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APRESENTAÇÃO

Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu (ou fez) comentários
como “português é muito difícil”, quem nunca se divertiu com o sotaque
caricato dos personagens das novelas ou quem nunca censurou alguém
por uma palavra ou expressão “errada”. Quase invariavelmente, se falamos
uma língua, falamos sobre ela, reconhecemos essa língua como um me-
canismo para demarcar identidade(s), mostrar “bons modos” ou provocar
escárnio. Ora, mesmo que inconscientemente, sabemos que as línguas têm
funções que vão muito além do “transmitir ideias”. Quando interagimos
via linguagem, operamos com regras que estabelecem relações muito re-
finadas entre as formas que empregamos, a interação dessas formas com
o restante do sistema linguístico, os papéis sociais que desempenhamos,
nossa relação com o interlocutor, entre muitos outros fatores. É esse conhe-
cimento que nos permite falar de um modo com os amigos e de outro com
o chefe, que nos permite reconhecer com muita precisão a origem de uma
pessoa após trocar poucas palavras com ela e que permite a continuidade
de julgamentos nem sempre justos.
A grande responsável por essa propriedade das línguas é a variação.
Numa língua, não existe apenas uma forma para cada significado. O que
existe são variantes, um conjunto de opções do qual retiramos as formas
que empregamos ao falar e ao escrever. Essa escolha, contudo, não é alea-
tória: há motivações de toda ordem nos guiando no constante processo de
formulação linguística. Um exemplo claro é o da monotongação, processo

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PARA CONHECER Sociolinguística

em que um ditongo, como ou em pouco, ei em feira ou ai em caixa é redu-


zido a um único som (poco, fera, caxa). Podemos pensar que não há uma
regra por trás desse processo, mas por que será, então, que os ditongos em
falei ou baita aparentemente não sofrem essa redução? Ou por que será
que, em contextos formais, em que monitoramos mais nossa fala, a mono-
tongação não ocorre com tanta frequência quanto na fala espontânea?
As regularidades que encontramos na variação são o principal foco de
interesse de uma área específica de estudos, que busca desvendar o com-
portamento de fenômenos variáveis dentro da própria língua e fora dela,
em seu contato com a sociedade. Essa área é a Sociolinguística.
A variação ocorre em todos os níveis linguísticos (fonológico, mor-
fológico, sintático, semântico-lexical, discursivo), atestando a visão de
língua como um sistema heterogêneo. É essa propriedade das línguas – a
de que, afinal, não falamos todos da mesma forma – que investigam os es-
tudos sociolinguísticos, e é dela que nos ocuparemos ao longo deste livro.
Para alguns, pode parecer óbvio que a variação (bem como a mudança
nas línguas) conste no programa de investigações da Linguística. Contu-
do, veremos que os quadros teóricos de maior projeção no último século
não consideravam necessário – nem possível – o estudo da variação e da
mudança para a compreensão de como as línguas funcionam. O surgimen-
to de uma proposta de análise sistemática desses fenômenos representa,
portanto, um importante marco no desenvolvimento da ciência linguísti-
ca, e já nos trouxe valiosos conhecimentos acerca de como se comporta a
variabilidade nas línguas. Esses conhecimentos, por sua vez, contribuem
para o entendimento de questões como a do preconceito linguístico e para
a construção de uma prática pedagógica consciente e reflexiva acerca dos
usos linguísticos no ensino de língua materna. Já não temos aí motivos
suficientes para conhecer um pouco mais essa área?
Além disso, a Sociolinguística tem como interesse básico o estudo
de outro fenômeno das línguas: o da mudança. Se a variação envolve a
coexistência de formas para a expressão de um significado, a mudança
diz respeito a como, nessa disputa de forças, certas formas tornam-se cada
vez mais correntes, levando outras à obsolescência. É a mudança a respon-
sável por, afinal, sermos falantes de português, e não mais de latim – na
verdade, ainda somos falantes de latim, mas de um latim que já passou por

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Apresentação

tantas mudanças e que já se envolveu em cenários históricos e políticos tão


diversos que acabou recebendo um novo rótulo: “português”. A mudança
linguística, assim como a variação, não é resultado de uma deriva aleatória,
e a sistematicidade desse processo constitui outra das grandes frentes da
teoria de que iremos tratar neste livro. Falaremos dos princípios básicos da
mudança linguística, dos problemas que se impõem ao investigador e dos
métodos para, enfim, revelar a ordem do suposto caos.
Dividimos nosso caminho pela Sociolinguística em quatro capítulos.
No primeiro, introduzimos conceitos básicos dessa interessante proposta
de estudos e tratamos das forças internas e externas que atuam sobre a
língua. No segundo capítulo, situamos a Sociolinguística no contexto mais
amplo dos estudos linguísticos do último século e apresentamos os princí-
pios fundamentais da Teoria da Variação e Mudança. Na terceira parte de
nosso percurso, aprendemos como “pôr a mão na massa” em uma pesquisa
sociolinguística, examinando suas etapas principais. Por fim, no quarto e
último capítulo, trazemos reflexões e sugestões de como o conhecimento
advindo da pesquisa em Sociolinguística pode (e deve) contribuir para a
nossa prática pedagógica em língua materna, a fim de atingirmos um ensi-
no cada vez mais efetivo e menos segregador. Há, ainda, ao final de cada
capítulo, uma série de atividades sobre os conteúdos abordados no texto.
Esperamos que este livro, além de apresentar os pressupostos básicos
da teoria e da metodologia sociolinguística, suscite muitos questionamen-
tos e muitas reflexões!

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