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As festas realizadas na primeira igreja da Irmandade dos homens pretos revelavam grande
sincretismo religioso entre o catolicismo e as crenças africanas da etnia bantu[11], pois
grande parte dos escravos trazidos para São Paulo vinham do atual Congo, de ascendência
bantu. As festas eram conhecidas pela eleição de um rei, uma rainha e uma corte; a venda
de quitutes tradicionais da África; os leilões ao som de tambaques; o manuseio mútuo de
terços católicos e peles de lagarto ou sapo, figas da guiné, olhos-de-cabras e pés de
galinha, tradicionais elementos da religião bantu; a encenação da congada e a
participação de grande parte dos moradores locais, que sempre observavam as
festividades[6]. A procissão da Nossa Senhora do Rosário era a principal festa da
irmandade. Era caracterizada pelas músicas de diversos ritmos, como os batuques,
sambas e moçambiques; as danças entusiasmadas de mulheres que vestiam lenços
brancos na cabeça, colares e pulseiras de ouro e rosários de contas vermelhas; e os
grandes banquetes na cada do rei e da rainha, onde eram servidos cachaça e quitutes
típicos[4]. Como alguns desses ritmos musicais eram muito reprimidos pela polícia, devido
a reclamações de moradores e sua associação com a religiosidade africana, a dança dos
Caiapós também foi adotada pela comunidade como uma forma de expressar sua
religiosidade[12].
A imersão dos moradores locais nos ritos e festas dos "pretos do rosário" foi marcada
também pelo aparecimento dos "escravos de ganho", que eram negro alforriados,
contratados por pequenos comércios, para vender doces, mandioca, pinhão, milho, frutas
e legumes ao redor da igreja[10]. Também era muito comum a construção de casebres
humildes ao redor da igreja, onde moravam os ex-escravos[2]. Muitos observadores da
época registraram a participação de escravos nessa festas, que eram vistas pelos
senhores de escravos como momentos de "alívio do cativeiro"[2].
O cemitério, construído ao lado da igreja logo após sua finalização, também ocupava um
importante papel na vida religiosa daquela comunidade. Na sacristia havia uma gamela
para lavagem dos defuntos e um caixão de madeira que transportava os corpos até as
covas. Tal caixão era usado em todas as cerimônias, uma vez que os mortos eram
enterrados apenas com lençóis. Os enterros começavam sempre de madrugada e eram
caracterizados por um líder religioso que entoava canções identificadas como sendo do
candomblé; o acompanhamento das músicas pelos presentes; e um batuque produzido
pelos "mãos-de-pilão", que socavam a terra que ia sendo jogada em cima da cova[4].
Diversos registros da época relatam o medo e apreensão que os moradores locais tinham
com esses ritos, pois acordavam de madrugada ouvindo batuques associados ao
paganismo e canções em outra língua[2].