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Neto
&
O livro de Gogue
Dedicado a estrela de prata, a serpente e o falcão com amor!
Sumário
Introdução
Nota do autor
O evangelho segundo Aquenaton
Capítulo um: O arauto da luz
Capítulo dois: As mentiras dos sacerdotes
Capítulo três: A luz de Aton no mundo
Capítulo quatro: Um réquiem para os deuses
Capítulo cinco: Prólogo da nova era
O livro de Gogue
Introdução
Nota do autor
Capítulo um: O louco
Capítulo dois: O diabo
Capítulo três: A morte
E.A. Neto
E.A. Neto
Capítulo um: O arauto da luz
A menininha corria pelos campos de trigo e isso foi logo após o padre se
ajoelhar, e fazer sua oração. Ela era filha de um homem nobre, maior ainda era
a nobreza do coração dessa menininha, que gostava do som dos instrumentos
de corda e por sorte ela era nascida no signo de gêmeos e também no signo
da serpente, dois e três juntos há muita magia nesses números. Justamente
aquele dia era 23 de maio, o mês e o ano propícios para belos sonhos.
Pouco distante ela via uma torre, e naquela torre estava um homem, uma
espécie de trovador que tocava e cantava canções antigas tanto para o sol,
como para o vento e todas as criaturas campestres.
Com seus olhinhos, seu vestido azul cintilante e seu jeito engraçado ela
dizia:
— Cante para mim uma canção sobre uma bela história senhor, pois as
areias do tempo correm devagar e desejo sonhar a cada instante.
Assim disse o poeta:
— Sim princesinha! Saiba que fico muito feliz por você gostar da minha
musica, e estava um pouco cansado dessa minha solidão nesses campos de
trigo. Estou encantado com seus olhos que expressam paz e alegria, seus
cabelos cacheados tem apenas como rival as ondas do mar. Sua beleza é
semelhante à própria luz do sol. Para tal beleza, sem falar desse seu vestido,
posso deduzir que você só pode ser uma princesa.
A menininha perguntava:
— Então que história você contará para mim trovador?
Assim respondia o trovador:
— Uma história antiga, de um homem que o povo acreditava ser um deus
encarnado, e depois esse homem foi considerado louco, herege, mas era um
homem justo e bom. Embora essa história estivesse por muito tempo
esquecida, os grãos de areia trazidos pelo vento cantam a revelação desse
homem. O que mostrarei agora por meio da minha musica mágica é a verdade
sobre o filho do sol. O faraó Aquenaton.
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O sol Brilhava e seu calor tornava insuportável aquele dia, a sede deixava
seca a garganta dos homens e dos animais, e mesmo os insetos sentiam-se
incomodados pelo vento quente que vinha do deserto. Talvez fosse uma
mensagem de Set, um sinal que o mundo estava mudando, uma prova do
inevitável, ou mesmo uma coincidência. Haviam muitas opiniões, mas a
verdade era oculta.
O faraó sentado olhava para a face de Amon, Thot, Hórus,
Ísis e Osíris, e no lado esquerdo podia-se ver os sacerdotes, com seus olhos
vermelhos, com suas roupas nas tonalidades, púrpura, branca e negra. Os
sacerdotes estavam engordando que nem porcos, e assim estava manchada
de sangue toda aquela terra, a pobreza definhava o povo. Todos nasceram
para servir o faraó essa é a verdade, clara como a água do Nilo.
Há maior magia não estava só na pureza ou esplendor daquelas águas,
nem no calor do corpo daquelas mulheres, verdadeiras deusas da fortuna e do
amor. Mas a chave mágica abre a porta revelando um punhado de segredos,
semelhantes às areias do deserto.
Um escaravelho andava sobre uma parede de metal frio, isso era um sinal.
Atirando seu cálice no chão o faraó falava:
— Sou carne e ossos! Essa mesma carne se desfaz assim como os
ossos que se separam das carnes dos animais cercados de moscas e vermes
que degustam toda podridão.
O Egito está cheio desses seres nefastos. Não sou um deus, apenas mais um
homem!
Sou o filho do sol! Vejo a luz, e essa mesma luz mostra a justiça para todos.
O Egito afunda nas profundezas de um abismo sem fim. Cadê os
sacerdotes? Essas bestas que alem de receber sacrifícios recebem almas.
O olho do observador é um olho que tudo vê.
Conseqüentemente meditarei sobre essas questões que atormentam minha
alma. Não desejo ser interrompido.
Assim o faraó se retira deixando muitas perguntas sem respostas. Nefertiti
sente-se preocupada. O faraó repousa mergulhado na luz do sol. Até o inicio
de um novo dia.
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Tomado por uma forte dor de cabeça, o faraó repousava e meditava sobre
tudo que já ouvira falar. Assim lançava seus pensamentos sobre aquilo que
estaria por vir. Banhando seu corpo na forte luz solar, logo começou a sentir
um mal estar até ser atingido por um raio de luz sagrada e ele gritou:
— Eu vi! — Mas o que havia visto o faraó? Perguntava a menininha e assim
respondia o poeta:
— Calma princesinha me deixe prosseguir! Assim continuava o bardo com
seus versos mágicos.
— Eu sou o faraó e vi a luz, e o que permanecia além dessa luz, e
compreendia natureza de tudo o que é iluminado e que possui luz. Compreendi
sobre a escuridão e sua natureza.
Sou o filho do sol! Meu nome é Aquenaton! Agora direi a vocês minha
vontade, pois sou o faraó e forte é minha voz.
A liberdade representa tudo que há de mais sagrado, mas não devemos
converter nossa liberdade em uma constante prisão de vícios e loucuras.
O sangue mancha a terra e conseqüentemente deixam marcas até no
paraíso.
Malditos sacerdotes! Gordos que nem porcos enfraquecem nossas almas.
Não busque a salvação da alma em coisas do além em rituais vazios e na
crença de conto de fadas. A salvação está em nossas ações nesse mundo,
sem ação não há fé, nem um sentido para algo que não tem nenhum sentido.
Nosso povo afunda em violência, intrigas, corrupção, promiscuidade e falta
de solidariedade, são inúmeras coisas nefastas, este é o sinal da degeneração
e o inicio da nova era.
Sei que vocês devem estar curiosos para saber que era é essa? Pois bem!
Vou dizer a todos:
Vi o brilho no olho do gato e um escaravelho andando furtivamente sobre o
templo.
Todos os deuses representam nosso cotidiano, mas há muito mais por de
trás de todas as divindades. Existe uma representação do que é real. A
verdade!
Como o que é divino teria aparência de bestas, ou mesmo de homens que
em muitos casos se assemelham à besta?
Escutem! Deus é como o sol, mas não esse sol que ilumina o céu
determinando o dia e dando origem a vida em nossa terra. Deus é o sol
primordial do universo, seus raios geram vida em todo o universo. A grande
serpente que dança em inúmeros mundos e sobre incalculáveis estrelas. O
mistério da copulação sagrada, pois a grande serpente senhor do falo une se
com a vulva. O orgasmo cósmico é a grande explosão que iniciou a vida no
universo.
A luz é a origem de nossas almas, pequenas partículas desses infinitos
raios do conhecimento.
Homens e mulheres como individuais são filhos do sol, e na sagrada união
também geram vida. A unidade da natureza!
Portanto podemos realizar coisas magníficas e belas tendo consciência da
nossa origem divina e estando em harmonia com o universo.
Esqueçam a efêmera vida que tira a dignidade de ser um egípcio. Um
egípcio não pode se assemelhar com uma besta. Nosso caminho tem que ser
uma estrada de sabedoria, honra e luz, assim todos os povos continuarão a
reconhecer o quanto o Egito é grande.
Escuridão há nas coisas que pertencem à noite, no caminho da demência,
ignorância, e morte dos outros povos.
Minhas mãos estão atadas e minha cabeça está muito pesada sobre meus
ombros. Forte é minha dor não vejo nenhum consolo.
Mulheres de Tebas bebem bebidas estranhas, e estão corrompidas por jóias
e sangue, elas pisam sobre cadáveres dos seus homens, seus filhos e se
prostituem para estrangeiros.
Ouço o povo agitado como mosquinhas e o subconsciente coletivo
semelhante ao subconsciente do senhor de todas as moscas.
Tebas estava fétida e precisava de uma limpeza, melhor o Egito estava
fétido e precisava de limpeza.
Sou o filho do sol e sei que existe um ciclo, uma era e um fim, portanto é
chegado o momento da luz reinar sobre a terra.
Assim falou Aquenaton que foi para algum lugar isolado e deixou todos ali
presentes perplexos, e Nefertiti estava preocupada, algumas vozes podiam ser
ouvidas e eram claras: Está louco! Herege! Cão! Uma nuvem negra estava se
aproximando.
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Por volta do meio dia à menininha correu em direção ao velho moinho, para
ouvir mais canções sobre o faraó Aquenaton, ela encontrou novamente o
trovador que começou a dizer:
— Como você está amiguinha? Percebi seu desejo de escutar mais sobre
aquela velha canção egípcia, pois bem princesinha ouça!
Aquenaton juntou se ao seu comandante com seus guardas de confiança,
pelo caminho encontraram uma serpente e o faraó começou a pensar na
possibilidade de ser um mau presságio. Quando Aquenaton percebeu que
havia ali uma multidão com um só desejo. Ouvir sua voz, que ecoava
suavemente a revelação de uma verdade além do deserto.
O faraó disse:
— Não há nada pior em nossa cidade do que os sacerdotes! Eles somente
contam mentiras, alem de corromperem nossas almas!
Tomam bebidas que representam nosso sangue em suas festividades e
comem pães que são como a carne da nossa carne, fruto suado nosso trabalho
compulsivo. São ladrões e descansam sobre nossas costas!
Mentem e como mentem ao povo esses cães! Na crença dessas mentiras
surgem inúmeras insanidades. A terra fica dividida pelo símbolo da fé e da
guerra. Flores negras enfeitam túmulos ainda mais escuros. Criaturas noturnas
vagueiam sem almas nesse abismo que engole toda luz.
Mas o brilho das águas do Nilo purifica qualquer tipo de contaminação, pois
a água é pura e limpa, própria para dissolver a corrupção dos sacerdotes.
Egípcios agora contarei a vocês as maiores mentiras dos sacerdotes, que
tiveram seu início no tempo do rei escorpião atravessando o tempo do rei
serpente, e chegou até como um grande rei rato.
Eles distorceram o sagrado culto de Ísis, que deu nova vida a Osíris, a
magia da ressurreição, o segredo do deus que morre. Como a alma poderia
retornar em um corpo apodrecido sem sangue e nem vísceras, tal loucura
ainda é uma verdade para nossos homens.
A magia Egípcia não ergue um corpo podre e sem vida de uma tumba, olhe
o mito do sol que morre e renasce esse é o maior símbolo para uma crença na
imortalidade da luz e num ciclo de pluralidade das existências. Não há morte
para alma!
Malditos sacerdotes que definem deuses com características humanas e os
relacionam com nosso cotidiano. Como um deus pode ser feito a imagem e
semelhança do homem? Não seria um deus mais do que um homem? A
grande mãe Ísis, o poderoso Hórus, e o misterioso Osíris estão muito além das
nossas virtudes e dos nossos defeitos. Não há como definir Aton, pois ele é
tudo. Todos os deuses e deusas, todas as imagens estando no limite da
imaginação dos homens, assim é Aton que nunca condena a alma humana.
Seu culto é liberdade.
Thot nos revelou o segredo das palavras, mas de todas as palavras as
mentiras sufocaram nossa dignidade. Troque todas as mentiras por uma
verdade!
Maldita crença que após a morte Anúbis cuidará do nosso julgamento
pesando nosso coração na balança. Não existe condenação além da vergonha
de viver no erro e como néscio colher os frutos da maldade.
Os sacerdotes deixam os homens fracos. Impedido que eles alcancem a luz
por si mesmos e façam seus próprios milagres.
Não há início e fim, mas início, fim, e reinício essa é uma verdade que a
natureza ensina.
Na loucura da fé temos os grandes exemplos de vingança, xenofobia, e
todos os tipos de preconceitos ditados por sacerdotes loucos com seus
incensos sendo queimados, para disfarçar o cheiro de sangue dos seus
templos. Sangue sacrificado em nome da loucura, maldade, estupros,
assassinatos, roubos, o Egito morre e os sacerdotes engordam. Os sacerdotes
são piores que Set e todos os demônios.
Ao terminar essas palavras, todo o Egito se escandalizou, muitos ofereciam
se para matar o faraó. A luz que Aquenaton trazia para o Egito era intensa
demais para homens despreparados suportarem.
Os sacerdotes formavam uma verdadeira irmandade da serpente. Sempre
se reuniam em covis escuros traçando seus planos nefastos. Queriam mostrar
a força do seu grupo apenas esperavam uma oportunidade.
No ar era sentido toda podridão e enxofre de um dia quente como uma
fornalha. Uma coisa estava clara para Aquenaton. Basta uma bela festa, pão e
muita cerveja para os homens perderem suas virtudes na loucura dessas
ilusões. Homens nunca enxergam a verdade e os sacerdotes sabiam disso
muito bem.
Aye era o pior deles distorcia tudo que era bom, e cultuava tudo o que era
mal fingindo cultuar o sagrado sol.
Dor e miséria estavam acompanhando esses sacerdotes, seus corações
estavam ressequidos espalhando sua doença pelas terras vizinhas.
Aquenaton Sabia que apenas com a luz o Egito mostraria mais uma vez sua
pompa e glória, para isso era necessário o povo lembrar o orgulho de ser um
egípcio e não um dos homens das terras distantes do Nilo que não conheciam
o amor, a moral, a ética. Coitados precipitados no abismo com os demônios da
violência, opressão, fome, ignorância.
2
Aton não tem forma alguma, possui todas as formas, mas sua imagem é
um disco solar, pois ele é o senhor da luz.
Uma serpente desenrola se pelas infinitas estrelas penetrando a noite, ela
disse em meu ouvido para não esquecer a estrela, e não me esqueci.
Tudo que é divino pode ser sentido como a sagrada luz!
A estrela de prata brilha, e sua divina luz azul é um convite, uma mudança
do homem profano para o homem superior.
Vozes ecoam do vazio atravessando por portas, uma frágil luz azul da
estrela do oriente convida todos para verem unidos a luz convergir em um só
ponto.
Todas as coisas estão mudando e essas vicissitudes determinam que a vida
seja um caminho que sempre se estende. Com a morte a longa estrada
continua!
A minha vida tem sido uma estranha ilusão, mas a luz do sol é bastante
acolhedora e real.
Quando a morte chama, todas as ilusões da vida se desfazem
conseqüentemente o real caminho fica nítido.
Quando a morte chama podemos ver além do nascimento e da morte, do
bem e do mal. Enxergamos como o universo é uma longa estrada!
Quando perdemos o controle e nos aproximamos da besta, ao observarmos
as conseqüências percebemos o significado da alma humana.
Um homem virá das estrelas, quando a luz da estrela de prata convergir em
uma só direção à razão.
Todas as antigas questões, maneirismos, mentalidades. Com uma nova era
serão como velhas lapides lembranças pequenas daquilo que já está
esquecido!
Não existe pecado em nenhuma parte do universo! Um deus só pode
ensinar deixando o homem apreender a sua maneira.
A luz de Aton manifesta se naqueles que quebram velhos espelhos, e não
são mais afetados pelas imagens.
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Além da luz da lua cheia há uma mancha solar, mais além existem infinitas
estrelas que são uma longa estrada sempre se estendendo ao conhecimento
além do nascimento e da morte.
Só com o reconhecimento da unidade entre os homens com a natureza
poderíamos chegar a uma época de inúmeras luzes.
Escutei vozes que vieram de uma terra distante, essas vozes atravessavam
córregos cristalinos e estavam montadas sobre ventos quentes, elas diziam
para não acreditar em besteiras sobre o fim e nem nas asneiras dos
sacerdotes, que não conseguiam compreender que depois de um fim há
sempre um reinício.
Depois que comecei a conversar com Deus e o que ele me disse eu nunca
poderia esquecer: Sou Aton o senhor de tudo e nada, essa é minha grandeza
as maravilhas que distribuo no universo. A grandeza está nas coisas que
damos. Aton não junta nada para ele mesmo!
Só quem consegue perceber a diferença entre o real, o irreal, e o aparente
está apto para ver a verdade!
Vamos destruir as falsas imagens dessas ilusões da vida!
Conheço, portanto eu sou!
Escutando a batida pura do seu coração você pode entrar em contato com o
amor do senhor universal, a fonte de toda santidade, ciência, magia, e filosofia.
Eu vi escrito nas estrelas um nome era a liberdade de romper todas as
barreiras!
Assim como Osíris morto renasceu, o homem profano deve morrer e
renascer seu espírito como um ser divino!
Na densa escuridão da noite com o olho de Hórus você poderá enxergar o
caminho!
O olho que tudo vê? Sim um olho que tudo vê!
Tente aprender o que ensina os velhos mitos, mas não acredite em tudo
que eles dizem interprete os, ou fique zumbindo como uma mosquinha em uma
carcaça fétida.
Todos os dias são longos quando os sonhos estão pedidos, e apenas
aguardamos o chamado da morte, talvez por isso não devêssemos perder a
esperança.
Todas as coisas que amamos não são mais as mesmas quando morremos,
pois então não é difícil para um sábio desapegar se de bens materiais.
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Eu sou Aquenaton! Aton deu para mim que sou o filho do sol, o
conhecimento de Hórus, e o olho do falcão abre se nas margens do Nilo. Um
cântico para o senhor da cabeça de falcão:
Sou o seu eterno retorno e em ti espero sua defesa!
O senhor da cidade banca.
Protetor de quem busca a luz do conhecimento.
Grita por vingança quando pisam em seus filhos!
Com seu bico fura os olhos e com suas garras rasga as tripas dos inimigos
do conhecimento!
Condenando todos a viver na lama da ignorância.
Senhor de Tebas, Armana e todas as cidades é sempre o senhor.
Com seus olhos tudo vê!
Com suas asas a todo lugar vai!
Com suas garras a tudo dilacera!
Também sou o filho do falcão!
Morram os fracos, os covardes, mentirosos, invejosos e todos aqueles que
o senhor despreza, assim com são desprezados pelo seu profeta.
Gloria ao sublime, majestoso, orgulhoso e ao audaz, esses são seus filhos.
Viva o místico falcão!
Circ, circ... Sempre é sua canção!
O eterno retorno!
Sua sacerdotisa tem os cabelos trançados.
Seu profeta pele avermelhada.
Reverencie o senhor da cabeça de falcão!
Reverencie todo tipo de conhecimento!
Reverencie todas as coisas fúlgidas!
9
A luz convergiu em um ponto, agora vejo a direção e sei qual o caminho. Vejo
os fabulosos tesouros! Ela é a luz de todas as estrelas e me presenteou com
um enigma.
O enigma da serpente e da estrela:
No deserto veio uma luz azul.
A luz era um sinal do amor!
Expulsando os instintos da selvagem besta.
Sim! Disse a serpente é mesmo um sinal de amor.
Grande desenrola se pelo universo.
Inseparáveis a estrela de prata e a serpente.
No deserto vi a naja, logo veio à noite.
A besta é grande!
O espírito humano também é grande.
A vida é a constante luta do instinto e a razão!
Assim morto foi um deus e esse deus ressuscitou. Era o tempo de Osíris,
agora o filho saiu do útero, seu nascimento é o início de uma nova era.
Todas as coisas estão mudando, o movimento é constante. A luz do sol
simboliza essa mudança.
Liberdade, liberdade, liberdade, essa é a palavra da lei, e como é
magnífica a lei!
Lembre se que Aton é a divindade de todos os deuses, sempre senhor da
luz escutando cada oração.
Um cântico para Aton a pura expressão, do amor a luz.
O cântico de Aquenaton:
Diante dessas minhas crises de melancolia, a constante tristeza de meu
olhar não me impede de ver, e de romper com a loucura dos sacerdotes e seus
demônios, pois esses não existem!
Quando iluminado pela beleza do brilho do sol descobri Aton, que representa
a razão, Deus único por excelência, então derrubei os outros deuses que eram
frutos da imaginação humana, que nem sequer em um momento
correspondiam com a essência da força da natureza.
Ergui um templo ao disco solar, o sol primordial do universo, que representa
a verdade.
Hoje me chamo Aquenaton! Fui pioneiro na crença de um Deus único, a
razão.
Meus amigos atentaram contra minha vida, minha linda mulher passou a me
odiar, mas não desanimei, o brilho do disco solar é inesquecível, quem
contempla a razão não é mais o mesmo.
A jornada do homem se inicia na busca pela razão, a imagem de Amon caiu
só a razão merece ser cultuada.
Constante é meu pesar, maior ainda minha reflexão, quando tenho uma
duvida mergulho na luz solar, meu pensamento torna se claro, assim se
manifesta à razão, e vejo a verdade diante da especulação.
Meu amor pela minha linda mulher, meus queridos amigos é grande, eu
seria um hipócrita ao afirmar que maior é o meu amor pela verdade, nunca diria
isso, mas tive coragem de derrubar os demônios, Amon e os sacerdotes, pois
melhor a verdade que a loucura.
O grande rei rato mandou os homens ajoelharem se, esses mesmos homens
como loucos atenderam seu pedido sem pensar.
A imagem do rei rato é pomposa, em meio a sua ostentação, os homens
sentem se maravilhados, na ilusão de estarem próximos de Deus, mas estão
loucos.
Derrubei os ídolos da ignorância, e ergui só um ídolo da verdade, com o
brilho do sol.
O povo se ajoelha diante do rei rato e depositam o fruto suado do trabalho
diante da imagem do rei rato, esse sorri, pois precisa de muitas moedas para
pagar o demônio quando for para o inferno.
O rei rato sorri, ele sabe que não existe demônio, nem inferno, mas a
conveniência, isso se resume em razão e ignorância, além disso, é conto de
fadas.
Os egípcios se ajoelharam diante do grande rei rato e seus ídolos da
ignorância, que influem no Estado. Eu derrubo esses ídolos peço para o Egito
se erguer, o disco solar de Aton brilha para iluminar os homens no caminho da
razão.
O conhecimento está ansioso, para ser descoberto pelo homem.
O que chamamos de maldade, não vem de figuras míticas, mas do nosso
interior, quando está repleto de ignorância.
Não existem nem deuses, nem demônios, eu Aquenaton derrubei a todos,
mas existe a força da natureza de Aton, que é a razão, isso é algo que não
posso negar.
Todo assassinato justificado por uma fé, nesse culto não está presente o
Deus da razão, mas o demônio da ignorância.
Acreditar em fábulas grandiosas é loucura, maior loucura ainda é cometer
crimes tendo por justificativa a fé.
Nenhuma ciência pode contestar que Deus é grande em suas
manifestações.
Aton Deus da razão, senhor da verdade deseja apenas um culto a razão, a
justiça e liberdade, seu símbolo é o disco solar, uma analogia com a luz da
verdade.
Deus criou os homens com o desejo do conhecimento, a cada evolução
estamos mais próximos de Deus, que aguarda ansioso pelo nosso retorno a
razão.
A fé é uma praga enraizada na mentalidade do povo, pior que essa fé cega
distancia os homens da realidade, e sua conseqüência, Deus.
Todas as coisas cabem a especulação, mas é perdoável uma interpretação
errada da realidade, o imperdoável é saber que alguma coisa é irreal, e crer
cegamente na realidade de tal coisa.
O Deus que existe não é esse deus das religiões, mas o formulador
universal das idéias personificadas, senhor da razão, a verdade pura.
Os demônios são homens distantes da razão, que atentam contra a
natureza ou contra o próprio homem.
O caos tem seu inicio nos dogmas religiosos, que são interpretações
equivocadas da luz da verdade, a causa ultima, o reencontro com Deus.
Aton é o sol primordial! Seus raios emanam vida em todo universo.
11
Para o homem sem conhecimento areia é apenas areia, assim como pedra
é apenas pedra, mas para o filho do sol areia é ouro e as pedras são jóias.
Assim é o homem que busca o conhecimento, ele abre suas asas e voa, ele
enxerga além.
Eu vi a estrela, a serpente, e o falcão, quando caminhei no deserto.
Descobri a vontade santa.
Os três são apenas um e esse um é Aton o senhor da luz.
A estrela é a riqueza, a serpente o conhecimento, e o falcão o poder.
Divino sempre é aquele que gera a vida! Lembre se que assim como da
estrela vem à luz, toda mulher é divina quando mãe.
Entre o céu noturno uma mulher está vestida com o mais belo vestido e
todas as estrelas são suas jóias.
Entre a extensão do deserto está a grande serpente e da sua língua sai um
punhado de segredos.
Dos voláteis no céu, o falcão sempre diz circ, circ, circ. Essa é a canção do
eterno retorno, ela é a magia acima de qualquer força oculta.
12
O homem é livre para caminhar pela longa estrada que sempre se estende.
Quando compreendermos os segredos daqueles que iluminam o céu
encontraremos a verdade. Mas que verdade é essa? A verdade o homem
nasceu para coisas grandes e esses homens esmagam os pobres coitados que
nasceram apenas para rastejar.
Melhor ser forte e superior ao estrangeiro, caso não seja um amigo, ao
menos não terá coragem para ser um inimigo.
Aton me presenteou com um enigma.
O enigma de Aton:
Os dias são longos e escuros.
A lua está machucada e dos seus seios não há leite para o filho, apenas
sangue que cai das suas feridas. Aquela criança bebe e fica forte!
A loucura tornou se uma doença comum, homens estagnados são todos
néscios, rufiões e glutões.
Até mesmo a cerveja não presta mais!
Um deus que morre e a demência reina!
Mas o brilho do sol desfaz a escuridão, homens profanos morrem de mãos
dadas com a ignorância.
Aton reina agora, sua luz é uma nova vida!
Todas as coisas germinam, elas estão respirando, e a água é boa.
Assim quando chegar a noite, a mais bela dançará sobre todas as estrelas,
ela é a dona dessas jóias.
Busque sempre a luz! Libere a força! A roda gira! Quando a estrela de prata
brilhar na noite escura, ela será a estrela guia.
A lua convida os amantes para uma união secreta, em suaves lençóis,
incensos, musicas e bebidas.
A serpente desliza pelo deserto com suavidade nas areias. Ela é grande,
sempre se estendendo, seguindo uma progressão matemática incalculável. A
serpente diz: Está ali o caminho para o céu, serei sua escada para o sol!
Aton aproxima se e suas mil mãos tocam os corações dos homens
separando os deuses dos cachorros! Um cão não dorme na cama de um
homem ao menos que esse permita, pois então um cão não deitaria na cama
de um deus! Assim são os homens por isso as separações: Deus é Deus, cão
é cão e há também os piores tipos de homens, os que andam como mortos,
pois nunca houve uma alma em seus corpos.
A luz do disco solar é muito forte para os olhos acostumados com a
escuridão.
Aton deseja uma cidade branca para todo filho do sol. Hórus vingou a morte
de Osíris. O mistério do deus que morre foi compreendido. O mistério das
guerras, pestilências, transformações nos homens e nas mulheres foi
compreendido. Agora é revelado o mistério da luz, pois é o sol que tornou se
rei coroado no trono da cidade branca.
Eu vi através da terra do pó todas as coisas rastejantes desesperadas, pois
o novo sol brilhava forte e feria as carnes das criaturas nefastas.
O forte esmaga o fraco nesse momento, como crianças que brincam com
insetos.
A vida chama a morte, morte chama a vida, sobre os montes de corpos dos
homens sem espíritos, o calor do sol estoura aqueles corpos, as moscas
aceleram o apodrecimento e a luz vai dissolvendo aquelas carnes, este é o fim,
mas também o reinício.
Aton chama seus filhos. O filho do sol ergue seu braço impondo a ordem
cósmica.
Homens felizes com suas mulheres gerando filhos nas terras mais férteis.
As águas do Nilo curam o corpo e o espírito!
O filho saiu do útero, ele está faminto, ele bebe sangue, e come carne.
Foi dado a ele o poder de consumir tudo o que desejar até a chegada da luz
de Aton, então seu reinado estará terminado, assim como as antigas coisas e
os pequenos homens.
A cidade branca é apenas para os mais nobres, audazes, fortes, e santos,
conseqüentemente livres.
Antes as águas do Nilo refletiam apenas o aspecto da minha, face,
finalmente vi toda uma agitação, homens correndo e sentindo na carne o preço
da sua escravidão, mas o esplendor das águas não mostra somente dor. A luz
refletida indicava o início de uma nova era.
A mãe e o pai amam o filho, assim ficariam puras todas as águas
contaminadas por sangue e vísceras.
Apenas alguns homens vêem a luz à maioria está morrendo!
Vejam a luz convergir em um só ponto e voltem para casa!
Digam adeus as ilusões!
Siga a luz da estrela de prata pela longa estrada que é a serpente!
Abra suas asas e voe com o falcão ele é seu guia!
A liberdade é o seu dogma, sua fé, e sua única restrição. Nunca esqueça de
que Aton é a liberdade.
Este é o seu culto, seus princípios, todo seu amor a liberdade!
O sol é livre, seus filhos são livres!
Abra suas asas e voe.
Aquenaton após dizer estas palavras olhou para as estrelas durante a noite,
na esperança de ver o sol da meia noite.
Disse a princesinha:
— Está muito tarde tenho que ir, mas amanhã pela tarde eu voltarei.
Disse o poeta:
— Sim princesinha! Estarei aqui esperando tenha bons sonhos.
A princesinha correu admirando a luz das estrelas, mesmo sendo jovem ela
já percebia o mundo com novos olhos.
Aos poucos ela começava a perceber a magia escondida no sol, na lua e
nas estrelas.
Ela entendia o segredo da escada para o céu.
Descobriu o segredo de Hórus.
Descobriu o segredo do enforcado.
Descobriu o segredo da unidade da natureza.
Descobriu o segredo da roda da fortuna.
Descobriu o segredo da serpente.
Descobriu o segredo da estrela.
Descobriu o segredo da luz.
Chegando à sua casa, a princesinha sem dizer uma palavra comeu biscoitos
brincou com seu velho cachorro preto, e foi para seu quarto deitou em sua
cama macia e sonhou. Sentindo seu espírito tão leve. Foi como se ela viaja se
pelas estrelas no infinito espaço.
A princesinha estava muito feliz.
Capítulo quatro: Um réquiem para os deuses
Após tomar um chá a princesinha convidou o poeta para sua casa, e juntos
comeram biscoitos e o poeta disse que já era tempo de terminar a história e
aquela que merece ser admirada sorriu.
Oh meu profeta revele todos os seus segredos e do deus que morre de
novo!
Revele todos os segredos que estão no fundo do Nilo!
Revele o segredo dos deuses!
Revele o segredo do sol!
Revele o segredo da lua!
Revele o segredo da estrela!
Revele o segredo eterno!
Todo mistério escrevo nas paginas da sua mente e seu coração anseia por
mais conhecimento.
Pois bem nada é tudo, e o tudo para você nunca foi nada!
Então esse é o segredo da mais poderosa magia, do nada, sua essência
tornou se tudo e agora volte meus filhos ao nada.
Meu filho você agora é rei cuspa na face do sacerdote!
Minha filha use suas jóias mostre se sempre bem, dance, beba e tente
pisar em todos que não cortejam sua luz interior!
Fiquem todos bem, pois a solução do problema está entregue a própria
incógnita.
Não era algo tão grandioso assim?
A verdade você faz a sua maneira e todo o deus bom será para você,
desde que você esteja na luz.
Assim seus caminhos não estarão fechados, pois eles se estendem!
Não necessitamos mais de nada além da nossa vontade, a voz interior leva
a mente agora perceber os segredos mais ocultos da unidade da natureza.
Seu beijo agora me purificaria da imundície dos túmulos!
O sol sempre é para os vivos, os que já se foram que descansem na
escuridão.
Estou muito cansado da minha viagem até o salão dos ossos, mas agora eu
que tanto esperei o homem das estrelas para trazer o presente para nossas
crianças sem futuro que apenas desejam ser livres.
Despertar é um veneno para quem está embriagado vivendo na falsa
realidade como um cão!
Um deus não pode ser um cão lembre se disso!
A menina bonita vestiu se com um vestido carmesim e estava usando jóias
de ouro, prata, todas com gemas incrustadas, ela corria pelo Egito e disse:
Ame-me, me ame, me ame! Do meu seio meu profeta matou sua sede de
conhecimento!
Toda riqueza pertence a ela, todas as estrelas, a lua e o sol também.
A menina de carmesim lacrou o segredo da cidade dos mortos e disse
assim para que não se esqueçam que a ciência da terra, sua religião e filosofia
são loucura para os deuses, mas há uns poucos que alcançam a luz.
Os sentimentos tornaram se sinceros e toda mentira dissipou se
A menina de carmesim estava pronta para ser tocada, como um fruto ela
sentia se madura.
O reflexo da face dela parecia uma estranha fantasia, mesa farta, muitas
bebidas e todos comiam até estarem saturados.
Ela disse em meu ouvido para correr pela longa estrada que se estende.
Alguém no fim daria origem a um novo início.
Chegou então à era de Aton.
E a menina de carmesim sorria e assobiava uma melodia.
Às vezes as noites pareciam dias, talvez por causa do sol da meia noite.
Meu espírito clamava por esses dias.
Clamava pela luz das estrelas e que elas dessem logo início à luz da razão.
O chumbo virou ouro!
A água comum virou um elixir da vida!
Todos acreditavam agora na unidade.
Livres todos corriam juntos por cima da serpente.
Os maravilhosos tesouros agora estavam entregues.
O leão beijava o touro, estariam juntos o sol e a primeira estrela.
Hórus que trouxe do céu consigo a guerra e a vingança pela morte de seu
pai, protegia os lares e dava uma nova visão aos homens.
Osíris teve seu corpo repartido e todos estavam satisfeitos por terem comido
seu corpo, mas agora ele vive, esse mistério do deus que morre significa que
Osíris ressuscitado senhor da vida após a morte!
Isis é a grande mãe! O segredo dos véus mágicos era o reflexo da canção
do falcão.
Aton é o sol primordial e criador!
Aton está contido nas infinitas manifestações do universo!
Ele é o segredo de todo paradoxo e aporia!
O eterno retorno, a ave que atravessa a cidade do sol para morrer e
renascer, todas essas coisas são com o objetivo de emancipar o espírito do
homem.
Nada está isolado no universo e do Egito sai à luz para o conhecimento.
O muro das mentiras foi derrubado!
O filho do sol destruiu o caos que degenerava a ordem!
Toda luz guiaria o homem até sua estrada para liberdade.
O homem não estaria só agora, e nem cego, ele conseguia enxergar além
das ilusões do mal.
O oráculo revelou seu sonho!
Assim terminou o bardo sua canção sobre o grande faraó Aquenaton!
Introdução
Não leia esse livro, caso contrarie essa advertência pode tornasse cego,
pois em seu conteúdo a luz está manifesta! Entrando em contato com o que há
de mais nefasto podemos compreender a natureza das coisas, e o mais
importante como elas se complementam, pois isso significa unidade da
natureza.
Deixo claro que o evangelho segundo Aquenaton é a luz na sua forma
positiva, já o livro de Gogue é a escuridão em seu estado impuro, mas ficará
nítido que mesmo na escuridão pode haver luz. O evangelho segundo
Aquenaton inicia o que está para ser terminado no livro de Gogue, pois um é a
vulva quente receptiva e acolhedora, o outro representa o místico falo.
Separados nada são, juntos são a origem do universo.
O que está tratado aqui são a natureza da alma e o evangelho segundo
Aquenaton como um cadeado, espera ansioso pela chave, e essa chave é o
livro de Gogue.
Capítulo um: O louco
Nossa poeta! Você está me assustando com essa história. Eu não estou
acostumada a escutar assuntos desse tipo.
Sorrindo o poeta dizia:
— Calma princesinha! A melhor parte ainda está porvir. Há segredos
surpreendentes que você vai ficar perplexa.
Sim poeta! Disse a princesinha: Então conte mais sobre essa sua estranha
e macabra história.
Disse o poeta:
— Espantado com as declarações do mau espírito. O exorcista começou a
indagar: Diga então suas outras revelações criatura maligna, pois quando o
galo cantar e o sol nascer, você estará de volta às profundezas.
Respondendo o exorcista assim disse o espírito imundo:
— Ayin! Chegada a hora do fim, pois o tempo daquele que foi condenado ao
sacrifício era uma magia cerimonial terrível.
Comigo estão todas as delícias!
Sou o verdadeiro senhor do vinho carrego a cornucópia sempre comigo,
realizando o desejo dos fracos.
Toda forma ígnea é minha energia.
Sou as fantásticas realidades, mas nunca sou real!
Comigo estão todas as formas de loucura, mas não a loucura divina.
Às vezes sou sombrio, rude, mas apenas semeio a escuridão no espírito
ignorante.
Chame-me por Gogue, Set, Shaitan e estenderei minha mão para você, pois
nunca durmo e o observo a todo o momento!
Andei no sol, na lua e nas estrelas procurando uma alma igual a sua para
corromper com infinitas fontes de prazer.
A vontade pura é a longa estrada que se estende.
Eu sou a mentira que desvia a luz da estrela do seu destino!
Depravação e todo tipo de deformidade me atraem.
Toda corrupção moral e espiritual abrem as portas do coração para minha
estrada.
As sementes que plantei na escuridão das almas brotam e seus frutos são
apodrecidos.
Olhe sua face sozinho à noite em um espelho e quem sabe você veja meu
rosto.
Eu sou o deus dos cachorros, pois também sou um cão que late e uiva para
lua cheia!
Há uma mancha solar!
Há um lado escuro na lua!
Mesmo a estrela fica invertida. Assim como o coração fica partido.
A felicidade se converte em tristeza.
Sou sempre assim dessa maneira.
O homem é bom e mau, puro e impuro.
O homem que me criou a imagem e semelhança do seu coração.
Do mesmo jeito que criam seus deuses a e semelhança de seus devaneios.
Pois então cuide do seu coração, caso houver uma ruptura ali plantarei
minha semente e degenerarei sua alma.
Sangue é minha preferência, mas bebo vinho e coisas finas, e que deixam
os sentidos dormentes, essas coisas me atraem.
Na escuridão da lua nova faço minha casa e o sangue sempre é sagrado
aos deuses, pois sou também um deus. Lembre se disso!
Todas as coisas têm um dono. Eu sou o efeito das ações inconseqüentes!
Enquanto Deus sempre é a luz do conhecimento, ato puro, que converge
em um ponto. A unidade ou a harmonia com o universo é ascender à luz
interna no coração do homem em união com o divino.
Eu sou sempre a refração da luz!
Deus é a verdade! Conseqüentemente a realidade! Eu torno incognoscível
essa verdade.
Não sou os deuses de outros povos e nem a serpente do conhecimento que
pica a própria cauda e com o veneno do despertar torna os espíritos livres das
ilusões. Eu sou a alienação!
Escutando atentamente cada palavra o exorcista não hesitou em fazer uma
pergunta:
— Compreendo! Acho até interessante suas declarações, pois imaginava
que da sua boca só sairiam blasfêmias!
Mas responda-me então o que motivou todas as suas ações?
Sorrindo o mau espírito respondeu:
— Todas as minhas motivações são os motivos daquele que me criou e não
fui criado por Deus e sim pelo homem.
Nasci da fenda de um coração ressequido.
Por isso cultuo a dor.
Enquanto há um pólo positivo representando a luz, o conhecimento, toda
ciência, conseqüentemente a humanidade. O pólo negativo é a ignorância, a
alienação, toda forma de corrupção e bestialidade.
Mas o divino e o profano são atributos do homem. O bem e o mal, todas as
dualidades são criações do homem.
Eu sou o véu que cobre a unidade presente em todas as coisas gerando
todos os antagonismos.
Deus é a sagrada união que gera um filho e todo tipo de vida.
Eu sou a profanação que gera a morte!
Mas sempre é o homem que puxa o gatilho da arma. Eu sou à bala!
Sonhos são chaves mágicas para o culto sagrado. Eu sou os corações
partidos e todos os sonhos perdidos!
O medo, o pesadelo, e a fraqueza são minhas toxinas degenerativas.
Enquanto Deus favorece a ousadia, me aproximo dos covardes e das
mentiras.
Meu nascimento representa toda corrupção do espírito humano, pois nasci
de dentro de um coração.
Toda ação vem do homem e presente estou nos corações maliciosos.
Orações, religiosidade, gnose, são alimentos divinos para um santo.
Meu alimento é perversidade, alienação, e insanidade.
Mas tudo é o homem, bem e mal, todo cheiro de enxofre e sangue dos
santos. Apenas loucura do homem!
O segredo da transmutação dos metais, a transformação do espírito é a
longa estrada por onde a alquimia caminha como o louco do tarô, que na lenda
casou se com uma princesa.
Sou o homem profano sempre estagnado, e impresso as transformações do
espírito.
Tanto o vinho santo como o bolo de Osíris são sacrilégios em minha mesa,
pois dilacero a carne e bebo sangue.
Veja que o ambiente começa a ficar infestado de vermes e moscas. Está
quase terminado a descrição do meu segundo aspecto, pois meu terceiro
aspecto está ansioso para ver sua reação final.
A luz da estrela converge em um ponto guiando todos para felicidade!
A maldade no coração puxa o homem para baixo.
O paraíso está perdido para aqueles que deixaram o coração corrompido.
Todas as estradas levam para o inferno quando não há mais um sorriso nos
lábios!
Ruas de fogo e toda natureza morta essa é a herança de uma sociedade
com o coração ressequido.
Quando os deuses estão mortos a loucura é o consolo dos homens.
Tanto o mal como o bem estão contidos na mente. O coração é a chave
mágica para libertar tanto um como o outro.
A luz da estrela ofusca deuses e demônios, homens e todos veneram a
beleza da estrela de prata.
Triste são os que não enxergam a luz!
Sempre o homem perdido em seus sentidos prefere deixar a luz para perde
se em minha escuridão.
A vida é ilusão, assim a morte também!
Deus é real! O segredo de Osíris o deus que morre e ressuscita o cristo.
A escuridão e a ignorância encobrem a verdade.
Primeiro é necessário descobrir o céu no inferno interno para assim ir de
encontro para esses caminhos que levam a eternidade.
O numero 666 chama se Frater Perdurabo!
A alma é imutável, indivisível e eterna! Assim foi escrito pelos poetas!
A alma não morre! O mal não é culpa dos demônios, sim do próprio homem
perdido em sua demência.
A alma é eterna e como a fênix que renasce das cinzas, a alma renasce da
escuridão apenas com uma frágil luz.
Por fim o louco já parou de tocar sua flauta e revelar seus mistérios, dessa
sua longa estrada que sempre se estende.
O diabo já deu suas sete gargalhadas revelando seus mistérios guardados
para o prestidigitador.
Há ainda um mistério que incomoda os homens. A morte: Engraçado como o
homem tem medo da morte, como o homem teme a degeneração da sua
matéria, não dando importância a sua essência.
Sabe esses assuntos revelarei em meu terceiro e ultimo mistério, meu
aspecto final revelará relevantes verdades que saem como blasfêmias da boca
de um herege que no fim se revelará um santo.
Foi entre Gogue e Magogue, e meu nome é Gogue somos três, somos um,
e no fim somos nenhum.
Após o demônio ter terminado de dizer estas palavras o exorcista começava
a ficar apreensivo, sobre sua sorte e qual seria o desfecho para nefasta
situação.
Ele estava se sentindo como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Foi nesse momento que a fé o deixou.
Cheia de curiosidade a princesinha perguntou:
— Mas como sem a fé verdadeira o exorcista poderia fazer alguma coisa
contra o demônio?Pobre do menino! Meu amigo estou tão confusa! Não estou
conseguindo compreender a relação. Melhor! O que você me deseja passar
com essa história? Confesso que desejo logo saber como é o final.
Sorrindo o poeta respondia a princesinha:
— Calma agora será revelado o terceiro e ultimo aspecto desse jogo, que
para alguns parece ser a chave que abre as portas libertando muitos horrores,
gritos e desespero, mas para outros é uma suave canção.
Acho que é assim que deve ser a ultima revelação!
Olhe que o tempo está começando a melhorar!
Vou revelar agora quem é o bom, o mau e o feio.
Espero ver sempre seu sorriso lindo, e que seu coração seja assim sempre
puro e inocente.
Desejo ver você correndo pelos campos e sempre iluminada pela luz.
Nunca fique confusa ou mesmo atordoada pela escuridão!
O conhecimento é um escudo!
Presenteei você princesinha com o amuleto da lua minguante, o livro da
justiça do faraó Aquenaton, e agora estou te dando para você que tanto amo,
novos olhos, para assim você enxergar alem das ilusões do mal.
Sirva a serpente que é a luz do conhecimento, a estrada para verdade.
Sirva a estrela de prata.
Sou seu anjo caído!Vamos juntos até a terra da estrela da manha.
Capitulo três: A morte