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As Formas Elementares da Vida Religiosa: por que ler ainda hoje?

07/08/2018 11(13

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As Formas Elementares da Vida Religiosa: por que ler ainda hoje?


Raquel Weiss, professora do Departamento de Sociologia da UFRGS, expõe as suas
motivações para mantermos a discussão do tratado de Durkheim sobre a religião. O texto
nos fala também do evento que ocorrerá entre os dias 15 e 18 de outubro [link para site
do evento] com apoio do NER.

Muito já se escreveu sobre o significado dos chamados “clássicos” para as ciências


sociais. Sabemos que nossa relação com a obra desses autores não é a mesma daquela que existe, por exemplo,
na Física e na Biologia, em que os grandes ícones do passado são importantes como parte de um processo, uma
parte que já ficou pra trás, uma etapa necessária para se chegar no atual momento.
Isso porque para nós os clássicos não são apenas fundadores. Sim, seu pensamento pode ser datado, pode ser
envolto das virtudes e vicissitudes de seu próprio tempo, o que faz com que parte daquela teoria já não possa ser
aceita por nossas perspectivas mais contemporâneas. Porém, como disse certa vez Renato Ortiz, ser datado não é
o mesmo que ser ultrapassado. Um clássico é aquele que, por mais datado que seja, nunca é ultrapassado, senão
sequer poderia receber este nome. Talvez nesse aspecto as ciências sociais estejam mais próximas da filosofia e
mesmo da literatura. Aliás, Ítalo Calvino certa vez dedicou um ensaio apenas a refletir sobre esse tema, propondo
o sugestivo título “Por que ler os clássicos?”. Em uma de suas 14 definições, ele afirma que “clássicos são
aqueles livros que quanto mais acreditamos conhecer de tanto ouvir falar, mais originais, surpreendentes e
inovadores julgamo-los ser quando realmente os lemos”.

É tendo essa perspectiva em mente que a celebração do centenário de publicação de As Formas Elementares da
Vida Religiosa adquire pleno sentido, para propor essa experiência de descoberta ou de redescoberta de um livro.
Além disso, ocorre-me também a definição de Giddens, que afirma que um autor clássico é aquele que pode ser
lido e relido com proveito. Diante de todas essas considerações, a pergunta que imediatamente se põe é a
seguinte: O que há para ser descoberto ou redescoberto nesse clássico centenário? O que de proveito podemos
apreender em sua leitura?

Se houvesse uma resposta pronta, única, acabaria com toda a graça. Esse é um processo que cada um deve
experienciar, munido das lentes proporcionadas por suas próprias questões, por sua própria bagagem, por sua
própria imaginação. Então, o que faço aqui é compartilhar alguns dos elementos que têm me chamado
particularmente a atenção, precisamente porque vejo neles aspectos que permitem uma “atualização” da obra,
isto é, fazem com que ela seja relevante para pensar o nosso mundo hoje, o nosso mundo agora.
O primeiro desses elementos diz respeito ao propósito mais evidente do livro, isto é, desvendar as formas mais
elementares da vida religiosa ou, melhor, da própria religião. Trata-se da afirmação que constitui a própria
premissa do estudo proposto pelo autor, ou, de certo modo, de uma premissa sem a qual a antropologia e a
sociologia da religião não tivessem sentido: todas as religiões são verdadeiras. Ora, podemos logo ver o poder
dessa tese, que causou incômodo tanto aos defensores mais radicais do laicismo quanto aos defensores das
muitas religiões que estavam no cenário da vida francesa no começo do século XX. As razões para tais reações
negativas não são difíceis de intuir.
De um lado ela negava a tese de que as religiões são fantasmagorias, fruto de alucinações, devaneios enganosos a
ser eliminados da face da terra. De outro, se todas as religiões são verdadeiras, isso quer dizer que a minha
religião, a religião A, não é a única verdadeira. Como isso é possível, se a religião B afirma princípios diferentes
dos meus? É nesse ponto de intersecção de descontentamentos de naturezas opostas que surge uma nova forma
de olhar para a religião. A religião, de objeto de fé ou de motivo de ridicularização, torna-se, com aquela
afirmação, um fenômeno social.

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As Formas Elementares da Vida Religiosa: por que ler ainda hoje? 07/08/2018 11(13

Todas as religiões são verdadeiras porque todas elas são reais, são fenômenos reais, criações humanas que
exercem um impacto muito real na vida dos homens reais que as criaram. Elas são verdadeiras, ainda, porque
expressam de forma simbólica uma realidade que de fato existe: a vida social, a vida coletiva, a vida em grupo. E
é essa força, real, que está na base do caráter sagrado dessas várias representações sobre o mundo e sobre o
sentido de todas as coisas a que nós chamamos de crenças. As crenças até podem ser uma representação não
científica do mundo – deixo a relação entre crença e ciência e a crença da ciência pra uma outra ocasião – mas
justamente o que faz delas crenças, ou seja, representações investidas de um caráter sagrado, é a própria força da
vida social.
E toda essa conversa de força é o que me leva ao segundo elemento que gostaria de destacar, sobre o qual venho
escrevendo há algum tempo, qual seja, o conceito de efervescência. Aparentemente este não é um conceito
central do livro, pois olhando o índice o que vemos são menções a ritos, crenças, e até mesmo o muitíssimo
importante conceito de sagrado. Mas o que há de mais importante na efervescência é que ela perpassa de forma
mais ou menos explícita cada um desses fenômenos. Dito de maneira bem simples, as crenças são ideias
sagradas, e os ritos são práticas sagradas e a religião consiste em um “sistema solidário de crenças e práticas
relativas às coisas sagradas”. O sagrado, por sua vez, é definido como aquilo que está à parte no mundo, aquilo
que não pode ser questionado, que não pode ser tocado, que não se imiscui com o profano. É algo que constitui o
domínio do extra-ordinário, do excepcional.

Ainda que não seja possível explicar aqui todo esse processo que está na base da criação do sagrado, é
importante que se diga que, para o autor, é a efervescência que gera essa cisão do mundo entre sagrado e profano,
é a efervescência que consagra coisas, pessoas, ideias, e que faz com que o fenômeno religioso seja real. O que
vem a ser, então, a efervescência?

Mais uma vez, é uma ideia não muito bem definida, que não corresponde ao rigor de um conceito unívoco e
preciso. Entretanto, reunindo as várias pistas encontradas pelo caminho, podemos, muito resumidamente, afirmar
que a efervescência é um momento de produção de energia que acontece quando agimos juntos, quando nossos
corpos e nossas mentes se voltam para um objeto, para uma finalidade compartilhada. Esse pensar, agir e sentir
em comum, nos dá a percepção de que não somos átomos isolados vivendo sobre um mesmo território, nos faz
experimentar a sensação de que somos mais fortes, que somos parte de algo que é maior do que nós mesmos, que
nos transcende.

Esses momentos excepcionais, nos quais fugimos de nosso cotidiano, nos fazem atribuir um valor muito
particular a essa sensação de força vivenciada nessas situações coletivas, e o que a religião faz é exprimir essa
realidade em suas crenças e recriá-las em seus ritos. E esse processo de recriação, de renovação da experiência da
vida coletiva, é uma das condições necessárias para que os homens continuem a desejar fazer parte dessa vida
coletiva, a não romper com os laços, ainda que precários, que os unem a seu grupo ou a seus grupos.

E nesse momento começamos a intuir a enorme importância da teoria durkheimiana expressa em As Formas
Elementares: a religião não apenas é um fenômeno real, mas, ao longo de quase toda a existência humana, tem
sido a portadora das condições da continuidade da existência da vida coletiva, sob qualquer uma de suas formas,
desejáveis ou não. Portanto, do mesmo modo que a coletividade cria a religião, não seria de todo equivocado
dizer que a religião recria a coletividade, na medida em que permite a renovação na fé nos ideais compartilhados
em cada época, em cada um dos numerosos grupos sociais que hoje povoam a terra, muitos deles interligados. E,
a um só tempo, vemos também ampliado o sentido do que é a religião, não apenas como sendo um fenômeno
ligado a uma teologia específica – ainda que não se exclua tal possibilidade – mas como algo que recobra seu
sentido original, etimológico mesmo. Religio, ligação, vínculo, o núcleo duro da existência social.

Raquel Weiss

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