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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

MB
Nº 70073229130 (Nº CNJ: 0087028-06.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO.


IPVA E ICMS. ISENÇÃO E REPETIÇÃO DE
INDÉBITO. POSSIBILIDADE. VISÃO
MONOCULAR. DEFICIENTE. CEGUEIRA DE
UM OLHO. INAPLICABILIDADE DO CRITÉRIO
DO ART. 4º, INCISO III, DO DECRETO Nº
3.298/1999.
- Embora a exigência de veículo adaptado tenha
sido suprida da legislação estadual, subsiste,
tanto no Decreto 37.699/97 (RICMS) quanto na
Lei nº 8.115/85 (IPVA), o conceito legal, extraído
do art. 4º, inciso III, do Decreto nº 3.298/1999,
na redação original, de deficiência visual como
“acuidade visual igual ou menor que 20/200 no
melhor olho, após a melhor correção, ou campo
visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou
ocorrência simultânea de ambas as situações”.
- Caso concreto no qual o recorrente possui
visão monocular, isto é, função visual nula no
globo ocular direito (CID H 54.4), o qual foi
eviscerado em virtude de acidente de trabalho.
Todavia, não foi considerado deficiente visual
para fins de isenção do ICMS e IPVA, porque
possui acuidade visual normal no olho esquerdo.
- O Superior Tribunal de Justiça possui
orientação consolidada, relativamente à
participação de portador de visão monocular
nas vagas reservadas aos deficientes em
concursos públicos, no sentido de que o critério
extraído da redação original do art. 4º, inciso III,
do Decreto nº 3.298/1999, dirige-se apenas aos
deficientes que possuem visão binocular, por
menor que seja, não disciplinando os casos de
visão monocular, deficiência que impede a
comparação entre os dois olhos para saber-se
qual deles é o “melhor”. Orientação cristalizada
na Súmula 377 do STJ (“O portador de visão
monocular tem direito de concorrer, em
concurso público, às vagas reservadas aos
deficientes”).
- Ratio decidendi que se aplica à hipótese dos
autos, não obstante a norma de isenção mereça
interpretação literal, conforme dispõe o CTN
(art. 111). Impossibilidade de restringir o tipo de
deficiência, desconsiderando a flagrante
inaplicabilidade do critério do art. 4º, inciso III,
do Decreto nº 3.298/1999 aos portadores de
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MB
Nº 70073229130 (Nº CNJ: 0087028-06.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

visão univalente, deficiência comprometedora


das noções de profundidade e distância que
“implica limitação superior à deficiência parcial
que afete os dois olhos” (RMS n. 26.071-DF, 1ª
Turma, Rel. Min. Carlos Britto, DJU de 1º.2.2008).
Precedentes do STJ no sentido de que a visão
monocular enquadra-se no gênero patológico
“cegueira” para fins de isenção do IRPF.
- Solução que vai ao encontro da Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
internalizado com status de Emenda
Constitucional, e que implica a adoção de
medidas tendentes a promover os direitos das
pessoas com deficiência, inclusive no que diz
respeito ao acesso ao transporte.
APELO PROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Nº 70073229130 (Nº CNJ: 0087028- COMARCA DE TEUTÔNIA


06.2017.8.21.7000)

MOACIR WENNEKER APELANTE

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima


Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade,
em dar provimento ao apelo.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além da signatária, os


eminentes Senhores DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE)
E DES. MIGUEL ÂNGELO DA SILVA.

Porto Alegre, 11 de maio de 2017.


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DES.ª MARILENE BONZANINI,


Relatora.

R E L AT Ó R I O

DES.ª MARILENE BONZANINI (RELATORA)

Trata-se de recurso de apelação interposto por MOACIR


WENNEKER em face da sentença que, nos autos da ação ordinária
ajuizada contra o ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, julgou improcedente
o pedido de repetição do ICMS e IPVA pagos quando da aquisição de
veículo.

Nas razões, alegou que a condição de deficiência oriunda da


capacidade de visão em apenas um dos olhos (visão monocular) já foi
reconhecida pela jurisprudência do STJ, que inclusive sumulou o
entendimento de que “o portador de visão monocular tem direito de
concorrer, em concurso público, às vagas reservadas aos deficientes”.
Disse que, no julgamento do recurso que deu ensejo ao referido
enunciado, restou assentado que o art. 4º, III, do Decreto 3.298 /99, que
define as hipóteses de deficiência visual, deve ser interpretado em
consonância com o art. 3º do mesmo diploma legal, de modo a não
excluir os portadores de visão monocular da disputa às vagas destinadas
aos portadores de deficiência física. Destacou precedente do STF no
sentido de que a visão univalente – comprometedora das noções de
profundidade e distância – implica limitação superior à deficiência parcial
que afete os dois olhos. Nesses termos, postulou a reforma da sentença.

Contrarrazões às fls. 140/151.

O Ministério Público opinou pelo desprovimento do apelo (fls.


153/154).

Após, vieram os autos conclusos para julgamento.


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É o relatório.

VOTOS

DES.ª MARILENE BONZANINI (RELATORA)

Eminentes Colegas.

O apelante pretende o reconhecimento do direito à isenção


do IPVA e ICMS, com a consequente repetição do indébito, pelo fato de
apresentar deficiência visual. Com a inicial, juntou laudo de avaliação da
Secretaria da Receita Federal do Brasil, preenchidos por médicos
oftalmologistas do Instituto de Oftalmologia de Bento Gonçalves, os quais
atestaram que o autor possui visão monocular (CID-10 - H 54.4) e “faz
uso de prótese ocular no olho direito em consequência do seu acidente
de trabalho ocorrido em 16/05/2003” (fls. 33/34).

O Estado, em resposta à inicial, advogou no sentido de que o


autor não demonstrou o preenchimento dos requisitos impostos pelo art.
9º do RICMS, nomeadamente aquele atinente à “acuidade visual igual ou
menos que 20/200 (tabela de Snellen), após melhor correção, ou campo
visual inferior a 20º, ou ocorrência simultânea de ambas as situações”,
consoante Nota 03, letra “b”, do referido artigo, a qual repete, ipsis
litteris, a cláusula segunda, inciso II, do Convênio CONFAZ nº 38/2012 (fls.
54/57). Em relação ao IPVA, sustentou que a isenção condiciona-se à
demonstração de que o veículo tenha sido especificamente adaptado
para utilização pelo deficiente físico, nos termos do art. 4º, VI, da Lei
Estadual nº 8.115/85.

No curso da instrução, sobreveio o Laudo Médico de lavra do


Dr. Alberto Naiditch, oftalmologista e perito clínico do Departamento
Médico Judiciário deste Tribunal, que assim concluiu:

“O autor exibe graves lesões no seu globo


ocular direito, que foi eviscerado e cuja função
visual é nula. A condição está consolidada e a
perda funcional é irreversível. O seu olho

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esquerdo não apresente lesões e tem função


visual normal.
Trata-se, portanto, de pessoa portadora de
visão monocular esquerda, com acuidade visual
normal. Não há invalidez total. Observa-se uma
redução de capacidade funcional da ordem de
30% (trinta por cento) em relação à visão
binocular normal. O autor é pessoa capaz e
apta, do ponto de vista oftalmológico, para a
realização de atividades laborativas
compatíveis com a sua condição, ou seja, que
não exijam visão binocular”. (fls. 99/100).

Pois bem.

A matéria relativa à isenção do IPVA vem regulada no art. 4º,


inciso VI, da Lei nº 8.115/85, atualmente com a seguinte redação:

Art. 4º São isentos do imposto:


(...)
VI - os portadores de deficiência física, visual,
mental severa ou profunda, ou autistas,
proprietários de veículo automotor de uso
terrestre, obedecidas as condições previstas no
Regulamento do Imposto sobre a Propriedade
de Veículos Automotores e nas instruções
baixadas pela Receita Estadual;
(...)
§ 8º Para os efeitos do inciso VI, é considerada
pessoa portadora de:
a) deficiência física, aquela que apresenta
alteração completa ou parcial de um ou mais
segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia,
paraparesia, monoplegia, monoparesia,
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, amputação ou
ausência de membro, paralisia cerebral,
membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções;

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b) deficiência visual, aquela apresentada


acuidade visual igual ou menor que 20/200
(tabela de Snellen) no melhor olho, após a
melhor correção, ou campo visual inferior
a 20º, ou ocorrência simultânea de ambas
as situações;
c) deficiência mental severa ou profunda,
aquela que apresenta o funcionamento
intelectual significativamente inferior à média,
com manifestação anterior aos dezoito anos e
limitações associadas a duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas; e
(...)

O Regulamento do IPVA, Decreto nº 32.144/85, por sua vez,


em seu artigo 4º, VI, assim dispõe:

Art. 4º São isentos do imposto:


VI - os portadores de deficiência física, visual,
mental, severa ou profunda, ou autistas,
proprietários de veículo automotor de uso
terrestre, obedecidas as instruções baixadas
pela Receita Estadual;

Por outro lado, a isenção em relação ao ICMS está


disciplinada no art. 55, inciso I, “c”, da Lei Estadual nº 8.820/89, que
assim dispõe:

Art. 55 - Estão isentas, nos termos e condições


discriminados neste artigo: (Redação dada pela
Lei n.º 12.421/05)
I - as saídas de: (Redação dada pela Lei n.º
12.421/05):
(...)
c) os veículos automotores, de uso terrestre e
de fabricação nacional ou estrangeira,
adaptados às necessidades de seus
adquirentes, em razão de deficiência física ou
paraplegia, desde que respeitadas as condições
previstas em regulamento; (Redação dada pela
Lei n.º 12.741/07);

O Regulamento do ICMS, Decreto 37.699/97, na mesma


toada, dispõe, em seu art. 9º, XL, o seguinte:
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Art. 9º - São isentas do imposto as seguintes


operações com mercadorias:
(...)
XL - saídas, no período de 1º de janeiro de 2013
a 31 de maio de 2015, de veículo automotor
novo quando adquirido por pessoas portadoras
de deficiência física, visual, mental severa ou
profunda, ou autistas, diretamente ou por
intermédio de seu representante legal;
(...)
NOTA 03 - Para os efeitos deste inciso é
considerada pessoa portadora de: (Redação
dada pelo art. 1º (Alteração 3846) do Decreto
50.000, de 28/12/12. (DOE 31/12/12) - Efeitos a
partir de 01/01/13.)
a) deficiência física, aquela que apresenta
alteração completa ou parcial de um ou mais
segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia,
paraparesia, monoplegia, monoparesia,
tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação
ou ausência de membro, paralisia cerebral,
membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e
as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções; (Redação dada pelo
art. 1º (Alteração 4352) do Decreto 51.814, de
12/09/14. (DOE 15/09/14) - Efeitos a partir de
05/09/14 - Conv. ICMS 78/14.)
b) deficiência visual, aquela que apresenta
acuidade visual igual ou menor que 20/200
(tabela de Snellen) no melhor olho, após a
melhor correção, ou campo visual inferior
a 20º, ou ocorrência simultânea de ambas
as situações; (Redação dada pelo art. 1º
(Alteração 3846) do Decreto 50.000, de
28/12/12. (DOE 31/12/12) - Efeitos a partir de
01/01/13.)
c) deficiência mental severa ou profunda,
aquela que apresenta o funcionamento
intelectual significativamente inferior à média,
com manifestação anterior aos dezoito anos e
limitações associadas a duas ou mais áreas de
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habilidades adaptativas; (Redação dada pelo


art. 1º (Alteração 3846) do Decreto 50.000, de
28/12/12. (DOE 31/12/12) - Efeitos a partir de
01/01/13.)

Como se pode verificar da legislação acima referida,


atualmente não há mais a exigência da adaptabilidade do veículo
às necessidades de seus adquirentes, pois passou a estender a
isenção também para as hipóteses de deficiência mental e outras, não
mais restringindo aos casos de deficiência física.

As alterações legislativas foram ao encontro da Convenção


Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu
Protocolo Facultativo, assinados pelo Brasil, em Nova Iorque, em
30.3.2007, e internalizados por meio do Decreto Legislativo nº 186, de
2008, o qual adquiriu status de Emenda Constitucional, pois foi votado
com o quórum preconizado no §3º do art. 5º da Constituição Federal.
Nesse toar, o referido diploma dispõe, em seus artigos 4º, 5º e 9º:

Artigo 4
Obrigações gerais
1. Os Estados Partes se comprometem a
assegurar e promover o pleno exercício de
todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com
deficiência, sem qualquer tipo de discriminação
por causa de sua deficiência. Para tanto, os
Estados Partes se comprometem a:
a) Adotar todas as medidas legislativas,
administrativas e de qualquer outra natureza,
necessárias para a realização dos direitos
reconhecidos na presente Convenção;
b) Adotar todas as medidas necessárias,
inclusive legislativas, para modificar ou revogar
leis, regulamentos, costumes e práticas
vigentes, que constituírem discriminação contra
pessoas com deficiência;
c) Levar em conta, em todos os programas e
políticas, a proteção e a promoção dos direitos
humanos das pessoas com deficiência;

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d) Abster-se de participar em qualquer ato ou


prática incompatível com a presente Convenção
e assegurar que as autoridades públicas e
instituições atuem em conformidade com a
presente Convenção;
e) Tomar todas as medidas apropriadas para
eliminar a discriminação baseada em
deficiência, por parte de qualquer pessoa,
organização ou empresa privada;
(...)

Artigo 5
Igualdade e não-discriminação
1. Os Estados Partes reconhecem que todas as
pessoas são iguais perante e sob a lei e que
fazem jus, sem qualquer discriminação, a igual
proteção e igual benefício da lei.
2. Os Estados Partes proibirão qualquer
discriminação baseada na deficiência e
garantirão às pessoas com deficiência igual e
efetiva proteção legal contra a discriminação
por qualquer motivo.
3. A fim de promover a igualdade e eliminar a
discriminação, os Estados Partes adotarão todas
as medidas apropriadas para garantir que a
adaptação razoável seja oferecida.
4. Nos termos da presente Convenção, as
medidas específicas que forem necessárias
para acelerar ou alcançar a efetiva igualdade
das pessoas com deficiência não serão
consideradas discriminatórias.

Artigo 9
Acessibilidade
1.A fim de possibilitar às pessoas com
deficiência viver de forma independente e
participar plenamente de todos os aspectos da
vida, os Estados Partes tomarão as medidas
apropriadas para assegurar às pessoas com
deficiência o acesso, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, ao meio
físico, ao transporte, à informação e
comunicação, inclusive aos sistemas e

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tecnologias da informação e comunicação, bem


como a outros serviços e instalações abertos ao
público ou de uso público, tanto na zona urbana
como na rural. Essas medidas, que incluirão a
identificação e a eliminação de obstáculos e
barreiras à acessibilidade, serão aplicadas,
entre outros, a:
a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e
outras instalações internas e externas, inclusive
escolas, residências, instalações médicas e local
de trabalho;
(...).

Como bem se pode verificar, existe a obrigação, com status


constitucional, de que o Poder Público tome medidas tendentes a
promover os direitos das pessoas com deficiência, inclusive no que diz
respeito às apropriadas para assegurar o acesso ao transporte.

Portanto, a exigência de veículo adaptado foi suprida da


atual legislação estadual, motivo pelo qual não se faz mais necessária a
distinção que outrora se fazia em relação à adaptabilidade do veículo.
Atualmente, o que é relevante é a deficiência, podendo ela ser física,
visual ou mental.

Por outro lado, subsiste, em ambos os regramentos, o


conceito legal, extraído do art. 4º, inciso III, do Decreto nº 3.298/1999, na
redação original, de deficiência visual enquanto “acuidade visual igual ou
menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo
visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de
ambas as situações”.

Assim, pela literalidade da regra, o apelante - que possui,


segundo os laudos periciais juntados aos autos, acuidade visual normal
no olho esquerdo - não se enquadraria no conceito de “deficiente visual”
para fins de isenção de isenção do ICMS e IPVA.

Vale dizer, o recorrente possui função visual nula no globo


ocular direito, o qual foi eviscerado em virtude de acidente de trabalho.

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Todavia, não é considerado deficiente visual para fins de isenção


tributária, porque a visão do olho esquerdo é normal.

Ocorre que o Superior Tribunal de Justiça possui orientação


consolidada, relativamente à participação de portador de visão
monocular nas vagas reservadas aos deficientes em concursos públicos,
no sentido de que “a literalidade da norma transcrita pressupõe a
existência de visão binocular, pelo que, ao portador de visão
monocular, com maior razão, devem ser estendidos os benefícios
inerentes à Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência, incluidamente o de concorrer, em concurso público, a vaga
reservada aos deficientes.”

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL. CONCURSO PÚBLICO. VISÃO


MONOCULAR. DEFICIENTE. CEGUEIRA DE UM
OLHO. USO DE PRÓTESE. NÍVEL DE DEFICIÊNCIA
MÁXIMO. CONCLUSÃO LÓGICA.
1. No edital do referido certame exige-se que
"para concorrer às vagas destinadas aos
candidatos portadores de deficiência, o
candidato deverá, no ato de inscrição, declarar-
se portador de deficiência e entregar à
Fundação Universa laudo médico, original ou
cópia autenticada, emitido nos últimos 12
(doze) meses, contados a partir do último dia
de inscrição, atestando o nome da doença, a
espécie e o grau ou nível de deficiência, com
expressa referência ao código correspondente
da Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(CID), bem como a provável causa da
deficiência" (item 4.4 do edital - fls. 18).
2. Constata-se que o laudo apresentado à
Comissão do Concurso não fez expressa
referência ao grau ou nível da deficiência
portada pelo autor, tal como exigido pelo edital
do concurso, porém, afirmou literalmente que o
candidato faz uso de prótese ocular.
3. Pela Classificação Internacional de
Doenças (CID H 54.4), o médico afirmou
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que o paciente, ora candidato, possui


cegueira de um olho, fazendo uso de
prótese ocular, ou seja, o nível de
deficiência é o máximo, uma vez que
possui cegueira total do olho direito. Dessa
forma, não é razoável impedir que o candidato
tenha acesso às vagas portadores de
deficiência, se não há dúvida, pelo laudo
apresentado, que o agravado é totalmente cego
de um olho, sendo prescindível no presente
caso a indicação expressa do grau de cegueira,
uma vez que é conclusão lógica a que se chaga
pela leitura do laudo.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AgRg no RMS 39.905/AP, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA
TURMA, julgado em 28/05/2013, DJe 04/06/2013
- grifei)

"[...] A visão monocular constitui motivo


suficiente para reconhecer ao recorrente o
direito às vagas destinadas aos
portadores de deficiência física.
Precedentes deste e. Tribunal, bem como do
Pretório Excelso."
(AgRg no RMS 26105 PE, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
30/05/2008, DJe 30/06/2008)

"O Tribunal de origem negou a ordem


baseando-se no laudo emitido pela Junta Médica
Oficial que não considerou a Impetrante
deficiente nos termos do Decreto n.º 3.298/99,
que dispõe sobre a Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência.
[...] Da exegese do art. 4º do Decreto n.º
3.298/99 conclui-se que tal norma dirige-se aos
deficientes que possuem visão nos dois olhos,
por menor que seja, não disciplinando,
portanto, os casos de visão monocular, como a
hipótese dos autos. [...] Vê-se que a visão
monocular não está elencada no inciso III do
art. 4º do Decreto n.º 3.298/99, no entanto, vale
citar a conceituação de deficiência conferida
pelo seu art. 3º: 'Art. 3º - Para os efeitos deste
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Decreto, considera-se: I - deficiência – toda


perda ou anormalidade de uma estrutura ou
função psicológica, fisiológica ou anatômica que
gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal
para o ser humano; II - deficiência permanente -
aquela que ocorreu ou se estabilizou durante
um período de tempo suficiente para não
permitir recuperação ou ter probabilidade de
que se altere, apesar de novos tratamentos.'
Assim sendo, entendo que uma pessoa que
tem acuidade visual zero em um dos olhos,
ou seja, ausência total de visão, e no outro
tem acuidade visual de 20/20, enquadra-se
no conceito de deficiência que o benefício
da reserva de vagas tenta compensar."
(RMS 22489 DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
QUINTA TURMA, julgado em 28/11/2006, DJ
18/12/2006, p. 414)

Após refletir sobre o tema, convenci-me de que a ratio


decidendi dessa orientação, atualmente cristalizada na Súmula 377 do
STJ (“O portador de visão monocular tem direito de concorrer, em
concurso público, às vagas reservadas aos deficientes”), aplica-se à
hipótese dos autos.

Isso porque a tese fixada nos precedentes acima transcritos


decorre, como visto, da premissa de que o critério extraído do art. 4º,
inciso III, do Decreto nº 3.298/1999, na redação original, de deficiência
visual enquanto “acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor
olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de
Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações”, dirige-se
apenas aos deficientes que possuem visão binocular, por menor
que seja, não disciplinando os casos de visão monocular, deficiência que
impede a comparação entre os dois olhos para saber-se qual deles é o
“melhor”.

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O STJ possui, ainda, orientação consolidada no sentido de


que a visão monocular enquadra-se no gênero patológico “cegueira” para
fins de isenção do IRPF, verbis:

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO


ESPECIAL. OMISSÃO. VIOLAÇÃO AO ART. 535
DO CPC. INOCORRÊNCIA. IRPF. ISENÇÃO. ART.
6º, XIV, DA LEI 7.713/1988. PROVENTOS DE
APOSENTADORIA OU REFORMA. CEGUEIRA.
DEFINIÇÃO MÉDICA. PATOLOGIA QUE ABRANGE
TANTO A BINOCULAR QUANTO A MONOCULAR.
I - A Corte de origem apreciou todas as
questões relevantes apresentadas com
fundamentos suficientes, mediante apreciação
da disciplina normativa e cotejo ao
posicionamento jurisprudencial aplicável à
hipótese. Inexistência de omissão, contradição
ou obscuridade.
II - O art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/88 não faz
distinção entre cegueira binocular e
monocular para efeito de isenção do
Imposto sobre a Renda, inferindo-se que
a literalidade da norma leva à
interpretação de que a isenção
abrange o gênero patológico "cegueira",
não importando se atinge o
comprometimento da visão nos dois olhos
ou apenas em um.
III - Recurso especial improvido.
(REsp 1553931/PR, Rel. Ministra REGINA
HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em
15/12/2015, DJe 02/02/2016 - grifei)

TRIBUTÁRIO. IRPF. ISENÇÃO. ART. 6º, XIV, DA LEI


7.713/1988. INTERPRETAÇÃO LITERAL.
CEGUEIRA. DEFINIÇÃO MÉDICA. PATOLOGIA QUE
ABRANGE TANTO O COMPROMETIMENTO DA
VISÃO BINOCULAR QUANTO MONOCULAR.
CONCLUSÕES MÉDICAS. SÚMULA 7/STJ.
1. O cerne do debate refere-se à isenção de
imposto de renda sobre proventos de
aposentadoria a pessoa portadora de cegueira.

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2. O Tribunal de origem, com espeque no


contexto-fático, concluiu pela existência da
patologia isentiva. Incidência da Súmula 7/STJ.
3. Da análise literal do dispositivo em tela, art.
6º, XIV, Lei n. 7.713/88, não há distinção sobre
as diversas espécies de cegueira, para fins de
isenção. 4. Afasta-se por fim a alegada violação
do art. 111 do CTN, porquanto não há
interpretação extensiva da lei isentiva, já que "a
literalidade da norma leva à interpretação de
que a isenção abrange o gênero patológico
"cegueira", não importando se atinge a visão
binocular ou monocular."
(REsp 1196500/MT, Rel. Min. Herman Benjamin,
Segunda Turma, julgado em 02/12/2010, DJe
04/02/2011.) Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 121.972/DF, Rel. Min.
HUMBERTO MARTINS, Segunda Turma, DJe
2/5/12)

Nesse contexto, ainda que a norma de isenção mereça


interpretação literal, conforme dispõe o CTN (art. 111), não é possível
restringir o tipo de deficiência, desconsiderando a flagrante
inaplicabilidade do critério do art. 4º, inciso III, do Decreto nº 3.298/1999
aos portadores de visão univalente, deficiência comprometedora das
noções de profundidade e distância que “implica limitação superior à
deficiência parcial que afete os dois olhos” (RMS n. 26.071-DF, 1ª Turma,
Rel. Min. Carlos Britto, DJU de 1º.2.2008).

Tal solução vai ao encontro da Convenção Internacional


sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo,
internalizado com status de Emenda à Constituição, e que implica na
adoção de medidas tendentes a promover os direitos das pessoas com
deficiência, inclusive no que diz respeito ao acesso ao transporte.

Ante o exposto, dou provimento ao apelo, a fim de julgar


procedentes os pedidos deduzidos na inicial para (i) declarar o direito do
autor, portador de visão monocular, à isenção do IPVA e do ICMS
incidente sobre a aquisição de veículo automotor novo; e (ii) condenar o
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Estado à repetição do indébito tributário, a contar da data do pedido


administrativo, valor que deverá ser apurado em liquidação de sentença,
observada a incidência da Taxa SELIC, tendo em vista ser esse o índice
utilizado pelo Estado, conforme art. 69, §1º, da Lei 6.537/73, com redação
dada pela Redação dada pela Lei nº 13.379, de 19.01.2010, para
atualização de seus créditos tributários.

O Estado fica isento das custas, devendo arcar com os


honorários em favor da parte autora, em percentual a ser fixado quando
da liquidação do julgado, nos termos do art. 85, §4º, II, do CPC/15 1.

É o voto.

DES. MIGUEL ÂNGELO DA SILVA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH (PRESIDENTE) - De acordo com o(a)


Relator(a).

DES. FRANCISCO JOSÉ MOESCH - Presidente - Apelação Cível nº


70073229130, Comarca de Teutônia: "DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: ANGELA LUCIAN

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1
Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor. (...)
§ 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios
estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais:
(...)
§ 4o Em qualquer das hipóteses do § 3o:
(...)
II - não sendo líquida a sentença, a definição do percentual, nos termos previstos nos incisos I a V, somente
ocorrerá quando liquidado o julgado;

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