Sei sulla pagina 1di 10

Superior Tribunal de Justiça

AgRg na SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.904 - AM


(2014/0161443-2)

RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:
Trata-se de agravo regimental interposto pela VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ
LTDA em face de decisão do eminente Ministro Gilson Dipp que, no exercício da Presidência
deste Superior Tribunal de Justiça, deferiu o pedido "para suspender os efeitos da decisão do
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, lançado no requerimento de
reconsideração, para restaurar a suspensão originalmente por ele mesmo deferida de modo
a sustar todos os efeitos da decisão do Juiz de Direito da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do
Trabalho da Comarca de Manaus AM com relação ao Município requerente " (fl. 504).
Consta dos autos que o MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP instaurou procedimentos
administrativos a fim de apurar ilegalidades na prestação do serviço de transporte coletivo
urbano, que era explorado, mediante concessão, pela VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA.
Sobreveio, em 10/09/2013, a declaração de inidoneidade da empresa concessionária e
proibição temporária de licitar e contratar; posteriormente, no mesmo mês, a declaração de
caducidade e rescisão do contrato de concessão. Por conseguinte, em face da necessidade da
manutenção dos serviços essenciais de transporte coletivo urbano, a Municipalidade, em
16/10/2013, contratou, em caráter emergencial, a empresa TRANSPORTADORA
TURÍSTICA LTDA (SUZANTUR).
Inconformada com a decisão administrativa, a empresa VIAÇÃO CIDADE DE
MAUÁ LTDA ajuizou a ação ordinária n.º 4002711-79.2013.8.26.0348 perante a 4.ª Vara
Cível de Mauá, visando a anular o ato administrativo. O pedido de antecipação de tutela foi
indeferido, o que ensejou a interposição de agravo de instrumento perante o Tribunal de
Justiça de São Paulo, que negou provimento ao recurso.
Outrossim, a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA manejou ação cautelar,
buscando afastar a rescisão do contrato de concessão. O pedido de liminar foi indeferido. Ato
contínuo, a ação foi julgada extinta pelo Tribunal de Justiça paulista.
A VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA ainda impetrou mandado de
segurança distribuído para a 3.ª Vara Cível, reiterando os mesmos argumentos e pedido
deduzidos na ação ordinária. O mandamus foi extinto em razão da litispendência, com

Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 10


Superior Tribunal de Justiça
aplicação de multa de 1% por litigância de má-fé.
Esgotadas as tentativas judiciais de reverter a situação no Estado de São Paulo,
a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA ajuizou então a ação cautelar n.º
0629181-55.2013.8.04.0001 perante a 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca
de Manaus/AM, onde tramita seu processo de recuperação judicial. O Magistrado
processante, em 31/10/2013, deferiu o pedido de liminar para:
"SUSPENDER IMEDIATAMENTE O CONTRATO
EMERGENCIAL que se encontra operando no LOTE 1, iniciado em
19/10/2013;
AUTORIZAR IMEDIATAMENTE QUE A AUTORA volte a
operar em suas linhas, sem ter seus veículos apreendidos, até julgamento final
de seus recursos administrativos e judiciais;
PROIBIR QUE A EMPRESA AUTTRAN INDÚSTRIA E
COMERCIO LTDA realize a instalação de qualquer equipamento de catraca
eletrônica/validadores, que não sejam nas vencedoras da licitação 213/2008,
sob pena de multa diária e apuração de crime de desobediência;
Expeça-se mandado para a empresa PK9 TECNOLOGIA
SERVIÇOS LTDA, para que se abstenha de realizar qualquer compensação
da bilhetagem eletrônica das empresas contratadas pela Prefeitura de Mauá
em caráter emergencial, sob pena de multa diária e apuração de crime
desobediência;
Expeça-se mandado para que as empresas que se encontram
operando nas linhas da Viação Cidade de Mauá LOTE 1, cumpram a
determinação judicial, sob pena de multa diária e apuração de crime
desobediência;
Oficie-se a empresa SUZANTUR Rua Mercedes Garcia, nº 5
Vila Maria de Maggi Suzano - São Paulo, para que se abstenha
de operar nas linhas da requerente lote 01, sob pena de multa diária e
apuração de crime desobediência;
Oficie-se ao 30º BATALHÃO DA POLICIA MILITAR DE SÃO
PAULO-SP, para garantir a operação e segurança dos veículos da
Requerente; bem como; que apreenda todos e quaisquer veículos que se
encontrem operando mediante contrato emergencial;
Expeça-se mandado à Requerida Prefeitura Municipal de
Mauá, comunicando-lhe da liminar, para que anule a rescisão contratual da
Requerente, bem como, cancele o contrato emergencial, proibindo a operação
de qualquer empresa que se encontre operando nas linhas da Requerente, sob
pena de multa diária." (fls. 147/148)

O MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP, por sua vez, manejou a Suspensão de


Liminar n.º 4004279-22.2013.8.4.0000 perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Amazonas, sustentando que a decisão liminar causaria grave ofensa à ordem, à segurança e à
economia públicas.

Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 2 de 10


Superior Tribunal de Justiça
Em 16/12/2013, o Desembargador Presidente do Tribunal a quo deferiu a
suspensão da liminar, mas, em 09/06/2014, o mesmo Desembargador, acolhendo pedido de
reconsideração, indeferiu o pedido, restaurando, assim, a decisão do Juízo da 5.ª Vara Cível e
de Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM.
A Municipalidade apresentou pedido de reconsideração do decisum , que foi
recebido como agravo regimental pelo Desembargador Presidente do Tribunal amazonense,
e ainda se encontra pendente de julgamento.
Outrossim, ajuizou perante este Superior Tribunal de Justiça o pedido de
Suspensão de Liminar e Sentença em epígrafe, aduzindo, em suma, que: (i) a empresa
Requerida foi declarada inidônea para a prestação de serviço público por ter invadido e
fraudado o sistema de bilhetagem eletrônica do transporte coletivo de Mauá, fatos esses
devidamente apurados no Processo Administrativo n.º 3.200/2013; (ii) foi instaurado novo
processo administrativo (n.º 9.359/2013), o qual culminou com a declaração de caducidade e
rescisão do contrato de prestação de serviço público; (iii) ao suspender o ato administrativo
de rescisão do contrato, a 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho de Manaus/AM estaria
intervindo no poder-dever da Administração Municipal; (iv) na primeira decisão proferida
pelo Desembargador Ari Jorge Moutinho da Costa, Presidente do TJAM, que suspendeu a
liminar concedida, foram ressaltadas as mesmas razões erigidas pelo Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, notadamente o fato de que a decisão da Administração Pública foi
precedida de "processo administrativo e à luz do contraditório "; (v) a modificação deste
entendimento, após o transcurso de 6 (seis) meses da suspensão concedida, causa insegurança
jurídica no transporte coletivo urbano de Mauá, ofendendo a ordem e economia públicas na
gestão dos serviços de competência da Administração Municipal.
Pleiteou, assim, o deferimento do pedido de suspensão dos efeitos da decisão
liminar proferida pelo Juízo da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca de
Manaus, na Ação Cautelar Inominada Incidental n.º 0629181-55.2013.8.04.0001 e da decisão
que a manteve exarada pelo Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do
Amazonas.
O Ministro Gilson Dipp, em 10/07/2014, no exercício da Presidência deste
Superior Tribunal de Justiça, proferiu a decisão de fls. 501/504, ora agravada, deferindo o
pedido, nestes termos:
"[...]
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 3 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Não é necessário o prévio esgotamento de instância para acesso à
excepcional medida de suspensão de liminar, de sentença ou de segurança
nesta Corte Superior, sendo suficiente que o Presidente do Tribunal local já
tenha indeferido pedido semelhante. Neste sentido: AgRg na SLS 1204/MT e
AgRg na SLS n. 956/PR.
Assim conheço do pedido.
A legislação de regência demanda - para o deferimento da suspensão
de liminar e de sentença - a caracterização de ocorrência de grave lesão à
ordem, à segurança, à saúde ou à economia públicas, tendo em vista o caráter
de excepcionalidade da medida (artigos 15 da Lei 12.016/2009 e 4º da Lei
8.437/1992).
É certo que a mera alegação da ocorrência de cada uma dessas
situações não se presta ao deferimento da medida, sendo necessária a efetiva
comprovação, não só dos requisitos citados, como do dano apontado (AgRg
na SLS 1.100/PR, Corte Especial, Rel. Min. César Asfor Rocha, DJe de
04/03/2010).
Na hipótese, o que se busca é a imediata suspensão da decisão
liminar proferida pelo Juízo da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da
Comarca de Manaus, nos autos da Ação Cautelar Inominada Incidental n.º
0629181-55.2013.8.04.0001, e bem assim a do Senhor Presidente do Tribunal
local, que suspenderam o contrato emergencial de prestação de serviço de
transporte público no Município de Mauá e determinaram a retomada da
prestação do serviço pela empresa requerida.
As razões expostas na inicial deste pedido justificam o deferimento da
medida, pois a antecipação dos efeitos da tutela, tal como deferida pela
instância a quo, obstaculiza e dificulta o adequado exercício das funções da
Administração pelas autoridades constituídas, gerando grave lesão à ordem e
economia públicas .
Os elementos aduzidos aos autos pelo Município mostram além disso
que o pedido da empresa Viação Cidade de Mauá perante o Juízo da 5ª Vara
Cível de Manaus se vale da instauração do Juízo de Recuperação Judicial de
interesse da empresa pela qual se fixasse a competência naquela comarca, de
resto única justificativa para o conhecimento e deferimento da medida judicial
atacada no primeiro grau amazonense.
Ora, a competência para a ação de recuperação judicial, contudo, se
rege pelo art. 3º da Lei nº 11.101 de 2005: “É competente para homologar o
plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar
a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial
de empresa que tenha sede fora do Brasil”. E “principal estabelecimento”, na
expressão da jurisprudência do STJ (CC 37.736-SP e CC 116.743-MG), é o
local mais importante da atividade empresária na qual esteja concentrado o
seu maior volume de negócios.
Além de intuitivo é manifesto - pela descrição do Município - que a
Viação Cidade de Mauá tem seu centro de negócios nessa cidade, onde tem
seu principal concentrado empresarial de modo a indicar que a competência
para sua eventual recuperação judicial deveria fixar-se na comarca e no juízo
de competência específica respectivos, e não em Manaus/AM.
Disso resulta a incompetência do Juízo da 5ª Vara Cível e de
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 4 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus e a consequente ilegalidade e
ilegitimidade da decisão liminar, assim como a da reconsideração pelo então
Presidente do TJ/AM que a confirmou, circunstâncias que nenhum dos dois
magistrados poderia ignorar.
Não fosse isso, ainda subsistem as decisões da Justiça Paulista,
mostrando a manifesta improcedência da pretensão da empresa ora
requerida, cuja caducidade do contrato foi regularmente declarada.
Assim, são evidentes por si só as funestas decorrências do ato
discutido, seja pelas despesas injustamente atribuídas ao Município, seja
pelas consequências graves ao serviço à população e aos interesses públicos,
seja pelo inusitado e surpreendente ato praticado pelos magistrados em
questão - Juiz de Direito Rosselberto Himenes da 5ª Vara Cível e de Acidentes
do Trabalho da Comarca de Manaus e o então Presidente do Tribunal de
Justiça do Estado do Amazonas Desembargador Ari Jorge Moutinho da Costa.
Ante o exposto, defiro o pedido para suspender os efeitos da decisão
do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, lançado no
requerimento de reconsideração, para restaurar a suspensão originalmente
por ele mesmo deferida de modo a sustar todos os efeitos da decisão do Juiz
de Direito da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca de
Manaus AM com relação ao Município requerente.
Comunique-se com urgência ao Senhor Desembargador Presidente
do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas e ao Senhor Juiz de Direito da
5ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM, às
partes interessadas e inclusive às autoridades judiciais e policiais
mencionadas no Estado de São Paulo."

Inconformada, a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA interpôs agravo


regimental, sustentando, em suma, que:
(i) A Municipalidade de Mauá, bem como a decisão agravada, não teria
demonstrado a existência de ofensa à ordem e economia públicas. Argumenta que, "por
motivos ignorados, ao assumir a gestão do Município, a atual Administração envidou todos
os esforços para desconstituir os contratos de concessão de serviço de transporte público
celebrado após regular procedimento licitatório, celebrar um contrato emergencial com uma
terceira concessionária, e proceder, a toque de caixa e à revelia de uma decisão judicial em
sentido contrário, a um certame licitatório que, coincidentemente, teve como vencedora a
mesma empresa que operava o sistema de transporte público a título precário, ou seja, com o
contrato emergencial que tanto esforço fez a Administração para ver mantido " (fls. 589/590).
(ii) A "via excepcional do pedido de suspensão de liminar não é adequada a
que se discuta a incompetência do juízo, pois existem instrumentos processuais próprios, dos
quais a municipalidade nunca se valeu " (fl. 602). Pondera ainda que "Omitiu o agravado de
dizer que a recuperação em curso na cidade de Manaus não diz respeito unicamente à
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 5 de 10
Superior Tribunal de Justiça
Viação Cidade de Mauá, ora agravante, mas sim a um GRUPO ECONÔMICO que conta
com quase 35 empresas. A Viação Cidade de Mauá, ora agravante, é nada mais do que uma
entre essas 35 empresas " (fl. 603).
Requer, assim, o provimento do agravo regimental.
Impugnação ofertada às fls. 613/623 pelo Agravado, que pugna pelo
desprovimento do agravo regimental.
O ilustre Ministro Presidente deste Superior Tribunal de Justiça, por meio da
decisão de fl. 650, deu-se por suspeito, razão pela qual vieram-me os autos redistribuídos.
É o relatório.

Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 6 de 10


Superior Tribunal de Justiça
AgRg na SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE SENTENÇA Nº 1.904 - AM
(2014/0161443-2)

RELATOR : MINISTRO PRESIDENTE DO STJ


AGRAVANTE : VIACAO CIDADE DE MAUA LTDA - MICROEMPRESA
ADVOGADOS : CARLOS HUMBERTO FAUAZE FILHO
GABRIEL PORTELLA FAGUNDES NETO
JOSELMA RODRIGUES DA SILVA
AGRAVADO : MUNICIPIO DE MAUA
PROCURADOR : THAIS DE ALMEIDA MIANA E OUTRO(S)
INTERES. : AUTTRAN INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
INTERES. : PK9 TECNOLOGIA SERVIÇOS LTDA
INTERES. : SUZANTUR TRANSPORTADORA TURISTICA
ADVOGADOS : JOSÉ CARLOS DA ANUNCIAÇÃO E OUTRO(S)
LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO E OUTRO(S)
REQUERIDO : DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO AMAZONAS

EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE
SENTENÇA. EMPRESA DE TRANSPORTE PÚBLICO MUNICIPAL.
RESCISÃO CONTRATUAL POR FRAUDE. CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇO EMERGENCIAL. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA
CONTRATAÇÃO DEPOIS DE PROCESSO LICITATÓRIO. JUÍZO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM OUTRO ESTADO DA FEDERAÇÃO
QUE DEFERIU LIMINAR PARA RETORNAR AO SERVIÇO A ANTIGA
CESSIONÁRIA, AFASTADA HÁ UM ANO. EVIDENTE E GRAVE RISCO
À ORDEM E ECONOMIA PÚBLICAS. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
1. A temerária decisão do juízo amazonense, ratificada pela então
Presidência do Tribunal a quo, distante da realidade dos fatos, e desprezando
as decisões da Justiça do Estado de São Paulo, pretendia retornar à operação de
transporte público, no Município de Mauá/SP, empresa declarada pela
Administração Pública inidônea por fraude, cujo contrato fora rescindido. O
retorno pleiteado, nessas condições, provocaria manifesta afronta ao interesse
público, com clara e grave lesão à ordem e economia públicas – notadamente
em razão de o serviço já estar sendo prestado por outra empresa que se sagrou
campeã em novo processo licitatório –, sem falar na indevida intromissão do
Poder Judiciário no mérito administrativo, quando não há nenhum indício de
irregularidade no ato impugnado.
2. Agravo regimental desprovido.

VOTO
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 7 de 10
Superior Tribunal de Justiça
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):
O que sobressai, de início, é o inusitado percurso jurídico-processual do qual
se valeu a empresa VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA, ora Agravante:
Inconformada com a decisão da Municipalidade – que, depois de regular
processo administrativo, em setembro de 2013, rescindiu o contrato de concessão diante da
constatação de fraudes no sistema de bilhetagem do transporte público, que teria
proporcionado o recebimento de créditos indevidos no montante de quase sete milhões de
reais –, a empresa ajuizou a ação ordinária perante a 4.ª Vara Cível de Mauá, cujo pedido de
antecipação de tutela foi indeferido, o que ensejou a interposição de agravo de
instrumento perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, que negou provimento ao recurso.
Outrossim, manejou ação cautelar. O pedido de liminar foi indeferido. Ato contínuo, a
ação foi julgada extinta pelo Tribunal de Justiça paulista. Seguiu-se ainda a impetração de
mandado de segurança distribuído para a 3.ª Vara Cível. O mandamus foi extinto em razão
da litispendência, com aplicação de multa de 1% por litigância de má-fé.
Esgotadas as tentativas judiciais de reverter a situação no Estado de São Paulo,
a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA ajuizou ação cautelar perante a 5.ª Vara Cível e de
Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM, onde tramita o processo de recuperação
judicial de um grupo de empresas da qual faz parte. O Magistrado processante, em
31/10/2013, deferiu o pedido de liminar para, suspendendo a contratação emergencial no
Município de Mauá/SP, retornar a empresa ora Agravante à operação das linhas de ônibus,
além de proibir a instalação de catracas eletrônicas e a realização de qualquer compensação
no sistema de bilhetagem eletrônica, sob pena de multa.
O MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP, nos autos da Suspensão de Liminar n.º
4004279-22.2013.8.4.0000, conseguiu perante o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,
em 16/12/2013, decisão do Desembargador Presidente, que deferiu a suspensão da liminar.
Contudo, em 09/06/2014, ou seja, passados seis meses, o mesmo Desembargador, acolhendo
pedido de reconsideração, indeferiu o pedido, restaurando, assim, a decisão do Juízo da 5.ª
Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM.
Daí a decisão ora agravada, prolatada pelo eminente Ministro Gilson Dipp, no
exercício da Presidência deste Superior Tribunal de Justiça, que deferiu o pedido deduzido
pelo MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP "para suspender os efeitos da decisão do Presidente do
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, lançado no requerimento de reconsideração,
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 8 de 10
Superior Tribunal de Justiça
para restaurar a suspensão originalmente por ele mesmo deferida de modo a sustar todos dos
os efeitos da decisão do Juiz de Direito da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da
Comarca de Manaus AM com relação ao Município requerente " (fl. 504).
Cumpre desde logo anotar que, nesse ínterim, noticia a Municipalidade,
sobreveio novo processo licitatório. Argumenta, no ponto, que:
"[...] este Município conseguiu fazer a licitação pública e contratar
uma nova concessionária para o essencial transporte coletivo da cidade,
consoante se denota do Contrato de Concessão n.º 64/2014 , assinado em 15
de agosto de 2014.
Por este contrato, a nova concessionária teve que pagar uma outorga
onerosa no valor de R$ 6.200.000,00 (seis milhões e duzentos mil reais) ,
conforme cláusula 6.1.1 do contrato anexo, sendo que metade deste valor já
foi pago no ato da assinatura do contrato, o que garantirá novos
investimentos na melhoria do transporte.
Além disso, a nova concessionária terá que adquirir e colocar em
execução na cidade, toda uma frota de ônibus 'zero quilômetro', num total de
248, conforme edital e contrato anexo (cláusula 14.3.1).
Daí se percebe que o deferimento da suspensão de liminar, evitou um
grave dano à economia pública do Município de Mauá, sem contar, que o
dano econômico também aconteceria com a alteração abrupta por outra
empresa, após a estabilização do transporte, com novas adaptações de
catraca eletrônica, aparelhos de GPS e demais aparelhos eletrônicos e
garagens já instaladas." (fls. 617/618)

Basta um simples olhar para a situação fático-processual para se constatar, sem


grande esforço, a absoluta insubsistência da argumentação da empresa Agravante.
Ora, depois de regular processo administrativo, garantindo-se o contraditório e
a ampla defesa, houve a declaração de caducidade e rescisão do contrato de concessão, em
razão da constatação de fraudes que renderam prejuízos milionários ao Município. Outra
empresa foi chamada, em caráter emergencial, para prestar o serviço público essencial. A
Municipalidade já realizou, como noticiado, nova licitação, com a entrega da concessão,
estipulando cláusulas de modernização do serviço de transporte. A empresa Agravante está
afastada há um ano.
A temerária decisão do juízo amazonense, ratificada pela então Presidência do
Tribunal a quo, distante dessa realidade, e desprezando as decisões da Justiça do Estado de
São Paulo, pretendia retornar à operação de transporte público municipal empresa declarada
pela Administração Pública inidônea por fraude, cujo contrato fora rescindido. O retorno
pleiteado, nessas condições, provocaria manifesta afronta ao interesse público, com clara e

Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 9 de 10


Superior Tribunal de Justiça
grave lesão à ordem e economia públicas – notadamente em razão de o serviço já estar sendo
prestado por outra empresa que se sagrou campeã em novo processo licitatório –, sem falar na
indevida intromissão do Poder Judiciário no mérito administrativo, quando não há nenhum
indício de irregularidade no ato impugnado.
Insurge-se ainda a Agravante contra parte da decisão em que o eminente
Ministro Gilson Dipp consignou que "Além de intuitivo é manifesto - pela descrição do
Município - que a Viação Cidade de Mauá tem seu centro de negócios nessa cidade, onde
tem seu principal concentrado empresarial de modo a indicar que a competência para sua
eventual recuperação judicial deveria fixar-se na comarca e no juízo de competência
específica respectivos, e não em Manaus/AM. "
Importante ressaltar que, de fato, a suspensão de segurança, que não se
confunde com via recursal ordinária, visa única e exclusivamente a sustar os efeitos da
decisão impugnada, não cassá-la. No entanto, o exame dos requisitos necessários para o
deferimento da contracautela, de modo a prevenir ou afastar grave dano à saúde, à segurança
ou à ordem e economia públicas, enseja a análise, ainda que superficial, dos aspectos
fático-jurídicos em tela.
No caso, mesmo não havendo notícia de impugnação da competência do juízo,
há de se convir que, pelo que consta nos autos, tudo leva a crer que o centro das atividades da
empresa não é em Manaus, mas em São Paulo. Logo, como concluiu o eminente Ministro
Gilson Dipp, a incompetência seria manifesta.
Sem embargo, para resolver a controvérsia nos estreitos limites em que está
sendo examinada, a questão se mostra secundária, porque há fortes e suficientes razões, já
declinadas, para manter o decisum .
Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo regimental.
É o voto.

Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 0 de 10

Potrebbero piacerti anche