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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Redes sociais e Adolescência

Estudantes: Bruna Larissa Kluge,


Davi Henriques Kawabe,
Gabriela de Lima David,
João Eduardo Martins Junior,
Laís Regina Schmitz,
Maisa de Batista Carvalho
Professora: Maria Eduarda Ramos

Florianópolis, 2018
A materialização deste trabalho se deu a partir de uma breve investigação sobre os
temas redes sociais e adolescência, implicados nas múltiplas determinações e conexões em
que estão inseridos. Desta forma, pretendemos levantar os fatores que perpassam essa trama,
bem como, lançar um olhar sócio-histórico e cultural na tentativa de compreender as
particularidades que incidem no decorrer das significações dos adolescentes. E ainda, tendo
em vista nosso lugar como estudantes de psicologia, procuramos não deixar de lado as
múltiplas implicações que as redes sociais têm nos sujeitos e as demandas que podem surgir a
partir disso, e, desta forma, como a psicologia - como ciência e profissão - pode participar
deste espaço de discussão.
A Organização Mundial de Saúde (1965) define a adolescência como um período da
vida entre os 10 e 20 anos de idade, marcado por uma série de transformações amplas,
rápidas e variadas, caracterizada por modificações anatômicas, bioquímicas e mentais que
não são observadas em outras faixas etárias. Segundo o art. 2º e seu parágrafo único da Lei
Nº 8.069 de 13 de junho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente,
adolescente é a pessoa que possui de 12 a 18 anos, embora em alguns casos expressos em lei,
este tempo pode ser prorrogado até os vinte e um anos de idade. Em 2010:
Reconhecendo a vulnerabilidade do grupo jovem, de 15 a 24 anos de idade,
às repercussões sobre o processo saúde-doença advindas das determinações
socioeconômicas e políticas da Reforma do Estado, o Ministério da Saúde
ampliou a especificidade no atendimento em saúde à faixa etária de 10 a 24
anos (Ministério da Saúde, 2010, p. 11).

Essas três definições jurídicas da adolescência nos dão uma ideia da dificuldade em se
estabelecer um período fixo que delimite esta fase humana. Embora as mudanças biológicas
da puberdade sejam visíveis e universais, essas mudanças por si só não transformam a pessoa
em um adulto (Schoen-Ferreira, Aznar-Farias & Silvares, 2010).
Alguns autores distinguem, ainda, puberdade de adolescência, sendo que na
puberdade “ocorrem mudanças orgânicas que tendem à maturação biológica adulta com
dimorfismo sexual e capacidade reprodutiva; e, na adolescência, há adaptação às novas
estruturas físicas, psicológicas e ambientais.” (Schoen-Ferreira, Aznar-Farias & Silvares,
2010, p. 227). Esta distinção torna-se importante na medida em que permite que possamos
enxergar a puberdade como um estágio humano universal e a adolescência como um
intrincado de reações e relações de adaptação às mudanças orgânicas que estão acontecendo,
reações e relações estas que são diretamente influenciadas pelo momento histórico, cultural e
social em que o sujeito está inserido, apresentando assim a ideia de que há diversas formas de
se viver a adolescência (Martins, Trindade & Almeida, 2003).
Embora desde a Antiguidade possamos encontrar registros que descrevem e definem a
adolescência, foi apenas no século XX, através de Stanley Hall (1925) que a adolescência foi
legitimada como uma etapa da vida que demandava estudo e atenção, dando início ao estudo
científico da adolescência.
Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), a partir das décadas de 40 e 50 os resultados
dos estudos longitudinais que pesquisavam o ciclo vital acompanhando crianças até a vida
adulta começaram a aparecer. Dentre estes estudos, Schoen-Ferreira, Aznar-Farias e Silvares
(2010) destacam os da equipe de Havighurst (1957), cujas ideias orientavam-se pela
existência de tarefas evolutivas, ou seja, aprendizados que o ser humano precisa adquirir
dentro de um período de tempo restrito que permitirão o seu desenvolvimento satisfatório e
uma transição saudável para a próxima etapa. Segundo as autoras:
Havighurst (1957) propôs algumas tarefas evolutivas para o período da
adolescência: aceitar o próprio corpo; estabelecer relações sociais mais
maduras com os pares de ambos os sexos; desenvolver o papel social de
gênero; alcançar a independência dos pais e de outros adultos, com relação
aos aspectos emocional, pessoal e econômico; escolher uma ocupação e
preparar-se para a mesma; preparar-se para o matrimônio e a vida em
família; desenvolver a cidadania e comportamentos sociais responsáveis;
além de conquistar uma identidade pessoal, uma escala de valores e uma
filosofia de vida que guiem o comportamento do indivíduo. (Schoen-
Ferreira, Aznar-Farias & Silvares, 2010, p. 30-31).

Elas também encontraram estas tarefas apresentadas de formas distintas em diversos


outros estudos sobre a adolescência (Adams, 1998; Alencar, Silva, Silva & Diniz, 2008;
Fávero & Abraão, 2006; Hargreaves & cols., 2001; Lidz, 1983; Vargas & Nelson, 2001 apud
Schoen-Ferreira, Aznar-Farias e Silvares, 2010). Mas apesar disso, estudos de campos como
História e Antropologia Social apontam que as características do desenvolvimento
psicossocial não são universais, inclusive mostrando sociedades em que a adolescência não se
caracteriza como um período turbulento (Grossman, 1998; Santrock, 2003; Sprinthall &
Collins, 1999).
A partir destes achados e de conceitos da psicanálise, a Teoria Psicossocial proposta
por Erikson (1972) propõe que o ambiente também é uma variável de influência na
construção da personalidade do indivíduo e essa mudança de visão sobre o desenvolvimento
humano abre novas perspectivas na forma de se entender a adolescência. Na
contemporaneidade, crianças e adolescentes começam a se tornar sujeitos em fase de
desenvolvimento, passíveis de direito e que precisam ser protegidos pelo Estado (Espindula
& Santos, 2004; Sprinthall & Collins, 1999), o que pode ser atestado se retomamos o início
deste texto onde destacam-se os esforços do Estado em definir a adolescência e elaborar
políticas públicas específicas para o seu atendimento.
Em paralelo às mudanças ocorridas no último século nos conceitos, abordagens e
definições da adolescência, vivenciamos a revolução tecnológica. Considerando o
desenvolvimento humano como um processo subjetivo, sujeito às variações ambientais,
culturais, históricas, sociais e individuais, não podemos ignorar o papel desta revolução nas
mudanças de perspectiva sobre a adolescência que ocorreram e ainda ocorrem. Segundo
Lima, Souza, Rezende e Mesquita, (2012) “há uma infiltração das tecnologias por todo o
conjunto de relações e estruturas sociais, que penetra no poder e na experiência, modificando-
os” (p. 4) introduzindo a possibilidade de relacionamentos virtuais e criando o conceito da
sociedade em rede (Castells, 1999).
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), o Brasil teve
29.689.814 milhões de acessos em serviço na banda larga fixa em março de 2018, um
aumento de 8,91% em doze meses e 0,94% comparado ao mês anterior. Conforme a mesma
agência, também em março de 2018, o Brasil registrou 235.786.195 linhas móveis - celulares
- em operação, com uma densidade de 113,54 linhas móveis em operação para cada 100
habitantes. Em uma pesquisa promovida e publicada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil
em 2016 feita especialmente com o objetivo de mapear o uso de tecnologias por crianças e
adolescentes, estimou-se que 82% de crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos são
usuários de Internet, sendo que destas, 91% se conectaram através do celular.
Estes números demonstram a importância que a tecnologia adquiriu em nossa cultura,
especialmente no que diz respeito ao acesso e uso da internet e à mobilidade conferida pelos
celulares, que gradativamente vêm perdendo sua relevância enquanto telefone móvel
enquanto transforma-se em um acessório muito mais complexo e com inúmeras outras
funcionalidades, especialmente o acesso ao mundo virtual, permitindo aos sujeitos - inclusive
crianças e adolescentes - o ingresso na sociedade em rede.
A mesma pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil de 2016 apontou que 86%
das crianças e adolescentes usuários da rede tinham perfis em redes sociais virtuais, sendo
que destes usuários, entre os que tinham de 9 a 10 anos apenas 62% possuíam perfis em
alguma rede social enquanto este número subia para 97% entre os que tinham entre 15 e 17
anos.
Redes sociais virtuais podem ser definidos como “um microespaço da sociedade em
rede, um conector em espaços de fluxos, ou em um meio em que se manifestam e interagem
tipos diferentes de identidade” (Silva, 2011, p. 35). Entre os modelos mais populares destas
redes sociais virtuais estão os microblogs (como o Twitter), sites de rede social (como o
Facebook) e os aplicativos para compartilhamento de imagens e vídeos (como o Instagram).
As redes sociais florescem em meio ao fecundo campo: a internet! A internet foi
desenvolvida em meio aos avanços tecnológicos produzidos na Guerra Fria, e seus frutos
produziram uma revolução no campo da tecnologia, alcançando, assim, um novo nível de
globalização mundial. As informações ganham uma importância e um peso muito distinto; a
economia, o entretenimento, a velocidade de comunicação, a percepção do tempo e do espaço
se alteram completamente, reorganizando o sistema capitalista.
Primeiramente voltemos nosso olhar para essa organização social a qual estamos
inseridos, visto que, está intimamente ligada a nossa figura principal, as redes sociais. Em
Micropolítica Cartografias do Desejo, Suely Rolnik e Felix Guattari (2000) abordam essa
organização do “capitalismo mundial integrado” de forma completa e minuciosa, mas em
especial, o quero trazer desta reflexão é a noção de produção de subjetividade:

A produção de subjetividade encontra-se, e com um peso cada vez maior,


no seio daquilo que Marx chama de infraestrutura produtiva. Isso é muito
fácil de verificar. Quando uma potência como os Estados Unidos quer
implantar suas possibilidades de expansão econômica num país do assim
chamado Terceiro Mundo, ela começa, antes de mais nada, a trabalhar os
processos de subjetivação. Sem um trabalho de formação prévia das forças
produtivas e das forças de consumo, sem um trabalho de todos os meios de
semiotização econômica, comercial, industrial, as realidades sociais locais
não poderão ser controladas.

A problemática micropolítica não se situa no nível da representação, mas no


nível da produção de subjetividade. Ela se refere aos modos de expressão
que passam não só pela linguagem, mas também por níveis semióticos
heterogêneos. Então, não se trata de elaborar uma espécie de referente geral
interestrutural, uma estrutura geral de significantes do inconsciente à qual
se reduziriam todos os níveis estruturais específicos. Trata-se, sim, de fazer
exatamente a operação inversa, que, apesar dos sistemas de equivalência e
de tradutibilidade estruturais, vai incidir nos pontos de singularidade, em
processos de singularização que são as próprias raízes produtoras da
subjetividade em sua pluralidade. (p.36)

A produção de subjetividade, portanto, tem sua gênese nos processos revolucionários-


criativos advindos de processos singulares, ou seja, não é formada por uma força institucional
ou infraestrutural do sistema que controla o desejo e o consumo, nem mesmo advém de
estruturas generalizantes inconscientes como a psicanálise sugere. Vemos então que a
produção de subjetividade é o constante fluxo criativo-coletivo-singular, o potencial humano
de ir além do que está dado ou estruturado. Sabido que o sistema capitalista caminha sempre
em direção à crise, sempre depende de formas novas de produção e de consumo para
remediar seu constante desgaste, inferimos que o sistema é intimamente dependente da
produção de subjetivação para a criação de nova demanda. Mas infelizmente o sistema
capitalista não é muito gentil com esse sujeitos que se destoam do padrão criando o novo.
Segundo os autores, no capitalismo há apenas dois destinos possíveis para as singularidades:
ou são absorvidos pelo sistema gerando desejo de consumo e produção, ou são destruídos,
abafados e marginalizados.
Esse processo de apropriação da subjetividade pelo sistema produtivo é
profundamente facilitado pela internet, em especial pelas redes sociais, basta olharmos para o
valor que estas ocupam no mercado para ter uma noção de quanto elas impactam no mercado
capitalista. As redes sociais servem como banco de dados, e em tempo real, desses processos
de produção de subjetividade, e ainda, de como cada grupo identitário responde a ela (nossos
likes não são nada inocentes). Se pensarmos no devaneio de um capitalismo utópico esse
processo seria de fato um sonho: um mercado eternamente em equilíbrio, onde a concorrência
gera sempre a melhor prestação de serviços e sempre a preços adequados, e que ainda, tem
acesso a um banco de dados com todos os desejos da humanidade e sabe de qual grupo essa
demanda advém. O capitalismo seria a fada madrinha que cria tudo que cada um quer.
Infelizmente essa utopia neoliberal se firma em cima de uma fé: uma benventura de todos os
seres humanos, que seguiram todos o caminho de um direito natural, onde ninguém usaria de
seu poder para subjugar e governar a liberdade dos outros. Na realidade vemos que as redes
sociais além de servirem ao mercado como coletora de informação ainda o servem como
mantenedoras, ou melhor, reguladoras desses escapes, controlando para que nenhuma
revolução (independente de seu nível) tenha liberdade para ocorrer se não estiver
capitalizada, se não for gerar um produto para o sistema. As minorias são mortas enquanto
revolucionárias, até que no decorrer do tempo vão se nutrindo de normalidade (ou nutrindo o
mundo com sua imagem) até que uma gama considerável de sujeitos se identifica com ela,
uma minoria relativamente grande já pode ser transformada em demanda de mercado.
O sistema capitalista é eternamente frágil, entretanto, detém um poder perene e
soberano. Esse conjunto de qualidades o torna uma monstruosidade, sempre regida pelo medo
e pela opressão. Na incessante busca por uma ilusória segurança a máquina avança. E por
muito tempo essa violência se deu, e ainda se dá, de forma direta; o sistema empodera
instituições de controle (como a polícia militar, os manicômios, as escolas...) não obstante,
ainda possibilitam um campo de geração de lucro, afinal, a indústria da guerra, o sistema
prisional, a indústria da farmácia e as ‘comunidades terapêuticas’ movem não só capital como
poder político. Desta forma, Mbembe (2003) afirma que a expressão máxima da soberania
reside, em grande medida, no poder e na capacidade de ditar quem pode viver e quem deve
morrer.
Porém, há formas mais sutis de se ditar quem pode viver e quem deve morrer. A
‘moral e bons costumes’, os valores culturais e religiosos introjetados nos sujeitos que por
vezes acabam por ser até mais violentos que as formas explícitas de controle. Nessa lógica
são os próprios sujeitos os delegados de seus vizinhos, prontos para punir qualquer desvio
que se apresente; e é aí, que nosso objeto de estudo, as redes sociais, favorecem e amplificam
esse processo. Nas redes sociais o mundo todo se torna seu vizinho, que o assiste e avalia, e
ainda, há três fatores que potencializam exponencialmente esse processo: o alto nível de
exposição pública do que outrora era privado, a velocidade que a informação se veicula (o
que antes seria um escândalo do bairro hoje pode viralizar), e o anonimato que a internet
proporciona (dando uma ilusão de absoluta permissibilidade e impunidade por qualquer ato
de violência).
Vale salientar, que diferente da moral imposta pela igreja nos séculos passados onde
havia uma linha nítida e comum que dividia o certo do errado, no nosso contexto atual são
múltiplos e diversos os valores, crenças e morais instituídas. Estamos no século da
polarização, a internet possibilita a conexão entre os indivíduos que compartilham dos
mesmos valores, os fechando em grupos, e não obstante, a conexão entre os que
compartilham de valores opostos, os colocando em conflito. Dessa forma, nas redes sociais o
sujeito está tanto em contato com bolhas que segregam o que é aversivo a ele quanto em
contato com grupos que vão contra o que ele acredita.
Todavia, pego no fogo cruzado, em meio a essa guerra e jogos de poder, estão as
revoluções verdadeiras, entre direita e esquerda, são massacradas por ambas. As
singularidades transcendem essa dualidade, pois transcendem o que está instituído (partindo
do pressuposto que é sabido que essa polarização já é parte integrante do equilíbrio do
sistema político-capitalista). As violências diversas que daí se desenvolvem não podem ser
ignoradas, principalmente partindo de uma perspectiva de futuros psicólogos. Esse ambiente
é parte integrante da vida de muitos, e tende a se integrar cada vez mais. Esse é um campo
complexo, e muitos estudos na área precisam se dar para que caminhemos para ter uma noção
mais adequada desses fenômenos. Não deixemos de nos lembrar que assim como a PM mata
todos os dias, os suicídios derivados desse contexto também acontecem todos os dias.
Voltemos nosso olhar agora para o que consideramos a parcela mais sombria das
redes sociais: a re-produção, repetição de conceitos sem afeto, o processo no qual ao invés do
sujeito se apropriar da estrutura e ir além (existindo em ato e transformando a realidade,
produzindo subjetividade), ele na verdade nem mesmo é capturado pelos conceitos que
entram em contato com ele, apenas se usa deles para uma outra finalidade, ter uma aceitação
ou resposta positiva da sua comunidade virtual. Esse é um processo vinculado à velocidade
que a informação adquire nos últimos tempos, estamos acostumados a engolir e regurgitar
conteúdos diversos repetidamente, sem nunca ter tempo para digeri-los, em nenhum
momento possibilitando ser afetado ou desfrutar de um processo criativo. É a “gorda saúde
dominante” trazida por Deleuze (1997) em Crítica e Clínica. O autor apresenta o grande
potencial de promoção de revolução e de saúde que a literatura tem, e no qual é impossível se
dar sem esse afetamento, sem essa digestão e produção dos conteúdos.
Por isso o escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico, médico de
si próprio e do mundo. O mundo é o conjunto dos sintomas cuja doença se
confunde com o homem. A literatura aparece, então, como um
empreendimento de saúde: não que o escritor tenha forçosamente uma
saúde de ferro (…), mas ele goza de uma frágil saúde irresistível, que
provém do fato de ter visto e ouvido coisas demasiado grandes para ele,
fortes demais, irrespiráveis, cuja passagem o esgota, dando-lhe contudo
devires que uma gorda saúde dominante tornaria impossíveis (Deleuze,
1997, p.14)

Nas redes sociais se evidencia claramente esse processo literário desprendido de


afetos, os constantes e repetidos posts after posts, ‘Ctrl-c Ctrl-v’ de conteúdos, as leituras
apenas de títulos de notícias, os 140 caracteres, os histories de 24 horas, e por aí vai. O velho
vício do consumo aqui se atualiza, bem como o capitalismo nos ensina, a busca incessante de
fatores externos na sempre frustrada tentativa de saciar um vazio que nunca será completado
por “exteriorismos”. E como todo vício, dele decorrem dependência, abstinência, excessos,
todo o tipo de falta de saúde que o vincula a um processo de servidão.
A servidão é o momento em que a força interna do conatus [por conatus se
entende grau de potência de vida], tendo se tornado excessivamente
enfraquecida sob a ação das forças externas, submete-se a elas imaginando
submetê-las. Ilusão de força na fraqueza interior extrema, a servidão é
deixar-se habitar pela exterioridade, deixar-se governar por ela [...]
Alienados, não só não reconhecemos o poderio externo que nos domina,
mas o desejamos e nos identificamos com ele. A marca da servidão é levar
o apetite-desejo à forma limite: a carência insaciável que busca
interminavelmente a satisfação fora de si, num outro que só existe
imaginariamente (Chauí, 1999, p. 67).

Vemos, portanto, as redes sociais como:


1. Um fecundo e interconectado campo de produção de subjetividade que parte
das conexões e encontros de processos singulares em constante fruição dentro
de uma estrutura mundial firmada.
2. Uma ferramenta que permite encontros de devires revolucionários, que se
potencializam com a formação de grupos. Dando maior potencial de
resistência. (Lembrando que sempre cai-se no paradoxo da Diferença e
Igualdade, os grupos empoderam tanto quanto distanciam e segregam essa
identidade do outro.)
3. Um meio auto regulado, permeado de complexos processos individuais e
socioculturais, que vigia, controla e pune o que escapa à norma - norma essa
que não mais pode ser vista de forma hegemônica ou única, mas sim uma
intrincada e plural normatividade que é particular de cada grupo identitário e
sobre o qual todos estão, uns mais e outros menos, em contato com seus
julgamentos sobre o certo e o errado.
4. Uma rica produção de entretenimento, que se serve dos próprios sujeitos como
forma de produção, divulgação e avaliação de seu conteúdo. Processo que se
dá de forma orgânica, teoricamente livre, não dependente de uma estrutura ou
instituição maior.

Diante destas informações tanto sobre a constituição da adolescência como um campo


científico a ser estudado, como da inescapável presença das redes sociais virtuais entre a
população brasileira, faz-se necessário questionarmos como esta sociedade em rede está
definindo os rumos da forma como enxergamos a adolescência e simultaneamente, como os
adolescentes estão sendo se relacionando com este modelo de sociedade.

REFLEXÕES

Instagram
O instagram é a rede social a qual o capitalismo nem imaginava conseguir. Veja bem,
dado que “todos” querem postar e apresentar apenas seu melhor lado, esse aplicativo é uma
fábrica de idéias imaginárias muito distantes da realidade. Salientamos que esses ideais
(ideias imaginárias inalcançáveis) são parte do sustentáculo do sistema de produção, visto
que se os ideais fossem alcançáveis em algum momento não haveria mais porque consumir e
o capitalismo colapsaria. O instagram, por sua vez, acaba por ser uma grande fábrica desses
ideais imaginativos e, ainda, é fruto da ação da própria população. O aplicativo apresenta
diversos instantes (totalmente descontextualizados e muitas vezes falsos) de felicidade,
riqueza, contentamento, bem estar, tranquilidade e ainda todos os bens de consumo mais
desejados. Mesmo sendo fragmentos de vida, ou seja, apenas uma pequena parte da vida das
pessoas, por serem apresentados em uma sequência interminável dão a falsa sensação de que
esse bem estar e riqueza podem ser encontrados de forma constante, um estado de felicidade
perpétuo. E já sabemos como esse falso conceito “Felicidade” está associado a quase todos os
produtos e publicidades. A esperança de alcançar essa felicidade é o que atrela e motiva os
trabalhadores a continuarem a se submeter a servidão e exploração do sistema.
Segundo Espinosa, em O Tratado Teológico-Político, “Não há nada mais eficaz do
que a superstição para governar as multidões”. Em sua época as superstições que governavam
eram mais nítidas centralizadas na igreja e a religião, agora as vemos de forma mais dispersas
como no livre-mercado, ou no estado, na família, na beleza, na felicidade, no dinheiro, no
consumo, dentre muitos outros conceitos que a modernidade e o capitalismo construíram.
Voltemos nosso olhar agora para o nível mais molecular do Instagram, quando
abordamos o aplicativo entre os integrantes do grupo, percebemos um senso comum saltar
aos olhos: todos nosso amigos que usam o aplicativo com grande frequência apontam como
sentem que o aplicativo os deixa com um mal estar, aflitos, despotencializados, mas que
mesmo assim não conseguem deixar de utilizá-lo. Ora, por que conscientes do efeito
negativo que isso os traz alguem manteria o seu uso? Nosso amigo Espinosa nos esclarece:
para tomarmos consciência das “paixões tristes” (afetos exteriores que diminuem nossa
potência de vida) não é suficiente subjugá-las, a única forma de vencer uma paixão seria com
uma paixão maior e de força oposta, ou seja, o contato com uma “paixão feliz”, um afeto que
sobreponha a paixão triste do uso do aplicativo. A partir daí, caímos em uma questão muito
maior: a escassez de promoção de saúde. Entretanto é de se esperar que assim seja, sujeitos
despotencializados são facilmente controlados. Arriscamos ao dizer que: se o Estado
proporcionasse promoção de saúde, ou seja, encontros que aumentem a potência de vida da
população, por consequência aumentaria seu nível de liberdade, o que desestruturaria todo o
nosso sistema de servidão.

Apego ao personagem
É perceptível que ao se inserir em uma rede social a personalidade do indivíduo se
molda. E é de se esperar que assim seja, em cada encontro, em cada relação, cada cenário e
contexto; o que é demandado do sujeito se modifica, conjuntamente com a interação deste
com o meio que está inserido.
A diferença entre as relações offline para as virtuais é enorme e, a partir daí, uma nova
personalidade se constrói. No mundo virtual o tempo de resposta e reflexão é de certa forma
livre, a espontaneidade que a relação face a face demanda não existe. Simultaneamente o
tempo também é distorcido no que diz respeito a velocidade que respostas chegam a você,
dificilmente se tem uma pausa no fluxo de informação ou um silêncio que permita o sujeito
se centrar de volta a si mesmo. O mundo virtual também nos permite a qualquer momento
nos desconectarmos, nos proporciona essa segurança, essa possibilidade de fuga de qualquer
elemento que nos seja aversivo, uma semi-presença constante. Entretanto há outro lado dessa
moeda, certos acontecimentos aversivos no mundo virtual podem tomar uma proporção tão
grande que se torna impossível se livrar de suas consequências mesmo no mundo offline.
São múltiplas e complexas as diferenças entre esses dois mundos, mas ao se tratar de
redes sociais não podemos parar por aí; cada rede social é um mundo, tem um conjunto de
regras, uma linguagem, um contexto totalmente singular. É como se cada rede social fosse
um “joguinho” diferente, uma possibilidade nova de existir e de se relacionar. Não obstante,
percebe-se que as ferramentas que os desenvolvedores de redes sociais empregam para
satisfazer, viciar e reforçar o uso de sua plataforma são muito similares as dos
desenvolvedores de games. A cada instante que você coloca energia nesse universo ele
instantaneamente te recompensa pelo trabalho, conforme você vai investindo mais energia
maior vão sendo suas recompensas (recebendo mais likes, ou conseguindo mais kills). De
forma oposta, mas seguindo no mesmo sentido, quando você não consegue essa recompensa
o sistema evidencia seu fracasso, movimento que mobiliza o usuário a se esforçar mais,
gastar mais energia com o jogo ou rede social.
O grande apego ao personagem virtual que se constrói nas redes sociais é muito fácil
de se entender se você já jogou videogame alguma vez. Depois de horas e horas de dedicação
você vai avançando no jogo, desbloqueando elementos, o seu personagem vai ficando mais
forte, tem mais habilidades; você reconhece o valor de seu trabalho e empenho. Existe uma
dor muito grande, que é perder o progresso de um jogo. Só quem passou por isso entende.
Quando, do nada, a luz acaba e você não tinha salvado o jogo, ou algum bug faz com que seu
save seja deletado. De forma similar, depois de investir tanta energia em uma rede social, de
ter conseguido tantos seguidores, tantos inscritos, depois de ter construído com tanto trabalho
esse personagem que é tão poderoso nesse universo, tem tanta fama, é tão invejado pelos
outros, se torna fácil de compreender o peso que daí surge, o apego e o vício que daí podem
decorrer.

A falta do ato e a incompletude do encontro virtual


Qualquer um que teve contato com o teatro ou psicodrama conhece a potência que o
ato, a ação, o movimento e a presença tem sobre a amplitude de uma expressão. Esses são
elementos indispensáveis para a psique humana se elaborar de forma integra. Entretanto
entramos em uma Era onde grande parte das interações e expressões se dão sem nem mesmo
a presença física do outro, e ainda, é muitas vezes limitadas ao texto ou a fotografia. A
questão é: o quanto isso impacta nas relações dos sujeitos, o quanto as expressões são
limitadas, quanto isso proporciona uma falta de experiências sociais, como isso reorganiza a
forma com a qual nos comunicamos?

REFERÊNCIAS

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Vargas, C., & Nelson, A. 2001. Cambios en la familia: repercusiones en la práctica


pediátrica. Revista Chilena de Pediatria, 72, 77-80. Commented [1]: Galera, coloquei as referências tudo
do jeito que consegui e mandei assim mesmo com
uma hora e cinquenta de atraso.

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