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Na rota da
valorização económica da cultura
A Direção-Geral do Românico, que tem vindo a alargar as manente e este processo de continuidade exi-
Património Cultural suas fronteiras e a demonstrar a impor- ge um enorme investimento e que os edifí-
(DGPC) é responsável tância que um determinado património cios sejam usados. Um edifício sem uso
pode representar para uma região e para rapidamente se degrada e entra em ruína,
pela gestão do património
o seu desenvolvimento económico ou a portanto, este reuso também se afigura extre-
cultural em Portugal Rota dos Castros do Noroeste Peninsular, mamente importante. De uma forma lacta,
continental. Uma equipa com 12 entidades envolvidas em torno de podemos falar em dois tipos de patrimónios
alargada, cobrindo um património identitário europeu que edificados: os monumentos e os núcleos anti-
praticamente todos os atrai outro tipo de turismo… Estamos gos das cidades, de uma forma mais geral,
domínios técnicos e também a trabalhar no lançamento da que têm construções que se afiguram impor-
Rota das Catedrais, com um cariz nacio- tantes pelo conjunto. E neste último caso
científicos e estruturada
nal, que envolve as 25 catedrais existen- pode dizer-se que temos vindo a testemu-
funcionalmente em tes de norte a sul. Em suma, este tipo de nhar interessantíssimos exemplos que ates-
serviços centrais, trabalho em que se enquadra a Rota das tam uma evolução extremamente positiva de
sediados em Lisboa, e em Judiarias é extremamente importante no recuperação de casas com princípios pouco
Museus, Monumentos e que concerne à atracção turística e até intrusivos. Relativamente aos edifícios de
Palácios, localizados em para que o turismo não se concentre ex- maior dimensão, tem havido um grande es-
clusivamente em determinados territó- forço de recuperação e reutilização. A ques-
diferentes pontos do país,
rios, potenciando deste modo o desen- tão dos castelos já se afigura diferente, sendo
assegura um vasto leque volvimento económico de outros. que a sua função original foi perdida e o seu
de funções e de serviços. reuso não é fácil. Neste caso, estamos perante
Paula Araújo da Silva, Diretora Geral Falamos em património associado ao uma função cultural, de visita… Temos mui-
do Património turismo… em suma, estamos perante tos e estamos perante um processo natural-
uma economia da cultura… mente lento e que carece de um grande in-
Quando falamos em economia da cultura, vestimento.
temos as chamadas receitas directas mas
As suas atribuições passam, entre muitos Relativamente à Rota das Judiarias, creio igualmente as indirectas, que se revelam Presumo que, dada a sua formação em
outros campos de atividade, pelo estu- que devemos enfatizar a existência de ainda mais importantes. Ou seja, não é o arquitectura, esta área das políticas
do, investigação e divulgação do patrimó- um património extremamente importan- bilhete de entrada no museu mas as contri- patrimoniais lhe seja particularmente
nio imóvel, móvel e imaterial, pela gestão te, que se relaciona inclusivamente com buições para as economias locais, que têm cara… Em que medida poderá esta es-
do património edificado arquitetónico e ar- uma História europeia pesada que em a ver com a restauração, com a hotelaria, colha para o exercício de directora ge-
queológico no território e nas cidades, pela Portugal se encontrava praticamente ve- com o comércio e com a atracção das pes- ral do património cultural poderá sig-
realização de obras de conservação nos tada ao desconhecimento geral. Entendo soas a esses locais e a inerente criação de nificar um reforço do investimento do
grandes monumentos, pela gestão dos mu- que esta rota colocará isso em evidência, emprego. É extremamente importante e, Estado neste domínio?
seus nacionais e dos monumentos classifi- desvendando essa parte da História ---. seguramente, uma forma de desenvolvi- Naturalmente, é o que espero… Este pro-
cados como Património Mundial, pela Acima de tudo, a Rota das Judiarias per- mento de territórios interiores que estão cesso de concessão de monumentos histó-
coordenação da Rede Portuguesa de Mu- mitir-nos-á visitar memórias concretas fragilizados devido à falta de pessoas e de ricos, no âmbito do projecto Revive, em
seus, pela documentação e inventário do em diversos pontos do país, relevando actividade económica. Também por isso que temos vindo a colaborar com o Minis-
património imaterial, indo até às interven- aqui de forma especial o museu que será friso a importância desta Rota das Judia- tério da Economia, do Turismo e com a Di-
ções de conservação e restauro de peças de edificado em Lisboa e que poderá ser rias. Não é apenas importante do ponto de reção-Geral do Tesouro e Finanças, visa
património móvel e integrado. muito atrativo do ponto de vista turísti- vista cultural ou da tal memória esquecida identificar edifícios que poderão ser trans-
Paula Araújo da Silva assumiu, no início do co, potenciando a visitação de turistas a mas igualmente pela questão económica. formados em unidades hoteleiras e conces-
ano, a função de Diretora Geral do Patrimó- outros territórios do país, onde nunca sionados, projectando o tal reuso. Temos o
nio e, em entrevista ao País Positivo, destaca iriam de outra forma. E isso é extrema- Tendo assumido muito recentemente exemplo das Pousadas de Portugal, que re-
a importância que a criação de rotas temáti- mente importante para as políticas patri- esta missão, considera que Portugal sultaram em exemplos extremamente ino-
cas subordinadas ao património nacional e a moniais, para o turismo e para o desen- estará finalmente a encarar de forma vadores à época, aproveitando edifícios en-
valorização das já existentes deverá assumir, volvimento económico do país. E gostava séria e pragmática o seu próprio patri- tão desocupados ou em ruína. Estamos
não só pela dimensão cultural mas igual- de realçar que, para nós, enquanto Dire- mónio? agora, dentro de princípios semelhantes
mente pelo potencial económico que as mes- ção-Geral que define a política patrimo- Creio que se tem feito um trabalho muito aos de então a procurar dar um uso a edifí-
mas representam para os diferentes territó- nial nacional, a criação de rotas a nível considerável relativamente à questão patri- cios abandonados e com valor patrimonial.
rios do país. nacional é um domínio ao qual pretende- monial… Ao longo dos últimos 30 anos ou No fundo, identificar os edifícios espalha-
mos conferir especial importância. Na até mais, temos vindo a trabalhar em todo o dos pelo país capazes de atrair turistas e
Que importância encerra esta Rota prática, isso passa nomeadamente pelos país mas é preciso não esquecer que a ques- visitantes, envolvendo aqui uma vertente
das Judiarias para a Direção-Geral do castelos e pelas fortalezas e pelo fortale- tão do património – edificado, neste caso – de investimento privado naturalmente res-
Património Cultural? cimento do que já existe, como a Rota do exige uma manutenção e conservação per- peitoso do património.
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existe uma série de ações imateriais Após a conclusão desta fase de pleno direito, sendo nosso objetivo
que lhe dão conteúdo e validam mui- projeto, de que forma a rede po- candidatar a nossa Rota ao Conselho
to do trablho que se está a realizar. derá ser expandida? Haverá a in- da Europa, o que trará mais mais-va-
clusão de mais municípios ou in- lias evidentes e é mais uma prova
A expectativa de aumento do nú- vestimento em novas matérias/ que validará todo o esforço que tem
mero de turistas a visitar os mu- projetos? vindo a ser feito.
nicípios da rede é elevada? As nossas equipas técnicas estão já a
Claramente esse é um dos objetivos e preparar uma nova candidatura que O EEA GRANTS continuará a ser
para tal a Rede vem fazendo um es- terá vários parceiros internacionais, um parceiro da Rede de Judiarias
forço grande com a participação to- ligados a esta temática e com os quais de Portugal nessas projeções de
Sede rede de judiarias dos os anos na IMTM – Feira Interna- temos ligação forte. Terá uma forte futuro?
cional de Turismo do Mediterrâneo componente imaterial ligada à temá- Vamos dentro em breve apresentar ao Sr.
em Telavive, Israel, onde vamos es- tica da Inquisição e que contemplará Embaixador da Noruega em Portugal
tar, mais uma vez, nos próximos dias certamente alguns projetos materiais em primeira mão, o Projeto detalhado
ropean Economic Area Grants (EEA 7 e 8 de fevereiro e que tem ajudado a a serem apresentados pelos municí- anteriormente enunciado, projeto este
GRANTS), resultou da credibilidade captar muitos turistas desses países. pios que agora não foram contempla- que é ambicioso e de caráter internacio-
e trabalho da rede que permitiu uma Vamos igualmente participar na BTL dos. Estamos também a desenvolver nal e estamos certos que terá o melhor
ajuda fundamental aos municípios – Bolsa de Turismo de Lisboa, no pró- uma parceria com a Rede de Judia- acolhimento do mecanismo financeiro.
na execução dos seus projetos, não ximo mês de março com Stand Pró- rias de Espanha no sentido de estrei- Até abril estamos empenhados em
podendo esquecer também o Estado prio e na FITUR – Feira Internacional tar laços e desenvolver esforços con- concluir o projeto atual que estou
Português, que através da Direção de Turismo no próximo ano. O gran- juntos no âmbito da AEPJ – European certo terá nota muito positiva de to-
Regional da Cultura do Centro cofi- de objetivo é atingirmos 100.000 visi- Association for the Preservation and das as entidades envolvidas e será re-
nancia este projeto. Mas este Projeto tantes, ainda durante este ano. Promotion of Jewish Culture and He- conhecido pela qualidade por todos
vai mais além da obra material, pois ritage, da qual somos membros de os que nos visitarem.
Um espaço pedagógico
com mil anos de História
Lisboa contará com um ter transversal do projeto e a sua ambição, terísticas específicas da cultura judaica, da presença dos Judeus no nosso país,
novo espaço memorial a CML e a CIL encontraram diversos par- numa perspetiva de introdução à história e sendo de destacar o papel que tiveram
dedicado à História dos ceiros que pudessem representar mais-va- religião hebraicas. Os restantes núcleos ao longo de todo o século XX. O Museu
lias para este programa. A Associação de privilegiam um discurso museológico Judaico de Lisboa pretende contar estas
judeus em Portugal. Um Turismo de Lisboa colocou a sua experiên- cronológico, que aborda as várias etapas e muitas outras histórias, percorrendo
novo museu irá nascer no cia ao serviço deste desafio e vai gerir todo da presença judaica em Portugal, desde quase 2000 anos de presença judaica em
Largo de São Miguel, em o processo de construção do museu e assu- a época medieval até à atualidade, pas- Portugal. Desde a convivência / intole-
Alfama, projeto que mir a sua gestão. A Fundação Drahi asso- sando pela expulsão / conversão de rância do passado até aos dias de hoje,
envolve um investimento ciou-se para permitir a viabilidade econó- 1496, o fenómeno dos cristãos-novos, a o Museu tem como objetivo transmitir
de cerca de cinco milhões mica do projeto. Para além destas parcerias diáspora (que levou os judeus de ori- aos visitantes de todas as faixas etárias
mais institucionais, o Museu Judaico de gem portuguesa a praticamente todas as um discurso que combata ativamente a
de euros Lisboa conta já com uma lista considerável partes do mundo), as condições para o intolerância étnica e religiosa, assim
de doadores e emprestadores, que garan- pleno regresso do Judaísmo ao país, o pa- como valorize as diferenças culturais
tem a qualidade e relevância dos materiais pel das comunidades judaicas em Portu- como definidoras do património da
O Museu Judaico de Lisboa partiu da Co- a expor e a coerência do discurso museoló- gal durante a 2.ª Guerra Mundial e o con- Humanidade.
munidade Israelita de Lisboa (CIL), que gico, que será complementado com equi- tributo dessas mesmas comunidades na
desafiou a Câmara Municipal de Lisboa pamentos multimédia. atualidade. Potencialidade económica do
para criar um equipamento cultural desti- projeto
nado a preservar e divulgar a herança ju- Caracterização do espaço Um espaço transmissor de Embora se trate de um projeto de serviço
daica da cidade e do país. Lisboa é das museológico conhecimento e do passado público, este novo equipamento cultural
poucas capitais europeias que não possui O projeto de arquitetura foi oferecido pela judaico de Lisboa tem um potencial turístico relevante, que
ainda um espaço museológico dedicado ao Arquiteta Graça Bachmann. Pensado de Lisboa possuiu quatro judiarias na Ida- contribuirá para a afirmação do “destino”
contributo judaico para a sua história, ra- raiz, este edifício vai albergar um conjunto de Média e foi grande a relevância que Lisboa no contexto nacional e internacio-
zão pela qual a Autarquia sentiu necessida- alargado de valências, como espaço para a comunidade judaica alcançou nesse nal. Do ponto de vista da gestão da cidade,
de de trabalhar para proporcionar as con- exposições temporárias, cafetaria, serviços período, tanto na especialização em vá- a sua localização em Alfama permitirá do-
dições necessárias à criação de um museu administrativos, loja e centro de documen- rias profissões/ofícios como no finan- tar esta zona de um equipamento museoló-
com esta missão. O local escolhido é o Lar- tação. A exposição permanente foi concebi- ciamento de projetos reais. Depois de gico de referência, que não só ajudará a re-
go de S. Miguel, em Alfama, lugar emble- da por Esther Mucznik e contará a história um período de interdição, ditado pela qualificar aquele bairro identitário de Lis-
mático para a comunidade judaica, pois foi da presença judaica em Lisboa (e, em senti- expulsão de D. Manuel e pelo estabele- boa, como também reforçará os corredores
nas suas imediações que se estabeleceu do alargado, em Portugal), a partir de 5 nú- cimento da Inquisição, o ressurgimento de acesso ao Castelo de S. Jorge a partir da
uma das mais importantes judiarias me- cleos. O primeiro deles diz respeito à cultu- das comunidades judaicas no século zona ribeirinha, criando mais pontos de in-
dievais da cidade. Tendo em conta o carác- ra religiosa e pretende evidenciar as carac- XIX criou novos capítulos da história teresse para todos os que visitam Lisboa.
As Memórias Judaicas
em Portugal
A história, preservação e
te da história de Portugal. vação da memória do Holocausto atra-
memória da presença Gostaria de saudar as autoridades e or- vés de associações como a ME-
judaica em Portugal. ganizações que desenvolvem, em vá- MOSHOA, entre outras. Neste momen-
rios pontos do país, aqueles centros, to, a comunidade judaica está muito
fornecendo ao público em geral, e às envolvida na implementação do Decre-
novas gerações em particular, um me- to-Lei de Fevereiro de 2015, que regula-
Há raízes da presença judaica em Por- lhor conhecimento deste capítulo his- menta a aquisição da nacionalidade
tugal desde tempos imemoriais, que tórico”. portuguesa, por naturalização, de pes-
deixaram uma marca e uma herança soas que consigam provar a sua des-
significativas. cendência de judeus perseguidos na
No presente, presenciamos uma inves- A presença da Península Ibérica”.
tigação académica crescente de docu- comunidade judaica em Ao mesmo tempo, a direcção e os mem-
mentos e vestígios dos períodos mais Portugal no presente e a bros da Comunidade judaica em Portu-
turbulentos, bem como do legado dei- sua participação na gal, à semelhança de outras comunida-
xado pelas comunidades judaicas. É vida ativa do país des judaicas espalhadas pelo mundo,
possível encontrar muitas publicações A comunidade judaica em Portugal, acompanham com muita atenção tudo
sobre o tema da presença judaica e nos dias de hoje, é parte integrante re- o que acontece no Estado de Israel.
abrem-se diversos centros e institutos levante da sociedade portuguesa acti-
Tzipora Rimon, Embaixadora do Estado de Israel em cuja missão é a preservação da memó- va, por exemplo no âmbito do diálogo Tzipora Rimon,
Portugal ria de uma época passada, que faz par- interreligioso e da educação e preser- Embaixadora de Israel em Portugal
Rabino de Belmonte
500 anos de tradição judaica
Representante de todos judaica. As ações desencadeadas pela Portugal está a trabalhar nesse sentido.
os judeus de Belmonte, o Rede de Judiarias de Portugal ajudam o
Rabino Elisha Salas seu trabalho? Recebe a visitas de muitos turistas ju-
A comunidade judaica de Belmonte é um pe- deus?
concede uma entrevista
queno organismo que sozinho não consegue Todos os turistas que visitam Belmonte ficam
ao País Positivo disseminar 500 anos de história da presença encantados com a região e querem conhecer
desmitificando o facto de judaica em Portugal, precisamos de um orga- mais do país, a sua curiosidade fica aguçada e
a comunidade judaica ser nismo mais amplo e forte para o fazer e a a Rede de Judiarias desempenha um papel
considerada fechada e Rede de Judiarias de Portugal vem desempe- fundamental ao criar rotas devidamente assi-
pouco recetiva a visitas nhar, na perfeição, esse papel. É necessário naladas e estruturadas para que estas pessoas
desenterrar a história judaica, levá-la às pes- satisfaçam a sua curiosidade e regressem.
de pessoas exteriores à
soas e expor a riqueza que se encontra escon-
comunidade. dida no território português. Criadas as Rotas é necessário criar con-
dições para receber os turistas que têm
Há, na sua opinião, muito trabalho por regras diferentes da cultura portuguesa.
efetuar? Nota que Já existe essa sensibilidade?
Com um poder de oratória notável recebe os Acredito que sim. Todos os organismos traba- Já existem alguns restaurantes que servem
convidados dentro da Sinagoga. Começa por lharam para melhorar, preservar e conservar comida kosher. Desloquei-me ao local para
Rabino de Belmonte, Elisha Salas explicar a disposição das pessoas: “homens o património local, agora devem-se unir e ensinar e me certificar de que a comida é con-
em baixo com a kipá sobre a cabeça e as mu- criar uma rota única de forma a que o turista fecionada mediante as nossas regras e certifi-
lheres no piso superior de cabelos cobertos” não perca tempo com as viagens e fique per- quei esses restaurantes. Atualmente já exis-
dido quando necessita de alguma informação tem queijos, compotas, carnes e bebidas que
É um membro ativo em Belmonte que adicional. O trabalho em rede, em comunida- podem ser cadquiridas e que têm a certifica-
prima por promover e divulgar a cultura de é fundamental e a Rede de Judiarias de ção kosher.
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Pólo museológico Vilar Formoso – Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes
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França porque os vistos eram falsos. Des- de Sousa Mendes para que a história não Nova Iorque, da Sousa Mendes Founda- Pretendemos honrar a memória desses
se incidente resultou a morte de um casal esqueça quem salvou e foi salvo nesta tion, do Portugal NewYork Consulate- refugiados mas também do Cônsul Aris-
que permanece sepultado no cemitério época. Para isso adquirimos e recuperá- -General, do Turismo do Centro de Por- tides de Sousa Mendes que salvou mi-
de Vilar Formoso. mos dois armazéns e o largo da estação tugal, da Luso-American Development lhares de pessoas durante o Holocausto.
de Vilar Formoso (estação que está entre Foundation, da American Jewish Histo- Creio que vai ser alvo de visita de turis-
O Memorial aos Refugiados e ao as cinco mais bonitas de Portugal).O me- rical Society, do Leo Baeck Institute e The tas com interesse meramente cultural e
Cônsul Aristides de Sousa Mendes morial vai ter seis núcleos distintos: Gen- International Raoul Wallenberg Founda- religioso como de famílias de origem ju-
terá dimensões e conteúdos distin- te como Nós, O Início do Pesadelo, A tion, onde tive a oportunidade de conhe- daica que querem saber mais sobre os
tos de Malhada Sorda? Viagem, Vilar Formoso - Fronteira da cer alguns dos sobreviventes do Holo- seus antepassados.
Embora as motivações tenham sido se- Paz, Por Terras de Portugal e A Partida. causto, nomeadamente a família Winter.
melhantes, a fuga dos judeus e o acolhi- A ideia é fazer com que o visitante vista a Esta família juntamente com outras, seus Há algum fator que diferencia os
mento do lado português, estes são pon- pele de um refugiado no percurso até à descendentes e alguns sobreviventes or- projetos de Almeida em relação aos
tos que se voltam a tocar passados quase liberdade. ganizaram duas viagens às quais deram outros da Rede de Judiarias de Por-
cinco séculos. A intervenção de Aristides o nome “On the road to freedom” de for- tugal?
de Sousa Mendes, que era Cônsul de O município já realizou algum ma a recriarem a viagem que os seus an- Somos o único município que concorreu
Portugal em Bordéus foi um fator deter- evento para divulgar a presença ju- tepassados fizeram a caminho da liber- com dois projetos, que focalizam dois
minante na vida de milhares de pessoas daica em Almeida? dade de Bordéus até Vilar Formoso. períodos distintos da nossa História, a
e não queremos deixar de eternizar a Realizámos uma exposição nos Estados Numa dessas viagens fui recebê-los jun- fuga de Judeus de Espanha para Portu-
gratidão por tão nobre e humana atitude. Unidos, no JewishCenter, promovido to à fronteira e acompanhei-os na visita gal no séc. XV e o acolhimento aos refu-
O município decidiu construir o Memo- pela American Sephardi Federation, com às obras do Memorial aos Refugiados e giados na II Guerra Mundial.
rial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides o apoio da Embaixada de Portugal em ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes.
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O EEA GRANTS em parceria com a mais dinâmico. É um museu que tem Mezuzá
Rede de Judiarias de Portugal uma forte vertente educativa, e os mais É a palavra hebraica para designar um-
apoiam o projeto do município de jovens vivem num tempo em não se pode bral. Consiste em um pequeno rolo de
Belmonte. Pode descrevê-lo? colocar uma placa a dizer “Não Mexer”, pergaminho (klaf) que contém duas
O nosso Museu Judaico é um ex-libris pelo contrário, é preciso que mexam, que passagens bíblicas, manuscritas, «She-
para as visitas a Belmonte. Contudo, o interajam, que questionem, que investi- má» e «Vehaiá». A mezuzá que deve ser
tempo passa e os novos tempos exigem guem… Assim, estamos a atualizar al- afixada no umbral direito da porta de
outro tipo de conceito de musealização. guns conteúdos e a torná-los mais atrati- cada dependência de um lar ou estabe-
Nesse sentido, iremos proceder a uma vos para os visitantes! lecimento judaico, obedece ao seguinte
atualização do museu, acrescentando mandamento da Torá: «Escreve-las-ás
novos conteúdos e sobretudo, traba- Este espaço será o ponto central dos nos umbrais de tua casa, e em teus por-
lhando a área da informação e da inte- turistas que visitam Belmonte? tões» (Deuteronômio VI:9, XI:20)
ratividade, que permita captar e envol- Creio que Belmonte, como região, já é um
ver um público mais jovem. É esse tra- ponto de visita obrigatório. Temos criado
Museu Judaico de Belmonte balho de modernização que está a ser uma dinâmica para atrair as pessoas, não
empreendido com o apoio do EEA só pela questão museológica, mas tam-
portugueses de diferentes credos e reli- GRANTS e que deverá estar pronto até bém organizando e apoiando iniciativas
giões. Agora que os conflitos religiosos final do mês de abril. que ajudam a promover e a respeitar a
alastram pelo mundo, as pessoas estão cultura judaica. Celebrámos um protoco-
cada vez mais empenhadas em conhecer As mais-valias da modernização do lo com a Universidade da Beira Interior
melhor as diferentes religiões, entender Museu Judaico de Belmonte pren- (UBI) para avançar com o Centro de Estu-
as diferenças e redescobrir os valores que dem-se com... dos Judaicos e que espero ganhe mais
são comuns. As verdadeiras religiões, O Museu Judaico de Belmonte tem mais consistência, para além disso temos um
possuem valores humanos que são idên- de 10 anos. Entretanto, com as mudanças festival de cinema judaico. E devo agra-
ticos, que lhes permitem convergências e sociais e tecnológicas, os conceitos de decer a abertura que a comunidade de
pontos de união. Belmonte foi sempre musealização também se alteraram. Tí- Belmonte nos tem dado, antes era mais
um exemplo de tolerância religiosa. So- nhamos um espaço demasiado expositi- fechada em si mesma, mas hoje tem par-
mos um exemplo de que a convivência vo, era premente uma modernização que tilhado mais a sua cultura e participado
entre religiões é possível. tornasse o seu conteúdo mais interativo, em atividades públicas…
Turismo e História
História e Memória
Abrão Alfarime (1382)
No reinado de D. Fernando, a 19 de ou-
tubro de 1382, deparamos com um judeu
importante, que as fontes documentais
dão como morador em Monsaraz. Esse
judeu chamava-se Abrão Alfarime, “mo-
Vila muralhada com A (denominada pelo povo) “casa da in- rador em Monsaraz” e, numa carta de ar-
quatro portas, Monsaraz é quisição” foi um tribunal? rendamento dos direitos pertencentes
hoje um dos mais A tradição oral indicava que havia uma casa aos almoxarifados de Monsaraz e Mou-
preservados e turísticos que poderia ter estado ligada à Inquisição. A rão, expedida de Lisboa pelo Rei D. Fer-
Câmara Municipal adquiriu-a e começou a nando e dirigida ao almoxarifado e escri-
centros urbanos de investigar a sua história através da docu- vão de Monsaraz e Mourão, figura ele
Portugal. Velha, Évora, mentação existente (uma vez que já não era como arrendatário desses privilégios
El-Rei D. Dinis e Traição possível remexer o solo para procurar vestí- reais. Pelo contrato de arrendamento o
das quatro portas, sendo gios). O documento mais antigo a que tive- judeu Alfarime, certamente um judeu
que a última permite o mos acesso indicava que a casa estaria na muito rico, obrigava-se a pagar 5000 li-
acesso direto à antiga posse de um padre ligado à Inquisição, de bras no prazo de 5 anos, à razão de 1000
facto, existia em todas as povoações um “fa- libras por ano, e a obrigação constituía-se
judiaria de Monsaraz. miliar” que prestava serviço de inquisidor a partir do dia de Todos os Santos de
A preservação da observando os usos e costumes da popula- 1382. Os direitos do rendeiro incidiam
memória do judeu Abrão ção. Pelos factos recolhidos continuamos a sobre o trigo e o vinho, as aduanas e por-
Alfarime, o judeu mais Joaquina Margalha, Vereadora da Cultura e do considerar que não houve nenhum tribunal tagens, o relego e as teças, as dízimas da
rico de Monsaraz e da Turismo do Município de Reguengos de Monsaraz da Inquisição em Monsaraz, eventualmente igreja de Mourão, as coimas das armas, a
terá sido a casa de habitação de alguém liga- alcaidaria, a açougagem e o çalaio, o
larga comunidade judaica
Os registos da presença do povo judeu do aos inquisidores. Sabemos e está docu- mordomado e, finalmente, as dízimas da
que outrora habitou esta em Monsaraz existem desde que altura? mentado que existiu em tribunal em Évora e defesa de Mourão. A este rol imenso de
vila levaram o município Existem provas documentais da existência não fazia sentido haver outro numa localida- direitos acrescia ainda o da exploração
e adquirir e restaurar a da judiaria de Monsaraz no Foral do rei D. de tão próxima. Surgiu a possibilidade de, da barca que efetuava no Guadiana o trá-
Casa da Inquisição. Afonso III datado de 1276 até à Inquisição no através da Rede de Judiarias de Portugal da fego fluvial entre Mourão e Monsaraz,
Joaquina Margalha, final do século XIX. Embora não haja evidên- quais nós somos associados desde 2014, de obrigando-se o judeu arrendatário a tra-
cias documentais existem vestígios que le- explorar esta vertente. zer sempre a barca em condições da na-
Vereadora da Cultura e do
vam os investigadores a acreditar que existia vegação no rio se poder fazer em segu-
Turismo do Município de uma comunidade judaica em Monsaraz an- A Casa da Inquisição – Centro Interpre- rança. O apelido deste judeu arrendatá-
Reguengos de Monsaraz terior ao foral Afonsino. Hoje já não é muito tativo da História Judaica em Monsaraz rio dos direitos reais pertencentes aos al-
revela a importância da evidente a presença desta comunidade devi- atravessa várias temáticas... moxarifados de Monsaraz e Mourão,
aquisição, restauro e do aos processos evolutivos da malha urba- Queríamos preservar e exibir a memória da Alfarime, é de origem muçulmana (árabe
posterior musealização da na, mas encontramos uma pedra tumular passagem do povo judeu até à Inquisição. ou berbere) e prende-se, muito provavel-
com uma estrela de David, embora não sai- Para isso o município adquiriu a “casa da In- mente, a qualquer família judaica que já
Casa da Inquisição –
bamos qual é o seu local original. O municí- quisição”, que sofreu uma intervenção na dé- vivesse em Monsaraz durante o domínio
Centro Interpretativo da pio encarou a Vila de Monsaraz ao longo de cada de oitenta, com o intuito de ser transfor- muçulmano e vinculada a qualquer
História Judaica em toda a sua história, foram estudados todos os mada num imóvel museológico sobre esta mouro notável do mesmo nome.
Monsaraz. povos e as evidências que estes deixaram ao temática. A Coordenação científica foi efetua- Duarte Galhós, Arquivista e Historiador da
longo da sua história e o povo judeu foi um da pelo Professor Saúl António Gomes, que é C. M. Reguengos de Monsaraz
dos que considerou ter maior importância. professor associado da Faculdade de Letras
da Universidade de Coimbra em articulação
com o Dr. Duarte Galhós Arquivista e Histo-
Casa da Inquisição – Centro Interpretativo da História Judaica em Monsaraz riador da C. M. Reguengos de Monsaraz. A
Casa da Inquisição – Centro Interpretativo
da História Judaica em Monsaraz foi o pri-
meiro projeto a ser inaugurado dentro da
Rede de Judiarias de Portugal e pretende
enaltecer e tornar permanente a memória
dos povos que habitaram esta região. Tam-
bém queremos evidenciar o multiculturalis-
mo dos povos e das três religiões do livro:
cristianismo, judaísmo e islamismo numa
sala que fala sobre as religiões e os povos que
habitaram em Monsaraz. Reservámos um es-
paço para revelar os usos e costumes do
povo judaico e a terceira sala remete-nos para
o passado, através de um mural que procura
transmitir uma mensagem de esperança e de
paz entre as religiões e fala dos processos da
Inquisição.
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Sabugal, cidade
Essa infraestrutura vai ser utilizada de
fronteiriça banhada pelo que forma?
rio Côa tem confirmada a Este imóvel irá dar origem à Casa da Me-
presença judaica mória Judaica da Raia Sabugalense. Usu-
sefardita desde o século frui de uma localização privilegiada, mes-
XIII. As marcas que mo ao lado do nosso Castelo e estará bem
visível para quem a quiser visitar. Terá dois
representam a religião
pisos que irão criar um processo de visita-
judaica persistem no ção recorrendo a elementos físicos e multi-
centro histórico e nas média através de sons e imagens. Esta será
imediações do castelo uma forma de divulgar a cultura judaica
homónimo. caraterística de uma região de fronteira
António Robalo, como o Sabugal e aproveitamos para con-
vidar os visitantes a conhecer o nosso con-
Presidente da Câmara
celho, servindo também de complementa-
Municipal do Sabugal ridade ao encaminhamento turístico no
complementa: “... Concelho e Região. Será com certeza um
principalmente nas espaço onde se divulga, promove e estuda
antigas sedes de a temática, em ligação permanente com a
município, Vilar Maio, Vila António Robalo, Presidente da Câmara Municipal do Sabugal Rede de Judiarias de Portugal.
do Touro, Sortelha e
Sendo o Sabugal um território de gabinete de arqueologia, a tentativa de
Alfaiates e no Sabugal fronteira é comum encontrar vestígios inventariação do espólio judaico sefardi- A Casa da Memória Judaica vai atrair
encontram-se os vestígios da passagem dos judeus sefarditas? ta nesta região. Aliás, o território nacio- turistas que virão procurar as suas raí-
deixados pelo povo A temática Sefardita na Península Ibérica nal tem a sua história ligada a muitos po- zes familiares. O município disponi-
judaico.” é, por ser uma região de fronteira, um lo- vos e nações, e naturalmente, o povo ju- biliza algum tipo de informação adi-
cal com inúmeras marcas da cultura e re- daico não é exceção. O projeto financiado cional?
ligião judaica. Sabugal, na linha da mais pelo EEA Grants, em parceria com a Rede Temos uma equipa técnica composta por
antiga fronteira da Europa foi um local de Judiarias de Portugal proporcionou- antropólogos, arqueólogos e historiadores
privilegiado de passagem e acabou por -nos a oportunidade de apresentarmos que ajudar as pessoas que procuram mais
se tornar a casa de muitos judeus que ti- este trabalho de investigação que temos informações sobre os seus antepassados e o
nham sido expulsos de Espanha. Encetá- vindo a desenvolver ao longo destes anos espólio exposto na Casa da Memória tam-
mos, há alguns anos, através do nosso e em consequência, colocarmo-nos no bém remetem a factos históricos e nomes
centro da temática com o compromisso de algumas famílias que viveram nesta re-
Casa da Memória Judaica de aumentar o conhecimento dessa rela- gião. Pretendemos continuar a construir e
ção do Sabugal com o judaísmo. atualizar o arquivo e aumentar o espólio
disponível neste imóvel.
O município adquiriu um imóvel que
veio ajudar a expor as marcas deixa- Quais são as expectativas do municí-
das por este povo... pio após a inauguração da Casa da
A descoberta de uma casa, junto ao caste- Memória?
lo, que terá sido habitada por uma famí- Dois planos, dois níveis de expetativas: o
lia judaica, veio dar ainda mais força a de conciliar a oferta e os objetivos da Rede
este projeto. Esta estava a ser recuperada, de Judiarias participando ativamente neste
pelos seus proprietários, para ser um lo- processo de construção que o EEAgrants
cal de comércio quando foram encontra- proporcionou; o de assumir o compromis-
dos alguns elementos que posteriormen- so de alimentar dinâmicas futuras de de-
te foram identificados como sendo de ori- senvolvimento, estudo e inventariação do
gem judaica. A Câmara Municipal adqui- património, contribuindo para um melhor
riu o imóvel, conciliámos o espólio conhecimento do nosso lugar na história.
residente com as necessidades expositi- Claro que esperamos que o novo espaço
vas do projeto concelhio e pretendemos seja um centro de atratividade turística,
abri-la ao público na segunda quinzena que ajude alavancar a economia do Conce-
de fevereiro. lho.
Projeto Cofinanciado por:
Trancoso na Rota do
património judaico em Portugal
Um novo projeto, Casa do va e arranjo musical e quatro trovas aplica- Isaac Cardoso e a recente Casa Museu
Bandarra, nasce para das numa parede em português e inglês Bandarra. A rota inicial percorre todo o
que sintetizam a visão de Bandarra. Centro Histórico e futuramente quere-
enriquecer o turismo mos executar outras, para as aldeias do
português de origem Quem foi Bandarra e o seu legado? concelho.
judaica. Amílcar Salvador, Gonçalo Anes, conhecido pela alcunha
presidente da Câmara “Bandarra”nasceu no início do século XVI Que expectativas tem para quando a
Municipal de Trancoso e terá falecido em meados do mesmo sécu- Rota estiver a funcionar em pleno?
explica como. lo, em Trancoso. Assistiu à criação da In- O Município de Trancoso foi cofundador
quisição da qual foi vítima em 1541, à pro- da Rede de Judiarias de Portugal, tendo,
blemática dos conversos, ao abandono da naturalmente, as melhores expectativas
produção interna, à expansão ultramarina, relativamente à Rota e ao trabalho de-
As marcas das judiarias e da sua cul- à guerra contra os mouros no Oriente, aos senvolvido pela Associação, promoven-
tura espalham-se por Trancoso. abusos da administração pública e à deca- do e preservando o património judaico
Pode falar-nos delas e das respeti- dência da nobreza. Este período foi inspi- de Portugal. Neste projeto cabe a cada
vas personalidades trancosanas? rador e perturbador para Gonçalo Anes, Município desenvolver uma pequena
Em Trancoso existiu uma judiaria que, como transparece nos Sonhos=Trovas. Ti- rota. No nosso caso em particular, o pa-
no século XVI, era maior que a da Guar- nha uma posição social reconhecida e era trimónio judaico (material e imaterial)
da. Os judeus de Trancoso eram muitos e Amílcar Salvador, Presidente CM Trancoso sapateiro de correia. Devido à sua profis- fará com que os turistas percorram o
muito ricos. Foi nos séculos XV e XVI são relacionava-se facilmente com cristãos- Centro Histórico.
que população judaica cresceu substan- -velhos e cristãos-novos e muitos conside- Os Turistas que chegam a Trancoso para
cialmente em Trancoso e os judeus senti- tes conteúdos. A data de abertura é no ravam-no um exegeta, um líder religioso. visitar este património são principal-
ram necessidade de ampliarem a sinago- dia 12 de março. A divulgação das obras, Trovas e Sonhos, mente descendentes de cristãos novos,
ga, o pedido foi efetuado e aceite por D. tornaram-no profeta de Portugal. naturais e/ou moradores em Trancoso,
João II a 12 de dezembro de 1481. Pensa- Onde está localizado e qual será a pelo que não é um turismo só religioso
mos que já desde a criação da feira de S. sua disposição? Pode referir alguns pontos de inte- (porque muitos não praticam a religião
Bartolomeu em 1273, os judeus já viviam Está localizado na Rua Poço do Mestre resse de Trancoso? judaica, apesar de nós termos a primeira
em Trancoso. Foram eles que nos deram de frente para o Centro Judaico Isaac A rua da judiaria em Trancoso pensa-se réplica de Sinagoga Sefardita de Portu-
uma dinâmica substancial, uma vez que Cardoso. E é constituído por 2 pisos. No que não era uma rua fechada, porque gal, no Centro Isaac Cardoso), mas es-
eram proprietários de várias casas noutras piso zero, estão inscritas várias frases de eles tinham casas noutras e com alguns sencialmente é um turismo “emocional”
ruas, no entanto pensamos que a Rua da autores sobre Bandarra, como por exem- elementos arquitetónicos com interesse e cultural, à procura de reminiscências
Corredoura terá sido a da Judiaria. Os ju- plo: Padre António Vieira, Fernando Pes- (marcas cruciformes, candelabros, estre- das suas raízes. Veem fundamentalmen-
deus de Trancoso eram sapateiros, tece- soa e Elias Lipiner. Dois vídeos, um é las, entre outros que apesar de polémicos te do Centro da Europa, Israel, norte de
lões, alfaiates, emprestavam dinheiro, uma recolha (antropológica) de lendas fazem parte do património de Trancoso), África, Estados Unidos e Brasil. Esta
eram proprietários, viviam também do ar- nunca antes publicadas, relativas a Ban- inscritos nos imóveis do Centro Históri- Rota ajuda-nos a marcar uma posição na
rendamento de habitações e eram essen- darra e proferidas por pessoas com mais co de Trancoso são cerca de 200. Este le- História de Trancoso em Portugal e no
cialmente mercadores e homens de negó- de 75 anos do concelho de Trancoso, e gado justificou a construção do Centro Mundo, no que diz respeito à importân-
cios. Alguns, após a inquisição, partiram e outro com atores profissionais que reflete de Interpretação da Cultura Judaica cia do legado judaico.
ajudaram a fundar a sinagoga portuguesa a vida e obra do profeta à época.
de Amesterdão (séc. XVII), outros expan- No primeiro piso existe um painel des-
diram negócios e mercados na Europa, critivo sobre a vida e obra de Bandarra,
no Brasil, norte de África e posterior- uma Fonoteca e um livro áudio com as
mente nos EUA. Atualmente são descen- Trovas (Bandarra foi preso pela Inquisi-
dentes destes cristãos-novos que cada ção em 1541, porque alvoroçava os cris-
vez visitam mais Trancoso. tãos-novos com as suas Trovas e não por
ter sido confirmado que fosse judeu).
Em que consiste o projeto do municí- Existe uma aplicação de conteúdos cien-
pio de Trancoso, a Casa do Bandarra? tíficos da temática em iPad e uma Mesa
O projeto da Casa Bandarra é o primeiro, multimédia didática do sapateiro (oficia)
no município de Trancoso, com cariz de com identificação de trovas aos materiais
interpretação cultural. Será apetrechado sovela, molde de sapato da altura, agu-
de conteúdos e materiais modernos, que lha, martelo, etc., e a relação entre estes e
apelam a uma visita de miúdos e graú- as Trovas.
dos, recorrendo às novas tecnologias, No espaço destinado ao Logradouro há
sem nunca descurar a base científica des- uma surpresa áudio, o poço com uma tro- Fachada Casa do Bandarra
Projeto Cofinanciado por:
Cascais Covilhã
Ciente da importância da herança judaica e do ocorrido du- A comunidade judaica da cidade da Covilhã foi, desde o
rante a II Guerra Mundial, a Câmara Municipal de Cascais século XII e até à sua diluição, a maior e mais importante da
inaugurou em 1999, o Espaço Memória dos Exílios que pre- Região da Serra da Estrela e uma das maiores e mais fortes
serva parte da memória dos judeus exilados trazidos à re- de Portugal. Existiam, no final do século XV, pelo menos
gião pelo conflito. Em 2015, Cascais recebeu a Tora, sinal da três núcleos hebraicos: um intramuralhas junto às Portas
importância da comunidade judaica. Celebra-se desde há 3 do Sol; o segundo na parte exterior das mesmas confinando
anos o Hanukah Menorah e, empenhado que está cada vez com elas e o terceiro corresponderia a bairros de localiza-
mais na defesa dos princípios da boa convivência entre diferentes credos, o Município re- ção perto da cidade (Refúgio – Meia Légua).
cebeu em 2016 pela primeira vez o Judaica – Mostra de Cinema e Cultura.
Fundão Gouveia
Após a expulsão dos judeus espanhóis, em 1492, um gran- A judiaria de Gouveia ter-se-á iniciado com uma pequena
de número de refugiados veio estabelecer-se na Cova da comuna tendo cerca de cinquenta judeus em meados do
Beira, onde já haviam algumas comunidades judaicas. Fo- século XV. A chegada desta comunidade à Covilhã provo-
ram estes imigrantes fundando bairros - entre os quais o cou o desenvolvimento da indústria de lanifícios, praticado
mais importante se situava em volta da Rua da Cale - que então de forma muito rudimentar, tendo-se modernizado e
permitiram que o local do Fundão assumisse as dimensões intensificado o trabalho dos lanifícios, nomeadamente uti-
de uma verdadeira cidade. O influxo de mercadores e arte- lizando engenhos movidos a energia hidráulica que provi-
sãos judeus transformaria a cidade num centro importante nha das ribeiras de caudal generoso da vila.
para o comércio e a indústria.
Guarda Idanha-a-Nova
A presença de uma comunidade judaica na Guarda, está Município da Beira Baixa raiana herdou o território de vá-
documentada desde a primeira metade do século XIII. A rios antigos concelhos que foram extintos já no séc. XIX.
Judiaria situava-se no interior das muralhas e próxima dos Apesar de referências a anteriores judiarias então existen-
principais eixos viários da cidade o que permitia e favore- tes em antigas vilas como Monsanto, Medelim ou Proença-
cia o desenvolvimento da atividade comercial desta comu- -a-Velha é no tempo dos cristãos-novos que Idanha-a-Nova
nidade. Embora inicialmente a comunidade judaica da vê impactar a presença de importantes núcleos cripto-ju-
Guarda, se tenha instalado na Rua da Judiaria entre a Porta deus. No entanto, é de referir a existência da rua da Judia-
d’el Rei e as proximidades do Largo de São Vicente, ao longo da Idade Média o aumento ria em Medelim bem como a característica existência das casas balconadas desta povoação.
populacional da comunidade levou à ocupação dos espaços mais a norte, o que é testemu- Samuel Nunes (Diogo Nunes Ribeiro) (1668–1744) médico, natural desta vila foi um dos
nhado, a partir do século XIV, pela Rua Nova da Judiaria. primeiros judeus a viver na América do Norte.
Projeto Cofinanciado por:
Lamego Manteigas
Desde o séc. XIV que os judeus da então importante cidade A presença judaica integra-se nessa valiosa herança patri-
de Lamego ocupavam a área entre o castelo e a igreja de Stª. monial que agora quer dar a conhecer e que até então havia
Maria de Almacave. No século seguinte os bairros judeus passado despercebida e, ao mesmo tempo, despertar olha-
eram já dois; o mais antigo (judiaria da velha), localizava-se res e consciências para a necessidade da sua salvaguarda.
junto à Porta do Sol, o que correspondia à judiaria nova ou Das marcas convencionalmente associadas às comunida-
do fundo junto do adro da igreja citada. Neste bairro locali- des judaicas, criptojudaicas e de cristãos-novos, detetaram-
zava-se a sinagoga na antiga Rua da Esnoga. José de Lame- -se na área em estudo, cruciformes, marcas nas mezuzot e
go, sapateiro judeu, foi quem recebeu de Pêro da Covilhã na cidade do Cairo as informa- gravações longitudinais. Considerou-se ainda um outro detalhe da arquitetura, os portais
ções que de seguida permitiram a D. João II conhecer todos os dados referentes às costas com chanfros, também associados a estas comunidades. Contabilizou-se um total de qua-
leste africana, arábica e índia que lançou a viagem de Vasco da Gama. renta e quatro imóveis onde se identificou pelo menos uma das tipologias de marcas.
Penedono Pinhel
A origem do povo judeu, mas em terra tão antiga é natural A comuna judaica desta antiga cidade fronteiriça deve ter-
que a sua presença seja remota. Documentados desde o séc. -se desenvolvido no início do século XV devido à emigra-
XV, os primeiros judeus dispersaram-se um pouco por to- ção dos judeus vindos de Espanha. De facto, as famílias
das as aldeias, especialmente em Penela da Beira, onde er- mais comuns correspondiam aos Barzelai, Amiel, Abe-
gueram uma importante comunidade entre as ruas do Eno- nazum, Ergas, Cid, Adida, Cohen e Castro. Em 1932 consti-
que e do Ló. tui-se a comunidade Israelita de Pinhel, cuja sinagoga ficou
Envolvidos numa ambiência medieval descubra os antigos com o nome de “Shaaré Orah” (Portas da Luz).
espaços habitacionais dos judeus e cristãos-novos, de misteriosos símbolos mágico-religio-
sos, de lendas míticas e quotidianos onde ainda perduram traços da antiga cultura judaica
portuguesa, que a sombra protetora de um castelo com mais de mil anos continua a abri-
gar.