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Á primeira vista, pode parecer ser uma ocasião inadequada para comemorar a glória da Igreja
e todos os heróis e mártires da Fé da Igreja. Não seria mais razoável fazer isto nos dias
dedicados à memória dos grandes Concílios Ecumênicos ou dos Santos Padres da Igreja? A
veneração do Ícone não é mais uma peça de um ritual e cerimonial externo? Um Ícone
pintado não é justamente mais uma decoração, muito bonita de fato, e de diversas maneiras
instrutiva, mas dificilmente um artigo de Fé? Esta é a opinião corrente, infelizmente
largamente espalhada mesmo entre os próprios Ortodoxos. E é a responsável por um pesaroso
decaimento da nossa arte religiosa. Nós usualmente confundimos Ícones com «pinturas
religiosas», e assim não encontramos dificuldade em usar as mais inadequadas pinturas como
Ícones, mesmo nas nossas igrejas. Com excessiva freqüência nós simplesmente perdemos o
significado religioso dos Santos Ícones. Nós esquecemos do verdadeiro e definitivo propósito
dos Ícones.
Por isso, nem todo mundo tem permissão para fazer ou pintar um Ícone, se se tratar de
verdadeiros Ícones. O pintor de Ícones deve ser um membro fiel da Igreja, e deve se preparar
para sua tarefa sagrada com jejum e oração. Não se trata somente de uma questão de arte, ou
de habilidade artística ou técnica. É um tipo de testemunho, uma profissão de fé.
Pela mesma razão, a arte em si deve ser subordinada de todo o coração à regra da fé.
Há limites para a imaginação artística. Existem certos padrões estabelecidos a serem
seguidos. Em todo caso, o Ícone de Cristo deve ser executado de maneira a conduzir à
verdadeira concepção de Sua pessoa, isto é, testemunhar a Sua Divindade, ainda que
Encarnada.
Todas estas regras foram mantidas por séculos na Igreja, e então elas foram
esquecidas. Até mesmo descrentes foram autorizados a pintar ícones de Cristo nas igrejas, e
assim certos «ícones» modernos não são mais do que pinturas, nos mostrando somente um
homem. Estas pinturas falham em ser «Ícones» em qualquer sentido próprio e verdadeiro, e
cessam de ser testemunhas da Encarnação. Em tais casos, nós simplesmente «decoramos»
nossas igrejas.
O uso dos Santos Ícones sempre foi uma das características mais distintivas da Igreja
Ortodoxa Oriental. O Ocidente Cristão, mesmo antes do Cisma, tinha pouco entendimento
desta substância dogmática e devocional da pintura de Ícones. No Ocidente ela significava
simplesmente decoração. E foi sob influência ocidental que a pintura de Ícones também se
deteriorou no Oriente Ortodoxo nos tempos modernos. O decaimento da pintura de Ícones foi
um sintoma do enfraquecimento da fé. A arte dos Santos Ícones não é uma matéria neutra.
Ele pertence à Fé.
Não deve haver risco, nem «improvisação» na pintura de nossas igrejas. Cristo nunca
está sozinho, afirma São João Damasceno. Ele está sempre com Seus santos, que são Seus
amigos para sempre. Cristo é a Cabeça, e os verdadeiros fiéis são o Corpo. Nas igrejas antigas
o estado completo da Igreja Triunfante estava representado pictorialmente nas paredes. De
novo, isto não era simplesmente uma decoração, nem era uma simplesmente uma história
contada em linhas e cores para os ignorantes e iletrados. Era mais uma visão da realidade
invisível da Igreja. A companhia toda do Céu estava representada porque ela estava presente
ali, apesar de invisivelmente. Nós sempre oramos na Divina Liturgia, durante a Pequena
Entrada, «que os Santos Anjos entrem conosco para servirem conosco...». E nossa oração é,
sem dúvida, atendida. Nós não vemos os Anjos, na verdade. Nossa visão é fraca. Mas é
relatado que São Serafim costumava vê-los, pois eles estavam lá de fato. Os eleitos do Senhor
os vêem e a Igreja Triunfante. Ícones são sinais desta presença. «Quando nós estamos no
templo de Tua glória, nós os vemos nos Céus».
Assim, é bastante natural que no Domingo da Ortodoxia nós devamos celebrar não
somente a restauração da veneração dos Ícones, mas comemorar também o glorioso corpo de
testemunhas e fiéis que professaram sua fé, mesmo ao custo de sua segurança, prosperidade e
a própria vida mundana. É o grande dia da Igreja. De fato, nesse dia nós celebramos a Igreja
do Verbo Encarnado: nós celebramos o Amor redimidor do Pai, o Amor Crucificado do
Filho, e o Companheirismo do Espírito Santo, tornados visíveis na companhia toda dos fiéis,
que já entraram no Repouso Celeste, na alegria Permanente do Senhor e Mestre deles. Santos
Ícones são nossas testemunhas do Reino que há de vir, e já presente.
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