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Resenhas nova/Ibéria, Holanda, Grã-Bretanha e Estados Uni-

dos –, Arrighi depara-se com o crescimento assom-


broso do Japão no pós-guerra. Em princípio finan-
ciados pela pujança norte-americana, nos anos de
1980 os japoneses haviam invertido essa situação, de-
sembolsando “um imenso volume de capital para res-
paldar os déficits das contas externas e o desequilí-
brio fiscal interno dos Estados Unidos”1.
O conceito schumpeteriano de intercâmbio polí-
tico, reformulado por Arrighi, prevê que o ente hege-
mônico do capitalismo histórico se articula na relação
entre dois atores: o que detém capital e aquele que
possui força político-militar. No contexto da crise nos
Estados Unidos e do crescimento econômico no Les-
te asiático, o epílogo de O longo século XX sugeria que
um novo pacto entre a potência econômica ascenden-
te, o Japão, e a águia guerreira norte-americana pode-
ria formular novas bases para a acumulação capitalista
Giovanni Arrighi, Adam Smith em Pequim: origens no final do milênio.
e fundamentos do século XXI. São Paulo, A hipótese de uma combinação bilateral entre eco-
nomia e política – que lembraria a relação entre Gê-
Boitempo, 2008, 432 pp.
nova (capital) e Espanha e Portugal (força político-
Wagner de Melo Romão militar) no século XVI – cai por terra com a ascensão
Doutorando em Sociologia pela FFLCH – USP da China. Nos anos de 2000, a China – que já era
considerada líder regional por sua população, exten-
A partir de meados dos anos de 1970, tem início são territorial e relativa posição de força no Extremo
o declínio dos Estados Unidos como líder inconteste Oriente – extrai de seu galopante desenvolvimento
do sistema internacional. Desde aqueles anos, pes- econômico a posição de séria candidata a hegemon.
quisadores têm buscado identificar indícios de qual Tem como rival os Estados Unidos, enfraquecidos
país ou grupo de países poderá substituir os Estados pelo atoleiro iraquiano, à beira da depressão e com
Unidos como hegemon mundial. O sociólogo italia- seu fantástico déficit em transações correntes finan-
no Giovanni Arrighi é um desses estudiosos. ciado pelo Japão e cada vez mais pela China (p. 202).
Arrighi persegue – pelo menos desde a publica- Essa virada histórica acentua a possibilidade de
ção nos Estados Unidos de O longo século XX, em equalização do poder mundial, como previu Adam
1994 – o tema da progressiva recuperação do Leste Smith, entre o Ocidente conquistador e o não Oci-
asiático como centro econômico mundial, posição dente conquistado (pp. 18ss.).
perdida para o Ocidente pan-europeu (Estados Uni- A proposta investigativa de Arrighi é ambiciosa:
dos incluídos) desde a metade do século XIX. Na- trata-se de perceber as conexões entre o que fazia da
quele livro, depois de passar em revista todo o pro- China a grande economia mundial até meados do sé-
cesso de transferência de hegemonias do capitalismo culo XIX e o que torna possível que seja ela, nos dias
histórico – em que se sucederam como hegemons Gê- atuais, a protagonista do mais fantástico ressurgimen-
Resenhas, pp. 209-218

to econômico de que se tem notícia. Essa linha é per- de manutenção da liderança mundial. O Projeto para
seguida pelo autor ao longo do livro, o que torna sua o Novo Século Norte-Americano, desenvolvido pelos
leitura bastante instigante, daquelas que se quer con- falcões e acolhido pelo Congresso e pela população
cluir rapidamente para se conhecer o desfecho. amedrontada, recolocou os Estados Unidos na rota
O livro divide-se em quatro partes. De início, das guerras imperialistas. No entanto, a invasão do
Arrighi busca demonstrar como o caminho “natu- Iraque e a tentativa de controlar as maiores reservas de
ral” de desenvolvimento econômico, preconizado por petróleo do mundo se tornaram custosas demais. Au-
Adam Smith, baseado no incremento do mercado menta o déficit público e a dependência financeira do
interno a partir do aprimoramento da agricultura e império com relação às potências ascendentes, sobre-
do comércio, conformou a economia chinesa até o tudo China, que Arrighi compreende ser a grande
fim de seu período imperial. Em contrapartida, em- vencedora da guerra do Iraque.
bora tenha sido a sede da ideologia do livre mercado, Por fim, na quarta parte do livro, além de uma
a Europa havia determinado seu crescimento econô- vigorosa análise do recente debate de intelectuais
mico a partir do ambiente externo, impulsionada norte-americanos sobre como lidar com a “ascensão
pelas conquistas territoriais no continente america- pacífica” chinesa, Arrighi encontra os fundamentos
no. Esse caminho “antinatural” europeu explicaria o históricos do caminho “natural” chinês de desenvol-
que Kenneth Pomeranz chama de Grande Divergên- vimento econômico, do século XII até os dias atuais.
cia, em que a Europa, impulsionada pela Revolução A ênfase, é claro, se dá na estratégia para a retomada
Industrial, ergue sua curva de crescimento, enquan- do crescimento econômico nos últimos vinte anos.
to o Leste asiático entra em forte declínio. A crise de hegemonia norte-americana não se re-
Na segunda parte, Arrighi retoma algumas das fere apenas à perda de credibilidade de sua posição
formulações de O longo século XX e de Caos e governa- como força invencível ou à sua débâcle econômico-fi-
bilidade no moderno sistema mundial2, em uma analí- nanceira. O próprio american way of life, que susten-
tica que expõe os fundamentos da atual crise econô- tou a pujança consumista da maior economia do
mica, de raízes situadas no início dos anos de 1970. mundo e a admiração de populações de todos os paí-
Em síntese, trata-se de explicar como a queda da taxa ses, aparece como o grande responsável pela devasta-
de lucro naquela década gerou um aumento da finan- ção ecológica de nosso tempo. A mensagem final de
ceirização da economia e fez com que o capital empe- Adam Smith em Pequim refere-se a essa questão. No
nhado na produção buscasse a mão de obra barata dos momento em que a via “natural” chinesa se encontra
países do Terceiro Mundo, sobretudo no Sudeste asiá- com o “caminho extrovertido da Revolução Indus-
tico. Quando o fracasso do Vietnã os fragilizou, os Es- trial”, é o mundo capitalista como um todo que se
tados Unidos tentaram se sustentar com uma política modifica. Como diz Arrighi, “o fato é que nem mes-
monetária frouxa, que impulsionou uma forte expan- mo um quarto da população da China e da Índia
são do crédito, mas sem aumento de demanda com- pode adotar o modo norte-americano de produzir e
parável na economia real. Com dinheiro barato cor- consumir sem matar por sufocação a si mesmo e ao
rendo o mundo, os dólares emitidos pelo Federal Re- resto do mundo” (p. 392). A conquista da hegemo-
serve perderam valor, aprofundando a crise de nia mundial pelos chineses dependerá das decisões a
hegemonia dos Estados Unidos. serem tomadas no futuro próximo. Se o novo ciclo de
Arrighi sugere, na terceira parte, que o 11 de se- desenvolvimento no Leste asiático respeitar os limites
tembro de 2001 teria possibilitado aos Estados Uni- impostos pelo planeta pode ser que a China consiga
dos a deflagração de sua última cartada com o intuito se elevar como modelo para os outros países.

212 Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 21, n. 1


Resenhas

Notas nência a dois: (a) a crescente disseminação do bem-


estar nas sociedades modernas, ainda que, como fri-
1.Giovanni Arrighi, O longo século XX. Rio de Ja- sa o autor, seja mal distribuído; (b) um aumento na
neiro/São Paulo, Contraponto/Editora da Unesp,
Wissenheit (knowledgeability) – que opto por tradu-
1996.
zir pelo termo “cognoscibilidade”.
2.Rio de Janeiro, Contraponto/UFRJ, 2001. Retomando a controvérsia da definição de “mo-
ral” juntamente com a de ética, Stehr afirma que tais
antecedentes não impedem o uso do conceito. “Uma
Nico Stehr, Die Moralisierung der Märkte. Eine moralização dos mercados, em contraponto, não sig-
Gesellschaftstheorie. Frankfurt am Main, nifica que normas morais ‘superiores’, ‘mais civiliza-
Suhrkamp, 2007, 379 pp. das’, ‘mais humanas’ ou até mesmo claramente ‘du-
ráveis’ repentinamente dominem os acontecimentos
Stefan Fornos Klein econômicos como um todo” (p. 15). Trata-se, por-
Doutorando em Sociologia pela FFLCH – USP tanto, de um ponto de vista orientado à ação dos
indivíduos, e que, por isso, entende como condicio-
No âmbito do debate que envolve os limites da nante fundamental, no esteio de outras obras de Stehr,
teoria da ação, o renomado sociólogo alemão Nico o crescente acesso ao conhecimento – e sua impor-
Stehr apresenta em seu mais recente livro, A morali- tância – que se fez presente, em especial, no período
zação dos mercados: uma teoria da sociedade 1, sua con- pós-guerras.
tribuição a essa disputa. Ele sustenta que as mudan- Em linha com a sociologia econômica recente,
ças sociais e econômicas estruturais, ocorridas na so- ele retoma a reconstrução histórica elaborada por Karl
ciedade capitalista durante o século XX, clamam pela Polanyi em A grande transformação, obra amplamen-
alteração do cerne do olhar teórico. Para recorrer às te deixada de lado na literatura estritamente econô-
palavras do autor: “[...] a premissa da obra de Émile mica. No vasto espaço dedicado ao debate da ori-
Durkheim continua válida, e a moral social se altera gem, conceituação e crítica do mercado, Stehr reser-
com a mudança no meio social dos seres humanos” va uma entre as nove partes de seu livro à genealogia
(p. 13). Dessa feita, Stehr contrapõe-se àquela ver- do mercado, filiando-se ao viés interpretativo da cons-
tente da abordagem econômica que compreende a trução social do mercado. Concomitantemente,
racionalidade humana como única e perene. mobiliza o conceito de enraizamento (embeddedness),
São dois os principais pontos a balizar essa tese: formulado por Mark Granovetter, como possível
(i) o predomínio histórico da teoria da produção – vetor pelo qual a moralização se faz presente, dado
tanto nos estudos das ciências sociais como na eco- que os juízos dos consumidores passam não apenas a
nomia – em detrimento do enfoque voltado ao con- se nortear por motivos extramonetários, mas com
sumo, sendo que este passa a ocupar um lugar cada recorrência recusam explicitamente a maximização
vez mais destacado no “lado real” da economia; (ii) dos interesses financeiros em benefício do atendimen-
ao mesmo tempo, o fato de elementos não exclusiva- to a outros condicionantes. A consequência essen-
mente monetários (ou financeiros) terem participa- cial consiste na referência a um acoplamento entre o
ção cada vez maior na tomada de decisão dos indiví- consumo e a produção, obrigando a se pensar essas
duos quanto ao consumo, dando espaço ao que ele esferas conjuntamente.
denominará de decisões morais. Elas são impulsiona- Dessa forma, Stehr objetiva apresentar uma al-
das por diversos fatores, entre os quais ele dá preemi- ternativa à polarização desse debate entre os “defen-

junho 2009 213

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