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A ALEGRIA DELICADA

DOS DIAS COMUNS


MARA CORADELLO
A ALEGRIA DELICADA DOS DIAS
COMUNS
Copyright © by Mara Coradello
Mara Coradello
1ª ed.
Vitória, 2016

Projeto Gráfico: Cristiano de Rezende


Ilustrações: Cristiano de Rezende
Kahren Biancca (Ilustração 26) Também eu saio à revelia
Mirabólica (4ª capa) e procuro uma síntese nas demoras
Revisão de texto: Francisco Merçon cato obsessões com fria têmpera e digo
Preparação: Mara Coradello do coração: não sou e digo
Gráfica: Grafitusa a palavra: não digo (não posso ainda acreditar
na vida) e demito o verso como quem acena
Apoio e vivo como quem despede a raiva de ter visto
SECULT - Secretaria de Cultura do Estado do
Espírito Santo
EDITORA: Ana Cristina Cesar, “26 poetas hoje”
La Donna è Mobile

EXEMPLARES: 500 unidades “[...] batalhão perdido de debatedores platônicos


saltando dos gradis das escadas de emergência
dos parapeitos das janelas do Empire State da
Lua”

Allen Ginsberg, “Uivo”


ÍNDICE

A alegria delicada dos dias comuns 08 Quero trazer à tona uma coisa que a 51
Testamento 10 auto-ajuda estragou: afelicidade 53
Incêndio Portátil 13 Hematopoíetico 55
Aqui Jazz 14 Antimemória 58
Trago seu amor em cinco dias 15 Maria, Marina, vocês se pintaram? 59
Insone 17 Para Beatriz 60
Meu desejo a tamborilar um samba 20 Tabuada 61
Da série: poesia sem tratamento 21 Possessão 63
Feita no ato Esta é uma história de cílios 64
Sinto uma dor não-física 23 Risque as palavras em desuso 65
Primícias ao inferno 24 Fim 68
Verdades, verdades fresquinhas 25
Cibele 27
Cibele comia 29
Senhora e senhores 30
Missiva para ninguém e para todos 31
A mulher mais bonita da cidade 33
Emaranhada 35
Epifania 37
Endereço da epifania 38
Passagens motorizadas e sem Benjamin 44
Pseudocrônica 46
Os riscos além da sua janela 48
A alegria delicada dos Por ser bom e perfeito
ele se perde na massa convulsa dos GRANDES
dias comuns ACONTECIMENTOS.
Onde se escondem esses dias?
Nas dobras rugosas do tempo, onde cavamos o
bom, o ótimo, o grandiloquente.

Onde guardamos a alegria delicada dos dias


O mais triste é tatear e não conseguir lembrar comuns?
dos dias sem cores fortes,
Enquanto esperamos esses dias de
A manhã mostrando seu cachorro grandes decisões, de rupturas, de colisões, de bo-
agradecendo a existência da grama, das, de aniversários, de prêmios,
rolando feliz. enquanto aguardamos e engendramos o grandioso,
somos felizes nos dias pequenos.
Um exemplo: poucas vezes ele conseguia dormir
cedo
- quase nunca a abraçava durante o sono.
E era das noites de exceção que ela gostaria de
lembrar agora, com exatidão.

Dos pés gelados e dos braços ao redor do infinito


da companhia encontrada em meio à profusão
de pequenas coincidências
que é o amor.

Um dia desses que não existem

8
TESTAMENTO com a promiscuidade do verso
com o balançar da lira
com a meteção da rima
e o cacete do poema

Eu mesma tenho tédio Eu mesma tergiverso


da minha cara de escritora classe média sobre o homem nos trilhos do trem
dentes brancos quem o esmagou de fato?
cara lívida Quantas mortes nos trilhos do trem da indiferen-
Eu mesma me decreto ça fazemos com nosso assentir?
um simulacro de vida Eu mesma me despeço
que só lacra a lava de outras que não vicejam Arranco a folha imaginária dessa máquina de
e que ainda diz: sejam pixel
no imperativo hediondo do anúncio do jornal te amasso
Sou com exclamação e pouca dor te arremesso na lata do lixo de Borges
de quem sempre teve danoninho, Na Biblioteca dos Livros que Não Foram Escritos
mãe que não bebe nada mais que vinho Dos que deixam o poema virar dor
pai que trazia brinquedo Dos que deixam o verso os arremessar da ponte
tio que era exemplo Dos que matam em si o filho-romance
avó que contava segredo Dos que abortam a filha-crônica
tudo organizado, enumerado, nome à caneta no Que nem chegam a dar nomes aos netos-livros
meu copinho Esses que não escrevem as palavras e sim arra-
Uma vocação de casa, escola, analista, vestidos, nham a existência
tinta de cabelo, cinema, academia e olhe aquele com cada uma de suas miseráveis vidas
sapato. E para eles que eu vejo apenas o inútil da
Eu mesma tenho tédio e procuro a loucura, brincadeira de vaidade
como quem flerta com o tempo da futileza

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de toda delicadeza escrita Incêndio Portátil
Essa gente que ejacula poesia antes que se torne
a epopeia de nomes, mercado, vinho ruim no
lançamento e silêncio na estante.

Para saber de mim é só perceber que: antes de


tudo, sempre, ontem, até amanhã e só enquanto
vivemos, agora, neste instante, em qualquer que
seja lido: acontece um incêndio. Descaso, crimi-
nal, por cigarro, por karma, por curto-circuito,
para caber num escrito, enfim: sempre haverá
um incêndio. Enquanto te olho e você recolhe
aquele papel no chão e por ignorar em alguma
parte do mundoeste, pelas asas da borboleta da
fábula ruim, pela sua tatuagem que você ensaia
fazer há dez anos. É somente pela noção do
incêndio vvque não gritamos a palavra fogo. Essa
guerra do oxigênio que significa retirar sempre
a mão, a pele, o olho. Já pensou que um incêndio
só acontece porque quase tudo é de fato feito de
epidermes? Algo que queima arquivos de ferro
e desterra. Você me pergunta: para que fatalis-
tae e urgente? Eu imagino que sei do mundo. É
apenas porque eu acho das coisas que perduram:
elas precisam queimar somente para que, enfim,
encontrem sua extinção.

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Aqui jazz Trago seu amor em cinco dias

Primeiro dia: trarei seus olhos para tomares


conta.
só para falar que meus dramas são criados de E impedir que olhes outra.
improviso como um jazz
na antecâmara da morte Segundo dia: a mão nas suas costas, no meio da
soprado de uma gaita de rua noite qual cursor do google map
com um mendigo com mal de parkison batucando pedindo abraço e concha.
uma caixa fiat lux.
Terceiro dia: trago os cigarros não fumados,
que ele insiste na impotência frágil do tabaco
mentolado.
A boca dele delineada num estilete de brinquedo.

No quarto dia: arrumo delicadamente sua voz,


emoldurada numa garganta profunda de fio de
nylon,
cortada em medo.

No quinto dia: te dou seus pés.


Para que enfim more com você.
e dormir seja pra sempre ao seu lado.

Trago seu amor em cinco dias,


em fatias.

14
Oração
dos amantes
platônicos

Vou fazer uma oração porque quero saber de Deus


e de você. Como quero ser teológica, vou falar an-
tes de Deus e me referir a Ele com maiúsculas.
Vou falar antes de Deus, porque quero ser obe-
diente desse amor a Ele, antes de todas as coisas.
Se bem que você não é apenas coisa. Antes desta
oração terminar você ainda é coisa, até literário
este mandamento da forma que foi traduzido:
amar sobre todas as coisas, sendo todo o resto coi-
sas, então coisificando espaços, populações, toda
a coletividade e você. Como se as coisas fossem o
chão, e sobre elas o amar a Deus. Somente antes
da oração você é simplesmente coisa, porque para
isso serve esta oração, para transmutação. Mesmo

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porque não acredito em traduções de hebraico an- Como você dorme à noite? De camiseta branca e
tigo para português contemporâneo. Vou falar de uma leve bermuda de algodão.
Deus. Com meu silêncio. O que come ao acordar - como é sua voz ao acordar?
Quero-O deitado antes de mim na cama, sem la- O que espera do dia?
múrias ser Sua e dentro de mim ter o verdadeiro E a marca preferida de dentifrício?
díspar, ser disparidades, poros abertos, cabelos O banho e o cheiro que se desprende de seus cos-
que encrespam dias difíceis e sofrimento – que méticos. O horário do banho?
Deus seja o apaziguador – e potente para que Seu café é forte. Açucarado. Uma vez me confes-
à sombra dEle o dia seja apenas um dia - a noi- sou que não comia gordura – fiquei feliz com esse
te uma noite – e espero ter, ao contrário do que pormenor como a um presente precioso – e suas
tenho tido - mais coragem de dia do que à noite manias de mastigação?
– como nós, imbecis, tememos mais as margens Qual o rumo prefere tomar quando entra em seu
dilatadas, incabíveis na nossa visão - que são os carro?
dias - e amamos o pequeno e aconchegante espa- E como seria logo após se apaixonar por mim? E
ço onde o que podemos ver se insere e se encerra: aonde poríamos as mãos?
as noites. Confesso que não sei aonde por as mãos e os acen-
Deus: que nosso dia seja nosso irmão e que per- tos. Qual de nós começará a começar?
tençamos à mesma natureza, eu, o dia e Você. Onde precipita o sim?
Depois de querer ser apenas da mesma matéria De conjecturas eu vivo agora, como que com cafe-
que Deus. ína nas veias.
Vem a parte profana de amar você sobre todas as Comece.
coisas.
O que tenho tido por você é o desejo de saber_que-
ro saber quem é você - esse “quem” em
sua totalidade. E em seus riscos.
O maior risco é que depois de saber eu ainda
queira.

18
18
Insone Meu desejo a tamborilar
um samba

Ele a esperava dormir, noite após noite. Deus teve pena do meu desejo.
Quando ela era pedra, Deus teve pena de mim com um pires sentimental
ele aspirava o odor do hálito dela, de sono e na mão.
distância. Com a inglória deste brilho obsceno no olhar.
E recolhia um longo fio de cabelo, sempre Meu desejo é esse cego bailarino que insiste em
restava um não andar nas pontas dos pés.
_ao final da cabeleira entrelaçada nos sonhos Meu desejo extraviado.
irriquietos da mulher. Meu desejo é uma carta com um só remetente, e
Ao final de vinte anos esse nunca está em casa.
ele havia recolhido um edredom de fios. E meu desejo retorna a mim.
Então ele se cobriu da coleção de cabelos Com selos do descaso e carimbo de devolvido.
entrelaçados Eu sou a trilha do Último Tango em Paris.
manta marrom ocre dedilhado de prata Meu coração é aquele apartamento abandonado
numa seda tecida com o mais macio dos interstícios. que exige somente um morador.
_E enfim conseguiu dormir. Meu desejo não quer fiador contra infortúnios.
Porque meu desejo não faz sentido.
Coisas cortantes e estilhaçadas e recolhidas
no chão.
Como as pequenas flores da ikebana que você
não me deu.
Meu desejo sai de casa sobre meus pés e me leva junto.

20
Para te ver tocar e ensaiar sua arritmia proposital Da Série: Poesia sem
nas mãos.
Meu desejo é uma bateria. Um solo qualquer de tratamento
bateria em qualquer música descompassada de FEITA NO ATO
jazz improvisado. Meu desejo é novo em folha. E
entorna-se perante seus olhos.
E meu desejo é singularmente ridículo. vou ficando transparente
Como são ridículas todas as coisas ainda despro- sumo como limo
vidas do amor. suco feito nuvem
plúmbea quanto chuva
vou esquecendo de mim em gentes que nunca
nem vi
em lugares em que não pousei
antes doida que chata
antes desordem que calendário
antes mãe que medo
antes eu que você
antes que seja tarde e
viro adélia, adília e homilia de parda
viro quente, penugem e leite
viro eternidade
e fico moça de novo no beijo do instante
antes que seja quieto
pra sempre

22
Sinto uma dor Primícias ao inferno
não física
Anelize pensou em quantos anos de solidão e dor
ainda havia pela frente.
Vistos pela fresta e duvideodó que um dia
tudo mudasse assim, repentino.
Como essa sensação de presidente novo, nos
sinto euforia nos dedos. se eu fosse asmática primeiros dias.
inalaria cidreira em meio ao vapor. Como festa surpresa de aniversário. Ou tentar
meu estômago tem certa medida do que sinto. e achar um código novo, nas letras do alfabeto
meu estômago alardeia aos meus outros órgãos o arábico.
que pressente.
meus órgãos todos pressentem a vida, como uma Um dia Anelize despejou tanto perfume quanto
celebração em secreções novas cabia no decote.
células em glórias E entrou no puteiro.
ritmo profundo de ouvir minha própria respira-
ção. Anelize era tão velha para um puteiro quanto
sinto gostos e cheiros com enormidade de notas. seus 32 anos poderiam suportar. E acabou sendo
eau de cologne da vida cozinheira, depois fazia drinques, depois virou
do tempo e das ruas assessora de notícias do puteiro.
profusão de mim Faz freelas em segredo para as putas. Ficou rica e
deve ser porque não fumo há uma semana e não ainda realiza a vontade, sem doer muito:
bebo há dias. tem fama de puta na rua em que mora.

deve ser porque hoje é sexta. porque tenho me-


dos. ou porque os perdi.

24
VERDADES,
VERDADES
FRESQUINHAS

O carro de pamonha passa e ouço suas melancó-


licas verdades.
Fresquinhas.
Faz um sol que herdamos de nossos s errâneos
de inferno.
sol que nos arde nas entranhas encarrega-se de
dissuadir o sol oficial.
O lá de fora.
Aqui dentro há um ar-condicionado e um edre-
dom com flores pálidas e roxas e verde
[milhares de lagartas destruíram
as árvores de minha cidade.
As lagartas estavam nas folhas
e caindo sobre nossos cabelos e olhos e ombros.
Aquela minha cidade que é uma ilha e tem todos
os lugares diminutivos para caberem nesta ilha
sem chegar a escorregar pelos mares]

26
Vi de lá de cima que as nuvens podem estar em CIBELE
diversas alturas.
Quando vim no avião as nuvens eram tudo que
importava.
Vejo você trazendo suco e só assim tem direito de
estar lendo agora sobre os meus ombros os pará- Nenhuma novidade por ali.
grafos anteriores. Posso escrever eu te amo agora. Aliás,
quando perguntavam pelas novidades à Cibele
ela odiava
a pergunta e o perguntador. As novidades.
Os dias tinham aqueles acontecimentos pequenos,
mofados e sem interferir na vida: a rotina.
como um pequena sujeirinha na blusa branca,
você vai ao banheiro esfrega com a escova de
dentes e sabonete. Fica aquela aguinha ali,
depois só lembra porque sua escova de dentes
está salobra.
Eram os restos do sabonete.

28
Cibele Comia Senhoras
Arroz, feijão, farofa, fritas e dois tomates que e senhores
devem ter sido cortados pela manhã,
o que posso ver pela envergadura de sua película
de cobertura e por seu vermelho triste.
E filé de alcatra toda vez em que vivo não escrevo se apenas me
Desfaço o bolinho de arroz. ponho a escrever: não vivo.
Jogo o molho à campanha que em alguns estados esse pormenor de vida que é viver pensando
do Brasil é vinagrete. frases]
Ponho na boca. pinçando frases
E mastigo.
Em dado momento sobrancelhas longas numa vida em branco rosto
vejo que o filé de alcatra tem pouco. de poros
Mas a pequena montanha de arroz persiste.
R$ 6,10. e enquanto vivo olhando garçons de uniforme
Ponho pedacinhos miúdos de filé na boca. desbotado vermelho
E ao longo de sua mastigação ponho mais arroz. pedaços de algo que foi era em anos passados
Rende o filé assim até eu quase terminar a mon- quero viver trezentos anos
tanha de arroz.
Arroto em silêncio porque me lembro de ainda pinças velhas
ser uma menina. felicidade fácil
Ódio é uma coisa que você segura bem no canti- eu te amo
nho de algum lugar seu. 250 cervejas
Faz você render mais nessa vida. O negro caribenho francês no bar na esquina
Chupe o caldinho do ódio. Não pronuncie a Copacabana nos olha de esguelha
palavra. Pega mal. na esquerda

30
só os cartões postais não esquecem do que fala Missiva para ninguém e
a vida
retratos coloridos de um fausto terror para onde para todos
correm montmartre todos os mendigos velhas
que caem de janelas e velhas que se pintam e têm
amantes
amor Um escritor tem a obrigação de nunca se cansar.
amor eu amo e me espalho entre amores entre os Não pode se cansar de ouvir histórias, nem se
lugares todos sempre há este resto de cansar de ter vontades de curiosidades.
amor entre os dentes Um escritor pode arrefecer como as cores na
neblina,
pedaços sua voz ficar inaudível,
mas o inaudível nunca é igual ao calado. O es-
viva os pedaços que inteiros não seriam pedaços critor se mantém inteiro dentro dele neste pacto
com sua própria morte,
seriam as coisas pela metade porque ele sabe que vai sobreviver às traças, ago-
ra que inventaram os chips.
faminta e ainda mordo esse otimismo morno
Um escritor a esperava e ela contaria uma his-
me espalho tória para ele,
uma história de sua prostituição.
Qualquer uma.

Contou a ele, enquanto se maquiava com tons de


dourado,
sangue e azul violáceo, contou histórias de al-
guns homens.

32
Mas o escritor, A Mulher Mais Bonita da
já recolhido à pura busca de forma em detrimen-
to do conteúdo, Cidade
perdeu-se em inventar horas.
Antes horas do rosto dela abaixo da luz amarelada
e encoberta por filó lilás.
Depois pedaços de sua maquiagem depois da Não tem cor de bege.
foda. É negra e dentro dela mora um gato que vive
num telhado com chuva.
Maquiagem antiga Chove sempre lá e a mulher por isso vive com os
e diluída na mais clara temperatura do suor. cabelos molhados e parece ter saído do
Logo mais, banho agora
era a luz do sol acertando-lhe em cheio as rugas. e sempre.
Assim, esse escritor, que na verdade sou eu, Ela tem a pele morna ainda do banho. Agora e
escreveu esta sempre.
memória triste, que termina com a pele dela, sob A Mulher Mais Bonita da Cidade tem um título
a terra. de Bukowski, outro de Miller. Mas ela também
tem Sabino, Parker, João Antonio e todo o resto.
Ela tem homens e mulheres.
Numeradas portas existem dentro da estante
dela.
Em dias em que ela se sabe a Mulher Mais Feia
da Cidade, ela entra lá,
se encolhe num dos livros e bebe sozinha as
letrinhas todas enrugadas da vida que rouba dos
livros.
Porque esta moça é indisfarçável.

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Uma moça nunca igual às outras, só para variar. Emaranhada
Aprendeu a usar rímel semana passada. Nunca
fala mal de ninguém e tem um
hálito invisível.
Mas palavras dela não são invisíveis. Ultrapassar os limites do razoável em literatura.
Ela as coleciona em potes de café solúvel. Uma mistura de teclas em excesso, cortes brus-
Palavras solúveis. cos de palavras
Em baús debaixo da cama. como suicídios.
Empilhadas entre seus discos de vinil. Uma conclusão da dor.
Ela manda notícias que logo depois são repetidas Uma ironia da mesma dor.
pela vida. Zombar de tudo e dedilhar como quem toca o
Um dia essa Moça veio me falar dela. ermo, o acima, o pus.
E contou histórias tristes e belas e cheias de abra-
ços e despedidas.
Um desterro e uma certa hora de ir embora pon-
tuavam o assunto.
Quero que ela fique e tenho de contar a ela o
quanto ela é linda e cálida e o quanto ela é boa
em queda de braço e o quanto ela doa.
e dói vê-la indo embora.
Os espelhos distorcidovs nos quais elas se olham,
os olhos dela.
Eu tenho medo que um dia eles exagerem.
Tenho tanto medo que conto essa história.
Da Mulher Mais Linda da Cidade.

36
Endereço
da epifania

Parar na esquina da Prado Júnior com a Ministro


Viveiros de Castro, no Lido,
é sempre ver algo literário.
Um bom livro lembra a vida.
Uma boa vida tem acentos de certos livros.

Ele com seu andar magro e sua barba que escava


o ar abaixo de seu queixo.
A pele tem um colar nos ossos.
Nos olhos que vi
bem depois pude adivinhar sonhos de sua mãe
para ele.
Ousei até ver suas imprecações
e ver que ela sonhava uma vida nele. Não ha-
via mais nesse homem a sua mãe. Por ver isso,
chorei.

Outro giro de cabeça.

Um homem que deve usar sem culpa o adjetivo


normal:
calça de brim, rosto em pregas sensatas, uma

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camisa amarela clara
e lavada
sabão em pó, amaciante, ferro com vapor

certamente em um tanque num espaço ínfimo


pela mulher.

Pedalava com felicidade uma bicicleta de corrida.


Em seus ombros flácidos - espere, em seus om-
bros coisas peludas?
O homem carregava na corcunda um cachorro
branco peludo.
Agarrado a ele como um filho.
Pior: agarrado a ele como se o homem fosse o seu
filho
Eu sorri. sar a rua.
há caixas de ovos com meia dúzia versando
............................................................................ Bataille
e me vendem bifes solitários para ocupar
Mas Copacabana tem salvações geladeiras de uma pessoa
no Lido posto 6 em seus segredos há café árabe no Amyr com borra que suja os
Em algum lugar onde andou Antônio (o Maria e dentes dos amantes
o João) como sua shawarma indecente e grega há pedras
na minha mobília preferida do Cervantes: o Fausto portuguesas santificadas
contado pelas velhinhas de roupas em pois pela porra de mendigos que amam, inutilmente,
combinados as travestis
de mão dadas na emocionante tarefa de atraves- aceitando a tudo impassíveis e à prova de modas,

40
putas e pés e ainda me pergunta se quero pagar amanhã
há um turbilhão de negros, loiros e morenos, tratados de código civil, sheldons e quintanas
italianos, noruegueses, americanos no mesmo saco
competindo com frango assado na esquina
sem farofa .................
e tudo isso conspira para que sejamos autênti-
cos como aquela senhora de bobs nesse circo de e minha alma anda sendo arrancada qual pedri-
resistências que é Copacabana nha portuguesa que engoliu um salto errado.
não precisamos mentir
nossas bizarrices são respeitadas e sempre meno- P.s:
res que as do próximo em alemão literatura e poesia são designadas pela
mesma palavra.
uma coisa escrita rápida sem ser automática
Copacabana me dói na alma, na cara, na cana, na
mens nada sana
como se minha alma fosse feita de um lápis e as
ruas de Copacabana uma borracha rosa e azul a
apagá-la

meninos me pedem para ser mãe,


pari-los ao meio dia com uma nota amassada de
um real

medo de minha bolsa ser arrancada por um


sorriso
ficar vendo livros nas esquinas com gente que
vende

42
42
Passagens motorizadas certas palavras que nem existem, umas que eu
apenas sinto e não se trata de Joyce.
e sem Benjamin trata-se de algo muito mais santo.
mas sei que resultam numa oração às cegas.
o amor certas orações e qualquer tentativa de sair
do chulo e tocar com dedos bem suaves unhas
Tiro minhas sandálias de cor crua com salto de feito curtas e muita candura o sagrado é assim:
cortiça. no escuro. mesmo que as luzes daquele motel
Alpargatas de salto alto. Ponho meus pés no pai- na gloria entrem, mesmo que os faróis de nossa
nel do carro dele. senhora de Copacabana esporrem.
Sou a carona. Carona na vida dele.
Ele consegue dirigir e olhar meus pés. Eles estão
sujos. Ele diz.
Cheios de craca. Ele diz.
Isso me machuca. Tiro meus pés. Os dois. O es-
malte está saindo.
Meia hora depois no tal motel da Glória. Ele lam-
be meus dedos um a um.
Lembra o cão que achamos na rua.

Faço uma espécie fervorosa de reza que me aque-


ce a cabeça.
durmo com essa oração e juro que dela não acho
palavra.
ela miscigena termos de um pai-nosso com pala-
vras soltas que falam juntas sem acentos
e algumas sem vogais

44
Para ler em dias de demais para ignorar, ainda na água fria para não
torná-los opacos, a água fria do banho tomado só.
skylines turvos Quem foi que inaugurou o grito?
Quem se lembrou da displicência? Quem antes
do outro pernoitou de esguelha, incomodado na
cama, quem juntou nós nas costas só para não
encostar?
Quem foi que inventou essas mentiras que a Quem de nós dois crê mais piamente na
gente fala um pro outro? Santa Insegurança do que no
Quem foi que cortou as fitas amarelas e pretas ao Deus das Pequenas Coisas?
redor das observações funestas que dizemos um
ao outro?
E elas se soltaram e resolveram chegar às bocas.
E se reproduzem só de encostar.
Agressões verbais são assim: germes que se to-
cam e proliferam.
E como essas mentiras saem assim vestidas de
verdades infladas?
Quem foi que primeiro deixou de adoçar o café
do outro?
Cinco gotas de adoçante versus cinco colheres de
açúcar, o que acaba sendo tão difícil de equilibrar
em duas mãos que seguram ainda a colherzinha
da falta de gentileza?
Quem não dosou certo o afeto?
Quem derramou shampoo de menos, sem lem-
brar dos outros 120.000 fios de cabelo, são fios

46
Pseudocrônica sem óculos escuros, num dia em que o sol franza
sua testa.
Tropece sem querer nos interstícios da calçada.
Vamos fazer um movimento?
uma dessas revoluções de improviso. O ruminar do tempo não polui os mares das
ao som de Brubeck. palavras. Elas são banhadas em claras de ovos,
limpo de referências feito um bom solo de caixa em doces portugueses caudalosos, em fremir
de fósforos. ansioso de ventura e do toque sincero de asas de
Vamos pernoitar insones? borboletas abestalhadas nos cílios das estátuas:
tecer no escuro pequenas bolhas de luz, substituem os momentos, as palavras, e assim
trazer nos dedos as unhas intactas de não roer. intensamente os causam.
Vamos ouvir os ruídos de vitamina C
efervescente em crianças pequenas sem carências? E a palavra é a pipoca no óleo quente da vida.
Vamos aglutinar os dias onde as alegrias são
coalhadas? Se trancar palavras na mão elas morrem, como
E unir todas as alegrias, na pequena indiferen- pássaros antes quentes borbulhando o ruído de
ça às arestas, brechas, recônditos, desvãos. suas penas.
Sufoca pegar palavras, mas ao contrário da metá-
Uma alegria compacta, lisa, rutilante, perolada, fora do pássaro,
de brilho quase leitoso, prender palavras sufoca quem as prende.
feito um capô de fusquinha branco.
Luzir. O melhor invólucro das palavras
Vamos luzir incipientes? é o mesmo cristal que se parte ao ruído silábico.
Vamos ser jovens, o novo, e cálidos para sempre? Inaudito para matérias mais duras.
Vamos marcar encontro com o acaso? Escapista, eu?
Sabe como funciona? Até gente tem saídas de emergência:
Assovie ao caminhar, buracos no nariz,

48
para sair bolhas de água tônica, Os riscos além da sua
olhos por onde escapa a luz interna.
janela
O seu amor por mim era igual aos pontos de
ônibus de Vitória. Apenas uma aparência trans- Meu amor há uma luz lá fora, intensa.
parente de um adorno que só pontua, que não E os meninos perguntam por você.
protege do vento, nem da chuva, nem do sol.
O seu amor era uma beirada de vidro que não O sol faz as cores se espreguiçarem,
abraçava. mas elas podem ser delicadas com você, nos seus
óculos escuros.

Você ainda poderá sentir o vento. E o vento des-


ses dias de março
deve te pegar de jeito, numa grande lambida
quente.

E descobrir coisas geladas pequenas como um


picolé Itália. Dois por 1,20.
E tomar água mineral com gás nesta Av. Atlântica
é um programa extra-sensorial.

Mas apesar de confundirmos intensidade com


urgência, não há pressa.

As coisas todas poderão esperar por você, elas


me dizem que concordam. E há música estendi-
da nas calçadas.

50 51
E eu penso como deve ser acordar todos os dias, Quero trazer à tona uma
estender um pano qualquer
e vender a Cássia Eller. coisa que a auto-ajuda
Meu amor, eu tenho um pouco de vida a te dar.
Essa que me sobra me inunda e me transgride. estragou: a felicidade
Mas tudo pode esperar suspenso.

Como aqueles círculos etéreos


que o moço cego faz com sabão em pó e entrega quero decretar que a própria
àquela criança. é algo encontrado em slogans de rua
Criança. em ironias de tias
em qualquer lábio que a diga
Meu amor, esse isolamento é invencível só por
hora que sou simples e viva
Há tempo. e que de minha vida a melhor parte é ser toda
E o tempo é apenas a convenção da pele, dos de ser toda eu tenhos as metades
tecidos e de nossa perecebilidade. Mas ainda há o umas terríveis como ontens, cheias de medo
que chamamos de alma E ela me disse que preci-
sa de um pouco de tempo. quero decretar que qualquer ausência já é
a presença compacta dessa própria ausência
deliciosa por si própria

quero decretar gritos de esmero


no único intento de alegria
pura, derramada como óleo ungido

52
em qualquer presença que emperre Hematopoético
quero decretar que a única forma de ver
é antes ter tido uma mais completa escuridão hoje, acordei a poesia.
dormia em meus pulsos.
quero decretar que se erga agora
e faça seus escândalos veio este poema leucócito, hemoglobina.
que rasgue seus papéis que apague suas frases
que coma e engorde, que corra e emagreça em minha jugular
que suma e apareça que mude que fique que seja correm glóbulos de palavras
recomece. de uma poesia escarlate.

quero decretar a graça poema de quem come nuvens.

aos que isolam os rinocerontes da vida como


asmas de fracos
declaro alergia.

frascos contaminados por si mesmos, doídos


dos idos dias de Sebastião Almeida
eu toda albumina, hemácias, fibrinas

e imunidade a qualquer coisa que não seja pul-


sante,
metaforizo tudo.
tomo ferro.
tenho anemia

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metabolizo sensações em sopas de letrinhas. quanto este poema etc. etc. etc.
eu te daria adjetivos:
durmo acordada, quando ouço os barulhos das feriado, copo de água, band aid da alma, mercurial,
veias, Graal, na sua
por que não na minha?
as obras de arte decorativa de Florianne Gregório,
vasos
e imunidade a qualquer coisa que não seja pulsante

a gênese da poesia está no tecido hematopoiético

na medula de nossos ossos


há essa procissão de glóbulos
essa aversão a anticorpos.

sou uma hemorragia,


faça-me coisas delicadas com as mãos.

você jura que não corre e nem vai achar que eu


quero te colocar num:
pedestal, cartório, canto da minha cabeceira,
holograma?
por que eu simplesmente não consigo acertar um:
apelido, afago, frase com aspartame, entrega de
corpo à domicílio, acento?
simplesmente eu tenho medo de ser:
assustadora, criança, previsível, tão lugar comum

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Antimemória Marina, Maria, vocês se
pintaram?
uma das formas de se preservar aqueles resíduos Maria José Coni, de 22 anos, e Marina Menegazzo, de 21, realizavam o sonho

dos bons momentos que ainda perduram na de sair de Mendoza, na Argentina, com uma mochila nas costas para conhe-

lembrança. cer a América do Sul. Esse sonho, porém, foi interrompido poucos dias atrás

Mas, com o esquecimento, perdurarão apenas no balneário de Montañita, no Equador, onde as duas foram assassinadas

como a sombra de um quadro que existiu há


tempos. Ali, naquele retângulo da parede, a tinta
ainda está clara, Em quantas duas de vocês deveria haver mais um?
ao seu redor a poeira fez seus dias. Se tantas jornais do mundo, diziam, em tinta
e sem rima, que vo-cês duas estava só-zi-nhas
Viajaram sozinhas
A Culpa é Delas
Olha esse vestido
E o aço do pau que finca verdades tão velhas o
quanto pode ser nova a acusação de que esta-
mos exagerando
Meninas, duas mulheres no Equador numa
praia, estavam sozinhas
Porque eram mulheres
Seus corpos não eram delas, eram do direito do
uso de quem veio antes.
Eram costelas, finca a pica, não bichos nem ver-
mes, nem doentes homens é o que sois
Vamos todas juntas, mulheres, ser multidão.
E fazer um óvulo do não.

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Para Beatriz Tabuada

Ela tinha olhos de costureira. Esses olhos aperta- Quanto mais amor para o outro menos amor
dinhos com um olhar miúdo. para nós mesmos
É o tempo que gastamos ensaboando alguém no
Acho que ela olhava pontos, tramas, pespontos, banho
linhas sobrando. E não nos esfregamos ao certo

Tenho de fazer as bainhas de meus sonhos, ela Suavizado o intervalo


dizia. Entre este alternar de água quente e fria Esta
bipolaridade inata aos banhos nossos
Mulher com olhar de costureira: não olhe tanto
pro interior das camisas. Eu tenho uns olhos estranhos desde que te vi
gotas de um sabonete líquido insistente
Costure o coração pra fora, envolto no jeans mais
forte. Quanto mais amor para o outro, menos amor
para nós mesmos
E abra a fenda da vida.
Eu como no almoço os tomates que você iria
cear.
E outras frutas alheias a tudo apodrecem na copa

Eu tenho uma hora certa para te esquecer


e decido tudo por nós dois,
Para B. Sodré mesmo que decida não ter dois em nós

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Quanto mais amor para o outro menos amor Possessão
para nós mesmos

Eu vou descuidar um pouco de mim e no entanto foi assim


melhorar os fios, as texturas e os orifícios com a endorfina, com a serotonina.
os dias foram me lavando e eles escorregaram
Eu tenho uma vontade estranha desde que te para um ralo qualquer. eles: serotonina e
quis. Eu quero habitar o intervalo abaixo da sua endorfina.
pele e me ver de lá. posso gritar seu nome e cortar todos os meus 10
dedos para não mais tocar. posso sumir por aí,
Quanto mais amor para o outro mais amor para flanar por uma Lapa morta e suja, ver vultos nas
nós mesmos esquinas do Lido,
Começo a entender. sumir para Santa e mudar para Tereza. Norma,
Clara, Suzana. Posso ser Zuleika. Ser uma Laika,
ser um instantâneo.
posso ser um dia assim, cheio de nuvens corvos e
um frio particular esticado nos meus novos ossos.
Novos depois do mistério
de me abandonar.
Posso dedilhar novas lorotas para parecer uma
escrita, uma prosa, um qualquer subtítulo novo
de literatura.
Posso ser a vida que levo quando vejo o povo das
ruas engravidando, povoando mais ruas,
se esfregando ao sol,
Estendendo as mãos para roubar meus amendoins.
Posso ir morrendo?

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Esta é uma história de Risque as palavras em
cílios desuso

Da sua penugem nas pontas das pálpebras. Por que o amor é uma palavra tão curta?
Porque é a abreviação.
Pálpebras essas, escotilhas. Não caberia.

Humor vítreo do que se abre em janelas.

Quando se descerram os compartimentos das


penugens castanhas.

O continente do teu olhar, as planícies do teu


abraço, teu sorriso cordilheira.
Como um menino na creche debochando do ami-
guinho sensível demais.
Seus olhos são refrões sobre a coragem, o cuida-
do e a tempestade. E todas as constelações de tuas palavras no escu-
ro dos dias em que não as escuto. E nessa imensi-
dão no amor as coisas não possuem proporção.
Do modo que seus cílios são a moldura do fogo. O que pequeno se avoluma,
o gesto delicado deriva do imenso que nos olha
por dentro e nos assombra acima de nós, o cora-
ção pulsa inchado,
os afogueados glóbulos do sangue se fazem ouvir

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em veias que são ferrovias por onde passam os a Deus e o acaso.
dias, descarrilados. Aleatório, o amor deriva da química, da geo-
metria e acaba por causar literatura e novas
As pequenas e delicadas texturas de sua carne línguas e novos países e novos e insondáveis
onde deposito toda a minha vida de imensa re- mulheres e homens. Dizem que o amor é preci-
clusão no desconhecimento do amor. pício. Eu acho que precipita.

Essa paixão é a única coisa que, por não a termos,


sentimos falta
de todos os seus detalhes.
Talvez igual a ter algo que não possuímos com o
dinheiro,
porém o amor é ainda maior que um carro, uma
casa, uma joia que brilharia falsa se no pescoço
da pele faltassem afagos

O amor é feito de pequenas coisas que grandes


são quando a temos,
múltiplo denominador comum,
matemática perversa de um árabe que inventou
as regras como um deus cria o mundo, sem nos
mostrar a origem.

Oculto em perfumes e trejeitos e faltas de jeito o


amor coabita com a surpresa e é tão inesperado
como a explosão de um sol, a superfície de buracos
negros, a relatividade

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Fim Essa cama onde nos deitamos, a esperar o afago.
O travessão do próximo, o próximo, amar ao
próximo, me aproximar, chegar. Eu tenho apenas
uma promessa: nunca, nunca, vou ficar amarga.
Meu nome quer dizer amarga, mas quer dizer amar
de inícios somos feitos. se mudarmos a ordem das sílabas.
Somos todos feitos de inícios, perambulamos Sou assim, dicotômica, paradoxo de pele e frases,
até encontrar o próximo. Portanto, envelhecer paradigma de meu passado e o desejo de meu
apavora, futuro.
há menos inícios depois de uma certa idade, E me precipito no sim.
Eu penso na cadela Laika, abandonada pelas ruas, Saí do meu abrigo.
até ser convocada e chegar à Lua. Há uma festa acontecendo e eu estou nela.
Penso naquela senhora que deu a volta ao mun-
do em um balão.
E o tempo se vende na rua, em falsos Louis
Vuitton.
E somos.
Somos todos calados, iniciados por travessões,
antes da boca, no ar ao nosso redor.
Eles escutam, escoltados como dentre os dentes
entre as folhas que me surgem, brancas ao nascer
de um pensamento, eles sempre estão, os traves-
sões e pormenores ditos,
somos tanto e alguns sempre com aspas, desde
que houve clarices, herbertos, carlos
Antes de eu dizer meu próximo eu te amo há a
rígida reta horizontal de um travessão.

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Impresso em Impressão Offset
Papel Pólen Bold 80g/cm²
Fontes: Fjord e Bemio

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