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onde é possível detectar a correlação funcional entre os ambientes, as coisas e os
comportamentos” (2001, p.79).
A questão do tempo, portanto, “não pode ser evitada por nenhum escritor
devido à sua estreita relação com a organização textual” (VERÍSSIMO, 2006 p.2), pois
como a teoria da literatura defende, o tempo é uma categoria literária que
desempenha um papel fundamental, principalmente na própria estrutura narrativa.
Como declara Finazzi-Agrò:
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Porém, apesar do “efeito de realidade” que produz, talvez o cinema seja a
arte que mais tenha a capacidade de mostrar os temas relacionados ao espaço e ao
tempo entre todos os modos de representação artística,
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percebemos certo domínio do destino sobre as vontades. Liberato (2007) ainda
declara que na aventura romântica, o tempo é que se abre aos acasos e às ações
humanas. Já no destino trágico, o tempo para, deixando de existir, confundindo-se
com o tempo mítico (da vida pobre na costa do Mediterrâneo), que é aquele em que o
destino retorna incessantemente, num tempo cíclico.
Luiz Fernando Carvalho afirma que o paradigma de André é ele mesmo,
submetendo-se às leis do tempo. Assim, “a partir daí você precisa de um olhar que
traduza as voltas que o tempo dá, um olhar que seja ao mesmo tempo lírico e trágico,
mas distanciado, um olhar cinematográfico sobre os acontecimentos do passado”
(2002, p.55).
Quando André decide guiar a sua história e vivência, o tempo que predomina
é o da aventura; mas quando o mundo lhe responde negativamente às suas ações, o
tempo retorna àquele que é determinado pelo destino, que se converte em uma
desgraça, atuando sempre como um ciclo repetitivo.
As palavras do narrador representam um tempo que quer explodir e tomar
conta do mundo que baniu André de sua família, e no qual ele se sente jogado. Pois,
para André, aos que não recebem do mundo a sua parte, o seu espaço, cabem a eles
duas opções: desistir de tudo ou manter uma esperança em destruir este mundo, este
em que as regras se mantêm rígidas e presentes. É assim que o tempo no romance
de Nassar não se deixa aprisionar, parecendo sempre sugerir algo ao longo do
romance, indicando diferentes possibilidades de interpretação e “sendo a principal
mola para dissolvê-las” (IEGELSKI, 2007, p. 83). Como afirma Carvalho,
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discordância entre duas ordens temporais” (1972, p. 82). Suas correspondentes
fílmicas se dão através dos recursos de flashback para as analepses e de flashforward
para as prolépses, os quais se realizam na moderna indústria cinematográfica dando a
possibilidade da narrativa “desenvolver-se na ordem inversa à cronológica, deixando
em aberto sequências posteriormente completadas num movimento para trás”
(NUNES, 1988, p.32).
Desse modo, Lavoura arcaica é construído pela fusão de vários tempos numa
mesma narrativa e também pela presença de vários tempos que parecem não entrar
em harmonia, a não ser pelo final arrasador. A ausência de conciliação entre os
tempos significa, sobretudo, o conflito que o homem vive entre as diferenças e
imposições de uma tradição versus sua individualidade, o que questiona a “existência
da própria humanidade” (IEGELSKI, 2007, p.83).
Pretendendo, portanto, estabelecer correlações entre os dois meios
expressivos, o literário e o fílmico, e considerando toda a significação que o aspecto
temporal ocupa no romance e no filme, buscaremos analisar a importância da sua
construção e o modo como se liga às demais categorias narrativas, influenciando e
sendo influenciado por elas.
Referências bibliográficas
CARVALHO, Luiz Fernando. Sobre o filme Lavoura Arcaica. Rio de Janeiro: Ateliê
Editorial, 2002.
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HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da
mudança cultural. 3.ed. São Paulo. Edições Loyola, 1993.
LIBERATO, Lúcia. Curso de Literatura Brasileira. In: Revista Entre Livros. Ed. Leitura
XXI, Porto Alegre, 2007. Disponível em <
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/>. Acesso em 12 de dezembro de
2009.
MANN, Thomas. A montanha mágica. 3. ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980.
NUNES, B. O tempo na narrativa. São Paulo: Ática, 1988 (Séries Princípios) v.31.
PELLEGRINI, Tânia et al. Literatura, cinema e televisão. São Paulo: Editora Senac
São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 2003.
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