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As falhas da regulamentação
A omissão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
O comportamento do mercado
PLANOS DE SAÚDE:
nove anos após a Lei 9.656/98
As falhas da regulamentação
A omissão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
O comportamento do mercado
Coordenação
Renato Azevedo Júnior
Autores
Andrea Lazzarini Salazar
Daniela Batalha Trettel
Lígia Bahia
Mário Scheffer
Colaboradores
Fernando Fulanetti
Juliana Ferreira
Júlio Moura
Karina Grou
Thaïs Souto
Diagramação
José Humberto de S. Santos
Planos de Saúde: nove anos após a Lei 9.656/96. São Paulo : Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor,
2007.
82 p.
NLM W 130
Introdução
Marilena Lazzarini
Coordenadora Executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - Idec
Sumário
Tipo de contratação
Classificação Total
Coletivo % Individual %
Autogestão 4.406.547 82,43 98.389 1,84 5.345.650
10
Quanto à não intervenção nos reajustes, a Agência apregoa que nos contra-
tos coletivos ocorre negociação entre duas pessoas jurídicas, com suposta paridade
de forças, não sendo, portanto, necessária a sua atuação. Com esse comportamento,
a ANS desrespeita a lei que definiu sua criação (Lei 9.961/00), que determina
como sua atribuição regular os planos de saúde, não fazendo qualquer distinção
ou exceção quanto ao tipo de contrato – se coletivo, individual, antigo ou novo.
Código nas relações entre planos de saúde e usuários. Mas, na prática, a Agência
despreza o CDC como instrumento para ser utilizado no controle dos reajustes e
na fiscalização dos planos de saúde.
São inúmeros os exemplos de consumidores que passaram por problemas
com contratos coletivos, a começar pelos reajustes abusivos. Em abril de 2005
houve um aumento de 15,49% para os beneficiários do contrato firmado entre
SulAmérica e a Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo
(AFPESP). A carta que comunicava o reajuste aos beneficiários justificava que “os
demais índices distintos que eventualmente estão sendo divulgados na mídia, refe-
rem-se a apólices de seguro saúde individuais, sendo que a regra para as coletivas,
conforme previsibilidade contratual e em cumprimento às disposições do órgão
público regulador, como é o caso presente da AFPESP, são distintas, não só no
tocante à política de reajustes, mas também quanto aos benefícios”. 11
Em respostas formais a consumidores que contestam aumentos que conside-
ram lesivos, a ANS declara: “Para reajustes aplicados aos planos coletivos, como no
caso do seu contrato, não há necessidade de prévia autorização da ANS nem perío-
do mínimo para aplicação. (...) É importante salientar que o índice aplicado não é
submetido à análise da ANS, posto que esta agência não tem atribuição legal para
determiná-los. A legislação de saúde suplementar presume que, para os reajustes em
contratos coletivos, não é necessária a prévia autorização da ANS, pois o poder de
negociação entre as pessoas jurídicas contratantes e as operadoras de planos de saúde
é maior do que nos casos dos contratos individuais”.
Reajustes
Apesar de o reajuste dos planos coletivos não ser controlado pela ANS, o consumidor não
deve aceitá-lo caso seja abusivo. A melhor forma de solucionar o problema é por meio da
organização dos usuários que sofreram o mesmo aumento, tentando uma redução por inter-
médio da contratante (empresa/ sindicato/associação). Caso não haja solução amigável, o con-
sumidor deve procurar a Justiça.
Uma outra espécie de reajuste muito comum nos contratos coletivos é o chamado reajuste
técnico ou reajuste por sinistralidade. Na prática funcionam de modo bastante semelhante. A
operadora de plano de saúde impõe um reajuste de mensalidade devido ao aumento do uso
das coberturas. Ou seja, a empresa argumenta que, em determinado período, seus beneficiários
passaram a utilizar o plano de saúde com maior freqüência, provocando um aumento nos
custos da empresa. Essa é, em geral, a justificativa desse tipo reajuste.
O Idec considera esse procedimento ilegal. Primeiro porque acaba caracterizando um rea-
juste unilateral de preço, proibido pelo Código de Defesa do Consumidor, uma vez que fica a
cargo da empresa aplicar o reajuste quando verificar o aumento de seus custos. O consumidor
não tem como acompanhar esse mecanismo e acaba sendo pego de surpresa. Além disso,
cabe à operadora suportar os riscos de seu negócio, que não podem ser repassados ao con-
sumidor. Trata-se de uma situação de total desequilíbrio, pois o consumidor só é lembrado
para pagar pelo suposto aumento de custo, mas jamais para ver reduzida sua mensalidade
quando há diminuição da freqüência de uso.
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
dora. Além disso, em muitos casos, tem sido uma prática do mercado calcular a
sinistralidade do contrato (variação do número de eventos/sinistros verificados no
total de consumidores vinculados àquele contrato) levando-se em consideração apenas
aquele pequeno universo de consumidores, sendo insignificante a diluição do risco.
Em virtude do pequeno número de consumidores, a necessidade de um
tratamento mais custoso – como para câncer, por exemplo – elevará muito os
custos do grupo. Nestas situações, é grande a chance de aumento do valor da
mensalidade – a título de reajuste unilateral ou mesmo sinistralidade, sendo im-
postas “correções” consideráveis e, até mesmo, a rescisão unilateral do contrato
pela operadora – por não ser mais conveniente o vínculo com pequeno grupo em
que haja membro com doença grave.
A “falsa coletivização”, que não passa de uma forma das operadoras escapa-
rem da regulação, também não tem merecido a mínima atenção da ANS. 13
Resumo das diferenças entre planos individuais e coletivos
Preços iniciais Geralmente são mais caros Geralmente são mais baratos
que os coletivos da mesma que os individuais/familiares da
operadora e de cobertura mesma operadora e de
equivalente cobertura equivalente
NOTAS
1 Fonte: ANSTab Net. Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/informacoesss/informacoesss.asp.
Acesso em 10/mar/07.
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
2 Inicialmente a ANS dispunha de pouca informação sobre muitos dos contratos de planos de saúde, sendo
grande o percentual de contratos sobre os quais a Agência não tinha informação.
3 Conforme o Relatório de Gestão de 2005 da ANS, naquele ano o orçamento da Agência foi de
R$145.000.000,00 (http://www.ans.gov.br/portal/upload/transparencia/contratosdegestao/
Relat_Anual_Contrato_Gest_2005.pdf). Em 2006, somente de recursos advindos do orçamento do Minis-
tério da Saúde, estava previsto na Lei de Orçamento o repasse de R$ 114.799.652,00. Para 2007, o Projeto de
Lei Orçamentária reservou para a ANS R$152.842.217,00, também do orçamento do Ministério da Saúde.
4 Atualmente, entre as maiores seguradoras atuantes no setor de planos de saúde, SulAmérica, Bradesco
Saúde e Porto Seguro não oferecem mais contratos individuais, sendo que a última alienou toda sua
carteira de contratos individuais para a Amil (Medicina de Grupo) em 2006.
5 Assim também entende a Advocacia Geral da União, Procuradoria Geral Federal / Procuradoria Federal
– ANS, conforme conteúdo do Parecer 316, de julho de 2004, no qual respondeu à consulta formulada
pela Diretoria de Fiscalização da ANS.
6 A Samcil considera “coletivo” plano com duas pessoas. A Medial requer um mínimo de três contratantes;
14 SulAmérica e Intermédica exigem quatro usuários; e Bradesco Saúde, cinco pessoas.
2
Mais de 13 milhões de pessoas
continuam ligadas a planos antigos,
que praticam inúmeras restrições
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) despreza
os planos antigos e defende a validade dos
contratos excludentes, já rechaçados pelo Poder Judiciário
Deveres da ANS
Segundo o artigo 4º. da Lei 9.961/00, entre outras atribuições, são obrigações da ANS: fisca-
lizar as atividades das operadoras de planos privados de assistência à saúde e zelar pelo
cumprimento das normas atinentes ao seu funcionamento; exercer o controle e a avaliação
15
dos aspectos concernentes à garantia de acesso, manutenção e qualidade dos serviços pres-
tados, direta ou indiretamente, pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde;
fiscalizar a atuação das operadoras e prestadores de serviços de saúde com relação à
abrangência das coberturas de patologias e procedimentos; articular-se com os órgãos de
defesa do consumidor visando a eficácia da proteção e defesa do consumidor de serviços
privados de assistência à saúde, observado o disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de
1990 (Código de Defesa do Consumidor); zelar pela qualidade dos serviços de assistência à
saúde no âmbito da assistência à saúde suplementar.
A decisão do STF
Em 21 de agosto de 2003, outro fato foi usado como justificativa pela ANS
para fugir do seu dever legal de fiscalizar os contratos antigos. O Supremo Tribu-
nal Federal (STF) decidiu, liminarmente, pela inconstitucionalidade dos artigos
35-E2 e 10, § 2o3 da Lei dos Planos de Saúde, reconhecendo que as disposições da
referida Lei não atingem os contratos antigos. Com isso, tais dispositivos legais –
que expressamente se aplicavam aos contratos antigos – foram suspensos.
Em síntese, o STF suspendeu:
(a) A necessidade de prévia autorização da ANS para aplicação de qualquer
aumento por mudança de faixa etária para maiores de 60 anos;
(b) A necessidade de prévia regulamentação de doenças preexistentes;
(c) A proibição de suspensão ou rescisão de contrato, salvo por atraso por
mais de 60 dias ou fraude do consumidor;
(d) A proibição de limite de internação hospitalar;
(e) A necessidade de prévia autorização da ANS para aplicação dos reajustes anuais.
Em nota pública4, a ANS fez “terrorismo” com os usuários, declarando que
poderia haver um forte impacto para os milhões de usuários de planos antigos:
“Principalmente porque o artigo suspenso garantia a estes usuários de planos
antigos alguns dos direitos assegurados aos usuários de planos novos (contratados
após a Lei 9.656/98), como a proibição de suspensão de internações, inclusive de
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
UTIs, e controle dos reajustes para usuários com mais de 60 anos de idade.
Dos 23 milhões de usuários de planos antigos, o maior impacto, porém, será para os
9 milhões cujos planos antigos são individuais. Estes ficam mais vulneráveis na
garantia de manutenção de seus contratos e no controle de reajustes de mensalidade.”
A posição da ANS mostrou-se absolutamente sem sentido, uma vez que na
mesma nota a Agência reconheceu que “o STF reafirmou, no entanto, a validade dos
princípios básicos da Lei 9.656/98 e reconheceu o poder de regulação e fiscalização da
ANS, poder este que será inteiramente utilizado na defesa de todos os usuários de planos
antigos contra eventuais abusos de interpretação da Liminar concedida.” E, mais ainda,
manifestou que iria adotar as medidas necessárias para facilitar o acesso destes
usuários ao Judiciário, com base no Código de Defesa do Consumidor5.
O fato é que os direitos contidos no artigo 35-E da Lei dos Planos de Saúde,
16
estendidos aos contratos antigos, já estavam assegurados pela Lei 8.078/90, o CDC.
As determinações da Lei dos Planos de Saúde objeto da decisão liminar eram
apenas detalhamentos daquilo que outra legislação já assegurava. Afastada a Lei dos
Planos de Saúde, aplica-se o que dispõe a fonte original – o CDC.
Cláusulas abusivas
O Código de Defesa do Consumidor diz que são ilegais, e portanto nulas, as cláusulas
contratuais que estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade. Para a Lei, é
considerada exagerada, entre outros casos, a vantagem do fornecedor – no caso a operadora
de plano de saúde – , que ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que perten-
ce; restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, ameaçan-
do seu objeto ou o equilíbrio contratual; e/ou que se mostre excessivamente onerosa para o
consumidor, considerando a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e
outras circunstâncias peculiares ao caso.
Com relação aos planos de saúde, a natureza do serviço é prestar assistência à saúde; por
isso, regras contratuais que reduzam o direito à assistência à saúde devem ser questionadas.
São exemplos de cláusulas abusivas dos contratos antigos aquelas que limitam o tempo de
internação hospitalar; negam cobertura a câncer, Aids e a doenças preexistentes; admitem a
suspensão ou rescisão unilateral do contrato; entre tantas outras.
exclusão de inúmeras doenças, por meio de conceitos vagos, como “doenças crônico-
degenerativas”, “doenças preexistentes”, “doenças infecto-contagiosas”, dentre outros. Os con-
tratos antigos, em geral, não cobrem doenças já instaladas (preexistentes, congênitas), nem
que venham a se instalar e sejam dispendiosas, como as doenças crônicas que requerem
tratamento contínuo.
As doenças mais excluídas pelos planos de saúde, de acordo com estudo da Faculdade de
Medicina da USP10 , principalmente pelos contratos antigos, são, nesta ordem: câncer, doenças
cardiovasculares, Aids, meningite, acidentes e causas externas, cirrose hepática, insuficiência
renal, hérnia, diabetes e doenças congênitas.
Já os procedimentos e insumos mais negados são: transplantes, quimioterapia, radiotera-
pia e outros procedimentos ligados ao tratamento de câncer, órteses e próteses (principal-
mente stents, marcapassos e cateteres), exames diagnósticos, implantes, hemodiálise,
oxigenoterapia, fisioterapia, assistência ao recém-nascido e medicamentos de uso hospitalar.
17
Da mesma forma, o Poder Executivo, por meio da Secretaria de Direito
Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, em complementação ao rol de cláu-
sulas abusivas do artigo 51 do CDC, editou diversas portarias reconhecendo a
ilegalidade das cláusulas contratuais. A SDE declarou a abusividade da claúsula que
“imponha em contratos de seguro-saúde, firmados anteriormente à Lei no 9.656, de 3 de
junho de 1998, limite temporal para internação hospitalar”11 e também daquelas cláusu-
las que “estabeleçam prazos de carência na prestação ou fornecimento de serviços, em caso de
impontualidade das prestações ou mensalidades”; bem como daquelas que “estabeleçam
sanções, em caso de atraso ou descumprimento da obrigação, somente em desfavor do
consumidor”12.
Quanto aos reajustes anuais dos contratos antigos que tenham cláusula de
reajuste adequada (clara e precisa), de acordo com a decisão do STF, estes devem
ser seguidos. No entanto, no caso – até bastante freqüente – de o contrato não
estipular um critério objetivo que permita ao consumidor conhecer previamente
a forma de reajuste, tais contratos terão que se submeter ao limite imposto pelo
órgão regulador. Esta conclusão decorre do simples fato de que, na ausência de
regra contratual válida, cabe ao Poder Público, por meio do órgão competente,
trazer segurança jurídica à relação entre operadora e usuário, por meio da defini-
ção daquilo que está incerto no contrato.
Esse entendimento óbvio foi manifestado pela ANS – muito tardiamente –
quatro meses após a decisão do STF, em dezembro de 2003, nos seguintes termos:
Reajuste de mensalidade
O Código de Defesa do Consumidor definiu o direito básico à informação precisa e clara para
os consumidores (artigos 6o, III e 54, § 3o) e proibiu a variação do preço de modo unilateral
(artigo 51, X). Isto significa que devem estar claramente previstos no contrato os critérios de
reajuste para aplicação de aumento da mensalidade. Se não estiver, o aumento praticado será
considerado abusivo. Esta regra vale tanto para os reajustes anuais quanto para os aumentos
por mudança de faixa etária. Especificamente quanto ao aumento por mudança de faixa etária,
o Poder Judiciário tem reconhecido que, mesmo para os contratos antigos, ele só é possível
quando as regras estiverem bem claras no contrato e não houver abuso contra o consumidor13.
E, no mesmo sentido, a SDE também apontou a ilegalidade da cláusula contratual que imponha,
aos contratos antigos, aumento por mudança de faixas etárias sem previsão expressa e definida14.
18
Não se sabe exatamente o motivo, mas a verdade é que ANS nunca aceitou
aplicar o Código de Defesa do Consumidor, que é uma legislação que atinge
todas as relações de consumo, traz princípios e direitos básicos, e rege, inclusive, os
contratos antigos de planos de saúde.
Fiscalização
A ANS fornece pouquíssimos dados públicos e sistematizados sobre a fisca-
lização que realiza, limitando-se a apresentar alguns números sem especificações
sobre o tipo de contrato e de problema, multa aplicada, valores etc.
De acordo com notícia publicada, a ANS aplicou 687 multas em 2006; 844,
em 2005; e 724 multas em 200427, o que significa uma média de 751 multas/ano
ou 62 por mês, nos últimos três anos.
Segundo informações da própria ANS, menos de 10% das denúncias recebidas
pela ANS acabam virando motivo para uma efetiva fiscalização das operadoras e,
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
NOTAS
1 Caderno de Informação da Saúde Suplementar: beneficiários, operadoras e planos. ANS, Ministério da Saúde,
março/2007.
2 “Art. 35-E - A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos celebrados anteriormen-
te à data de vigência desta Lei que:
I - qualquer variação na contraprestação pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos de
idade estará sujeita à autorização prévia da ANS;
II - a alegação de doença ou lesão preexistente estará sujeita à prévia regulamentação da matéria pela ANS;
III - é vedada a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato individual ou familiar de produtos de que
tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei por parte da operadora, salvo o disposto no inciso II do
parágrafo único do art. 13 desta Lei;
IV - é vedada a interrupção de internação hospitalar em leito clínico, cirúrgico ou em centro de terapia
intensiva ou similar, salvo a critério do médico assistente.
§ 1o Os contratos anteriores à vigência desta Lei, que estabeleçam reajuste por mudança de faixa etária
com idade inicial em sessenta anos ou mais, deverão ser adaptados, até 31 de outubro de 1999, para
repactuação da cláusula de reajuste, observadas as seguintes disposições:
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
I - a repactuação será garantida aos consumidores de que trata o parágrafo único do art. 15, para as
mudanças de faixa etária ocorridas após a vigência desta Lei, e limitar-se-á à diluição da aplicação do
reajuste anteriormente previsto, em reajustes parciais anuais, com adoção de percentual fixo que, apli-
cado a cada ano, permita atingir o reajuste integral no início do último ano da faixa etária considerada;
II - para aplicação da fórmula de diluição, consideram-se de dez anos as faixas etárias que tenham sido
estipuladas sem limite superior;
III - a nova cláusula, contendo a fórmula de aplicação do reajuste, deverá ser encaminhada aos consu-
midores, juntamente com o boleto ou título de cobrança, com a demonstração do valor originalmente
contratado, do valor repactuado e do percentual de reajuste anual fixo, esclarecendo, ainda, que o seu
pagamento formalizará esta repactuação;
IV - a cláusula original de reajuste deverá ter sido previamente submetida à ANS;
V - na falta de aprovação prévia, a operadora, para que possa aplicar reajuste por faixa etária a consumi-
dores com sessenta anos ou mais de idade e dez anos ou mais de contrato, deverá submeter à ANS as
condições contratuais acompanhadas de nota técnica, para, uma vez aprovada a cláusula e o percentual
de reajuste, adotar a diluição prevista neste parágrafo.
§ 2o Nos contratos individuais de produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei,
independentemente da data de sua celebração, a aplicação de cláusula de reajuste das contraprestações
pecuniárias dependerá de prévia aprovação da ANS.
22
§ 3o O disposto no art. 35 desta Lei aplica-se sem prejuízo do estabelecido neste artigo.”
3 A Suprema Corte também suspendeu liminarmente a vigência do termo “atuais e” do artigo 10, § 2o:
As pessoas jurídicas que comercializam produtos de que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1o desta Lei
oferecerão, obrigatoriamente, a partir de 3 de dezembro de 1999, o plano-referência de que trata este
artigo a todos os seus atuais e futuros consumidores.” (grifos nossos)
4 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/sala_imprensa/ansinforma_topico_6586.asp
5 Nesse sentido, v. Boletim Informativo nº 317 do STF, que traz o resumo da decisão: “(...) o Tribunal,
entendendo caracterizada a aparente ofensa ao direito adquirido e ao ato jurídico perfeito (CF, art. 5º, XXXVI),
deferiu a cautelar para suspender a eficácia do art. 35-G, renumerado como 35-E pela Medida Provisória 2.177/
2001, que estabelece a aplicação da Lei 9.656/98 a contratos celebrados anteriormente à data de sua vigência,
ressaltando, no entanto, a possibilidade de incidência nos casos concretos do Código de Defesa do Consu-
midor ou de outras normas de proteção ao consumidor.” (grifos nossos)
6 Sobre decisões judiciais do Tribunal de Justiça de São Paulo – TJ/SP, v. SCHEFFER, M.C.. Os planos de
saúde nos tribunais: uma análise das ações judiciais movidas por clientes de planos de saúde, relacionadas à negação
de coberturas assistenciais no Estado de São Paulo, dissertação de mestrado pela Faculdade de Medicina
Preventiva da USP, 2006. Disponível em www.teses.usp.br. Entre tantos outros acórdãos do STJ, v.
REsp 244847/SP, 3ª Turma, Ministro Antônio de Pádua Ribeiro, julgado em 19/05/2005, que proíbe
a exclusão de cobertura de Aids.
7 No TJ/SP, reconhecendo a impossibilidade de limitação de internação hospitalar, é possível citar
seguintesos precedentes: Apelação Cível 168.696-4/6-00, Apelação Cível 251.277-4/4-00 e Apelação
Cível 316.052-4/0-00.
8 Quanto à abusividade da rescisão ou suspensão unilateral do contrato, encontram-se, entre outros, os seguin-
tes precedentes doTJ/SP:Apelação Cível 316.167-4/5-00,Apelação Cível 378.266-4/0-00,Apelação Cível
258.229-4/7-00; e no STJ, os acórdãos proferidos no REsp 602397/RS e no REsp 259263/SP.
9 O Superior Tribunal de Justiça tem inúmeros precedentes rejeitando o limite de internação hospitalar e já
uniformizou o entendimento da Corte por meio da Súmula no 302 que determina:“É abusiva a cláusula
contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado”.
10 V. nota 6.
11 Portaria nº 5, de 27/08/02. No mesmo sentido, há disposição na Portaria nº 4, de 13/03/98, e na
Portaria nº 3, de 19/03/99.
12 Portaria nº 4, de 13/03/98.
13 No Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, destaca-se como precedente a decisão proferida na
Apelação Cível 70014103725, enquanto que no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, destacam-se os
julgados na Apelação Cível 2006.001.19688 e na Apelação Cível 2006.001.12544.
14 Portaria nº 3, de 19/03/99.
16 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/sala_imprensa/ansinforma_topico_8881.asp
17 Convertida na Lei 10.850, em 25/03/04.
18 Art. 3º, parágrafo único. PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
19 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/sala_imprensa/ansinforma_topico_8881.asp
20 Artigo 51, do CDC e artigo 424, do CC.
21 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/perfil_Consumidor/saiba_mais_artigo_914.asp
22 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/sala_imprensa/ansinforma_topico_8881.asp
23 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/perfil_Consumidor/direitosdoconsumidor.asp
24 No Tribunal de Justiça de São Paulo, a decisão na Apelação Cível 233.476-4/0-00, e no Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro, os julgados na Apelação Cível 2006.001.51873, na Apelação Cível
2006.001.14176 e na Apelação Cível 2006.001.05004.
25 Resp 439410/SP: determinou a cobertura de sessões de fisioterapia motora necessárias ao
restabelecimento do paciente; e REsp 519940/SP: determinou a cobertura de prótese, no caso o
esfíncter urinário artificial, decorrente de ato cirúrgico coberto pelo plano.
26 Disponível em http://www.ans.gov.br/portalv4/site/home/home_consumidores.asp
27 ANS aplicou 687 multas a planos de saúde em 2006 – Disponível em http://www.cns.org.br/links/
menup/noticiadosetor/clipping/2007/01/clipping_2901.htm
28 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/site/perfil_operadoras/decisoes_2a_fisc.asp?secao=Operadoras
(consulta realizada em 05/03/07)
23
3
Usuários de planos
novos ficam sem assistência
em diversas situações
Brechas na lei e decisões da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) impõem inúmeras restrições mesmo em
contratos assinados após a vigência da Lei 9.656/98
das doenças.
Diversas entidades médicas, como o Conselho Federal de Medicina, a Asso-
ciação Médica Brasileira e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (Cremesp) já se manifestaram contrariamente à restrição de cobertura das
doenças preexistentes. Essas instituições defendem que o conceito de preexistência
não se baseia em qualquer fundamentação médico-científica e que a exclusão do
atendimento devido à alegação de doenças preexistentes interfere na autonomia
do médico, deixa o usuário em permanente estado de insegurança, e pode trazer
sérios prejuízos à saúde 2.
O longo prazo de carência para a cobertura de doenças e lesões preexistentes
é um dos mais graves problemas da nova legislação de planos de saúde, assim
como a extensa lista de procedimentos excluídos, conforme a Resolução
26
Normativa 82 da ANS.
Agravo
A legislação prevê o oferecimento obrigatório de alternativa que possibilite a
cobertura imediata de todos os procedimentos, inclusive de alta complexidade, eventos
cirúrgicos e leitos de alta tecnologia, aos portadores de doenças e lesões preexistentes.
Trata-se do “agravo” – que significa um acréscimo no valor da prestação
mensal do plano de saúde em função da doença preexistente. Assim, o usuário
que optasse por essa modalidade pagaria uma mensalidade maior, mas seria aten-
dido em todas as necessidades e procedimentos médicos relacionados à doença,
sem a carência de dois anos à qual estão sujeitos aqueles que optarem pela “cober-
tura parcial temporária”.
Neste caso, a empresa de plano de saúde deveria diluir o impacto dos custos
com o atendimento do doente entre todos os usuários do plano, ou seja, entre a
imensa maioria de pessoas sadias, sempre que necessitar calcular o agravo.
Porém, na prática, as empresas não viabilizaram a oferta obrigatória do agra-
vo, seja porque não o oferecem ou em virtude do preço proibitivo fixado para esse
tipo de cobertura. A CPI dos Planos de Saúde da Câmara dos Deputados apurou
que, em 2003, o agravo para tratar HIV/Aids, por exemplo, chegava a R$ 5.223,24
mensais; para diabetes, o valor era de R$ 2.222,55; para o tratamento do câncer de
mama, a mensalidade totalizava R$ 1.747,15.
Portanto, esta medida criada pelo Consu e respaldada pela ANS é uma verda-
deira ilusão: os planos fingem que oferecem e a Agência finge que fiscaliza. Lançada
como uma alternativa para reduzir o impacto dos dois anos de exclusão de cobertu-
ra, mesmo assim restrita para aquele universo de pessoas que pode arcar com mais
esse gasto, trata-se de mais um engodo, uma medida que nem sequer saiu do papel.
Urgência e emergência
Após 24 horas da assinatura do contrato, a Lei 9.656/98 determina que haja
atendimento dos casos de urgência e emergência. Porém, contrariando esta deli-
beração legal, uma resolução posterior buscou restringir, de forma significativa, a
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
assistência à saúde nessas condições, o que criou situações absurdas para os usuári-
os e resultou em mais um ônus para o Sistema Único de Saúde (SUS).
A Resolução 13 do Consu limitou os atendimentos de urgência e emergên-
cia a somente 12 horas no ambulatório, nas hipóteses de o usuário ter um plano
exclusivamente ambulatorial ou mesmo tendo um plano hospitalar, se estiver du-
rante o período de carência do plano. A medida nega também assistência à saúde
do usuário que possui plano hospitalar, se a urgência ou emergência não represen-
tar necessidade de internação. Para a gestante que possui plano com direito à
cobertura hospitalar e obstétrica, é oferecido apenas atendimento ambulatorial
por 12 horas, se ainda estiver cumprindo carência.
Esta resolução é absolutamente ilegal, uma vez que, ao invés de regulamentar o
atendimento dos casos de urgência e emergência garantidos na Lei, impõe uma série
de restrições ao direito dos usuários. 27
Aumento por faixa etária
Os planos de saúde excluem ou “expulsam” muitos usuários idosos, especi-
almente pela imposição de elevados reajustes, decorrentes da alteração de faixa
etária. Trata-se de uma verdadeira “exclusão pecuniária”.
O aumento do valor da mensalidade em razão da idade do usuário foi outro
abuso admitido pela Lei dos Planos de Saúde:
“Art. 15. A variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas nos con-
tratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em
razão da idade do consumidor, somente poderá ocorrer caso estejam previstas
no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de reajustes incidentes em
cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto
no art. 35-E.
Parágrafo único. É vedada a variação a que alude o caput para consumidores
com mais de sessenta anos de idade, que participarem dos produtos de que
tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º, ou sucessores, há mais de dez anos.”
Para adequar a regulamentação do reajuste por faixa etária a esta nova dispo-
sição legal, a ANS editou a Resolução Normativa 63, que estabeleceu dez faixas
etárias: 0 a 18 anos; 19 a 23 anos; 24 a 28 anos; 29 a 33 anos; 34 a 38 anos; 39 a 43
anos; 44 a 48 anos; 49 a 53 anos; 54 a 58 anos; 59 anos ou mais.
Esta resolução, válida para os contratos firmados a partir de janeiro de
2004, lamentavelmente manteve o percentual de 500%, que passou a ser diluído
antes dos 60 anos. A única imposição do órgão foi impedir que a variação acu-
mulada entre a sétima e a décima faixas fosse superior à variação acumulada
entre a primeira e a sétima faixas.
Impossibilitados de arcar com os pagamentos, justamente no momento em
que seus salários são reduzidos em decorrência das baixas aposentadorias, os ido-
sos muitas vezes são obrigados a abandonar os planos de saúde – com a aquiescên-
28
cia da Lei dos Planos de Saúde e da ANS.
Fragmentação da assistência
A legislação criou cinco tipos de planos, sendo um deles o plano referência,
com ampla cobertura. Os demais são subplanos que cobrem atenção ambulatorial
ou hospitalar, hospitalar com obstetrícia ou odontológica.
Essa oferta dos planos de saúde fragmentados é contrária à idéia de inte-
gralidade da assistência à saúde defendida pelas entidades de defesa dos usuários e
pelas instituições da área médica.
Restrições de cobertura
Além das chamadas doenças preexistentes, os usuários de planos de saúde
recebem negativas de cobertura sob diversos argumentos das operadoras.
A Lei 9.656/98 impõe a todos os planos de saúde que sejam cobertas as
doenças relacionadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde
(OMS), o que é um avanço, pois a maioria dos contratos anteriores à Lei
exclui muitas patologias (como câncer, Aids, doenças congênitas ou crônicas)
e ainda tratamentos como psicológicos, fonoaudiológos e para dependentes
químicos, entre outros.
Quanto às restrições de cobertura, a Lei dos Planos de Saúde exclui:
▲ tratamento clínico ou cirúrgico experimental;
▲ procedimentos clínicos ou cirúrgicos para fins estéticos, bem como órteses
e próteses para o mesmo fim;
▲ inseminação artificial;
▲ tratamento de rejuvenescimento ou de emagrecimento com finalidade
estética;
▲ fornecimento de medicamentos importados não-nacionalizados;
▲ fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar;
▲ fornecimento de próteses, órteses e seus acessórios não ligados ao ato
cirúrgico;
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
pode excluir ou restringir um direito garantido pela Lei, que é uma norma supe-
rior. E a Lei dos Planos de Saúde em momento algum permite a exclusão de
cobertura de acidentes de trabalho, não podendo uma resolução posterior, cuja
função é estabelecer meios para a fiel execução da Lei, criar tal exclusão.
NOTAS
1 Para verificar os financiamentos de empresas de planos de saúde nas eleições de 2006, bem como os
candidatos beneficiados, acesse www.tse.gov.br
30 2 Entidades repudiam resolução da ANS sobre planos de saúde, Jornal Medicina, fev/2001.
4
Os planos de saúde interferem no
trabalho do médico, remuneram mal e
prejudicam a saúde dos pacientes
Pesquisa aponta que cerca de 21.000 médicos paulistas
sofreram ou sofrem algum tipo de restrição ou imposição
dos planos, como negação de exames e internações
gum tipo de restrição ou imposição dos planos de saúde, afetando sua autonomia.
Os médicos já sentiram interferência dos planos, principalmente, quanto a:
▲ negação de autorização de consultas, internações, exames, procedimentos
ou insumos: 82% dos médicos;
▲ glosa de procedimentos ou medidas terapêuticas: 81%;
▲ restrições a doenças preexistentes: 59%;
▲ tempo de internação de pacientes: 55%;
▲ atos diagnósticos e terapêuticos mediante designação de auditores: 54%;
▲ descredenciamento: 42%;
▲ período de internação pré-operatório: 38%. 31
Denúncias no Cremesp
As conclusões da pesquisa são reforçadas por levantamento realizado pelo
Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), que analisou
382 denúncias de médicos contra planos de saúde, recebidas pelo órgão entre os
anos de 1999 a 2006 (Tabela 1).
Vale ressaltar que se trata de pequena amostra do problema, uma vez que os
conselhos profissionais – que atuam na fiscalização do exercício ético da Medicina
– não constituem uma porta de entrada adequada para o recebimento dessas quei-
xas, pois não têm competência para coibir grande parte dos abusos praticados
pelas operadoras de planos de saúde contra os prestadores de serviços médicos.
Mesmo assim, a análise das denúncias de médicos que chegaram ao Cremesp
demonstra que não são poucos os problemas vivenciados por esses profissionais. O
descredenciamento (desligamento do médico unilateralmente pela operadora) é o
problema mais reclamado (44% das denúncias), seguido por glosas de honorários e
procedimentos (32%) e interferência direta no ato médico (12,8%).
Assunto Número %
Descredenciamento 169 44
Glosas 122 32
Meta referencial 7 2
32
Tabela 2 - Planos de saúde mais denunciados pelos médicos no Cremesp
Plano Nº de denúncias
SulAmérica 62
Bradesco Saúde 17
Porto Seguro Saúde 12
Samcil 12
Interclínicas 12
Unimed Jundiaí 11
Amil 10
Fundação CESP 10
Cassi (Banco do Brasil) 10
Unimed Paulistana 8
Santa Casa Saúde 8
Unimed Campinas 6
Blue Life 5
Marítima Saúde 5
Ameplan 4
Mediservice 4
Grupo Saúde ABC 4
Abet/Plantel 4
Unimed Votuporanga 3
Unimed São José dos Campos 3
Unimed Bauru 3
Saúde Internacional 3
Cruz Azul 3
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Economus 3
Nacional Assistência Médica 3
Intermédica 3
Operadoras com duas denúncias cada 28
Operadoras com uma denúncia 69
Planos não identificados 62
Total 382
Fonte: Cremesp/2007
33
Desde a criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em
2000, o Cremesp e o Conselho Federal de Medicina (CFM) têm chamado a
atenção sobre a necessidade de o órgão regulador tratar das relações entre os
planos de saúde e os prestadores médicos.
Em documento de 2001 dirigido ao Diretor-presidente da ANS, o Cremesp
e outras entidades médicas já destacavam:
“(...) Os médicos firmam contrato ou convênio ao se credenciarem como
prestadores de serviços de planos de saúde. As cláusulas do documento, no en-
tanto, nem sempre são compatíveis com aquelas que foram pactuadas entre a
empresa e o usuário do plano, seja individual ou coletivo. Como agravante da
situação, as empresas vêm adotando medidas prejudiciais a médicos e pacientes,
sob a alegação do suposto impacto da regulamentação nos custos do setor, da
crise econômica do país e das obrigações previdenciárias. Dentre os expedientes
mais comuns das operadoras, destacamos:
● Aumento abusivo das mensalidades
● Descredenciamento unilateral dos profissionais
● Redução significativa dos honorários médicos
● Oferta de pacotes de atendimento com valores prefixados, com interferência na
autonomia profissional e risco de deterioração na qualidade do atendimento
● Restrição de exames diagnósticos e procedimentos terapêuticos
● Fixação de prazos mínimos entre consultas médicas
● Exigência de personalidade jurídica na relação de prestação de serviços entre
médicos e operadoras
● Descumprimento da lei no que se refere ao registro das empresas operadoras
de planos de saúde nos Conselhos de Medicina.”
Lei nº 9.961/00, que criou a Agência, em seu artigo 3º, afirma que:
“A ANS terá por finalidade institucional promover a defesa do interesse públi-
co na assistência suplementar à saúde, regulando as operadoras setoriais, inclu-
sive quanto às suas relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o
desenvolvimento das ações de saúde no País.”
Descredenciamento
Apontado como a principal queixa dos médicos paulistas3 e uma das principais
reclamações dos usuários, o descredenciamento representa, em geral, uma medida
unilateral ou retaliação da operadora de plano de saúde ao profissional médico. O
maior prejudicado é o paciente, que tem seu acompanhamento médico ou trata-
mento de saúde interrompido, justamente com um profissional de sua confiança.
A partir dos mecanismos de regulação, de metas e outros meios, as operado-
ras “fiscalizam” a atuação de cada profissional. Geralmente o descredenciamento
ocorre após os planos verificarem que determinado médico está, por exemplo,
indicando mais procedimentos do que a empresa considera adequado, muitas ve-
zes independente do diagnóstico clínico e da necessidade de saúde dos pacientes.
Por parte da operadora, a justificativa oficial do descredenciamento é, no
entanto, sempre administrativa, alegando, por exemplo, necessidade de reformulação
da rede credenciada.
Uma deliberação do Conselho Federal de Medicina (CFM) – Resolução nº
1.616/2001 – tentou proibir o descredenciamento dos médicos feito pelos planos
unilateralmente e sem justa causa. De acordo com a resolução, a empresa de saúde
deveria adotar dois procedimentos para fazer o descredenciamento do profissio-
nal: informar ao médico, por escrito, as razões do descredenciamento,
fundamentando e justificando a medida, além de conceder um prazo para a
apresentação de defesa. E, obviamente, o consumidor deveria ser informado do
desligamento do seu médico.
No entanto, os Conselhos de Medicina têm atuação limitada na solução
desse tipo de problema, que constitui atribuição da ANS. Os CRMs podem, no
máximo, co-responsabilizar o diretor médico do plano de saúde pela conduta
arbitrária da operadora.
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Baixa remuneração
Entre os principais problemas na relação entre operadoras e prestadores
médicos estão o baixo valor e as formas de remuneração. O credenciamento dos
médicos e o pagamento retrospectivo por produtividade continuam sendo as prin-
cipais formas de vínculo da maior parte dos médicos brasileiros com as operadoras
de assistência médica suplementar4.
Segundo a pesquisa do Instituto Datafolha realizada para o Cremesp, os
médicos que atendem planos de saúde recebem das operadoras, em média, R$
30,00 por consulta. O menor valor médio é R$24,00 e o maior, R$ 40,00, abaixo
do mínimo de R$ 42,00 reivindicado pelas entidades médicas. A mesma pesquisa
identificou que o preço médio de uma consulta médica particular no Estado de
São Paulo é R$ 145,00. 35
Além disso, a pesquisa concluiu que os médicos gastam em média R$ 2.500,00
mensais exclusivamente para manter a atividade profissional: despesas com manu-
tenção do consultório, transporte e alimentação no horário de trabalho, impostos
e atualização profissional. Ou seja, o médico deve atender pelo menos 4 consultas
por dia útil somente para cobrir suas despesas.
Até 1994, os planos de saúde reajustavam frequentemente os honorários
médicos, mas havia defasagem significativa, uma vez que utilizavam como base os
índices de inflação do mês anterior ao do atendimento do paciente, efetuando os
pagamentos 30 a 60 dias depois5, em uma época de inflação expressiva. Mas, existia,
em alguma medida, a correção dos valores.
A partir de 1995 a situação piorou. Os honorários profissionais deixaram de
ser reajustados e, em alguns casos, tiveram redução de seus valores6.
De acordo com levantamento da Associação Paulista de Medicina, os médi-
cos ficaram sem reajustes de 1994 a 2004, período em que os custos operacionais
do trabalho médico (tudo aquilo que o profissional gasta para o exercício da ativi-
dade profissional) aumentaram em mais de 100%.
Soma-se o fato de o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade),
do Ministério da Justiça, ter sido contrário, em diversas ocasiões, à edição daTabela
da AMB, sob a alegação de prática de cartel, chegando a impor multas e restrições
às entidades médicas.
Há 10 anos, em 1997, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/
USP) apresentou um estudo para subsidiar as negociações de honorários entre as
entidades médicas e as empresas representativas de planos de saúde de autogestão. A
Fipe, baseada no levantamento de custos operacionais mínimos para a manutenção da
atividade profissional do médico (consultório, deslocamento, impostos etc.) concluiu
que o preço mínimo para uma consulta médica deveria ser de R$ 29,00 naquele ano.
O preço médio da consulta particular apurado na época era de R$ 75,00.
Passada uma década, o valor médio nacional pago pelos planos de saúde para
uma consulta, conforme apurado pela ANS em 2006, era de R$ 26,14. No Estado
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
dimentos de alta complexidade que podem ser excluídos durante os dois anos de
carência nos casos de doenças ou lesões preexistentes.
A Resolução Normativa nº 82, de 2004, reeditou o Rol de Procedimentos,
que vigorava até maio de 2007, quando foi concluído este estudo.
Em novembro de 2004, logo após a atualização do rol da ANS, a Comissão
Nacional de Honorários Médicos da Associação Médica Brasileira elaborou uma
tabela comparativa entre a CBHPM e a nova lista.
A conclusão foi de que a ANS deixou de incluir 1.210 procedimentos da
CBHPM na revisão do rol em 2004. Por conta disso, os usuários continuarão sem
ter acesso a importantes exames (por exemplo, diagnóstico de hepatite), tratamen-
tos e cirurgias, como de câncer de ovário, transplantes de coração e pulmão, trata-
mento cirúrgico de epilepsia, além de consultas em pronto-socorros.
38
Segundo as entidades, a agência descumpriu o que foi pactuado no Ministério
da Saúde, de que haveria compatibilização da CBHPM com o rol de procedimen-
tos da ANS.
As entidades médicas defendem que o rol da ANS tenha os cerca de 5.300
procedimentos da CBHPM e seja atualizado pelo menos a cada três anos.
O Ministério Público Federal (MPF) determinou9, em 2005, que a ANS
revisasse e alterasse seu rol de procedimentos de alta complexidade, constante na
Resolução nº 68/2001, “tendo em vista a falta de fundamentação e de critérios
claros” na elaboração dessa lista.
Além disso, o MPF exigiu que a Agência adotasse as medidas necessárias
para eliminar todas as situações nas quais a exclusão da cobertura de determinado
procedimento, durante os 24 meses de carência, possa causar danos à saúde ou
representar risco de vida ao paciente.
A recomendação lembrou que, apesar da “oposição contundente dos órgãos
de defesa do consumidor”, a Lei 9.656/98 possibilitou a exclusão de atendimento
e assistência aos portadores das chamadas doenças e lesões preexistentes durante os
primeiros 24 meses de vigência do contrato.
Com isso, a ANS expediu a uma resolução (RDC nº 41), “elencando um
exorbitante número de procedimentos de alta complexidade passíveis de exclusão”.
“Depois de intensa mobilização por parte das entidades médicas e de defesa
do consumidor diante das impropriedades técnicas e do potencial prejuízo aos
pacientes e aos profissionais de saúde”, continua o documento, “a ANS editou
outra resolução (RDC nº 68), retirando cerca de 100 procedimentos, que voltaram
a ser de cobertura obrigatória após carências adequadas”.
Mesmo assim, segundo o Ministério Público Federal, “os critérios para a
seleção dos procedimentos mantidos não foram os sugeridos pelas entidades, vi-
sando “apenas a exclusão de procedimentos que representam custos mais elevados
para as empresas prestadoras”.
A recomendação também denunciou que este rol de exclusões ocasiona a
transferência dos gastos com procedimentos de alto custo do setor privado para o
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
Restrições de coberturas
As limitações de cobertura são o tema mais freqüente nas decisões judiciais
contra planos de saúde no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e também estão
entre as principais reclamações levadas aos Procons e ao Disque-ANS. Além de traze-
rem riscos e prejuízos à saúde dos usuários, interferem diretamente no ato médico.
Muitas restrições de cobertura são freqüentes nos contratos anteriores à Lei 39
nº 9.656/98, como a limitação de dias de internação, admitindo apenas 30 dias
por ano, ou 10 dias no caso de UTI; exclusão de cobertura para câncer, Aids,
doenças infecciosas e crônicas; exclusão de exames e procedimentos de alto custo.
Mas os contratos novos, assinados a partir de 1999, também estão sujeitos a diver-
sas limitações, tais como a suspensão de cobertura de procedimentos relacionados
às doenças preexistentes e o atendimento em situações de urgência e emergência.
Autorização prévia
Além das imposições descritas nos contratos, as operadoras adotam diversos
mecanismos “administrativos” que visam limitar procedimentos e exames solicita-
dos, o que atinge os consumidores e também os médicos, que são cerceados em
sua autonomia e atuação profissional.
A autorização prévia é uma dessas medidas de controle. Os planos de saúde
exigem que parte expressiva dos serviços, procedimentos, exames mais caros e
internações, fiquem vinculados à anuência prévia da empresa. E, não raro,
condicionam ainda a “liberação da guia” ao atendimento de outros critérios, como,
por exemplo, a avaliação pelo setor médico da operadora.
Muitas operadoras valem-se da autorização prévia para dificultar ou mesmo
negar a cobertura, além de monitorar o trabalho do profissional médico que soli-
citou o pedido.
Barreira ao atendimento
As autorizações prévias são mecanismos de regulação admitidos pela nova legislação,
desde que não restrinjam ou impeçam o atendimento; não caracterizem infração ao Código
de Ética Médica ou de Odontologia; não impeçam procedimento em razão do profissional
solicitante não pertencer à rede própria ou credenciada; não estabeleçam co-participação
ou franquia que caracterize financiamento integral do procedimento por parte do usuário;
ou, não estabeleçam, em casos de internação, alguma forma de pagamento por parte do
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
usuário por evento, com exceção das definições específicas admitidas em saúde mental.
É obrigatória a informação prévia e clara ao consumidor sobre os mecanismos de
regulação, assim como, nos contratos entre médicos e operadoras, deve constar os atos ou
eventos médico-odontológicos, clínicos ou cirúrgicos que necessitam de autorização admi-
nistrativa da operadora.
“Consulta nº 98.379
(...) Após a realização de cateterismo cardíaco e/ou angioplastia, é comum o
seguimento do paciente portador de insuficiência coronariana pelo cardiologista
responsável. Muitas operadoras glosam esta consulta, alegando que elas já estão
incluídas no procedimento, por prazo de 15 dias, conforme determina a tabela
AMB. É correta tal atitude, uma vez que o procedimento e a consulta são
realizados por profissionais distintos?
(...)
PARECER
(...)
Não há nenhum motivo plausível para não pagar o cardiologista.Tratam-se de
profissionais distintos (hemodinamicista e cardiologista), que realizam atos dis-
tintos e devem ser pagos separadamente. (...)”
“Consulta nº 86.265
(...) Solicita parecer do Cremesp sobre operadora de plano de saúde não reembolsar
o médico auxiliar que realizou cirurgia de próstata, alegando ser desnecessário.
(...)
PARECER
(...)
A CBHPM preconiza que a cirurgia seja feita por cirurgião e auxiliar. Não se
trata apenas da questão financeira.Trata-se da questão técnica.
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
Personalidade jurídica
Tem crescido a cada dia o número de médicos que, por imposição dos pla-
nos de saúde, constituem pessoa jurídica. De acordo com a pesquisa do Datafolha,
realizada para o Cremesp em maio de 2007, 38% dos médicos paulistas já têm
personalidade jurídica. Com isso, as operadoras conseguiram jogar o ônus dos
impostos e outras contribuições para os prestadores de serviços, que obrigatoria-
mente passam a emitir nota fiscal para recebimento dos honorários médicos.
Os médicos, assim como muitos trabalhadores brasileiros, vivem uma situa-
ção complicada no que se refere às relações trabalhistas e à seguridade social.
Dificilmente o médico consegue um posto de trabalho com carteira assinada jun-
to aos planos de saúde e freqüentemente é forçado a prestar serviços como autô-
nomo, cooperado ou na condição de empresa.
Raramente o médico pode fazer a escolha de ser contratado, pois, na maio-
ria das vezes, é o plano de saúde que “dá as regras do jogo”, com o objetivo de
obter a prestação de serviços com o menor custo possível.
Os médicos que constituem pessoa jurídica geralmente recolhem imposto
pelo critério de lucro presumido e têm carga tributária em torno de 15%. Além
do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL), as empresas prestadoras de serviço formadas por um único
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
médico pagam PIS (0,65% sobre a receita), Cofins (3% sobre a receita), ISS (de até
5% sobre a receita, conforme a legislação municipal), tributos sobre a folha de
salários (INSS, FGTS, Contribuição para Terceiros, totalizando 44% sobre a folha),
mais taxas, IPTU, IOF, CPMF etc. Tudo somado pode atingir mais de 30% do
faturamento mensal sobre a pessoa jurídica do médico.
Unimilitância
A chamada “unimilitância” é um meio de tornar o médico atrelado a um
único plano de saúde. Trata-se da exigência de exclusividade de prestação de servi-
ços, prática comum em várias cooperativas médicas, exercida por meio de cláusula
de fidelidade societária entre os médicos cooperados. De acordo com esta cláusula,
os médicos não podem prestar serviços como credenciados a outras operadoras de
44
planos de saúde, devendo atender exclusivamente os usuários da cooperativa.
Não há dúvida de que a unimilitância fere a liberdade de associação do
médico, principalmente num mercado de trabalho saturado e competitivo. O
credenciamento a vários planos ao mesmo tempo é uma necessidade dos médicos,
principalmente para aqueles que acabaram de ingressar no mercado de trabalho.
O art. 3° da Lei nº 5.764/71, que institui o regime jurídico das sociedades
cooperativas, estabelece que “celebram contrato de sociedade cooperativa as pes-
soas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o
exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lu-
cro”12 . E como é público, tais cooperativas profissionais de trabalho médico, na
realidade, são operadoras de planos de saúde, inclusive em termos legais13.
Porém, parte do Judiciário tem o entendimento no sentido de que são válidas
as cláusulas contratuais que prevêem a exclusividade nos estatutos de cooperativas.
Tal entendimento baseia-se no reconhecimento de que, no direito cooperativo, são
os estatutos das cooperativas que estabelecem as normas fundamentais sobre sua
organização, sua atividade e os deveres de seus cooperados, sendo lícita, portanto, a
previsão estatutária de que estes não podem vincular-se a outra entidade congênere,
provocando concorrência à cooperativa.Também se baseia na premissa de que nin-
guém é obrigado a filiar-se ou permanecer filiado à cooperativa14.
Ocorre que esta cláusula de exclusividade nada mais é que outra forma de
restringir e interferir na atividade dos médicos, o que afronta as garantias constitu-
cionais de liberdade de exercício profissional e de livre concorrência econômica,
afetando indiretamente os consumidores.
O Cade, do Ministério da Justiça, já apreciou a questão, tendo se manifestado
por diversas vezes contrário a esta prática, afirmando que em muitos casos a exigência
de exclusividade caracteriza-se como abuso de poder econômico, quando
considerado o mercado em que atua a cooperativa.Vale transcrever um trecho de
uma das decisões do órgão:
“Unimilitância
Art. 41. Exigir exclusividade do prestador de serviço:
Sanção – advertência;
multa de R$ 50.000,00.”
46
NOTAS
1 Conselho Federal de Medicina - CFM.
2 Pesquisa nacional “Avaliação dos Planos de Saúde”, realizada pelo Instituto Datafolha, em 2002.
3 Conforme levantamento realizado pelo Cremesp, em 2007, a respeito das denúncias ocorridas entre
1999 a 2006.
4 Relatório Final da CPI dos Planos de Saúde.
5 Justiça seja feita - José Avilmar Lino da Silva (Diretor de Defesa Profissional da SOGIMIG) – artigo
disponível no site da SOGIMIG - Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia de Minas Gerais - http://
www.sogimig.org.br/defesa/integra.php?id=13
6 Os Honorários Médicos e Políticas de Saúde – APM – http://www.apm.org.br/aberto/defesaprofissional_ PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
lista.aspx?id=180
7 Essa resolução foi publicada pelo Conselho Federal de Medicina em 07/08/2003, sob o nº 1.673/2003.
8 Conforme determina a Resolução nº 1.673/2003, doCFM.
9 Recomendação, identificada como MPF/SP nº 64, de 07/12/2005, assinada pelo Procurador da República
Sergio Gardenghi Suiama.
10 Posicionamento da AMB quanto à contratualização proposta pela ANS – disponível em http://
www.remuneracaomedica.org.br/posicao_amb.asp.
11 Através da RN nº 71, de 17/03/2004, publicada em 18/03/2004.
12 Vale observar que o exercício conjunto e cooperado de atividade profissional não pressupõe o trabalho
com exclusividade.
13 Conforme artigo 1º., parágrafo 2º. da Lei 9.656/98.
14 Nesse sentido, confirir, entre outros, acórdão do STJ, AgRg no REsp 179711/SP, 4ª Turma, Rel. Minis-
tro Fernando Gonçalves, publicado no DJ de 19/12/2005. 47
5
Mercado de planos de saúde
está concentrado e moviment
movimentaa
R$ 40 bilhões por ano
Sem concorrência nem portabilidade de carências, grandes
empresas dominam o mercado e faturam cada vez mais,
beneficiadas pela política de reajustes da ANS
um carro batido”.
Prazos de carência
A Lei dos Planos de Saúde (artigos 11 e 12, V, Lei 9.656/98) impôs carências, como pretendiam as
operadoras, mas estabeleceu alguns limites: 24 horas para casos de urgência ou emergência; dez
meses para parto; seis meses para os procedimentos em geral (consultas, exames, internações
hospitalares); e 24 meses para um extenso rol de procedimentos relacionados às doenças
ou lesões preexistentes. No entanto, a Lei não tratou da mobilidade dos usuários.
Fontes: Sistema de Informações de Beneficiários - ANS/MS - 12/2006 e Cadastro de Operadoras - ANS/MS - 12/2006
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
Nota: O termo“beneficiário” refere-se a vínculos aos planos de saúde, podendo incluir vários vínculos para um mesmo indivíduo.
Tranferência de usuários
Para o Idec, a possibilidade de livre negociação de carteiras de planos de saúde de operadoras
saudáveis, sem que o consumidor seja consultado, é um desrespeito ao cliente. Afinal, se quises-
se contratar outra operadora de plano de saúde, o teria feito desde o início, pois o consumidor
também escolhe os serviços que contrata com base na confiança que deposita no fornecedor.
Acumulado
Índice 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2000/2006
IPCA (1) 6,67 6,61 7,98 16,77 5,26 8,07 4,63 70,66
Índice ANS para
5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 11,69 8,89 86,17
contratos novos
SulAmérica (2) 5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 26,1 11,57 115,36
Bradesco e Itauseg (2) 5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 25,8 11,57 114,85
Amil (2) 5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 20,07 11,46 104,86
Golden Cross (2) 5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 19,23 11,46 103,43
Porto Seguro (2) (3) 5,42 8,71 9,39 9,27 11,75 11,69 14,83 96,33
(1) Os índices de inflação medidos pelo IPCA foram calculados para o período de maio do ano presente até abril do ano seguinte -
mesma periodicidade dos reajustes aprovados pela ANS. (2) Reajuste autorizado para contratos antigos vinculados a operadoras de planos
de saúde que firmaram Termo de Compromisso com a ANS. (3) A Porto Seguro firmou Termo de Compromisso com a ANS em 2006.
52 Por isso, recebeu reajuste diferenciado naquele ano, sendo o reajuste dos anos anteriores igual ao aplicado para contratos novos.
104,86% e Golden Cross – 103,43%. Os reajustes específicos destas operadoras para
o ano de 2007 não haviam sido divulgados quando da publicação deste trabalho.
Nos contratos coletivos, mesmo sem justificativa legal, a ANS não atua quanto
aos reajustes e cancelamentos de contrato. Por isso há problemas de rescisão unila-
teral de contratos, de uma hora para outra; a imposição de aumentos não previstos
em contrato e reajustes por sinistralidade.
Operadoras
exclusivamente 345.270.297 401.210.763 468.876.929 585.709.909 733.969.521 756.575.120
odontológicas
Cooperativa
127.541.135 146.517.327 153.204.600 210.917.137 246.785.905 230.030.378
odontológica
Odontologia
217.729.162 254.693.436 315.672.329 374.792.772 487.183.615 526.544.742
de Grupo
Fonte: ANS, março de 2007. (1) Não são incluídas as autogestões patrocinadas.
NOTAS
1 A portabilidade de carências, se instalada, permitiria que o consumidor aproveitasse carências já cumpri-
das em uma operadora em caso de mudança para outra operadora.
2 Conforme Caderno de Informação em Saúde Suplementar – Operadoras, Beneficiários e Planos (tabela
1.1.11), março de 2007.
3 Carteira é o nome utilizado para designar um grupo de consumidores que possui vínculo com determi-
nada operadora de plano de saúde.
4 Até a conclusão deste trabalho a operação não havia recebido autorização da ANS.
5 Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos, que mede o custo de vida na
região metropolitana de São Paulo.
56 6 Fonte: Melhores e Maiores – Revista Exame e Portal Exame (http://www.exame.com.br).
6
Planos ““quebram”
quebram” por má gestão,
A N S pouco interfere e quem paga a
cont
contaa é o consumidor
As quebras da Unimed São Paulo, Interclínicas
e Classes Laboriosas exemplificam o fracasso
da atuação da agência reguladora
Casos emblemáticos
Inúmeros processos de direções técnica e fiscal já foram instaurados pela
ANS e muitas operadoras também fecharam as portas e saíram do mercado. De
2.639 empresas existentes em 2000, quando foi criada a ANS, ainda estão em
atividade 2.0702, sendo 1.239 operadoras de assistência médica-hospitalar em 57
atividade com beneficiários. Alguns casos chamaram a atenção da opinião pública
por envolver grande número de usuários e/ou por se tratar de empresas antigas e
bastante conhecidas.Aqui são destacados os casos da Unimed São Paulo, Interclínicas
e Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas.
Interclínicas
A Interclínicas foi fundada em 1968 e chegou a contar com cerca de 190 mil
usuários.
No início de 2001, recebeu da ANS autorização para efetuar a revisão técni-
ca12, destinada a operadoras “em situação de desequilíbrio”. Por meio desse meca-
nismo, foi autorizada a propor alternativas aos seus usuários que implicaram em
alteração de seus contratos, por meio de reajuste extra, combinado ou não com
co-participação e/ou diminuição da rede credenciada de prestadores de serviço.
Apesar dos esforços do Idec, que questionou judicialmente a revisão técnica,
a decisão da Justiça que prevalece até o momento valida a medida, sob a alegação
de que possível “quebra” das empresas prejudicaria mais o consumidor do que as
58
alterações permitidas pela ANS.
Porém, a revisão técnica não foi suficiente para reerguer a Interclínicas, que
continuou a apresentar problemas financeiros, refletidos na má qualidade dos ser-
viços oferecidos aos consumidores e no atraso e/ou na falta de pagamento dos
prestadores de serviços credenciados. Tanto que, no final de 2003, os indícios co-
meçaram a aparecer publicamente. Em novembro daquele ano, foi divulgada uma
pesquisa13 que elegeu os melhores e piores planos de saúde do Estado de São
Paulo, na opinião dos médicos, considerando pontualidade de pagamento, remu-
neração por atendimento, faturamento, procedimentos, burocracia e comunicação.
A Interclínicas ocupou a 46ª colocação, sendo considerada uma das piores, per-
dendo apenas para a Samcil, Amesp e Serma14.
Mesmo assim, em 2004, a Agência autorizou a Interclínicas a participar do
Programa de Incentivo à Adaptação de Contratos (PIAC)15, levando muitos con-
sumidores a pagar mais por um plano de saúde em situação de instabilidade – fato
questionado formalmente pelo Idec e Procon/SP na época.
Pouco depois, em outubro do mesmo ano, a Agência instaurou o regime de
direção fiscal na empresa16. E já em 29 de novembro de 2004, determinou a alie-
nação compulsória da carteira de clientes da Interclínicas17, que foi adquirida pelo
Grupo Saúde ABC, com a autorização do órgão regulador.
As dívidas da Interclínicas à época somavam R$ 100 milhões18, até que em
dezembro de 2004 foi decretada a liquidação extrajudicial da operadora19.
O Grupo Saúde ABC, por sua vez, também já dava indícios de irregularida-
des antes mesmo da conclusão da transferência. Em 2004, recebeu os 166 mil20
usuários da Interclínicas e registrou, naquele ano, o maior índice de reclamações
no Procon de Santo André/SP, sofrendo inclusive autuação de R$ 6,3 milhões
após ter aplicado reajuste abusivo de 41% às mensalidades dos planos de saúde,
quando a ANS havia determinado aumento máximo de 11,75%.
No ano de 2005, várias suspeitas de irregularidades vieram a público, entre
elas, o prejuízo de R$ 9,3 milhões não revelado no balanço de 2003; a compra de
outra empresa com ágio de R$ 18,8 milhões para subtrair recursos; o não paga-
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
mento de dívidas ao Hospital Mauá, o que acarretou o bloqueio das contas bancá-
rias da operadora e de seus proprietários pelo juiz da 42ªVara Civil de São Paulo21.
Em fevereiro de 2005, dois meses depois da aquisição da carteira da
Interclínicas, o Grupo Saúde ABC já contabilizava uma perda de 68 mil clientes22.
Em outubro do mesmo ano, após ter liderado o ranking de reclamações da ANS
durante cinco meses consecutivos, a Agência instaurou o regime de direção técnica
na operadora23. O regime de direção fiscal não foi instaurado porque o Grupo
Saúde ABC conseguiu, junto à Justiça Federal do Rio de Janeiro, uma decisão
liminar impedindo a ANS de tomar essa medida.
Também em novembro de 2005, a operadora (sob a marca InterSaúde) rece-
beu 53 multas da ANS, no valor de R$ 50 mil cada uma, por redução da rede
hospitalar credenciada sem autorização prévia da Agência24. As multas contabilizaram
R$ 2,65 milhões. 59
A ANS comunicou, em 24 de agosto de 2006, a venda total da carteira de
planos de saúde do Grupo Saúde ABC (InterSaúde) para a Aviccena Assistência
Médica (Avimed Saúde)25. A Aviccena está registrada na ANS sob o nº 394009 e
conta com 190.747 beneficiários26.
A atuação da ANS
De acordo com suas atribuições legais46, cabe à Agência não só monitorar
como também agir em prol do saneamento econômico e financeiro das operado-
ras, garantindo os direitos dos consumidores que contrataram a prestação de servi-
ços médicos e hospitalares – serviços de relevância pública, nos termos da Consti-
tuição Federal de 198847. 61
Para tanto, a ANS pode lançar mão de algumas medidas como: 1) determinar
que a operadora apresente um plano de recuperação48; 2) instaurar o regime de
direção fiscal ou técnica49; 3) determinar a alienação da carteira de clientes50; 4)
determinar a liquidação extrajudicial da empresa51.
No entanto, até o momento, a atuação da Agência vem sendo deficiente,
incapaz de propiciar um mercado de planos de saúde seguro e saudável, em obe-
diência às finalidades para as quais foi criada. É o que revela a conduta do órgão
governamental nos três casos acima relatados. Além de omissões, notam-se graves
falhas em relação à eficiência e à oportunidade das medidas tomadas, à transparên-
cia das ações e à proteção dos consumidores.
A falta de transparência
A publicidade, junto com a legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiên-
cia são princípios da administração pública direta e indireta fixados pela Consti-
tuição Federal de 198854, aos quais a ANS deve obediência. 63
A falta de transparência está diretamente relacionada com as omissões do
órgão regulador e é comum aos três casos relatados. Durante as direções técnica
ou fiscal não se tem notícia de que os diretores nomeados pela ANS ou mesmo a
própria Agência tenham adotado qualquer procedimento ou iniciativa no sentido
de informar os usuários das operadoras em desequilíbrio econômico-financeiro e
consumidores em geral acerca da situação encontrada, das medidas tomadas para
corrigir os problemas e das perspectivas de solução dos mesmos.
O direito ao atendimento
Durante os regimes de direção técnica e/ou fiscal, o consumidor não pode sofrer qualquer
prejuízo, seu atendimento deve ser garantido sem qualquer dificuldade, o que vale dizer sem
restrições, a não ser as legalmente permitidas, bem como não pode sofrer descredenciamentos
injustificados de prestadores de serviço.
65
Quando for o caso, o consumidor deve ser remanejado para outra empresa, por meio da aliena-
ção compulsória da carteira de planos de saúde, determinada pela ANS. A alienação deve ser
feita para operadora em situação regular, com boas condições econômico-financeiras, o que
deve ser garantido pela Agência. Nesses casos, deverá ser pactuado um novo contrato, o que
poderá implicar em alteração de preço. Novas carências ou cobertura parcial temporária só
poderão ser exigidas com relação às coberturas não previstas no contrato anterior. A cobrança
de taxas de adesão, pré-mensalidade ou taxa de administração também são proibidas.
66
NOTAS
1 De acordo com o Relatório de Gestão da ANS – ano 2006 (item 1.5).
2 Este número abrange todas as operadoras em atividade, com ou sem beneficiários, inclusive as odontológicas.
Fonte: Caderno de Informação da Saúde Suplementar – Operadoras, Beneficiários e Planos, tabela 2.1,
março de 2007.
3 Segundo relato do Sr. Florisval Meinão, Diretor de Defesa Profissional da Associação Paulista de Medi-
cina, que consta no relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de Planos de Saúde.
4 Idem nota acima.
5 Conforme RDC 44, de 21 de dezembro de 2000, publicada no DOU em 26/12/2000.
6 Não consta do site da ANS, consultado em fevereiro e março de 2007, a norma que determinou a
transferência da carteira de clientes da Unimed São Paulo.
7 RDC 94, de 16 de janeiro de 2002, publicada no DOU em 17/01/2002.
8 Resolução Operacional 116, publicada no DOU de 20/01/ 2003.
9 Atualmente, a Central Nacional Unimed, registrada na ANS sob o no. 339679, dispõe de 534.281
beneficiários (dados até dezembro de 2006, conforme consulta ao site da ANS em 28/02/2007). Em
dezembro de 2006, esta operadora ficou na 396ª colocação no ranking de reclamações da ANS.
10 O índice é calculado com base na quantidade de reclamações feitas ao Disque ANS, que leva em conta
o total de usuários cadastrados em cada operadora de plano de saúde.
11 Disponível em http://www.ans.gov.br/portal/upload/indicedereclamacoes/ANS%20-
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
68
7
Cada vez mais recursos públicos
são destinados aos
planos de saúde privados
Clientes de planos atendidos no SUS, planos privados
para funcionários públicos; gastos tributários; dinheiro do
Tesouro Nacional para operadoras
Gastos Diretos
das Famílias Exceto
com Planos Privados
de Saúde Desembolso Direto4 33.149,00 31,21 3,1
Elaboração: Cremesp/Idec
Fontes: 1 Ministério da Saúde, 2004. 2 IBGE - Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003 e ANS, 2004. A
estimativa dos gastos das empresas foi calculada por meio da subtração dos gastos das famílias com planos privados do total
do faturamento das empresas de planos e seguros de saúde declarado à ANS. 3 IBGE - Pesquisa de Orçamento Familiares
2002-2003. A estimativa do desembolso direto foi calculada a partir das despesas das famílias com assistência à saúde
(medicamentos, assistência médica e odontológica particular etc.) excetuando as referentes ao pagamento de planos
70 privados de saúde. 4 PIB em 2002 = R$1.321.400 milhões.
No cálculo dos gastos/financiamento dos planos de saúde, há três importan-
tes considerações: 1) os gastos com o pagamento de planos de saúde de empresas,
denominadas autogestões patrocinadas, como Petrobrás,Volkswagen, Itaú, BNDES
etc., com planos privados de saúde para seus empregados não estão computados
entre as receitas das empresas de planos de saúde. Se estes gastos fossem considera-
dos, o Brasil gastaria mais com saúde e os gastos das empresas empregadoras ultra-
passariam os gastos das famílias; 2) os gastos de grandes empresas privadas, como
Itaú e Volkswagen, por exemplo, devem ser considerados gastos privados; mas e os
gastos das estatais com planos de saúde, são gastos públicos ou privados?
Dependendo da resposta, haveria mudança no cálculo das parcelas pública e privada
de financiamento; 3) há imprecisões na classificação de fontes. Os gastos com o
pagamento de planos de saúde para funcionários públicos deveriam ser computa-
dos como gastos públicos e não como gastos de fontes privadas.
Fontes: Balanço Social e Relatório Social das Empresas 2003, 2004 e 2005.
(*) Os valores de 2004 foram alterados no Balanço Social 2005 devido à uniformidade de critérios na linha de
Assistência Multidisciplinar de Saúde - AMS; para efeito de comparabilidade, o ano de 2004 foi reclassificado para
considerar as futuras aposentadorias e a provisão para aposentados.
Deduções/Gastos Tributários
Fontes: Ministério do Planejamento – Informações Complementares das Leis de Diretrizes Orçamentárias de 2005 e
2006. Ministério da Fazenda – Secretaria da Receita Federal (Coordenação-Geral de Política Tributária), 2006.
Demonstrativo dos Gastos Governamentais Indiretos de Natureza Tributária.
Nota-se que a soma dos gastos com planos de saúde dos servidores federais
(cujos recursos provêm diretamente do Tesouro Nacional) com os gastos de deter-
minadas empresas estatais atinge quase 10% do total de gastos com planos privados
de saúde no País.
Na mesma Tabela 4, as deduções tributárias computadas – que representam
cerca de 7% do total dos gastos com planos de saúde – devem ser consideradas
como valores não arrecadados e não como despesas (aqui estão incluídas as despe-
sas médicas particulares). Por isso, estão sendo superestimadas, uma vez que não
representam apenas as deduções com os planos de saúde.
Por outro lado, vale considerar que para este cálculo não foram consideradas as
deduções (cerca de R$ 1 bilhão em 2005) referentes às instituições filantrópicas (San-
tas Casas, principalmente), sendo que muitas das quais comercializam planos de saúde
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
Poder de Polícia (Rec. Próprios) 38.986.971 46,4 51.468.221 50,0 49.040.615 46,6
Recursos Financeiros
6.993.902 8,3 5.772.302 5,6 4.669.212 0,0
Superávit/Aplicação
103.931.639
Total 83.935.442 100 102.918.894(*) 100 105.338.887 100
2004 2.245.460,86
2005 4.006.817,00 78,44
Fontes: 1 Ministério da Saúde, SIOPS 2006 – estimativa de gastos públicos (federal + estadual + municipal); 2 ANS, 2006
+ Gastos com saúde de empresas estatais selecionadas; 3 IBGE, Estimativa de População, julho de 2004.
* Inclui outros gastos com saúde que não os assistenciais, inclusive pagamento de pessoal, considerando a cobertura para
100% da população. ** Gastos essencialmente assistenciais considerando apenas os clientes de planos de saúde (25% da
população estimada para 2005).
Apesar da enorme diferença dos gastos com saúde entre os que estão vincu-
lados aos planos de saúde e o restante da população, não se pode afirmar que há
uma homogeneidade no segmento populacional coberto pelos planos de saúde.
Existe uma estratificação interna no mercado de assistência suplementar: o perfil e
a qualidade da assistência oferecida estão relacionados ao valor da mensalidade.
Um claro exemplo ocorre no âmbito dos planos para funcionários públicos e de
empresas estatais, como demonstra a Tabela 8.
Os empregados complementam o pagamento de seus planos de saúde e de seus
respectivos dependentes, o que torna os valores correspondentes a cada contrato ainda
mais elevados.Tomando como parâmetro o valor mensal de R$ 82,95, que corresponde
ao preço médio mensal da contraprestação dos planos de saúde (segundo os dados da
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
77
Aplicando esses critérios de distribuição de recursos aos dados sobre despe-
sas assistenciais informados pelas empresas de planos de saúde à ANS em 2006 –
no montante total de R$ 30.241.516.581,00 – os médicos e hospitais seriam
destinatários dos valores expostos na Tabela 9.
% Despesas Número de
Assistenciais Número Médicos/ Remuneração/
Profissionais/ Empresas Total de Estabelec. Remuneração/ Faturamento
Estabelec. de Planos de Valor em Médicos/ Rede Planos Faturamento Mensal
de Saúde Saúde R$ 2006 Estabelec. de Saúde Anual (em R$)
Unidades
de Apoio
Diagnóstico
e Terapêutico 25 7.560.379.145 14.500 13.000 581.568 48.464
Fontes: Despesas Assistenciais - ANS, Caderno de Informações da Saúde Suplementar, março de 2007.
Número de profissionais: Conselho Federal de Medicina, disponível em http://www.portalmedico.org.br
Número de estabelecimentos: IBGE/AMS/2005, Fenaseg, Abramge e Unimed (Central Nacional).
dos gastos hospitalares das empresas de planos de saúde em 2006. Com base nesses
dados, o faturamento de cada hospital associado à ANAPH (subtraindo-se do cálcu-
lo a remuneração proveniente de fontes públicas) é pelo menos 40 vezes maior do
que o da média dos outros hospitais da rede das empresas de planos de saúde.
Atualmente, os dados disponíveis não permitem inferências sobre as
especificidades do fenômeno de concentração/distribuição dos recursos provenien-
tes das empresas de planos de saúde em relação aos médicos e unidades de apoio
diagnóstico e terapêutico. Pode-se afirmar apenas que o aprimoramento e a divulga-
ção das informações sobre o destino dos recursos são essenciais ao conhecimento e
à transparência quanto ao fluxo do financiamento dos planos de saúde privados.
78
NOTAS
1 Os gastos tributários são desonerações que correspondem a gastos indiretos de natureza tributária. Ou
PLANOS DE SAÚDE: nove anos após a Lei 9.656/98
seja, tratam-se de renúncias que podem ser consideradas exceção à regra geral da legislação tributária uma
vez que têm a intenção de aliviar a carga tributária de uma classe específica de contribuintes, de um setor
de atividade econômica ou de uma região e que, em princípio, poderiam ser substituídas por despesas
orçamentárias diretas. Segundo a Secretaria da Receita Federal (2003), os objetivos dos gastos tributários
são os de promover o desenvolvimento econômico ou social por intermédio de recursos não-orçamentá-
rios e por meio do sistema tributário. As finalidades dos gastos tributários são: (i) compensar gastos realiza-
dos pelos contribuintes com serviços não atendidos pelo governo; (ii) compensar ações complementares às
funções típicas de Estado desenvolvidas por entidades civis; (iii) promover a equalização das rendas entre
regiões; ou, ainda, (iv) estimular determinadas áreas da economia ou localidades.
2 A Mesa Nacional de Negociação Permanente foi instalada em fevereiro de 2003. Em 22/07/04 o
protocolo estabelecido entre o governo federal e as entidades representativas dos servidores públicos civis
da União foi publicado no Diário Oficial da União e o regimento institucional da MNNP em 22/07/04.
A Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento coordena a MNNP e em seu âmbito
foi criada a Coordenação-Geral de Seguridade Social da SRH para tratar questões relacionadas à saúde
ocupacional e assistência médica e social do servidor.
3 Acórdão 1146/2006 do TCU, Ministro Relator Augusto Nardes, publicado no DOU em 17/07/2006. 79
Recomendações