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Em fins do século XIX, o império tzarista, com seus 22,3 milhões de quilômetros
quadrados, era o maior Estado do mundo em dimensões físicas. A população estimada de
132 milhões de habitantes (censo de 1897) fazia da Rússia a principal potência
demográfica da Europa.
Essa diversidade toda regida sob uma única força: a autocracia russa. O império e a seu
serviço a burocracia civil, a polícia política, as forças armadas e a Igreja Ortodoxa.
A burocracia civil reunia cerca de 500 mil funcionários em fins do século XIX, os olhos
e ouvidos do Tzar. A dimensão repressiva da burocracia era assumida pela polícia
política.
O Tzar era um soberano de direito divino, o que trazia óbvias implicações nas relações
entre poder e religião.
Em 1860, produzia dez vezes menos ferro do que a Inglaterra, um terço a menos do que
os Estados Unidos e mesmo a França e a Prússia já tinham ultrapassado a outrora potência
Tsarista. O mesmo acontecia com a produção de carvão.
De certa forma, tanto o liberalismo quanto o socialismo eram vistos como “perigosos
demais” para a ordem estabelecida. Tanto o Tzar quanto a Igreja poderiam representar
esse conservadorismo mas haviam diversos outros setores da sociedade russa que
divergiam sobre essas rejeições.
Haviam os ocidentalistas, a intelligentsia emergente, que simpatizavam com o
pensamento liberal ou revolucionário. Estes travavam debates contra os eslavófilos, que
rejeitavam o pensamento ocidental, apegados à tradição russa, sua religião ortodoxa e
nobre.
A Guerra da Crimeia serviu para expor as mazelas do Império Russo porém o novo Tzar
não estava disposto a abrir mão do tradicionalismo russo. Sem ceder as ideais liberais do
ocidente, buscou realizar reformas, uma modernidade alternativa. As pressões
vinham de todos os lados e o tzar Alexandre II iniciou uma série de reformas para
garantir sua sobrevivência:
4. Reforma tributária
Como as reformas não produziram melhorias na vida dos trabalhadores, foi considerada
uma farsa pelos revolucionários e em 1862 é criada a primeira organização revolucionária
clandestina, a Terra e Liberdade se utilizando inclusive de luta armada.
Se em 1865 a malha ferroviária russa possuía apenas 3.8 mil quilômetros, no ano de 1913,
o número era de 70,2 mil quilômetros. As exportações aumentaram, permitindo a compra
de máquinas no mercado internacional. Muitos investimentos vieram das potências
europeias, principalmente da França e Bélgica.
Os centros urbanos cresceram notavelmente, ainda mais para uma nação que era
essencialmente agrária. Pequenas cidades industriais surgiram rapidamente e a população
urbana quase dobrou em menos de quarenta anos. Por mais que esses números revelam
um crescimento do operariado e da indústria russa, é preciso relativizá-los: “gigantes de
pés de barro”.
Os filhos da reforma, aqueles que conseguiram se beneficiar com elas, começaram a criar
uma dissidência da força conservadora imperial. Eram os liberais. Queriam uma
monarquia constituinte, assembleias, liberdades civis que não eram compatíveis com o
Império Tzarista, extremamente autoritário e ortodoxo: os populistas russos.
Essa proposta de revolução em duas etapas seria o cerne principal de divisão entre os
populistas e os marxistas. Os primeiros discordavam veementemente dessa tese e viam
os marxistas como adeptos da ocidentalização e conformismo histórico. Os marxistas por
sua vez viam os populistas como utópicos e incapazes de compreender as circunstâncias
históricas que proporcionaram uma revolução de fato.
Durante os anos 1890 diversos grupos social-democratas foram se constituindo até que
em 1898, foi fundado oficialmente um Partido Social-Democrata Russo que estabeleceu
um marco apesar de ter sido rapidamente reprimido e desmantelado pela polícia política
do Tzar. Do exílio, o jornal Faísca seria porta-voz da articulação social-democrata para
tornar possível a recriação do Partido. Nessa rede uma liderança foi ganhando destaque e
se tornaria mundial e historicamente reconhecida: Vladimir Lenin.
Outro fator seria importantíssimo para propiciar uma revolução: a mal fadada guerra
contra o Japão, iniciada em 1904, que resultou em diversas resistências, principalmente
porque os efeitos colaterais da Guerra na qualidade de vida russa (que já não era aceitável)
se tornavam insuportáveis.
Diante disso, o Tzar fez fortes concessões. Pôs fim a guerra, concedeu liberdade de
expressão e de organização partidária e sindical além de convocar uma assembleia
representativa.
No começo da Primeira Guerra Mundial, a Rússia foi tomada por uma fúria fanática, a
defesa da Pátria, a união sagrada. Mas isso não duraria muito.
Foi nessa atmosfera que ocorreu a insurreição de outubro e sua vitória só pode ser
compreendida no contexto desses acontecimentos extraordinariamente
turbulentos que aproximavam a sociedade da mais completa desagregação. O
governo provisório, parecendo suspenso no ar, na prática já não governava mais.
Nos campos e nas cidades, os diversos tipos de organizações populares, de modo
autônomo e descentralizado, asseguravam um arremedo de ordem e de controle.
No clima febril que estão se instaurara, todas as forças tentavam organizar-se para
um enfrentamento decisivo. No estado-maior Bolchevique, Lenin concitava o
Comitê central a tomar a iniciativa. A bolchevização dos sovietes de Petrogrado
de Moscou e de algumas frentes militares cruciais, conferia ao partido uma
situação favorável nos centros político-administrativos mais importantes do país.
Após acalorados debates, Lenin conseguiu fazer aprovar sua proposta: a
insurreição deveria ser preparada e desencadeada antes mesmo da abertura do II
congresso soviético e sem obter seu prévio acordo. De forma metódica, quase
silenciosa, as tropas aquarteladas na cidade tomaram a capital da Rússia, só
encontrando resistência digna deste nome no Palácio de Inverno, onde o que
restava do governo foi preso. A insurreição desdobrou-se como uma operação
militar, sem prévia autorização do governo legal, nem sequer das organizações
soviéticas. Boa parte da crítica social-democrata europeia e dos próprios
socialistas moderaos denunciou o caráter golpista da insurreição e apontou aí as
raízes de uma ditadura política que tenderia a perdurar no tempo.
A assinatura de paz com os alemães constituiu uma segunda difícil opção. Os alemães
exigiam indenizações e anexações reais ou disfarçadas, consideradas descabidas pela
maioria dos próprios bolcheviques e dos SRs de esquerda. Os revolucionários procuraram
ganhar tempo, postergando as negociações, no aguardo de um revolução na Alemanha.
Depois de muitos debates, prevaleceu mais uma vez a posição de Lenin. Para salvar a
revolução, todas as concessões deveriam ser feitas. Mais tarde, os tratados, meras tiras de
papel, poderiam ser denunciados e revogados. Alguns bolcheviques mas principalmente
os SRs de esquerda, abandonaram então o governo, deixando os bolcheviques como
únicos responsáveis pelo tratado de paz, isolados no controle do Estado.