Resumos dos capítulos 14: A sensopercepção e suas alterações
Dalgalarrondo define sensação como o fenômeno elementar gerado por estímulos
físicos, químicos ou biológicos variados, originados fora ou dentro do organismo, que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os e a percepção como a tomada de consciência, pelo individuo, do estimulo sensorial. A sensação seria ativa e a percepção passiva, segundo o autor. Ele afirma ainda, que a percepção é mais do que o resultado simples e passivo do conjunto de estímulos e sensações, é o processo ativo, criativo e pessoal de experiências que partem de estímulos sensoriais, mas são criados na mente de quem percebe algo. O autor classifica a imagem segundo algumas qualidades: nitidez, corporeidade, estabilidade, extrojeção, ininfluenciabilidade voluntaria e completude. Ele ressalta a importância de se diferenciar a imagem real da representativa, pois ao contrário da imagem receptiva real, a representativa se caracteriza por ser apenas uma revivescência de uma imagem sensorial determinada, sem que esteja presente o objeto original que o produziu. Quanto à representação, o autor pontua algumas características: pouca nitidez, pouca corporeidade, instabilidade, introjeção e incompletude e afirma que há alguns subtipos: imagem eidética e pareidolias. A imaginação é definida pelo autor como uma atividade psíquica, geralmente voluntária que consiste na evocaçãode imagens percebidas no passado ou na criação de novas imagens e a fantasia como uma produção imaginativa minimamente organizada da imaginação. Sobre as alterações da sensopercepção, Dalgallaronga afirma que as alucinações, as ilusões visuais e outros fenômenos desse tipo têm intrigado os estúdios há séculos e classifica essas alterações segundo o caráter quantitativo e qualitativo delas. Nas alterações quantitativas, as imagens têm intensidade anormal, para mais ou para menos, configurando hiperestesias, hiperpatias, hipoestesias, anestesias, analgesias, parestesias e distesias, segundo o autor. Já as alterações da sensopercepção qualitativas, a mais importante em psicopatologia, compreendem as ilusões, as alucinações, a alucinose e a pseudo- alucinação, segundo Dalgalarronda. A ilusão é definida por ele como a percepção deformada de um objeto real ou presente e é dividida em 3 condições: rebaixamento do nível de consciência, fadiga grave e estados afetivos. O autor define a alucinação como a percepção de um estímulo sem que este esteja presente realmente. Há vários tipos de alucinação, a saber: alucinação auditiva, alucinação musical, alucinação visual, alucinação tátil, alucinações olfativas e gustativas, alucinações cenestésicas e cenestésicas, alucinações funcionais, alucinações combinadas (sinestesias), alucinações extracampinas, alucinação autoscópica, alucinação hipnagógica e hipnopômpicas, alucinose,alucinose peduncular e alucinose auditiva. O autor afirma que apesar de as alucinações serem estudadas há quase 200 anos por médicos, psicólogos e neurocientistas, ainda são controversas as suas possíveis causas e os seus mecanismos fisiológicos, neuropsicológico e psicológico. Afirma ainda que o fato de os medicamentos antipsicoticos serem eficazes nas alucinações de todos os tipos sugere que há um mecanismo comum em todas elas. Segundo o autor, para as teorias psicodinâmicas, psicológicas e afetivas das alucinações, as necessidades, e tendências afetivas, desejos e, sobretudo, conflitos inconscientes constituiriam a base das alucinações. Para a teoria irritativa cortical, as alucinações corresponderiam a lesões irritativas em áreas cerebrais corticais, relacionadas à percepção complexa. Dalgallaronga afirma que estudos recentes indicam haver um estado de hipervigilância em pessoas com quadros psicóticos agudos e alucinações reforçam a ideia de que, nos quadros de alucinação, uma hiperxcitabilidade geral do sistema nervoso parece ser fator relevante para o surgimento ou desencadeamento de alucinações. De acordo com a teoria neurobioquímica das alucinações, trazida pelo autor, diversas substâncias podem produzir alucinações em individuos normais e que os compostos químicos que mais ocasionam alucinação estão relacionados aos neurotransmissores dopamina, serotonina e acetilcolina. Na concepção da teoria dadesorganização global do funcionamento cerebral, presente no livro de Dalgalarronga, alterações globais e amplas do funcionamento cerebral produziriam a perda das inibições mais desenvolvidas filogeneticamente e complexas funcionalmente, permitindo a eclosão de circuitos em geral inibidos. Já a última teoria apresentada no livro do autor, a teoria da alucinação como desordem da linguagem interna, as alucinações auditivas verbais são explicadas como pensamentos verbais do próprio paciente, que falsamente os percebe como sendo de origem externa, como se fossem vozes de terceiros. Dalgallaronga apresenta estudos de neuroimagem funcional sobre as alucinações e afirma que nos últimos anos várias pesquisas tem utilizado esse método. Afirma ainda, que de modo geral tem-se verificado que, no momento em que o paciente experimenta a alucinação audioverbal, são hiperativadas áreas temporais, parietais e frontais associadas à linguagem. Observa-se também a ativação de áreas límbicas e subcorticais, segundo o autor. Sobre as alterações da representação, o autor afirma que a pseudo-alucinação, definindo-a como um fenômeno que, embora se pareça com uma alucinação, apresenta características de uma imagem representativa. Nesses casos, a voz, por exemplo, seria percebida sem muita nitidez, sendo percebida no espaço interno. O autor diz ainda que surge de um pensamento ou uma representação que, de tão intenso, ganha sensorialidade.