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Técnicas baseadas em luz síncrotron: uma nova


tecnologia a serviço da ciência do solo

Article · May 2015

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Leonardus Vergutz
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
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OpINIãO

Laboratório Nacional de Luz Sincrotron,


em Campinas,SP

TéCNICAs BAsEAdAs
EM LUZ sINCROTRON:
Uma nova TeCnoloGia a
Serviço da CiênCia do Solo
Luiz Francisco da Silva Souza Filho, Dean Hesterberg, Leonardus Vergütz

Desde que o solo passou a ser uti- de materiais, desde o infravermelho até vam o comportamento das partículas.
lizado como um meio para produção os raios-X, evoluíram de forma signifi- Isso porque, até então, essa luz repre-
de alimentos, fibras e energia - e, mais cativa e tem crescentemente melhora- sentava o principal meio de perda de
recentemente, observado e estudado do a nossa compreensão dos aspectos energia dos aceleradores de partículas.
com relação às suas funções ambien- físicos, químicos e biológicos do solo. Anos depois da observação desse fe-
tais no ecossistema -, diversas técnicas Nesse sentido, as técnicas de radiação nômeno, mais precisamente durante a
foram desenvolvidas buscando avaliá- sincrotron (ou também chamada luz década de 1960, atentou-se para o fato
-lo do ponto de vista físico, químico e sincrotron) são o melhor e mais abran- de que essa luz gerada nos acelerado-
biológico. O desenvolvimento dessas gente exemplo de uso da radiação ele- res de partículas poderia ser utilizada
técnicas acompanhou de perto o avan- tromagnética para estudo das proprie- no estudo de diversos materiais, infor-
ço no conhecimento da física, química dades dos materiais. mando sobre aspectos relacionados à
e biologia, que formam a base para o A luz sincrotron foi observada, pela estrutura da matéria em níveis molecu-
desenvolvimento das técnicas utiliza- primeira vez, em 1947, e foi conside- lar e atômico. Foi, de fato, na década de
das em diversos campos da ciência. rada por um longo período como um 1970 que os aceleradores dedicados à
Dentre elas, as técnicas adotadas na problema para os físicos que estuda- geração de luz sincrotron começaram a
radiação eletromagnética para análise ser projetados, construídos e utilizados.

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MAIO - AgOSTO
SETEMBRO – DEZEMBRO
2015 2014
OpINIãO

A partir daí, diversos laboratórios sur- Nesse tipo de acelerador, partículas


giram no mundo, sendo utilizados em são aceleradas e colididas e os efeitos
estudos nos mais diversos campos da dessa colisão são utilizados para com-
ciência, dentre eles, o das geociências. preender, por exemplo, a origem do
Basicamente, a luz sincrotron é de- universo. Já nos sincrotrons chamados
finida como a radiação eletromagnética de dedicados, como o brasileiro e que
emitida quando elétrons (ou outra par- representa a maioria dos sincrotrons,
tícula carregada - pósitrons ou antielé- elétrons são acelerados com o único
trons), movendo-se a uma velocidade objetivo de gerar a radiação sincrotron
comparável à da luz (velocidade relati- para ser utilizada nas mais diversas téc-
vística) têm a sua trajetória alterada, por nicas espectroscópicas.
meio da ação de campos magnéticos, Para geração da luz sincrotron nos
situação que ocorre dentro de ace- aceleradores dedicados a esse fim,
leradores de partículas cíclicos. Essa tudo começa com a emissão de elé-
denominação surgiu em função da sin- trons por meio de filamentos metálicos
cronização dos campos elétricos e mag- eletricamente excitados para emissão
néticos que são utilizados para acelerar de elétrons, de forma semelhante ao
as partículas. A radiação sincrotron é que ocorre com a lâmpada de cátodo
extremamente intensa e estende-se oco contida nos aparelhos de espec-
desde a região do infravermelho, pas- troscopia de absorção atômica ou tu-
sando pela do visível e ultravioleta, até bos de imagem de televisores antigos.
a região dos raios X (Figura 1). Em seguida, essas partículas passam
O mais famoso acelerador de par- por um acelerador linear que eleva suas
tículas da atualidade é o acelerador velocidades em até 99.9995% da velo-
de partículas da Organização Europeia cidade da luz. Uma vez atingida essa
para Pesquisa Nuclear (CERN), também velocidade, as partículas são direciona-
conhecido como Grande Colisor de das para um acelerador cíclico interme-
Hádrons (Large Hadron Collider - LHC), diário, o booster, para posteriormente
a maior e mais complexa máquina já serem injetados no anel principal (dito
construída pelo homem, com seus 27 anel de armazenamento), onde os elé-
quilômetros de circunferência, insta- trons são armazenados com energias
lado na fronteira entre França e Suíça. da ordem de alguns bilhões de elétron

Figura 1 – As escalas do espectro eletromagnético


e a região coberta pela radiação sincrotron. Extraída
do livro Projeto Sirius: a nova fonte de luz sincrotron
brasileira, Campinas, julho de 2014

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OpINIãO

Figura 2 – Campo magnético mudando a direção dos


elétrons (representado pela seta preta envolta por um
cilindro semitransparente) gerando a radiação sincrotron
(representada pelo cone alaranjado). Extraída do livro
Projeto Sirius: a nova fonte de luz sincrotron brasileira”,
Campinas, Julho de 2014

volts - ou se preferir, a 99.999998% da inserção, ficando os dipolos magnéti- tornou-se a primeira máquina de luz
velocidade da luz! cos apenas com a função de manter os sincrotron em operação no hemisfério
Finalmente, dentro do anel de ar- elétrons em movimento circular; já as sul. O atual sincrotron brasileiro é clas-
mazenamento, campos magnéticos da fontes de luz sincrotron de quarta ge- sificado como de segunda geração que,
ordem de 1 Tesla defletem as trajetó- ração, as mais avançadas, serão aque- apesar da sua alta confiabilidade e es-
rias dessas partículas relativísticas, por las otimizadas para produzir radiação tabilidade, não atende plenamente àss
meio da força de Lorentz, gerando a sincrotron altamente coerente e com novas demandas em ciência, tecnolo-
radiação sincrotron (Figura 2). Essa ra- brilho de várias ordens de magnitude gia e inovação.
diação é, então, condicionada e direcio- maior que os de terceira. Buscando manter a competitividade
nada a estações de trabalho que apre- Alguns países no mundo dispõem no campo das ciências e a possibilida-
sentam instrumentações especializadas de um ou mais aceleradores de partícu- de de oferecer aos seus usuários ferra-
para focalização, filtragem de compri- las que são utilizados para os mais di- mentas modernas de pesquisa, o LNLS
mento de onda, acondicionamento de versos fins científicos - o Brasil o único tem trabalhado, desde 2008, no desen-
amostras e detecção dos fenômenos de país a operar uma fonte de Luz Sincro- volvimento de uma nova fonte de luz
interação entre a radiação e a matéria, tron na América Latina. E sincrotrons sincrotron, denominada de Sirius, uma
também conhecidas com linhas de luz de quarta geração existem hoje apenas das primeiras máquinas consideradas
(ou do inglês, beamlines). dois em construção no mundo: um em de quarta geração do mundo (Figura 5).
As fontes de luz sincrotron são clas- Campinas (SP), o Sirius, e outro em A expectativa é a de que essa nova fon-
sificadas de acordo com o modo de Lund, na Suécia, o Max IV. te de luz sincrotron brasileira esteja en-
operação e os dispositivos de inserção tre as três melhores máquinas do mun-
O Laboratório Nacional de Luz Sin-
nelas contidos. As fontes de primeira do no momento de sua inauguração, se
crotron (LNLS), situado no Polo II de
geração são aquelas que utilizam ape- não a melhor.
Alta Tecnologia de Campinas (SP), é
nas dipolos magnéticos para gerar ra- Os primeiros trabalhos em que a
um dos quatro laboratórios que inte-
diação sincrotron e não eram máquinas radiação sincrotron foi utilizada como
gram o Centro Nacional de Pesquisa
estritamente dedicadas à geração de técnica aplicada à Ciência do Solo fo-
em Energia e Materiais (CNPEM), que é
luz sincrotron; as de segunda geração ram publicados na década de 1990. A
uma organização social qualificada pelo
são máquinas dedicadas e que têm dis- partir dos anos 2000, a técnica passou
Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-
positivos de inserção juntamente com a ser utilizada com maior frequência
vação (MCTI) voltada para a realização
os dipolos magnéticos, e a luz sincro- por cientistas do solo. Atualmente, a
de pesquisas científicas complexas. O
tron é gerada por ambos; as fontes de demanda por tempo de linha por geo-
LNLS, atualmente, opera o sincrotron
terceira geração são aquelas que, assim cientistas em fontes de luz sincrotron
denominado de UVX (espectro da ra-
como as de segunda, apresentam dis- ao redor do mundo é elevada. No Brasil
diação produzida vai do ultravioleta ao
positivos de inserção juntamente com a situação é diferente: a técnica passou
raio X duro), que foi projetado durante
dipolos magnéticos, mas a radiação é a ser utilizada de forma modesta por
a década de 1980 e entrou em opera-
gerada apenas pelos dispositivos de geocientistas apenas a partir de 2010.
ção em 1997 (Figura 4). Nessa ocasião,

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OpINIãO

Figura 4 – Imagem da parte interna do La-


boratório Nacional de Luz sincrotron (LNLS)
visto de cima. Nesta figura podem ser vistos
o booster (anel mais interno que serve para
acelerar os elétrons até próximo da velocida-
de da luz), o anel principal ou de armazena-
mento (onde os elétrons na velocidade relati-
vística são mantidos e campos magnéticos os
defletem, gerando a radiação sincrotron) e as
linhas de luz (ou beamlines, perpendiculares
ao anel principal, onde a radiação é direciona-
da, filtrada e focalizada até as amostras)

Como exemplo dessa situação, na 23ª


Reunião Anual dos Usuários do LNLS,
ocorrida em 2013, não havia nenhum
representante da geociência no comitê
de usuários dessa instituição.
Dentre as técnicas espectroscópi-
cas baseadas em luz sincrotron que
vêm sendo utilizadas com maior fre-
quência na área da geociência, temos
a espectroscopia de absorção de raios
X (XAS – X-ray Absorption Spectrosco-
py), difração de raios X (XRD – X-ray Di- Figura 5 – Projeto
fraction), fluorescência de raios X (XRF da nova fonte de luz
– X-ray flourescence) e tomografia (To- Sincrotron brasilei-
ra, o Sirius. Extraída
mography). Dentre essas, as técnicas do livro Projeto Si-
de difração, fluorescência e tomografia rius: a nova fonte de
são similares àquelas já existentes nos luz Sincrotron bra-
laboratórios de universidades e institu- sileira”, Campinas,
Julho de 2014.
tos de pesquisa, logicamente que com
resolução e sensibilidade bastante su-
periores. Já a técnica de XAS é uma
técnica diferente das técnicas comu-
mente empregadas em estudos relacio- absorção (XANES – X-ray Absorption secundários de fluorescência ou de
nados à área ambiental. Near Edge Structure) e a segunda deno- fotoelétrons, em função da energia da
minada de espectroscopia da estrutura radiação incidente -, tem-se um espec-
Desde a década de 1970, quando foi
fina de absorção (EXAFS – Extended X- tro de absorção de energia, que é uma
desenvolvida a teoria por trás do uso e
-ray Absorption Fine Structure). assinatura completa do estado eletrôni-
interpretação dos dados, obtidos por
A técnica de XAS baseia-se na inte- co e de coordenação espacial do átomo
meio de técnicas espectroscópicas ba-
ração entre o raio X incidente e elétrons absorvedor (Figura 6). Geralmente, um
seadas na absorção de raios X (XAS),
pertencentes a uma das camadas de espectro completo de XAS é coletado
houve crescimento substancial na sua
valência da estrutura do átomo absor- a partir de 200 eV abaixo da borda de
utilização em estudos ligados à Ciência absorção e até 1.000 eV acima da borda
vedor. De maneira bastante simplifica-
do Solo. As pesquisas utilizando XAS de absorção do elemento em estudo.
da, quando a energia do raio X inciden-
têm fornecido informações valiosas e
te for superior à energia de ligação de Como pode ser visto na figura 6, o
novas percepções sobre os conceitos
um elétron da camada de valência de espectro completo de XAS contém as
comumente aceitos que foram desen-
interesse do elemento estudado (a cha- duas regiões: a região de XANES (um
volvidos a partir de décadas de pes-
mada borda de absorção), esse elétron acrônimo para X-ray Absorption Near
quisa, contribuindo para o avanço dos
será promovido a níveis de energia ex- Edge Structure, ou estrutura do espec-
modelos de especiação química aplica-
citados ou mesmo pode ganhar energia tro de absorção de raios-X próximo à
dos à previsão do comportamento de
cinética suficiente para ser ejetado do borda de absorção) e EXAFS (um acrô-
diversos elementos químicos no solo.
átomo. Quantificando-se a intensidade nimo para Extended X-ray Absorption
O acrônimo XAS engloba duas técni-
de radiação absorvida pelo material Fine Structure, ou estrutura fina do
cas: a primeira denominada de espec- espectro estendido absorção de raios-
- ou mesmo observando fenômenos
troscopia de alta resolução da borda de

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OpINIãO

-X). Cada uma delas nos fornece infor-


mações diferentes e complementares
quanto ao comportamento do átomo
absorvedor naquele ambiente em es-
tudo.
A região XANES é muito útil para
avaliar mudanças nos estados de oxi-
dação e para identificar diferentes
espécies químicas do elemento em
estudo. Já a região EXAFS é utilizada
para avaliar também o número de co-
ordenação de um elemento, arranjo da
estrutura cristalina, grau de cristalini-
dade, vizinhança química do elemento
absorvedor e distância da ligação entre
elementos vizinhos. Uma das grandes
vantagens da técnica de XAS é que
ela pode ser utilizada in situ, sem que
a amostra seja tratada ou extraída ante- Figura 6 – Espectro completo de XAS, indicando as técnicas de XANES e EXAFS. A White line
riormente. Além disso, como essa téc- representa a borda de absorção. Extraído de Kelly, S.D. et al (2008) – Analysis of soils and mi-
nerals using X-ray absorption sepctroscopy. In: Ulery, A.L.; Drees, L.R. (Eds.), Methods of Soil
nica é específica para cada elemento, já
Analysis
que elétrons de diferentes elementos
são presos com energias diferentes, a
técnica de XAS nos permite “ressaltar”
o sinal apenas do elemento de interes-
se, sem interferência do restante da amostra a ser analisada por XAS preci- ção para ajudar. Após a submissão, as
matriz. sa ser, obrigatoriamente, uma bem co- propostas são enviadas a assessores ad
Apesar de ser uma análise que exi- nhecida e caracterizada. Assim, como hoc para avaliação. Caso aprovadas, as
ge preparos mínimos nas amostras, o em qualquer trabalho científico, ter um propostas serão executadas no semes-
sucesso de um experimento em um bom objetivo é essencial. tre seguinte ao da submissão da pro-
laboratório de luz sincrotron depende O LNLS tem profissionais altamente posta. Detalhes podem ser obtidos na
da qualidade da amostra. As amostras qualificados (cientistas de linha) traba- página do LNLS: www.lnls.cnpem.br.
devem ser conservadas de acordo com lhando em cada uma das 18 linhas de Como é de conhecimento de todos,
o seu ambiente natural, para que não luz (estações experimentais), além de no dia 20 de dezembro de 2013, duran-
haja nenhuma alteração nas espécies outras instalações modernas e sofis- te a 68º Sessão da Assembleia Geral
químicas do elemento-alvo do estudo. ticadas que são abertas ao uso da co- das Nações Unidas, foi proclamado
Artefatos criados pela má conservação munidade científica e tecnológica de 5 de dezembro como Dia Mundial do
ou preparo inadequado da amostra são diversos países. Para utilizar o LNLS, Solo e 2015 como Ano Internacional
erros comuns entre os que estão se os potenciais usuários devem subme- dos Solos, conforme resolução 68/232.
familiarizando com essa técnica. Adi- ter proposta de trabalho a chamadas Nesse mesmo dia, durante a reunião,
cionalmente, o sucesso da utilização realizadas em dois momentos específi- foi proclamado também 2015 como
de técnicas baseadas em luz sincrotron cos do ano. Nessas propostas, devem o Ano Internacional da Luz e das Tec-
depende de um bom planejamento, constar algumas informações, como nologias Baseadas na Luz, conforme
que vai desde a hipótese do trabalho fundamentação teórica do experimen- resolução 68/221. Portanto, trata-se de
até a realização do experimento, sua to, resultados esperados e o método excelente oportunidade para divulgar
análise e publicação dos resultados. É experimental que deverá ser utilizado e mostrar a importância do solo e da
importante ressaltar que essas técnicas durante a condução do experimento. luz para a o bem-estar e sustentabili-
espectroscópicas não representam a É altamente recomendado que, duran- dade da vida no planeta, além de ini-
solução definitiva para nenhum pro- te o preparo da proposta, os usuários ciarmos uma próspera parceria entre
blema, mas sim uma fonte de novas entrem em contato com os cientistas aqueles que têm o solo como objeto
informações. Dessa maneira, qualquer de linha, que estão sempre à disposi- de estudo e o LNLS.

LUIZ FRANCIsCO sOUZA (lfsouzafilho@gmail.com)Filho é pesquisador do Departamento de Solos da UFV


dEAN L. hEsTERBERg é "William Neal Reynolds Distinguished" Department of Soil Science NCSU
LEONARdUs VERgüTZ (leonardusvergutz@gmail.com) é professor do Departamento de Solos da UFV

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