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Florianópolis, 2018
A materialização deste trabalho se deu a partir de uma breve investigação sobre os
temas redes sociais e adolescência, implicados nas múltiplas determinações e conexões em
que estão inseridos. Desta forma, pretendemos levantar os fatores que perpassam essa trama,
bem como, lançar um olhar sócio-histórico e cultural na tentativa de compreender as
particularidades que incidem no decorrer das significações dos adolescentes. E ainda, tendo
em vista nosso lugar como estudantes de psicologia, procuramos não deixar de lado as
múltiplas implicações que as redes sociais têm nos sujeitos e as demandas que podem surgir a
partir disso, e, desta forma, como a psicologia - como ciência e profissão - pode participar
deste espaço de discussão.
A Organização Mundial de Saúde (1965) define a adolescência como um período da
vida entre os 10 e 20 anos de idade, marcado por uma série de transformações amplas,
rápidas e variadas, caracterizada por modificações anatômicas, bioquímicas e mentais que
não são observadas em outras faixas etárias. Segundo o art. 2º e seu parágrafo único da Lei
Nº 8.069 de 13 de junho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente,
adolescente é a pessoa que possui de 12 a 18 anos, embora em alguns casos expressos em lei,
este tempo pode ser prorrogado até os vinte e um anos de idade. Em 2010:
Reconhecendo a vulnerabilidade do grupo jovem, de 15 a 24 anos de idade,
às repercussões sobre o processo saúde-doença advindas das determinações
socioeconômicas e políticas da Reforma do Estado, o Ministério da Saúde
ampliou a especificidade no atendimento em saúde à faixa etária de 10 a 24
anos (Ministério da Saúde, 2010, p. 11).
Essas três definições jurídicas da adolescência nos dão uma ideia da dificuldade em se
estabelecer um período fixo que delimite esta fase humana. Embora as mudanças biológicas
da puberdade sejam visíveis e universais, essas mudanças por si só não transformam a pessoa
em um adulto (Schoen-Ferreira, Aznar-Farias & Silvares, 2010).
Alguns autores distinguem, ainda, puberdade de adolescência, sendo que na
puberdade “ocorrem mudanças orgânicas que tendem à maturação biológica adulta com
dimorfismo sexual e capacidade reprodutiva; e, na adolescência, há adaptação às novas
estruturas físicas, psicológicas e ambientais.” (Schoen-Ferreira, Aznar-Farias & Silvares,
2010, p. 227). Esta distinção torna-se importante na medida em que permite que possamos
enxergar a puberdade como um estágio humano universal e a adolescência como um
intrincado de reações e relações de adaptação às mudanças orgânicas que estão acontecendo,
reações e relações estas que são diretamente influenciadas pelo momento histórico, cultural e
social em que o sujeito está inserido, apresentando assim a ideia de que há diversas formas de
se viver a adolescência (Martins, Trindade & Almeida, 2003).
Embora desde a Antiguidade possamos encontrar registros que descrevem e definem a
adolescência, foi apenas no século XX, através de Stanley Hall (1925) que a adolescência foi
legitimada como uma etapa da vida que demandava estudo e atenção, dando início ao estudo
científico da adolescência.
Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), a partir das décadas de 40 e 50 os resultados
dos estudos longitudinais que pesquisavam o ciclo vital acompanhando crianças até a vida
adulta começaram a aparecer. Dentre estes estudos, Schoen-Ferreira, Aznar-Farias e Silvares
(2010) destacam os da equipe de Havighurst (1957), cujas ideias orientavam-se pela
existência de tarefas evolutivas, ou seja, aprendizados que o ser humano precisa adquirir
dentro de um período de tempo restrito que permitirão o seu desenvolvimento satisfatório e
uma transição saudável para a próxima etapa. Segundo as autoras:
Havighurst (1957) propôs algumas tarefas evolutivas para o período da
adolescência: aceitar o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais
maduras com os pares de ambos os sexos; desenvolver o papel social de
gênero; alcançar a independência dos pais e de outros adultos, com relação
aos aspectos emocional, pessoal e econômico; escolher uma ocupação e
preparar-se para a mesma; preparar-se para o matrimônio e a vida em
família; desenvolver a cidadania e comportamentos sociais responsáveis;
além de conquistar uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma
filosofia de vida que guiem o comportamento do indivíduo. (Schoen-
Ferreira, Aznar-Farias & Silvares, 2010, p. 30-31).
REFLEXÕES
Instagram
O instagram é a rede social a qual o capitalismo nem imaginava conseguir. Veja bem,
dado que “todos” querem postar e apresentar apenas seu melhor lado, esse aplicativo é uma
fábrica de idéias imaginárias muito distantes da realidade. Salientamos que esses ideais
(ideias imaginárias inalcançáveis) são parte do sustentáculo do sistema de produção, visto
que se os ideais fossem alcançáveis em algum momento não haveria mais porque consumir e
o capitalismo colapsaria. O instagram, por sua vez, acaba por ser uma grande fábrica desses
ideais imaginativos e, ainda, é fruto da ação da própria população. O aplicativo apresenta
diversos instantes (totalmente descontextualizados e muitas vezes falsos) de felicidade,
riqueza, contentamento, bem estar, tranquilidade e ainda todos os bens de consumo mais
desejados. Mesmo sendo fragmentos de vida, ou seja, apenas uma pequena parte da vida das
pessoas, por serem apresentados em uma sequência interminável dão a falsa sensação de que
esse bem estar e riqueza podem ser encontrados de forma constante, um estado de felicidade
perpétuo. E já sabemos como esse falso conceito “Felicidade” está associado a quase todos os
produtos e publicidades. A esperança de alcançar essa felicidade é o que atrela e motiva os
trabalhadores a continuarem a se submeter a servidão e exploração do sistema.
Segundo Espinosa, em O Tratado Teológico-Político, “Não há nada mais eficaz do
que a superstição para governar as multidões”. Em sua época as superstições que governavam
eram mais nítidas centralizadas na igreja e a religião, agora as vemos de forma mais dispersas
como no livre-mercado, ou no estado, na família, na beleza, na felicidade, no dinheiro, no
consumo, dentre muitos outros conceitos que a modernidade e o capitalismo construíram.
Voltemos nosso olhar agora para o nível mais molecular do Instagram, quando
abordamos o aplicativo entre os integrantes do grupo, percebemos um senso comum saltar
aos olhos: todos nosso amigos que usam o aplicativo com grande frequência apontam como
sentem que o aplicativo os deixa com um mal estar, aflitos, despotencializados, mas que
mesmo assim não conseguem deixar de utilizá-lo. Ora, por que conscientes do efeito
negativo que isso os traz alguem manteria o seu uso? Nosso amigo Espinosa nos esclarece:
para tomarmos consciência das “paixões tristes” (afetos exteriores que diminuem nossa
potência de vida) não é suficiente subjugá-las, a única forma de vencer uma paixão seria com
uma paixão maior e de força oposta, ou seja, o contato com uma “paixão feliz”, um afeto que
sobreponha a paixão triste do uso do aplicativo. A partir daí, caímos em uma questão muito
maior: a escassez de promoção de saúde. Entretanto é de se esperar que assim seja, sujeitos
despotencializados são facilmente controlados. Arriscamos ao dizer que: se o Estado
proporcionasse promoção de saúde, ou seja, encontros que aumentem a potência de vida da
população, por consequência aumentaria seu nível de liberdade, o que desestruturaria todo o
nosso sistema de servidão.
Apego ao personagem
É perceptível que ao se inserir em uma rede social a personalidade do indivíduo se
molda. E é de se esperar que assim seja, em cada encontro, em cada relação, cada cenário e
contexto; o que é demandado do sujeito se modifica, conjuntamente com a interação deste
com o meio que está inserido.
A diferença entre as relações offline para as virtuais é enorme e, a partir daí, uma nova
personalidade se constrói. No mundo virtual o tempo de resposta e reflexão é de certa forma
livre, a espontaneidade que a relação face a face demanda não existe. Simultaneamente o
tempo também é distorcido no que diz respeito a velocidade que respostas chegam a você,
dificilmente se tem uma pausa no fluxo de informação ou um silêncio que permita o sujeito
se centrar de volta a si mesmo. O mundo virtual também nos permite a qualquer momento
nos desconectarmos, nos proporciona essa segurança, essa possibilidade de fuga de qualquer
elemento que nos seja aversivo, uma semi-presença constante. Entretanto há outro lado dessa
moeda, certos acontecimentos aversivos no mundo virtual podem tomar uma proporção tão
grande que se torna impossível se livrar de suas consequências mesmo no mundo offline.
São múltiplas e complexas as diferenças entre esses dois mundos, mas ao se tratar de
redes sociais não podemos parar por aí; cada rede social é um mundo, tem um conjunto de
regras, uma linguagem, um contexto totalmente singular. É como se cada rede social fosse
um “joguinho” diferente, uma possibilidade nova de existir e de se relacionar. Não obstante,
percebe-se que as ferramentas que os desenvolvedores de redes sociais empregam para
satisfazer, viciar e reforçar o uso de sua plataforma são muito similares as dos
desenvolvedores de games. A cada instante que você coloca energia nesse universo ele
instantaneamente te recompensa pelo trabalho, conforme você vai investindo mais energia
maior vão sendo suas recompensas (recebendo mais likes, ou conseguindo mais kills). De
forma oposta, mas seguindo no mesmo sentido, quando você não consegue essa recompensa
o sistema evidencia seu fracasso, movimento que mobiliza o usuário a se esforçar mais,
gastar mais energia com o jogo ou rede social.
O grande apego ao personagem virtual que se constrói nas redes sociais é muito fácil
de se entender se você já jogou videogame alguma vez. Depois de horas e horas de dedicação
você vai avançando no jogo, desbloqueando elementos, o seu personagem vai ficando mais
forte, tem mais habilidades; você reconhece o valor de seu trabalho e empenho. Existe uma
dor muito grande, que é perder o progresso de um jogo. Só quem passou por isso entende.
Quando, do nada, a luz acaba e você não tinha salvado o jogo, ou algum bug faz com que seu
save seja deletado. De forma similar, depois de investir tanta energia em uma rede social, de
ter conseguido tantos seguidores, tantos inscritos, depois de ter construído com tanto trabalho
esse personagem que é tão poderoso nesse universo, tem tanta fama, é tão invejado pelos
outros, se torna fácil de compreender o peso que daí surge, o apego e o vício que daí podem
decorrer.
REFERÊNCIAS
Alencar, R. A., Silva, L., Silva, F. A., & Diniz, R. E. S. (2008). Desenvolvimento de
uma proposta de educação sexual para adolescentes. Ciência & Educação, 14, 159-168.
Brasil. Vários Autores. Comitê Gestor da Internet no Brasil (Org.). Tic Kids Online
Brasil: Pesquisa Sobre o Uso da Internet por Crianças e Adolescentes no Brasil. São Paulo:
Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto Br, 2017. 327 p. Disponível em:
<http://cetic.br/media/docs/publicacoes/2/TIC_KIDS_ONLINE_2016_LivroEletronico.pdf>.
Acesso em: 22 jun. 2018.
Castells, M. (2000). A sociedade em rede (Coleção A era da informação: economia,
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Hargreaves, A., Earl, L., & Ryan, J. (2001). Educação para mudança: recriando a
escola para adolescentes. Porto Alegre: Artes Médicas.
Lidz, T. (1983). A pessoa: seu desenvolvimento durante o ciclo vital. Porto Alegre:
Artes Médicas.
Papalia, D. E., Olds, S. W., & Feldman, R. D. (2006). Desenvolvimento humano (8ª
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