Sei sulla pagina 1di 3

Sobre o que representa Bolsonaro

Algo a ser refletido para além do lugar comum de sua


estupidez reconhecida. Onde vive e do quê se alimenta?

Uma das grandes contribuições de Foulcault é a demonstração do poder como uma relação que se
estabelece em redes. A existência é exercer e sofrer o exercício de poderes. Viver em sociedade é atuar
como um ponto de inflexão que impõe ao tempo e ao espaço a sua existência e recebe de outros a violência
desta imposição. O que nos faz compreender esta situação é o conhecimento, e o que nos faz sentir e
delimitar os efeitos desta rede é a empatia. Sem conhecimento e empatia, o mundo vira uma grande
confusão em que o indivíduo apenas sente o exercício dos poderes dos outros sobre si e não consegue
perceber o seu papel ou qualquer razão neste sistema. No longo prazo, a violência de todos os exercícios
de poder sobre o indivíduo se transforma em raiva e espírito de vingança.
Empatia, entretanto, tem gradações. Empatia para com os seus familiares e amigos é uma questão
biológica de sobrevivência para a qual concorrem até mesmo hormônios. Daí que este valor básico nem
como social pode ser definido. O que importa, em termos de sociedade, é a empatia para com o diferente, o
distante e o desconhecido. O ex-ministro da Justiça Aragão contou, certa vez, em um texto que o ex-
procurador-geral, Janot, tinha um ditado comumente declarado que afirmava que era melhor “nudêis” do
que “numeu”, e isto é a demonstração de pobreza da nossa sociedade. Espera-se que os governantes,
juízes e legisladores tenham a capacidade da empatia mediada pelo conhecimento. De outra forma,
qualquer poder é sempre arbítrio. É a imposição crua da minha vontade apenas porque estou em posição
de impor.
A calamitosa entrevista de Bolsonaro, na última segunda feira, revela uma figura caricata sem o
mínimo conhecimento, e sem qualquer capacidade de exercer empatia. Todas as respostas e
manifestações do ex-capitão do exército eram apenas no sentido do exercício da violência e a única
reflexão sobre o local social dos que recebem o exercício de poder se dava somente para os seus iguais:
policiais e militares. Bolsonaro se mostra, como inclusive afirmam relatórios de seus superiores no próprio
exército, incapaz para exercer qualquer posto público em que ele tenha um mínimo de poder. Daí ele há 27
anos (período como parlamentar) costumeiramente agredir moralmente e até fisicamente outros
parlamentares o tempo todo. Seu desconhecimento e sua incapacidade são evidentes e nos resta perguntar
como uma figura tão abjeta tem tanto apelo em nosso país?
Bolsonaro tem algo perto de 20% das intenções de voto e, sem Lula na disputa, provavelmente estará
no segundo turno com grandes chances de se eleger. A professora Esther Solano, em texto recente,
defende a posição de que este “encanto” se dá pelo espelhamento, principalmente dos jovens, com o
caráter transgressor de Bolsonaro. Penso que não é este o caso. Bolsonaro, como qualquer figura fascista,
têm apelo porque as sociedades de onde eles são oriundos falharam em transformar conhecimento e
empatia em valores essenciais e democratiza-los. Bolsonaro aprendeu como ofício a exercer a violência
(uma das formas de poder), mas não aprendeu a racionalizar a violência que era (e é) exercida contra si. Ao
sair do exército para o parlamento, criou-se uma figura violenta, vingativa, ignorante e livre da imensa
maioria das restrições institucionais de controle do exercício de poder. É como tirar um animal violento de
seu habitat e colocá-lo longe de qualquer predador. Sem nada que o contenha, o fascista se empodera e se
coloca na condição de único e legítimo para o exercício do poder.
Neste caminho, de subverter quaisquer instituições, o fascista se coloca no papel social do líder que
reforça o estereótipo de gênero do “macho” que não pode ser contido e cuja essência é conter. Este é o
apelo do fascismo. Não apenas apelo, mas também promessa social. O fascista não apenas se caracteriza
pelo uso bruto da violência, mas promete aos seus seguidores parte desta “liberdade”. Por isto Bolsonaro
“estupra” e “tortura” idealmente qualquer um (desde que a vítima “mereça” esta deferência, como disse à
deputada Maria do Rosário e, novamente, ao jurista e ex-ministro José Gregori), mas também promete
armas a todos os seus seguidores. A promessa social é do exercício da violência também por estas
pessoas, que passam a ver o fascista como dando a oportunidade a eles da “vingança” pelos anos de
arbítrio que este cidadão julga ter sido vítima, e sobre o qual ele desconhece e não compreende qualquer
causa.
Por isto a promessa do fascismo sempre vem acompanhada da escolha de grupos que serão
transformados em Párias e sobre os quais, inicialmente, recairá toda a canalização da violência. Bolsonaro
deixa claro que isto acontecerá contra negros, gays e mulheres. A única forma de tentar evitar esta violência
é o pária escolhido “aceitar” seu papel. Se a mulher voltar ao lar, o negro a trabalhar e o homossexual a se
esconder, o fascista então o dirá “bom” e aceitável. Para todo o resto sobra o exercício da violência. E um
exercício compartilhado, cuja ação será feita pelo Estado (com o endurecimento das leis), mas também pelo
cidadão (fascista) encorajado a exercer o poder sobre os grupos Párias na condição de “colaborador” com o
ideal maior (”a pátria”). Trump, nos EUA, encoraja todo cidadão americano a ser um vigilante contra os
imigrantes e os muçulmanos (grupos Párias escolhidos). Hitler fazia o mesmo com judeus, ciganos e os
não-arianos. No Brasil a violência contra a mulher, os sindicalistas, militantes de esquerda e homossexuais
cresceu já por conta do exercício antecipado da promessa fascista. A eleição de Bolsonaro apenas
aumentará estes números.
A despeito da incapacidade cognitiva, cultural, técnica, civilizacional que apresenta Bolsonaro, ele
segue crescendo por conta da promessa fascista. E esta promessa se torna cada vez mais tentadora na
medida que a crise econômica e institucional se aprofunda. Temer e o STF elegerão Bolsonaro. Com a
ajuda de uma elite brasileira que é tanto caracterizada pela posse dos meios de produção, quanto pela sua
proverbial incapacidade cognitiva e de exercer empatia. A burguesia amedrontada pelo discurso do
“comunismo voltou” se irmana ao fascismo apenas para depois ser dilacerada por ele.
Com as instituições solapadas e a crise econômica aprofundando, o pensamento racional de
sobrevivência leva a votar no candidato que afirma que é melhor “nudêis” do que “numeu”. E se ele
prometer armas e matar o diferente, se tornará o porto seguro dos autoritários, sádicos, violentos,
recalcados, com complexo de inferioridade e os incapazes de exercerem qualquer convivência sadia em
grupo. Este é todo o eleitorado fascista de Bolsonaro. Não é suficiente para vencer uma eleição, mas com a
ajuda de instituições não-democráticas (como o judiciário brasileiro), uma mídia monopolista composta por
empresas familiares cujo capital cultural é baixíssimo e a capacidade de empatia inexiste, o perigo é real.
Forçar uma educação “conteudista” que acha que pode ser “neutra”, como faz o projeto fascista do
“Escola sem Partido”, é o prolongamento da promessa fascista para o Futuro. Incapaz de ensinar empatia,
de desnudar as sociedades e os tempos de forma correta (com o ataque à história, sociologia e filosofia),
este projeto de educação apenas replica a criação de sujeitos incapazes de compreender o outro e
propensos a serem convencidos pela promessa fascista. O individualismo irracional, vertido no Brasil para a
realização do golpe, cria os grupos de cidadãos completamente impossibilitados de se defenderem do
fascismo.
Falando de forma simples, a crise econômica, a desorganização da nossa educação, o histórico
social de uma sociedade sem empatia e uma elite ignorante social e politicamente são o campo fértil sobre
o qual Bolsonaro desfila misoginia, violência e brutalidade, e é aplaudido. Contudo, tudo isto seria evitado se
as instituições estivessem funcionando. Se elas punissem a violência, se fossem contra o arbítrio e se
fortalecessem os direitos individuais e coletivos. Como, no Brasil de hoje, as instituições são o próprio
arbítrio e atacam direitos individuais e coletivos, arrisco a dizer que o STF, se afastar Lula da disputa, de
forma ilegal e venal, elegerá Bolsonaro. E o fascismo é conhecido pelo monopólio do poder. Na Alemanha
Hitler incendiou o Reichstag, na Itália Mussolini matou Mateotti e atacou os juízes. Bolsonaro não será
diferente.
Suas altezas togadas estejam avisadas dos efeitos de suas sacrossantas decisões. Não apenas
serão responsáveis, como serão dilaceradas pelo monstro que ajudaram a criar e libertar.

Potrebbero piacerti anche