se de objetivos particulares a
cada processo psicoterapêutico.

Quando não se chega a um acordo, seja por submissão da pessoa às sugestões do


psicoterapêuta, seja por desacordo entre as parte, cabem algumas condutas: aceitar o que a
pessoa propõe, renunciando ou postergando objetivos psicoterapêuticos previamente traçados;
realizar esclarecimentos visando motivá-la a estabelecer metas que lhe pareçam convenientes;
não efetuar tratamento algum, se as dissidências forem muito grandes.

Quanto ao tempo de tratamento, este pode varia segundo as condições institucionais do local
onde o serviço está sendo oferecido, as situações colocadas pela pessoa e o acordo
estabelecido com o psicoterapêuta. A estimativa levará em consideração os objetivos que se
pretende alçançar e poderá ser repactuada. Findado o tempo, é importante realizar uma
avaliação dos resultados obtidos e, a partir daí, tomar uma decisão que pode incluir término
definitivo do tratamento, recontrato, sessões de acompanhamento periódico e, até mesmo,
nova indicação psicoterapêutica.

5.4 Explicitação do método e fixação de demais normas


18

Resulta útil à promoção de uma atitude colaborativa informar a cerca de como procederá o
tratamento, explicitando as funções de cada uma das partes. Convém explicar que a
psicoterapia serve para elucidar pontos obscuros da situação, os quais estão relacionados à
manutenção do sofrimento. Até que a pessoa se acostume com o procedimento de
interpretação, é interessante advertí-la da possibilidade de desconforto, principalmente no
início. Além disso, cabe dizer que o terapeuta pode ajudar com seus conhecimento e sua
perspectiva, pois, estando do “lado de fora” da situação vê pontos cegos à própria pessoa.
Também é importante informar que tipo de recursos pretende utilizar, salientando o porquê
dessa predileção. Por fim, as questões de praxi devem ser estabelecidas: posição espacial do
psicoterapeuta em relação à pessoa, horários e frequência das sessões, período de diagnóstico
e data do término do tratamento, férias e feriados, honorários, etc.

5.5 Planejamento

O planejamento concerne ao desenho de uma estratégia de tratamento orientada para o


alcance dos objetivos propostos. Serão considerados: (a) aspectos do paciente, obtidos a partir
da avaliação diagnóstica-prognóstica, que culminam na formulação psicodinâmica; (b) do
psicoterapêuta e da instituição, que passam pela experiência e habilidade clínica, bem como
pelas possibilidades e recursos oferecidos.

Primeiramente, determinamos o enquadramento da técnica, analisando a pertinência de uma


psicoterapia predominantemente orientada para o insigth ou de apoio, por exemplo. Em
seguida, determinamos os conflitos a serem abordados e aqueles que serão “deixados de
lado”, bem como o tipo de atitude a ser tomada diante de certas defesas (incisiva, de
abstenção ou reforço). Definiremos tudo o que se refere à temporalidade, as regras de conduta
para o cliente, a postura que adotaremos (passiva, ativa, diretiva, prudente ou flutuante), os
tipos de intervenção e recursos terapêuticos.

É possível prever determinados inconvenientes e formas de enfrentá-los, além de tarefas


progressivamente mais complexas a serem empreendidas, conforme os objetivos forem sendo
alcançados. É importante antecipar o desenvolvimento e os resultados do tratamento,
inferindo possíveis reações da pessoa em cada etapa, do início ao término do tratamento. Em
suma, a psicoterapia não ficará entregue à intuição e improviso, mas o psicoterapêuta
precisará ter flexibilidade para lidar com situações inesperadas. Ademais, participam do
19

planejamento, eventualmente, outras pessoas que atuam junto ao psicoterapêuta em equipe


multiprofissional.

5.6 Tratamento

Dentre os elementos psicoterapêuticos propriamente ditos, consideraremos, primeiramente, a


relação terapêutica, a regra de funcionamento para o cliente e o papel que nela poderia caber
ao método de associação livre, a atenção do terapeuta à focalização, recursos verbais,
especialmente as interpretações e, por último, algumas reflexões acerca das sessões e de
outros recursos terapêuticos.

Em relação ao vínculo terapêutico, no método psicanalítico, intervém os fenômenos


regressivos e transferenciais. O analista mantém o anonimato, favorecendo um clima de
ambiguidade, e uma postura neutra e relativamente distante, constituindo um vínculo
marcadamente assimétrico, acentuado pelo uso do divã. No que diz respeito ao tempo
prolongado de tratamento e ao emprego da regra psicanalítica de associação livre, instaura-se
um funcionamento regressivo que propicia o desenvolvimento da neurose de transferencia. O
analista emprega a atenção flutuante, interpretando os conteúdos trazidos livremente pela
pessoa, e mantém uma atitude de espera diante dos silêncios.

Na psicoterapia breve, em contrapartida, fenômenos como a regressão e a neurose de


transferência são desencorajados e controlados por meio de medidas próprias. Já que se
considera a ambiguidade inoportuna, o vínculo terapêutico será mais realista. Haverá maior
proximidade afetiva e, portanto, uma relação menos assimétrica. Isso se expressará na posição
espacial do psicoterapêuta em relação à pessoa (frente a frente ou ao lado), a qual incentiva
uma comunicação mais aberta.

O tempo para estabelecimento do rapport será reduzido, principalmente em se tratando de


psicoterapia com término pré-determinado. Para que isto ocorra, o psicoterapêuta oferecerá
uma figura confiável, demonstrando interesse na problemática da pessoa. Fará contrapeso
entre privações (“cortando” certos assuntos, por exemplo) e gratificações emocionais
(respondendo perguntas “pessoais”, por exemplo), ao mesmo tempo, desestimulando o
desenvolvimento de uma relação regressivo-dependente e o desencadeamento de frustrações
sobre as quais não terá oportunidade de empreender um trabalho elaborativo. Intervenções
20

como estas incidem sobre elementos que concorrem para o prolongamento da psicoterapia,
contribuindo com o desenvolvimento de uma relação transferencial positiva sublimada.

Vale ressaltar o papel ativo do psicoterapêuta, que funcionará como catalisador no processso.
Frequentemente, utilizará intervenções não-interpretativas, como perguntas, assinalamentos,
sugestões, informações e, às vezes, tomará a iniciativa na comunicação, propondo o tema a
ser tratado. Essas intervenções são mais diretivas e têm um propósito diferente da
interpretação, a qual visa elucidar a conflitiva focal. O psicoterapêuta pode utilizá-las para
ajudar a pessoa a enfrentar problemas cotidianos, bem como direcionar o foco do trabalho,
escolhendo as situações a serem tratadas e excluindo outras.

Evitam-se os silêncios prolongados, especialmente os silêncios do psicoterapeuta, pois,


consomem o tempo operativo disponível, estimulando a ansiedade e a regressão. Desde que
não sejam forçadas, as expressões corporais e faciais do psicoterapeuta também contribuem
no processo, na medida em que demonstram um olhar atento e interesse no relato. Além do
mais, a possibilidade de intervenções em equipes multidisciplinares introduz novas
configurações na relação psicoterapêutica, realizando um corte ainda maior na manifestação
de fenômenos transferenciais.

5.7 Regra básica de funcionamento para o cliente

A associação livre, regra fundamental da Psicanálise, consiste na enunciação de conteúdos


que ocorrem à pessoa, sem restrições. Juntamente com os sonhos e os atos falhos, a
associação se faz a principal via de acesso ao inconsciente, constituindo-se em modo
operativo quase ininterrupto no método psicanalítico.

Como a regra fundamental psicanalítica exerce papel central no desenvolvimento da neurose


de transferência, não recomendamos que seja empregada da mesma forma em psicoterapias
breves. Dentre os inconvenientes do emprego recorrente da associação livre, cabe destacar:
favorecimento da regressão, incremento de ansiedades paranóides, projeção do superego no
psicoterapêuta, atmosfera de ambiguidade, acesso a conteúdos que não teremos oportunidade
de analisar, dispersão, entre outras situações que desviam o foco e são desencorajada na
psicoterapia breve.
21

A associação livre pode ter algumas vantagens, por exemplo, quando utilizada com pessoas
que tendem a intelectualização como defesa e com aquelas cujo acesso ao conteúdo
traumático ajudaria no aprofundamento da temática focal. O psicoterapeuta deve analisar a
oportunidade para utilizar esse recurso, considerando a capacidade da pessoa de responder a
ele de forma positiva.

Em geral, a eventual relação entre conteúdos espontaneamente evocados e a temática focal


não justifica o emprego da associação livre, devido aos já mencionados inconvenientes. No
mais, não deve haver preocupação se a pessoa sair do foco, desde que estejamos atentos para
relocalizá-la. Operativamente, quando o psicoterapeuta exerce papel ativo, ativando as
funções egóicas da pessoa, acaba estimulando a emergência de associações intensionalmente
dirigidas.

Consideramos que uma certa quantidade de material dissociado se torna acessível ao


consciente, mesmo sem a intervenção da associação livre. Então, é recomendável dar ao
paciente a seguinte orientação a ser seguida ao longo do tratamento: “pode dizer o que deseja,
mas convém falar, preferencialmente, sobre tudo aquilo que acredita ter alguma relação com
os problemas que combinamos de abordar”. Isso inclui fatos atuais, recordações, pensamentos
variados, fantasias, vivências e sonhos.

Em suma, é indicada uma adaptação da regra psicanalítica que se traduz na solicitação de


associações a partir de algum elemento focal. A simples transposição da associação livre para
as psicoterapias breves e focais carece de fundamentos válidos. No entanto, há indicativos de
que podemos nos beneficiar de um uso limitado e seletivo desse procedimento.

5.8 O foco da atenção do psicoterapeuta

A atenção flutuante empregada na Psicanálise consiste em escutar o analisando, evitando


privilegiar qualquer aspecto do conteúdo, visando descobrir conexões inconscientes. A
utilização da atenção seletiva (focal) na psicoterapia breve não implica na exclusão total da
atenção flutuante. Em determinados momentos, resulta útil recuperar este tipo de atenção
quando desejamos explorar algum aspecto do inconsciente, aprofundar na conflitiva focal e,
ainda, produzir interpretações a partir do material trazido pela pessoa.
22

A proposta da psicoterapia breve é combinar atenção flutuante e seletiva de forma operativa e


flexível. Como norma elementar, consideramos a utilização da atenção flutuante todas as
vezes em se solicita associação livre; caso contrário, haveriam incoerências metodológicas.
No entanto, a atenção flutuante não se restringe a essa situação, constituindo parte de uma
estratégia na qual a atenção transita de um modo a outro. Uma forma de explicar essa
transição seria: a pessoa traz conteúdos livres ou focais que o psicoterapeuta recebe a partir de
uma atenção flutuante que lhe permitirá, por sua vez, ativar uma atenção seletiva para
produzir intervenções focalizadas.

5.9 Intervenções verbais

As intervenções do psiterapeuta devem manter três condições: coerência interna, quer dizer,
um conjunto de intervenções deve ser estrategicamente empregado, evitando-se cair no
improviso; proporção elevada de intervenções não-interpretativas, tais como assinalamentos,
perguntas e comentários, visando contrabalançar os efeitos suscitados por intervenções
interpretativas, como por exemplo, desenvolvimento de uma relação de dependência; e, por
fim, a partir de intervenções interpretativas ou não, estimular a pessoa a verbalizar conteúdos
relacionados à problemática focal.

As intervenções interpretativas também são fundamentais na psicoterapia breve, pois, seu


objetivo principal continua sendo o insight. No entanto, o uso desse recurso terapêutico será
alternado com outros tipos de intervenção, visando desestimular os efeitos já mencionados.
Quanto à profundidade, esta será limitada devido ao enquadramento próprio da técnica.
Interpretações profundas poderiam incrementar resistências e defesas, mecanismos esses não
desejáveis em tratamentos breves e focais. Então, convém testar a capacidade da pessoa para
se beneficiar com as interpretações, experimentando-as de modo prudente.

Vejamos, agora, alguns tipos de interpretações:


 Extratransferenciais: São aquelas que concernem a modos de relação com outras
pessoas, a não ser o analista, principalmente figuras significativas ligadas à conflitiva
focal. A este tipo de interpretação a Psicanálise dá pouca ou nenhuma importância; na
psicoterapia breve, por outro lado, adquire prioridade. Resulta últil à interpretação de
relações externas se atentar à manifestação do investimento objetal na relação com o
23

analista. Também é importante realizar um bom estudo clínico e diagnóstico e, além


disso, não nos determos na relação transferencial, como já salientado.
 Transferenciais: Convém se utilizar deste tipo de interpretação quando sugem
resistências transferenciais, como por exemplo, ausências, atrasos e outras
dificuldades do paciente para trazer o material focal, e também quando elucida
aspectos da problemática focal, desde que seja plenamente acessível à pessoa. No
mais, o início e o término de tratamento suscita mais interpretações transferenciais
devido a, respectivamente, defesas e luto.

Uma maneira interessante de utilizar intepretações deste último tipo, evitando-se desenvolver
uma neurose de transferência, é acompanhá-la de algum assinalamento a cerca de relações
externas à psicoterapêutica. Além disso, é coveniente ressaltar aspectos coexistentes na
pessoa, como por exemplo, padrões de relação infantis e adultos, ao mesmo tempo. Outra
forma de apresentar as interpetações seria por meio de sugestões e perguntas, mostrando certa
humildade oposta a idealizações em relação ao psicoterapeuta. Para isto, precisamos mostrar à
pessoa de que aspectos do conteúdo trazido tiramos as interpretações.

Quando se percebe que a pessoa não evoluirá no processo de tomada de consciêcia, torna-se
necessário realizar um trabalho interpretativo mais profundo em torno de conflitos
psicogenéticos. Nesse caso, cabe tomar alguns cuidados, pricipalmente em se tratando de
interpretações relacionadas ao psicoterapeuta, destacando-se:
 Certificar-se de que a pessoa é capaz de receber as interpretações, sem apresentar
reações desfavoráveis ao tratamento;
 Dispor de condições de enquadramento, principalmente temporais, propícias;
 Assegurar que os fatores hitórico-genéticos inclusos nas interpretações matenham
conexão com a problemática focal;
 Trabalhar parcialmente o conflito infantil, evitando abrir feridas nas defesas e se
limitando ao que for necessário para obter certa mobilidade;
 Facilitar a compreensão de determinantes hitóricos do conflito atual, ao invés de
promover revivescência do conflito infantil na relação transferencial.

Por fim, a conformação das intervenções interpretativas é que produzirá determinado efeito: o
desenvolvimento da regressão e da neurose de transferência ou, pelo contrário, a neutralização
24

desses fenômenos. Depois de termos discutido a utilização das interpretações de forma


abrangente no tratamento breve de orientação psicanalítica, passemos a outros tipos de
intervenções verbais.

 Interpretação de sonhos:
Diante dos sonhos, o psicoterapeuta tomará a mesma atitude que ante a outros produtos da
atividade psíquica (atos falhos, fantasias, etc.), isto é, trabalhará com esses materias na
medida em que considere útil ao desenvolvimento do tratamento. O primeiro critério a ser
considerado é guardar relação entre conteúdo onírico e problemática focal. Convém fazer uma
breve exploração do material trazido e, a partir disto, verificar a pertinência de analisá-lo.
Mesmo que não derive na formulação de uma interpretação e seja uma análise de alçance
limitado, sonhos são materiais riquíssimos para uma compreensão dinâmica da pessoa. É
indicado interpretar somente aspectos pré-conscientes latentes, evitando se referir a desejos
infantis inconscientes. Quer dizer, que nos concentraremos nos conteúdos que parecem mais
claros à pessoa, pois, a limitação temporal não nos permite aprofundar em mecanismos
oníricos. O método para interpretação dos sonhos seguirá as orientações gerais até aqui
explicitadas: pode-se utilizar a associação livre, observando-se a focalização e as reservas
necessárias ao controle de fenômenos transferenciais.

 Outras intervenções verbais:


Já mencionados ao longo do texto, assinalamentos, perguntas, fornecimento de informações,
sugestões, comentários, reasseguramento ou reforço, indicações e conselhos, compõem o
arsenal de recursos que podem ser aplamente utilizados pelo psicoterapeuta.

5.10 Intervenções não-verbais

Contamos com numerosas alternativas, principalmente com as possibilidades introduzidas


pelo trabalho em equipes multiprofissionais: psicodrogas, intervenções com familiares e/ou
pessoas próximas, dramatização, psicoterapia grupal, terapia ocupacional, comunidade
terapêutica, hipnose, serviço social, etc. Elas otimizam os resultados do tratamento quando
estrategicamente aliadas à psicoterapia breve.

5.11 Sobre as sessões


25

No geral, não são necessárias e indicadas mais do que duas sessões semanais, sendo que, na
maioria dos casos, somente uma sessão semanal basta. Mais que isto, relações regressivo-
dependentes poderiam ser fomentadas. No entanto, em alguns casos, como quando a pessoa
está em crise ou tende ao acting out2, é coveniente iniciar com um número maior de sessões e
ir diminuindo aos poucos. Quanto à duração das sessões, costuma ser proveitoso entre 40 e 50
minutos, tendo em vista que o psicoterapeuta desempenha um papel ativo e despende grande
esforço para otimizar o tempo.

6 REFERÊNCIAS DE ESTUDO DE CASOS

Alves, S.S. Atendimento em Psicoterapia Dinâmica Breve: relato de caso. Revista Brasileira
de Psicoterapia, 15(3):71-80, 2014.

Bolsson, J.Z. & Benetti, S.P.C. Angústia infantil: um estudo de caso clínico. Aletheia, 34:1-
12, 2011.

Cunha, J.P. & Azevedo, M.A.S.B. Um caso de Transtorno de Personalidade Borderline


atendido em Psicoterapia Dinâmica Breve. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 17(1):5-11, 2001.

Rocha, G.M.A.; Bunge, M.; Strauss, V.; Honda, G.C.; Peixoto, E.; Santeiro, T.V.; Enéas,
M.L.E. Psicoterapia Breve Psicodinâmica de caso grave de depressão em serviço-escola:
limites e alcance. Contextos Clínicos, 9(1):86-97, 2016. doi: 10.4013/ctc.2016.91.07

2
A pessoa não acessa um conteúdo reprimido e não consegue verbalizá-lo; mas o expressa em suas ações, de
modo inconsciente, especialmente dentro da relação transferencial.

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