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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EDUCAÇÃO INFANTIL: uma relação entre entes

federados

Cintia Falcão Brito – UEFS/Brasil – cinfaluefs@yahoo.com.br

RESUMO

Este artigo analisa o cenário atual da Política Nacional de Educação Infantil no que tange a
expansão do atendimento de crianças de zero a cinco anos e sua articulação entre os entes
federados, união e municípios. Para tal, foi feita identificação e análise de marcos legais e de
documentos oficiais referentes à educação infantil, bem como a análise de dados quantitativos
referentes ao atendimento. Por fim, descreve o desenvolvimento dessa Política atendimento
no município de Feira de Santana-Ba para compreender seus desdobramentos no âmbito da
política educacional municipal.

Palavras chave: Política educacional, educação infantil, Feira de Santana

1. Um breve percurso na legislação

Faz algum tempo que venho desenvolvendo interesse em aprofundar as questões que
envolvem as discussões sobre políticas públicas para educação infantil, especificamente, em
Feira de Santana-Bahia, tendo em vista que iniciei minha experiência como docente, no início
da década de 90 com esse segmento e, posteriormente, como técnica de secretaria municipal
de educação em setor específico responsável pela implantação de programas e projetos
voltados para formação de professores e apoio técnico-pedagógico às instituições que prestam
atendimento à educação infantil. Desse modo, possuo certa proximidade com as dificuldades
enfrentadas cotidianamente pelos sujeitos – crianças, professores e outros profissionais da
educação - que sofrem o efeito da materialidade das políticas públicas ou, até mesmo, da
ausência delas no interior das instituições.
Os problemas a serem enfrentados por aqueles – movimentos de educadores e sociais,
sindicatos, organizações, etc. - que militam em defesa de uma educação pública e de
qualidade para crianças na faixa etária de zero a seis anos são muitos. A consciência de
permanecer na militância em defesa da educação e políticas públicas efetivas para educação
infantil faz desses atores sociais os principais protagonistas nesse processo, cobrando do
Estado a responsabilidade pela garantia à educação como direito público subjetivo, conforme
rege nossa Constituição brasileira/1988 em seu Art. 208 - O dever do Estado com a educação
será efetivado mediante a garantia, inciso IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a seis anos de idade e ainda no que se refere à Carta Magna Art. 206, inciso I,
estabelecimento da garantia de ensino por do meio do acesso e permanência.

Além dessa importante determinação constitucional, nossa segunda Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB/9394/96) em seus artigos 29 e 30, definiu a educação infantil
como primeira etapa da educação básica e o tipo de oferta, creche e pré-escola, para as
crianças de até seis anos. Com promulgação da Lei nº 11.274/2006, que dispõe sobre a
duração de nove anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos seis
anos de idade, a educação infantil passou a ser de zero a três anos (creche) e quatro a cinco
anos (pré-escola). Mesmo com aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil, Resolução nº 05 de 17/12/2009, que definiu uma data corte para as crianças
na educação infantil, ficando estabelecido que as crianças que completarem seis anos após dia
31 de março deverão ter matricula assegurada nessa primeira etapa da educação básica. Desse
modo, as crianças que completam seis anos posteriormente a data corte, devem ter sua vaga
assegurada na pré-escola.

A garantia do direito à educação perpassa pela formulação e execução de políticas públicas


educacionais com o objetivo de promover atendimento de qualidade, o que implica por parte
para o poder público o planejar espaços e prover as instituições de mobiliários e de materiais
adequados às crianças na faixa etária de zero a seis anos, investir na formação dos professores
e gestores, elaborar diretrizes curriculares, dentre outras ações que vão requerer à destinação
de recursos públicos para a sua efetivação.

Constitucionalmente, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão


organizar em regime de colaboração seus sistemas de ensino, o que implica na definição de
políticas públicas de modo articulado e com a participação de todos os entes federados. A
questão é que na prática a implantação e a execução de políticas públicas, seu
acompanhamento e avaliação se restringem ao aspecto meramente formal, com o
estabelecimento de órgãos de controle social, ficando às decisões finais sob égide e
determinação dos gestores municipais quanto à expansão do atendimento de educação infantil
no municípios.

A Carta Magna brasileira prevê percentuais mínimos de 18% pela União e 25% pelos estados
e municípios aplicados à educação. Complementarmente, a Emenda Constitucional nº
53/2006, regulamentada pela Lei 11.494/2007, criou o Fundo de Manutenção da Educação
1
Básica – Fundeb, em substituição ao Fundef , que financiou durante oito anos a
universalização do ensino fundamental como meta prioritária de atendimento para a educação
básica. Embora o Fundeb seja insuficiente, apresenta-se como um avanço significativo do
ponto de vista do dispositivo legal, pois garante os recursos para educação infantil.

A oferta e a manutenção dessa modalidade de ensino comportam um regime de colaboração


envolvendo o poder público municipal, tendo a educação infantil como uma de suas ações
prioritárias e, subsidiariamente, os poderes públicos estadual e federal. Na distribuição dos
recursos são consideradas as matrículas nas escolas públicas e conveniadas, apuradas no
último Censo Escolar realizado pelo MEC/INEP2. Assim como está assegurada na LDB
9394/96, em seu art. 11º, inciso I, a competência dos municípios de fazer a organização, dar
manutenção e promover o desenvolvimento dos órgãos e instituições oficiais dos seus
sistemas de ensino, em regime de colaboração, através da integração entre as políticas e
planos educacionais da União e dos Estados e, no inciso V, a oferta de educação infantil.

Uma questão que se apresenta é que o poder público municipal tem negligenciado quanto à
promoção desse atendimento, ao ignorar o que está definido constitucionalmente e, com
caráter complementar e específico, pela nova LDB. Considerando o que já se tem assegurado
nos diferentes dispositivos legais que tratam desse atendimento, de diretrizes curriculares,
bem como no que tange ao financiamento à destinação de recursos através do Fundeb/2007,
somente a garantia legal e normativa não é indicativo de que os municípios têm assegurado
atendimento às crianças na faixa etária de zero a seis anos.

1
Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental, que vigorou de 1998 a 2006 .
2
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.
A Lei 10.172/2001 que instituiu o Plano Nacional de Educação para o decênio 2001-2011
definiu como uma de suas metas para educação infantil a ampliação da oferta de educação
infantil de forma a atender, em dez anos, de 50% das crianças de zero a três anos e 80% para
as de quatro e cinco anos e; a adequação das instalações físicas para instituições de educação
infantil, públicas e privadas, respeitando as diversidades regionais, de modo a assegurar
atendimento das características das distintas faixas etárias e das necessidades do processo
educativo. Vale ressaltar que essas metas não foram atingidas pelos municípios, sob alegação
de que não dispunham de recursos para promoção e manutenção desse tipo de atendimento.
Com a canalização de recursos para a educação infantil no Fundeb, abriu-se a perspectiva para
que os municípios pudessem realizar a ampliação da oferta para essa etapa.

Um fator relevante nesse processo e que merece atenção por parte dos atores sociais que
militam em defesa da educação infantil é que os municípios que mantiam em suas redes
vínculo com instituições privadas sem fins lucrativos3, recebiam apoio técnico e financeiro
para o provimento de educação infantil para atendimento de creche, estiveram subordinadas
às secretarias municipais de desenvolvimento social até aprovação do Fundeb, protelando à
assunção desse nível ensino pelas secretarias municipais de educação.

As diretrizes e metas previstas pelo PNE anterior, em vigência até 2011, não foram atingidas
pelos municípios nos últimos dez anos. O novo Plano Nacional de Educação4 prevê para
educação infantil a meta de universalização do atendimento para quatro e cinco anos (pré-
escola) até 2.016 e de zero a três anos (creche) cinqüenta por cento até 2.020. Vale salientar
que das nove estratégias propostas, a primeira se refere novamente ao regime de colaboração
entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios para expansão das redes públicas de
educação infantil segundo padrão nacional de qualidade e a segunda, se refere à manutenção e
aprofundamento do programa nacional de reestruturação e aquisição de equipamentos para a
rede escolar pública com a finalidade para expansão e melhoria da rede.

3
O vínculo com o poder público se dava através de contrato de convênio, onde ficavam estabelecidas as
contrapartidas entre as partes interessadas.
4
Projeto de Lei 8.035/2010 enviado ao Congresso Nacional, aprovado na Câmara Federal e em discussão no
Senado Federal.
Considerando a importância dessa temática tendo em vista que a educação infantil, enquanto
primeira etapa da educação básica tem sido foco de atenção das políticas públicas para
educação, pode-se problematizar: Que ações efetivas têm sido implementadas pelos entes
federados, união e municípios, no sentido de garantir o direito às crianças de zero a seis anos à
educação infantil?

Para responder essa questão proponho explicitar a atual política nacional para educação
infantil no que se refere ao atendimento e seus desdobramentos no âmbito municipal, em
atenção ao Proinfância.

2. Políticas de atendimento para educação infantil: alguns desdobramentos

A luta pela educação infantil de qualidade e como direito de toda criança na faixa etária
ganhou maior força na década de 70, quando estudos e pesquisas sobre as políticas
implementadas pelo Estado possuíam um viés compensatório que visavam à reposição de
carências culturais e nutricionais das crianças. Sobre isso, afirma Kramer (2006),

Nos anos de 1970, as políticas educacionais voltadas à educação de


crianças de 0 a 6 anos defendiam a educação compensatória com
vistas à compensação de carências culturais, deficiências lingüísticas e
defasagens afetivas das crianças provenientes das camadas populares.
Influenciados por orientações de agências internacionais e por
programas desenvolvidos nos Estados Unidos e na Europa,
documentos oficiais do MEC e pareceres do então Conselho Federal
de Educação defendiam a idéia de que a pré-escola poderia, por
antecipação, salvar a escola dos problemas relativos ao fracasso
escolar. (p.799)

Nesse sentido, a educação infantil ocupou o lugar de salvadora das desigualdades sociais e
educacionais, uma vez que também deveria cumprir a função de preparar as crianças para o
ingresso no primário. Ainda segundo essa autora, os estudos contemporâneos da antropologia,
sociologia e da psicologia contribuíram para compreender que as crianças foram submetidas a
uma situação desigual e que por isso considerar as diferenças e combater a desigualdade se
torna uma tarefa difícil, mas necessária quando se visa concretizar a democracia, em
contraposição à injustiça social e à opressão.

Os anos 90 são considerados pelos especialistas, pesquisadores e militantes dos movimentos


como o período da garantia de direitos às crianças na Constituição Federal (1988) e o Estatuto
da Criança e do Adolescente (1990), bem como a aprovação de LDB (1996). No entanto,
como sinalizam Campos e Haddad (1992, p.19) os direitos reconhecidos para as crianças
menores de sete anos não foram assegurados, tendo em vista que não houve previsão
orçamentária em relação à fonte específica de financiamento da educação. Ou seja, garantiu-
se o direito de ter educação pública assegurada pelo Estado, contudo não se deu as condições
materiais objetivas para que este fosse efetivado.

Nos últimos anos 20 anos, o Ministério da Educação vem publicando documentos oficiais a
fim de nortear os sistemas municipais de educação na elaboração de sua proposta pedagógica
e/ou curricular, na formação inicial e continuada dos professores, no credenciamento e
funcionamento de instituições, parâmetros de qualidade para educação infantil e para infra-
estrutura das instituições, bem como outros que estabelecem a Política Nacional de Educação
Infantil (1994 e 2006). Outros documentos de caráter normativo, resoluções e pareceres, têm
sido divulgados pelo Conselho Nacional de Educação, a exemplo das Diretrizes Curriculares
Nacionais de Educação Infantil (1999 e 2009) com a finalidade de orientarem os sistemas
municipais de ensino na elaboração de sua política pública local. Vale salientar que esses
marcos legais e documentais não serão objeto de análise desta discussão e que, portanto, a
referência feita a esses documentos foi no sentido de indicar algumas publicações realizadas
até o presente momento.

No que tange as ações da união os municípios, no âmbito da política nacional de educação


infantil em articulação com a política municipal, desde 2006, o MEC/FNDE5 vem
estabelecendo convênios com as secretarias municipais de educação com o objetivo de
expandir nas redes públicas o atendimento de educação infantil. Tal ação política tem se dado
por meio do Proinfância, um programa de assistência financeira ao distrito federal e aos

5
Ministério da Educação/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.
municípios para a construção de novas instituições creches e pré-escolas e para aquisição de
equipamentos e mobiliários. Para sua execução, estes deverão informar ao MEC/FNDE de seu
interesse em se “beneficiar” com tal Programa, disponibilizar área para construção das
instituições e apresentar projeto técnico. O projeto arquitetônico segue um modelo padrão e
são de duas espécies: tipo B e C para atendimento, respectivamente, de 120 e 240 crianças,
em tempo integral, na faixa etária de zero a cinco anos.

A questão que se coloca diante de tal ação política é que os municípios aderem ou não ao
programa como se fosse uma opção ofertar atendimento e prover as redes públicas com
instituições de educação infantil. Ademais, critérios não muito claros utilizados pelo
MEC/FNDE têm priorizado alguns municípios em detrimento de outros, bem como para o
tipo de classificação em três grupos A, B e C. Alguns municípios têm sido contemplados em
decorrência da adesão ao Plano de Ações Articuladas/MEC e ao PAC26.

Segundo dados do MEC/SIMEC7 (2013), no Brasil existe uma demanda populacional de


16.728.147 de crianças na faixa etária de zero a cinco anos fora do sistema de ensino. Com
isso há um déficit de 19.770 creches em todo o território nacional. Ainda segundo essa mesma
fonte, para o biênio de 2012-2014, são ofertadas 4.943 creches e aprovadas 1.507 perfazendo
um total de 6.450, aproximadamente um terço do que ainda é necessário para promover a
universalização da educação infantil. No nordeste, os dados ainda são mais alarmantes com
uma população de 5.131.322 crianças excluídas do sistema, estando com um déficit 6.564
creches, com uma oferta para construção de 1.648 instituições, mas com aprovação de 477, o
que evidencia um distanciamento muito grande entre o número de instituições que é
demandado pelo MEC, as que instituições aprovadas e as que são efetivamente construídas
nos municípios.

Um primeiro aspecto a ser observado é que muitos municípios recebem o recurso para
construção e as obras ficam inacabadas em decorrência de problemas técnicos com o terreno
e/ou projeto, bem com as empresas que executarão as obras. O segundo diz respeito ao
próprio desvio de recursos para outras ações. Vale salientar para que possam receber o
financiamento para compra de mobiliários e equipamentos, bem como a liberação de novas

6
Programa de Aceleração do Crescimento
7
Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle
instituições é necessário que o gestor público informe ao MEC/ FNDE, o andamento da obra,
fator que considero relevante nesse sentido, pois obriga os municípios prestarem contas de
suas ações na execução desse Programa, embora isso não tenha assegurado o cumprimento
dos termos de convênio entre os entes federados e a conclusão das obras.

Não há dados qualitativos que indiquem o alcance do Proinfância nos municípios, e mesmo
estando este em construção, implantação não seria possível concluir o impacto de tal política
nesse momento. Contudo é possível constatar que como uma das ações da Política Nacional
de Educação Infantil, o cenário de expansão desse atendimento está muito distante do que
preconizam os documentos orientadores e a legislação. Sobre esse aspecto algumas
considerações são pertinentes.

No que tange a expansão do atendimento, a primeira consideração que faço diz respeito à
aprovação da Lei Federal nº 12.796 de 04/04/2013 que altera a LDB e torna obrigatória a
matrícula das crianças de 4 e 5 anos, a ampla maioria dos municípios brasileiros não se
prepararam para a expansão do número de vagas e com isso estão negligenciando o
atendimento das crianças de zero a três anos.

Outra consideração importante é que na distribuição das instituições dentro dos limites
territoriais do próprio município, a oferta e aprovação de instituições tem se restringido aos
bairros localizados zona urbana, ficando excluída desse processo a demanda populacional das
crianças de zero a cinco anos da zona rural.

Uma terceira consideração está em discutir a continuidade dessa Política nos municípios, uma
vez que iniciada com a construção e criação de novas instituições, não se tem garantia que se
efetivará. Para isso, é condição indispensável que diretrizes políticas e ações concretas sejam
estabelecidas em seus planos municipais de educação voltadas para: qualificar,
profissionalizar e valorizar os profissionais que atuam na educação infantil, assegurados em
seus planos de cargos e carreira; suprir as instituições de materiais e equipamentos de
qualidade sempre que for necessário; dar apoio técnico às equipes gestoras quanto à
elaboração de sua proposta pedagógica e avaliar a política municipal de educação infantil.

É nesse sentido que Hofling (2001, p.31) ao definir o papel do Estado na implementação de
políticas públicas como àquele que implementa um projeto de governo, através de programas,
com ações voltadas para setores específicos da sociedade, enquanto política social, como é o
caso da educação, de responsabilidade do Estado – mas não pensada somente por seus
organismos. Desse modo, para essa autora, o Estado não pode ser reduzido à burocracia
pública, aos organismos estatais que conceberiam e implementariam as políticas públicas,
pois estas são compreendidas como de responsabilidade do Estado, contudo sua
implementação e manutenção se darão a partir de um processo de tomada de decisões que
envolvem órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da sociedade relacionados à
política implementada.

Desse modo, a participação histórica da sociedade civil, dos movimentos, sindicatos,


associações de pais na proposição, acompanhamento e avaliação das políticas públicas
implantadas pelo Estado se tornou fundamental, uma vez que tem sido a atuação desses atores
sociais a principal responsável pela cobrança do poder público no cumprimento de suas
obrigações com a educação pública.

Saviani (1997) ao discutir os objetivos proclamados na LDB/96 e os objetivos reais, mesmo


no aspecto mais geral, nos ajuda compreender os desdobramentos das políticas públicas
estabelecidas no âmbito da legislação nacional e sua efetivação com relação à educação
infantil. Segundo o autor, os objetivos proclamados apontam as finalidades gerais da
educação, quais as intenções últimas, à medida que os objetivos reais indicam os alvos
concretos das ações, Sobre isso ainda afirma:

Enquanto os objetivos proclamados se situam num plano ideal onde o


consenso, a convergência de interesses é sempre possível, os objetivos
reais situam-se num plano onde se defrontam interesses divergentes, e
por vezes, antagônicos, determinando o curso da ação as forças que
controlam o processo (SAVIANI, 1997, p. 190).

Como se pode constatar a partir do que foi explicitado anteriormente temos uma Carta Magna
e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que preconizam o dever do Estado em
ofertar educação pública de qualidade, concebendo à criança como sujeito de direitos.
Contudo, assegurar esse direito implica na implantação de políticas educacionais pelo Estado
com a participação de segmentos da sociedade civil, com a necessária articulação entre os
entes federados - união, distrito federal, estados e municípios - para que os objetivos
proclamados para essa etapa da educação básica possam ser efetivados.

3. Políticas públicas para educação infantil em Feira de Santana

A cidade de Feira de Santana, também, denominada de Princesa do Sertão é a segunda maior


cidade do estado da Bahia e por sua importância geográfica se tornou uma das principais vias
de circulação e ligação entre os demais estados do nordeste, região norte e as regiões sudeste e
centro-oeste. Esse fato tem contribuído para o fortalecimento de sua economia local, baseada
no crescimento da indústria e do comércio. Tal significância posiciona esse município como o
segundo maior pólo industrial do estado e, segundo IBGE8 (2013), com maior população
depois da capital Salvador, 556.756 habitantes. Desde 2011, que este município passou a
constituir a Região Metropolitana de Feira de Santana, através da Lei Complementar nº 35,
juntamente com Amélia Rodrigues, Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, São Gonçalo
dos Campos e Tanquinho, com vistas de organizar, planejar e executar funções públicas e
serviços de interesse comum.

Analisando mais especificamente a realidade da educacional neste município, e ainda me


utilizando do banco de dados do MEC/SIMEC (2013) para compreender a política municipal
de educação infantil neste município no que se refere à população de crianças de zero a cinco
anos, Feira de Santana possui 49.700 crianças, sendo que destas apenas 15.433 estão sendo
atendidas em instituições de educação infantil. Caracterizando melhor esse atendimento é
possível constatar que das 16.582 crianças de 4 a 5 anos, 14.092 estão na pré-escola e das
33.118 de 0 a 3 anos 31.977, ou seja, 91,3% estão excluídas desse atendimento.

Dados do Proinfância informam que existe um déficit global de 81 instituições de educação


infantil, sendo que destas 27 instituições foram propostas pelo MEC e, apenas, mais 01
aprovada até o momento. Outros dados também informam que em 2007 foi aprovada a sua
primeira instituição, tendo suas obras iniciadas em 2009 e até o dado momento esta não se

8
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
encontra em funcionamento. Problemas de ordem técnica com o terreno e na execução da
obra impossibilitaram sua conclusão.

Tais informações explicitam de forma breve o cenário da Política Municipal de Educação


Infantil em Feira de Santana, mas que apontam algumas considerações, que mesmo com a
expansão do atendimento de 4 e 5 anos, existe uma demanda muito grande por atendimento
de zero a três, exigindo que ações concretas sejam realizadas a fim de preencher essa lacuna.
A questão do financiamento é crucial, pois mesmo com o Fundeb alguns municípios
dependem da complementação dos estados e da união para que possam garantir o mínimo
estabelecido pela Constituição. Segundo as autoras Nunes; Corsino (2011),

O panorama municipal atual é muito díspare, pois são desiguais as


condições sociais e econômicas dos municípios brasileiros. Tal
disparidade se coloca no tipo de oferta de ensino – creche, pré-escola,
fundamental e médio -, no número de matrículas, na categoria
administrativa dos estabelecimentos e, também, na qualidade da oferta
– na formação docente, equipamentos físicos e pedagógicos (...)(
p.336).

Vale ressaltar que a defesa em torno do atendimento não deve se reduzir ao aspecto
meramente quantitativo, mas qualitativo também. Ao se explicitar e defender ao longo desse
trabalho à necessidade de expansão de vagas para a educação infantil, com isso não é
admissível que permita o acesso sem se dar as condições para permanência das crianças
nessas instituições com a devida preparação dos profissionais que nelas atuam. As condições
de implementação de tal política, principalmente financeira, é fator indispensável para
promover educação infantil de qualidade. A ampliação da rede requer por parte dos
municípios planejar em seus orçamentos a rubrica necessária para o cumprimento de tal meta.
Apenas elaborar o Plano Municipal de Educação não é suficiente, é preciso que este esteja
articulado com o orçamento municipal.

Ainda segundo Nunes e Corsino (2011) ao discutirem a mudança das políticas públicas de
cunho universalistas, voltadas para integralidade e universalidade das políticas sociais e da
garantia do direito de todos os cidadãos, e as residualistas, onde o Estado atende a uma
parcela mínima da população, marcada historicamente pela exclusão ou pobreza, e os que
podem pagar que têm o mercado como provedor de suas necessidades, através da prestação de
serviços nos indicam a necessidade de repensar quais políticas têm sido propostas e com base
em que modelo têm sido sustentadas. Sendo assim, é fundamental considerar que a
Constituição brasileira de 1988 postulou as políticas sociais – política educacional - com uma
tendência universalizante, mas em decorrência das condições políticas e econômicas, essas
políticas tenderam a seguir um viés residualista. A sociedade civil reivindica mudanças por
políticas universalistas voltadas para a inclusão de todas as crianças, mas o poder público
central, nas mais diferentes esferas, união, estados e municípios insistem em promover
políticas residualistas que pouco contribuem para efetivação dos direito e garantia da
educação como valor público e jurídico.

Com efeito, é possível perceber que existe um distanciamento muito grande entre o que é
preconizado nos documentos oficiais e diretrizes políticas educacionais implementadas pelos
governos e o que acontece no cotidiano das instituições. Sobre o aspecto da legislação e das
políticas nacionais de educação infantil em sua relação com realidade Campos (2005) afirma
que “O divórcio entre a legislação e a realidade, no Brasil, não é de hoje. Nossa tradição
cultural e política sempre foi marcada por essa distância, e, até mesmo, pela oposição entre
aquilo que gostamos de colocar no papel e o que de fato fazemos na realidade” ( p. 27).

É no processo de tomada de decisão e definição das diretrizes políticas que transparecem as


reais intenções dos governos com relação à educação infantil, pois na maioria das vezes não
há definição de critérios claros de qualidade condizentes com os interesses e as necessidades
das instituições. Muitas vezes as ações decorrem de “práticas políticas marcadas pelo
partidarismo, paternalismo, com freqüentes rupturas no processo de organização da gestão.
Esses aspectos se combinam com a distância existente entre intenções e ações concretas
praticadas pelos gestores da Secretaria (...)”. (KRAMER; NUNES, p. 440).

Ao analisarem os impactos da gestão, no âmbito das secretarias, na qualidade do trabalho na


educação infantil, Kramer e Nunes (2007, p.440) afirmam existir “(...) uma série de intenções
por parte dos gestores, pela ausência de uma política de atendimento à educação infantil, não
são traduzidas em ações voltadas para os professores, as crianças e a escola (...). Essas
intenções, muitas vezes se distanciam dos objetivos proclamados e refletem e a cultura da
fragmentação política e suas implicações trazem prejuízos na organização da própria
Secretaria e na formulação de novas diretrizes políticas.
Vieira (2001) ao analisar as políticas e suas bases no direito educacional, afirma que o Brasil
após 1988, vive um período de existência do que chama de Política social sem direitos sociais,
o que implica a necessidade de se efetivar o Estado de direito democrático, além do voto é
preciso se garantir a soberania popular, componente básico para se exercer o controle social
da administração pública.

A vida política brasileira herdou, sem o saber, uma tradição repressiva que concentra nos
governantes todas as políticas públicas, em especial a educação. E as retira da sociedade, dos
grupos, dos movimentos, dos indivíduos. Trata-se de um velho problema jurídico e político:
quem é o soberano? A democracia define-se como a forma de poder em que o povo é
soberano. No Brasil, fingimos seguir essa forma de mando, mas na realidade ao nosso povo a
soberania é recusada, sempre em proveito de oligarquias e dos que ocupam os três poderes
formais do Estado. Sem direitos coletivos, detidos pelo povo soberano, é impossível até o
presente manter direitos subjetivos.

Caminhando para finalização é necessário compreender que é na busca efetiva da


concretização dos objetivos reais estabelecidos em diretrizes e metas que as ações se
materializam na implantação de políticas educacionais. Ao LDB/96 definir a educação infantil
como competência dos municípios, a relação entre os objetivos proclamados e os objetivos
reais devem expressar a articulação das políticas educacionais entre os entes federados com
atenção para a educação infantil como dever do Estado.

Isso significa afirmar que os discursos políticos e as formulações jurídicas, asseguradas


constitucionalmente definem a estrutura de poder do Estado brasileiro que concentra em si o
poder de mando e controle das políticas e dos direitos. Enfim, a reiterada recusa de efetivar a
democracia das instituições, relações e práticas nas definições de políticas e o efetivo
exercício da soberania popular. Mais que reivindicar a garantia de direitos por parte do Estado
é fundamental fazer valer o exercício pleno da participação, da democracia.

Documentos

BAHIA. http://governo-ba.jusbrasil.com.br/legislacao/1028289/lei-complementar-35-11
BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Da Educação Infantil, Lei n.
9394, D.O U. de dez. de 1996.
BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria de Educação
Fundamental. Política Nacional de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF/COEDI, 1994.
BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Política Nacional de
Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos à educação. Brasília: MEC,
SEB, 2006.
BRASIL. Plano Nacional de Educação (n.10.172). Brasília, 2001.
Lei n. 11.274 de 06/02/2006 – Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo
sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a
partir dos 6 (seis) anos de idade. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm
Lei n. 11.494 de 20/06/2007 - Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da
Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Lei/L11494.htm.
Lei n. 12.796 de 04/04/2013 - Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências. Disponível
em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm
Resolução CNE/CEB 5/2009. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de dezembro de 2009,
Seção 1, p. 18.

Referências

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