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A Esquerda Militar

no Brasil:
da conspiração
republicana à
guerrilha dos tenentes
João Quartim de Moraes
São Paulo, Editora Expressão Popular, 2005, 238p.
*
AUGUSTO BUONICORE

Há 15 anos veio à luz a primeira O impacto do golpe militar e os


edição de A Esquerda Militar no Brasil: anos de arbítrio que se seguiram apaga-
da conspiração republicana à guerrilha dos ram da memória social o fato de que
tenentes. Imediatamente um sentimen- existiram, no seio das Forças Armadas,
to de desconforto tomou conta de uma setores progressistas que fizeram suas às
parte de nossa esquerda intelectual. Afi- causas nacionais, democráticas e popu-
nal, havíamos saído de uma ditadura lares. Ou seja, esqueceram que, duran-
militar que havia durado vinte anos. te mais de um século, existiu uma ativa
Teria, ainda, sentido falar de uma “es- - e prestigiada - “esquerda militar” no
querda militar” no país? Isso não seria Brasil. Foi, justamente, esta lacuna da
cair nas velhas ilusões da “esquerda história da esquerda brasileira que João
populista” do pré-1964? Gato escalda- Quartim de Moraes procurou preen-
do sempre terá medo de água fria. cher.

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Doutorando pela Unicamp.

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TENENTES

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O projeto inicial era vasto e deve- não perderam tempo em constituir um
ria se traduzir numa obra de três volu- instrumento mais confiável: a Guarda
mes – dos quais apenas dois foram pu- Nacional. Da nova instituição militar
blicados. O primeiro, que o público têm somente poderiam participar os homens
agora reeditado pela Expressão Popular, com direito ao voto – ou seja, os pro-
aborda o período que vai da conspira- prietários. Por outro lado, as tropas do
ção republicana até a Coluna Prestes; o Exército eram recrutadas entre “os ele-
segundo trata do período entre a Colu- mentos oriundos das camadas mais po-
na e o Levante da Aliança Nacional bres da população, que não dispunham
Libertadora. O último – ainda não pu- de renda para integrar o corpo eleitoral,
blicado – tratará da fase que se iniciou nem, por conseguinte, da milícia lati-
com a participação brasileira na Guerra fundiária”.
Civil espanhola e que se concluiu com Quartim faz um interessante es-
o golpe militar de 1964. quema da divisão das forças políticas nos
No primeiro volume, do qual tra- estertores do Império. Escreveu ele: “três
ta essa resenha, o autor foi procurar no principais contradições políticas que ca-
Império escravista as origens de um pen- racterizaram a crise de legitimidade do
samento anti-oligárquico no interior das Império e a gênese conturbada da Repú-
Forças Armadas. Durante todo este pe- blica (escravocrata x abolicionista, mo-
ríodo houve um verdadeiro braço de fer- narquistas x republicanos; centralistas x
ro entre o governo central, apoiado pelas federalistas), a posição de direita era
oligarquias regionais, e o Exército. Um escravocrata, monarquista e centralista;
ano após a derrubada de D. Pedro I, por a posição de centro, abolicionista, re-
exemplo, os efetivos das forças de terra publicana e federalista; a posição de es-
foram reduzidos em mais de cinqüenta querda, abolicionista, republicana e
por cento. As despesas do Ministério da centralista”.
Guerra que chegou a 37% despencou Ao longo da década de 1880 o
para 20% dos gastos totais do governo. Exército se transformou num fator
Estes eram sinais, mais do que evidentes, desestabilizador da ordem escravista e
da desconfiança das oligarquias em rela- monárquica. Um marco desse processo
ção ao Exército que se formava. foi a exigência feita pelo Clube Militar,
Um Exército nacional, segundo presidido pelo Marechal Deodoro da
Quartim de Moraes, não era funcional Fonseca, para que o Exército não fosse
às classes dominantes do período. Para usado para capturar escravos fugitivos.
elas “só uma força armada política e or- Este histórico documento, elaborado no
ganicamente descentralizada constitui- final de 1887, selou definitivamente a
ria num instrumento de hegemonia su- sorte da escravatura.
bordinado ao poder local dos grandes Acontecimentos como este fize-
plantadores escravocratas”. Por isso eles ram com que surgissem boatos sobre a

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pretensão governamental de extinguir o nacionalista”. E seria este um dos motivos
Exército. Em meio à crise, setores mili- para que “ultra-federalistas” e monarquis-
tares passaram a conspirar ao lado dos tas colocassem o país num estado perma-
líderes civis do movimento republica- nente de insurgência. A Revolução
no. Assim, os jovens oficiais – inspira- Federalista e a Revolta da Armada foram
dos pelo positivismo - tiveram papel os marcos dessa tentativa reacionária de
decisivo na Proclamação da República desestabilizar o novo regime.
e na formatação que esta adquiriu nos Apesar do prestígio do Marechal de
seus primeiros anos. Ferro, não havia nenhuma força que pu-
Esse novo quadro político, que se desse se contrapor às oligarquias agrárias.
formou imediatamente após a procla- Se Floriano tentasse romper com a legali-
mação, não podia agradar os republica- dade republicana recém-instaurada acaba-
nos históricos, representantes políticos ria se tornando, nas palavras de Quartim,
das classes economicamente dominan- “um ‘ditador jacobino’ sitiado no Rio de
tes: a oligarquia cafeeira paulista. A des- Janeiro por uma formidável coligação reu-
confiança mútua entre as oligarquias e nindo os interesses latifundiários de um
o Exército não se arrefeceu. Pelo contrá- extremo ao outro do país, que cedo ou
rio, a República recolocou em um novo tarde o derrubaria do poder”.
patamar o conflito entre centralistas e Dois fatores, segundo o autor,
federalistas. impossibilitariam a realização de uma
Os primeiros grandes combates se ‘revolução jacobina’ no país. O primei-
deram durante a própria elaboração da ro era a inexistência de “milhões de cam-
nova constituição. Esta manteve a Guar- poneses maciçamente mobilizados para
da Nacional e tentou-se, novamente, ne- suprimir os privilégios feudais e ocupar
gar ao Exército um caráter de institui- as terras” e o segundo era o “frágil peso
ção permanente. Neste ponto os específico das camadas populares urba-
federalistas oligárquicos foram derrota- nas”. Isso “não somente tornava inviável
dos e na Constituição ficou estampado a perspectiva de uma ‘República
que as “forças de terra e de mar” seriam jacobina’ no Brasil, mas também esva-
“instituições nacionais permanentes, ziava de qualquer conteúdo democráti-
destinadas à defesa da pátria no exteri- co a retórica liberal das oligarquias re-
or e à manutenção das leis no interior”. publicanas”.
Assim o Exército republicano passava a O “jacobinismo” brasileiro teve
ser uma instituição nacional, permanen- uma existência curta, mas “configurou
te e, também, castrense. a primeira versão, em nossa história
Foi o governo do Marechal Floriano política, de um partido de esquerda”.
Peixoto que, segundo Quartim, estabele- O seu ideário “comportava alguns dos
ceu o embrião do que poderíamos cha- temas essenciais do que seria o ‘progra-
mar de “plataforma histórica da esquerda ma histórico’ da esquerda brasileira ao

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longo do século 20: defesa intransigen- belião militar”. Por outro lado, os tenen-
te da soberania nacional, proteção de tes, também, “não se propunham desem-
nossa indústria, Estado laico e identifi- penhar o papel de vanguarda da classe
cação da causa republicana à causa pa- operária, nem do de patronos de uma or-
triótica e popular”. ganização militar proletária”.
A última grande expressão da “es- Para Quartim, “apesar de eviden-
querda militar”, tratada pelo autor neste tes diferenças de formação intelectual,
primeiro volume, foi o “movimento de formulação doutrinária, de forma de
tenentista”. Segundo ele a “rebelião dos atuação e de perspectiva programática”
‘tenentes’ constitui um episódio de rara existiria uma “clara continuidade da ins-
densidade ético-cívica em nossa história piração moral e política dos jovens ofi-
política”. ciais abolicionistas e republicanos que
O primeiro levante, ocorrido em derrubaram o Império em 1889, dos ‘te-
1922, teve por origem a disputa eleito- nentes’ da década de 1920 e dos milita-
ral entre Arthur Bernardes, candidato res antiimperialistas da década de 1950”.
da oligarquia paulista, e o oposicionista Porém esta continuidade havia se rom-
Nilo Peçanha, apoiado pelo Clube Mi- pido “com os amplos expurgos que os
litar. A vitória eleitoral de Bernardes – golpistas vitoriosos em 1964 promove-
sustentada pela fraude – levou a que ram nos quadros das Forças Armadas”.
parte da oficialidade estabelecesse a con- Assim, a ausência de uma esquerda
vicção “de que, na impossibilidade de militar na atualidade não se constituiria
promover qualquer mudança política numa “fatalidade inexorável, mas o resul-
através de um jogo eleitoral em que to- tado (...) da grande derrota sofrida pelas
das as cartas estavam marcadas, impu- forças democráticas e antiimperialistas em
nha-se o caminho do levante armado”. nosso país em 1964”. Um quadro que
O levante armado no Forte de Copaca- poderá ainda ser superado se a esquerda
bana foi uma das conseqüências dessa romper com o “internacionalismo vazio”
convicção revolucionária. Dois anos e o “pacifismo de avestruz” e romper com
mais tarde os “tenentes” tentaram um o seu preconceito ao princípio da “defesa
levante armado na capital paulista. nacional”. A esquerda assumindo decidi-
Quartim contesta vivamente a tese damente em suas mãos as bandeiras naci-
de que as concepções que nortearam o onais – antiimperialistas – ajudaria a cons-
movimento tenentista eram “elitistas tituir uma corrente do pensamento mili-
excludentes”. Esta conclusão é, no funda- tar “socialmente mais generosa e politica-
mental, falsa. Pelo menos na experiência mente mais avançada’”. Levaria à cons-
paulista, “houve amplo recrutamento de trução de um consenso em torno do ver-
voluntários”. Os operários, continua ele, dadeiro nacionalismo que “não pode
“que se alistaram nas fileiras rebeldes com- dissociar nação e povo”.
preenderam o caráter democrático da re-

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