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FÓRUM DE DEBATES SOBRE SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS 2003

Área temática VI:


Operação do Sistema; relaciona-se aos instrumentos operacionais e processos vigentes
Tema: Difusão e divulgação de informação no Setor de Saúde Suplementar

Rio de Janeiro, 2003

Saúde suplementar; ANS e informação

Regina Celia Montenegro de Lima*


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO
INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, IDENTIDADE CULTURAL E ANS
O ESTADO: SOCIOLOGIA, COMUNICAÇÃO, PARADIGMAS E MODELOS
REVISÃO DE LITERATURA ESPECÍFICA
LEI n.º 9.656, LEI n.º 9.961, LEI n ° 10.185
A REGULAÇÃO NO MERCADO DE PLANOS DE SAÚDE
ESTRUTURA ECONÔMICA DA ASSISTÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR NO
BRASIL
OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE; GESTÃO EMPRESARIAL
REGULAÇÃO DO SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR; ASPECTOS JURÍDICOS
ALGUNS PONTOS FUNDAMENTAIS E/OU POLÊMICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Felizmente, uma nova consciência está se estabelecendo no espírito de grande


número de pessoas. Ela inspira uma outra maneira de encarar ciência, filosofia, arte
e religião. Este é um momento de síntese, integração e globalização. Nesta fase, a
humanidade é chamada a colar as partes que ela mesma separou nos séculos em
que se submeteu à ditadura da razão.
Pierre Weil
_____________
* Professora Doutora em Comunicação e Cultura - Escola de Comunicação - ECO/ UFRJ
LIMA, Regina Celia Montenegro de. Saúde suplementar; ANS e informação. Rio de Janeiro: ANS, 2003. 49 p.

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RESUMO

A interpretação da realidade inclui velhas e novas idéias. Informação afeta o


universo cultural, político e econômico provocando mudanças de comportamento. Para
traçar objetivos e realizar atividades é imprescindível saber diretrizes, filosofia e missão da
instituição a que se está subordinado e conhecer sistema, ambiente e cliente. Informação
deve dar visibilidade, publicidade e transparência a procedimentos, auxiliar no andamento
dos trabalhos e propiciar bem estar social atendendo interesses, necessidades e desejos
do cidadão. Sugestões de técnicas da ciência da informação apontadas visam otimizar
resultados; a organização da informação é vital como recurso de grande poder para se
lidar com dados e conhecimentos. A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS deve
promover o relacionamento efetivo entre os envolvidos e reunir, organizar, consolidar,
promover e divulgar informação, multiplicar conhecimento, propiciar visibilidade,
garantir direitos e deveres, exercendo sua prerrogativa de órgão regulador e fiscalizador
de Saúde Suplementar. O Governo quer dialogar com os setores envolvidos e
compartilhar decisões para organizar a oferta de serviços de saúde e reduzir
discrepâncias. Para a ANS o importante é corrigir as imperfeições do mercado e a
assimetria de informações, equilibrar forças e propiciar condições de acesso à Saúde
Suplementar para a população brasileira.

ABSTRACT

A new way to see reality includes old and new ideas. Information changes the
cultural, political and economical worlds, changing the behavior of people. To design
objectives and to do things we must know the institution‘s philosophy and mission
and know as well the system, the environment and the user. Information must show
the proceedings, in order to help the work and attain to needs, necessities and wishes
of the citizen. Suggestions of information science techniques are showed in order to
maximize results; the organization of information is vital as a powerful resource to
deal with data and knowledge. The ANS must promote relationship between all
partners and do the consolidation, management and selective dissemination of
information. The government wishes to dialog with persons and decision makers

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involved. The ANS wants to correct the actions and permit access to health for the
Brazilian people.

APRESENTAÇÃO

O universo de saúde suplementar envolve a Agência Nacional de Saúde


Suplementar – ANS, o Ministério da Saúde e outras instituições do Governo,
operadoras de planos de saúde, seguradoras na área de saúde, prestadores de
serviços de saúde - empresas, médicos e outros profissionais - e os consumidores
usuários dos planos privados de saúde. A saúde envolve também, e entre outros, os
agentes do Sistema Único de Saúde –SUS, o sistema de saúde básica, o Programa de
Saúde da Família - PSF, o sistema de saúde complementar e profissionais autônomos.
O volume e a velocidade da informação afetam o universo cultural, político e
econômico provocando mudanças de comportamentos de indivíduos, instituições e
comunidades. Como o valor de um objeto não é seu valor intrínseco, mas o que lhe é
atribuído, a sobrevivência de bens culturais, além de depender de seu valor intrínseco,
depende também da importância que se lhe atribuí, de sua utilidade para aquele a quem
se destina, bem como de sua validade para o desenvolvimento da sociedade.
É necessário estabelecer elos de ligações entre diferentes informações existentes a
fim de que ANS, operadoras de planos de saúde, prestadores de serviços e consumidores
usuários troquem informações que contribuam para corrigir imperfeições do mercado em
uma gestão transparente com maior intercâmbio de conhecimento sobre direitos e
deveres de cada um.
Para traçar um objetivo ou realizar uma atividade é imprescindível saber as
diretrizes, a filosofia e a missão da instituição a que se está subordinado e questionar:
quem? diz o que? para quem? quando? como? por que? para que?
O objetivo do texto aqui apresentado é ressaltar a importância de informar e se
comunicar com os entes envolvidos nos processos da saúde suplementar. Informar
para dar visibilidade, publicidade e transparência aos procedimentos, a fim de auxiliar
no bom andamento dos trabalhos e propiciar bem estar social com o atendimento de
interesses, necessidades e desejos fundamentais do cidadão brasileiro.

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A informação relevante, adequada e pertinente deve chegar ao destinatário no
momento certo e como resposta a seus interesses, demandas, necessidades, desejos
e questionamentos.
Neste trabalho, para formular e apresentar informações adequadas estão sendo
reunidos conhecimentos anteriores com aqueles obtidos na legislação, em obras de
referência sobre saúde suplementar, em documentos produzidos por e para a ANS, em
periódicos, consulta a especialistas e a usuários. Esta busca inclui entrevistas a
funcionários da ANS, consultas ao site da ANS e a outros documentos no meio eletrônico,
revisão de literatura especializada que reúne bibliografia especializada e documentos tais
como Contrato, Resoluções, Leis, Portarias e Relatórios. As Referências Bibliográficas
estão arroladas ao final deste documento.
Nesta apresentação são destacados alguns itens estudados na revisão de literatura:
- Lei n.º 9.656, de 3 de junho de 1998, dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde.
- Lei n.º 9.961, de 28 de janeiro de 2000, cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar
ANS.
- Lei n ° 10.185, de 12 de fevereiro de 2001, dispõe sobre a especialização das
sociedades seguradoras em planos privados de assistência à saúde.
- BARONE, Sônia Regina de Mesquita. A regulação no mercado de planos de saúde: a
ação do consumidor e a estratégia da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. 1ª
versão. Prof. Orientador Dr. Hermano Thiry-Cherques. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 2003. 14 9 p. (Dissertação de Mestrado Executivo em fase final de elaboração
para ser apresentada à EBAPE / FGV).
- KORNIS, George Edward, CAETANO, Rosângela. Regulação e saúde; estrutura,
evolução e perspectivas da assistência médica suplementar. In: BRASIL. Ministério da
Saúde. Dimensão e estrutura econômica da assistência médica suplementar no Brasil..
Rio de Janeiro: ANS, 2002.
- LIMA, Clovis Ricardo Montenegro de. Oportunidades estratégicas para operadoras de
planos de saúde. 1ª versão. Rio de Janeiro: IBRE/CEA, 2003. 125 p. (Apostilha do Curso
de Aperfeiçoamento. Gestão empresarial em operadoras de plano de saúde. FGV/IBRE).
- VILHENA, Flavia Medina. Regulação do setor de saúde suplementar: aspectos
jurídicos. 1a versão. Rio de Janeiro: IBRE/CEA, 2003. 120p. (Apostilha do Curso de
Aperfeiçoamento. Gestão empresarial em operadoras de plano de saúde. FGV/IBRE).

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Fazer uso de literatura primária é aproveitar os esforços já realizados para obter
menor dispêndio, maior rendimento e maximizar resultados nas relações de mercado
quando se realizam as trocas entre quem gera serviços e produtos e quem os
usa/consome.
É princípio básico de administração somar esforços para otimizar resultados e evitar
desperdício. É preciso desmistificar não apenas no sentido do certo e errado, mas sim no
sentido de superação para novos enfoques em novas realidades. Destaca-se a importância
de refletir sobre idéias, ordenar pensamentos e promover rupturas em direção ao novo
no campo da comunicação, em transgressão que permita compreender a atividade
intelectual como uma aventura sem limites, sem temor do caos e da confusão.
É preferível uma confusão bem ordenada do que certezas insustentáveis, pois não
se pode arrebatar ao mundo seu caráter mutável, inquieto e enigmático. É princípio básico
de comunicação que a mensagem deve ser codificada de tal forma que o destinatário seja
capaz de decodificá-la, assimilá-la e usá-la. Este modelo enfatiza os meios e procura
trabalhar processos com variáveis contextuais e com conceitos de categorias sociais e
diferenças individuais.
Conforme WEIL (1993. p. 21), é a própria ciência moderna que começa a exigir o
surgimento de uma nova consciência. Incapazes de responder às questões que eles
mesmos formulam, muitos físicos saem em busca da psicologia, da religião e das mais
importantes tradições da humanidade. Este encontro entre ciência moderna, estudos
trans-pessoais e as tradições espirituais constitui o que se chama de visão holística. Nesta
visão o todo é compartilhado, todos os elementos são interrelacionados e igualmente
importantes. Na visão holística nenhum elemento pode ser considerado isolado do seu
contexto ou do processo.
Conforme SILVA (março 2003), Humberto Costa, Ministro da Saúde, declara que as
mudanças que venham a ser feitas para ajustar a Lei 9.656/ 98 vão depender de ampla
discussão com os segmentos envolvidos. Para isso, o Governo está organizando um
fórum de debates com a finalidade de analisar a legislação dos planos de saúde e apontar
as falhas que precisam ser corrigidas. O Ministro confirma que apesar dos esforços já
empreendidos o serviço ainda não agrada plenamente a população. Consumidores
sentem-se lesados porque muitos contratos não cumprem as obrigações previstas em Lei.
Operadoras reclamam que as exigências legais aumentam custos e os prestadores de
serviço sentem-se mal remunerados. A partir do fórum de debates e avaliação da saúde

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suplementar vai ser possível consolidar critérios de regulação aceitos em consenso e que
possam ser cumpridos por todo o setor. O objetivo do Estado é organizar a oferta de
serviços de saúde para reduzir discrepância e, para tanto, é enfatizada a posição do
Governo de dialogar com os setores envolvidos e compartilhar decisões.

INTRODUÇÃO

Um novo modo de vida está mudando as paisagens culturais de saúde,


educação, classe, emprego, moradia, gênero, sexualidade, família, etnia, raça e
nacionalidade. Mudanças contínuas, rápidas e abrangentes podem levar a uma forma
altamente reflexiva de vida onde as práticas sociais podem ser reforçadas ou
modificadas à luz de informações e experiências. Os limites de espaço e tempo estão
se modificando e estamos no olho de um furacão onde é difícil conceituar, definir e
oferecer afirmações conclusivas, pois mudanças acarretam novas mudanças em
equilíbrio dinâmico.
Conforme BRONOWSKI (1977. p. 124 ), o conteúdo de todo o conhecimento é
empírico e seu teste é a eficácia sendo importante compreender isto para aprender a
agir a partir dessa compreensão.
Conscientes de que nenhuma cultura ou período da história obteve todas as
respostas, pretende-se reunir a sabedoria coletiva do passado e do presente. Para
evitar a miopia intelectual é importante reunir de uma forma holística, o saber que
coincidências significativas colocam em evidência no momento da busca. Por exemplo,
um artigo de jornal que coloca mais um ponto importante para o trabalho em
elaboração, como é o caso da entrevista à Míriam LEITÃO (2003), em que Lisboa
afirma que sem inclusão o país não cresce. Inclusão é estar participando de uma
identidade, é não ser excluídos do grupo.
Marcos Lisboa, um técnico atuando como Secretário de Política Econômica da
Fazenda, diz: “Em qualquer país desenvolvido do mundo, há sempre uma mistura
entre políticas universais e políticas focalizadas para os grupos mais frágeis. Desenhar
políticas especiais para os mais vulneráveis deve ser preocupação de todo governo,
sobretudo de um governo de esquerda.”

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A ANS é resultante de transformações do Estado e surge como resposta à
necessidade de criar competências para atender as demandas da sociedade. O cenário
atual com a nova tecnologia, a revolução nos conceitos de tempo e espaço e com a
redução do tamanho do Estado apontam para mudanças nas relações entre grupos.
Estão sendo revistos os objetivos e a missão das instituições e a ANS está sendo obrigada
a rever seu papel como agente político incumbido de regular relações e ações que visam
promover saúde suplementar e bem-estar social.
Percebe-se que o futuro, ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, não
acontece por acaso. É construído com base nas percepções sobre o presente e nas ações
de resposta a essas percepções. As opções adotadas hoje são a base das realizações de
amanhã.
Em uma sociedade condicionada ao raciocínio causal, é difícil libertar-se de
atitudes adotadas habitualmente. Mas, é preciso descartar modelos de realidade
ultrapassados e adotar a teoria que anima a nova física e a pesquisa ambiental. Nos
novos paradigmas nenhum elemento pode ser considerado isolado do seu contexto ou
do processo, desde a origem até o destino. Todos os elementos são interrelacionados
e complementares. Daí a necessidade de planejar e redefinir continuamente
considerando as inovações e mudanças que ocorrem em relação a setor, ambiente e
destinatário.
No caso do setor de saúde suplementar, o sistema saúde é onde a ANS pode
atuar, principalmente ouvindo as partes, pesquisando, divulgando e regulando
relações. O ambiente é o entrono/contexto e se constitui em circunstâncias a serem
consideradas no planejamento e na ação. O consumidor usuário do sistema, é aquele
a quem os serviços e produtos se destinam e a quem fornecedores e parceiros devem
satisfazer em seus interesses, desejos e expectativas. A oferta só existe se e quando
existe demanda, o cliente é a razão de ser da empresa que não sobrevive sem ele.
O otimismo de idéias como as de A conspiração aquariana, FERGUSON (1995),
é uma afirmação das possibilidades da vida. Conspirar, respirar junto em uma grande
rede sem chefia onde as pessoas, com uma nova mentalidade e uma nova visão,
reúnem a vanguarda da ciência e os mais antigos pensamentos da tradição. Como,
por exemplo, psicólogos que estudam tarot, cientistas que estudam na Amazônia os
remédios dos indígenas, instituições de saúde que consideram as técnicas de gestão,
mas também as expectativas e valores culturais dos consumidores usuários.

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A sociedade está se organizando em torno de princípios novos e diferentes com
interconexões e relações sociais a nível planetário. Como exemplo recente das dimensões
globais dos sistemas, pode-se citar as vacinas, as epidemias de AIDS e de gripe
asiática. E também, tentativas de ordenar as ações no planeta visando o
desenvolvimento sustentável como na ECO92 no Rio de Janeiro e como a RIO+10 em
Johannesburg na África do Sul em setembro de 2002. O Protocolo de Kyoto é exemplo
de uma tentativa de reduzir o efeito estufa provocado pelos gases poluentes produzidos
no primeiro mundo e que prejudicam a qualidade de vida no planeta. É o caso da nuvem
de poluição sobre a Ásia modificando o clima e causando desastres ecológicos, o
fenômeno de desertificação que amplia o deserto do Saara e na Europa o aquecimento
provocando degelo da neve nas montanhas e causando enchentes catastróficas.
Tomando como ícone o resultado da queda de um símbolo do capitalismo vê-se
que as torres gêmeas caem em Nova York e levam junto símbolos, máscaras,
pressupostos, empregos e modos de vida em todo o mundo. As noções de valores e
de segurança, de mobilidade e de estabilidade também mudam e ocorrem falências e
guerras em cadeia e em vários os lugares.
Com a mudança de processos centrais da sociedade ficam abalados os
referenciais que dão segurança e estabilidade aos indivíduos no mundo social. Estão
desaparecendo as velhas identidades que propiciam estabilidade e servem de
referência à sociedade. Porém, surgem outras identidades ao mesmo tempo em que
se fragmenta o indivíduo que já foi visto como um sujeito unificado. Há uma
descentração do sujeito que pode gerar crises, incerteza, insegurança ou
mudanças de paradigmas e um mundo melhor.
É preciso ampliar a visão de mundo, sem abandonar os velhos paradigmas
porque eles continuam adequados a inúmeras questões da vida cotidiana. A
profundidade das indagações e uma nova tentativa de síntese parece estar
conduzindo a certas verdades ou princípios centrais, por se estar aprendendo não
apenas a associar informações, mas também a ter relacionamentos melhores.

INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO, IDENTIDADE CULTURAL E ANS

Uma nova interpretação da realidade engloba idéias velhas e novas idéias. Nas
sociedades complexas, a organização da informação é vital para se lidar com dados e

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conhecimentos. Lidar com os recursos informacionais e realizar disseminação seletiva
da informação pode ser o papel da ANS na função de reunir, organizar, consolidar,
promover, dar visibilidade, divulgar informação e multiplicar conhecimento, garantir
direitos e deveres, exercer sua prerrogativa de órgão regulador e fiscalizador de
Saúde Suplementar.
A ANS procura reunir, analisar e consolidar informações para planejar e promover
ações com vistas a nortear o desempenho dos entes participantes do setor de saúde
suplementar com a importante meta de corrigir desvios de percurso. Do ponto de vista da
Agência o importante é corrigir as imperfeições do mercado e a assimetria de
informações, equilibrar forças e propiciar à população condições de acesso à saúde
suplementar.
São marcos da regulação do setor de saúde suplementar, a partir de 1998, a
edição de Leis, normas, portarias, regulamentação e relatórios. Com a criação da Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS, no final do ano de 1999, várias ações do poder
público vêm sendo praticadas de modo a disciplinar a atividade econômica, empreendida
pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde - OPPAS, bem como ouvir e
assistir consumidores e a prestadores de serviços.
Para organizar as informações e subsidiar a tomada de decisão pode-se recorrer a
itens da Resolução – RDC n. 95 de 30 de janeiro de 2002 que altera o Regimento Interno
da ANS e dá outras providências. Está estabelecido no Artigo 3º da resolução que são
revogadas resoluções anteriores e informa em seu “§ 1º Os anexos desta resolução
estarão à disposição para consulta e cópia na página da Internet,
http://www.ans.gov./resol.ans.htm.”
No Capítulo I Categoria e Finalidade, no primeiro parágrafo do Artigo 1º diz :
“§ 1º A ANS é o órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização das
atividades que garantam a assistência suplementar à saúde.
§ 2º A ANS terá por finalidade institucional promover a defesa do interesse
público na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclusive
quanto às suas relações com prestadores e consumidores, contribuindo para as ações de
saúde no País.”
No mesmo Capítulo I Artigo 2º, diz respeito das finalidades, nos incisos
“ VIII – deliberar sobre a criação de câmaras técnicas, de caráter consultivo, de
forma a subsidiar suas decisões; “

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“ XX – proceder à integração de informações com os bancos de dados de Sistema
Único de Saúde; “
“ XXXII – requisitar o fornecimento de quaisquer informações das operadoras de
planos privados de assistência à saúde, bem como de toda a rede prestadora de serviços
a ela credenciada;”
Nesta Resolução n. 95 estão expressas no Capítulo III a Competência de Órgãos
que compõem a ANS.
Como planejar é prever um curso de ação deve-se considerar os intervenientes
neste processo que é complicado pela constante mutação que caracteriza a realidade.
Deve-se ajudar a construir e sedimentar uma identidade institucional voltada para a
prestação de serviços em uma sociedade com características em mudança em um mundo
globalizado e interligado pelos meios de comunicação.
A ANS é um instrumento do Estado indispensável à promoção do
desenvolvimento, em uma perspectiva de valorização do poder nacional e da
cidadania, a fim de que o Brasil possa ser saudável para fortalecer uma identidade
própria. A ANS promove ações na área de prestação de serviços de saúde
suplementar e é um agente para repensar relações, rever suas funções e fortalecer
identidades.
A identidade é composta por costumes, hábitos, tradições, valores, crenças,
formas de viver, de pensar e de se comunicar, estilo de vida e de presença na própria
comunidade. Incluí comportamentos, moral - de moris costumes, e gera
comprometimento com o passado e compromisso com valores, regras e padrões
herdados pela tradição. Mas, a identidade se torna uma questão em crise com a
descentração dos indivíduos, descentração tanto do seu lugar no mundo social e
cultural quanto de si mesmos. Identidade é o sentimento de pertencer a uma
sociedade, onde o indivíduo se sente participante e tem o sentido de ser um ator de
sua própria história, de reconhecer sua próprias raízes e sua memória coletiva. A
identidade inclui uns e exclui outros de determinados grupos.
A globalização é um fenômeno irreversível que marca um novo patamar na história
da civilização onde, no cotidiano e no mundo virtual, tempo e espaço adquirem
significados diferentes e ainda não determinados. Com os mercados comuns e a Internet,
as identidades estão sendo descentradas, deslocadas, fragmentadas.

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Identidade é tema fortemente debatido na teoria social como um processo mais
amplo de mudanças que está deslocando estruturas. Em vez de falar em identidade talvez
se deva falar de identificação e em um processo em andamento. Existem acontecimentos
e informações sobre os quais não se tem controle e que subvertem as tentativas de criar
mundos fixos e estáveis. O mundo empresarial e as descobertas dos cientistas demostram
que o que se supunha estável, coerente e fixo está sendo deslocado pela experiência real.
Neste trabalho, destinatário, cliente, consumidor usuário é quem se filia a um
plano de saúde suplementar esperando ser assistido em suas necessidades para se
manter saudável. O objetivo das operadoras é mercantil, para elas o cliente é
consumidor usuário. O objetivo do Estado é social, para ele o cliente é cidadão.
No mundo econômico o indivíduo é consumidor e no mundo político é cidadão.
Cidadania é relativa ao que vive num Estado com direitos e deveres políticos e aí se
apresenta a questão da identidade - individual e coletiva, local, regional, nacional e
global, onde o cidadão se sente desafiado a preservar laços com o passado (tempo) e
com seu meio ambiente (espaço) ainda que seduzido pelo futuro e pelo mundo.
As pessoas costumam suprimir novidades e custam a aceitar inovações porque
inovações são necessariamente subversivas à sua lealdade básica. Tudo se faz para
que mudanças não forcem a enormes complicações de: re-aprendizagem da
linguagem, re-treinamento do pessoal e o doloroso reconhecimento de que se tornam
obsoletos hábitos, valores, normas, padrões e trabalhos já escritos.
Mas há também aspectos positivos de novas e melhores inter-relações com a
criação de novas identidades e a produção de novos sujeitos na recomposição de
estruturas em torno de pontos particulares de articulação. Na sociedade vários são os
novos pontos de articulação como, por exemplo, pessoas de terceira idade compondo
novos grupos de interesses, de amizades, de convivência, de lazer e de formas de viver.
Vive-se mais tempo hoje e é preciso viver bem, com boa qualidade de vida e em
condições dignas.
Em relação a identidade cultural do consumidor usuário brasileiro de planos de
saúde suplementar é preciso realizar estudos e verificar sua posição relativa na pirâmide
populacional. Há muito a ser estudado e a ser avaliado já que pesquisa de opinião
realizada pela ANS em dezembro de 2002 revela que só 17% dos entrevistados conhecem
a ANS.

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A ANS, criada para atender as necessidades de regular e fiscalizar o setor, deve se
articular com a comunidade em busca de solução para vários problemas locais e
nacionais. Também deve verificar necessidades e desejos dos envolvidos para otimizar
metas e resultados. Inclusive, organizando e analisando demandas e reclamações para
que a oferta seja adequada, pertinente e relevante.
Exemplos atuais de ações do Estado são, entre outros, a otimização do sistema de
saúde suplementar, a organização do sistema de saúde complementar, o Programa Saúde
da Família – PSF, o FÓRUM DE DEBATES SOBRE SAÚDE SUPLEMENTAR – ANS 2003 e a
Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI instaurada pela Câmara dos Deputados, e
presidida pelo deputado Henrique Fontana , que pesquisa planos e seguros de saúde há
três anos e tem por finalidade investigar as relações estabelecidas entre os diversos
atores da saúde suplementar.
Conforme SILVA (maio 2003), a Confederação Médica Brasileira – CMB, a qual o
Sindicato dos Médicos de São Paulo é filiado, tem um médico atuando junto a CPI e está
recebendo denúncias contra os planos de saúde pelo site www.simesp.com.br . No
Brasil há 36 milhões de usuários do sistema privado de saúde. Um mercado que
movimenta R$ 23 bilhões por ano. Ainda assim, as operadoras são as campeãs em
reclamações nos órgãos de defesa do consumidor. Finalmente os planos vão ter que se
explicar sobre algumas práticas comuns, como aumentos abusivos, restrições de
cobertura, descredenciamento de médicos, hospitais e clínicas e variação de preços entre
as faixas etárias (chegam a 500%).
A comunicação pode viabilizar e legitimar o papel da ANS na sociedade dando
visibilidade a seus projetos e possibilitando que ela seja um agente de mudanças e ao
mesmo tempo uma instituição que facilite, registre, regule, fiscalize, avalie, oriente e
acompanhe planos de saúde, operadoras, prestadores de serviços e população assistida.
A mobilidade é uma grande característica dos tempos atuais. O movimento e a
liberdade de se deslocar são emblemas do bem sucedido, como são característica do
excluído a imobilidade e a prisão. Se até a algum tempo atrás existiam balizas para o
reconhecimento de territórios e de individualidades sociais, hoje os limites estão
mudando de significado.
Instrumentos são artefactos com que o homem amplia sua capacidade de agir
e interagir no mundo. Há instrumentos que processam dados a alta velocidade e com
grande capacidade de armazenamento e isto propicia possibilidades novas como

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computação gráfica, homepage, sites, redes de comunicação internacional e
inteligência artificial. O computador, atrelado a invenções anteriores como telefone,
televisão e redes de comunicação em tempo real modificam, não só a ciência mas,
também o cotidiano.
Em O desafio do conhecimento, MINAYO (1994) faz um estudo onde admite
como hipótese fundamental que nada existe de eterno, fixo e absoluto, mas
reconhece a coerência e a força criadora dos indivíduos e a relação entre as
consciências individuais e a realidade objetiva. Os paradigmas da Ciência são
construídos metodicamente e dados, até então desconexos, são estruturados segundo
um padrão significativo. As pesquisas são base de conquistas que uma certa
comunidade científica particular reconhece porque existe um acordo que une os que
participam da empresa científica. É este acordo social que torna desnecessário dar
explicações a todo o momento.
A autoconsciência da realidade social pode mudar a idéia de estilo de
pensamento, ou seja, de visão do mundo. Uma visão holística de mundo é semelhante
à visão ecológica onde a mãe terra deve ser preservada e respeitada, quando mais
não seja, porque é nela que vivemos. Na medida em que o indivíduo com visão
holística se reconhece no todo e também nos outros seres, sua responsabilidade
social se aguça e passa a haver maior comprometimento com a vida e o destino de
todos.
O senso comum da ciência é publicado em Londres pelo cientista, filósofo e
escritor BRONOWSKI (1977), por ele acreditar na ciência criadora, na ciência a serviço
do homem, na máquina submissa a valores superiores, na arte e nas especulações
espirituais. Para Bronowski a função do pensamento difere e complementa a função
da sensibilidade. Mas a raça humana não está dividida em pensadores ou homens
sensíveis, nem em racionais ou intuitivos, não sobreviveria muito a tal divisão pois é
preciso ser pensador, racional, intuitivo e sensível.
Tanto a ciência, como o senso comum e a tradição se constituem em
importantes fontes de conhecimento. Além disso, é indispensável estudar o passado
para preparar o futuro, mas sem esquecer de mudar de paradigma. É preciso olhar o
diferente com olhos também diferentes. Além disso, os saberes devem ser avaliados
sem preconceitos e sem medo do diferente, sem angústia diante do outro que não é
um espelho do eu.

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A unidade do conhecimento está quebrada e seus pedaços estão distribuídos
entre os especialistas. A natureza para os cientistas, os negócios para os executivos, a
técnica para os tecnólogos, a mente para os filósofos, o belo para os artistas e a alma
para os teólogos. Além disso, é dado ao homem de senso comum o cotidiano e aos
esotéricos a tradição.
Algumas pessoas argumentam que a fusão entre diferentes tradições culturais é
poderosa fonte criativa de novas formas culturais mais apropriadas aos tempos atuais.
Mas há quem também encontre aí motivos de desavenças e problemas para conciliar o
estabelecido com o novo e a inevitável questão de surgirem mais excluídos.
O sentido de pertencer a um grupo, o sentido de inclusão, está mudando e
pode-se pertencer a vários mundos: da família, do trabalho, dos clubes, dos amigos,
da saúde suplementar etc. Se já houve excluído por ser pobre e analfabeto e assim
incapaz de usufruir o sistema dominante, hoje há novas ordens de excluídos como os
sem teto, os sem emprego, os sem computador e os sem Internet, os sem
informação, os sem plano de saúde.
No presente caso, excluídos são os que não participam do sistema de saúde
suplementar, com destaque para os sem plano de saúde mas também para aqueles que
tem seus direitos não reconhecidos ou ameaçados.
O mais comentado, atualmente é o grupo de excluídos pelo computador, onde ou
você está dentro ou está fora da era da informática. Embora com a urna de votação
eletrônica e com os caixas automáticos dos bancos cada vez mais se esteja envolvido com
o meio eletrônico, existem muitas pessoas excluídas, por exemplo, da Internet.
A sociedade está mudando em vários aspectos, principalmente, no financeiro-
econômico. A empresa não é mais familiar, não pertence a uma comunidade local e
nem com ela está comprometida. A empresa hoje é de proprietários ausentes, os
acionistas que vão aplicar seus recursos onde é mais rentável, sem compromisso
espaço temporal. Aplicar recursos financeiros no Brasil ou na Ásia é uma questão a
ser resolvida nas bolsas, de Nova York, Paris, Frankfurt, Tóquio ou de São Paulo, por
empresários sem envolvimento com problemas sociais locais ou com a humanidade.
Assim, é importante estar atento aos problemas de toda a aldeia global, pois
que os problemas estão atingindo a todos com a velocidade imprimida pela tecnologia
e os meios de comunicação. Veja a repercussão de declarações de Bush, presidente

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dos EUA, sobre ações no Iraque, em outras localidades do mundo árabe e agora
também na África, onde a riqueza em petróleo desperta cobiça e irracionalidade.
Há os que consideram a importância das sociedades tradicionais onde o
passado e os símbolos são valores preservados e garantia de continuidade. Mas,
também há grupos preocupados com hibridismo e miscigenação e com fortes
tendências a purificação para restaurar a Tradição. Como, por exemplo, a revolta e
discriminação de ações de alguns grupos extremistas como os esquadrões da morte,
os terroristas, as crises de nacionalismo da Europa Oriental e o fundamentalismo
islâmico.
Conforme O Tao da física de Fritjof CAPRA (1995. p. 134), existem paralelos
entre as visões de mundo dos físicos e dos místicos. Embora no Ocidente o misticismo
tenha sido erroneamente associado a coisas vagas, misteriosas e acentuadamente
não-científicas. Como é de se prever, a reação da comunidade científica tem sido
cautelosa, mas é interessante notar que tanto o físico quanto o budista enfatizam o
fato de que suas noções de espaço-tempo se baseiam na experiência.
BOLEN (1991. p. 12) afirma que “O privilégio ou dever do que comunica em
relação ao receptor e os que são excluídos da arena de recepção está na sua
habilidade de nos ligar a um princípio intuitivamente percebido e que confere um
sentido a nossa vida, através do qual pode-se encontrar um caminho do coração, um
Tao, uma maneira de viver em harmonia com o universo.”
Faz parte das idéias Taoístas a compreensão de que o temor daquilo que se
desconhece pode fazer com que se julgue que bom é o que é conhecido e que mau é
o desconhecido. Porém, é preciso reconhecer a dualidade na unicidade e entender que
bom é o equilíbrio e mau é o desequilíbrio.
Técnicas para a expansão e transformação da consciência individual – que já
foram segredo de uma elite - estão agora gerando uma modificação maciça em todas
as instituições. Recorrendo às descobertas das ciências avançadas se pode
demonstrar o papel das tensões e crises na transformação individual e cultural.
Os conceitos de intuição e emoção estão sendo revistos e revalidados pela
razão, até mesmo ao considerar a existência de coincidências significativas que
podem mudar destinos e que se estuda como a teoria da sincronicidade formulada por
Jung.

16
Como o fogo tempera o aço, o esmeril dá forma ao brilhante, a luta fortalece o
lutador. A aproximação de áreas de conhecimento pode facilitar o viver como uma
visão nova e holística, com os olhos da mente atentos ao princípio da sincronicidade.
A sincronicidade pode ser avaliada de modo mais imediato quando acontece no
nosso dia-a-dia, onde cada ocorrência pode revelar novas conexões com os outros. A
sincronicidade ocorre quando uma pessoa vê nos fatos uma coincidência que a leva a
percorrer novos caminhos ou dar um novo sentido ao caminho.
A sincronicidade é uma co-incidência de eventos significativa para quem deles
participa, é uma experiência subjetiva em que a própria pessoa dá sentido à
coincidência. Na sincronicidade, a coincidência significativa acontece dentro de um
tempo subjetivo e é a pessoa que faz a ligação dos episódios, que não são
necessariamente simultâneos (BOLEN. 1991. p. 12).
A identidade torna-se politizada na mudança da política de identidade de classe
para uma política de diferença ou uma identidade com diversidade, isto é uma posição do
sujeito que pode e deve ser plural.
A sociedade não é como os sociólogos já pensaram, um todo unificado e bem
delimitado que se desenvolve pela evolução. Os grupos sociais estão constantemente
sendo deslocados por forças internas e externas e se caracterizam pela diferença onde
divisões e antagonismos produzem uma variedade de posições do sujeito, isto é de
identidades, excluindo aqueles que não pertencem à identidade definida.
Conforme Alain TOURRAINE (1998): “O ideal democrático quis lutar contra a
desigualdade social afirmando sermos todos semelhantes e que um dia seríamos
todos cidadãos do mundo; hoje afirma o contrário, que somos diferentes, mas cada
um a sua maneira se esforça para combinar livremente, em sua experiência de vida,
atividades técnicas e econômicas comuns a todos com a particularidade da identidade
pessoal e coletiva de cada um.”
Contudo, não se justifica pensar que exista o direito de sufocar e dominar o
diferente, o anormal. É preciso reconhecer a identidade do outro que não é espelho
do eu e a existência de opostos e complementares como público-privado, oriente-
ocidente, objetivo-subjetivo, razão-emoção, teoria-prática...
O próximo, o pessoal, o afetivo, o erótico e o imaginário rejeitados para o
mundo inferior da emoção e da intuição estão reaparecendo para se juntar ao racional
e acrescentar a complexidade e a diversidade de várias experiências aos modelos de

17
sociedade e cultura. A história social dos países ocidentais judaico-cristãos está em
busca de uma recomposição. Hoje se aceita que paixão é vontade de viver, e que não
se pode rejeitar esta energia que é uma força poderosa a ser considerada como
importante força propulsora que é.
Jacques DERRIDA e Jürgen HABERMAS (2003) em artigo publicado no jornal
Folha de S. Paulo, falam sobre identidade e afirmam que: Enraizada na tradição
judaico-cristã, a mentalidade ocidental possui certamente traços característicos. Mas
mesmo essa característica abrange mais do que somente a Europa. A Europa se
constitui em Estados nacionais que se delimitam reciprocamente de maneira polêmica,
é marcada por diferentes línguas, literaturas e histórias nacionais, e lá a consciência
nacional teve por muito tempo um efeito explosivo. No entanto, como reação à força
destrutiva desse nacionalismo, constituíram-se formas de pensar e agir que, da
perspectiva dos não-europeus, dão um rosto à Europa em sua multiplicidade cultural.
A Europa precisou aprender com a dor como as diferenças podem ser
comunicadas, as oposições institucionalizadas e as tensões estabilizadas. Uma cultura
por séculos dilacerada pelos conflitos entre cidade e campo, entre forças eclesiásticas
e seculares, pela concorrência entre fé e saber, pela luta entre poderes políticos e
entre classes antagônicas. Também o reconhecimento das diferenças, o
reconhecimento recíproco do outro em sua alteridade, pode tornar-se o sinal distintivo
de uma identidade comum.
Assim, procurando diferenças para comparar o caso do Brasil com o caso da
Europa - onde nossa civilização se espelha – observa-se que: aqui se fala uma
mesma língua, existe uma literatura e uma história comuns, uma consciência nacional
e também formas de pensar e agir que, da perspectiva dos não brasileiros, dão um
rosto ao Brasil atual em sua multiplicidade cultural. E aqui também, o
reconhecimento das diferenças internas, o reconhecimento recíproco do outro em sua
alteridade, pode tornar-se o sinal distintivo de uma identidade comum.
Por meio do resgate seletivo do que individualiza um espaço com uma variada
produção cultural, os códigos de compreensão simbólica de uma comunidade são
inventados e simultaneamente a eles a comunidade se conforma.
Pode-se assim adquirir um inequívoco caráter regional e fazer com que o Brasil se
perceba e se apresente como brasileiro. Ainda que fisicamente dispersos e distintos, os

18
habitantes dos mais distantes recantos do País constróem um lugar simbólico comum que
lhes dá visibilidade como brasileiros.
O conhecimento dos indivíduos e das sociedades, o saber, evolui ao ajustar o
que é novo ao anteriormente apreendido, peça por peça, em um mosaico com uma
ordem razoável e que resiste aos fatos. O conhecimento não pode ser maior do que o
calibre dos instrumentos com que é percebido e por isto o conhecimento evolui com a
evolução da tecnologia. Por exemplo, as novas possibilidades que resultam do uso de
instrumentos como o computador.
Esta é a era da informação e os meios tecnológicos e econômicos tornam
possível a difusão de preferências de valores culturais, regras sociais e padrões
políticos. Informação é recurso chave na sociedade, pode produzir crescimento
econômico e menor desnível social.
Em relação a acesso pode ser oportuno reafirmar que mais do que a posse, no
mundo atual, o que vale é a possibilidade de acesso, principalmente à informação
adequada, pertinente e relevante. As novas tecnologias são agilizadores importantes,
ainda que permaneça, até de forma exacerbada pelo excesso, a questão de
organização, filtragem, recuperação e disseminação seletiva da informação
consolidada, isto é, difusão feita sob medida.
Planejamento e administração envolvem fenômenos a serem observados e
avaliados. É preciso traçar objetivos dentro de uma filosofia, com diretrizes que norteiem
o caminhar até que se alcance a meta pretendida. E também, realizar avaliação e
controle para corrigir os desvios de percurso e manter a ação no rumo certo.
Como o saber está em muitos lugares deve-se fazer uma revisão em várias
áreas de conhecimento, com o auxílio da sincronicidade de Jung e de proposta do
filósofo Platão. Platão propõe que se obtenha harmonia com os princípios da
prudência, coragem e temperança e que se alcance o conhecer por meio da
inteligência, do raciocínio, da fé e da conjectura.
Esta abordagem é para provocar reflexões e apontar novos caminhos onde o
conhecimento pode auxiliar no resgate da identidade cultural deste mosaico de
tradições que é a cultura brasileira. Os indivíduos podem mudar a si mesmos e a
comunidade a que pertencem, crescendo e contribuindo para mudanças. Viver pode gerar
angústias e incertezas e também alegrias e esperanças.

19
O ESTADO: SOCIOLOGIA, COMUNICAÇÃO, PARADIGMAS E MODELOS

O Estado deve exercer seu papel como ator indispensável ao reordenamento social
e à saúde do cidadão, considerando, ainda, aspectos econômicos que atingem o usuário
de planos de saúde, as operadores e os prestadores de serviços, com vistas a atender
necessidades da sociedade como um todo em busca de saúde, bem-estar e
desenvolvimento.
A sociedade modifica-se ao longo do tempo, mas guarda algumas
características essenciais. É diferente e a mesma, como a água em seus vários
estados. A informatização e os meios de comunicação alteram o mundo tornando a
interação instantânea. Mas conforme IANNI (1990 . p. 94 ), nem a ciência, nem a
técnica ou a informática, alteram a natureza essencial das relações sociais, processos
e estruturas de apropriação ou distribuição, de dominação ou poder.
Os vínculos que unem as pessoa, as idéias que têm dos outros e de si mesmo,
são construções pessoais de significados oriundos de interações simbólicas. Assim, as
crenças que as pessoas têm umas das outras e de si mesmo são os fatos mais
significativos da vida social. A conduta individual é orientada pelos rótulos e
significados que as pessoas associam à situação. O comportamento é um produto de
construções subjetivas acerca de si, dos outros e das exigências sociais da situação.
Aqui se reforça a idéia de significados dos planos de saúde para os envolvidos,
tanto com valor mercantil como com valor humano. Como conhecimento é poder é
preciso reforçar alguns setores menos privilegiados para evitar a assimetria da
informação, onde uns tem muita e outros tem pouca informação. Todos devem ter o
direito de ser bem informado a respeito de assuntos que os afetam. Não é justo
deixar de informar quando se pode e se deve fazê-lo.
Quando o objeto de estudo é a realidade social, objeto e sujeito se confundem e
estão em constante movimento, formação e transformação. O desafio permanente e
reiterado diz respeito à relação entre teoria e prática, teoria e técnica, direito e
dever, lucro e bem estar social, conhecimento e poder.
Tende-se a pensar em ruídos como obstáculos ou barreiras que dificultam a
comunicação, mas a maioria dos ruídos está na mente e pode ser ignorância ou
incompetência. O aumento e a grande quantidade de informação e as possibilidades

20
da tecnologia, podem gerar até mesmo falta de confiança e descrédito por causa da
existência de montagens, simulações, clonagem e de realidade virtual.
Para enfrentar os desafios é necessário pensar de forma transgressora, pois a
esfera metodológica não é um espaço tão sagrado que não permita um lugar para
criatividade e violações. Para conhecer o objeto da comunicação é necessário assumir
o pluralismo em um caminho que exige dedicação, estudo e uma profunda reflexão do
pensamento construído. Tentar tornar forte o argumento fraco ou, ainda, analisar com
rigor simultaneamente os elementos de dominação com as ilusões da libertação. Não
há só novas formas de domínio e poder, há também novas formas de sobrevivência e
esperança.
Atualmente esta havendo uma aproximação mas, já houve um divórcio absoluto
entre a pesquisa realizada na universidade e aquela produzida na empresa. Mas não
há sentido em estabelecer a dicotomia entre pesquisador profissional e pesquisador
acadêmico. O pesquisador científico é um só, independe de seu espaço de atuação.
Sua competência científica constitui o único instrumento de legitimação social.
Naturalmente, o desempenho da pesquisa e do pesquisador pressupõe uma distinção
entre a pesquisa básica e a pesquisa aplicada.
Conforme MARCONDES FILHO (1993) o poder não manipula e tampouco as
massas são enganadas. Na nova teoria da comunicação as lógicas que se impõem são
marcadas basicamente pelo movimento, velocidade, rapidez, crescimento, expansão,
divisão, multiplicação e os efeitos desses processos acelerados sobre todas as coisas.
Os estudos dos intermediários, leva a considerações sobre os líderes,
formadores de opinião que realizam uma espécie de decodificação de mensagens para
sua melhor apreensão e possível persuasão por parte dos liderados. Especialmente
depois dos anos 60, desenvolvem-se teorias que buscam interpretar o destinatário
como o elo principal de toda a cadeia de comunicação.
Comunicação é interação, é troca de informação que auxilia na tomada de decisão
para planejamento estratégico em administração de sistemas de informação.
Registra-se matéria na Folha de São Paulo (Economia On-line acessado em
10.06.2003) que mostra a necessidade de divulgação e a importância de noticiar.
Médicos pedem reajuste e param de atender clientes de planos de saúde. Os médicos do
Estado do Rio deixam de atender aos clientes de planos de saúde. Estão suspensos
exames, consultas e cirurgias. Durante algum tempo, o atendimento vai se limitar aos

21
casos de emergência e ao acompanhamento dos clientes internados. A decisão, tomada
numa assembléia que reuniu 300 profissionais, é um protesto contra a falta de reajuste no
preço das consultas. De acordo com o presidente do Sindicato do Médicos do Rio de
Janeiro, Jorge Darze, as operadoras não reajustam o valor das consultas há cinco anos.
Os profissionais também reclamam da chamada glosa, um corte de cerca de 30% feito na
fatura. Para reaver os valores tirados da fatura, o médico precisa entrar com um processo
na empresa e o pagamento demora meses. Segundo o presidente do sindicato, a
paralisação deve ser maciça, já que os médicos chegaram a uma situação-limite, com os
custos para manter os consultórios só aumentando e suas receitas congeladas.
A crise da sociologia pode ser real ou imaginária, mas não há dúvida de que
tem sido proclamada por muitos IANNI (1990. p. 96). Considerando-se que os
conceitos formulados pelos clássicos podem já não responder às novas realidades,
surge a crise dos paradigmas, ainda acrescido pelo problema básico de que alguns
paradigmas fundamentam múltiplas teorias.
Na linguagem da sociologia, um paradigma compreende a articulação dos
momentos lógicos essenciais da reflexão: aparência e essência, parte e todo, singular
e universal, sincrônico e diacrônico, quantidade e qualidade, histórico e lógico,
passado e presente, sujeito e objeto, teoria e prática. São momentos lógicos que se
traduzem interpretativamente em evolução, causação funcional, estrutura
significativa, redução fenomenológica, conexão de sentido e contradição.
Os aspectos legais abordados neste trabalho decorrem de estudo da legislação
citada e são embasados também em VILHENA em Regulação do setor de saúde
suplementar: aspectos jurídicos.
O fim a ser alcançado pelo Estado é o bem estar social. O bem comum pode
carecer de meios adequados que variam conforme a modificação da própria realidade
social e aí surge o Estado Regulador, que pratica atos intervencionistas em busca do
desenvolvimento social e econômico. O Estado pode ser mais ou menos
intervencionista conforme o momento histórico vivido e o próprio significado de bem
estar social.
Para o Estado Liberal, cujo maior expoente na área econômica é o histórico
Adam Smith, o bem estar é ter liberdade, daí apregoar-se a intervenção mínima do
Estado sobre as atividades econômicas e atividades dos particulares. A regulação,
neste estádio, limita-se a restringir manifestações de individualismo excessivo. Se ao

22
Estado não basta restringir liberdades ele próprio deve assumir a produção de meios
necessários a busca do bem comum. No cumprimento deste papel, o Estado
transforma-se em empresário e prestador de serviços.
Ao longo do século XX, a idéia de bem estar social, de bem comum, está ligada
à modelação da vida social. O Estado passa não só a intervir mediante a emanação de
regras, como se impõe o exercício de funções econômicas consideradas relevantes e
extremamente importantes para a condução da massa social como as áreas ligadas a
saneamento, educação e previdência. Assim, o Estado assume papel de competências
amplas e ilimitadas do setor econômico, fazendo surgir o fenômeno do dirigismo
estatal.
No final do século XX acontece a falência do dirigismo estatal. O gigantismo do
Estado determina crise fiscal em inúmeros países como Portugal, Espanha e Brasil. A
idéia de bem estar passa a estar ligada à valorização dos direitos fundamentais do
homem, à valorização do princípio da livre empresa e da livre iniciativa.
No século XXI em uma nova concepção, a promoção do bem estar pressupõe a
atuação direta do Estado em hipóteses muito remotas e a intervenção estatal indireta
é elevada à categoria de instrumento primordial. Muitos identificam na nova
concepção estatal traços do Estado Liberal, onde a liberdade é um bem de grande
valia. Entretanto, no modelo atual do Estado, a liberdade tem seu lugar ao lado dos
direitos fundamentais do homem, e tais valores permitem que haja a redução do
intervencionismo estatal direto.
O Estado não é mais o empresário prestador de serviços, mas desenvolve funções
regulatórias e passa a intervir indiretamente para que a livre iniciativa e a livre empresa
respeitem direitos fundamentais. No modelo regulatório o Estado orienta a atuação dos
particulares na realização de valores e objetivos fundamentais.
O desenvolvimento do ideal de bem estar passa da valorização do direito à liberdade
para a valoração de todos os direitos fundamentais do homem, com a participação do
Estado como regulador. O Estado passa a promover o bem social sem assumir diretamente
as atividades econômicas. É a escolha de uma política econômica com predomínio da
intervenção estatal indireta nos setores sociais e econômicos com vistas ao alcance do bem
estar social. Quando se fala em modelo regulatório, pretende-se um paradigma de
atuação estatal em que a evolução da sociedade e a concepção de Estado torna
imprescindível a adoção de um modelo onde as funções não sejam separadas em

23
compartimentos estanques com atividade meramente normativa e/ou meramente
administrativa.
A regulação não se limita aos setores em que o Estado se retira, mas se
estende àqueles que o Estado elege como de especial relevância social e econômica.
A característica promocional da regulação no setor de saúde pode, por exemplo,
estimular as operadoras a adotarem providências relativas à prevenção de doenças e,
neste caso, o Estado pretende agir por meio do setor privado para implementar
políticas públicas.
As leis complementares e as ordinárias são de iniciativa de qualquer membro ou
Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional,
do Presidente da República, do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores,
do Procurador-geral da República e dos cidadãos, na forma e nos casos previstos na
Constituição.
Mediante a regulação promocional, o Estado obriga o particular a agir e garante
o cumprimento por meio da fiscalização, do controle e isto é reforçado pelo disposto
no art.
174 da Constituição Brasileira:
“Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado
exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo
este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado”.
Pelo art. 174 o Estado deve atuar como agente normativo e regulador,
exercendo funções de fiscalização, incentivo e planejamento. Este raciocínio se aplica
ao setor de saúde. A sua exploração econômica é livre à iniciativa privada, mas a
saúde é um bem de alta relevância, de relevância constitucional e portanto, merece
uma regulação com finalidade social.

REVISÃO DE LITERATURA ESPECÍFICA

É importante selecionar e preservar a experiência acumulada sob a forma de


padrões culturais e ainda acrescentar a este conjunto a nova produção original. Nas
sociedades tradicionais o passado é venerado e os símbolos valorizados por que
contém e perpetuam a experiência de gerações e porque estruturam as práticas
sociais recorrentes. As práticas sociais são reformadas à luz de informações recebidas.

24
Na vida não existem fórmulas acabadas de como resolver um problema, cada caso é
um caso a ser examinado cuidadosamente.
Para existir harmonia os valores pessoais e os valores sociais devem estar
associados. Na vida social a ética é muito importante e pode ser definida como o
conjunto de valores construtivos que levam o homem a se comportar de modo
harmonioso. São estes valores que determinam opiniões, atitudes e comportamentos
que influenciam a qualidade de vida, o desenvolvimento cultural e a preservação da
própria cultura.
Para administrar é preciso: - verificar ambiente com oportunidades, dificuldades,
concorrentes, parceiros, fornecedores, capacidades tecnológicas e recursos materiais,
humanos e financeiros; - levantar a situação real do sistema e apresentá-la em um
diagnóstico para embasar o prognóstico; - planejar o que deve ser feito para viabilizar
resultados e atender a necessidades, desejos, demandas e interesses do público
alvo.
Conforme Wever (2003), o crescimento da complexidade das variáveis e as
mudanças constantes nos rumos dos negócios fazem com que a tomada de decisão seja o
fator de maior preocupação nas organizações. Deve-se procurar desenvolver a intuição
dos executivos como uma ferramenta de decisão importante, com a capacidade de educar
e utilizar a intuição baseada na estruturação sistêmica das experiências técnicas e
vivências do dia-a-dia.
A seguir se apresenta uma visão panorâmica de parte da literatura consultada,
inclusive legislação. Após cada subtítulo aparece uma síntese e alguns destaques de
textos abordados.

LEI n.º 9.656, de 3 de junho de 1998, dispõe sobre os planos e seguros privados de
assistência à saúde. Define o que é operadora e dispõe sobre contratos, direitos,
obrigações e penalidades.
LEI nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar -
ANS autarquia sob regime especial, órgão de regulação, normatização, controle e
fiscalização das atividades que garantem a assistência suplementar de saúde. Com
autonomia administrativa, financeira., patrimonial e de gestão de recursos humanos,
autonomia nas suas decisões técnicas e mandato fixo de seus dirigentes. A ANS é regida

25
por um Contrato de Gestão que estabelece parâmetros para a administração interna e
indicadores para avaliar de forma objetiva sua atuação administrativa e seu desempenho.
LEI n ° 10.185, de 12 de fevereiro de 2001, dispõe sobre a especialização das sociedades
seguradoras em planos privados de assistência à saúde, devendo seu estatuto social
vedar atuação em outros ramos ou modalidade de seguro. As seguradoras ficam
subordinadas às normas e à fiscalização da ANS.

A REGULAÇÃO NO MERCADO DE PLANOS DE SAÚDE

BARONE (2003) realiza pesquisa para sua dissertação de mestrado na FGV sobre A
regulação no mercado de planos de saúde: a ação do consumidor e a estratégia da
Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, resumida como:
O objetivo da dissertação é estudar a ação do consumidor de planos de saúde e a
estratégia regulatória da ANS frente a suas demandas. O mercado de saúde suplementar
envolve diferentes atores, com diretrizes e interesses próprios. A ação da ANS deve
promover o equilíbrio entre consumidores, agentes econômicos e Estado procurando que
os poderes normatizador, regulador e fiscalizador da Agência sejam exercidos com
independência para garantir a prevalência do interesse social. O sistema de atendimento
da ANS capta elementos de informação que podem contribuir como subsídios para sua
estratégia regulatória. A análise estrutural da ANS e de suas estratégias é vista sob a
perspectiva das teorias aplicadas à gestão do Estado. E o estudo do consumidor busca
suas dimensões simbólica e racional. Levantamentos de dados são realizados em registros
da ANS e em observação participante. A análise e a interpretação dos dados coletados
permite concluir que o consumidor pode vir a ser um aliado na ação regulatória, se a ANS
estudar e avaliar elementos contidos em suas demandas e reclamações.
O papel do Estado está sendo revisto, o fator eficiência é importante nas relações
do Estado com a sociedade e as demandas dos consumidores podem orientar as ações
estratégicas da ANS. Enquanto o consumidor espera estar comprando a possibilidade de
assegurar-se contra a doença, a operadora de planos de saúde acredita estar vendendo
um serviço que deve dar lucro. Este é um complexo cenário em que a ação regulatória da
ANS deve se fazer sentir como parceiro catalisador e facilitador.

26
BARONE apresenta um referencial teórico sobre: o Estado, a administração pública
brasileira, gestão do Estado burocrático e do Estado regulador, a reforma do aparelho do
Estado, a regulação no setor de planos de saúde, o consumidor de planos de saúde.
Quanto à caracterização da ANS são apresentados o ambiente regulatório, os
objetivos da regulamentação, as dimensões da ação regulatória, modelagem
organizacional e estratégias de gestão. A Lei nº 9.961 de 2000 dispõe em seu artigo 14
que a administração da ANS é regida por um contrato de gestão firmado com o Ministério
da Saúde e aprovado pelo Conselho de Saúde Suplementar. Este Contrato de Gestão rege
as relações entre indivíduos, operadoras de planos de saúde, prestadores de serviços de
saúde e sociedade, em um processo de negociação contínuo e como instrumento de
avaliação objetiva do desempenho da ANS. O contrato assegura a ANS ampla autonomia
técnica, administrativa e financeira e estabelece diretrizes estratégicas, ações e
indicadores de desempenho com critérios mensuráveis para que se possa acompanhar e
aferir seu desempenho institucional.
Com a ação da ANS as empresas, um universo de 2400 operadoras, passam a ter
suas atividades controladas e os produtos oferecidos também devem ter especificações
controladas, há obrigatoriedade de assistência integral à saúde com proibição de seleção
de risco e de rescisão unilateral dos contratos com os 35 milhões de consumidores.
A natureza da matéria regulada – saúde – e a herança cultural da sociedade
brasileira, de natureza patriarcal e assistencialista, oferecem amplo material para a ação
da ANS. Se a regulamentação visa o equilíbrio do mercado, a participação do consumidor
é indispensável para esta contribuição, pois é necessária a ação individual para identificar
pontos de estrangulamento e definir focos de distorções que precisam ser trabalhados.

ESTRUTURA ECONÔMICA DA ASSISTÊNCIA MÉDICA SUPLEMENTAR NO BRASIL


Conforme KORNIS e CAETANO (2002) em Regulação e saúde; estrutura, evolução
e perspectivas da assistência médica suplementar: “A atividade de saúde é um setor
produtivo responsável pela geração e pela circulação de valores tão expressivos quanto
limitadamente conhecidos. A produção de informações detalhadas sobre a estrutura, a
distribuição e a evolução destes valores é fundamental para a tomada de decisões, a
formulação e o acompanhamento de políticas públicas no setor.”
Estas informações assumem um caráter ainda mais relevante em situações de
restrição de recursos. A expansão e o impacto das recentes iniciativas do governo, no

27
sentido de regulamentar o segmento de assistência médica suplementar –
desencadeadas a partir da entrada em vigor da Lei n.º 9.656/98, e das várias medidas
provisórias e resoluções subseqüentes – tornam imperiosa a necessidade de se
ampliarem os conhecimentos sobre a estrutura produtiva e sobre a dinâmica desse
segmento.
Assim vai ser possível subsidiar as iniciativas, do Ministério da Saúde, de
acompanhamento e regulação das instituições a atuarem nesse campo da assistência.
Essa preocupação com o desenvolvimento de sistemas de acompanhamento e
regulação do funcionamento das entidades de assistência médica privada no Brasil,
além de atender a uma determinação legal, disposta na Lei Orgânica da Saúde (Lei
8080 de 19 de setembro de 1990), está diretamente relacionada com o peso dos
gastos relativos aos cuidados de saúde no orçamento das famílias brasileiras.
O objetivo do artigo, elaborado por KORNIS e CAETANO (2002), é ampliar o
conhecimento acerca da estrutura produtiva e da dimensão econômica do subsetor de
assistência médica suplementar. Partindo de uma metodologia fundada no Sistema de
Contas Nacionais - SCN, em que os autores propõem um modelo de representação
desse subsetor e realizam um conjunto de estimativas sobre o peso econômico das
diversas modalidades de assistência, no Produto Interno Bruto - PIB, para o ano de
1997.
A elaboração de Contas Nacionais para a área de Saúde é uma forma
privilegiada de obtenção de informações sobre esse subsetor. Isto porque as Contas
Nacionais permitem conhecer as dimensões macroeconômicas do sistema de saúde
bem como a de seus vários subcomponentes, como é o caso da assistência médica
suplementar. E fornecem uma visão geral tanto sobre a origem e o volume dos fluxos
financeiros relacionados com as atividades de saúde, quanto sobre o destino e o uso
detalhado dos recursos. Além disso, informam sobre os fluxos dos recursos financeiros
no setor.
Estas contas também fornecem uma visão sistemática das relações entre os
agentes, as transações entre os mesmos sendo apresentadas sob a forma de um
conjunto detalhado e coerente de contas, balanços e quadros, baseados em conceitos,
definições, classificações e regras de contabilidade.
Em função da disponibilidade dos dados, também é possível definir, através da
elaboração de Contas Satélites, classificações e métodos alternativos de avaliação de

28
um setor cujas características não correspondam ao modelo geral das contas
nacionais.
As Contas Satélites surgiram em resposta à necessidade de se expandir a
capacidade de análise das Contas Nacionais sobre determinadas áreas de interesse
social, de uma maneira flexível e sem se sobrecarregar, ou desorganisar, a estrutura
integrada do SCN. Enquanto o corpo central desse Sistema consiste em um conjunto
de contas e tabelas que procura registrar, de forma integrada, as operações (não-
financeiras e financeiras) realizadas pelos agentes econômicos – classificados segundo
setores institucionais e ramo de atividade econômica – as Contas Satélites
compreendem informações sócio-econômicas relacionadas com o SCN. E essas
informações têm a particularidade de não precisarem ser expressas em valores
monetários, ou de fornecerem dados específicos para a construção de subsistemas,
tais como a Conta Satélite da Saúde.

OPERADORAS DE PLANOS DE SAÚDE; GESTÃO EMPRESARIAL

Conforme LIMA (2003) afirma em Oportunidades estratégicas para operadoras de


planos de saúde: “A administração de organizações de saúde, incluindo as operadoras de
planos de assistência suplementar à saúde, é uma das mais complexas atividades no
mundo dos negócios da atualidade... O mercado de saúde suplementar no Brasil
mobiliza anualmente mais de 20 bilhões de reais.”
A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS estima que operadoras privadas
de planos e de seguros movimentem atualmente 26,4 bilhões de reais, e estão agrupadas
em: empresas de autogestão (faturam 9,1 bilhões), medicina de grupos (6,2 bilhões),
cooperativas médicas (5 bilhões) e seguradoras (6,1 bilhões). (Folha de São Paulo,
03.02.2003, p. B.1)
É preciso definir claramente o que é plano de assistência suplementar à saúde,
especialmente aqueles com contrato anterior a Lei 9656/98. Fazer o cruzamento de
informações do cadastro de beneficiários de planos com os sistemas do SUS é simples.
Cabe definir e fazer a cobrança do que tiver cobertura legal e contratual. É possível
automatizar o procedimento de avaliação dos pedidos de impugnação e reduzir as
manobras de protelação das operadoras.

29
A Agência Nacional de Saúde Suplementar tem procurado se organizar como
sistema de regulação que é novo mas já produziu importantes resoluções.
Há diferenças entre as informações sobre a população de beneficiários de planos
disseminadas pelas próprias operadoras privadas para o mercado e aquelas registradas
na Agência Nacional de Saúde Suplementar. Estas diferenças refletem os problemas de
regulação e de regulamentação do mercado, incluindo a cobrança de taxa per capita.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar estima que atualmente 70% dos
beneficiários de planos e de seguros tem contratos anteriores à Lei n. 9656/98. Em
julho de 2001 registram-se 29,4 milhões de beneficiários, sendo 21,2 milhões com
contratos anteriores a Lei e 8,1 milhões posteriores.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar registra 34,6 milhões de pessoas no
cadastro de beneficiários de planos e de seguros privados em agosto de 2002.
Também em agosto de 2002, são 1.861 operadoras privadas de planos e de
seguros de saúde. As principais categorias de operadoras privadas são: autogestões,
medicinas de grupo, cooperativas de trabalho médicas, seguradoras e administradoras.
O principal grupo de operadoras privadas são as medicinas de grupos, que
correspondem a mais da metade das empresas do mercado.
Observa–se que o mercado de operadoras é extremamente concentrado. Em
fevereiro de 2001 registram-se duas operadoras com 12% do total de 27,4 milhões de
beneficiários, seis operadoras com 21%, 12 operadoras com 31%, 25 operadoras com
40%, 45 operadoras com 50%, 78 operadoras com 60%, 133 operadoras com 70%, 231
operadoras com 80% e 435 operadoras com 90%.
Não existem receitas ou fórmulas mágicas, mas há sim a necessidade de
conhecer e de usar diferentes ferramentas de administração e de gerência.
É para poderem se viabilizar neste mercado extremamente competitivo de
operadoras privadas de planos e de seguros que se faz necessária a capacitação
profissional especializada de dirigentes e de administradores de organizações de saúde,
especialmente dos gerentes de assistência médica suplementar.
A administração de organizações de saúde implica em saber equacionar
racionalmente os diferentes pilares da qualidade, especialmente a garantia da
rentabilidade econômica das intervenções. A meta de satisfazer clientes usuários com
intervenções eficazes não significa negligenciar a meta genérica de maximizar a
riqueza dos proprietários.

30
No sentido de melhor entender e operar no mercado de assistência médica
suplementar é organizada uma coletânea de textos estudados em curso ministrado por
LIMA(2003) na FGV:
O primeiro texto faz uma apresentação da dimensão e da estrutura do mercado
de assistência médica suplementar, produzido por encomenda pela Agência Nacional
de Saúde Suplementar, que tem a virtude de dar publicidade e inteligibilidade a
números e a informações importantes do mercado.
Os dois textos seguintes são capítulos do Relatório para o Desenvolvimento
Mundial de 1993: Investindo em Saúde, do Banco Mundial. O primeiro capítulo é a
apresentação do relatório, que conclui com o resumo de uma agenda de ação
recomendada. Este texto apresenta um interessantíssima proposta de avaliação das
intervenções das organizações de saúde.
Também se afirma que prestar serviços eficientes em termos de custos é um
meio eficaz e socialmente aceitável de reduzir pobreza e que é necessária a
intervenção do governo para neutralizar problemas gerados por incertezas e por
deficiências do mercado, inclusive aquelas que afastam do plano de saúde justamente
as pessoas que mais necessitam dele e, por outro lado, há problemas que podem
gerar excessos de tratamentos, coberturas amplas e aumento de custos.
A proposta do relatório está baseada na premissa que todos os dirigentes e
administradores devem procurar fazer o melhor uso para cada centavo aplicado, bem
como procurar obter determinados resultados com o mínimo de consumo de recursos e de
custos. A partir daí deriva-se a proposição de um plano de assistência básica a ser
fornecido pelo governo.
Cabe mencionar que esta agenda recomendada inclui intervenções dos governos
que são muitos familiares: a prioridade para a medicina comunitária, tal como
acontece nos programas de saúde da família e de agentes comunitários; a produção,
comercialização e distribuição de medicamentos genéricos; e a regulação da
concorrência de produtos e de operadoras no mercado de assistência suplementar à
saúde.
O segundo capítulo reproduzido do relatório concentra-se em Serviços Clínicos. É
neste capítulo que está claramente exposta a estratégia de promover a concorrência
controlada de empresas provedoras e prestadoras de assistência médica suplementar,

31
bem como a sugestão para os governos focalizarem sua ação em serviços clínicos ditos
essenciais.
Os textos selecionados são uma contribuição para a melhor aprendizagem e a
maior reflexão crítica sobre o uso dos conceitos e das técnicas da administração em
bases empresariais das organizações de saúde. Eles são apenas uma introdução, que
se espera possam funcionar, pelo menos, como estímulo para outras leituras, estudos
e pesquisas.

REGULAÇÃO DO SETOR DE SAÚDE SUPLEMENTAR; ASPECTOS JURÍDICOS

VILHENA (2003) apresenta bibliografia recomendada sobre o tema regulação do


setor de saúde suplementar. Discorre sobre seus aspectos jurídicos e históricos. Relata o
advento da Lei n.º 9.656, de 3 de junho de 1998 e a criação da Agência Nacional de
Saúde Suplementar. Apresenta comentários sobre a regulação exercida pela ANS e a
adequação das Operadoras às prescrições normativas. Trata também da atividade
fiscalizatória da ANS.
O objetivo do documento é instrumentalizar curso na FVG para formar pessoal
capaz de compreender o processo regulatório de forma ampla, bem como para ser
capaz de identificar o alcance das normas no caso concreto e analisar, de modo crítico,
os atos reguladores dentro dos princípios jurídicos que informam a administração
pública.
VILHENA aborda: produção legislativa, Leis e Medidas Provisórias. Histórico da Lei
n.º 9.656, de 1998 e suas alterações por medida provisória. ADIN em trâmite no STF. Lei
n.º 9.656, de 1998. Aspectos inovadores da legislação: definição de operadoras de planos
privados de assistência à saúde. Instituição de plano referência – modelo que adota a
não-restrição qualitativa (doença) e quantitativa (atendimentos). Doenças e lesões
preexistentes – agravo e cobertura parcial temporária. Vigência dos contratos e sua
rescisão. Coberturas no caso de emergência e urgência. Redimensionamento de rede.
Necessidade de autorização para o funcionamento das operadoras. Reajustes e
repactuação. A coexistência de contratos firmados antes e depois da edição da Lei. A Lei
n.º 9.961, de 28 de janeiro de 2000 e a criação da ANS. ANS é órgão de regulação,
normatização, controle e fiscalização. Finalidade da ANS. Competências da ANS. Estrutura

32
organizacional da ANS. Estruturas deliberativas (Diretoria Colegiada) e consultivas
(Câmaras Técnicas e Câmara de Saúde Suplementar).
A regulação exercida pela ANS e a adequação das Operadoras às prescrições
normativas observam o princípio da legalidade. Regulação finalística, prudencial e
condicional. Tipos de resoluções editadas pela ANS. Exigências da ANS: (a) registro
provisório de OPPAS; DIOPS; garantias financeiras; plano de contas; normas para
administradores; transferência de controle societário; plano de recuperação; regimes
especiais (direção fiscal e direção técnica); liquidação extrajudicial e comissões de normas
para administradores; transferência de controle societário; plano de recuperação; regimes
especiais (direção fiscal e direção técnica); liquidação extrajudicial e comissões de
inquérito; indisponibilidade de bens dos administradores; transferência de carteira; (b)
registro de produtos; nota técnica de registro de produtos; rol de procedimentos; SIP;
coordenador médico; reajuste; repactuação; revisão técnica; cadastro de beneficiários;
(c) taxa de saúde suplementar e ressarcimento.
Em relação a atividade fiscalizatória da ANS trata, inclusive de poder de polícia,
conceito e rotinas de fiscalização. Legislação e resoluções pertinentes (RDC n.º 24).
Termos de ajuste de conduta e teoria dos jogos aplicada à regulação. Aplicação de
penalidades. Exercício do direito de defesa: exigência de processo administrativo.
Apresentação de defesa e interposição de recursos. Prazos. Não pagamento das
penalidades pecuniárias. Possibilidade de inscrição no CADIN e dívida ativa da ANS.
A lei n.º 9.656, de 1998, é considerada o marco regulatório do setor de saúde
suplementar. Antes de sua edição as relações jurídicas travadas entre usuários de
produtos de saúde suplementar e operadoras eram regidas por normas gerais e
vigorava na plenitude o princípio de direito privado consistente na autonomia das
vontades.

ALGUNS PONTOS FUNDAMENTAIS E/OU POLÊMICOS

Usuários de planos de saúde e prestadores de serviços credenciados ou


referenciados formam uma relação triangular com as operadoras que atuam no
mercado de planos de saúde. A seguir são apontados alguns pontos fundamentais e/ou
polêmicos onde é preciso dirimir dúvidas e acertar ações que possam melhorar as
relações entre as partes envolvidas.

33
A ANS pode desencadear ações na área de saúde suplementar, além de ser
agente facilitador de políticas para repensar relações, rever funções e fortalecer
identidades. Um dos pontos polêmicos nas relações é quanto a espera social e às
expectativas dos envolvidos no processo, pois se o plano de saúde espera estar
vendendo um produto, o usuário espera estar garantindo seu acesso aos cuidados de
saúde.
No quadro que hoje se apresenta e após cinco anos da edição da Lei que rege as
ações na área de saúde suplementar, coexistem contratos antigos e contratos novos, o
que interfere na regulação exercida pela ANS.
De modo bastante resumido, é possível afirma que a ANS exerce, com relação aos
contratos novos, a plenitude de seu poder regulatório, enquanto que, com relação aos
antigos, encontra inúmeras limitações, ficando quase restrita à fiscalização do
cumprimento das coberturas contratuais oferecidas.
Pode-se afirmar que o modelo atual é regido pelas seguintes
assertivas:
- todas as doenças e enfermidades listadas pela OMS merecem tratamento e
não podem, de nenhuma forma, ser contratualmente afastadas;
- não há limite para internações e consultas médicas;
- tratamento de enfermidades e doenças pode demandar a realização de
procedimentos médicos e exames eleitos segundo a vontade dos contratantes,
mas observando o rol mínimo editado pela ANS;
- o que não estiver no rol mínimo de procedimentos, salvo expressa
pactuação, pode ter cobertura negada pela operadora.

É preciso ficar bem claro e para todos se de fato se considera que toda e qualquer
doença, enfermidade ou patologia listadas na Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde, deve
ter cobertura assistencial sem limitação de atendimentos para seu tratamento.
Já estão eliminados alguns problemas relativos à cobertura assistencial às
doenças infecto-contagiosas, tais como AIDS e meningite, geralmente negadas pelas
operadoras, com arrimo em previsão contratual. O modelo igualmente afasta questões
ligadas aos limites para assistência: o número de consultas, exames, dias de
internação passa a ser indeterminado, uma vez que a premissa do modelo adotado

34
passa a considerar que não pode haver restrições quantitativas para o tratamento e
cura de enfermidades.
A resolução CONSU n.º 13, de 1999 dispõe, nos casos de emergência e
urgência, sobre a necessidade de remoção de pacientes e as despesas daí decorrentes.
Segundo esta resolução, se houver necessidade comprovada de remoção, seja por
falta de recursos da unidade de atendimento, seja porque o prazo de doze horas da
segmentação ambulatorial e casos análogos estejam prestes a expirar, a operadora,
independentemente da segmentação contratada, deve arcar com as despesas
contraídas. Sendo impossível a remoção em virtude do estado do paciente, a
operadora não é obrigada a arcar com o custo financeiro da permanência do usuário
na unidade de atendimento. A resolução que dispõe sobre o atendimento de urgência
e emergência é alvo de inúmeras críticas e precisa ser revista.
Aspecto da legislação que merece destaque é o redimensionamento de rede.
Na redação original, a Lei n.º 9.656, de 1998, em seu art. 17, impunha que a
inclusão de hospitais, casas de saúde, clínicas, laboratórios ou entidades correlatas
ou assemelhadas de assistência à saúde implicam em compromisso para com os
consumidores quanto à sua manutenção ao longo da vigência dos contratos e que a
sua substituição poderia ocorrer, mas desde que comunicado previamente o
consumidor e que a substituição fosse por entidade equivalente.
Nova redação dada ao art. 17 pela Medida Provisória n.º 1908-20, restringiu-se
o compromisso ao credenciamento de hospitais, fato explicado pela dificuldade para a
substituição de clínicas de menor porte e laboratórios, entidades cujo credenciamento
apresenta maior grau de rotatividade.
Cria-se, todavia, a exigência de prévia comunicação à ANS, mantida a
comunicação prévia ao consumidor (trinta dias de antecedência), acerca da
substituição. Estabelece-se também a previsão de redimensionamento por redução.
Mas, o texto sem as modificações não contempla a redução de rede hospitalar, mas
somente a substituição de credenciados.
O redimensionamento por redução, em virtude do impacto sobre a massa
assistida, deve ser não apenas comunicado, mas autorizado pela ANS. As operadoras,
querendo reduzir a rede hospitalar devem justificar a sua decisão e provar que os
padrões de qualidade vão ser mantidos com a retirada da entidade hospitalar.

35
Outra disposição importante relativa ao redimensionamento consiste no fato
de que o desrespeito às normas sanitárias pela entidade hospitalar pode determinar
a sua substituição sem a observância do prazo de comunicação prévia à ANS e aos
consumidores.
Tratamento básico é aquele prestado por médico, com número ilimitado de
consultas, cobertura de serviços de apoio diagnóstico, tratamento e demais
procedimentos ambulatoriais, solicitados pelo médico assistente.
O descredenciamento de médicos e demais prestadores não exige prévia
comunicação aos consumidores nem à ANS, mas acaba sendo realizada por algumas
operadoras como parte da política de bom relacionamento com o usuário e
transparência das medidas que adota.
A questão do credenciamento e descredenciamento de médicos, em particular,
é ponto nevrálgico da relação entre operadoras e prestadores. A atenção da ANS
quanto a este ponto é importante e uma de suas competências é a normatização do
credenciamento.
Um ponto interessante a se destacar diz respeito às exclusões. A Lei n.º
9.656, de 1998, em seu texto original, relacionava as exclusões para a cobertura de
doenças e enfermidade, relacionando em rol taxativo os procedimentos que não
seriam custeados pelas Operadoras. Ou seja, somente o que ali estivesse disposto
poderia ser objeto de negativa de atendimento pelas operadoras.
A medida provisória n.º 1.908-20, de 2000, modifica a redação originária,
estabelecendo que as exceções devem ser objeto de regulamentação pela ANS e que
a amplitude de coberturas, inclusive de transplantes e de procedimentos de alta
complexidade, devem ser definidas também pela ANS.
O novo texto muda a configuração da Lei e o modelo não restritivo de
coberturas e atendimentos passa a comportar nuances, visto que à ANS atribuiu-se a
tarefa de relacionar a amplitude e o alcance das coberturas. Com isto, a ANS passa a
ditar, mediante o que se convencionou chamar rol de procedimentos, aqueles que, no
mínimo, devem ser oferecidos pelas operadoras para o tratamento das enfermidades
e doenças.
Na atividade desenvolvida pelas operadoras de planos de saúde, o interesse
público é representado pela continuidade da prestação dos serviços de saúde
contratados e pela regularidade dos pagamentos da rede credenciada ou referenciada,

36
que podem sofrer desajustes em razão de problemas de gestão financeira ou mesmo
em função da insolvabilidade da sociedade.
Pela definição legal a noção de emergência está ligada à de iminente
possibilidade de morte ou lesão irremediável do usuário, e a noção de urgência ligada
a idéia de necessidade de atendimento o mais brevemente possível, sob pena de o
caso agravar-se, a ponto de transformar-se em estado de emergência.
O processo de gestação que evoluir para emergência ou urgência deve ser
objeto de atendimento e responsabilidade financeira no caso de planos na
segmentação hospitalar, ainda que não tenha sido pactuada a cobertura obstétrica.
Caso esteja a usuária no prazo de carência, a operadora deve efetuar a cobertura
conforme estabelecido para a segmentação ambulatorial, isto é, durante as primeiras
doze horas, a partir de quando a responsabilidade financeira é do paciente.
As operadoras de planos de saúde, que exerciam suas atividades sem
qualquer tipo de restrição, são obrigadas, a partir de 1998, a solicitar registro
perante, inicialmente, à SUSEP e após, à ANS, como condição de funcionamento.
Operadoras que disponibilizam qualquer produto sem registro estão em
situação irregular perante o órgão regulador. A Lei estabelece critérios para
obtenção do registro definitivo, mas, até o presente momento, não teve seu processo
validado pela ANS.
As operadoras de planos privados de assistência à saúde, constituídas sob forma
de sociedade civil ou comercial, ou mesmo cooperativa, antes da Lei n.º 9.656, de 1998,
sujeitavam-se às regras comuns a qualquer sociedade no tocante ao seu equilíbrio
financeiro.
Entretanto, como o interesse público está envolvido, à semelhança do que
ocorre com as instituições financeiras, as operadoras de planos de saúde somente se
sujeitam à liquidação extrajudicial. No direito brasileiro, a liquidação extrajudicial tem
lugar sempre que se propugna extirpar um determinado foco de desajuste e
intranqüilidade, e sempre que tal foco possa atingir o interesse coletivo.
Conforme SILVA (maio 2003), o Ministro da Previdência, Ricardo Berzoine, em
discurso no seminário realizado em São Paulo dias 23 e 24 de maio, destaca que
Previdência Social hoje no Brasil: “Não é apenas aposentadoria, como muitos
pensam. A Previdência é uma proteção social muito mais ampla e está inserida no

37
conceito de Seguridade Social, que inclui a Previdência, Assistência Social e Saúde.
São dez os benefícios da Previdência, entre os quais está incluída a aposentadoria.”
Ainda que a Previdência Social seja ampla, este é mais um ponto que
demonstra como se olha o novo com o paradigma antigo. A Previdência Social no
tempo dos Institutos, como IAPC e IAPB, era Instituto de Assistência e Previdência e
incluía carteira imobiliária e saúde. Hoje o INSS - Instituto Nacional de Seguridade
Social não representa o mesmo papel, existiu o BNH – Banco Nacional de Habitação e
existe o SUS – Sistema Único de Saúde.
Com o advento da regulação e das agências, a atividade administrativa ganha
novas cores, para propiciar a concretização dos interesses de cada grupo econômico e
social eleito como de relevância e interesse. A atividade administrativa está incrementada
– as agências reguladoras no Brasil integram a Administração Pública indireta, sob a
forma de autarquias de natureza especial – pela possibilidade de as agências fazerem
mais do que simplesmente aplicar normas e fiscalizar seu cumprimento. Cabe às
agências editar as normas demandadas pelo setor econômico alvo da regulação e realizar
pesquisas que devem ser interpretadas com cautela, já que a ANS, como todo órgão
regulador, deve buscar o equilíbrio das relações travadas entre os personagens
interessados na regulação.
A lei de criação da ANS, salienta a necessidade de sua independência e de instrumentos
para garantir ou minimizar a influência política na sua atuação e dispõe que a ANS é
órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização.
A finalidade da ANS é apresentada no Relatório de Gestão – exercício de 2002
conforme definida pelo art. 3º, da Lei n.º 9.961, de 2000:
“Art. 3o A ANS terá por finalidade institucional promover a defesa do interesse
público na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais,
inclusive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, contribuindo para
o desenvolvimento das ações de saúde no País.”
O bem que se pretende tutelar é assistência à saúde.
Dentro da idéia de bem estar, o legislador elege a saúde como item de suma
relevância, que merecer se constituir em foco de intervenção indireta do Estado, por
meio de atos de regulação.
A finalidade da ANS é promover a defesa do interesse público na assistência
suplementar à saúde, como as questões – econômicas e assistenciais - que dizem

38
respeito a uma parcela heterogênea e significativa da sociedade, que almeja o bem
comum refletido na assistência à saúde. O beneficiário de plano de saúde está
interessado na assistência à sua saúde e tem expectativas que refletem seus
valores e necessidades.
Depreende-se do art. 3º da Lei n.º 9.961 de 2000, que a ANS tem por missão
básica a defesa da economia popular, por meio de mecanismos que assegurem a
estabilidade das operadoras ao longo do tempo, a defesa do mercado de saúde
suplementar, pela coibição de concorrência desleal ou por meio de instrumentos
ilegais, a defesa do beneficiário de plano de saúde e a coibição de abusos das
operadoras.
A competência da ANS consta do art. 4º, da Lei n.º 9.961, de 2000. Os
objetivos a serem alcançados pela regulação resultam das competências atribuídas à
ANS que devem ser observadas quando da emanação de regras e atos para não ferir
o princípio da legalidade.
Não se pode negar que o texto legal deixa margem para interpretações distintas,
pelo menos, quanto à limitação de atendimento. Em interpretação literal da norma, pode-
se afirmar que o legislador quando entende ser necessário, consigna expressamente que
internações e consultas devem ser em número ilimitado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

As questões levantadas neste trabalho podem servir para que a ANS perceba e
demonstre seu papel frente aos atores da saúde suplementar e à sua ação
regulatória. Deve ser considerada a melhor forma de disseminar informação
adequada, relevante e pertinente a cada um dos envolvidos, e a todos eles, face a
direitos e deveres que devem ser conhecidos, reconhecidos e respeitados.
As pessoas criam construções de significado, subjetivas e compartilhadas, para
a realidade em que vivem pelo que sentem, escutam e vêem. Seu comportamento
pessoal e social pode ser em parte modelado por suas interpretações do real.
A ANS não é uma agência de defesa do consumidor, embora deva zelar por
interesses do grupo, e também não é uma agência de proteção para operadoras,
tendo por missão, inclusive, editar regras de natureza econômico-financeira para
viabilizar a existência das empresas e sua competitividade no mercado. As novas

39
tecnologias de informação podem proporcionar vantagens à racionalização da
gestão, à economia de tempo e de pessoal nas organizações complexas e à agilização
de fluxos de informação para atender demandas e facilitar a solução de
problemas.
Conforme MARQUES DE MELO (1998, p. 345), deve-se sensibilizar os meios de
comunicação para uma campanha intensiva de orientação da opinião pública sobre a
revolução microeletrônica, evitando bloqueios culturais alimentados pelo
desconhecimento dos fatos e pela distorção das informações.
A pesquisa acerca dos processos e efeitos da Comunicação é norteada por um
conjunto de pressupostos - paradigmas - sobre a natureza da sociedade, do indivíduo e de
relacionamentos. Paradigma é um termo grego que se refere a qualquer espécie de
modelo capaz de ser copiado, ou com o qual algo pode ser cotejado. Os mais
importantes paradigmas são formulados por pesquisadores que se alimentam de várias
fontes de conhecimento fazendo releituras de conhecimento de todos os tempos. Uns se
colocam radicalmente a favor de novos paradigmas. Outros propõem renovações ou
desenvolvimentos dos clássicos, mas incorporando contribuições contemporâneas. E há
os que reconhecem que a criação de novos paradigmas não implica necessariamente
na desqualificação de paradigmas anteriores.
Quem escreve registra informações e mensagens para um leitor. O emissor
lança mensagens para o receptor através de um veículo. O objetivo das mensagens
pode ser persuadir, fazer pensar, avaliar e criticar para que se alcance um novo
patamar de conhecimento. A arte da retórica é poderosa auxiliar à compreensão das
mensagens.
Em relação a retórica e a persuasão encontra-se em Fedro a mensagem sempre
atual de Platão, apud LIMA (1993), ao afirmar que: retórica é persuasão, é a arte
de governar as almas por meio das palavras, convencer pela força das idéias, da
lógica, em um formato vivo, organizado, ajustado às partes entre si e ao conjunto.
Trata do discurso e das qualidades das composições retóricas que devem dirigir as
almas no sentido da verdade e não da verossimilhança. Fedro estuda especialmente a
noção do amor e é um resumo da filosofia de Platão escrito quando o autor já tinha
mais de 60 anos. A verdade, que leva à felicidade, resulta de justiça que decorre
de equilíbrio e de temperança. Sendo temperança a virtude que suaviza os
impulsos e as energias.

40
Retórica implica em saber e em exercícios para a eloqüência e a persuasão.
Eloqüência e persuasão se constituem em esforço para usar o saber em discurso
apropriado, para semear palavras de acordo com a alma digna de recebê-las.
Discursos que são fruto da razão são sementes de sementes e se tornam imortais.
Para Platão, as palavras, que objetivam instruir, são dignas de esforços e se
gravam na alma sobre o que é belo, justo e bom – sobre virtude e ética. Platão
critica duramente os retóricos que usam a palavra para iludir, confundir e enganar.
Platão afirma que os deuses sabem o que convém a cada um e dão ao homem bom
o necessário, a riqueza que um homem sensato pode suportar e empregar.
Segundo a CARTA dos médicos à Nação Brasileira (2003) o seu movimento tem
“... o objetivo de valorizar o trabalho médico e regular as relações com as
operadoras de planos de saúde. O Sistema de Saúde Suplementar no Brasil carece de
um grande debate com a sociedade, buscando a satisfação dos 40 milhões de usuários
que dele dependem e dos profissionais médicos que a ele dedicam os seus serviços...
Como cidadãos brasileiros, mantemos a luta e a expectativa de um Brasil melhor,
onde a saúde e o direito a uma vida digna sejam garantidos a todos nós. ”
A gestão está sendo redimensionada e revista para acompanhar os novo tempos.
Mudanças sempre provocam novas mudanças que podem ser regidas por contratos. O
Contrato de Gestão 2002-2003 firmado entre Ministério da Saúde e ANS tem por
objeto a pactuação de resultados com a finalidade de avaliação objetiva do
desempenho da ANS. Na cláusula sobre a Publicidade consta que: ”A ANS providenciará
ampla divulgação, por meios físicos e eletrônicos, dos relatórios anuais sobre a
execução deste CONTRATO DE GESTÃO, bem como dos respectivos relatórios e
parecer da Comissão de Acompanhamento e Avaliação.”
Merecem destaque no Relatório de gestão; exercício de 2002 da ANS , os
projetos CIDADANIA ATIVA e OLHO VIVO desenvolvidos na área de fiscalização e
que não se limitam a fiscalização punitiva, sendo instrumento importante de
transformação de comportamento dos agentes do mercado contribuindo para um
novo padrão de conduta para as operadoras com maior aderência às normas e
maior respeito ao consumidor. É uma vigilância constante, planejada e continuada
com função preventiva e pedagógica.
O Brasil está mudando e a gestão das instituições também deve mudar. Da
forma como as empresas são geralmente estruturadas, cada processo passa

41
obrigatoriamente através de um conjunto de funções, por exemplo, o processo de
vender/adquirir um plano de saúde com seus direitos e deveres.
Na estrutura funcional, a separação entre as funções tende a criar
compartimentos estanques, com os problemas sendo repassados para outra unidade
funcional que se siga na ordem do processo. Como o processo é trabalhado por
diferentes áreas funcionais, gera-se a necessidade de inúmeras reuniões de
coordenação, atividades de controle, conferência etc. Um longo ciclo expressa a
dificuldade que o consumidor/ cliente encontra em saber do andamento do processo
que lhe interessa e de fornecer informações a quem trabalha nele. Ocorre então uma
das características mais marcantes da reengenharia administrativa, a mudança para a
estrutura por processos onde as pessoas tem uma idéia geral do grande quadro, ou
seja, acompanham o processo em todo o seu desenvolvimento.
As atividades de cada pessoa são mais variadas e ela interage com várias
outras. É mais fácil encontrar uma sensação de auto-realização porque os funcionários
têm noção exata do resultado do seu trabalho. Há melhor atendimento aos parceiros e
tempos mais curtos de resposta que podem ser qualidades plenamente visíveis.
As equipes são mais ágeis e devem conduzir as ações com maior
produtividade a menores custos. As unidades funcionais cedem lugar às equipes de
processo. O trabalho em si muda, pois as tarefas simples dão lugar ao trabalho
multi-dimensional, onde a equipe do processo é coletivamente responsável pelos
resultados. O antigo especialista dá lugar a um novo tipo de ator. O papel dos
funcionários tende a mudar, de controlado para auto-dirigido, e os membros das
equipes tem a permissão e/ou a obrigação de pensar, interagir, julgar e tomar
decisões, dentro das metas geralmente fixadas em contratos.
Também os gerentes mudam de supervisores a treinadores, e devem então
esquecer seus papéis de supervisão e agir como facilitadores, com forte habilidade no
trato interpessoal e marcando presença para prover recursos, responder a
perguntas, cuidar das metas da instituição e da carreira a longo prazo de seus
funcionários. Os executivos mudam de cobradores a líderes: são levados para mais
perto dos clientes e das pessoas que fazem o trabalho que adiciona valor. Cumprem
também suas responsabilidades assegurando que cada um faça o trabalho
necessário e que todos estejam motivados pelos sistemas de gerência.

42
O trabalho é organizado em torno de processos e das equipes que realizam
esses processos. Então, as pessoas se comunicam com quem precisam se comunicar.
Consequentemente, a estrutura organizacional tende a ser flexível, na medida em
que o trabalho é feito por equipes essencialmente motivadas que operam em sintonia
e com autonomia.
Hoje a tecnologia dilui as fronteiras, modifica limites e parece realizado o
fenômeno chamado aldeia global. Existe o desafio potencial da desagregação cultural
provocada pelo impacto das comunicações globais e o que cimenta as relações dos
que vivem no Brasil, e dos brasileiros em geral, é a existência de traços culturais
comuns que tornam os cidadãos solidários e com uma marca que os rotula
como brasileiros.
É importante realizar ações no sentido de informar, pois todo e qualquer
esforço deve ser empreendido para resguardar e proteger a saúde, e defender
também aquele que contrata um plano privado de assistência à saúde e que pode
estar em situação de fragilidade. A clara definição do escopo da ação da ANS e a
comunicação dessa definição ao usuário são essenciais para evitar expectativas
desmedidas e frustrações futuras.
Conforme a Pesquisa de opinião pública com usuários de planos de saúde
realizada pela ANS, em dezembro de 2002, a imagem de uma agência reguladora é
reflexo do nível de satisfação que os usuários tem com a prestação de serviços pelas
empresas que atuam no setor e com as quais se relacionam. De um modo geral os
usuários (84%) estão satisfeitos com seus planos de saúde, mas apenas 17% conhece
a ANS.
A ANS deve ser fonte de conhecimentos e elemento catalisador de conhecimentos,
normas, procedimentos e processos de saúde suplementar e deve, também, colocar
informação e conhecimento a disposição de todos través de um serviço referencial que
pode ser organizado por especialista em ciência da informação. Exemplo de um
grande serviço referencial é o da Biblioteca do Congresso em Washington que tem um
diretório onde classifica e indexa informações para recuperá-las e disseminá-las, isto é,
organiza e registra onde está a informação que existe para que se possa encontrá-la
. Exemplo nacional é, entre outros, o catálogo de teses brasileiras onde aparece a
referência e um resumo de cada trabalho arrolado. Os itens são classificados e

43
passíveis de recuperação por assunto, autor, orientador, título, instituição de
origem, data, local.
Os termos para a classificação, os descritores, devem ser elaborados de
acordo com os interesses das pessoas que precisam localizar as informações. As
palavras-chave, os descritores, devem ser aquelas pelos quais as pessoas procuram
o tema. No caso da saúde suplementar se pode separar os documentos por autor,
tipo e assunto. Pesquisar formas de reunir os semelhantes separando-os dos
diferentes. Por exemplo, dividir por autor, assunto e tipo de documento: leis, medidas
provisórias, relatórios, resoluções, documentos de trabalho, relatórios de oficinas,
ministérios, agência, operadoras, prestadores de serviço, consumidores usuários,
conselhos profissionais, controle social...
Pode-se usar o meio manual ou o meio eletrônico para buscas. No sistema de
buscas do Yahoo, por exemplo, pode-se pesquisar por entradas como pela
palavra ANS. Mas, no caso específico é preciso subdividir e classificar os tópicos para
que a recuperação seja mais pontual. Por exemplo, quantas entradas existem para
ANS, destas quantas tratam de operadoras de planos de saúde e de
consumidores, quantas no ano de 2003, quantas são reclamações, quantas reclamam
dos prestadores de serviços, e de operadoras ...
Os registros existentes na ANS devem ser analisados para se traçar um perfil
dos usuários a fim de consolidar informação, isto é, agrupar informações útil por perfil
de interesse e sob medida para a demanda. Cruzando as informações indexadas é
possível selecionar quais são adequadas ao objetivo da pesquisa em realização.
Para que se eleve o nível de conhecimento do setor, deve-se reconhecer os limites de
cada um e compartilhar informações. Inclusive, fazendo uso das informações e
conhecimentos acumulados em oficinas de trabalho, sistemas de informação,
bancos de dados e cadastros.
A ANS para atender as necessidades de regular e fiscalizar o setor, deve se
articular com a comunidade em busca de solução para vários problemas e deve também
verificar necessidades e desejos dos envolvidos para otimizar metas e resultados.
Para tanto, pode:
- usar o meio eletrônico para remeter de um site para outros endereços convenientes,
fazendo ligações adequadas e pertinentes.

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- organizar e analisar demandas e reclamações de serviços como o Disque –ANS para
que a oferta seja adequada, pertinente e relevante.
- lançar mão de instrumentos como seu cadastro de usuários, os documentos
elaborados nas oficinas e outros para realizar o serviço referencial e de
consolidação da informação.
- buscar parcerias e cumplicidade em beneficio do País. A Agência Nacional de Saúde
Suplementar registra 34,6 milhões de pessoas no cadastro de beneficiários de
planos e de seguros privados em agosto de 2002, é um universo amplo a ser
estudado e que deve ser analisado.
- visar o efeito multiplicador da informação, inclusive através da criação de um site
direcionado para vulgarizar (levar ao vulgo, povo) a informação, torná-la acessível,
mesmo que hoje apenas 3% da população (são milhões) use Internet.
- Incrementar programas para criar e estimular parcerias que resultem em algo
como Amigo da Saúde Suplementar com participação da ANS.
- criar folhetos e cartilhas para divulgação.
- colocar encartes em revistas semanais e jornais .
- formar parceria com escolas, comunidades, igrejas e outros.
- Incorporar ações que visem fazer uma ligação imediata entre ANS e planos de saúde
para que as pessoas saibam onde e como procurar ajuda e defesa a seus direitos,
como fazem hoje com o PROCOM.
- planejar, em parceria com escolas e/ou fundações, concursos de redação sobre
planos de saúde seus direitos e deveres, preservação da saúde, prevenção de
doenças, formação de bons hábitos e educação integral.
- Divulgar informações de utilidade pública por meio da mídia, inclusive rádio e
televisão.
- estabelecer um canal de diálogo que auxilie a prestação de serviços e a gestão de
interesses de operadoras, prestadores pessoa jurídica e pessoa física e profissionais
da saúde e de usuários consumidores.
A tecnologia que pode facilitar os processos de informação deve ser um
instrumento para a ação regulatória. A ANS deve estudar a possibilidade de criar
canais de diálogo com cada um dos entes envolvidos para melhorar as relações e
facilitar o entendimento indispensável ao cumprimento de sua missão. Confirma-se,
assim, que é importante estabelecer elos de ligações entre diferentes informações

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existentes a fim de que ANS, operadoras de planos de saúde, prestadores de
serviços e consumidores usuários troquem informações que contribuam para corrigir
imperfeições do mercado em uma gestão transparente com maior intercâmbio de
conhecimento sobre direitos e deveres de cada um.
Gestão adequada pode otimizar resultados, inclusive resultados sociais. E visto
que a realidade existe, condiciona, limita, impõe - e também é onde os sonhos se
realizam, o conhecimento está destinado a vencer a ignorância, a esperança a vencer
o medo e o trabalho destinado a vencer as dificuldades.

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Rio de Janeiro, julho de 2003.


Regina Celia Montenegro de Lima
reginamontenegro@uol.com.br tel. (0xx ) 21 2 504 1888

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