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7)1
INTRODUÇÃO:
A misericórdia de Deus é um de Seus atributos mais evidentes em Sua relação
conosco, homens pecadores. “Os homens se acham num deplorável estado a
menos que Deus os trate misericordiosamente, não debitando seus pecados
3
em sua conta”.
Deus propõe aos Seus filhos, ainda que em sua finitude, uma semelhança com
Ele; daí o desafio de conhecer a Deus para a partir daí termos uma dimensão mais
clara do que Ele deseja que sejamos. A vida cristã não é um manual de atitudes de-
sejáveis, antes consiste em aprender a viver conforme a nossa nova natureza, gera-
4 5
da pelo Espírito (Tt 3.5); somos novas criaturas (2Co 5.17): “O Evangelho cristão
põe toda a sua ênfase sobre a questão do ser, e não sobre a questão do fa-
6
zer”.
No texto que vamos estudar Jesus Cristo diz ser bem-aventurado aquele que e-
7
xerce misericórdia (Mt 5.7). Em outro momento, ensina: “Sede misericordiosos
8
(oi)kti/rmwn), como também é misericordioso (oi)kti/rmwn) vosso Pai” (Lc 6.36).
1
Estudo ministrado na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana em São Bernardo do Campo, SP., no
dia 16 de maio de 2010.
2
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 1, (Sl 6.4), p. 128-129.
3
João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, Vol. 2, (Sl 32.1), p. 39. “A benevo-
lência divina se estende a todos os homens. E se não há um sequer sem a experiência de
participar da benevolência divina, quanto mais aquela benevolência que os piedosos expe-
rimentarão e que esperam nela!” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm
4.10), p. 120-121).
4
“.... segundo sua misericórdia (e)/leoj), ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo” (Tt 3.5).
5
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fize-
ram novas” (2Co 5.17).
6
David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 88.
7
“Bem-aventurados os misericordiosos (e)leh/mwn), porque alcançarão misericórdia (e)lee/w)” (Mt
5.7).
8
O verbo tem o sentido de ser compassivo, ter piedade ou misericórdia.
A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 2/14
1. A MISERICÓRDIA PACTUAL:
O Antigo Testamento emprega duas palavras que mais especificamente se adé-
quam aos conceitos de “graça” e “misericórdia expressos no Novo Testamento. As
palavras são: desex (hesedh) e }"x (hen). Nos ateremos aqui à primeira palavra.
9
Hesedh cuja etimologia é obscura, pode ser traduzida por “bondade”, “graça”,
“benevolência”, “benignidade”, “clemência”, “beneficência”, “humanidade” (ARA. 2Sm
2.5), “fidelidade” (ARA. 2Sm 16.17) e “misericórdia”. Ocorre cerca de 250 vezes no
Antigo Testamento, principalmente nos Salmos (127 vezes).
Hesedh pode ser empregada acerca de Deus e acerca do homem. Quando a pa-
lavra se refere ao homem, reflete o seu amor para com o seu próximo e para com
Deus; quando a palavra é aplicada a Deus, denota a Sua graça, envolvendo dois e-
lementos importantes:
9
H.J. Stoebe, desex: In: Ernst Jenni & Claus Westermann, eds. Diccionario Teologico Manual del Anti-
guo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, Vol. I, p. 832.
10
Veja-se: W. Zimmerli, et. al. X/arij: In: G. Friedrich & G. Kittel, eds. Theological Dictionary of the
New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1982, Vol. IX, p. 383ss.; Walther Eichrodt, Teo-
logia del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1975, Vol. I, p. 213ss.
11
Van Groningen, comentando o Salmo 111.1, chama a expressão de “fidelidade pactual”; no
Salmo 118.1, designa de “amor pactual” (Gerard Van Groningen, Revelação Messiânica no Velho
Testamento, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1995, p. 351, 363). Packer, a traduz por “Amor
constante” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 88); Eichrodt,
chama de “amor solícito” (Walther Eichrodt, Teologia del Antiguo Testamento, Vol. I, p. 213). Harris
seguindo a versão King James, crê que uma boa tradução é “bondade amorosa” (R. Laird Harris,
hsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São
Paulo: Vida Nova, 1998, p. 503).
12
R. Laird Harris, ihsd: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo
Testamento, p. 501.
13
H.H. Esser, Misericórdia: In: : Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do
Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, Vol. III, p. 177.
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ricórdia de acordo com o Pacto (1Rs 8.23 [2Cr 6.14]; Ne 1.5; 9.32; Is 55.3; Dn 9.4).
O Hesedh de Deus não é barato; Deus não age movido por um sentimento
incontrolável e incoerente; antes, Deus encontra um justo caminho para estabelecer
uma relação sólida com o homem pecador. O fundamento desta nova relação é o
próprio Cristo.
14 22
“ Pôs-se Salomão diante do altar do SENHOR, na presença de toda a congregação de Israel; e
23
estendeu as mãos para os céus e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, em
cima nos céus nem embaixo na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia (( )חסדhesedh)
a teus servos que de todo o coração andam diante de ti” (1Rs 8.22-23).
15 6
“ Porque tu és povo santo ao SENHOR, teu Deus; o SENHOR, teu Deus, te escolheu, para que lhe
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fosses o seu povo próprio, de todos os povos que há sobre a terra. Não vos teve o SENHOR afei-
ção, nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que qualquer povo, pois éreis o menor de
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todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava e, para guardar o juramento que fizera a vos-
sos pais, o SENHOR vos tirou com mão poderosa e vos resgatou da casa da servidão, do poder de
9
Faraó, rei do Egito. Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel, que guarda a ali-
ança e a misericórdia (( )חסדhesedh) até mil gerações aos que o amam e cumprem os seus manda-
10
mentos; e dá o pago diretamente aos que o odeiam, fazendo-os perecer; não será demorado para
11
com o que o odeia; prontamente, lho retribuirá. Guarda, pois, os mandamentos, e os estatutos, e os
juízos que hoje te mando cumprir” (Dt 7.6-11).
16
John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 120.
17
William Hendriksen, Mateus, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, Vol. 1, p. 385.
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Não há misericórdia sem amor”.
Deus não quebra a Sua justiça por amor; antes, cumpre a justiça em amor; a gra-
19
ça reina pela justiça (Rm 5.21). "De fato a graça reina, mas uma graça rei-
nante à parte da justiça não é apenas inverossímil, mas também inconcebí-
20
vel".
Deste modo, somente Jesus Cristo – o Deus encarnando –, por meio da Sua jus-
tiça obtida na Sua encarnação, morte e ressurreição, poderia satisfazer as exigên-
cias de Deus para a nossa salvação. Paulo escreve: “Sendo justificados gratuita-
mente, por sua graça, mediante a redenção (a)polu/trwsij) que há em Cristo Je-
sus” (Rm 3.24). Portanto, “Quando Deus justifica pecadores à base da obe-
diência e da morte de Cristo, está agindo com toda equidade. Dessa manei-
ra, longe de comprometer Sua retidão judicial, esse método de justificação
21
em realidade a exibe”.
18
John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, p. 122.
19
“A fim de que, como o pecado reinou pela morte, assim também reinasse a graça pela justiça para
a vida eterna, mediante Jesus Cristo, nosso Senhor” (Rm 5.21).
20
John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.
“Deus se paga a Si mesmo por Sua misericórdia manifestada em Seu Filho, nosso Salvador
Jesus Cristo, que uma vez por todas se ofereceu ao Pai para ser Ele próprio a satisfação que
Lhe deveríamos prestar” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas
para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, Vol. 3, (III.9), p. 129).
21
J.I. Packer, Justificação: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, São Paulo: Junta
Editorial Cristã, 1966, Vol. II, p. 899b.
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justiça se evidenciam de forma eloquente e perfeita. A cruz não fez Deus nos a-
23
mar, antes, o Seu amor por nós a produziu e se revelou ali.
Enquanto para nós as circunstâncias servem de pretexto para os nossos atos pe-
caminosos e os posteriores atenuantes, para Deus tais circunstâncias – sobre as
quais tem total domínio: Ele também é o Senhor das circunstâncias – oportunizam a
manifestação do que Ele é em Sua essência. O pecado não tornou Deus misericor-
dioso, santo ou justo; Ele é eternamente misericordioso, santo e justo. No entanto, o
pecado propiciou a Deus, por sua livre graça, revelar-se desta forma para conosco.
22
“A cruz e a coroa revelam não apenas as virtudes do Filho, mas também do Pai. Todos os
atributos divinos alcançam plena expressão aqui. Dentre todas elas, uma sobressai: a justiça
do Pai. Se Ele não tivesse sido justo, certamente não teria entregue Seu Filho Unigênito. E
também, se não fosse justo, Ele não teria recompensado o Filho por Seu sofrimento. Mais, por
meio dos louvores da multidão salva, o Pai (bem como o Filho) é glorificado” [William Hen-
driksen, O Evangelho de João, São Paulo: Cultura Cristã, 2004 (Jo 17.1), p. 754].
23
Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Sele-
cionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, Vol. 1), p. 426.
24
David Martyn Lloyd-Jones, Uma Nação sob a Ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2ª ed. Rio de Ja-
neiro: Textus, 2004, p. 222.
25
Ver: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p.
19.
26
D. M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,
1997, p. 97. “A santidade e a retidão do Seu ser eterno e do Seu caráter significam que Ele
não pode ignorar o pecado. O pecado é uma realidade, um problema (...) até para Deus. É
uma coisa que Ele vê e da qual tem que tratar, e assim manifesta a glória do Seu ser em Sua
santidade e justiça” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evan-
gélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: Vol. 1), p. 51).
27
Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48.
A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 6/14
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Deus é o “Pai de misericórdias” (2Co 1.3). As Escrituras declaram que Deus é
benigno e misericordioso para com todos; até para com os ingratos e maus, aos
quais Deus manifesta a Sua bondade por meio da concessão de bênçãos temporais
(Lc 6.35,36).
A fonte de toda misericórdia está em Deus. Por isso Paulo pode saudar a Timóteo
deste modo: “.... verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia (e)/leoj = “compaixão”) e
29
paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (1Tm 1.2). Do mesmo
modo João: “A graça, a misericórdia (e)/leoj) e a paz, da parte de Deus Pai e de Je-
sus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor” (2Jo 3).
28
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) e
Deus de toda consolação!” (2Co 1.3).
29
Igualmente: “Ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia (e)/leoj) e paz, da parte de Deus Pai e de
Cristo Jesus, nosso Senhor” (2Tm 1.2).
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“Mas Deus, sendo rico em misericórdia (e)/leoj), por causa do grande amor com que nos amou” (Ef
2.4).
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a) A Bondade do Senhor está espalhada por toda Terra: “Ele ama a justiça e o di-
reito; a terra está cheia da bondade (( )חסדhesed) do SENHOR” (Sl 33.5). (Do mesmo
modo: Sl 119.64).
c) Davi pede a Deus que o livre, o salve pela sua misericórdia: “.... salva-me por
tua graça (( )חסדhesed)” (Sl 6.4). (Do mesmo modo: Sl 31.16).
h) Deus nos guarda e protege com a Sua misericórdia. Davi escreve: “Muito so-
frimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no SENHOR, a misericórdia ()חסד
(hesed) o assistirá (( )סבבsabab)” (Sl 32.10). A palavra assistir, que tem um amplo
sentido literal e figurado, significa envolver, cercar, contornar. Apenas para ilustrar,
mencionamos que esta é a palavra usada para descrever as voltas que o exército de
Israel deu sobre Jericó durante sete dias (Js 6.3,4,7,11,14,15). A idéia expressa é a
de que Deus nos cerca, nos envolve por todos os lados com a Sua misericórdia.
A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 8/14
Por isso em nossa proximidade de Cristo mais temos noção de Sua misericórdia:
“Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de rece-
bermos misericórdia (e)/leoj) e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna”
(Hb 4.16).
Como vimos, a misericórdia de Deus nunca anula a Sua justiça. A nossa justiça
pode ser motivada por questões muitas vezes nobres, no entanto, circunscritas à
nossa própria situação limitada de conhecimento da realidade. Portanto, devemos
aprender a subordinar o nosso ardor de justiça à justiça de Deus, a qual é sempre
santa e perfeita. Deus é soberano na manifestação de Sua misericórdia: “14Que di-
remos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! 15 Pois ele diz a
Moisés: Terei misericórdia de (e)lee/w = “mostrar misericórdia”, “compadecer-se”)
quem me aprouver ter misericórdia (e)lee/w) e compadecer-me-ei (oi)kti/zw) de quem
me aprouver ter compaixão (oi)kti/zw). 16 Assim, pois, não depende de quem quer
31
ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia (e)lee/w ou e)lea/w). (...)
18
Logo, tem ele misericórdia de (e)lee/w) quem quer e também endurece a quem lhe
apraz” (Rm 9.14-16,18).
31
Há aqui uma variante textual.
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Na Epístola aos Coríntios, Paulo bendiz a Deus considerando o fato de que é Ele
quem nos conforta em toda a nossa tribulação, fazendo o que Lhe é próprio, visto
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que é o “Pai de misericórdias”: “Bendito seja (Eu)loghto\j) o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias (oi)ktimo/j) e Deus de toda consolação!”
(2Co 1.3).
32
A palavra bendito, (Eu)loghto\j = “louvado”, “bem-aventurado”) (Hebraico: Baruk; Latim: Benedic-
tus) ocorre 8 vezes no Novo Testamento e é sempre usada para Deus (Mc 14.61; Lc 1.68; Rm 1.25;
9.5; 2Co 1.3; 11.31; Ef 1.3; 1Pe 1.3). Somente Deus é Bendito, Aquele que deve ser louvado.
33
O verbo rogar (parakale/w) tem o sentido de: implorar (Mt 8.5; 18.29), suplicar (Mt 18.32); exor-
tar (Lc 3.18; At 2.40; 11.23); conciliar (Lc 15.28); consolar (Lc 16.25; 15.32; 1Ts 5.11; 2Ts 2.17); con-
fortar (At 16.40; 2Co 1.4; 7.6); contemplar (2Co 1.4); convidar (At 8.31); pedir (At 9.38; 1Co 4.13;
16.15); pedir desculpas (At 16.39); fortalecer (At 20.2,12); solicitar (At 25.2; Fm 9,10); chamar (At
28.20); admoestar (1Co 4.16; Hb 10.25); recomendar (1Co 16.12; 2Co 8.6; 9.5; 1Tm 6.2).
34
Assim ele o faz pelas misericórdias de Deus (Rm 12.1/1Ts 2.12) e pelo Senhor Jesus (Rm 15.30;
1Co 1.10; Fp 4.2). Como cooperador de Deus exorta a que os coríntios não recebam em vão a graça
de Deus (2Co 6.1); roga também pela mansidão e benignidade de Cristo (2Co 10.1).
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Como novas criaturas que somos em Cristo Jesus (Cl 3.10), a misericórdia de-
ve ser um dos ingredientes fundamentais em todas as nossas relações; deve ser a
36
nossa vestimenta: “Revesti-vos (e)ndu/w), pois, como eleitos de Deus, santos e a-
mados, de ternos afetos de misericórdia (oi)ktirmo/j), de bondade, de humildade, de
mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12).
A. Misericórdia e Intercessão:
O Senhor deseja que não apenas sintamos misericórdia, mas que a exercite-
mos para com o nosso próximo; tenhamos atos de misericórdia. É isto o que Ele diz
aos fariseus que se indignaram do Senhor comer com “publicanos e pecadores”: “I-
de, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia (e)/leoj) quero e não holocaustos;
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pois não vim chamar justos, e sim pecadores ao arrependimento” (Mt 9.13).
A prática da misericórdia não pode ser substituída por outros gestos ou atitudes.
Ela não é um ingrediente optativo da vida cristã. É desta forma que Jesus recrimina
e instrui a alguns dos religiosos de seu tempo: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipó-
critas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligencia-
do os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia (e)/leoj) e a fé; de-
víeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mt 23.23).
35
“E vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou” (Cl 3.10).
36
e)ndu/w tem o sentido literal de “vestir-se” (Mt 6.25; 27.31; Mc 1.6; Lc 15.22; At 12.21) e, quase que
exclusivamente em Paulo: a aplicação figurada de “revestir-se”: a) De poder (Lc 24.49); b) Das armas
da luz (Rm 13.12); c) Do Senhor Jesus (Rm 13.14; Gl 3.27); d) Do novo homem (Ef 4.24; Cl 3.10); e)
De toda armadura de Deus (Ef 6.11,14); f) De ternos afetos (Cl 3.12); g) Da couraça da fé e amor
(1Ts 5.8). A palavra descreve também a nossa ressurreição como um revestimento de imortalidade e
incorruptibilidade (1Co 15.53-54).
37
“Falar sobre misericórdia merecida é uma contradição de termos” (A.W. Pink, Deus é So-
berano, Atibaia, SP.: FIEL, 1977, p. 23).
38
Do mesmo modo, veja-se: Mt 12.7.
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Para com aqueles que titubeiam em sua fé devemos usar de misericórdia para
poder ajudá-los em sua fraqueza. Parece-nos ser isto o que recomenda Judas: “E
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compadecei-vos de (e)lee/w ou e)lea/w) alguns que estão na dúvida” (Jd 22/Gl
40
6.1).
Atos de misericórdia devem ser aprendidos com todos. Aos judeus tão confian-
tes de sua superioridade étnica e religiosa, por meio do diálogo com um mestre da
lei que queria tentá-lo (Lc 10.25), Jesus os ensina a procederem conforme o samari-
tano da parábola, fazendo uma pergunta ao seu interlocutor: “Qual destes três te pa-
rece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?” (Lc 10.36).
Obtendo a resposta: “O que usou de misericórdia (e)/leoj) para com ele” (Lc 10.37).
A partir da identificação dos atos de socorro do samaritano para com aquele homem
ferido, como misericórdia, Jesus arremata: “Vai e procede tu de igual modo” (Lc
10.37). Em outras palavras, podemos aprender até mesmo com os samaritanos o
significado da misericórdia.
39
Aqui há uma variante textual.
40
“Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito
de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6.1).
41
“E não tinham filhos, porque Isabel era estéril, sendo eles avançados em dias” (Lc 1.7).
A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 12/14
“Quase ninguém é capaz de dar uma miserável esmola sem uma atitu-
de de arrogância ou desdém. (...) Ao praticar uma caridade, os cristãos
deveriam ter mais do que um rosto sorridente, uma expressão amável,
uma linguagem educada.
“Em primeiro lugar, deveriam se colocar no lugar daquela pessoa que
necessita de ajuda, e simpatizarem-se com ela como se fossem eles mes-
mos que estivessem sofrendo. Seu dever é mostrar uma verdadeira huma-
nidade e misericórdia, oferecendo sua ajuda com espontaneidade e ra-
pidez como se fosse para si mesmos.
“A piedade que surge do coração fará com que se desvaneça a arro-
gância e o orgulho, e nos prevenirá de termos uma atitude de reprovação
42
ou desdém para com o pobre e o necessitado”.
Em nossa beneficência, nada devemos esperar em troca, ainda que esta seja
uma prática comum. Aliás, “quando damos nossas esmolas, nossa mão esquer-
43
da deve ignorar o que a mão direita fez”. Comentando o Salmo 68 enfatiza
que o Deus da glória é também o Deus misericordioso; em seguida observa a atitude
pecaminosa comum aos homens: “Geralmente distribuímos nossas atenções
onde esperamos nos sejam elas retribuídas. Damos preferência a posição e
44
esplendor, e desprezamos ou negligenciamos os pobres”. E quanto à ingrati-
dão tão comum ao gênero humano? Bem, em nossa ajuda aos nossos irmãos não
devemos nos preocupar com isso, visto que “ainda que os homens sejam ingra-
tos, de modo que pareça termos perdido o que lhes damos, devemos perse-
45
verar em fazer o bem”. E mais: “.... não dependemos da gratidão humana,
e, sim, de Deus que Se coloca no lugar do pobre como devedor, para que
46
um dia venha restituir-nos cheio de solicitude, tudo quanto distribuímos....”.
42
João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã, São Paulo: Novo Século, 2000, p. 39.
43
John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996
(Reprinted), Vol. XVIII, (At 5.1), p. 196.
44
João Calvino, O Livro dos Salmos, Vol. 2, (Sl 68.4-6), p. 645.
45
João Calvino, Exposição de 2 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 8.10), p. 173. “É real-
mente verdade que não há nada que fira tanto os que possuem uma disposição mental in-
gênua que quando os perversos e ímpios os recompensam de forma um tanto desonrosa e
injusta. Mas quando ponderam sobre esta consoladora consideração, de que Deus não é
menos ofendido com tal ingratidão do que aqueles a quem se faz a injúria, eles não têm
nenhuma justificativa de se magoarem com tanto excesso” (João Calvino, O Livro dos Salmos,
Vol. 2, (Sl 38.19-20), p. 192).
46
João Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 16.2), p. 500.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
1) Deus nos perdoa não porque seja obrigado, mas, porque Ele é misericordio-
50
so; Ele olha para o nossa estado de miséria espiritual e livremente se com-
padece de nós e nos alivia, nos perdoando os pecados, apagando toda a nos-
sa iniquidade. O salmista escreve: "Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a
iniqüidade, e não destrói; antes muitas vezes desvia a sua ira, e não dá largas
a toda a sua indignação" (Sl 78.38). Daniel em sua oração tem a mesma per-
cepção: "Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos, e ouve; abre os teus olhos, e
olha para a nossa desolação, e para a cidade que é chamada pelo teu nome,
porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas
justiças, mas em tuas muitas misericórdias" (Dn 9.18).
47
“A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em ter-
ceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, vari-
edades de línguas” (1Co 12.28).
48
R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 141.
49
João Calvino, As Institutas, (1541), IV.13.
50
“A misericórdia não é um direito ao qual o homem faz jus. A misericórdia é aquele atributo
adorável de Deus, pelo qual tem dó dos miseráveis e os alivia.” (A.W. Pink, Deus é Soberano,
p. 23).
A Misericórdia perdoadora de Deus e a nossa Responsabilidade – Rev. Hermisten – 17/05/10 – 14/14
51
em nós, podemos naturalmente sentir e exercitar a misericórdia.
51
Ver: John MacArthur Jr., O Caminho da Felicidade, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 115.
52
John R.W. Stott, A Mensagem do Sermão do Monte, 3ª ed. São Paulo: ABU, 1985, p. 38.