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Universidade do Sul de Santa Catarina

Criminalística e
Investigação Criminal
Disciplina na modalidade a distância

Criminalística e Investigação Criminal


Universidade do Sul de Santa Catarina

Criminalística e
Investigação Criminal
Disciplina na modalidade a distância

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina | Campus UnisulVirtual | Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: cursovirtual@unisul.br | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
Reitor Coordenadores Graduação Marilene de Fátima Capeleto Patrícia de Souza Amorim Karine Augusta Zanoni
Ailton Nazareno Soares Aloísio José Rodrigues Patricia A. Pereira de Carvalho Poliana Simao Marcia Luz de Oliveira
Ana Luísa Mülbert Paulo Lisboa Cordeiro Schenon Souza Preto Mayara Pereira Rosa
Vice-Reitor Ana Paula R.Pacheco Paulo Mauricio Silveira Bubalo Luciana Tomadão Borguetti
Sebastião Salésio Heerdt Artur Beck Neto Rosângela Mara Siegel Gerência de Desenho e
Bernardino José da Silva Simone Torres de Oliveira Desenvolvimento de Materiais Assuntos Jurídicos
Chefe de Gabinete da Reitoria Charles Odair Cesconetto da Silva Vanessa Pereira Santos Metzker Didáticos Bruno Lucion Roso
Willian Corrêa Máximo Dilsa Mondardo Vanilda Liordina Heerdt Márcia Loch (Gerente) Sheila Cristina Martins
Diva Marília Flemming Marketing Estratégico
Pró-Reitor de Ensino e Horácio Dutra Mello Gestão Documental Desenho Educacional
Lamuniê Souza (Coord.) Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD) Rafael Bavaresco Bongiolo
Pró-Reitor de Pesquisa, Itamar Pedro Bevilaqua
Pós-Graduação e Inovação Jairo Afonso Henkes Clair Maria Cardoso Roseli A. Rocha Moterle (Coord. Pós/Ext.) Portal e Comunicação
Daniel Lucas de Medeiros Aline Cassol Daga Catia Melissa Silveira Rodrigues
Mauri Luiz Heerdt Janaína Baeta Neves
Aline Pimentel
Jorge Alexandre Nogared Cardoso Jaliza Thizon de Bona Andreia Drewes
Pró-Reitora de Administração José Carlos da Silva Junior Guilherme Henrique Koerich Carmelita Schulze Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Acadêmica José Gabriel da Silva Josiane Leal Daniela Siqueira de Menezes Rafael Pessi
Marília Locks Fernandes Delma Cristiane Morari
Miriam de Fátima Bora Rosa José Humberto Dias de Toledo
Eliete de Oliveira Costa
Joseane Borges de Miranda Gerência de Produção
Pró-Reitor de Desenvolvimento Luiz G. Buchmann Figueiredo Gerência Administrativa e Eloísa Machado Seemann Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
e Inovação Institucional Marciel Evangelista Catâneo Financeira Flavia Lumi Matuzawa Francini Ferreira Dias
Renato André Luz (Gerente) Geovania Japiassu Martins
Valter Alves Schmitz Neto Maria Cristina Schweitzer Veit
Ana Luise Wehrle Isabel Zoldan da Veiga Rambo Design Visual
Maria da Graça Poyer
Diretora do Campus Mauro Faccioni Filho Anderson Zandré Prudêncio João Marcos de Souza Alves Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Universitário de Tubarão Moacir Fogaça Daniel Contessa Lisboa Leandro Romanó Bamberg Alberto Regis Elias
Milene Pacheco Kindermann Nélio Herzmann Naiara Jeremias da Rocha Lygia Pereira Alex Sandro Xavier
Onei Tadeu Dutra Rafael Bourdot Back Lis Airê Fogolari Anne Cristyne Pereira
Diretor do Campus Universitário Patrícia Fontanella Thais Helena Bonetti Luiz Henrique Milani Queriquelli Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
da Grande Florianópolis Roberto Iunskovski Valmir Venício Inácio Marcelo Tavares de Souza Campos Daiana Ferreira Cassanego
Hércules Nunes de Araújo Rose Clér Estivalete Beche Mariana Aparecida dos Santos Davi Pieper
Gerência de Ensino, Pesquisa e Marina Melhado Gomes da Silva Diogo Rafael da Silva
Secretária-Geral de Ensino Vice-Coordenadores Graduação Extensão Marina Cabeda Egger Moellwald Edison Rodrigo Valim
Adriana Santos Rammê Janaína Baeta Neves (Gerente) Mirian Elizabet Hahmeyer Collares Elpo Fernanda Fernandes
Solange Antunes de Souza Aracelli Araldi Pâmella Rocha Flores da Silva
Bernardino José da Silva Frederico Trilha
Diretora do Campus Catia Melissa Silveira Rodrigues Rafael da Cunha Lara Jordana Paula Schulka
Elaboração de Projeto Roberta de Fátima Martins Marcelo Neri da Silva
Universitário UnisulVirtual Horácio Dutra Mello Carolina Hoeller da Silva Boing
Jucimara Roesler Jardel Mendes Vieira Roseli Aparecida Rocha Moterle Nelson Rosa
Vanderlei Brasil Sabrina Bleicher Noemia Souza Mesquita
Joel Irineu Lohn Francielle Arruda Rampelotte
Equipe UnisulVirtual José Carlos Noronha de Oliveira Verônica Ribas Cúrcio Oberdan Porto Leal Piantino
José Gabriel da Silva Reconhecimento de Curso
José Humberto Dias de Toledo Acessibilidade Multimídia
Diretor Adjunto Maria de Fátima Martins Vanessa de Andrade Manoel (Coord.) Sérgio Giron (Coord.)
Moacir Heerdt Luciana Manfroi
Rogério Santos da Costa Extensão Letícia Regiane Da Silva Tobal Dandara Lemos Reynaldo
Secretaria Executiva e Cerimonial Rosa Beatriz Madruga Pinheiro Maria Cristina Veit (Coord.) Mariella Gloria Rodrigues Cleber Magri
Jackson Schuelter Wiggers (Coord.) Sergio Sell Vanesa Montagna Fernando Gustav Soares Lima
Marcelo Fraiberg Machado Pesquisa Josué Lange
Tatiana Lee Marques Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC) Avaliação da aprendizagem
Tenille Catarina Valnei Carlos Denardin Claudia Gabriela Dreher Conferência (e-OLA)
Mauro Faccioni Filho (Coord. Nuvem)
Assessoria de Assuntos Sâmia Mônica Fortunato (Adjunta) Jaqueline Cardozo Polla Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Internacionais Pós-Graduação Nágila Cristina Hinckel Bruno Augusto Zunino
Coordenadores Pós-Graduação Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.) Sabrina Paula Soares Scaranto
Murilo Matos Mendonça Aloísio José Rodrigues Gabriel Barbosa
Anelise Leal Vieira Cubas Thayanny Aparecida B. da Conceição
Assessoria de Relação com Poder Biblioteca Produção Industrial
Público e Forças Armadas Bernardino José da Silva Salete Cecília e Souza (Coord.) Gerência de Logística Marcelo Bittencourt (Coord.)
Adenir Siqueira Viana Carmen Maria Cipriani Pandini Paula Sanhudo da Silva Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Walter Félix Cardoso Junior Daniela Ernani Monteiro Will Marília Ignacio de Espíndola Gerência Serviço de Atenção
Giovani de Paula Renan Felipe Cascaes Logísitca de Materiais Integral ao Acadêmico
Assessoria DAD - Disciplinas a Karla Leonora Dayse Nunes Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.) Maria Isabel Aragon (Gerente)
Distância Letícia Cristina Bizarro Barbosa Gestão Docente e Discente Abraao do Nascimento Germano Ana Paula Batista Detóni
Patrícia da Silva Meneghel (Coord.) Luiz Otávio Botelho Lento Enzo de Oliveira Moreira (Coord.) Bruna Maciel André Luiz Portes
Carlos Alberto Areias Roberto Iunskovski Fernando Sardão da Silva Carolina Dias Damasceno
Cláudia Berh V. da Silva Rodrigo Nunes Lunardelli Capacitação e Assessoria ao Fylippy Margino dos Santos Cleide Inácio Goulart Seeman
Conceição Aparecida Kindermann Rogério Santos da Costa Docente Guilherme Lentz Denise Fernandes
Luiz Fernando Meneghel Thiago Coelho Soares Alessandra de Oliveira (Assessoria) Marlon Eliseu Pereira Francielle Fernandes
Renata Souza de A. Subtil Vera Rejane Niedersberg Schuhmacher Adriana Silveira Pablo Varela da Silveira Holdrin Milet Brandão
Alexandre Wagner da Rocha Rubens Amorim
Assessoria de Inovação e Jenniffer Camargo
Gerência Administração Elaine Cristiane Surian (Capacitação) Yslann David Melo Cordeiro Jessica da Silva Bruchado
Qualidade de EAD Acadêmica Elizete De Marco
Denia Falcão de Bittencourt (Coord.) Jonatas Collaço de Souza
Angelita Marçal Flores (Gerente) Fabiana Pereira Avaliações Presenciais
Andrea Ouriques Balbinot Juliana Cardoso da Silva
Fernanda Farias Iris de Souza Barros Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Carmen Maria Cipriani Pandini Juliana Elen Tizian
Juliana Cardoso Esmeraldino Ana Paula de Andrade
Secretaria de Ensino a Distância Kamilla Rosa
Maria Lina Moratelli Prado Angelica Cristina Gollo
Assessoria de Tecnologia Samara Josten Flores (Secretária de Ensino) Simone Zigunovas
Mariana Souza
Osmar de Oliveira Braz Júnior (Coord.) Cristilaine Medeiros Marilene Fátima Capeleto
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica) Daiana Cristina Bortolotti
Felipe Fernandes Adenir Soares Júnior Tutoria e Suporte Maurício dos Santos Augusto
Felipe Jacson de Freitas Delano Pinheiro Gomes Maycon de Sousa Candido
Alessandro Alves da Silva Anderson da Silveira (Núcleo Comunicação) Edson Martins Rosa Junior
Jefferson Amorin Oliveira Andréa Luci Mandira Claudia N. Nascimento (Núcleo Norte- Monique Napoli Ribeiro
Phelipe Luiz Winter da Silva Fernando Steimbach Priscilla Geovana Pagani
Cristina Mara Schauffert Nordeste)
Fernando Oliveira Santos
Priscila da Silva Djeime Sammer Bortolotti Maria Eugênia F. Celeghin (Núcleo Pólos) Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Rodrigo Battistotti Pimpão Lisdeise Nunes Felipe Scheila Cristina Martins
Douglas Silveira Andreza Talles Cascais Marcelo Ramos
Tamara Bruna Ferreira da Silva Evilym Melo Livramento Daniela Cassol Peres Taize Muller
Marcio Ventura Tatiane Crestani Trentin
Fabiano Silva Michels Débora Cristina Silveira Osni Jose Seidler Junior
Coordenação Cursos Fabricio Botelho Espíndola Ednéia Araujo Alberto (Núcleo Sudeste) Thais Bortolotti
Coordenadores de UNA Felipe Wronski Henrique Francine Cardoso da Silva
Diva Marília Flemming Gisele Terezinha Cardoso Ferreira Janaina Conceição (Núcleo Sul) Gerência de Marketing
Marciel Evangelista Catâneo Indyanara Ramos Joice de Castro Peres Eliza B. Dallanhol Locks (Gerente)
Roberto Iunskovski Janaina Conceição Karla F. Wisniewski Desengrini
Jorge Luiz Vilhar Malaquias Kelin Buss Relacionamento com o Mercado
Auxiliares de Coordenação Juliana Broering Martins Liana Ferreira Alvaro José Souto
Ana Denise Goularte de Souza Luana Borges da Silva Luiz Antônio Pires
Camile Martinelli Silveira Luana Tarsila Hellmann Maria Aparecida Teixeira Relacionamento com Polos
Fabiana Lange Patricio Luíza Koing  Zumblick Mayara de Oliveira Bastos Presenciais
Tânia Regina Goularte Waltemann Maria José Rossetti Michael Mattar Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
Jeferson Pandolfo
Maria Carolina Milani Caldas Opilhar

Criminalística e
Investigação Criminal
Livro didático

Revisão e atualização de conteúdo


Adriano Mendes Barbosa

Design Instrucional
Carmen Maria Cipriani Pandini
Sabrina Bleicher

2ª edição

Palhoça
UnisulVirtual
2011
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.

Edição – Livro Didático


Professor Conteudista
Maria Carolina Milani Caldas Opilhar

Revisão e atualização de conteúdo


Adriano Mendes Barbosa

Design Instrucional
Carmen Maria Cipriani Pandini
Sabrina Bleicher (2ª Ed.)

Projeto Gráfico e Capa


Equipe UnisulVirtual

Diagramação
Anne Cristyne Pereira

Revisão
B2B
Ana Paula Aguiar dos Santos (2ª ed.)

341.598
O69 Opilhar, Maria Carolina Milani Caldas
Criminalística e investigação criminal : livro didático / Maria
Carolina Milani Caldas Opilhar ; revisão e atualização de conteúdo Adriano
Mendes Barbosa ; design instrucional Carmen Maria Cipriani Pandini,
Sabrina Bleicher. – 2. ed. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.
124 p. : il. ; 28 cm.

Inclui bibliografia.

1. Crime e criminosos. 2. Inquérito policial. I. Barbosa, Adriano Mendes.


II. Pandini, Carmen Maria Cipriani. III. Bleicher, Sabrina. IV. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul


Sumário

Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

UNIDADE 1 - Criminalística. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

UNIDADE 2 - Metodologia de redação de laudos periciais. . . . . . . . . . . . . . . 33

UNIDADE 3 - Investigação Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

UNIDADE 4 - Técnicas de Investigação Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

UNIDADE 5 - Limites da Investigação Criminal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

Sobre o professor conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 119

Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123


Apresentação

Este livro didático corresponde à disciplina Criminalística e


Investigação Criminal.

O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma


e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.

Lembre-se de que sua caminhada, nesta disciplina, será


acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.

Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem


à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

Bom estudo e sucesso!

Equipe UnisulVirtual.

7
Palavras da professora

Prezado(a) aluno(a):

O presente livro tem por objetivo estudar a Criminalística e a


Investigação Criminal.

Para tanto, inicio apresentando o tema a partir de


conceitos-chave, para assim, possibilitar uma compreensão
contextualizada sobre o conjunto de conhecimentos acerca
da pesquisa, coleta, conservação e exame dos vestígios,
que possibilitam a realização da prova pericial, objeto da
criminalística.

Em seguida, você vai estudar mais detalhadamente as


perícias. As perícias são concebidas como as provas técnicas
produzidas pelos peritos, de suma importância para apuração
da materialidade e autoria do crime.

Você terá a oportunidade de estudar também como se


constituem os locais de crime, a importância do isolamento e
da preservação de provas na área onde o crime foi cometido
e os procedimentos empregados no exame de levantamento
de local, possibilitando a confecção do laudo de exame de
levantamento de local, de suma relevância à investigação
criminal.

O livro aborda, ainda, a metodologia de redação de laudos


periciais, que segue padrão metodológico importante para
a sua compreensão na condição de prova técnica. Você irá
conhecer também alguns modelos de laudos periciais.

Na parte que aborda a Investigação Criminal, faço breves


comentários sobre o conceito e o histórico da Polícia, assunto
relevante para compreender a função investigação criminal
na atualidade, mencionando as competências das Polícias
dispostas pela Constituição Federal de 1988, que atuam
Universidade do Sul de Santa Catarina

nas suas atribuições com a finalidade de prover segurança à


sociedade.

Em seguida, apresento e discuto o conceito da investigação


criminal, concebendo-a como o trabalho realizado pelas Polícias
Federal e Civil, entre outros órgãos, com o objetivo de apurar
infrações criminais, amealhando provas técnicas e testemunhais
para subsidiar o processo criminal.

Neste estudo, você terá a oportunidade de estudar sobre o


inquérito policial, constatando tratar-se de procedimento sigiloso,
inquisitivo e informativo, de competência exclusiva das Polícias
Federal e Civil, no qual a investigação criminal é formalizada.
Cito, neste contexto, algumas técnicas de investigação
criminal, considerando ser imprescindível ao êxito da atividade
investigativa policial a adoção de metodologia e técnicas
adequadas.

Por fim, você terá a oportunidade de conhecer os limites da


investigação policial, que necessita atuar sempre respeitando
normas materiais e processuais inerentes a um Estado
Democrático de Direito. Entre estas normas, das quais destaco
os direitos fundamentais elencados pela Constituição Federal de
1988, você poderá observar que a busca pela prova na atividade
investigativa não é absoluta.

Espero que o conteúdo tratado neste livro traga informações


e subsídios úteis ao seu cotidiano de trabalho e que possa
minimizar os problemas de Segurança Pública existentes no
Brasil.

Profa. Maria Carolina Milani Caldas Opilhar

10
Plano de estudo

O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da


disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.

O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva


em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.

São elementos desse processo:

„„ o livro didático;

„„ o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);

„„ as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de


autoavaliação);

„„ o Sistema Tutorial.

Ementa
Criminalística. Conceito. Perícias. Locais de crime.
Metodologia de redação de laudos periciais. Modelos de
laudos periciais. Investigação Criminal. Conceito e histórico
da polícia. Conceito de investigação criminal. Conceito de
prova. Evolução histórica da prova criminal. Inquérito policial.
Técnicas de investigação criminal.
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos da disciplina

Geral:
Obter conhecimento teórico acerca da criminalística e da
investigação criminal.

Específicos:
„„ Conhecer os conceitos e objetivos da criminalística.

„„ Descrever as perícias e a sua importância como prova


criminal.

„„ Saber acerca dos locais de crime, a necessidade


do isolamento para a preservação das provas e os
procedimentos empregados no exame de levantamento
de local.

„„ Conhecer a metodologia aplicada para a redação de


laudos periciais.

„„ Compreender os conceitos e objetivos da investigação


criminal.

„„ Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evolução


histórica.

„„ Conhecer o inquérito policial.

„„ Descrever as técnicas de investigação criminal e estar


apto a aplicá-las.

Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.

12
Criminalística e Investigação Criminal

Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático desta
disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.

Unidades de estudo: 5

Unidade 1 – Criminalística
Na Unidade 1 você conhecerá a criminalística como um conjunto
de conhecimentos científicos utilizados para a elaboração da
prova pericial. Ao longo da unidade, você estudará as perícias,
os locais de crime e os procedimentos empregados no exame de
levantamento de local, com ênfase na importância do isolamento
da área onde ocorreu o delito.

Unidade 2 – Metodologia de Redação de Laudos Periciais


Nesta unidade você conhecerá a forma como são elaborados os
laudos periciais e alguns modelos de laudo pericial.

Unidade 3 – Investigação Criminal


Na Unidade 3, você poderá compreender o conceito e o histórico
da Polícia. Você poderá identificar os procedimentos de apuração
de infrações criminais e de provas técnicas e testemunhais que
subsidiam o processo criminal e conhecerá os procedimentos de
prova criminal e o seu histórico. Você conhecerá também, em
mais detalhes, o inquérito policial.

13
Universidade do Sul de Santa Catarina

Unidade 4 – Técnicas de Investigação Criminal


Você conhecerá, ao estudar esta unidade, as técnicas de
investigação policial. Identificará a função das Polícias
Investigativas e poderá verificar qual a relação com a investigação
experimental e suas respectivas técnicas. Você conhecerá,
também, técnicas como o interrogatório, a infiltração policial, a
técnica do informante e da vigilância.

Unidade 5 – Limites da Investigação Criminal


Na Unidade 5 você conhecerá a prova criminal, seu conceito e sua
evolução histórica. Com o estudo da unidade, poderá relacionar
a prova às manifestações e aos princípios constitucionais de
garantia dos direitos fundamentais.

Agenda de atividades/Cronograma

„„ Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar


periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.

„„ Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço


a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.

„„ Use o quadro para agendar e programar as atividades


relativas ao desenvolvimento da disciplina.

14
Criminalística e Investigação Criminal

Atividades obrigatórias

Demais atividades (registro pessoal)

15
1
UNIDADE 1

Criminalística

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender a Criminalística como um conjunto de
conhecimentos científicos utilizados para a elaboração
da prova pericial.
„„ Estudar as perícias, os locais de crime e os
procedimentos empregados no exame de
levantamento de local, enfatizando a importância do
isolamento da área onde ocorreu o delito.

Seções de estudo
Seção 1 Criminalística: conceituação

Seção 2 Perícias

Seção 3 Locais do Crime

Seção 4 Levantamento pericial: procedimentos empregados


no exame do local
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


As Polícias Investigativas mais avançadas priorizam a prova
pericial, considerando que, por ser científica, é mais difícil de
ser refutada, contrariada. Também, as Polícias do Brasil que têm
como competência a apuração de crimes vêm seguindo este norte.

Concebendo-se a perícia como prova primordial para a


elucidação dos delitos, o estudo da Criminalística afigura-se
como de extrema relevância.

Vamos ao estudo, então?

Seção 1 – Criminalística: conceituação


Não lhe deve ser novidade que a Constituição Federal de 1988
estabelece que a segurança pública, no nosso País, é dever de
Estado e é exercida por diversas Polícias. Em seu artigo 144, a
Carta Magna definiu as competências das Polícias, dispondo,
entre outros, que o policiamento ostensivo, preventivo, compete
à Polícia Militar e a apuração das infrações penais compete
às Polícias Federal e Civil, esta também chamada de Polícia
Neste livro, a autora apresenta como
sinônimos os termos de infração
Judiciária. As competências das Polícias serão objeto de
penal, crime e delito. discussão, porém, serão detalhadas posteriormente.

A Polícia Civil, via de regra, atua repressivamente após a prática


do crime. Seu objetivo é a elucidação dos delitos, procurando
demonstrar a existência do fato criminoso, a autoria e estabelecer
as condições em que o crime ocorreu. Este trabalho é feito pela
investigação policial.

18
Criminalística e Investigação Criminal

É interessante notar que a investigação policial é


formalizada através de peça preliminar e informativa
denominada inquérito policial, o qual subsidia o
processo criminal. Após a conclusão do inquérito
policial, este é remetido ao Poder Judiciário, que poderá
valer-se das provas amealhadas na fase policial durante
o processo criminal e na prolatação da sentença.

Neste contexto, o trabalho pericial é de suma importância para


demonstrar materialidade e autoria do crime. Via de regra, a perícia é
realizada na fase policial, até porque muitas delas necessitam ser feitas
imediatamente ou logo após a prática do crime.

As Polícias Investigativas mais avançadas do mundo têm como


prioridade o trabalho pericial, menos sujeito a falhas do que a prova
testemunhal. Acerca deste tema, Espíndula (2002, p. 22) discorre:

[...] a prova pericial é produzida a partir de


fundamentação científica, enquanto que as chamadas
provas subjetivas dependem do testemunho ou
interpretação das pessoas, podendo ocorrer uma série de
erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em
relatar determinado fato, até o emprego de má-fé, onde
exista a intenção de distorcer os fatos para não se chegar
à verdade.

É importante notar, ainda, que no sistema processual penal


brasileiro, as pessoas ouvidas na Delegacia de Polícia são
reinquiridas em Juízo, o que pode relativizar o valor probatório do
que foi dito na fase policial. A prova técnica, por óbvio, é científica,
objetiva, portanto mais difícil de ser contestada. Contudo, com a
reforma do Código de Processo Penal pátrio promovida pela Lei
11690/2008, o art. 159, § 3º, passou a admitir no processo penal
a faculdade de formulação de quesitos em face dos laudos periciais
por parte de assistente técnico indicado pelo Ministério Público,
assistente de acusação, ofendido, querelante ou acusado. Determina
o citado dispositivo legal e seu § 3o:

Unidade 1 19
Universidade do Sul de Santa Catarina

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias


serão realizados por perito oficial, portador de diploma de
curso superior.
[...]
§3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente
de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a
formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.

No Brasil não há hierarquia entre as provas, e o Juiz pode


decidir de acordo com a sua consciência, desde que o faça
motivadamente. É o chamado sistema da persuasão racional
adotado pelo Código de Processo Penal no seu art. 155, que
informa que o sistema de apreciação de provas na processualística
penal brasileira é o da persuasão racional, também denominado
de sistema da livre convicção. Determina o citado dispositivo
legal:

[...] o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da


prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as
provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Desse modo, temos um sistema processual penal que permite


todos os meios de prova, a princípio, com o mesmo valor
probatório. Ocorre que, analisando as sentenças criminais,
verifica-se a prevalência da prova pericial sobre as demais, pelos
motivos já expostos.

Os laudos periciais são realizados por meio de conhecimento


advindo da Criminalística. A Enciclopédia Saraiva de Direito
conceitua Criminalística como sendo:

[...] Conjunto de conhecimentos que, reunindo as


contribuições das várias ciências, indica os meios
para descobrir crimes, identificar os seus autores e
encontrá-los, utilizando-se de subsídios da química,
da antropologia, da psicologia, da medicina legal, da
psiquiatria, da datiloscopia etc., que são consideradas
ciências auxiliares do Direito penal (ENCICLOPÉDIA
..., 1997, p. 486).

20
Criminalística e Investigação Criminal

Segundo Gilberto Porto (1960, p.28), Criminalística pode ser


conceituada como:

[...] sistema que se dedica à aplicação de faculdades de


observação e de conhecimento científico que nos levem
a descobrir, defender, pesar e interpretar os indícios de
um delito, de molde a sermos conduzidos à descoberta
do criminoso, possibilitando à Justiça a aplicação da justa
pena”.

José Del Picchia Filho (1982, p. 5) preferiu abordá-la como


disciplina “[...] que cogita do reconhecimento e análise dos
vestígios extrínsecos relacionados com o crime ou com a
identificação de seus participantes”.

Segundo Garcia (2002, p.319), a Criminalística:

[...] trata da pesquisa, da coleta, da conservação e


do exame dos vestígios, ou seja, da prova objetiva ou
material no campo dos fatos processuais, cujos encargos
estão afetos aos órgãos específicos, que são os laboratórios
de Polícia Técnica.

A Criminalística é também denominada Polícia


Científica, Polícia Técnica ou Policiologia, e difere
da Criminologia que estuda o perfil do criminoso
e os motivos que o levaram à prática do crime. São
disciplinas que integram a Criminalística, entre outras,
Locais de Crime, Medicina Legal, Balística Forense,
Papiloscopia, Documentoscopia, Odontologia Legal,
Toxicologia Forense e Hematologia Forense.

Unidade 1 21
Universidade do Sul de Santa Catarina

Em Santa Catarina, o trabalho pericial é realizado pelo Instituto


Geral de Perícias, que apresenta o organograma a seguir:

Figura 1.1: Organograma do Instituto Geral de Perícias.


Fonte: Instituto..., [200-].

22
Criminalística e Investigação Criminal

Você que reside em outro Estado, faça uma pesquisa


sobre o assunto. Como funciona o Instituto Nacional
de Perícias? Use o espaço abaixo para registrar sua
pesquisa e socialize a investigação no Espaço Virtual de
Aprendizagem.

- A seguir, você vai estudar o objeto que trata das provas e os


procedimentos de perícia.

Seção 2 – Perícias
A investigação policial tem como foco a obtenção de provas
criminais que podem ser testemunhais e técnicas.

Prova Criminal é aquela utilizada para demonstrar ao


Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu e
das circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

Você sabe a diferença entre provas criminais e técnicas?

As provas técnicas são as perícias, realizadas por peritos


criminais, e são formadas pelas evidências materiais do crime.
As provas testemunhais são constituídas pelos depoimentos das
testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das
vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

Unidade 1 23
Universidade do Sul de Santa Catarina

Perícia, segundo Garcia (2002), é o conjunto de técnicas


usadas, visando provar a materialidade do crime e
apontar o autor. Um das perícias realizadas trata-se do
exame de corpo de delito. O corpo de delito, por sua
vez, é o conjunto de vestígios deixados pelo criminoso.

Há diferenciação entre corpo de delito e exame de corpo de


delito. Segundo Jesus (2002), o exame de corpo de delito é um
auto em que se descrevem as observações dos peritos e o corpo de
delito é o próprio crime na sua tipicidade.

Nos crimes que deixam vestígios, o exame de corpo de


delito é obrigatório, sob pena de nulidade processual,
nos termos do artigo 158 do Código de Processo Penal
Brasileiro.

Dispõe o artigo 167 do Código de Processo Penal Brasileiro


(CPP):

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de


delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta (BRASIL, 1941).

Portanto, havendo vestígios, o exame de corpo de delito é


imprescindível. Não havendo vestígios, a prova testemunhal é
apta a suprir o auto de exame de corpo de delito.

É relevante ressaltar que o Código de Processo Penal Brasileiro


não mais exige a realização de exame de corpo de delito e outras
perícias por dois peritos oficiais. Conforme o atual art. 159 do
CPP, basta apenas um perito para formulação do laudo pericial.
Determina o citado dispositivo legal, que “o exame de corpo de
delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador
de diploma de curso superior.” Todavia, não havendo peritos
oficiais para produção da perícia, autoriza o § 1o do art. 159:

24
Criminalística e Investigação Criminal

Art. 159. [...]


§ 1º. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por
2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso
superior preferencialmente na área específica, dentre
as que tiverem habilitação técnica relacionada com a
natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de
2008) (BRASIL, 1941).

Seção 3 – Locais do crime


Segundo Kedhy (1963, p.11), “[...] local de crime é toda área onde
tenha ocorrido um fato que assuma a configuração de delito e
que, portanto, exija as providências da polícia”.

O exame de levantamento de local deve ser diferenciado de


acordo com a natureza da ocorrência. Dessa forma, há exame de
levantamento de local de homicídio, suicídio, afogamento, furto
qualificado, acidente de trânsito, dano, estupro, incêndio, disparo
de arma de fogo e outros.

Isolamento e preservação das provas e vestígios essenciais à


investigação
O isolamento do local de crime é a primeira providência a ser
tomada e é responsabilidade dos policiais e peritos, que devem
sempre ter em mente a importância da proteção do local do
crime, para a preservação dos vestígios, e, consequentemente,
para a investigação criminal.

[...] isolamento é a proteção a fim de que o


local permaneça sem alteração, possibilitando,
consequentemente, um levantamento pericial eficaz
(GARCIA, 2002, p. 324).

Esclarece Alberi Espíndula (2002, p. 3) que:

Unidade 1 25
Universidade do Sul de Santa Catarina

[...] diante da sensibilidade que representa um local


de crime, importante destacar que todo elemento
encontrado naquele ambiente é denominado de vestígio,
o qual significa todo material bruto que o perito constata
no local do crime ou faz parte do conjunto de um
exame pericial qualquer, que, somente após examiná-
los adequadamente é que poderemos saber se este
vestígio está ou não relacionado ao evento periciado.
Por essa razão, quando das providências de isolamento e
preservação, levadas a efeito pelo primeiro policial, nada
poderá ser desconsiderado dentro da área da possível
ocorrência do delito (ESPÍNDULA, 2002, p.3).

A alteração do local de crime é prevista como infração penal pelo


artigo 166 do Código Penal:

Art. 166. Alterar, sem licença de autoridade competente,


o aspecto de local especialmente protegido por lei. Pena –
detenção de um mês a um ano e multa (BRASIL, 1941).

O Código Brasileiro de Trânsito, no artigo 312, também tipificou


como crime a alteração de local de acidente de trânsito:

Art. 312. Inovar artificiosamente, em caso de acidente


automobilístico, com vítima, na pendência do respectivo
procedimento policial preparatório, inquérito policial ou
processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a
fim de induzir a erro o agente policial, o perito ou juiz:
Pena: detenção de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único: Aplica-se o disposto neste artigo, ainda
que não iniciados, quando da inovação, o procedimento
preparatório, o inquérito ou o processo aos quais se refere
(BRASIL, 1997).

Dispõe o artigo 169 do Código de Processo Penal Brasileiro:

Art. 169. Para efeito de exame de local onde houver


sido praticada a infração, a autoridade providenciará
imediatamente para que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir
seus laudos com fotografias, desenhos ou esquemas
elucidativos (BRASIL, 1941).

O artigo 6º do Código de Processo Penal enumera as


providências que devem ser tomadas tão logo o delegado de

26
Criminalística e Investigação Criminal

polícia tenha conhecimento do fato delituoso. O inciso II deste


artigo menciona que a autoridade policial deve apreender os
instrumentos e todos os objetos que tiverem relação com o fato.
Não obstante, a prática demonstra que nada deve ser alterado
até a chegada dos peritos no local, e que apenas após o exame de
levantamento de local é possível a apreensão de qualquer material
encontrado na cena do crime.

Apenas a título de exemplo, um projétil, parte de uma munição


deflagrada, apreendido na cena do crime, pode vir a elucidar a
autoria de um homicídio. Através do Laudo de Comparação
Balística, tendo como objetos de exame o projétil e a arma de
fogo de um suspeito, é possível verificar se ele foi expelido pelo
cano daquela arma. Da mesma forma, um estojo, parte de uma
munição deflagrada, sendo objeto de exame com arma de fogo,
através de suas marcas de percussão, é possível constatar se foi
deflagrado por aquela arma.

Seção 4 – Levantamento pericial: procedimentos


empregados no exame do local
O levantamento pericial é o trabalho pericial realizado nos
locais de crime. Depois de concluído, o levantamento pericial dá
origem ao laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia (2002, p. 326), uma perícia completa de


levantamento de local necessita de várias fases, a saber:

[...] isolamento, observações prévias ou exame do local,


fotografia, desenho ou croqui, coleta e embalagem
de evidências, transporte de evidências, exame das
evidências em laboratório, avaliação e interpretação, e
redação de laudo.

Espíndula (2002) elencou alguns procedimentos a serem


realizados nos exames de locais de crimes contra a vida,
que podem ser, via de regra, utilizados em todos os exames

Unidade 1 27
Universidade do Sul de Santa Catarina

de levantamento de locais. A seguir você conhecerá estes


procedimentos em detalhes.

Procedimentos anteriores ao exame


„„ anotação do endereço do fato;

„„ preparação do material utilizado no exame;

„„ reconhecimento do tipo de solicitação (natureza do


exame);

„„ anotação do horário de solicitação do exame.

Exame preliminar da cena do crime


„„ entrevista com o primeiro policial a chegar no local
do fato visando à tomada de informações relativas ao
histórico;

„„ visualização geral da cena do crime e verificação da


adequação do isolamento;

„„ escolha do tipo de padrão a ser utilizado na busca de vestígios


(em linha, em grade, em espiral, em quadrantes etc.);

„„ formulação dos objetivos do exame;

„„ busca de vestígios, que deve prever especial atenção às


evidências facilmente destrutíveis, tais como: marcas de
solado, impressões em poeira, entre outras.

Anotações gerais da cena do crime


„„ data e hora do início dos exames;

„„ localização exata do evento;

„„ condições atmosféricas;

28
Criminalística e Investigação Criminal

„„ condições de iluminação;

„„ condições de visibilidade;

„„ completa análise das vias de acesso;

„„ descrição do local, com nível de detalhe exigido para


cada caso;

„„ condições topográficas da área.

Croqui da cena do crime


O croqui é o desenho do local do crime, devendo sempre ser
apresentado, independente da complexidade do local. Neste
desenho recomenda-se incluir:

„„ dimensões de portas, móveis, janelas, caso necessário;

„„ distâncias de objetos até pontos específicos, como vias de


acesso (entrada e saída);

„„ distâncias entre objetos;

„„ medidas que forneçam a exata posição das evidências


encontradas na cena do crime;

„„ coordenadas geográficas em locais abertos (obtidas por


mapas ou GPS).

Importância das fotografias da cena do crime


As fotografias, internas e externas, são imprescindíveis para a
elaboração do laudo de exame de levantamento de local.

Segundo Garcia, a fotografia é o mais perfeito dos processos


de levantamento de local de crime, por tratar-se de uma
“reconstituição permanente da ocorrência, que irá permitir
futuras consultas” (GARCIA, 2002, p. 326).

Unidade 1 29
Universidade do Sul de Santa Catarina

Espíndula (2002) também discorre sobre o processamento do


local: coleta, identificação e preservação das evidências.

Procedimentos de coleta
Todas as evidências devem ser coletadas de forma legal, visando à
sua admissão como provas em um processo.

Os dois peritos de local devem efetuar a coleta de todas as


evidências.

As evidências devem ser anotadas no croqui e fotografas antes da


sua coleta.

Identificação
Todas as evidências devem ser cuidadosamente identificadas. As
marcas identificadoras podem incluir iniciais, números etc., os
quais permitam ao perito que realiza a coleta reconhecer, em data
posterior, cada evidência como aquela coletada na cena do crime.

Importância da preservação
Cada item das evidências deve ser colocado em um recipiente
ou invólucro adequado à natureza de cada material, tais como
sacos plásticos, envelopes de papel, caixas que necessitam ser
corretamente identificados e vedados ou lacrados.

Evidentemente que técnicas especiais deverão ser aplicadas


de acordo com o delito praticado. Algumas recomendações
específicas deverão ser aplicadas nos locais de morte por
precipitação, por ação do calor, por arma de fogo, por
afogamento, por envenenamento, por aborto e outros.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de


Autoavaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

30
Criminalística e Investigação Criminal

Síntese

Nesta unidade você teve a oportunidade de ver que, de acordo


com a Constituição Federal de 1988, a atividade investigativa
criminal é realizada, entre outros, pela Polícia Federal e pelas
Polícias Civis dos Estados, estas também chamadas de Polícias
Juridiciárias.

A atividade de investigação criminal consiste na apuração


dos crimes, que é feita através da busca de provas, periciais ou
testemunhais.

As provas periciais são técnicas, realizadas por peritos criminais


e são formadas pelas evidências materiais do crime. As
provas testemunhais são constituídas pelos depoimentos das
testemunhas, abrangendo, no sentido amplo, as declarações das
vítimas e o interrogatório dos suspeitos ou indiciados.

A pesquisa, coleta e produção das provas periciais competem


à Criminalística. Via de regra, o trabalho pericial exige
imediatidade. A título de exemplo, o exame residuográfico
de verificação de pólvora exige a condução do suspeito
imediatamente após a prática do delito. O exame de lesões
corporais e de verificação de aborto exige lapso temporal curto
entre o crime e o exame.

Considerada a importância da prova pericial e científica é


imprescindível o isolamento e a preservação do local do crime.
Falhas no isolamento do local do crime podem impossibilitar
a produção da prova pericial. Vestígios deixados no local do
crime podem levar ao autor. Como exemplo, um simples estojo
componente de munição ou projétil componente de munição,
encontrado em local de homicídio mediante disparo de arma de
fogo, pode, através de perícia, ser prova crucial para demonstrar
autoria.

Unidade 1 31
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O


gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Analise as questões abaixo e assinale verdadeiro ou falso, conforme
a proposição. Confira se atendeu às expectativas no final do livro
didático.
( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a
apreensão de estojos no local não é importante, posto que não seja
possível realizar perícia comparativa entre o estojo e a arma de fogo.
( ) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de fogo, a
apreensão de projéteis no local possibilita a realização do laudo de
identificação de projéteis e, quando a arma é apreendida, o laudo de
comparação balística.
( ) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal Brasileiro é
exemplificativo.
( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é
o da íntima convicção.
( ) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a infração
penal não deixar vestígios.

Saiba mais

Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade


ao consultar as seguintes referências:

DAMÁSIO, Jesus. Código de Processo Penal Anotado. 18 ed.


São Paulo: Saraiva. 2002. p.157.

DEL PICCHIA FILHO, José. Tratado de documentoscopia.


Editora Universitária de Direito: São Paulo. 1982.

GARCIA, Ismar Estulano. Inquérito – Procedimento Policial.


Inquérito - Procedimento Policial. 9 ed. Goiânia: AB Editora.
2002. p. 319.

PORTO, Gilberto. Manual de Criminalística. Escola de Polícia


de São Paulo, 1960. p. 28.
32
2
UNIDADE 2

Metodologia de redação de
laudos periciais

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer a forma como são elaborados os laudos
periciais.
„„ Conhecer alguns modelos de laudo pericial.

Seções de estudo
Seção 1 O Laudo pericial: caracterização

Seção 2 Modelos de laudo pericial


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Todos aqueles que queiram se aprofundar no tema da segurança
pública têm, necessariamente, de saber acerca da importância da
prova pericial e conhecer a metodologia de redação dos laudos
periciais. Cabe aos estudiosos do assunto segurança pública
estar aptos a interpretar e avaliar laudos periciais, na sua forma e
conteúdo.

Seção 1 – O Laudo Pericial: caracterização


O laudo pericial deve ser simples e preciso, facilmente
compreendido e assimilado. Não deve tecer juízos de valor,
considerações subjetivas, mas fornecer objetivamente informações
técnicas.

Existem diversos tipos de laudos periciais, dentre eles podemos


destacar:

a) laudo de levantamento de local;

b) laudo de identificação de projétil, laudo de comparação


balística;

c) laudo de verificação de eficácia de arma de fogo;

d) laudo de exame cadavérico, laudo de constatação de


danos, cada qual com as suas peculiaridades.

Não obstante, de forma geral, podem-se definir alguns requisitos


inerentes a todos os laudos.

Toccheto (2005, p. 50-54) elenca alguns itens a serem


preenchidos na elaboração de laudo pericial relacionado a crimes
contra o patrimônio, que, de forma geral, podem ser adotados na
confecção dos demais. Veja quais são:

34
Criminalistica e Investigação Criminal

1. Preâmbulo ou histórico.

2. Preliminares.

3. Objetivo da perícia ou quesitos.

4. Dos exames periciais.

5. Considerações técnicas ou discussão.

6. Conclusão e/ou respostas aos quesitos.

7. Fecho ou encerramento.

8. Anexos.

- A seguir, você terá a oportunidade de conhecer cada um deles...

Preâmbulo ou Histórico
Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo
pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está
subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação,
nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia,
nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o
objetivo geral dos exames periciais.

Fazer, neste tópico, um pequeno histórico da requisição, bem


como uma síntese do fato que originou a requisição da perícia
e as providências tomadas referentes ao fato. Informações
fornecidas por autoridades, funcionários e proprietários devem
ser relatadas neste item.

Preliminares
Neste tópico, o relator vai consignar as informações referentes à
preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações
que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento

Unidade 2 35
Universidade do Sul de Santa Catarina

dos trabalhos periciais. Nos casos de exames em peças, este


tópico destina-se à consignação de qualquer fato conflitante
entre a requisição e o objeto de exame, tais como número de
peças distinto do constante na requisição, peças que não estão
discriminadas, objetivos do exame incompatíveis com o tipo de
peça a ser examinada.

Objetivo da Perícia ou quesitos


Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a
serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na
requisição da perícia ou nos quesitos formulados. Não sendo
especificados na requisição os objetivos da perícia, é de bom
alvitre que os peritos descrevam com certa precisão quais são os
objetivos periciais pertinentes àqueles exames.

Dos Exames Periciais


Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os
respectivos exames levados a efeito naquela perícia. Não é
necessário que, nos exames periciais, constem de forma explícita
os subitens seguintes, mas seu conteúdo deve obrigatoriamente
integrar o texto relativo aos exames periciais:

a) do local: constitui a parte essencial. A descrição deve


ser metódica, objetiva, fiel, minuciosa, clara, síntese do
observado. Quando os fatos forem variados, convém
distribuí-los em capítulos conforme sua natureza e
interdependência. Evitar informações, discussões,
hipóteses, diagnósticos e conclusões;

b) dos vestígios: partindo-se das indicações (referências)


maiores para as menores (detalhes).

Descrever conforme a ordem de maior importância, como o


acesso ao terreno, ao prédio, ao cômodo, à gaveta etc. Aqui
devem ser relacionados e devidamente descritos todos os vestígios
constatados no exame pericial. Deve-se ater somente à descrição

36
Criminalistica e Investigação Criminal

dos vestígios, deixando para o tópico seguinte a sua respectiva


análise e interpretação.

As técnicas ou métodos empregados devem


sempre partir do geral para o particular, de exames
macroscópicos para exames microscópicos. Quando for
empregada mais de uma técnica na realização de um
determinado exame, é preciso citá-la na ordem em que
foi aplicada.

Considerações Técnicas ou Discussão


Do histórico e das descrições (local e vestígios) defluem as
conclusões. Porém, em certos casos, há a necessidade de cotejar
fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades. Por
meio da discussão, asseguram-se conclusões lógicas, afastando-se
as hipóteses capazes de gerar confusão, evidenciando-se aquelas
que, depois de cotejadas, conduzirão e subsidiarão a conclusão.

É preciso buscar a coerência ou não dos elementos observados e


anteriormente citados. Confrontá-los com a normalidade.

Enfim, relatar neste tópico as análises e interpretações das


evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a
facilitar a compreensão e entendimento por parte dos usuários do
laudo pericial.

Conclusão e/ou respostas aos quesitos


A conclusão pericial inserida no laudo pericial deve ser,
obrigatoriamente, uma consequência natural do que já foi
argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos
tópicos anteriores do laudo.

A conclusão deve obedecer a critérios técnicos conforme


já recomendados, ou seja: somente quando nos restar uma
possibilidade para aquele evento, sob a ótica técnico-científica, é
que se pode concluir de forma categórica.

Unidade 2 37
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para chegar-se a essa única possibilidade, tem-se apenas duas


situações viáveis.

A primeira situação é quando, no conjunto dos vestígios


constatados e examinados, há um, por si só, determinante.
Obviamente que vestígio determinante, neste caso, deve estar
caracterizado pela sua condição autônoma associada ao seu
significado no evento em estudo. Em muitos casos, este vestígio
determinante pode estar associado a outros elementos de
convicção técnico-científica. Veja um exemplo para entender
melhor esse conceito.

Impressão digital individualmente é um vestígio


determinante, mas, se for encontrado um desses
vestígios no local do crime, não quer dizer que foi
identificado o autor do crime e, por consequência,
trata-se de um homicídio.

Por outro lado, em um local de incêndio, a constatação de


múltiplos focos iniciais não é um vestígio determinante por si
só, mas, se restar comprovado que tais focos eram isolados ou
incomunicáveis, e em conjunto com as observações anteriores,
nos locais correspondentes aos focos forem retiradas amostras
de materiais que apresentem resultados positivos em exames
laboratoriais, em pesquisa de vestígios de hidrocarbonetos
voláteis, o grau de clareza da ação dolosa será determinante para
a caracterização e materialização do delito.

A segunda situação em que os peritos poderão ter apenas


uma possibilidade será em um universo de vários vestígios,
onde nenhum deles por si só seja determinante, mas apenas
probabilísticos, e que, no seu conjunto de informações técnico-
científicas levem a uma única possibilidade.

Todavia, existem várias situações em que os peritos poderão ter


vários vestígios relacionados com o fato, em que nenhum deles
por si seja determinante. Neste caso, os peritos deverão apontar
quais são e descrevê-los. Existem, por vezes, situações em que,
apesar da existência de vestígios, mesmo analisando-os em seu
conjunto, não será possível chegar a uma definição quanto ao
diagnóstico. Neste caso, os peritos não poderão fazer qualquer

38
Criminalistica e Investigação Criminal

afirmativa conclusiva quanto ao fato, salientando que os vestígios


existentes são quantitativa e qualitativamente insuficientes para se
chegar a uma conclusão categórica.

Há, ainda, a situação na qual, através do seu exame ou de


sua análise, não se observem vestígios materiais capazes de
fundamentar uma conclusão. Neste caso, deve constar no laudo
que, em face da exiguidade de vestígios, não há elementos
técnicos com os quais possa ser fundamentada uma conclusão
categórica.

Mesmo que não seja possível uma conclusão


categórica em uma determinada perícia, deve constar
no laudo o tópico correspondente e, nele informada
a impossibilidade de conclusão em face dos motivos
que devem ser mencionados (exiguidade de vestígios,
falta de preservação etc.), de forma clara e explicativa,
porém, poderá ser levantada uma causa mais provável.

Então, não sendo possível concluir um laudo pericial para


auxiliar no contexto geral das investigações e, posteriormente,
à justiça, o perito deverá tomar todo o cuidado, tanto no exame
quanto no texto dessas argumentações.

Em alguns casos concretos, os peritos terão condições de eliminar


algumas admissibilidades ou hipóteses, e, com isso, delimitar
o trabalho dos investigadores de polícia, e, posteriormente, da
justiça. A eliminação de algumas das possibilidades na verdade
é uma conclusão pela sua exclusão, e, portanto, deve seguir o
mesmo rigor técnico-científico já mencionado.

O técnico-científico se refere à técnica criminalística e o


científico às demais leis da ciência. O perito poderá se valer,
para as suas conclusões, ou de alguma técnica criminalística
já consagrada ou de alguma lei da ciência de qualquer área do
conhecimento científico, ou de ambas, de acordo com cada
situação.

Unidade 2 39
Universidade do Sul de Santa Catarina

Fecho ou Encerramento
Analise o modelo de laudo apresentado a seguir e verifique os
elementos que ele contém.

Modelo de fecho ou encerramento de laudo pericial


Este laudo, composto por (...) páginas impressas em seu anverso,
foi feito em duas vias de igual teor, pelos peritos da Seção de
Crimes Contra o Patrimônio, estando ambas as vias autenticadas
com a rubrica dos seus subscritores, acompanhadas pelos anexos
(citar quais os anexos e o seu número), bem como se devolve
todo o material, descrito no tópico documentos de exame,
lacrados no envelope nº ...
Local e data
Nome dos peritos.

Classe e/ou cargo

Anexos
É necessário incluir, ao final, todos os anexos que foram
produzidos e que sejam necessários para acompanhar o laudo,
visando a melhor compreensão do mesmo, tais como, resultado
de exames complementares, fotografias, gráficos, relatórios de
outros peritos/profissionais etc.

No entanto, considerando os avanços da informática, muitos


recursos gráficos podem ser inseridos no lado ou logo abaixo
da parte do texto a que se refere tal assunto. Em especial para
evidenciar algum detalhe a que o texto esteja se referindo naquele
momento da argumentação. As fotografias, quando digitais ou
digitalizadas, podem seguir esse mesmo critério.

40
Criminalistica e Investigação Criminal

Seção 2 – Modelos de laudos Periciais


Seguem abaixo alguns modelos de laudos periciais. Estes
modelos foram extraídos da obra “Inquérito e Procedimentos
Policial” (GARCIA, 2002, p. 397-398, 415-416, 448-449).

Analise atentamente cada um deles:

a) LAUDO DE EXAME DE DOCUMENTOS

Aos... dias do mês de ... do ano de ..., nesta Capital, no


Departamento de Criminalística, pelo Diretor LL foram
designados PP e PQ para proceder ao exame pericial de
documento, a fim de ser atendida requisição do Bel. AA,
Delegado Titular do 1ª DP, conforme Ofício nº ...
Peças Motivantes
Trata-se de manuscritos apostos em um pedaço de papel sem
pauta medindo aproximadamente 14,7 cm e 6,7 cm.
O documento encontra-se colado em uma folha de papel sem
pauta apresentando no canto superior direito “24-Z”.
Trata-se de envelope que apresenta manuscritos feitos com
caneta dita esferográfica, tinta preta. Encontra-se ele endereçado
a SS e está colado a uma folha em branco, apresentando no
canto superior direito o n. “25-z”.
1 - Peças Paradigmáticas
Como espécimes de confronto, contamos com padrões
autênticos de JJ e JL, contidos em Auto de Colheita de Material
Gráfico Autêntico, coletados pela Polícia Civil de São Paulo –
DEGRAN – através do Dr. AB.
2 – Dos Exames
As peças motivantes e paradigmáticas foram examinadas a
olho nu e por meios óticos adequados em busca de hábitos
gráficos característicos que, uma vez determinados, foram
confrontados entre si para uma possível origem comum ou
não. Fotomacrografias foram tomadas, e os assinalamentos
necessários foram permitindo, assim, um controle da conclusão
pericial.

Unidade 2 41
Universidade do Sul de Santa Catarina

3 – Quesitos e Respostas
1º - O autor do Auto de Colheita de Material Gráfico Autêntico, JJ,
é também autor das escritas gravadas no bilhete de fls. 24, doc
05 e envelope, doc 06, fls. 25?
Resposta: sim
Para que dois grafismos sejam aceitos como do mesmo
punho é necessário que em ambos os seguintes valores sejam
convergentes:
a) habilidade gráfica;
b) hábitos gráficos;
c) que não haja divergências estruturais entre os dois grafismos.
[...]
[...] na carta de confronto em anexo, 01 a 07, os assinalamentos
mais preponderantes estão em quantidade e qualidade
suficientes para afirmarmos que as peças motivantes foram
produzidas por JJ.
[...]
É o nosso relatório.
Obs: O material examinado é devolvido com o presente laudo.
Goiânia, ....... de....... de........
PP PQ

1º Médico-legista 2ºMédico-Legista

42
Criminalistica e Investigação Criminal

b) LAUDO DE EXAME DE ARMA DE FOGO

Aos ... dias do mês de .... do ano de ....., nesta Capital, no


Departamento de Criminalística da Diretoria Geral da Polícia
Civil, pelo Diretor LL, foram designados os peritos PP e PQ
para proceder ao exame pericial em arma de fogo, a fim de ser
atendida requisição do Bel AA, Delegado do 1º Distrito Policial,
através do Ofício nº.

1 – Características das Peças Examinadas


Aos peritos foram apresentados sete cartuchos intactos e um
estojo calibre nominal 7.65 mm, de marca CBC, bem como
uma arma de fogo, curta e de porte, classificada como pistola
semiautomática, tendo as seguintes características:
a) Marca Beretta;
b) Fabricação italiana;
c) N. de série 683C09;
d) Calibre nominal 7.65mm;
e) Mecanismo de percussão central, cão aparente e pino
percurso isolado;
f) Carregamento por pente;
g) Coronha guarnecida por talas de plástico pretas com
inscrição “Cb. BN”(lateral esquerda), bem como com o
logotipo da marca da arma;
h) Dimensões: 8,5cm de comprimento de cano X13,5 de
diagonal máxima;
i) Acabamento oxidado, em desgaste;
OBS: Foi utilizado um cartucho em disparo experimental.
2 – Funcionamento da arma
O estado geral da arma é bom, não apresentando suas peças
quaisquer anomalias que impeçam seu funcionamento. Está apta
à realização de disparos.
3 – Quesitos e Respostas
a) Quais as características da arma periciada?
Resposta_ ver item 1.

Unidade 2 43
Universidade do Sul de Santa Catarina

b) No estado em que se encontra, está em perfeitas


condições de uso?
Resposta: Sim, ver item 2.
c) A munição que a acompanha é do mesmo calibre da
arma, e qual o seu estado?
Resposta: Sim, estado em condições de uso. Seu calibre
corresponde ao da arma, ou seja, 7,65mm.
d) Há evidências de disparo recente?
Resposta: Ver laudo químico.
e) O pedaço de chumbo pertence ao mesmo calibre da
arma?
Resposta: O pedaço de chumbo a que se refere o
quesito é um projétil de arma de fogo calibre nominal
7.65mm, que, inclusive, foi expelido pela arma de fogo
aqui periciada. Portanto, a resposta não só é afirmativa,
como também identifica a arma que o expeliu. Ver fotos
1 e 2.
É o relatório.
OBS: O material examinado é devolvido com o presente.
Goiânia,... de.... de ....
PP PQ
1º Médico-legista 2ºMédico-Legista
Fecha Caixa cinza

44
Criminalistica e Investigação Criminal

c) LAUDO DE EXAME CADAVÉRICO

Aos... dias do mês de ... de ...., no Necrotério do Instituto Médico-


Legal, nós, médicos-legistas que abaixo assinamos, atendendo
à requisição da Delegacia do 1º DP, procedemos ao exame
CADAVÉRICO no cadáver que nos foi apresentado como sendo
de SS (qualificação completa), no qual observamos:

Descrições das lesões: 1 – ferida pérfuro-contusa, medindo 0,8


cm de diâmetro, com área de chamuscamento, localizada na
região bucinadora (cochecha) direita, com trajeto transfixando
a língua e ramo mandibular esquerdo, com saída na região
bucinadora contralateral; 2 – ferida pérfuro-contusa, medindo
0,8 com de diâmetro, com área de chamuscamento e câmara
de mina, localizada na região parietal esquerda, logo acima do
pavilhão auricular (orelha), transfixante, com grande destruição
de massa encefálica, com saída na região carotideana direita,
logo abaixo do pavilhão auricular; 3 – sem outras lesões. Nada
mais tendo sido constatado, passamos a responder aos quesitos.
1º - Houve morte?
Resposta: Sim, houve morte.
2º - Qual a causa da morte?
Resposta: Hemorragia intracraniana.
3º - Qual o instrumento ou meio que a produziu?
Resposta: Pérfuro-contundente.
4º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia,
tortura ou outro meio insidioso ou cruel?
Resposta: Prejudicado.
5º - Qual a data do óbito (especificar hora, dia, mês e ano)?
Resposta: Óbito dia .../.../..., às 17 h.
Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital
de Goiás,aos ... dias do mês de .... de ....
PP PQ
1º Médico-legista 2º Médico-Legista

Unidade 2 45
Universidade do Sul de Santa Catarina

d) LAUDO DE EXAME DE LESÕES CORPORAIS

Aos... dias do mês de ...., no Gabinete do Instituto Médico-Legal, nós, médicos-


legistas que abaixo assinamos, atendendo à requisição da Delegacia do 1º DP,
procedemos ao exame de corpo de delito - LESÕES CORPORAIS - a pessoa
que nos foi apresentada como sendo SS (qualificação completa), na qual
observamos:

DESCRIÇÃO DAS LESÕES: 1 - cicatriz de ferida pérfuro-cortante, medindo 3


cm de extensão, localizada no hipocôndrio esquerdo, próximo ao rebordo
costal; 2 - cicatriz de incisão cirúrgica, mediana, medindo 25 cm de extensão,
localizada na linha média do abdome; 3 – cicatriz de incisão cirúrgica, medindo
2 cm de extensão, localizada no flanco esquerdo (dreno); 4 – relatório de
lesões, cujo teor é o seguinte: “Aos .../.../.., examinei SS e constatei o seguinte:
estado geral comprometido. Lesões apresentadas: 1 – ferida penetrante no
abdome, no hipocôndrio esquerdo; 2 – choque hipovolêmico, Instrumento:
arma branca. Tratamento: cirúrgico, ressecção de estômago devido à laceração
extensa; reposição sanguínea; antibióticos, soroterapia. Sequelas que
futuramente poderão se apresentar: distúrbio digestivo. Afastamento de suas
ocupações por 40 dias. Hospital BDF. Dr. OS, CRM – GO 007”. Nada mais tendo
sido constatado, passamos a responder os seguintes quesitos:
1º - Houve ofensa à integridade corporal ou à saúde do paciente? Resposta:
Sim.
2º - Qual o instrumento ou meio que a produziu? Resposta: Pérfuro-cortante.
3º - Foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel? Resposta: Prejudicado.
4º - Resultou incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta
dias? Resposta – Sim.
5º - Resultou perigo de vida? Sim, devido à lesão penetrante no abdome
com a laceração do estômago e devido ao estado geral comprometido
produzido por choque hipovolêmico que necessitou de cirurgia e de reposição
sanguínea.
6º - Resultou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro,
sentido ou função? Resposta: Sim, debilidade permanente da função digestiva.
7º - Resultou incapacidade permanente para o trabalho, enfermidade incurável
ou deformidade permanente? Resposta: Não.
8º - Resultou aceleração de parto ou aborto? Resposta: Não.
Dado e passado no Instituto Médico-Legal, em Goiânia, Capital de Goiás, aos ...
dias do mês de .... de ....
PP PQ
1º Médico-legista 2º Médico-Legista

46
Criminalistica e Investigação Criminal

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de


Autoavaliação e consulte o Saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

O laudo pericial deve ter linguagem clara, acessível, e as


informações devem ser objetivas, sem haver juízos de valor.

O laudo pericial deve ser formado por:

1. Preâmbulo ou histórico.

Discriminar a data, a hora e o local em que for elaborado o laudo


pericial, o nome do instituto e órgãos superiores aos quais está
subordinado, tipo de laudo, a data da requisição e/ou solicitação,
nome da autoridade que requisitou e/ou solicitou a perícia,
nome do diretor e dos peritos signatários do laudo, bem como o
objetivo geral dos exames periciais.

2. Preliminares.

Neste tópico, o relator vai consignar as informações referentes à


preservação e isolamento do local e quaisquer outras alterações
que forem relevantes ao caso, ou que prejudicaram o andamento
dos trabalhos periciais.

3. Objetivo da perícia ou quesitos.

Descrever, conforme consta na requisição, quais os objetivos a


serem buscados na perícia, os quais deverão estar contidos na
requisição da perícia ou nos quesitos formulados.

4. Dos exames periciais.

Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os


respectivos exames levados a efeito naquela perícia.

5. Considerações técnicas ou discussão.

Unidade 2 47
Universidade do Sul de Santa Catarina

Do histórico e das descrições (local e vestígios) defluem as


conclusões. Porém, em certos casos, há necessidade de cotejar
fatos, de analisá-los, dissipar dúvidas ou ajustar obscuridades.

6. Conclusão e/ou respostas aos quesitos.

7. Fecho ou encerramento.

8. Anexos.

Atividades de autoavaliação
Leia as questões a seguir e responda com base no conteúdo. Verifique
no final do livro as indicações e comentários.
1. Qual a importância do laudo pericial na investigação criminal?

2. Que tipo de prova é o laudo pericial?

3. O laudo pericial é sempre conclusivo?

48
Criminalistica e Investigação Criminal

Saiba mais

Para aprofundar seus conhecimentos tratados nesta unidade você


pode assistir o filme:

Seven – Os Sete Crimes Capitais. (EUA).

Lançado em 1995. Gênero: Policial.

Duração: 128 min. Direção: David


Fincher.

Com a direção de David Fincher e a


atuação dos atores Morgan Freeman,
Brad Pitt, Daniel Zacapa, Gwyneth
Paltrow, o filme conta a história de
dois policiais, um jovem e impetuoso
(Brad Pitt) e o outro maduro e prestes
a se aposentar (Morgan Freeman), que
são encarregados de uma periogosa
investigação: encontrar um serial killer que mata as pessoas
seguindo a ordem dos sete pecados capitais.

(Texto e imagem adaptado de: Seven – Os Sete Crimes Capitais. Disponível em:<http://www.
adorocinema.com/filmes/seven/trailers-e-imagens/#52361>. Acesso em 15 mar. 2011).

Unidade 2 49
3
UNIDADE 3

Investigação Criminal

Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender o conceito e o histórico da Polícia.

„„ Contextualizar a investigação criminal, concebendo-a


como o trabalho realizado pelas Polícias Federal e Civil,
entre outros órgãos.
„„ Identificar os procedimentos de apuração de infrações
criminais, provas técnicas e testemunhais para subsidiar
o processo criminal.
„„ Identificar procedimentos de prova criminal e o
seu histórico com base nos pontos relevantes para
compreender o sistema de provas brasileiro da
atualidade.
„„ Conhecer o inquérito policial percebendo-o como
procedimento sigiloso, inquisitivo e informativo, de
competência exclusiva das Polícias Federal e Civil, no
qual a investigação criminal é formalizada.

Seções de estudo
Seção 1 Conceito e histórico da polícia

Seção 2 A investigação criminal e a prova criminal

Seção 3 Evolução histórica da prova criminal

Seção 4 Inquérito Policial


Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Para que você compreenda como é exercida a atividade estatal
de segurança pública brasileira na atualidade, é imprescindível
que verifique quais são as polícias existentes que integram este
sistema e quais suas respectivas funções. Dessa forma, saberá
quais polícias serão responsáveis pela investigação criminal.

Importante, também, verificar o que é investigação criminal,


inquérito policial e prova criminal, e saber quais os tipos de
provas já foram aceitáveis em tempos passados e como é o sistema
de provas da atualidade.

Seção 1 – Conceito e histórico da polícia


A palavra Polícia é vocábulo derivado do latim “politia”, que,
por sua vez, procede do grego “politeia”, que significa, segundo
Thomé (1997, p.10), “administração da cidade”.

Segundo o mesmo autor, Polícia também pode ser definida como:

[...] instrumento de utilidade e que passa a ser responsável


pela investigação das infrações penais cometidas e pela
política de disciplina e restrição empregada a serviço do
povo (THOMÉ, 1997, p.10).

Marcineiro e Pacheco (2001, p. 47-48) conceituam Polícia como


sendo:

[...] a organização administrativa que tem por atribuição


impor limitações à liberdade (individual ou de grupo) na
exata medida necessária à salvaguarda e manutenção da
ordem pública [...]. No entanto, a polícia mais visível a
todos é a de segurança pública e por isso mesmo todos
tendemos a confundi-la, enquanto parte, com o todo
[...] a polícia se especializa e hoje, se apresenta com

52
Criminalística e Investigação Criminal

duas funções: a polícia preventiva (administrativa), de


proteção individual e coletiva e a polícia judiciária, ou
seja, atividade policial repressiva (judicial) ao crime e de
auxílio à justiça penal (investigação científica dos crimes).

Segundo Tourinho Filho (2001, p. 27),

[...] a Polícia é o órgão incumbido de manter e preservar


a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do
patrimônio.

Você já teve a oportunidade de ler o que dispõe o artigo 144 da


Constituição Federal de 1988 com relação à segurança pública.
Diz o artigo:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e


responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares.

Portanto, às Polícias Rodoviária Federal, Ferroviária Federal e


Militares cabe o policiamento ostensivo, atuando precipuamente
na prevenção dos delitos.

De outro lado, é interessante que você perceba que a atuação


principal das Polícias Federal e Civis ocorre após a prática do
crime, na repressão dos delitos. Apuram materialidade e autoria
das infrações penais por meio da função investigativa.

O que cabe à Polícia Federal?

À Polícia Federal cabe a apuração das infrações penais contra


a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha
repercussão interestadual ou internacional e exija repressão

Unidade 3 53
Universidade do Sul de Santa Catarina

uniforme, segundo se dispuser em lei, além de prevenir e


reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
contrabando e o descaminho, nos termos do artigo 144, § 1º, I e
II da Constituição Federal de 1988.

O que cabe à Polícia Civil?

A Polícia Civil, também chamada de Polícia Judiciária, tem


competência residual, tendo a função de apurar as infrações
penais e respectivas autorias, ressalvadas as atribuições da Polícia
Federal e as infrações da alçada militar, de acordo com o artigo
144, § 4º, da Carta Magna.

A Polícia como organização surgiu em 1829, na


Inglaterra, com a criação da Polícia Metropolitana de
Londres, considerada a primeira organização policial
do mundo. No Brasil, segundo Marcineiro e Pacheco
(2001, p.15), a história da Polícia tem início apenas no
século XIX, no ano de 1808, com a vinda da Família
Real Portuguesa ao Brasil, em decorrência das invasões
napoleônicas no continente europeu.

Inicialmente, segundo Thomé (1997), a ação militar em defesa


da posse, a função policial e a função de julgar não estavam
separadas. A atividade investigativa ficava sob a responsabilidade
dos magistrados, em especial dos Juízes de Paz. Com o rápido
crescimento das atividades econômicas e sociais, fez-se necessária
a organização dos serviços policiais.

Segundo Marcineiro e Pacheco (2001), a origem da Polícia


Judiciária, como organização, ocorreu em 1841, com a
promulgação da Lei nº 261, de 03 de dezembro, que apresentava
uma organização policial incipiente, criando em cada província
um Chefe de Polícia, com seus delegados e subdelegados
escolhidos dentre os cidadãos.
Segundo Silva (1999, p.130),
Democracia é “[...] um regime
político em que o poder repousa na A partir da promulgação da república, em 1889, a Polícia
vontade do povo”. passou a atuar de acordo com o modelo político vigente. Na
democracia, a Polícia tinha como foco a segurança pública
dos cidadãos, e, nos períodos ditatoriais, a Polícia tinha como

54
Criminalística e Investigação Criminal

prioridade salvaguardar a segurança nacional estatal, o que fica


evidenciado pelos dispositivos que versavam sobre segurança
pública, inseridos nas Constituições Federais que se sucederam.

Importante a diferenciação que Marcineiro e Pacheco,


na obra Polícia Comunitária. Evoluindo para a Polícia
do Século XXI, p.33, fazem entre segurança nacional
e segurança pública: a primeira com sendo a defesa
do Estado e a segunda tendo o foco na segurança da
sociedade.

A atual Constituição Federal de 1988 é fruto de uma


redemocratização, iniciada em 1985, após vinte e um anos de
regime de exceção. Promulgada em um Estado Democrático
de Direito, a Carta Magna prima pela garantia dos direitos
individuais.
Segundo Canotilho (1999,
p.372), “[...] garantias
Nesse contexto, a Polícia passa a ter o dever de prestar serviços são os meios processuais
respeitando tais garantias e contribuindo para salvaguardá-las. adequados à proteção dos
direitos.
– Você estudou até aqui o conceito de polícia e um pouquinho da sua
história. Na próxima seção, você conhecerá o conceito de investigação
criminal e o conceito de provas criminais, conceitos fundamentais desta
unidade. Vamos adiante?

Seção 2 – A investigação criminal e a prova criminal


A investigação é um ato instintivo do homem que o faz movido
pelo princípio inteligente e pelo instinto de curiosidade. De
acordo com Bueno (1977, p. 685), investigar significa “[...]
indagar, pesquisar, fazer diligências para achar, [...], descobrir”.

Mas você sabe que sentido esta palavra assume no


contexto da segurança pública?

Unidade 3 55
Universidade do Sul de Santa Catarina

A investigação policial é atividade de natureza sigilosa exercida


por policial ou equipe de policiais determinada por autoridade
competente que, utilizando metodologia e técnicas próprias, visa
à obtenção de evidências, indícios e provas de materialidade e de
autoria do crime.

Em outras palavras, a investigação policial, ou investigação


criminal, é atividade policial direcionada à apuração das infrações
penais e de sua autoria. É o trabalho realizado por policiais,
especialmente delegados e seus agentes, procurando esclarecer a
autoria e materialidade de delitos, bem como as circunstâncias
em que ocorreram. Estas circunstâncias são detalhes de fatos
criminosos com a preocupação de melhor identificar as pessoas
com eles relacionados e o próprio objeto do crime, visando a
reunir elementos probatórios para o indiciamento ou não e
posterior encaminhamento à apreciação judicial.

Você sabe qual o objetivo da investigação criminal?

O objetivo da investigação criminal é amealhar provas criminais,


para comprovar materialidade e autoria do delito.

A prova criminal
O vocábulo “prova” origina-se do latim probatio, que, por sua
vez, emana do verbo probare, com o significado de demonstrar,
Grinover, Fernandes e Gomes Filho
(1996, p. 106) diferem fonte de
reconhecer, formar juízo sobre um fato.
prova, meio de prova e objeto da
prova: “Pode-se, assim, distinguir A prova consiste, pois, na demonstração da existência ou da
entre fonte de prova (os fatos veracidade daquilo que se alega como fundamento do direito que
percebidos pelo juiz), meio de prova se defende ou que se contesta (DE PLÁCIDO e SILVA, 1978, p.
(instrumentos pelos quais os fatos
1253).
se fixam em juízo) e objeto da prova
(o fato a ser provado, que se deduz
da fonte e se introduz no processo
pelo meio de prova)”.

56
Criminalística e Investigação Criminal

Segundo Greco Filho (1997, p. 196), “a prova é todo


meio destinado a convencer o juiz a respeito da
verdade de uma situação de fato”.

Todas as afirmações de fato feitas pelo autor, bem como as


afirmações feitas pelo réu, que normalmente se contrapõem
àquelas, podem ou não corresponder à verdade. De acordo com
Cintra (2003, p. 348),

[...] as dúvidas sobre a veracidade das afirmações de fato


feitas pelo autor ou por ambas as partes no processo, a
propósito de dada pretensão em juízo, constituem as
questões de fato que devem ser resolvidas pelo juiz, à
vista da prova dos fatos pretéritos relevante.

Portanto, ainda de acordo com Cintra (2003), a prova constitui


o instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a
respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos controvertidos no
processo.

Especificamente com relação à prova criminal, pode-se afirmar


que é aquela utilizada para demonstrar a ocorrência ou não
de uma infração penal e as circunstâncias que possam influir
no julgamento da responsabilidade e na individualização das
penas. As provas criminais formam a convicção a respeito da
autoria e materialidade da infração penal, das condições de
antijuridicidade e culpabilidade, e de todos os demais elementos
necessários para fundamentar uma decisão condenatória ou
absolvitória.

Em síntese, a prova criminal é aquela utilizada para demonstrar


ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu
e as circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

Unidade 3 57
Universidade do Sul de Santa Catarina

Secão 3 – Evolução histórica da prova criminal


O sistema probatório, no Processo Penal Brasileiro, adotou o
modelo europeu-continental, fazendo-se importante uma breve
análise das origens deste modelo.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de


reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a
história da civilização, estando fortemente condicionados por
circunstâncias históricas e culturais.

Na Antiguidade, a religião era a força propulsora


das organizações rudimentares e, posteriormente,
das cidades, estando acima de tudo e de todos. Leis
e religião se misturavam. Coulange (1996, p.152)
menciona que o respeito dos antigos às leis advinha da
crença de que estas eram ditadas pelos deuses, tinham
origem sagrada.

Esta foi uma época em que os homens não conheceram a


liberdade individual, pois não se tinha a mais leve ideia sobre
a individualidade humana e sobre os Direitos a ela inerentes.
Foi neste período em que se instituíram as ordálias ou juízos de
Deus, e os juramentos. Aqueles se fundavam na crença de que
Deus não deixaria de sustentar o Direito do inocente, estes no
pressuposto de que ninguém se atreveria a tomar Deus como
testemunha de uma falsidade.

Santos (1970, p. 25) conceitua ordália como

[...] sendo a submissão de alguém a uma prova, na


esperança de que Deus não o deixaria sair com vida ou
sem um sinal evidente, se não dissesse a verdade ou fosse
culpado.

Segundo Santos (1970), as ordálias constituíram a prova


suprema usada pelos germanos primitivos e os povos
antigos da Ásia, não tendo aplicação entre os romanos,
que, segundo Sznick (1978), conheceram e fizeram uso
da tortura contra seus escravos na Antiguidade .

58
Criminalística e Investigação Criminal

Durante muitos séculos na Idade Média, com o domínio absoluto


dos bárbaros na Europa, as ordálias também tiveram aplicação.

Segundo Santos, (1970, p. 26) na prova pelo fogo se fazia o


acusado carregar uma barra de ferro em brasa por certa distância,
ou caminhar, com os pés nus, sobre ferros candentes, e a prova
pela água fervente consistia no acusado tirar um ou mais objetos
do fundo de uma caldeira de água fervente, sendo o acusado
absolvido se não restassem lesões e condenado no caso contrário.

Montesquieu (1996, p. 553) menciona que a prova pela água


fervente podia ser substituída, a critério do acusador, por
certa quantia e pelo juramento de algumas testemunhas que
declarassem que o acusado não havia cometido o crime.

Acerca dos juramentos, Santos (1970, p. 30-31) analisa:

Compreende-se facilmente a inclusão do juramento entre


os velhos sistemas probatórios, que se reflete na influência
exercida pelas religiões sobre os homens e as organizações
sociais da Antiguidade e da Idade Média, bem como
na circunstância de ser quase impossível, numa época
em que a escrita não existia, colherem-se provas
testemunhais, dada a pouca densidade da população e
a própria natureza patriarcal dos agregados humanos.
Assim, pode-se dizer que a prova pelo juramento decorria
da própria necessidade [...].

Com a desmoralização do juramento, instituiu-se como instituto


probatório o duelo, também chamado combate judiciário.

No final da época medieval e durante a Idade Moderna surgiram,


na Europa, os tribunais da inquisição, período em eram tidos
como hereges os que contrariavam os dogmas oficiais da Igreja
Católica.

Mas para que a tortura era utilizada? Qual a finalidade?

Discorrendo sobre este momento, Cotrin (1997, p. 157) menciona


que “a tortura era utilizada oficialmente nos interrogatórios, na
presença dos juízes, com a finalidade de obter a confissão”.

Unidade 3 59
Universidade do Sul de Santa Catarina

Novinski (1982, p. 47) nomina este método de “inquisitivo”,


atuante nos séculos XVI, XVII e XVIII, e que atendia aos
interesses de todas as facções do poder: coroa, nobreza e clero.

Considerando a dificuldade de se obter outros meios de prova,


a confissão do acusado representava o objetivo primordial do
procedimento inquisitório. Enfocando a tortura, Gomes Filho
(1997, p. 22), menciona que: “somente ela podia fornecer a
certeza moral a respeito dos fatos investigados, e a pesquisa cedia
vez à confirmação de uma verdade já estabelecida”.

No que se refere à valoração das provas, é neste


período que surgiu o sistema das provas legais,
pelo qual cada prova tinha seu valor previamente
determinado, e somente a combinação destas
autorizaria uma condenação criminal.

A tortura clássica tornou-se mecanismo regulamentado e


legalizado de Prova. Segundo Foucault (2002, p. 36), “a tortura é
um jogo judiciário estrito [...], o paciente é submetido a uma série
de provas, de severidade graduada, e que ele ganha aguentando
ou perde confessando”.

Ortega (1998, p. 463), discorrendo sobre o sistema jurídico-


penal e processual penal, nos séculos XVI e XVII, na Europa,
menciona que a tortura tratava-se de peça fundamental
no processo, utilizada para obter a confissão do réu, e era
diferenciada de acordo com a classe social a que pertencia o
indivíduo, estando a nobreza sujeita à tortura apenas nos delitos
considerados extremamente graves. Portanto, o princípio da
igualdade era inexistente naquela época.

Sobre este tema, Beccaria (1993, p. 36), autor da obra


Dos Delitos e Das Penas, escrita no século XVIII, cuja
essência é a defesa do indivíduo contra as atrocidades
e arbitrariedades daqueles tempos, e que influenciou a
reforma de muitos Códigos Penais e Processuais Penais
Europeus, manifestou-se afirmando que a tortura é
muitas vezes um meio seguro de condenar o inocente
fraco e de absolver o criminoso robusto.

60
Criminalística e Investigação Criminal

Valiente (2002, p. 161 - 162) sintetiza algumas das ideias


defendidas por Beccaria, na obra citada: a mudança do processo
inquisitivo para o acusatório, público, com meios de prova claros
e racionais; a igualdade entre nobres, burgueses e plebeus; a
proporcionalidade entre os delitos e as penas; a nítida separação
entre a religião e o Estado e seus Poderes, desvinculando os
conceitos de pecado e delito; a supressão total da tortura e da
pena de morte; e a preferência dos métodos preventivos aos
repressivos; ideias estas que continuam a influenciar os sistemas
penais e processuais penais atuais.

Para Bentham (2002, p. 316), a tortura era empregada para


suprir a deficiência dos meios probatórios da época:
No livro original, sem
tradução, o texto é o
seguinte: “La tortura,
A tortura, empregada para arrancar as confissões, empleada para arrancar las
objetiva suprir a deficiência das provas. Supondo que confesiones, se encamina
o delito não está provado, que faz o juiz? Ordena a suplir la insufi ciencia de
atormentar uma pessoa, na dúvida de ser inocente ou las pruebas. En el supuesto
culpado. (tradução da autora). de que el delito no está
probado, qué hace el juez?
Sabadell (2002, p. 275), discorrendo sobre a tortura oficializada, Ordena atormentar a una
persona, en la duda de si
afirma:
es inocente o culpable”.

A tortura judicial está vinculada ao sistema de provas


legais, desenvolvido a partir do século XIII pelos
doutrinadores do Direito medieval europeu. Sua base é a
classificação sistemática das provas romanas, segundo o
método escolástico, em graus: provas plenas, semiplenas,
indícios e presunções. Acima da prova plena está o
notorium. Por meio deste instituto era concedida a
dispensa de produção de provas em determinados casos.

Sabadell (2002) conceitua notorium como sendo a prova à qual


se deve dar a máxima credibilidade, já que, diferentemente
das demais provas, não se permite que se estabeleça nenhuma
discussão ou questionamento.

Unidade 3 61
Universidade do Sul de Santa Catarina

Na Idade Média e grande período da Idade Moderna, inexistia a


concepção de direitos individuais, havendo sempre a prevalência
* tradução: rainha das Provas (cf.
do interesse público em detrimento do indivíduo, o que se
CALDAS, [19--].)
coaduna com o sistema inquisitório. A confissão era a regina
probatium* e o depoimento de uma só testemunha não possuía
valor probatório (testis unus, testis nullus**).
** tradução: uma só testemunha
Em matéria de processo penal, o princípio da inocência do
equivale a nenhuma testemunha.
(cf. CALDAS, [19--].) acusado era desconhecido, as provas não eram reunidas para
apurar uma possível responsabilidade penal do réu, sendo que
esta era constituída por cada um dos elementos que permitiam
reconhecer um culpado.

De acordo com Sabadell (2002, p. 278),

[...] a existência de uma meia prova implicava a


consideração do réu como meio culpado. Um grau
alcançado na demonstração da culpa (prova semiplena),
implicava, consequentemente, um determinado grau de
punição, incluindo a autorização para o uso da tortura.
Em outras palavras, não se torturava um inocente, e sim
um meio culpado, para confirmar a suspeita legalmente
criada de que ele era realmente culpado.

Foram citados alguns meios de prova utilizados no transcorrer


da história. É importante, também, mencionar os sistemas de
valoração de prova, além do já citado sistema das provas legais.

Conforme Sabadell (2002), o sistema das provas legais passou


por várias fases, sendo inicialmente rígido, mas ao longo dos
séculos a doutrina o submeteu a modificações para facilitar a
sua aplicação, até o surgimento posterior do sistema da livre
apreciação de provas.

Os ideais iluministas postulados pela Revolução Francesa


romperam com o sistema inquisitivo, e, através da
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de
1789, conferiram maior liberdade aos juízes na apreciação
da prova e na indicação dos motivos da convicção
(GOMES, 1997, p. 28-29).

62
Criminalística e Investigação Criminal

Tratava-se do sistema da íntima convicção. Tais ideais foram uma


reação ao sistema inquisitório e à doutrina das provas legais. Vêm
ao encontro de um sistema probatório que respeita o ser humano
enquanto sujeito de direitos e garantias individuais, entre elas, a
proibição legal da tortura, a presunção de inocência do acusado e
o direito ao contraditório.

Segundo Grinover (1982), a Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão, de 1789, advinda da Revolução Francesa,
consagrou a escola do Direito Natural, “selando a concepção
da existência de direitos subjetivos preexistentes ao Estado, não
criados, mas reconhecidos por este”.

Acerca desta Declaração, menciona Bobbio (1992, p. 93),

[...] o núcleo doutrinário da Declaração está contido


nos três artigos iniciais: o primeiro refere-se à condição
natural dos indivíduos que precede a formação da
sociedade civil; o segundo, à finalidade da sociedade
política, que vem depois (...) do estado de natureza; o
terceiro, ao Princípio de legitimidade do poder que cabe
à nação

Segundo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do


Cidadão (1789):

Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em


direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se
na utilidade comum.

Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a


conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade a
segurança e a resistência à opressão.

Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside,


essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum
indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane
expressamente.

Gomes Filho (1997, p. 55) entende que uma verdadeira Justiça


penal pressupõe o reconhecimento, à defesa, do poder de
produzir provas contrárias às da acusação, a fim de obter-se não

Unidade 3 63
Universidade do Sul de Santa Catarina

uma verdade extorquida inquisitoriamente, mas uma verdade


obtida através de meios probatórios produzidos pelas partes.

Gomes Filho (1997, p. 31) afirma que, em 1808, o Code


d’instruction criminelle francês instituiu a combinação entre
os padrões inquisitório e acusatório, influenciando os demais
ordenamentos continentais e representando, até os dias atuais, o
modelo inspirador da maioria das legislações.

A doutrina passou a postular limitações à íntima convicção do


juiz, e, segundo esta nova concepção, o juiz só estaria autorizado
a condenar se, além de convencido, estivesse amparado por um
mínimo de elementos probatórios. Passou-se a postular pelo
sistema da persuasão racional, também chamado por Capez
(2002, p. 267) de “sistema da livre (e não íntima) convicção, da
verdade real ou do livre convencimento”.

Conforme Colucci (1988, p. 237):

Num terceiro estágio, em respeito ao contraditório, fixou-


se como pressuposto do direito de defesa o conhecimento
pelas partes dos caminhos percorridos pelo juiz ao julgar
(persuasão racional), cedendo-se ao julgador liberdade
de valoração da prova, desde que acompanhada de
demonstração lógica dos motivos da decisão. A motivação
das sentenças e decisões de modo geral, tornou-se
verdadeira garantia individual, evitando-se que a
excessiva liberdade na avaliação das provas transformasse
o processo penal em instrumento de opressão e terror, em
vez de protetor das liberdades públicas.

O sistema de apreciação de provas na processualística penal


brasileira é o da persuasão racional, também denominado de
sistema da livre convicção, expresso no art. 155 do Código
Processual Penal Brasileiro:
Código de Processo Penal Brasileiro,
art. 155: “o juiz formará sua
convicção pela livre apreciação da
prova produzida em contraditório Não serão atendíveis as restrições à prova estabelecidas
judicial.” (BRASIL, 2008). pela lei civil, salvo quanto ao estado das pessoas; nem é
prefixada uma hierarquia de provas: na livre apreciação
Oportuna a transcrição deste trecho destas, o juiz formará, honesta e lealmente, a sua
da Exposição de Motivos do Código convicção. A própria confissão do acusado não constitui,
Processual Penal Brasileiro. Trecho fatalmente, prova plena de sua culpabilidade. Todas as
extraído da Exposição de Motivos do provas são relativas; nenhuma delas terá, ex vi legis, valor
Código Processual Penal Brasileiro,
no capítulo que discorre sobre
Provas.
64
Criminalística e Investigação Criminal

decisivo, ou necessariamente maior prestígio que outra.


Se é certo que o juiz fica adstrito às provas constantes
dos autos, não é menos certo que não fica adstrito a
nenhum critério apriorístico no apurar, através delas, a
verdade material. Nunca é demais, porém, advertir que
livre convencimento não quer dizer puro capricho de
opinião ou mero arbítrio da apreciação das Provas. O juiz
está livre de preconceitos legais na aferição das Provas,
mas não pode abstrair-se ou alhear-se ao seu conteúdo.
Não estará ele dispensado de motivar sua sentença. E
precisamente nisto reside a suficiente Garantia do Direito
das partes e do interesse social (BRASIL, 2008).

Através do sistema da persuasão racional, não há hierarquia entre


as Provas e o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência,
desde que o faça motivadamente e, considerando-se a visão
sistêmica, obedecendo à Constituição da República, o Código
de Processo Penal e demais legislações vigentes. Tal motivação
não se faz necessária apenas nas decisões do júri, considerando a
soberania dos vereditos e o sigilo das votações, preceituados no
artigo 5º, XXXVIII, da Carta Magna.

De outro lado, os meios de prova mencionados no Código de


Processo Penal são apenas exemplificativos, admitindo-se as
provas inominadas.

Acerca deste sistema, entende Capez (2002, p. 267), que:

(...) atende às exigências da busca da verdade real,


rejeitando o formalismo exacerbado, e impede o
absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio,
na medida em que exige motivação. Não basta ao
magistrado embasar a sua decisão nos elementos
probatórios carreados aos autos, devendo indicá-los
especificamente. Não pode, igualmente, o magistrado
buscar como fundamento elementos estranhos aos autos.

Tem-se, pois, um sistema processual penal que permite


todos os meios de prova, limitados, entretanto, pelas normas
constitucionais e infraconstitucionais.

Neste sistema, concebe-se a prova no Processo Penal como


verdadeiro direito garantido às Polícias, à acusação e à defesa,
assegurado pela leitura coordenada da Constituição da República,
e por textos legais internacionais.

Unidade 3 65
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 4 - Inquérito policial


Como você viu anteriormente, o objetivo principal das Polícias
Civil e Federal é a investigação criminal, que procura demonstrar
a existência do fato criminoso, a autoria e estabelece as condições
em que o crime ocorreu.

Mas, a investigação criminal não é atividade exclusiva destas


Polícias. O Ministério Público, Congresso Nacional, Polícias
Militares e outros órgãos podem exercer atividade investigativa.

O inquérito policial é de atribuição exclusiva das


Polícias Federal e Civil.

Após a prática da infração penal, cabe à Polícia Judiciária a


apuração imediata do delito, por meio da investigação policial,
cujos atos e resultados deverão ser formalizados, via de regra,
através do inquérito policial.

O auto de prisão em flagrante, previsto no Código de


Processo Penal Brasileiro, o termo circunstanciado, previsto
nas Leis Federais n. 9099/95 e n. 10259/2001, e o auto de
apuração de atos infracionais, previsto no Código da Criança
e do Adolescente (Lei Federal n. 8069/90), também são
procedimentos policiais que podem ensejar investigação.
Considerando que, de forma geral, os atos investigativos são
praticados no inquérito policial, este estudo aborda apenas este.

Segundo Tourinho Filho (2001, p. 25), inquérito policial


é “o conjunto de diligências realizadas pela Polícia
visando a investigar o fato típico e a apurar a respectiva
autoria”.

Via de regra, a notícia de um crime chega ao conhecimento


da autoridade policial através do boletim de ocorrência,
mediante requisição ministerial ou judicial, ou ainda, mediante
requerimento de qualquer pessoa.

A partir deste momento, normalmente, cabe ao delegado de


polícia determinar a instauração do inquérito policial, onde se

66
Criminalística e Investigação Criminal

diligenciará para buscar provas demonstrando materialidade e


autoria do crime, o que é feito através da investigação.

As atividades são as mais diversas de acordo com o


delito praticado, declarações de vítimas; depoimentos de
testemunhas; interrogatório de suspeito e/ou indiciado;
representações por mandados de busca e apreensão,
prisões, quebra do sigilo telefônico, quebra do sigilo
bancário, quebra de sigilo fiscal; requisição de todas as
perícias necessárias; realização de acareações, avaliações
reconhecimentos pessoais, fotográficos; e outros.

Todos estes atos são formalizados no inquérito policial, não


existindo um rito preestabelecido para a atividade investigativa.
Estas têm uma sequência determinada pela autoridade policial
que estiver presidindo o inquérito policial, em face da necessidade
da realização desta ou daquela diligência, de acordo com as
peculiaridades da infração penal praticada.

O inquérito policial apresenta a forma escrita; é de natureza inquisitiva,


em que o princípio do contraditório não é considerado; é sigiloso; é,
de forma geral, de iniciativa obrigatória e indisponível; após a sua
instauração, não pode ser arquivado pelo delegado de polícia, nos
termos do artigo 17 do Código de Processo Penal Brasileiro.

O artigo 6º. do Código de Processo penal Brasileiro


delibera quanto aos procedimentos da Polícia Judiciária
na apuração dos delitos, destacando-se:

a) Comparecimento e preservação do local.


b) Apreensão dos instrumentos e todos os objetos
relacionados com o fato.
c) Coleta de todas as provas do fato e de suas
circunstâncias.
d) Oitiva do ofendido ou da vítima; se for possível.
e) Oitiva do indiciado.
f) Reconhecimento de pessoas e coisas e acareações.
g) Exame de corpo de delito, se for o caso.
h) Identificação datiloscópica do indiciado, se for o caso.
i) Investigação sobre a vida pregressa do indiciado,
inclusive seus antecedentes criminais.
j) Reprodução simulada dos fatos, se for o caso.

Unidade 3 67
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para que a investigação policial tenha resultado e o inquérito


policial seja concluído comprovando materialidade e autoria do
crime, faz-se necessária a aplicação de técnicas investigativas.
Quando crime, cabe à Polícia realizar planejamento específico,
detalhando quais atividades investigativas serão realizadas, em
que tempo, e definindo as técnicas a serem aplicadas. Não se
pode contar com a improvisação e com a sorte no que concerne à
investigação policial.

- Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de


Autoavaliação e consulte o Saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

As polícias existentes no Brasil e suas atribuições estão descritas


na Constituição Federal de 1988. Através da Carta Magna,
verificamos que cabe à Polícia Federal e às Polícias Civis dos
Estados, também chamadas Polícias Judiciárias, a função
investigativa criminal, ou investigativa policial.

Investigação criminal é a atividade voltada à apuração das


infrações penais, através da elucidação da materialidade e
autoria dos delitos. Para tanto, busca-se amealhar provas
criminais, concebida como aquelas utilizadas para demonstrar
ao Juiz a veracidade ou falsidade da imputação feita ao réu
e as circunstâncias que possam influir no julgamento da
responsabilidade e na individualização das penas.

Os meios de prova, concebidos como instrumentos de


reconstituição de fatos pretéritos, sempre acompanharam a
história da civilização, estando fortemente condicionados por
circunstâncias históricas e culturais.

O sistema de provas foi sendo alterado com o transcorrer dos


tempos. Na Idade Média e grande período da Idade Moderna,
vigia o sistema de provas legais, que eram previamente
determinadas e hierarquizadas, sendo a confissão considerada
aquela de maior valor, nominando-a de “rainha das provas”.

68
Criminalística e Investigação Criminal

O sistema das provas legais passou por várias fases, sendo


inicialmente rígido, mas, ao longo dos séculos, a doutrina o
submeteu a modificações para facilitar a sua aplicação, até o
surgimento posterior do sistema da livre apreciação de provas.

Após a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do


Cidadão, de 1789, que conferiu diversos direitos e garantias
ao homem até então não existentes, surgiu o sistema da livre
de apreciação de provas, em que o juiz tinha total liberdade na
valoração das provas e nas suas decisões processuais, decisão
absolutória ou condenatória, ficando isento de motivar as suas
sentenças absolutórias ou condenatórias.

Após abusos praticados nas sentenças, criou-se o sistema da


livre convicção, verdade real ou persuasão racional, no qual
a obrigatoriedade da motivação das decisões judiciais e das
sentenças tornou-se verdadeira garantia individual. Este sistema
foi o adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro vigente.

Além das Polícias mencionadas, outros órgãos exercem função


investigativa, entre eles, Congresso Nacional, Assembleias
Legislativas dos Estados, Ministério Público.

Ocorre que o inquérito policial é de atribuição exclusiva das


Polícias Federal e Civis.

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Assinale verdadeiro ou falso:
( ) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é
o da íntima convicção.
( ) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do
processo criminal.
( ) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia
Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

Unidade 3 69
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Responda à seguinte questão:


Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais
devem estar voltados prioritariamente a indicar e localizar o autor do
crime ou à busca da verdade?

Saiba mais
Para complementar seus conhecimentos, você consultar as
seguintes obras:

MARCINEIRO, Nazareno e PACHECO, Giovanni Cardoso.


Polícia Comunitária. Evoluindo para a Polícia do Século XXI.
Florianópolis: Editora Insular. 2001.

ROCHA, Luiz Carlos. Investigação policial: teoria e prática.


São Paulo: Edipro, 2003.

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de


Processo Penal Comentado. 5 edição. 1 vol. São Paulo: Saraiva.
2001.

THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à Prática da Polícia


Judiciária. Florianópolis: Editora do Autor. 1997.

70
4
UNIDADE 4

Técnicas de Investigação
Criminal

Objetivos de aprendizagem
„„ Estudar técnicas de investigação policial.

„„ Identificar a função das Polícias Investigativas e verificar


qual a relação com a investigação experimental e suas
respectivas técnicas.
„„ Conhecer e técnicas como o interrogatório, infiltração
policial, informante e vigilância.

Seções de estudo
Seção 1 Interrogatório

Seção 2 Infiltração policial

Seção 3 Informante

Seção 4 Vigilância
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Para iniciar os estudos desta unidade, considero oportuno
que você conheça termos-chave para a compreensão do que
se pretende abordar. Assim, ficará mais fácil o entendimento
do conteúdo desenvolvido nas seções que seguem. Vamos lá?
Comecemos com a palavra “técnica.”

Bem, técnica, de acordo com Pasold (2003, p. 107):

[...] é um conjunto diferenciado de informações, reunidas


e acionadas em forma instrumental, para realizar
operações intelectuais ou física, sob o comando de uma
ou mais bases lógicas de pesquisa.

Então, podemos dizer que a investigação necessita de técnicas


que assegurem um trabalho lógico, sequencial, pautado
pelas garantias individuais e coletivas do cidadão, na busca
imparcial da verdade objetivando cumprir o dever do Estado,
na preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas
e do patrimônio. Visa à investigação policial resposta para as
perguntas:

a) Quem?

b) O quê?

c) Onde?

d) Com que auxílio?

e) Por quê?

f) De que maneira?

g) Quando?

Agora veremos o que é um procedimento. Mas, como podemos


definir procedimento?

Procedimento é o conjunto dos atos pelos quais se ordenam e se


exercitam, sob determinados preceitos legais, os meios necessários

72
Criminalística e Investigação Criminal

para instruir a causa e assegurar ou restabelecer uma relação


jurídica controvertida.

Então, na investigação policial podemos dizer que procedimento


é o conjunto dos atos policiais que tem por objetivo colher as
provas da infração penal. Concorda?

O procedimento se consubstancia nos diversos atos policiais no


decorrer das investigações e a técnica representa a maneira como
o procedimento é realizado.

A investigação é direcionada de acordo com os diferentes tipos


de delitos, guardando características próprias e peculiares em
função dos mesmos.

É um estudo profundo de um problema, com a finalidade de


descobrir fatos novos. Tanto a investigação quanto a análise
se baseiam no exame completo de um problema concreto. A
investigação será realizada a fim de obter informação sobre
um tema, nela se procura, sobretudo, recolher e organizar
informações básicas.

- Na sequência desta unidade, você terá a oportunidade de conhecer


algumas técnicas policiais mais comumente usadas num processo de
investigação. Vamos lá?

Seção 1 – Interrogatório
Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo
Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo penal.
O procedimento do interrogatório encontra-se disposto nos
artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram todos
alterados pela Lei n. 10792, de 1.12.2003.

No âmbito policial, denomina-se interrogatório o ato em que


o suspeito ou indiciado pela prática da infração penal presta
depoimento formalmente nos autos, perante a autoridade policial.
Usualmente conceitua-se declaração como sendo a inquirição da

Unidade 4 73
Universidade do Sul de Santa Catarina

vítima e depoimento a inquirição da testemunha. Evidentemente


que as técnicas ora mencionadas também podem ser aplicadas
durante a tomada de declarações da vítima ou a tomada de
depoimento de testemunha.

O interrogatório deve sempre ser orientado através


de técnica, chamada técnica de interrogatório. O
interrogador tem o dever de conhecer o fato que
investiga, melhor do que o investigando, a fim de que
saiba fazer as perguntas com pertinência, segurança e
sabedoria, demonstrando firmeza e seriedade.

A preparação é importante porque é comum o autor da infração


penal, embora confessando o delito, fazê-lo de forma a se
beneficiar, diminuindo as consequências penais, alegando, por
exemplo, uma legítima defesa putativa ou uma injusta provocação
da vítima etc.

Dessa forma, é importante que o interrogador busque, de forma


técnica, elucidar o crime, tentando sempre buscar a verdade dos
fatos. A seguir, você conhecerá, com mais detalhes, as técnicas de
interrogatório mais utilizadas.

Técnicas de abordagem dos fatos


Os fatos acontecem dentro de uma estrutura de tempo, espaço,
ação e resultado. Entretanto, quando alguém vai narrá-los,
nem sempre o faz obedecendo a uma sequência real desses fatos
dentro daquela estrutura. Pode acontecer que o interrogador, em
favor da investigação, não tenha interesse de obter a narrativa de
maneira ordenada.

Assim, levando-se em conta a sequência como um interrogado


pode narrar os fatos que estão sendo investigados, o interrogador
pode se valer de cinco técnicas, a saber: da sequência memorial;
da sequência dos fatos; da sequência embaralhada; da sequência
protaitiva e da sequência retroativa:

74
Criminalística e Investigação Criminal

„„ A experiência tem demonstrado que a prática de um


delito, via de regra, quebra a rotina de quem o pratica,
tanto por força das atividades necessárias à perpetração
do delito, como em razão dos cuidados que se toma para
ocultar os fatos. Isto não pode deixar de ser levado em
conta por quem investiga.

„„ Por essa razão, é importante buscar apurar onde e com


quem o suspeito ou indiciado esteve durante todo o dia
do crime, manteve contatos ou encontros com pessoas
estranhas, ausentou-se de casa ou do trabalho sob
qualquer pretexto, se saiu mais cedo ou chegou mais
tarde etc.

„„ Dessa forma, a sequência como os fatos serão abordados


deve obedecer a critérios técnicos que sejam de pleno
conhecimento e domínio do interrogador.

A aplicação de técnicas na atividade investigativa


consiste no uso da inteligência. O policial que faz
uso da violência na investigação, além de incidir em
conduta criminosa também não prima pelo raciocínio
inteligente, promovendo resultados negativos para o
caso específico e para a Instituição Policial.

O emprego de técnicas no transcurso do interrogatório norteia


o interrogador para que demonstre conhecimento e segurança
acerca do delito que investiga, e obtenha objetivamente a
informação desejada.

Técnica da Sequência Memorial


Esta técnica tem aplicação quando a pessoa que estiver sendo
inquirida se prontifica a narrar os fatos espontaneamente. A
sequência com que os fatos são narrados depende da lembrança
que interrogando tenha das circunstâncias do fato.

Muitas vezes o interrogando inicia a sua fala pelo ato executório e


depois desordenadamente vai narrando as demais circunstâncias,
por parte, na medida em que estas vão lhe surgindo na memória.

Unidade 4 75
Universidade do Sul de Santa Catarina

Técnica da Sequência dos Fatos


Esta técnica procura abordar o acontecido levando em conta
a sequência em que os fatos se desenrolaram, percorrendo a
narrativa do início ao fim do delito.

Para aplicação desta técnica faz-se necessário que a pessoa que


estiver sendo inquirida demonstre a vontade de expor os fatos,
devendo o interrogador conduzir a narrativa para que os fatos
sejam relatados de forma clara e dentro da sequência dos próprios
acontecimentos, quando, como e porque iniciou, como se
desenvolveu e como e quando terminou.

Técnica da Sequência Embaralhada


Esta técnica aplica-se quando há indícios de que a pessoa que
está sendo inquirida optou por mentir acerca dos fatos que se
investiga.

O interrogador deve, então, embaralhar ao máximo os pontos já


abordados, induzindo o interrogando a erro, para que não consiga
responder com encadeamento, lógica e coerência às perguntas
feitas, fazendo-a constatar que a sua versão dos fatos não condiz
com as demais provas materiais e testemunhais amealhadas.
Somente uma narrativa real e verdadeira se sustentaria harmônica
diante desta técnica.

Técnica da Sequência Protaitiva


É a técnica pela qual o interrogador parte de um determinado
momento, que pode ser de horas ou dias antes do crime, e
vai avançando no tempo, buscando esclarecer as atividades e
convivências da pessoa que se interroga, levando-se em conta
o tempo decorrido, a partir do momento estabelecido pelo
interrogador.

A experiência tem demonstrado que, para esconder atividades e


encontros relacionados com a preparação e execução do crime,
o suspeito ou indiciado acaba inventando situações que são
facilmente desmentidas posteriormente.

76
Criminalística e Investigação Criminal

Técnica da Sequência Retroativa


Esta técnica percorre o tempo de forma inversa aos
acontecimentos.

Parte de um determinado momento que pode ser da comunicação


do delito ou de sua execução e vai retroagindo no tempo até um
determinado horário, cujas evidências indiquem como sendo
o tempo gasto para o suspeito ou indiciado cogitar, preparar e
executar o delito.

Técnicas de Comportamento
São técnicas que tratam da postura, da forma como o
interrogador deve se comportar diante do interrogando.

Técnica da Espontaneidade
É a técnica que deve ser utilizada para o início de um
interrogatório.

Consiste em permitir que o interrogando, espontaneamente, sem


qualquer interferência do interrogador, narre livremente o fato
criminoso. Por esta técnica, o interrogando faz uma narrativa dos
fatos por ele praticados; da forma mais livre possível.

Através desta técnica, o interrogador se comporta de forma


amigável com o interrogando, dando a este um grau de liberdade
maior nas suas colocações.

Ainda que a narrativa não corresponda àquilo que já foi


apurado nos autos, o interrogador não deverá interferir, tudo
registrando fielmente, inclusive não deixar transparecer que
não está acreditando na versão apresentada. Se a versão for
mentirosa, certamente não resistirá ao crivo da investigação séria,
profissional e criteriosa. A verdade virá naturalmente à tona.

Todavia, é interessante que perceba que nem todo autor de crime


confessa o fato espontaneamente e aí se faz necessário o emprego
de outras técnicas para se chegar à verdade.

Unidade 4 77
Universidade do Sul de Santa Catarina

Técnica da Indução
Caracteriza-se pela formulação de perguntas ao interrogando que
o induzam, pela própria maneira como são formuladas, a dar uma
resposta certa e objetiva.

A técnica da indução permite ao interrogador direcionar


o diálogo. Através desta técnica, o interrogador discute as
circunstâncias do delito e elucida pontos relevantes mencionados
durante a narrativa espontânea.

O que caracteriza esta técnica é a formulação de perguntas bem


elaboradas que induzam o interrogando a dar uma resposta certa,
precisa, sobre este ou aquele momento do delito, sobre esta ou
aquela circunstância não esclarecida.

As perguntas devem ser claras, diretas e de preferência curtas,


para que não paire dúvidas ao interrogando sobre a resposta
que deverá dar. O interrogador jamais deve contar o fato que
investiga ao interrogando, pois, assim fazendo, correrá o risco de
prejudicar a busca da verdade.

De um modo geral, ainda que o interrogando resolva narrar os


fatos espontaneamente, dificilmente o fará de forma completa,
isso acontece tanto intencionalmente, como por qualquer outro
motivo, como esquecimento e até mesmo por desconhecer este ou
aquele detalhe.

Assim, pela técnica da indução, formulando perguntas bem


elaboradas, leva-se o interrogando a, se tiver mentido na narrativa
espontânea, não conseguir sustentar a sua versão dos fatos.

Técnica da Persuasão
Esta técnica tem por objetivo persuadir, convencer o investigando
a primar pela verdade dos fatos. Assim, o policial deve
argumentar com os benefícios da lei, mostrando ao interrogando
que somente tem a ganhar se disser a verdade. Evidentemente, o
interrogador jamais deve inventar benefícios legais inexistentes.

78
Criminalística e Investigação Criminal

As Leis Federais de números 8.072/1990 e 9.269/1996 preveem


diminuição da pena de um a dois terços para o concorrente que
confessa o delito, delatando os demais participantes.

A Lei Federal n. 9.807/1999, em seu art. 13, dispõe que o


juiz poderá conceder o perdão judicial, com a consequente
extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação ou
processo criminal.

A Lei Federal n. 9034/95, que dispõe sobre a utilização de meios


operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas
por organizações criminosas, no seu artigo 6º, menciona a
colaboração eficaz, ou delação premiada, que consiste em um
instrumento que permite ao indiciado, em troca da diminuição
de pena, fornecer informações que propiciem o desmantelamento
de organização criminosa da qual faça parte, ou que tenha
conhecimento das suas atividades.

Entre as atenuantes do crime, há a confissão espontânea, prevista


no art. 65, inciso III, letra “d” do Código Penal Brasileiro,
constituindo um incentivo à confissão.

Outros argumentos ainda podem ser utilizados pelo interrogador,


tais como a possibilidade de responder o crime em liberdade, em
face da primariedade, bons antecedentes, residência fixa, emprego
e profissão certos etc.

Além dos benefícios legais, que outros podem ser


sustentados?

O primeiro argumento é de que, uma vez esclarecido o fato


criminoso, cessa a perseguição da polícia, que sempre causa
transtornos à vida pessoal, social e profissional de alguém.

Unidade 4 79
Universidade do Sul de Santa Catarina

Sabe-se que o silêncio do interrogado não pode ser interpretado


em prejuízo a sua defesa, nos termos do artigo 5º, LXIII, da
Constituição Federal de 1988.
Art. 5º, LXIII, da Constituição Federal
Não obstante, esta atitude motiva a intensificação das
de 1988: “O preso será informado
de seus direitos, entre os quais o investigações.
de permanecer calado, sendo-lhe
assegurada a assistência da família A cessação da pressão social e da imprensa também pode
e de advogado” (BRASIL, 1988). constituir um forte argumento para convencer uma pessoa a
esclarecer o delito.

Técnica do Desmentido
Esta técnica consiste em relacionar e mostrar ao suspeito que está
faltando com a verdade, mostrando a ele todas as controvérsias
que seu interrogatório apresenta, oferecendo a ele, depois, a
oportunidade de dizer a verdade. Com paciência, o interrogador
deve aguardar a reação do suspeito, agindo sempre com calma e
segurança.

Depois da aplicação desta técnica, deve-se retornar à técnica da


espontaneidade.

Técnica do Questionamento
Consiste em questionar o que foi dito pelo indiciado e que não
estiver de acordo com o que se apurou. Deve-se indagar acerca do
que foi alegado pelo indiciado que esteja mal esclarecido.

Técnica da Alternância
Consiste na aplicação das técnicas mencionadas acima, com
o diferencial de que a aplicação de cada técnica deve ser feita
por policial diferente, alterando-se, portanto, as técnicas e seus
aplicadores.

80
Criminalística e Investigação Criminal

Cada policial deverá estar plenamente certo da técnica que irá


aplicar, além de conhecer com a maior profundidade possível o
fato delituoso que estiver sendo apurado.

Esta técnica tem proporcionado bons resultados práticos, pois


é muito comum o investigando, no decorrer da aplicação das
técnicas, escolher um dos policiais para revelar a verdade, por ter
maior afinidade com ele do que com os demais.

Técnica da Informação Cruzada


Aplica-se esta técnica nos casos em que se investiga dois ou mais
coautores ou partícipes do delito, e quando a versões dos fatos
oferecidas por eles sejam controversas.

Deve ser aplicada por um único policial, de maneira que se


mantenha um perfeito domínio sobre os pontos abordados e que
estes sejam explorados com todos os interrogandos.

É importante inquirir os suspeitos separadamente,


impossibilitando que um deles tome conhecimento das
declarações dos demais.

Quando o interrogador verifica que existem divergências,


questionar o interrogando cuja versão esteja em desacordo com
o conjunto probatório, podendo realizar acareação entre os
suspeitos, a fim de elucidar os fatos.

É interessante que você perceba que a acareação deve ser breve e


se restringir apenas ao ponto em que houve controvérsia.

Do Emprego do Detector de Mentiras


Diferentemente de outros Países, o detector de mentiras
não é utilizado no Brasil, sabendo-se que ele busca afetar
psicologicamente o suspeito.

Unidade 4 81
Universidade do Sul de Santa Catarina

Seção 2 – Infiltração policial


A infiltração policial trata-se de técnica operacional eficaz, que
permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização
criminosa, obtidos pelo policial infiltrado.

Apresenta elevado risco para o policial infiltrado, pelo que


requer planejamento e preparação. Deve ser realizada por
tempo determinado, mediante prévia autorização judicial e,
preferencialmente, sob acompanhamento do Ministério Público.

No Brasil, em descompasso com a maioria dos países mais


avançados no tocante à repressão ao crime, a infiltração até
bem pouco tempo não era permitida. Foi inserida no sistema
processual penal brasileiro pela Lei n. 10217/01, que alterou a
redação do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95:

Art. 2º. Em qualquer fase da persecução criminal são


permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os
seguintes procedimentos de investigação e formação de
provas:
[...]
V – infiltração por agentes de polícia ou de inteligência,
em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes, mediante circunstanciada
autorização judicial (BRASIL, 2001).

Trata-se de uma técnica de investigação que objetiva obter


informações mediante o recrutamento e posterior inserção de
pessoas, em determinado ambiente, sob a proteção de uma
história-cobertura.

A infiltração visa a atingir, entre outros, os seguintes objetivos:


obter informações ou provas; constatar se um crime está sendo
planejado ou realizado; determinar o momento oportuno
para a realização de uma operação policial; identificar pessoas
envolvidas em um crime.

82
Criminalística e Investigação Criminal

Seção 3 – Informante
A técnica do informante permite estabelecer procedimentos
uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas
(informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e,
portanto, possuem informação de grande valia.

Existe a necessidade de sua regulamentação através de diretrizes


gerais, a serem seguidas pelos órgãos policiais, que contemplem o
acompanhamento e fiscalização pelas Corregedorias de Polícia.

Seção 4 – Vigilância
A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica
de pessoas, veículos, lugares e objetos com a finalidade de obter
informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito
frequentemente, a vigilância é a única técnica de investigação
a que se pode recorrer para averiguar a identidade dos
fornecedores, transportadores e compradores de drogas ilícitas.

O planejamento de uma operação de vigilância, seja a pé ou por


outros meios, deve levar em conta a possibilidade de uma contra-
vigilância, por parte do suspeito ou de seus cúmplices, por meios
similares, incluídas as contramedidas eletrônicas.

Quais os tipos de vigilância existentes?

De modo geral, existem três tipos de vigilância:

a) Vigilância móvel: em que o investigador segue um


indivíduo a pé ou em um veículo.

b) Vigilância fixa: que consiste em vigiar continuamente, a


partir de um ponto fixo, um local, objeto ou pessoa.

Unidade 4 83
Universidade do Sul de Santa Catarina

c) Vigilância eletrônica: na qual se utilizam aparatos


eletrônicos, mecânicos ou de outra índole para interceptar
o conteúdo de comunicações orais ou telefônicas.

Quais os são objetivos de uma operação de vigilância?

„„ Obter provas de um delito.

„„ Proteger agentes encobertos ou corroborar seu


testemunho.

„„ Localizar pessoas observando seus conhecidos e os


lugares que frequentam.

„„ Testar a confiabilidade de informantes.

„„ Localizar bens escondidos ou contrabando.

„„ Impedir que se cometa um ato criminoso ou prender


uma pessoa no momento em que comete o delito.

„„ Obter informações que possam ser utilizadas em


interrogatórios.

„„ Obter pistas e informações graças aos contatos mantidos


com outras fontes.

„„ Determinar onde se encontra uma pessoa a qualquer


momento.

„„ Obter provas admissíveis nos tribunais.

Uma das primeiras medidas que antecedem qualquer operação


de vigilância é a designação do policial coordenador. Nas
operações em que participam vários policiais, deve ser preparado
um plano tático que preveja as eventualidades e especifique a
função de cada um dos policiais, a duração da vigilância, as
substituições. Além disso, deve-se estabelecer um sistema seguro
de comunicação com os superiores e uma coordenação central.

84
Criminalística e Investigação Criminal

Também devem ser combinados sinais para a comunicação entre


os policiais da vigilância.

Na sequência, você tem a oportunidade de ver mais


pormenorizadamente aspectos da vigilância eletrônica,
considerando a sua ampla utilização e sua previsão legal.

a) Vigilância eletrônica
A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias,
algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em
muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada
pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É
extremamente importante que se levem em conta essas limitações
potenciais à estratégia de investigação, e se atue de acordo ao
planejar as operações de vigilância eletrônica.

A vigilância eletrônica é um aparato investigativo que ocasiona


excelentes resultados operacionais, destacadamente no combate
ao crime organizado e ao tráfico de drogas.

Para utilizar eficazmente os diversos aparatos e técnicas


requeridas por esse modo especializado de investigação, é
necessário receber instrução e capacitação especializadas.

Considerando a abrangência do tema, é oportuno destacar que o


estudo procurou enfocar a vigilância que se cumpre como recurso
de investigação policial, mediante a captação de conversações
ambientais e a interceptação de comunicações telefônicas.

b) Captação de conversações ambientais


No que concerne à captação de conversações ambientais, a Lei
Federal n. 10217/2001 instituiu no sistema jurídico brasileiro
esta modalidade de vigilância eletrônica. A Lei Federal
n.10217/2001 acrescentou o inciso IV, ao artigo 2º da Lei Federal
n. 9034/1995, disciplinando expressamente acerca da captação
e interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou
acústicos, bem como o seu registro e análise.

Unidade 4 85
Universidade do Sul de Santa Catarina

c) Interceptação de comunicações telefônicas


Mendes, (1999), como a maioria dos doutrinadores, considera
interceptação telefônica a captação, por terceiro, de conversa
telefônica, sem ou com o conhecimento de um ou de ambos
os interlocutores. Quando feita por um dos interlocutores, a
captação é chamada gravação de conversa telefônica. A prova
obtida mediante gravação de conversa telefônica será objeto de
comentário posteriormente.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso


XII estabelece: (...) é inviolável o sigilo da correspondência e
das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.

Anteriormente à previsão constitucional o fundamento legal


utilizado para a interceptação era o artigo 57, inciso II, alínea
“e” da Lei n. 4117/62 (Código Brasileiro das Telecomunicações),
que, excepcionando o princípio constitucional, admitia fossem
violadas as comunicações, desde que judicialmente autorizadas e
“para fins de investigação criminal ou prova em processo penal”
(BRASIL, 1962).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a quebra do


sigilo das comunicações passou a ter tratamento constitucional,
porém, exigindo necessária regulamentação por lei ordinária, no
entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, inclusive
do Supremo Tribunal Federal.

Em 1996, entrou em vigor a Lei Federal n. 9296/96,


que regulamentou o inciso XII, parte final, do artigo
5º, da Constituição Federal e tratou das interceptações
telefônicas. O parágrafo único do artigo 1º da Lei
n. 9296/96, Lei n. 9296/96, artigo 1º, § único: “O
disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo
de comunicações em sistemas de informática e
telemática” (BRASIL, 1996) estendeu a sua abrangência
à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas
de informática e telemática. A discussão doutrinária
acerca da legalidade deste dispositivo será comentada
oportunamente.

86
Criminalística e Investigação Criminal

A Lei n. 9296/96 prevê diversas exigências para a concessão de


interceptação telefônica, tais como:

„„ a interceptação deve ser utilizada como prova em


investigação criminal e em instrução processual penal;

„„ infração penal apurada deve ser punida com pena de


reclusão;

„„ requerimento deve ser feito pela autoridade policial,


na investigação criminal, ou pelo representante do
Ministério Público, na investigação criminal e na
instrução processual penal;

„„ necessidade de ordem judicial;

„„ prazo máximo de interceptação de quinze dias,


prorrogável por igual período, comprovada necessidade;

„„ procedimento deve tramitar em segredo de justiça;

„„ exigência de realização de auto circunstanciado após


o término da interceptação, constando o resumo das
operações realizadas.

A mencionada Lei, em seu artigo 10º, previu:

Art. 10º. Constitui crime realizar interceptação de


comunicações telefônicas, de informática ou telemática,
ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou
com objetivos não autorizados em lei.
Penal – reclusão, de dois a quatro anos, e multa
(BRASIL, 1996).

Com o advento da Constituição Federal de 1988, que inseriu


diversos direitos e garantias individuais muitas vezes limitadores
da busca da prova criminal, e também em razão dos crescentes
índices da criminalidade, os agentes estatais que realizam
investigação viram-se obrigados a se aperfeiçoar no exercício
profissional e a se pautar em técnicas eficazes à atividade
investigativa.

Unidade 4 87
Universidade do Sul de Santa Catarina

Dessa forma, técnicas e procedimentos passaram a ser adotados.


Nesse contexto, recursos como técnicas de interrogatório,
infiltração, uso de informantes e vigilância são cada vez mais
utilizados pelas Polícias investigativas na elucidação dos delitos.

– Leia, a seguir, a síntese da unidade, realize as atividades de


autoavaliação e consulte o saiba mais para ampliar seus conhecimentos
acerca do assunto estudado.

Síntese

A atividade investigativa afigura-se como trabalho lógico e


sequencial que objetiva a apuração das infrações penais, através
da coleta de provas criminais.

Dessa forma, é imprescindível ao êxito desta atividade a adoção


de procedimento, que se consubstancia na escolha dos diversos
atos policiais no decorrer das investigações e a técnica representa
a maneira como o procedimento é realizado.

Interrogatório é o termo utilizado pelo Código de Processo


Penal para conceituar a inquirição do acusado no processo penal.
O procedimento do interrogatório encontra-se disposto nos
artigos 185 a 196 do Código de Processo Penal, que foram todos
alterados pela Lei n.10792, de 1.12.2003.

Algumas técnicas investigativas foram estudadas nesta unidade.

Interrogatório
É o ato em que o suspeito ou indiciado pela prática da infração
penal presta depoimento formalmente nos autos, perante a
autoridade policial. As técnicas de interrogatório também podem
ser utilizadas na inquirição da vítima e testemunha.

As técnicas de interrogatório são as seguintes:

88
Criminalística e Investigação Criminal

1. Técnicas de abordagem dos fatos: da sequência memorial,


da sequência dos fatos, da sequência embaralhada, da
sequência protaitiva e da sequência retroativa.

2. Técnicas de comportamento: da espontaneidade,


da indução da persuasão, do desmentido, do
questionamento, da alternância e da informação cruzada.

Infiltração
A infiltração policial trata-se de técnica operacional eficaz, que
permite a obtenção de conhecimentos profundos da organização
criminosa, obtidos pelo policial infiltrado. Requer planejamento
e preparação e foi inserida no sistema processual penal brasileiro
está pela Lei 10217/01, que alterou a redação do artigo 2º da Lei
Federal n. 9034/95.

Informante
A técnica do informante permite estabelecer procedimentos
uniformes, a serem utilizados no manejo de fontes vivas
(informantes), que se encontram inseridos na comunidade, e,
portanto, possuem informação de grande valia.

Vigilância
A vigilância é a observação encoberta, contínua ou periódica de
pessoas, veículos, lugares e objetos, com a finalidade de obter
informações sobre as atividades e a identidade de pessoas. Muito
frequentemente, a vigilância é a única técnica de investigação
a que se pode recorrer para averiguar a identidade dos
fornecedores, transportadores e compradores de drogas ilícitas.

A vigilância eletrônica compreende muitas e diversas tecnologias,


algumas das quais exigem um equipamento complexo e caro. Em
muitos países, a vigilância eletrônica está estritamente limitada
pelo temor de violar o direito à intimidade das pessoas. É
extremamente importante que se leve em conta essas limitações

Unidade 4 89
Universidade do Sul de Santa Catarina

potenciais à estratégia de investigação, e atue de acordo ao


planejar as operações de vigilância eletrônica.

São modalidades de vigilância eletrônica a captação de


conversações ambientais e a interceptação de comunicações
telefônicas.

A captação de conversações ambientais encontra-se prevista no


inciso IV, do artigo 2º da Lei Federal n. 9034/95. Este inciso foi
acrescentado pela Lei Federal n. 10217/2001.

A interceptação de comunicações telefônicas encontra-se


disciplinada pela Lei Federal n. 9296/96.

Atividades de autoavaliação

Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O


gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Assinale verdadeiro ou falso:
( ) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer
perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela
Constituição Federal de 1988.
( ) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do
ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas
e outros dados importantes.
( ) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam
interrogados conjuntamente.
( ) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no
ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado no
Código de Processo Penal Brasileiro seja apenas exemplificativo.
( ) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação
ambiental e a interceptação telefônica.
( ) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

90
Criminalística e Investigação Criminal

2) Responda à seguinte questão:


Um indivíduo é ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça,
durante uma conversação. Ele realizou gravação telefônica ou
interceptação telefônica? Por quê? Justifique sua resposta.

Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
ao consultar as seguintes referências:

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: Idéias e


Ferramentas Úteis para o Pesquisador do Direito, 2003, p.107.

MENDES, Maria Gilmaíse de Oliveira. Direito à Intimidade e


Interceptação Telefônica. Belo Horizonte: Mandamentos, 1999.
204p.

Unidade 4 91
5
UNIDADE 5

Limites da Investigação
Criminal

Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer a prova criminal, seu conceito e sua evolução
histórica.
„„ Relacionar a prova às manifestações e aos princípios
constitucionais de garantia dos direitos fundamentais.

Seções de estudo
Seção 1 Sobre as provas: história e garantias constitucionais
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Para a manutenção de um Estado Democrático de Direito, é
necessário que a atividade estatal seja limitada por direitos e
garantias individuais.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988, tida como


garantista, instituiu diversos direitos individuais ao cidadão
que devem ser respeitados e acabam por limitar a atuação
policial investigativa na busca da prova. Também outras normas
infraconstitucionais elencam direitos individuais, de ordem
material e processual.

A Constituição da República explicita, entre outros, o direito


à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e moral,
à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as
inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade
espiritual, da expressão intelectual, artística e científica, do
domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia
da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos e o
direito a não produzir prova contra si próprio. Todos devem ser
considerados na investigação criminal.

Como você já teve a oportunidade de ver, a investigação policial


almeja a apuração da materialidade e autoria dos crimes,
mediante a obtenção de provas criminais.

Nesta unidade, você terá a oportunidade de estudar sobre as


provas, sua história e como elas se inserem no ordenamento
jurídico brasileiro e são concebidas no âmbito dos direitos e
princípios constitucionais.

Vamos lá? Comecemos, então, com um pouco de história.

94
Ciminalística e Investigação Penal

Seção 1 – Sobre as provas: história e garantias


constitucionais
Num Estado Democrático de Direito, a busca pela prova
na investigação policial não é absoluta, encontrando limites
expressos constitucional e infraconstitucionalmente.

A prova, instrumento por meio do qual se forma a convicção


do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência dos fatos
controvertidos no processo, sempre foi influenciada pelo contexto
histórico, social e cultural da civilização.

Que durante a Antiguidade e parte da Idade


Média, quando a religião era o valor supremo
das organizações e desconheciam-se os direitos
fundamentais, instituíram-se as ordálias e os
juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a
capacidade de condenar ou absolver os indivíduos?
Que no final da Idade Média e grande período da Idade
Moderna, com a criação dos Tribunais da Inquisição,
a tortura era oficialmente aceita como meio de Prova
necessário para a obtenção da confissão?
Utilizava-se o sistema das provas legais, em que a
confissão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas


não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do
réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que
permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o


interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não possuía
direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os


valores do homem considerado em sua individualidade passaram
a serem observados. Contrapondo-se ao sistema das provas
legais, criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total
liberdade aos juízes na apreciação da Prova, dispensando-os de
motivar suas decisões.

Unidade 5 95
Universidade do Sul de Santa Catarina

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito


de direitos e garantias, entre elas, a proibição legal
da tortura, a presunção de inocência do acusado e
o direito ao contraditório. A busca pela verdade na
investigação e no processo criminal passou a sofrer
limitações consubstanciadas nas liberdades públicas.

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção


do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção,
pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira
garantia individual.

Como você pode ver, através do sistema da persuasão racional,


adotado pelo Código Processual Penal Brasileiro, não há
hierarquia entre as provas e o juiz pode decidir de acordo com
a sua consciência, desde que o faça motivadamente e obedeça à
Constituição da República e demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de


1789, e outros textos internacionais sobre Direitos
humanos, proclamaram diversos direitos fundamentais,
muitos deles consagrados pela Constituição Federal de
1988.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à


atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova
na investigação e no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático brasileiro, os princípios


e regras insertos, explícita ou implicitamente, na Constituição
da República, atuam como norteadores da fase policial e do
processo penal, que passa a ser concebido não apenas como
instrumento para persecução penal, mas, também, como meio
para salvaguardar direitos fundamentais.

Quando a prova viola normas de direito material, tais


como os princípios constitucionais, é tida como ilícita.
Quando a prova ofende preceitos de ordem processual,
é chamada ilegítima. Ambas as provas, as ilícitas e as
ilegítimas, são ilegais.

96
Ciminalística e Investigação Penal

Nesta linha de pensamento, verifica-se que a atuação da Polícia


em um Estado Democrático de Direito é limitada, também,
pelos direitos e garantias individuais. Aos Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário cabe respeitar os direitos fundamentais,
também chamados de liberdades públicas, conceituadas por
Grinover (1992, p. 15) como sendo “[...] os Direitos do homem
“Liberdades fundamentais
que o Estado, através de sua consagração, transferiu do Direito e liberdades públicas
natural ao Direito positivo”. são também expressões
usadas para exprimir
Acerca deste tema, sintetizam Grinover, Scarance e Gomes Filho Direitos Fundamentais”
(1999, p. 113): (cf. SILVA, 1999, p. 181).

[...] os Direitos do homem, segundo a moderna doutrina


constitucional, não podem ser entendidos em sentido
absoluto, em face da natural restrição resultante do
Princípio da convivência das liberdades, pelo que não se
permite que qualquer delas seja exercida de modo danoso
à ordem pública e às liberdades públicas. As grandes
linhas evolutivas dos Direitos Fundamentais, após o
liberalismo, acentuaram a transformação dos Direitos
individuais em Direitos do homem inserido na sociedade.
De tal modo que não é mais exclusivamente com
relação ao indivíduo, mas no enfoque de sua inserção na
sociedade, que se justificam, no Estado social de Direito,
tanto os Direitos como as suas limitações.

Efetivamente, o processo penal é o instrumento no qual se


desenvolve a instrução probatória, através de quaisquer meios de
provas, desde que não ofendam os direitos fundamentais, que se
colocam como limites à atividade investigativa policial.

A utilização das provas e os direitos fundamentais


A Constituição da República explicita as garantias concernentes
à vida, liberdade, igualdade, segurança, propriedade, integridade
física e moral, intimidade, vida privada, honra e imagem das
pessoas; bem como às inviolabilidades da manifestação do No contexto desta
pensamento, da liberdade espiritual, da expressão intelectual, discussão, a autora
artística e científica, do domicílio, do sigilo da correspondência e adotou como sinônimas
das comunicações telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura, as expressões “Direito à
intimidade” e “Direito à
ainda, as seguintes garantias, entre outras: da inadmissibilidade
Privacidade”.
das provas obtidas por meios ilícitos, da publicidade dos atos

Unidade 5 97
Universidade do Sul de Santa Catarina

processuais, do interrogado reservar-se no direito de permanecer


calado.

Relembre o que diz o artigo 5º da Constituição da República:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção


de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante;
IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado
o anonimato;
[...]
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e
a suas liturgias;
[...]
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o Direito à
indenização pelo dano material ou moral decorrente de
sua violação;
XI- a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;
XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal;
[...]
LVI – são inadmissíveis, no processo, as Provas obtidas
por meios ilícitos;
[...]
LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
social o exigirem;
[...]
LXIII – o preso será informado de seus Direitos, entre
os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a
assistência da família e de advogado (BRASIL, 1988).

98
Ciminalística e Investigação Penal

Também a tortura está proibida em diversas declarações


internacionais, inclusive na Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, de 1969, e no Pacto Internacional sobre os Direitos
Civis e Políticos, de 1966, mencionados anteriormente. No Brasil,
trata-se de crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
Constituição da República,
Desta forma, qualquer tipo de violação à integridade física e
artigo 5º, inciso XLIII
psíquica do acusado, bem como a utilização de meios que afetem – “a lei considerará
a liberdade de declaração, a intimidade e a dignidade pessoal crimes inafiançáveis e
do acusado, tais como o detector de mentiras, o hipnose, a insuscetíveis de graça ou
narcoanálise, não são aceitas pelo ordenamento brasileiro, ainda anistia a prática da tortura
[...]” (BRASIL, 1988). O
que com o consentimento do interrogado, posto que tais direitos,
crime de tortura encontra-
enquanto fundamentais, são irrenunciáveis (SILVA, 1999, p. 185). se tipificado na Lei n. 9455,
de 07 de abril de 1997.
Em face da garantia constitucional da presunção de inocência, é
vedado constranger o suspeito a fornecer provas que prejudiquem
a sua defesa, razão pela qual as intervenções corporais, tais como
exames de sangue e testes de alcoolemia, sem a anuência daquele,
são vedados pelo nosso sistema legal. Faz-se importante lembrar
que, da mesma forma, a sua negativa não presume a veracidade
do fato que se quer provar.

Acerca deste tema, afirma Gomes Filho (1997, p. 119):

[...] o que se deve contestar em relação a essas


intervenções, ainda que mínimas, é a violação do Direito
à não autoincriminação e à liberdade pessoal, pois se
ninguém pode ser obrigado a declarar-se culpado, Constituição da República,
também deve ter assegurado o seu Direito a não fornecer art. 5º, XI – “a casa
Provas incriminadoras contra si mesmo. O Direito à é asilo inviolável do
Prova não vai ao ponto de conferir a uma das partes no indivíduo, ninguém
processo prerrogativas sobre o próprio corpo e a liberdade nela podendo penetrar,
de escolha da outra. sem consentimento do
morador, salvo em caso
A garantia constitucional da inviolabilidade do domicílio de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar
excepciona apenas a entrada, sem consentimento do morador, em
socorro, ou, durante o dia,
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, por determinação judicial”
durante o dia, por ordem judicial, garantindo a privacidade do (BRASIL, 1988).
cidadão.

Como já visto, a Constituição da República garantiu, ainda, a


inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações

Unidade 5 99
Universidade do Sul de Santa Catarina

telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no


último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que
a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal.

Na Constituição da República, o artigo 5º, inciso XII


descreve que é inviolável o sigilo da correspondência
e das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por
ordem judicial, nas hipóteses e na forma em que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal ou
instrução processual penal.

Desconsiderando-se a discussão doutrinária acerca da expressão


“último caso” incidir exclusivamente sobre as comunicações
telefônicas ou abranger as comunicações telegráficas, de dados e
telefônicas, devemos concluir que, pela leitura do inciso XII do
artigo 5º da Constituição da República, verifica-se que o sigilo
da correspondência não atinge nenhuma das duas interpretações
(MENDES, 1999, p. 173-174).

Desta forma, defende-se a análise gramatical deste inciso e


advoga-se que o sigilo da correspondência e/ou das comunicações
telegráficas e de dados não comporta exceções, sendo absoluto,
ou, embasado na visão sistêmica do ordenamento jurídico,
defende-se que nenhuma liberdade individual é absoluta, e
que, portanto, a interceptação da correspondência e/ou das
comunicações telegráficas e de dados, respeitados certos
parâmetros, é possível.

O que diz o Supremo Tribunal Federal sobre isso?

O Supremo Tribunal Federal já decidiu favoravelmente à


possibilidade da interceptação, pela administração penitenciária,
Lei n. 6538/78, art. 47: Para os
efeitos desta Lei, são adotadas as
de correspondência que seria remetida por preso, com
seguintes definições: [...] fundamento em razões de segurança pública, de disciplina
Correspondência: É toda
prisional ou de preservação da ordem jurídica.
comunicação de pessoa a pessoa, por
meio de carta, através da via postal
ou telegráfica” (BRASIL, 1947).

100
Ciminalística e Investigação Penal

O Código de Processo Penal prevê que as cartas poderão ser


exibidas em juízo pelo respectivo destinatário, para a defesa de
seu direito.

Código de Processo Penal, art. 233: “As cartas


particulares, interceptadas ou obtidas por meios
criminosos, não serão admitidas em juízo”. § único: “As
cartas poderão ser exibidas em juízo pelo respectivo
destinatário, para a defesa de seu Direito, ainda que
não haja consentimento do signatário” (BRASIL, 1941).

A inviolabilidade do sigilo de dados complementa a previsão ao


direito à intimidade e abrange as informações bancárias e fiscais
dos cidadãos.

O Art. 3º da Lei Complementar 105/2001


No que se refere ao sigilo bancário, os artigos 3º e 4º da Lei
Complementar 105/2001, a qual dispõe sobre o sigilo das
operações de instituições financeiras e dá outras providências,
permite a violação do sigilo bancário por decisão judicial ou por
determinação de comissão parlamentar de inquérito.

Veja o que diz o artigo 3º e 4º da Lei Complementar 105/2001:

Art. 3º. Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil,


pela Comissão de Valores Mobiliários e pelas instituições
financeiras as informações ordenadas pelo Poder
Judiciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante
acesso restrito às partes, que delas não poderão servir-se
para fins estranhos à lide.
§ 1º Dependem de prévia autorização do Poder
Judiciário a prestação de informações e o fornecimento
de documentos sigilosos solicitados por comissão
de inquérito administrativo destinada a apurar
responsabilidade de servidor público por infração
praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha
relação com as atribuições do cargo em que se encontre
investido.
§ 2º Nas hipóteses do § 1º, o requerimento de quebra de
sigilo independe da existência de processo judicial em
curso.

Unidade 5 101
Universidade do Sul de Santa Catarina

§ 3º Além dos casos previstos neste artigo, o Banco


Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários
fornecerão à Advocacia-Geral da União as informações
e os documentos necessários à defesa da União nas ações
em que seja parte.

Art. 4º. O Banco Central do Brasil e a Comissão de


Valores Mobiliários, nas áreas de suas atribuições, e as
instituições financeiras fornecerão ao Poder Legislativo
Federal as informações e os documentos sigilosos que,
fundamentadamente, se fizerem necessários ao exercício
de suas respectivas competências constitucionais e legais.
§ 1º As comissões parlamentares de inquérito, no
exercício de sua competência constitucional e legal
de ampla investigação, obterão as informações e
documentos sigilosos de que necessitarem, diretamente
das instituições financeiras, ou por intermédio do
Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores
Mobiliários.
§ 2º As solicitações de que trata este artigo deverão
ser previamente aprovadas pelo Plenário da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal, ou do plenário de
suas respectivas comissões parlamentares de inquérito
(BRASIL, 2001).

Também o sigilo fiscal pode ser excepcionado por ordem judicial


ou determinação de comissão parlamentar de inquérito.

De acordo com o Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966):

Art. 198: Sem prejuízo do disposto na legislação


criminal, é vedada a divulgação, para qualquer fim, por
parte da Fazenda Pública ou de seus funcionários, de
qualquer informação, obtida em razão do ofício, sobre
a situação econômica ou financeira dos sujeitos passivos
ou de terceiros e sobre a natureza e o estado dos seus
negócios ou atividades.
Parágrafo único: Excetuam-se do disposto neste artigo,
unicamente, os casos previstos no artigo seguinte e os de
requisição regular da autoridade judiciária no interesse da
Justiça.

De acordo com a Constituição Federal:

102
Ciminalística e Investigação Penal

Art. 58. [...]


[...]
§ 3º: As comissões parlamentares de inquérito, que
terão poderes de investigação próprios das autoridades
judiciais, além de outros previstos nos regimentos
das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara de
Deputados e pelo Senado Federal [...].

Neste sentido, faz-se importante realizar uma breve análise sobre


as interceptações telefônicas.

Interceptação telefônica
Como já foi mencionado, há diferenciação entre esta e gravação
telefônica. Quando feita por um dos interlocutores, a captação
é chamada gravação de conversa telefônica. O entendimento
doutrinário e jurisprudencial majoritário é no sentido de dar à
gravação, telefônica ou ambiental, tratamento diferenciado da
interceptação, aceitando-se a gravação, por um dos interlocutores,
como prova lícita. Este é o entendimento pacífico do Supremo
Tribunal Federal:

Interceptação telefônica e gravação de negociações


entabuladas entre sequestradores, de um lado, e policiais
e parentes da vítima, de outro, com o conhecimento dos
últimos, recipiendários das ligações. Licitude desse meio
de prova. Precedente do STF: (HC 74.678, 1ª Turma,
10.06.97). 2. (...). (STF -1ª Turma. HC 75261 – MG – 1ª
Turma - Rel. Min. Octavio Gallotti - . j. em 24.06.1997
- p. DJU em 22.08.97.

O parágrafo único do artigo 1º da Lei n. 9296/96 (Lei n.


9296/96, artigo 1º, § único - “O disposto nesta Lei aplica-
se à interceptação do fluxo de comunicações em sistemas de
informática e telemática” (BRASIL, 1996) - estende a sua
abrangência à interceptação do fluxo de comunicações em
sistemas de informática e telemática. Existe discrepância
doutrinária acerca da constitucionalidade deste dispositivo.

Streck (2001, p. 42-44) não vislumbra qualquer


inconstitucionalidade neste artigo, alegando que o fluxo
de comunicações em sistema de informática e telemática

Unidade 5 103
Universidade do Sul de Santa Catarina

são variantes da modalidade de comunicações telefônicas.


Conceituando a informática como a prática de comunicações
via computador e a telemática como a ciência que trata da
manipulação e utilização da informação através do uso
combinado do computador e meios de comunicação, este autor
entende que o veículo de tais variantes é o telefone, e que,
portanto, será possível a interceptação para prova em investigação
criminal e em instrução processual penal, sendo o caso.

De outro lado, Greco Filho (1996) concebe que esta questão está
centrada na interpretação que se dá à expressão “último caso”,
prevista no inciso XII do artigo 5º da Constituição Federal. Este
autor, entendendo que tal expressão limita-se às comunicações
telefônicas, excluindo as comunicações telegráficas e de dados, e
vislumbra os sistemas de informática e telemática como variantes
das comunicações de dados, considera inconstitucional o
dispositivo sob comento.

Outros Tribunais, como o Superior Tribunal e Justiça e o


Tribunal de Justiça de Santa Catarina, já decidiram pela
constitucionalidade das interceptações dos sistemas de informática
STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel.
Min. Vicente Leal – p. DJU em e telemática. Nesse sentido, verifique o quadro a seguir:
04.11.2002 TJSC – MS . 251– (17096)
– Blumenau – Rel. Des. Otávio
Roberto Pamplona – p. DJSC em
26.10.2001 – p. 119 CONSTITUCIONAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS-CORPUS –
SIGILO DE DADOS – QUEBRA – BUSCA E APREENSÃO – INDÍCIOS
DE CRIME– INVESTIGAÇÃO CRIMINAL – LEGALIDADE – CF, ART.
5º, XII – Leis n. 9.034/95 e n. 9.296/96 – Embora a Carta Magna,
no capítulo das franquias democráticas ponha em destaque o
direito à privacidade, contém expressa ressalva para admitir a
quebra do sigilo para fins de investigação criminal ou instrução
processual penal (art. 5º, XII), por ordem judicial. A jurisprudência
pretoriana é unissonante na afirmação de que o direito ao
sigilo bancário, bem como ao sigilo de dados, a despeito de sua
magnitude constitucional, não é um direito absoluto, cedendo
espaço quando presente em maior dimensão o interesse público.
A legislação integrativa do canon constitucional autoriza, em
sede de persecução criminal, mediante autorização judicial, “o
acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancários,
financeiras e eleitorais” (Lei n. 9.034/95, art. 2º, III), bem como
“ a interceptação do fluxo de comunicações em sistema de
informática e telemática” (Lei n. 9.296/96, art. 1º, parágrafo único).
Habeas-corpus denegado”. STJ – HC 15026 – SC – 6ª T. – Rel. Min.
Vicente Leal –p. DJU em 04.11.2002.

104
Ciminalística e Investigação Penal

Ainda, decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina com


relação à prova. Leia atentamente mandado de segurança a
seguir:

MANDADO DE SEGURANÇA – DECISÃO MONOCRÁTICA –


QUEBRA DE SIGILO DE CORREIOS ELETRÔNICOS (E-MAIL) – ART.
5º, XII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – CORRESPONDÊNCIA
– SISTEMA DE INFORMÁTICA E TELEMÁTICA – INCLUSÃO
NO CONCEITO – Há controvérsia se as comunicações em
sistema de informática/telemática, via correio eletrônico
(e-mail), estão compreendidas no sigilo de correspondência,
de dados ou de comunicações telefônicas preconizado pelo
art. 5º, XII, da Constituição Federal. A Lei nº 9.296/1996, no
parágrafo único do seu art. 1º, equiparou-as às comunicações
telefônicas, em relação às quais é pacífico que cabe a quebra
do sigilo por determinação judicial. A matéria é objeto da
ADIN nº 1.499-9, na qual foi indeferida a medida liminar, não
por ausência do fumus boni iuris, mas do periculum in mora,
estando pendente de julgamento. Na espécie, todavia, para a
análise do caso não há a necessidade de se perquirir sobre a
constitucionalidade da equiparação. É que a interceptação do
fluxo de tais comunicações (informática e telemática), ainda
que constitucional, porque representa exceção à garantia
constitucional prevista no preceito referido, há de ser deflagrada
com cautela, devendo o magistrado verificar se estão presentes
os pressupostos legais para o deferimento da medida e, em caso
positivo, seguir o procedimento fixado na Lei nº 9.296, de 1996,
disso dependendo a licitude ou ilicitude da medida. No caso,
sendo as infrações investigadas punidas, no máximo, com a pena
de detenção, descabe a quebra do sigilo, ante a regra inserta no
inciso III do art. 2º da Lei nº 9.256/1996. Segurança concedida.
(TJSC – MS. 251 – (17096) – Blumenau – Rel. Des. Otávio Roberto
Pamplona – p. DJSC em 26.10.2001 – p. 119).

Foram sucintamente mencionados neste item, em caráter


exemplificativo, apenas alguns limites materiais à prova, que
ensejam muita discussão doutrinária e jurisprudencial.

Unidade 5 105
Universidade do Sul de Santa Catarina

Limitações probatórias
Além dos preceitos limitativos de ordem material, existem
limitações probatórias previstas no Código de Processo Penal.
Podemos citar: a obrigatoriedade da prova pericial para a
constatação da materialidade da infração penal, quando esta
deixar vestígios, com possibilidade de suprimento pela prova
testemunhal, no caso de desaparecimento destes vestígios; a
impossibilidade de condenação embasada exclusivamente na
confissão do acusado; restrições de prova relacionadas ao estado
civil das pessoas; proibição de depor como testemunhas as
pessoas que, em razão de função, ministério, ofício, ou profissão,
devam guardar segredo. Nesta lista de limitações probatórias,
destaca-se que não há sem necessidade, em regra, dos laudos
periciais serem lavrados por dois peritos oficiais, conforme o que
prescreve o art. 159 do CPP (BRASIL, 1941).

Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) define em


seu art. 158 – “Quando a infração deixar vestígios, será
indispensável o exame de corpo de delito, direto ou
indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”;
art. 167 – “Não sendo possível o exame de corpo de
delito, por haverem desaparecido os vestígios, a Prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta”; art. 159, caput
– “O exame de corpo de delito e outras perícias serão
realizados por perito oficial, portador de diploma de
curso superior”; art. 155, parágrafo único – “Somente
quanto ao estado das pessoas serão observadas as
restrições estabelecidas na lei civil”; art. 62 – “No
caso de morte do acusado, o juiz somente à vista da
certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério
Público, declarará extinta e punibilidade”; e art. 207 –
“São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho” .

Portanto, perceba que a produção da prova criminal encontra-se


limitada por preceitos insculpidos na Constituição da República,
Código de Processo Penal, e demais textos legais que, quando
violados, conferem ilegalidade à prova.

106
Ciminalística e Investigação Penal

Síntese
A prova criminal, objeto da investigação policial, sempre
foi influenciada pelo contexto histórico, social e cultural da
civilização.

Durante a Antiguidade, e parte da Idade Média, quando a


religião era o valor supremo das organizações e desconheciam-
se os direitos fundamentais, instituíram-se as ordálias e os
juramentos, meios de prova que outorgavam a Deus a capacidade
de condenar ou absolver os indivíduos.

No final da Idade Média, e grande período da Idade Moderna,


com a criação dos tribunais da inquisição, a tortura era
oficialmente aceita como meio de Prova necessário para a
obtenção da confissão. Utilizava-se o sistema das provas legais,
em que a confissão era mais valorada do que as demais provas.

Desconhecendo o princípio da presunção de inocência, as provas


não eram reunidas para apurar uma possível culpabilidade do
réu, sendo que esta era constituída de cada um dos elementos que
permitiam reconhecer um culpado.

Prevalecia a concepção organicista da sociedade, em que o


interesse do Estado estava acima do indivíduo, o qual não possuía
direitos e garantias limitadores do poder estatal.

Apenas com os ideais iluministas da Revolução Francesa, os


valores do homem considerado em sua individualidade passaram
a ser observados. Contrapondo-se ao sistema das provas legais,
criou-se o sistema da íntima convicção, concedendo total
liberdade aos juízes na apreciação da prova, dispensando-os de
motivar suas decisões.

O homem passou a ser respeitado enquanto sujeito de direitos e


garantias, entre elas, a proibição legal da tortura, a presunção de
inocência do acusado e o Direito ao contraditório. A busca pela
verdade no processo passou a sofrer limitações consubstanciadas
nas liberdades públicas.

Unidade 5 107
Universidade do Sul de Santa Catarina

Posteriormente, opondo-se ao subjetivismo da íntima convicção


do juiz, surgiu o sistema da persuasão racional ou livre convicção,
pelo qual a motivação das decisões judiciais tornou-se verdadeira
garantia individual.

Através do sistema da persuasão racional, adotado pelo Código


Processual Penal Brasileiro, não há hierarquia entre as provas e
o juiz pode decidir de acordo com a sua consciência, desde que
o faça motivadamente e obedeça à Constituição da República e
demais textos legais.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1789, e


outros textos internacionais sobre direitos humanos proclamaram
diversos direitos fundamentais, muitos deles consagrados pela
Constituição da República.

Estes direitos e garantias consubstanciam-se em limites à


atividade estatal, inclusive no que concerne à produção da prova
no processo penal.

Neste contexto, no Estado Democrático Brasileiro os princípios


insertos, explícita ou implicitamente, na Constituição da
República, atuam como norteadores do processo penal, que passa
a ser concebido não apenas como instrumento para persecução
penal, mas também como meio para salvaguardar direitos
fundamentais.

A Constituição da República explicita, entre outros, o direito


à vida, à liberdade, à igualdade, à integridade física e moral,
à privacidade, à honra e imagem, bem como garante as
inviolabilidades da manifestação do pensamento, da liberdade
espiritual, da expressão intelectual, artística e científica, do
domicílio, do sigilo da correspondência e das comunicações
telegráficas, de dados e telefônicas. Assegura, ainda, a garantia da
inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

Todos estes direitos e garantias limitam a atividade policial


investigativa.

Quando uma prova é produzida com ofensa a algum destes


direitos e garantias, é tida como ilícita, posto que ofende norma
de direito material, e passa a não ter qualquer valor para embasar

108
Ciminalística e Investigação Penal

uma sentença, além da responsabilidade penal e administrativa a


quem produziu a prova está sujeito.

Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce-se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois, assim, você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Assinale verdadeiro ou falso:
( ) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no
suspeito mesmo que sem a sua anuência.
( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento
do morador, em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ainda que sem ordem judicial.
( ) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do
morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.
( ) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto
de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem
judicial, constitui prova lícita.
( ) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores é prova
lícita.

2) Responda à seguinte questão:


Para comprovar um crime de trânsito, expondo a dano potencial a
incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito
Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o
condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência?
Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova
poderiam ser utilizados para tanto.

Unidade 5 109
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
ao consultar as seguintes referências:

GRECO FILHO, Vicente. Interceptação Telefônica-


Considerações sobre a Lei n. 9296, de 24 de julho de 1996. São
Paulo: Saraiva, 1996. 60 p.

MENDES, Maria Gilmaíse de Oliveira. Direito à Intimidade e


Interceptação Telefônica. 1999, p.173-174.

STRECK, Lenio Luiz. As interceptações telefônicas e


os direitos fundamentais. 2.ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2001.

110
Para concluir o estudo

Este livro teve por finalidade estudar os temas Criminalística


e Investigação Criminal.

Na atualidade, o tema segurança pública vem sendo objeto


de maior atenção pela sociedade e pelo Estado.

Os crescentes índices de criminalidade verificados no País e


as deficiências estatais no combate ao crime são temas com
os quais a sociedade está cada vez mais preocupada, uma vez
que a atinge diretamente.

São exorbitantes os gastos públicos gerados em decorrência


da atividade delitiva e é negativa a visão, pela sociedade, da
atuação estatal nesta área.

Estes são apenas alguns dos motivos pelos quais a segurança


pública vem sendo objeto de preocupação pelo poder público.

A par da discussão acerca da omissão do poder estatal em


programas que tenham como foco a prevenção, tais como
educação, saúde, moradia, emprego, é certa a necessidade
perene da atividade policial em qualquer organização social
atual, considerando que a função repressiva sempre terá de
existir.

Com as alterações e criações de leis, com a especialização


das perícias, com a rotatividade dos profissionais que atuam
direta ou indiretamente na atividade investigativa policial, a
busca pela prova criminal está em constante mutação.

Espero que você, aluno, que por interesses profissionais e/ou


pessoais, está realizando este curso, considere esta disciplina
como o ponto de partida para o estudo aprofundado e
permanente da investigação policial.

Profa. Maria Carolina Milani Caldas Opilhar


Referências

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Tradução de Flório


De Angelis. São Paulo: Edipro,1993.120 p. Título original: Dei
Delitti e Delle Penne.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 217 p. Título original:
L´eta dei Diritti.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil:
promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.
htm>. Acesso em: 21 mar. 2011.
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código
de Processo Penal (CPP). Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del3689.htm>. Acesso em: 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 4.117, de 27 de agosto de 1962. Institui o Código
Brasileiro de Telecomunicações. Disponível em:<http://www.
planalto.gov.br/ccivil/leis/L4117.htm> Acesso em: 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre
o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito
tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5172.htm>. Acesso
em 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 6.538, de 22 de junho de 1978. Dispõe sobre
os Serviços Postais. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L6538.htm> Acesso em: 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996. Regulamenta
o inciso XII, parte final, do art. 5° da Constituição Federal.
Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9296.
htm> Acesso em: 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997. Institui o
Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em:<http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/L9503.htm>. Acesso em: 22 mar. 2011.
BRASIL. Lei no 10.217, de 11 de abril de 2001. Altera os arts. 1º
e 2º da Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995, que dispõe sobre a
utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão
de ações praticadas por organizações criminosas. Disponível
em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10217.
htm>. Acesso em: 11 mar. 2011.
Universidade do Sul de Santa Catarina

BRASIL. Lei complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001. Dispõe


sobre o sigilo das operações de instituições financeiras e dá outras
providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/
LCP/Lcp105.htm>. Acesso em: 11 mar. 2011.
BRASIL. Lei nº 11.690, de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do
Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal,
relativos à prova, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm>. Acesso em: 11
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MARCINEIRO, Nazareno; PACHECO, Giovanni Cardoso. Polícia
Comunitária. Evoluindo para a Polícia do Século XXI. Florianópolis: Editora
Insular, 2001. 103p.
MENDES, Maria Gilmaíse de Oliveira. Direito à Intimidade e
Interceptação Telefônica. Belo Horizonte: Mandamentos, 1999. 204p.
MENDES, Flávio Freitas Pereira. Violação da intimidade por intermédio
de interceptação telefônica, escuta telefônica e gravação clandestina
– prova – sua validade na persecução criminal. In: Âmbito Jurídico, Rio
Grande, 25, 31/01/2006 [Internet]. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_
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MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Baron de. O Espírito das Leis.
Tradução de Cristina Murachco. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
851p. Título original: De L´´Esprit dês Lois.
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Universidade do Sul de Santa Catarina

NOVINSKY, Anita Waingort. A Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1982. 96 p.


ORTEGA, Manuel Segura. La Situacion Del Derecho Penal em Los Siglos XVI
y XVII. In: MARTINÉZ, Gregório Peces-Barba et al. História de Los Derechos
Fundamentales. Tomo I. Madrid; Dykinson, S.L., 1998. 875 p.
PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: Ideias e Ferramentas Úteis
para o Pesquisador do Direito. 8 ed. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2003. 243p.
PORTO, Gilberto da Silva. Manual da Criminalística. Escola de Polícia de São
Paulo, 1960.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 16 ed. São
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STRECK, Lenio Luiz. As Interceptações Telefônicas e os Direitos
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THOMÉ, Ricardo Lemos. Contribuição à Prática da Polícia Judiciária.
Florianópolis: Editora do Autor, 1997. 275p.
TOCCHETTO, Domingos; ESPINDULA, Alberi. Criminalística. Procedimentos e
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SABADELL, Ana Lucia. Problemas Metodológicos na História do Controle Social:
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SEVEN – Os Sete Crimes Capitais. Adoro Cinema. Disponível em: <http://www.
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SZNICK, Valdir. Tortura. São Paulo: Universitária de Direito, 1998. 293 p.
VALIENTE, Francisco Tomás Y. La Tortura Judicial en España. Barcelona: Crítica,
2002. 273 p.

116
Sobre o professor conteudista

Maria Carolina Milani Caldas Opilhar é graduada em


Administração de Empresas, pela Universidade do Estado de
Santa Catarina – UDESC e em Direito, pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC. Realizou Mestrado em
Ciência Jurídica, pela UNIVALI/ SC – Universidade do Vale
do Itajaí, com dissertação aprovada em junho de 2004. Possui
especialização em Meio Ambiente e Trânsito, pela Unisul,
com monografia aprovada em maio de 2003. Está cursando
Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Segurança Pública,
na ACADEPOL - Academia de Polícia Civil de Santa
Catarina. É Delegada de Polícia, integrante da Polícia Civil
do Estado de Santa Catarina e faz parte do corpo docente
da ACADEPOL – Academia de Polícia Civil de Santa
Catarina. Atualmente, presta serviços na Delegacia de Polícia
de Palhoça, Santa Catarina.

Adriano Mendes Barbosa (2ª edição) é delegado da Polícia


Federal, mestre em Defense Analysis pela Naval Postgraduate
School (NPS), Califórnia, EUA, com grau revalidado pela
Universidade de Brasília (Unb) como mestre em Relações
Internacionais. É professor da Academia Nacional de Polícia
(ANP) e da Polícia Federal para os cursos de Formação
Profissional, Superior de Polícia (Pós-Graduação em
Gestão de Políticas Segurança Pública), Especial de Polícia
(Pós-Graduação em Execução de Políticas de Segurança
Pública) e na Pós-Graduação em Ciências Policiais nas
concentrações de Investigação Criminal e Inteligência
Policial. Na Pós-Graduação em Gestão de Políticas de
Segurança Pública é também orientador de monografias na
temática de Investigação Criminal e Inteligência Policial.
É também professor da Rede de Ensino LFG para o curso
de Pós-Graduação em Investigação, Constituição e Direito
de Defesa. É conferencista, articulista, escritor e palestrante
sobre as temáticas de Investigação Criminal e Inteligência
Policial, também é membro da Comissão Editorial da Revista
Brasileira de Ciências Policiais.
Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação

Respostas e comentários das questões das unidades do livro


didático

Unidade 1
1) Analise as questões abaixo e assinale verdadeiro ou falso,
conforme a proposição.
(F) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma de
fogo, a apreensão de estojos no local não é importante,
posto que não seja possível realizar perícia comparativa entre
o estojo e a arma de fogo.
(V) Nos crimes que ocorreram mediante disparo de arma
de fogo, a apreensão de projéteis no local possibilita a
realização do laudo de identificação de projéteis e, quando a
arma é apreendida, o laudo de comparação balística.
(V) O rol de provas elencados no Código de Processo Penal
Brasileiro é exemplificativo.
(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal
Brasileiro é o da íntima convicção.
(V) A prova testemunhal pode suprir a prova pericial quando a
infração penal não deixar vestígios.

Unidade 2
1) Qual a importância do laudo pericial na investigação
criminal?
R: O laudo pericial vem sendo percebido como uma das provas
cruciais para a investigação, posto que, na condição de prova
objetiva, científica, seja mais difícil de ser refutado. As Polícias
investigativas mais avançadas do mundo vêm priorizando a
prova pericial.
Universidade do Sul de Santa Catarina

2) Que tipo de prova é o laudo pericial?


R: O laudo pericial é prova objetiva, científica.

3) O laudo pericial é sempre conclusivo?


R: O laudo pericial nem sempre é conclusivo. No sistema da livre
convicção, adotado pelo Código de Processo Penal Brasileiro, as
provas não possuem valor predeterminado, e, portanto, não são
hierarquizadas, ficando a critério do juiz esta valoração.

Unidade 3
1) Assinale verdadeiro ou falso:
(F) O sistema de provas previsto no Código de Processo Penal Brasileiro é
o da íntima convicção.
(F) O inquérito policial é peça imprescindível para a instauração do
processo criminal.
(F) As Polícias exercem atividades excludentes, razão pela qual a Polícia
Militar é proibida de realizar qualquer tipo de investigação criminal.

2) Responda à seguinte questão:


Na sua percepção, durante o curso de uma investigação, os policiais
devem estar voltados prioritariamente a indicar e localizar o autor do
crime ou à busca da verdade?
R: Em um Estado Democrático de Direito, o objetivo primordial da
investigação deve ser a busca da verdade dos fatos, ainda que a
verdade demonstre que o suspeito não seja o autor do crime ou
que o autor tenha agido embasado em alguma excludente de
antijuridicidade, tal como legítima defesa ou estado de necessidade.
Dessa forma, muitas vezes no transcorrer da atividade investigativa são
coletadas provas em favor da inocência do suspeito.

Unidade 4
1) Assinale verdadeiro ou falso:
(F) Durante o interrogatório do indiciado, o advogado poderá fazer
perguntas, em face do princípio do contraditório consagrado pela
Constituição Federal de 1988.

120
Criminalística e Investigação Criminal

(F) É necessário que a vítima seja interrompida durante o relato do


ocorrido, para que sejam feitas perguntas dirigidas aos autores, armas e
outros dados importantes.
(F) No caso de haver mais de um suspeito, é importante que eles sejam
interrogados conjuntamente.
(F) O detector de mentiras e a hipnose são meios de prova aceitos no
ordenamento brasileiro, considerando que o rol de provas elencado no
Código de Processo Penal Brasileiro seja apenas exemplificativo.
(V) São modalidades de vigilância eletrônica a captação de conversação
ambiental e a interceptação telefônica.
(F) Interceptação telefônica e gravação telefônica são sinônimos.

2) Responda à seguinte questão:


Um indivíduo é ameaçado de morte por telefone e grava esta ameaça,
durante uma conversação. Ele realizou gravação telefônica ou
interceptação telefônica? Por quê?
R: Realiza gravação telefônica. A interceptação necessita de ordem judicial
para ser feita e é sempre realizada por um terceiro.

Unidade 5
1) Assinale verdadeiro ou falso:
(F) Exames de sangue e testes de alcoolemia podem ser realizados no
suspeito mesmo que sem a sua anuência.
(V) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento
do morador, em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ainda que sem ordem judicial.
(F) É permitida a entrada da Polícia em domicílio, sem consentimento do
morador, durante o dia ou à noite, com ordem judicial.
(F) O registro dos arquivos extraídos da memória de computador, objeto
de exclusiva apreensão mediante entrada em residência, sem ordem
judicial, constitui prova lícita.
(V) Captação de conversa ambiental por um dos interlocutores, é prova
lícita.

2) Responda à seguinte questão:


Para comprovar o crime de trânsito, expondo a dano potencial a
incolumidade de outrem, previsto no artigo 306, do Código de Trânsito

121
Universidade do Sul de Santa Catarina

Brasileiro, é possível comprovar a embriaguez constrangendo o


condutor a realizar o teste do bafômetro, mesmo sem a sua anuência?
Em caso negativo, fundamente e informe que outros meios de prova
poderiam ser utilizados para tanto.
R: Em face do direito de que ninguém seja obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa, senão em virtude de lei, previsto no artigo 5º, II, da
Constituição Federal de 1988, ninguém pode ser obrigado a produzir
prova contra si próprio, pelo que não é possível constranger alguém a
realizar o bafômetro, sem o seu consentimento.
A prova testemunhal e o laudo pericial de verificação de embriaguez,
realizado por médicos legistas, são outros meios de prova que podem
demonstrar o estado de embriaguez.

122
Biblioteca Virtual

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Investigação Criminal
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