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“Resistência: memória da ocupação nazista na França e na

Itália.” Uma perspectiva comparativa acerca do uso da memória

Michel Gherman*

ROLLEMBERG, D. Resistência: memória pítulo 3, “Em algumas horas vou morrer... As


da ocupação nazista na França e na Itália. cartas de despedida dos resistentes”, a autora
São Paulo: Alameda, 2016. analisa cartas de despedida deixadas por re-
sistentes que seriam, às vezes algumas horas
depois de escrevê-las, fuzilados. Interessan-
Em seu livro Resistência: memória da ocu- te notar aqui a tentativa de desconstrução de
pação nazista na França e na Itália, publicado percepções prévias, por vezes consolidadas na
pela editora Alameda em 2016, a historiadora memória da resistência, sobre os “mártires” as-
Denise Rollemberg propõe uma reflexão re- sassinados pela repressão nazista.
lativamente rara em trabalhos produzidos no Finalmente, na parte II: “Memória e
Brasil: a análise dos lugares de memória da resistência na Itália”, composta por mais
resistência ao nazismo em países que tiveram dois capítulos, a autora faz uma reflexão so-
distintas experiências em relação à ocupação bre o uso da memória no país. O capítulo
na Segunda Guerra Mundial, França e Itália. 4, “Museus e memoriais italianos” é aberto
Sua obra se divide em uma apresentação por um interessante debate sobre a própria
e em mais duas partes. Na apresentação, ca- construção da história italiana, no que diz
pítulo “Resistência: o desafio conceitual”, a respeito à memória da resistência. A partir
autora faz um cuidadoso debate acerca das dessa percepção, a resistência aberta ao na-
formas de resistência, de sua historiografia e zifascismo, de fato estabelecida a partir da
de seus usos políticos. A Parte I, que trata de invasão estrangeira ao país (em 1943), teria
“Memória e resistência na França” se divide sido iniciada, segundo a narrativa italiana
em dois capítulos. do pós-guerra,  já com a subida de Musso-
No capítulo 2, “Museus e memoriais lini ao poder. Aqui, exposições e memoriais
franceses”, é feita a análise de monumentos e analisados parecem tentar estabelecer uma
museus da resistência francesa, discutindo re- história contínua de resistência ao fascismo
ferências teóricas de história e de memória e a partir da década de 1920. No livro, a au-
suas distintas adaptações nos vários casos dos tora aponta estratégias usadas na construção
“lugares de Memória” (p. 92) no país. No ca- da memória sobre a resistência na Itália ao

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2237-101X01903711
Resenha recebida em 8 de agosto de 2017 e aprovada para a publicação em 11 de outubro de 2017.
* Pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: michelgherman@gmail.com

Topoi (Rio J.), Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p. 232-236, jan./abr. 2018 | www.revistatopoi.org 232
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utilizar referências da unificação italiana (ri- debates acerca da ideia de memória sobre a
sorgimento, em fins do século XIX), como resistência ao nazismo (p. 40).
forma de estabelecer uma narrativa nacional O desafio de estudar museus e monu-
contra a invasão alemã e o fascismo (p. 236). mentos em países que tiveram experiências
Por fim, no capítulo 5, “Os sete fratelli”, tão diferentes em suas respectivas relações
o livro trata dos memoriais em homenagem a com a expansão do nazismo na Europa de-
sete irmãos, militantes contra o fascismo, fuzi- manda extrema habilidade na análise do-
lados em 1943. Aqui a autora analisa como os cumental (de museus e memoriais), bem
irmãos, simpatizantes do comunismo e mora- como uma perspectiva metodológica que
dores do interior da Itália, são alçados, no pós- garanta pertinência aos objetos escolhidos.
-guerra, à condição de símbolo nacional de re- Acredito que o livro de Denise Rollemberg
sistência ao fascismo no país. Ao refletir sobre tem muito sucesso em suas escolhas.
memoriais e museus em homenagem aos “sete Esse sucesso está relacionado à cuidadosa
fratelli”, a historiadora estabelece uma reflexão análise que a autora faz do próprio conceito de
sobre a construção de uma memória sacraliza- resistência. Ao propor uma espécie de “dialé-
da (p. 235) que transforma o caso específico de tica da resistência” (p. 20), Rollemberg afirma
resistência e fuzilamento em referência simbó- que o sentido de resistência deve estar menos
lica da luta contra o nazifascismo na Itália. vinculado, como propunha uma historiogra-
O livro Resistência: memória da ocupação fia mais tradicional, com análises reificadas
nazista na França e na Itália constitui um tra- e absolutizadas da resistência propriamente
balho importante por estar baseado em duas dita. Aqui, a autora busca uma análise mais
propostas de análise distintas e complementa- aprofundada a partir perspectivas mais críti-
res. A primeira delas pretende estabelecer um cas da própria resistência. Os diversos regimes
estudo acerca da ocupação nazista em alguns escolhidos são analisados em conjunto com as
países da Europa ocidental (França, Itália e respectivas formas de resistências ao nazismo.
Alemanha). Nesse contexto, a ideia de “uma Nesse contexto, a historiadora propõe uma
resistência europeia” é desafiada. Para isso, a dinâmica comparativa entre dois (ou três)
autora tenta historicizar a noção de resistência, países com experiências bastante distintas na
ao propor questões determinadas pelas especi- guerra: França e Itália (e Alemanha). Apesar
ficidades da política de ocupação em cada país. de regimes diversos e das diversas formas de
A segunda proposta de análise está rela- resistir, é proposto no livro que as referências
cionada com a construção de uma memó- de comparação podem ser não apenas possí-
ria da resistência. Aqui, Rollemberg analisa veis, mas devem ser uma importante referên-
as narrativas sobre a resistência nos países cia de pesquisa (p. 19).
citados. Essa revisitação da história é feita Em sua pesquisa a historiadora propõe que
a partir da reflexão sobre os “usos da me- seja estabelecida uma relação entre “forma da
mória” na França, na Itália e na Alemanha, ocupação” e “forma da resistência”. Assim, o li-
apresentando importante contribuição para vro relaciona os diversos regimes de ocupação

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nazista às várias formas de resistência. Segundo Em um movimento de “contramemória”, os


a autora, onde as expressões do totalitarismo e franceses revisitam as experiências do nazis-
da ocupação fossem mais pungentes e comple- mo com, por assim dizer, sinais trocados. A
tas, mais flexíveis e menos específicas seriam as autora defende que as transformações no tra-
possibilidades de resistência. Nos casos em que tamento da memória da resistência tenham
o totalitarismo e a ocupação tivessem menos sido um subproduto das manifestações
sucesso, as formas da resistência apareceriam de de maio de 1968. Desse modo, a derrubada
maneira menos ampla e mais objetiva. de heróis (típica da rebelião dos estudantes)
Nesse sentido, países onde estruturas chegava à experiência da resistência na guer-
do regime fossem efetivamente hegemôni- ra. Importante notar, como bem apontado
cas, como é o caso da Alemanha, as formas no livro, que a produção dessa contramemó-
de resistência deveriam ser vistas com lentes ria ocorre em um momento em que a ge-
que dessem a elas maior expressão. Em países ração dos “resistentes”, ou “colaboradores”,
como a França (principalmente no norte do ainda estava ativa na França (p. 26).
país), as análises sobre resistência deveriam Nessa dinâmica de memória e contra-
ser feitas com mais exigência e fôlego, afinal, memória, a autora nota que outro debate
haveria, a princípio, maior espaço social e po- começa a consolidar-se historiograficamente
lítico para formas mais específicas e objetivas justamente após a publicação de uma impor-
de resistência ao regime ocupante (p. 20). tante obra que será referência. Vichy, France
Ao se debruçar sobre o caso francês, a au- escrita pelo britânico Robert Paxton, propu-
tora faz um estudo de casos sobre “a história da nha uma análise mais complexa do fenôme-
memória” da resistência à ocupação. Se após a no da resistência. Nesse contexto, se buscava
libertação a França produziu uma memória de fugir das lógicas absolutas fosse da “nação de
“todos os resistentes”, essa memória se desloca resistentes”, fosse da “nação de colaborado-
para outro lugar depois das primeiras três dé- res”. De fato, o modelo paxtoniano apresen-
cadas depois da ocupação nazista. Aqui, o livro ta uma nova abordagem sobre a história da
aponta como referência o lançamento do do- resistência francesa, ou, segundo Rollemberg
cumentário Le Chagrin et La Pitié, como for- “entre os dois modelos de memória, ou entre
ma de localizar e justificar a mudança da me- as duas memórias, a historiografia buscou seu
mória francesa no que diz respeito à resistência caminho próprio” (p. 23).
de todos. A perspectiva do documentário de- A partir desse momento, o livro debate
safiava a memória oficial francesa, justamente modelos “pós-paxtotianos” da historiografia
por inverter esses sinais. A tese central do filme francesa que vão estabelecer critérios mais
era de que, na França, todos foram, de uma claros no que diz respeito às formas de resis-
maneira ou de outra, colaboracionistas (p. 21). tência e as formas de colaboração. Afastan-
Nesse contexto, o “mito da resistência”, do-se da noção do “homem providencial”
utilizado por governos do pós-guerra, se- (p. 27) e da naturalização da resistência (ou
ria substituído pelo “mito da colaboração”. da colaboração) a historiografia francesa es-

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tabelece fronteiras e critérios para discutir Como bem coloca a historiadora, o com-
formas de resistência na história do país. bate e o apoio dos resistentes italianos é mais
A partir de então, a autora propõe que, para militar do que político (em comparação
além de perspectivas “sacralizadas” das vítimas com a resistência francesa), apesar dos vários
(p. 9), o “giro historiográfico” francês passa tam- grupos envolvidos no combate aos nazistas
bém a lidar com referências mais complexas de (comunistas, democratas cristãos, socialis-
resistência. Saindo do debate baseado em figu- tas, anarquistas etc.) e de suas perspectivas
ras heroicizadas (no caso de resistentes) ou vila- distintas de combate e de vitória sobre nazi-
nizadas (no caso de colaboracionistas), a autora fascismo (tese das três guerras, p. 47).
propõe análises a partir das “zonas cinzentas” Nesse sentido, inclusive haveria dois ocu-
de atuação (usando o conceito que Laborie pega pantes no mesmo momento, os aliados (per-
emprestado de Primo Levi) (p. 9). A disputa cebidos como parceiros na luta contra o nazi-
entre a vítima sacralizada e a produção histo- fascismo) e os nazistas (em sua aliança com os
riográfica mais crítica ainda está, entretanto, fascistas), que teriam se transformado em ini-
presente nos monumentos e nos debates sobre a migos e alvo da resistência italiana na guerra.
memória francesa, como a autora bem demons- Nessa realidade, apresentada como referên-
tra no decorrer do livro (a abertura da obra com cia comparativa ao que ocorria na França, a Itá-
o exemplo do memorial de Jean Moullin ilustra lia vai produzir uma rede de memoriais, museus
muitíssimo bem esse debate) (p. 9). e monumentos muito específicos, como a auto-
Na parte sobre a resistência italiana, a ra apresenta na última parte do livro.
autora trabalha a partir da perspectiva com- O último caso comparativo da obra de
parativa e estabelece características distintas Denise Rollemberg é o caso da Alemanha,
em relação à resistência francesa. A resistência que por algum motivo não aparece no título
italiana se inicia com a ocupação nazista no e nem é alvo de análise quando a autora fala
país, justamente após a derrota do fascismo. dos monumentos à resistência, na última
Ou seja, há uma clara definição temporal e parte da obra. Bastante diferente dos dois
política sobre o início da resistência. Em com- casos discutidos anteriormente, o caso da re-
paração com a oposição contra o fascismo, a sistência na Alemanha é único.
relação com os ocupantes nazistas aliados do Em primeiro lugar por não se tratar de
fascismo era de combate (p. 44). uma resistência a invasão de potência es-
Esse período se estabelece quando estru- trangeira. A “resistência” alemã se estabelece
turas de poder nazistas (como a Gestapo e a no enfrentamento (ou na oposição) a um
perseguição aos judeus) (p. 45) começam a se movimento social e político do próprio país.
apresentar na Itália. Nesse momento, os oposi- O segundo ponto importante está relaciona-
tores históricos ao fascismo italiano iniciam a do com o caráter do regime. Ao contrário do
resistência aos nazifascistas. Assim, a resistên- que ocorria na Itália e na França, a base so-
cia italiana teria surgido, conforme propõe a cial, as possibilidades de delação e o dimi-
autora, em 1943, junto à ocupação estrangeira.   nuto espaço para resistências criavam um

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tipo muito específico de oposição ao regime. Segundo ele, referências individuais e pon-
Conforme proposto pela autora, no caso da tuais de “resistenze” poderiam apagar “zonas
Alemanha, o estabelecimento de um regi- cinzentas ideológicas” (p. 54) que foram esta-
me de alto grau de controle demanda que as belecidas pelo próprio regime. Aqui, Kershaw
análises de possíveis resistências sejam mais chamaria a situação de dissidência, mas não
flexíveis e amplas. É isso que a autora faz. utilizaria o conceito de resistência, sob o ris-
co, segundo ele, de produzir-se heroicização
A resistência alemã ao regime nazista fez
de atitudes individuais. A autora faz, então,
com que ao fim da guerra se estabelecesse
um levantamento de tentativas de resistência
uma percepção de “grande élan moral e com
a partir de movimentos políticos coletivos
um engajamento político intenso” (p. 50) que, apesar de poucos e dispersos, acontece-
que procurava se opor à “tese da culpabili- ram na Alemanha nazista.
dade coletiva”. Nesse sentido, se pretendia Esse debate sobre “culpabilidade coleti-
estabelecer uma espécie de lastro político va”, “outra Alemanha” e sobre formas indivi-
para que “da outra Alemanha” pudesse sur- duais e coletivas de resistência vai criar outro
gir uma “nova Alemanha” (p. 51). modo de produção de memoriais e museus
A ideia de que seria inviável, dado às ex- que, infelizmente não são tratados no livro,
pressões totalitárias do regime, que houvesse centrado nos casos da Itália e da França.
resistências internas na Alemanha foi lar- A publicação no Brasil de um livro sobre a
gamente aceita, conforme mostra a autora, memória da resistência em países ocupados pe-
pelos historiadores do pós-guerra. A ideia de los nazistas na Europa é de fundamental con-
impossibilidade fazia com que se buscassem tribuição em nosso país, no qual o debate sobre
novas formas de compreensão da resistência memória e resistência à ditadura parece encon-
alemã no contexto do regime nazista. trar novos desafios políticos e historiográficos.
Essa perspectiva foi desafiada por Martin
Boszat já na década de 1970. Para o historia-
dor, a noção de “resistenze” (reações espontâ-
neas, quase naturais) poderiam descrever as Como citar
formas de “resistência” na Alemanha. Assim, a ROLLEMBERG, D. Resistência: memória da
simples negação de uma saudação nazista, ou ocupação nazista na França e na Itália. São Paulo:
a não participação em desfiles do regime, se- Alameda, 2016. Resenha de GHERMAN,
riam, em última instância, maneiras de resistir Michel. Resistência: memória da ocupação
ao regime totalitário. Dessa forma, posiciona- nazista na França e na Itália. Uma perspectiva
mentos quase que exclusivamente individuais comparativa acerca do uso da memória. Topoi.
e “funcionalistas” (em oposição à natureza in- Revista de História, Rio de Janeiro, v. 19, n.
tencionalista da resistência francesa e italiana, 37, p. 232-236, jan./abr. 2018. Disponível em:
p. 53), seriam as referências possíveis em uma <www.revistatopoi.org>.
Alemanha dominada pelo nazismo.
Na década de 1980, Ian Kershaw vai de-
safiar as perspectivas propostas por Boszat.

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