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PNBE na escola

Literatura fora da caixa


Guia 3
Educação de Jovens e Adultos
Guia 3

Presidência da República
PNBE na escola
Ministério da Educação Literatura fora da caixa
Secretaria Executiva
Secretaria da Educação Básica Educação de Jovens e Adultos
Presidência da República Sumário
Ministério da Educação
Secretaria Executiva
Secretaria de Educação Básica
Diretoria de Formulação de Conteúdos Educacionais
Coordenação Geral de Materiais Didáticos

Equipe Técnico-Pedagógica – COGEAM/SEB


Andrea Kluge Pereira
7 A p r e s e nta ç ã o
Cecília Correia Lima Ministério da Educação
José Ricardo Albernás Lima
Lucineide Bezerra Dantas
Lunalva da Conceição Gomes 11 Int r o du ç ã o
Maria Marismene Gonzaga
Magda Soares
Equipe de Apoio Administrativo – COGEAM/SEB Aparecida Paiva
Gabriela Brito de Araújo
Gislenilson Silva de Matos
Neiliane Caixeta Guimarães 17 O USO C R IAT IVO D A L IN GU A GE M NO D IA A
Paulo Roberto Gonçalves da Cunha
D IA E O D IA A D IA D A POES IA N A ESC O L A :
Seleção de originais e Coordenação da edição
Magda Becker Soares
A Educação de Jovens e Adultos
Aparecida Paiva Carlos Augusto Novais
Planejamento editorial e preparação de textos
Silvana Maria Pessôa
Ana Paiva
Rogerio Mol
35 TE MPO DE PROSA
Projeto gráfico e diagramação Luciene Juliano Simões
Christiane Costa

51 TR A B A L H A NDO C O M L IVROS DE IMA GE M


PNBE na escola : literatura fora da caixa / Ministério da Educação ; elaborada pelo Centro Possibilidades e desafios
de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. – [Brasília :
Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2014]. Edgar Roberto Kirchof
3 v.
Iara Tatiana Bonin
Guia 1 : Educação infantil – Guia 2: Anos iniciais do Ensino Fundamental – Guia 3:
Educação de Jovens e Adultos.
Rosa Maria Hessel Silveira
ISBN: 978-85-7783-156-2

1. Programa Nacional Biblioteca da Escola. 2. Acervo. 3. Mediação pedagógica. 71 PNB E 2 0 1 4


4. Educação literária. I. Brasil. Ministério da Educação. II. Universidade Federal de Minas
Gerais. Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita. Ob r a s s e l e cio na da s
CDU 028.1(036)

Tiragem
Guia 3 – PNBE: Literatura fora da caixa – Educação de Jovens e Adultos
152.825 exemplares
7

Apresentação

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


Ministério da Educação

A distribuição de obras de literatura pelo Programa Nacional Biblio-


teca da Escola (PNBE) já passou por diversos formatos. Em todos eles, o
objetivo do Ministério da Educação (MEC) sempre foi proporcionar aos
alunos da rede pública o acesso a bens culturais que circulam socialmente,
de forma a contribuir para o desenvolvimento das potencialidades dos
leitores, favorecendo, assim, a inserção desses alunos na cultura letrada.
No entanto, apenas o acesso aos livros não garante sua apropria-
ção, sendo de fundamental importância a mediação do professor para a
formação dos leitores. Mediar a leitura significa intervir para aproximar
o leitor da obra e, nesse sentido, o trabalho do professor assume uma
dimensão maior, uma vez que extrapola os limites do texto escrito, pro-
movendo o resgate e a ampliação das experiências de vida dos alunos e
do professor mediador.
Para auxiliar os professores nessa tarefa, o MEC vem, ao longo dos
anos, produzindo materiais voltados para o uso dos acervos do PNBE,
como o Guia do Livronauta (PNBE 1998),1 História e Histórias (PNBE
1999), o Catálogo Literatura na Infância: imagens e palavras (PNBE 2008),2
além de outras publicações voltadas para a formação de leitores, como a
Revista Leituras, o kit Por uma Política de Formação de Leitores3 e o volume
20 – Literatura Infantil – Coleção Explorando o Ensino.4
Dando prosseguimento à essa ação formativa, este Ministério está
encaminhando às bibliotecas das escolas que oferecem Educação Infantil
(creche e pré-escola), anos iniciais do Ensino Fundamental e/ou Educa-
ção de Jovens e Adultos esta publicação PNBE na escola: Literatura fora da
caixa. Composta por três volumes, ela traz um conjunto de textos que,
certamente, irão contribuir para uma mediação mais efetiva, de forma a
proporcionar aos alunos diferentes experiências com a leitura literária.

1
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001878.pdf
2
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Avalmat/literatura_na_in-
fancia.pdf
3
Disponíveis em http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=ar-
ticle&id=16896&Itemid=1134
4
Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?cate-
goria=117
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Essa publicação foi elaborada pelo Centro de Alfabetização, Leitura


e Escrita (CEALE), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
responsável pelo processo de avaliação, seleção e composição dos acervos.
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Cada acervo, concebido para o uso coletivo de alunos e professores,


vem acompanhado desta publicação. Os acervos estão organizados em
quatro categorias:
Categoria 1: Para as instituições de educação infantil que atendem
creche foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco)
obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Categoria 2: Para as instituições de educação infantil que atendem
pré-escola foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e
cinco) obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Categoria 3: Para as escolas que oferecem os anos iniciais do ensino
fundamental foram formados 4 (quatro) acervos distintos, com 25 (vinte
e cinco) obras cada, num total de 100 (cem) obras.
Categoria 4: Para as escolas que oferecem educação de jovens e
adultos foram formados 2 (dois) acervos distintos, com 25 (vinte e cinco)
obras cada, num total de 50 (cinquenta) obras.
Nem todas as escolas receberão todos os acervos, porque a distribui-
ção está relacionada ao número de alunos matriculados. Mas, ao final dos
volumes, consta a relação de todas as obras selecionadas de forma que os
professores possam conhecer a totalidade dos títulos.
As obras selecionadas, além de diversificadas do ponto de vista te-
mático, dos gêneros e formatos, também diferem do ponto de vista do
grau de complexidade. Portanto, os acervos são compostos por obras que
estimulam a leitura autônoma por parte de crianças, jovens e adultos em
processo de alfabetização ou propiciam a professores e alunos alternativas
interessantes de leitura compartilhada.
No que diz respeito à educação infantil, este Ministério, consideran-
do a necessidade de garantir material de apoio à educação de crianças
nessa etapa de ensino, ampliou a distribuição dos acervos voltados para
a educação infantil, encaminhando-os, não apenas às bibliotecas dessas
escolas, mas, também, para salas de aula e outros espaços onde se dá o
trabalho com crianças de 0 a 3 anos (creche) e de 4 e 5 anos (pré-escola).
Este Ministério, ao incluir nos acervos de livros de literatura essa
publicação, espera contribuir, de forma efetiva, com a circulação e leitura
das obras que compõem os acervos do PNBE 2014 e, de modo especial,
com a formação leitora de alunos e professores.
11

Introdução

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


Magda Soares
Aparecida Paiva

Você tem em mãos o guia dos acervos des- modo muito especial, com sua formação leitora,
tinados à Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresentamos a você um conjunto de textos
pelo PNBE 2014. Este volume é um dos dos que representam os gêneros selecionados para
três guias que serão disponibilizados pelo MEC o acervo EJA: prosa, verso e livros de imagem.
para acompanhar os acervos selecionados pelo
Programa Nacional Biblioteca da Escola. Além Divisão interna do Guia
deste guia, foram produzidos mais dois: um para Cada um dos textos, impressos após a apre-
Educação Infantil e outro para os anos iniciais sentação deste guia, foi planejado especialmente
do Ensino Fundamental, segmentos contem- para você, mediador de leitura; são textos escri-
plados por esta edição do Programa. Espera- tos em linguagem simples e direta onde cada
mos que você, de posse deste guia, tenha uma autor(a) procura discutir as especificidades de
oportunidade concreta de crescimento como cada gênero, abordando obras que o represen-
mediador(a) de leitura literária na escola e de tam, no intuito de que essas leituras funcionem
enriquecimento de sua formação como leitor como exemplos e incentivo para a apropria-
de literatura, o que, acreditamos, o ajudará a ção dos acervos pelos mediadores de leitura,
dar um novo significado às práticas de leitura de forma a enriquecer as atividades de leitura
literária com seus alunos, em sala de aula, ou na em suas turmas.
biblioteca escolar. Além desses textos básicos, há, ao final de
Nosso propósito com esse “guia”, esse ma- cada guia, a relação de todos os títulos selecio-
terial de apoio, é possibilitar a você um acesso nados no PNBE 2014, separados por segmento,
dialogado ao universo literário das obras que categoria e gênero. Esperamos, com esse nosso
constituem os acervos do PNBE 2014, propon- esforço, duas coisas: socializar com você os livros
do orientações de uso desses acervos na escola, selecionados no PNBE 2014, a fim de que você
pelos professores e pelos profissionais que atuam possa usufruir desse acervo como leitor(a) de
nas bibliotecas escolares, com apresentação e literatura, independente do segmento em que
discussão pedagógica de gêneros, autores, temá- atue, provocando em você o desejo de lê-los
ticas, competências literárias e outras formas de e compartilhá-los com seus alunos. Por outro
conhecimento e apreciação das obras. lado, esse nosso movimento de apresentar visu-
Assim, além dessa apresentação inicial, que almente, ao final de cada guia, todo o acervo do
explicita nosso desejo de contribuir efetiva- PNBE 2014 também pretende fomentar uma
mente com a circulação e leitura das obras que curiosidade nos mediadores de leitura, assim
compõem os acervos do PNBE 2014, e, de como uma maior circulação das obras na escola,
12 13

ao deixar claro o quanto são tênues as separações por segmento, faixa Agora, com base no quadro a seguir, pres- – que recebe o maior número de inscrições de
etária, ou qualquer outro tipo de categorização e que, o mais importante, te especial atenção na quantidade de escolas e livros pelas editoras: mais da metade dos inscri-
é a literatura de qualidade estar disponível. alunos atendidos no período de 2006 a 2013 e tos. Por outro lado, a inscrição é muito pequena
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


Por fim, gostaríamos de ressaltar que a relação das obras adquiridas projete a espantosa quantidade de livros distri- para livros destinados às crianças de 0 a 3 anos –
pelo PNBE ainda oferece um parâmetro relevante a respeito do quadro buídos pelo Programa desde sua criação. Muitas apenas 3% – o que evidencia a pouca produção
geral dos livros veiculados nas escolas públicas brasileiras. Ao observar vezes, os professores de escolas menores, que editorial que há para esse segmento, ainda não
gêneros, autorias e categorias, o professor, ainda que sua escola não tenha recebem uma quantidade pequena de acer- contemplado pelas editoras. No entanto, é uma
alguns desses títulos em seu acervo, dispõe de um conjunto de dados vos, não imaginam a quantidade de livros de produção importante, porque já na creche a
que podem funcionar como baliza para a escolha de material de leitura, literatura que são distribuídos ano a ano. No criança merece oportunidades de contato com
considerando que a qualidade literária é item primordial para a seleção entanto, no que pese esse grande número de livros adequados para a idade, que promovem
dos acervos do PNBE. livros distribuídos, se pensarmos no tamanho sua entrada no mundo da escrita.
do nosso País, na carência das nossas escolas O número de livros inscritos para a catego-
Para começo de conversa, alguns dados para você se situar públicas e na quantidade de alunos que elas ria para a qual se volta este guia, a Educação de
atendem, sempre haveremos de reivindicar um Jovens e Adultos, evidencia que, embora bem
O Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE1 – foi instituído
aumento no volume de investimento. menor do que o número de livros destinados
em 1997 e tem como objetivo principal democratizar o acesso a obras de
literatura infantojuvenil, brasileiras e estrangeiras, e a materiais de pesquisa aos anos iniciais do Ensino Fundamental, essa
e de referência a professores e alunos das escolas públicas brasileiras. O categoria está em segundo lugar em número de
Programa é executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da livros que as editoras inscrevem no PNBE 2014;
Educação – FNDE – em parceria com a Secretaria de Educação Básica entretanto, convém destacar que nessa categoria
do Ministério da Educação – SEB/MEC.Você pode obter informações (EJA) têm sido inscritos muitos livros que na
sobre todas as edições do Programa no site do MEC, buscando por PNBE. verdade não têm características que atendam à
Para que você tenha uma ideia da magnitude desse Programa, vamos natureza de EJA e às condições leitoras de seus
apresentar a seguir dados do investimento feito no período de 2006 a alunos, o que talvez se explique por ainda não
2013. Os dados de 2014 ainda estão sendo processados. Observe bem o se ter formado, em nosso país, concepção clara,
volume de recursos investidos. entre autores e editores, daquilo que distingue
O que foi oferecido para esse segmento de ensino dos demais segmentos.
a seleção dos acervos?
Para que você tenha uma ideia da quantida- O segmento EJA
de de livros inscritos no PNBE 2014, abarcando Obedecendo ao que foi previsto no edital
os segmentos Educação Infantil, anos iniciais do do PNBE 2014, deveriam ser selecionadas, para
Ensino Fundamental e EJA, observe o gráfico cada acervo literário destinado à Educação de
a seguir: Jovens e Adultos, obras de cada um dos três
agrupamentos seguintes:

1. Textos em verso – poema, cordel, pro-


vérbios, ditos populares;
2. Textos em prosa – romance, novela, con-
to, crônica, teatro, biografia, diário, relato
de experiência, texto de tradição popular;
3. Livros de imagem e livros de histórias em
quadrinhos, dentre os quais se incluem
1
Se você quiser saber mais sobre o PNBE, como por exemplo sua história, processo de obras clássicas da literatura universal, ar-
seleção e constituição de acervos, cf. FNDE: http://www.fnde.gov.br/ e cf. PAIVA,
Aparecida (org.). Literatura fora da caixa: O PNBE na escola – distribuição, circulação e Observe que é a categoria 3 – livros inscri- tisticamente adaptadas ao público de EJA
leitura. São Paulo: Editora UNESP, 2012. tos para os anos iniciais do Ensino Fundamental (ensino fundamental e médio).
14 15

Os livros inscritos para a Educação de Jo- a EJA incluímos, em cada acervo, livros de todas com o livro: qualidade estética das ilustrações, articulação entre texto e
vens e Adultos se distribuíram de forma muito as categorias – prosa, verso, imagem e história ilustrações, e uso de recursos gráficos adequados à criança na etapa inicial
diferenciada por esses três agrupamentos; ob- em quadrinhos – mesmo havendo, pelo já ex- de inserção no mundo da escrita.
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


serve, no gráfico a seguir, a percentagem dos posto, mais alternativas de escolha da prosa – isso Foi ainda critério para constituição dos acervos a seleção, entre
inscritos por agrupamento e, portanto, as pos- explica por que os livros em prosa são mais as obras consideradas de qualidade, nos vários agrupamentos – prosa,
sibilidades de escolha oferecidas para a compo- numerosos nos acervos. Mas você encontrará, verso, imagem e história em quadrinhos –, daquelas que representassem
sição dos acervos: nos acervos 2014, livros de todas as categorias diferentes níveis de dificuldades, de modo a atender a jovens e adultos
previstas no Edital, o que propicia aos alunos de em variados níveis tanto de compreensão dos usos e funções da escrita
EJA a vivência de diferentes gêneros e a possibi- quanto de desenvolvimento de sua competência leitora, possibilitando
lidade de desenvolver conceitos, conhecimentos assim formas diferentes de interação com o livro, seja pela via da leitura
e habilidades peculiares a cada um deles. autônoma, seja pela leitura mediada pelo professor.
Do grande número de livros inscritos no
PNBE, do desequilíbrio na distribuição deles Não basta a presença do livro: o papel dos formadores de leitores
pelas cinco categorias a serem contempladas,
O PNBE tem cumprido o importante papel de fazer chegar até as
dos diversos critérios a serem obedecidos, que
escolas públicas brasileiras livros de literatura para todos os segmentos da
serão indicados no item abaixo, enfim, desse
escolaridade: educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, anos fi-
universo de possibilidades, foi necessário sele-
nais do ensino fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos. Em
cionar apenas os 50 títulos previstos em Edital2
suas várias edições, o Programa vem ampliando o seu alcance, apontando o
para EJA e distribuí-los por dois acervos de 25
quanto é diversificado o público leitor que frequenta as bibliotecas escolares.
livros. Foi o que fizemos e, pode-se facilmente
Os números evidenciam que a quantida- Essa condição variável e múltipla requer o olhar sensível e nuançado para as
concluir, não foi uma tarefa fácil.
de de livros em prosa inscritos pelas editoras é especificidades de cada fase de formação e também para as peculiaridades
muito superior à dos inscritos nas outras cate- das mediações que envolvem cada segmento da escolaridade. Mediações
Com que critérios foram escolhidos que acontecem nos espaços e tempos dedicados à leitura na escola.
gorias, o que permite supor que a produção de
os livros para compor os acervos? Na educação de jovens e adultos, em que estão alunos de diversas
livros para a EJA vem privilegiando, de forma
significativa, a prosa. Além de constituir cada acervo com dife- idades, não poderia ser diferente. Na fase inicial de EJA, a leitura literária
Sob determinado aspecto, essa predominân- rentes categorias de livro e diferentes gêneros, ainda conta em grande medida com a mediação de professores e biblio-
cia da prosa entre os livros inscritos é positiva: é procuramos ainda selecionar os livros pelo cri- tecários, em atividades de leitura pelo professor, leitura compartilhada
fundamental que jovens e adultos, na etapa em tério de sua qualidade: qualidade textual, que entre professor e alunos, ou leitura de poemas: atividades que possibilitem
que estão adquirindo, de forma relativamente se revela nos aspectos éticos, estéticos e literários,
na estruturação narrativa, poética ou imagética, Compartilhamentos nos
tardia, habilidades de leitura, desenvolvendo pos- momentos de leitura.
sibilidades de leitura autônoma e se inserindo no numa escolha vocabular que não só respeite,
mundo da escrita e da literatura, vivenciem com mas também amplie o repertório linguístico
frequência e intensidade o texto em prosa, para de crianças na faixa etária correspondente à
que, além de imergir no mundo do imaginário e Educação Infantil; qualidade temática, que se
da fantasia dos contos e das narrativas, e também manifesta na diversidade e adequação dos temas,
no mundo da informação, tenham oportunidade e no atendimento aos interesses das crianças, aos
de adquirir competência leitora e aprofundar diferentes contextos sociais e culturais em que
conhecimento dos usos e funções da escrita. vivem e ao nível dos conhecimentos prévios
Entretanto, surpreende a inscrição de número que possuem; qualidade gráfica, que se tra-
pequeno de livros de poemas, importantes para duz na excelência de um projeto gráfico capaz
introduzir os alunos no mundo da poesia. de motivar e enriquecer a interação do leitor
Apesar do desequilíbrio no número de li-
vros inscritos em cada categoria e por gênero, na 2
Ao final deste guia, você encontrará a relação completa
seleção final para compor os acervos destinados de todos os acervos do PNBE 2014.
16 17

a construção de sentidos por aqueles que ain- para distribuição, ele, finalmente, chega à escola. espaço escolar, porque acreditamos que a voz do docente não pode ser
da não dominam a leitura autônoma, ou por Se há dados seguros dessa distribuição, como isolada, todos são mediadores de leitura, os professores, os profissionais
aquele leitor que já pode ler sozinho, mas ainda você pôde observar no início desta introdução, da biblioteca, os gestores, enfim, os diferentes mediadores de leitura do
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


depende da orientação de mediadores. Espera- o mesmo não podemos dizer da sua recepção, contexto escolar são aqueles que detém o poder de fazer o livro circu-
se que, na educação de jovens e adultos, estes circulação e uso nas escolas públicas do País. lar. Se os mediadores se propõem a conhecer os acervos do PNBE, suas
tenham contato permanente com esses bens Com menos segurança ainda podemos elencar características e potencialidades, e se o trabalho for coletivo, tanto será
culturais que são os livros de literatura, o que ações que viabilizam a formação de professores mais fácil naturalizar, valorizar positivamente a atividade da leitura junto
em geral não ocorreu em sua história de vida, e de profissionais que atuam nas bibliotecas aos leitores iniciantes. O espaço escolar, então, passaria a ser concebido
para que se familiarizem com eles, de modo a escolares para o reconhecimento do potencial como privilegiado para as atividades de leitura. Enfim, se os próprios
interagir com a linguagem literária – nos textos da literatura disponibilizada e suas possibilidades mediadores intensificarem suas práticas de leitura, o livro de literatura
e nas ilustrações –, desenvolvendo também a formativas e educativas no cotidiano escolar, em poderá ocupar o centro da escola.
compreensão dos usos sociais da escrita. Todo especial, na sala de aula e na biblioteca.
o trabalho com o livro de literatura, se feito de Mas por acreditar na qualidade literária
Não basta a existência
maneira adequada, deve despertar o gosto pela destes acervos, nosso papel inclui um desejo dos livros, é preciso
leitura e o interesse por livros, e ainda contribuir de divulgação dos livros do PNBE, e por isso uma aproximação.
consideravelmente para a inserção no mundo da chega até você este material de apoio, para que
escrita e da literatura de jovens e adultos que não os profissionais responsáveis pelo processo de
tiveram a oportunidade de frequência ao ensino mediação de leitura na escola dele se apropriem
regular no momento previsto pela legislação. e depois façam circular os conhecimentos.
Mas, para que isso ocorra, as experiências Assim, nossa expectativa é a de que você,
com a leitura literária precisam ser bem-sucedidas, que está lendo esse guia – o que certamente
de modo a aguçar a vontade de ler mais e conhe- indica que os acervos do PNBE chegaram em
cer outros livros que compõem o grande acervo sua escola –, se envolva nesse processo, da forma
de obras da cultura escrita – e não só aquelas en- mais colaborativa possível. Nessa perspectiva,
dereçadas especificamente a jovens e adultos, mas vamos apresentar, desde já, algumas sugestões
também aquelas representativas do rico universo Os livros na biblioteca
que podem ser implementadas na escola.
literário. Nas situações de leitura autônoma ou A biblioteca precisa ser assumida como o espaço da socialização,
mediada que ocorrem na etapa correspondente não do isolamento; inúmeras atividades positivas e prazerosas de leitura
Chegada e presença dos
aos anos iniciais de EJA, vale apostar numa rela- podem ser desenvolvidas nela e por ela.
livros na sua escola
ção cúmplice e aproximada entre o mediador e A biblioteca tem o importante papel de aproximar dela os jovens
os alunos, em que aquele promova e incentive Sugerimos que você reflita inicialmente e adultos, que em geral não tiveram a oportunidade de conhecer e fre-
manifestações – palavras, gestos, avaliações, co- sobre algumas questões: quentar esses locais de acesso aos livros. Assim, é importante planejar
mentários – dos jovens e adultos diante do que • Os acervos do PNBE estão em minha atividades que tornem a biblioteca um lugar conhecido e procurado,
leem, e em geral não leem de forma passiva, pela escola? Onde? como, por exemplo:
riqueza que têm de experiências de vida e de
• Foi feita ou vai ser feita divulgação sobre • Visitas frequentes à biblioteca familiarizam os alunos com a orga-
valores e conceitos construídos ao longo dos anos
a chegada desses acervos na escola? nização e as formas de acesso aos livros;
já vividos. Considerando essas características de
jovens e adultos, será possível planejar e conduzir • É ou será desenvolvido algum trabalho • O empréstimo de livros aos alunos, para leitura em casa, desperta
de forma mais adequada a leitura literária. de mediação com esses acervos? para essa alternativa de lazer e prazer, e ensina as convenções que
• Os acervos do PNBE têm sido postos à devem ser seguidas e obedecidas no uso dos livros da biblioteca;
A literatura na escola: formando leitores disposição dos alunos, têm sido procura- • A promoção, pelo responsável pela biblioteca, de uma atividade
dos por eles? “festiva” para o recebimento e incorporação de novos acervos
Depois de um longo caminho percorrido
pelo livro, desde sua inscrição no PNBE, pela sua Essas são algumas questões que podem nor- desperta a atenção para os livros e o interesse por conhecê-los;
editora, até a sua seleção para compor o acervo tear a ação coletiva dos mediadores de leitura no • A divulgação em cartazes de novos livros que chegam à biblioteca
do Programa e posterior aquisição pelo FNDE espaço escolar. E veja que estamos falando de pode atrair a atenção e o interesse dos alunos;
18

• Os alunos podem preparar cartazes de • A busca de informações em livros infor-


propaganda de livros de que tenham mativos.
gostado, para expô-los na biblioteca e
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Nos textos que compõem este guia, você


incentivar colegas a procurá-los;
vai encontrar muitas outras sugestões de ativi-
• Os alunos podem escrever sua avaliação dades, relacionadas com os diferentes gêneros
de livros lidos, compondo um guia de que compõem os acervos.
orientação de escolhas, disponível na bi-
blioteca para consulta de colegas.
Concluindo
O importante é que os profissionais que tra- Agora, finalmente, você vai poder entrar em
balham na biblioteca se reconheçam como media-
contato com os textos que discutem as prin-
dores no trabalho de formação de leitores.Assim,
cipais categorias de seleção do PNBE 2014
uma vez concebida como local de leitura, inte-
para EJA– prosa, verso, imagem. Pesquisadores
ração e experimentação, a biblioteca se converte
e professores, com larga experiência na área da
em incentivadora de leitura, referência de cultura
leitura e de literatura, comentarão, cada um ao
e conhecimento para o leitor em formação.
seu modo, a concepção de gênero que subjaz a
cada categoria e apresentarão análises textuais e
Os livros na sala de aula
ilustradas de algumas obras selecionadas, refle-
Professor, sua turma está recebendo os acer- tindo, por meio de exemplos, as possibilidades
vos do PNBE-2014. São 50 novos livros, que de uso e prática de algumas destas obras para a
poderão ser usados em espaços variados. A inte- Educação de Jovens e Adultos.
ração entre responsável pela biblioteca e professor Desejamos a você uma boa leitura dos tex-
é importante, não só para controle do acervo,
tos que compõem este guia e, de modo muito
mas também para uma colaboração que pode
especial, uma prazerosa leitura dos livros selecio-
ser rica, entre esses dois mediadores de leitura.
nados para 2014, além de um excelente trabalho
Várias atividades podem ser desenvolvidas
de mediação com as crianças.
em sala de aula com livros da biblioteca, como
por exemplo:
• A leitura de histórias, contos, crônicas –
pelo professor, enquanto os alunos ainda
não são capazes de leitura autônoma; por
leitura compartilhada, quando começam
a desenvolver essa capacidade; finalmente
em leitura autônoma, seja em voz alta
para os colegas, ou silenciosamente para
si mesmo;
• A leitura em partes de livros organizados
em capítulos – romance, novela, biografia:
a cada dia um capítulo, lido pelo professor
ou por um dos alunos, criando interesse
e expectativa pela continuação da trama;
• A leitura ou a recitação de poemas, de
cordéis;
• A discussão sobre o sentido e a veracidade,
ou não, de provérbios, de ditos populares;
21

O USO CRIATIVO DA
LINGUAGEM NO DIA A DIA

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


E O DIA A DIA DA POESIA
NA ESCOLA: A Educ a ç ã o
de Jovens e A dultos
Carlos Augusto Novais 1
Silvana Maria Pessôa 2

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre


nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
Oswald de Andrade

Apresentação
Caro(a) professor(a), Comecemos pelo conceito de linguagem.
Apresentamos, a seguir, alguns pressupostos Nós, seres humanos, somos, de certa forma,
que informam nossa sugestão de utilização, “programados” para a linguagem. Temos a ap-
na sala de aula e na biblioteca, do acervo de tidão para ela como traço físico e sua realização
poesia do PNBE 2014, referente à educação como aprendizagem cultural. Nós a usamos em
de jovens e adultos. De início, gostaríamos de nosso dia a dia para realizar muitas coisas, tendo
esclarecer que não se trata de uma proposta em vista suas diversas dimensões, desde a de
única de ensino ou de um roteiro fixo de ativi- natureza utilitária, que envolve a comunicação
dades didáticas, mas, pelo contrário, são orien- e a socialização, à de natureza lúdico-poética ou
tações básicas que procuram servir de apoio ao estética, advinda da imaginação criadora. Entre as
aprendizado da poesia, apresentando-se como muitas coisas que podemos fazer, a partir desta
um complemento às experiências pedagógicas última dimensão, encontra-se, enquanto produ-
particulares de cada professor. ção artística prestigiada socialmente, a poesia.

1
Doutor em Letras (Literatura Brasileira) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor adjunto
do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Faculdade de Educação da UFMG.
2
Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora Associada da
Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais.
22 23

direções básicas. Uma, específica, que a assume Linguagem denotativa: aquela que privilegia o significado co-
no contexto do sistema literário socialmente mumente aceito das palavras, seu significado usual, habitual,
reconhecido (autores e obras), sendo abordada compartilhado socialmente no dia a dia das pessoas. Portanto,
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


mais usada em contextos informativos.
na perspectiva de sua história (períodos, estilos,
movimentos, grupos etc.) e de sua teoria (con- Linguagem conotativa: aquela que privilegia o significado figu-
rado das palavras, o sentido desviante e inovador em relação
cepções, princípios, funções etc.), de acordo com
ao seu uso cotidiano. Linguagem preferencial da poesia.
as várias etapas do ensino e de seus objetivos
curriculares específicos. Outra, mais abrangen- O poema também pode e deve ser também concebido como uma
te, que a considera como parte integrante do forma de conhecimento, uma fonte de saber sobre o mundo, um lugar em
conjunto das práticas sociais de uso criativo, que os nossos sentidos como visão, audição, tato e olfato ganham forma
lúdico-poético da linguagem, enquanto um concreta através de palavras. Isso quer dizer que o poema demanda um
produto artístico reconhecido. modo intenso de trabalho com a palavra, que é fustigada e tensionada
Linguagem: sistema organizado de De modo geral, no tocante à noção de poe- para ressaltar as instabilidades e potencialidades da linguagem, propor-
signos (palavras, desenhos, cores, sia, ambas as tendências anteriormente expostas cionando a criação de novos sentidos.
sons, gestos etc.), natural ou artifi- concordam em um ponto: a poesia é expres- Qualquer das duas direções tomadas no ensino da poesia, citadas mais
cial, que tem por objetivo geral a são de uma subjetividade, que se exprime por acima, deve ter, entretanto, no seu horizonte de expectativas, a formação
comunicação entre os homens, os intermédio de imagens e metáforas; por isso,
demais seres vivos e mesmo entre do leitor, em especial do leitor literário, seja ele um especialista (críticos,
constitui-se como a linguagem conotativa por ex- professores, editores), seja ele um leitor comum, no sentido da educação
máquinas. Assim, podemos iden-
celência, já que se pretende capaz de traduzir da sensibilidade e da capacitação da fruição poética. O segundo caso,
tificar vários tipos de linguagens:
de computador (sinais elétricos), a complexidade constituinte do sujeito. Nesse ou seja, o ensino da poesia compreendida como parte do conjunto das
dos golfinhos (assovios e trina- sentido é que o poeta enquanto “pessoa particu- práticas sociais de uso criativo, lúdico-poético da linguagem, é a opção
dos), dos morcegos (ultrassom e lar”, sujeito portador de uma experiência única adotada neste texto.
ecolocalização), das abelhas (mo- e intransferível, é visto como alguém que trans- Acreditamos, ainda, que a poesia pode e deve ser “ensinada”, porque
vimentos) e, em especial, aquela forma a vivência em imaginação e linguagem.
específica da espécie humana, atua como possível organizadora da mente e refinadora da sensibilidade;
Pode-se, assim, pensar que a poesia é um
caracterizada como um sistema porque se consolida como oferta de valores em um mundo onde eles se
modo de existir muito particular e o poema, a
simbólico dependente da cultura. apresentam flutuantes e intercambiáveis. E mais, ressaltamos nossa crença
manifestação sensível e material (na forma de
de que a leitura de poesia na escola pode ser um exercício de liberdade
Um grande poeta norte-americano do sé- linguagem) desse modo de vida. Sendo uma
na educação de jovens e adultos, uma liberdade no uso criativo da lin-
culo passado, Ezra Pound (1885-1972), caracte- experiência radical da e na linguagem, criadora
guagem, quebra dos padrões estereotipados de determinados modos e
rizava a poesia como “linguagem carregada de de sentidos novos para as palavras e o mundo,
usos corriqueiros da língua.
significados”. Com isso, queria dizer, entre ou- o poema é sempre um investimento total, uma
Defendemos, então, que essas pretensões devem ocupar um lugar
tras coisas, que a poesia não se contenta apenas chamada de atenção para as pequenas grandes
de destaque no âmbito das aulas de língua portuguesa, em especial no
com o lado utilitário e referencial das palavras e coisas do universo.
contexto sociocultural brasileiro, no qual a escola é, muitas vezes, e, so-
dos signos, com seu uso imediato de informação bretudo na EJA, o lugar de um contato mais direto com a poesia, tendo
e comunicação. Para ele, a poesia carrega senti- o livro como suporte.
dos novos, inventados pela imaginação criadora Desse modo, nossa perspectiva, em um primeiro momento, não é
do ser humano, além dos significados usuais, o de fazer com que você, professor(a), ou seus alunos da EJA, passem a
ampliando, assim, as possibilidades de expressão gostar dos livros de poesia indicados no acervo do PNBE. Estes livros,
da linguagem. A poesia, portanto, faz a lingua- apesar de escolhidos a partir de sua qualidade literária, bem como de suas
gem respirar e viver. Sem ela e sem as demais condições para uso escolar, são apenas uma pequena parcela do universo
invencionices do povo, dos falantes comuns de poético. Para nós, interessa, basicamente, que a escola seja competente, ao
uma língua, no seu dia a dia, a linguagem se utilizá-los, em capacitar as pessoas para saber reconhecer/usar as particu-
enrijeceria e morreria com o tempo. laridades da dimensão lúdico-poética da linguagem, para que, então, elas
Desse modo, o ensino da poesia na escola possam se relacionar de maneira linguisticamente adequada nos diversos
pode ser compreendido em, pelo menos, duas espaços sociais em que essa dimensão se lhes apresentar como demanda.
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São muitas as dimensões sem fazer qualquer concessão à facilidade ou em nossas conversas cotidianas, quando faze-
poéticas. [Exemplo de
ao pragmatismo. Nesta acepção, a poesia defi- mos uso, por exemplo, de ditados e expressões
poesia visual.]
nir-se-ia pela junção de obscuridade e fascínio, populares. A seguir, professor(a), apresentamos
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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geradora de uma espécie de “dissonância”, que alguns exemplos desses recursos, retirados ale-
gera uma tensão que tende mais à inquietude atoriamente de alguns jornais e revistas de cir-
que à serenidade, mais ao estranhamento que culação diária, e outros que frequentam nossa
ao apaziguamento. Sob este ponto de vista, a experiência linguajeira. Certamente, muitos
poesia é um lugar de tensões dissonantes, tanto outros fazem parte de sua memória. Com esta
formais quanto de conteúdo, destinada mais amostra, queremos lembrar que a dimensão
a expor a opacidade do sentido do que uma lúdico-poética da linguagem não é prerroga-
presumida utilidade. tiva apenas dos poetas, mas de qualquer pessoa
Descontando-se algumas implicações só- que pretenda fazer da linguagem um espaço
cio-históricas da perspectiva acima, acreditamos de criação. O reconhecimento deste fato será
Obviamente, numa perspectiva mais ampla, espera-se que, ao reco- que a poesia deveria estar integrada na sociedade de grande valia para o trabalho com a poesia
nhecer a dimensão criativa da linguagem, cada um possa vir a se interessar como mais um elemento constitutivo da nos- na escola que estamos propondo, em especial
pela poesia e sua tradição, como parte do nosso patrimônio cultural, sa humanidade. Ainda que as condições atuais no caso da EJA, em que encontramos sujeitos
fazendo, a partir de então, suas próprias escolhas de leitura, em função não permitam plenamente tal realização, para com um amplo repertório de experiências de
de seu repertório, de seu gosto, de sua eventual participação em uma nossa proposta de estudo da poesia nas salas de linguagem em suas comunidades de falantes.
dada comunidade de leitores, enfim, de seus interesses artístico-poéticos. aula da EJA, vamos trabalhar com a ideia geral
Acreditamos que somente participa das práticas sociais de leitura poética, da poesia como uma das possibilidades de uso Propagandas
de maneira intencional e prazerosa, quem assim deseja, pois essas práticas criativo da linguagem e, assim, aproximá-la do - “Vem aí uma montadora / que faz carros /
se caracterizam, principalmente, pela liberdade – liberdade de escolhas, nosso linguajar cotidiano. e desfaz fronteiras” [anúncio de uma montadora
investimento de tempo e engajamento pessoal.
de carros]. Aqui nos deparamos com a escolha
Não podemos nos esquecer de que o que poderíamos chamar de A linguagem criativa de um par verbal aparentemente contraditório
mapa do gosto de uma pessoa, especialmente, neste caso, o de um aluno da
e lúdica no cotidiano (faz/desfaz) para representar a própria concep-
EJA, se caracteriza por uma complexa combinação, em diferentes propor-
ção de “montar”. Além do mais, a palavra “fron-
ções, de diversificados elementos oriundos de múltiplas dimensões que
teiras” aparece com duplo sentido: o de lugar
compõem a sua experiência de vida, tais como a dimensão econômica,
geográfico, que o carro percorreria, e o de limite
a social, a política, a filosófica, a psicológica, a ética, a estética, a escolar,
tecnológico, que a montadora ultrapassaria.
entre muitas outras. Às vezes temos deste mapa apenas uma sombra, o
- “Forte como sempre, seguro como nunca”
esboço esgarçado de uma perspectiva. Um importante aspecto a ser con-
[anúncio de um minicaminhão]. Neste caso,
siderado, portanto, é que esse mapa, sendo de natureza cultural, portanto
além da opção por duas frases de mesma constru-
histórica, está em constante mutação e deslocamento, e tem na escola
ção sintática (paralelismo: adjetivo + conjunção
um dos fatores relevantes de sua constituição.
de comparação + advérbio), temos a presença
De modo geral, as pessoas sempre manifestam um gosto positivo com
de um par aparentemente contrário (“sempre/
relação à poesia. A ela sempre associam sentimentos de beleza e prazer.
nunca”), mas que, na verdade, se reforça.
Porém, quando consultadas sobre a sua prática de leitura, a maioria con-
fessa sua dificuldade em se aproximar do gênero. As razões apresentadas Paralelismo: recurso caracterizado
são muitas, desde a clássica desculpa da “falta de tempo”, até a explicitação pela repetição de estruturas gra-
de uma efetiva dificuldade de compreensão. Para alguns, a poesia é uma maticais semelhantes, apresentan-
do uma simetria de construção,
coisa somente para iniciados, para poetas, enfim. Certamente, esta repre- Os recursos da linguagem de natureza lúdi-
formal ou de significados.
sentação do gênero está colada a um determinado conceito de poesia, ca (estética) invadem constantemente nosso dia
que a vê como algo misterioso, que não participa do nosso dia a dia, e a dia, na forma de jogos de palavras, jogos de - “Casar literatura e cinema dá tão certo
do poeta como alguém capaz de alcançar esse mistério. Certamente, em ideias, jogos sonoros, entre outros, seja através que até assinante ganha dote: 5 livros-DVDs são
vários momentos da história da poesia ocidental ela se apresentou assim, da mídia (revistas, jornais, televisão, rádio), seja de graça” [promoção de uma coleção de filmes
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baseados em livros de literatura]. Presenciamos o Com isso, a balança passa também a representar, Ironia: figura de pensamento que ultrapassam a simples função decorativa, para
uso metafórico da palavra “casar”, para a associa- metaforicamente, uma indecisão quanto à carac- dá nome ao ato de dizer algo com se constituírem em experiências expressivas de
ção de dois elementos de outro contexto, literatu- terística do referido campo de petróleo. a intenção de significar outra coi- linguagem, com a finalidade de composição de
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sa. De modo geral, o que é dito
ra e cinema; observamos também o reforço pela - “Para governo, pré-sal foi doce” [referên- é de natureza aceitável e o que é
um objeto estético.
presença da palavra “dote”, tradicional presente cia ao leilão do petróleo localizado na região subtendido é de natureza crítica.
de casamento entre pessoas, em diversas culturas. marítima do pré-sal, do campo denominado A Poesia na escola
Libra]. O jogo de palavras entre “sal e doce”, a - “Todo calado faz figura de avisado”. Nes-
Metáfora: recurso de comparação
primeira indicando localização e a segunda o pa- te caso, temos a exploração da rima interna
em que características de uma
coisa são apresentadas como per-
ladar, tanto destaca a apreciação positiva (doce) “calado” / “avisado” e a presença da aliteração
tencentes a outra. Possibilita es- do governo sobre o resultado do evento, quanto em “f ”, explicitando na palavra “Figura” um
tabelecer relações de semelhança deixa entrever uma dúvida a respeito (sal). elemento do próprio “Fazer”.
entre elementos diferentes. - “Quem com ferro fere, com ferro será
Slogan ferido”. A aliteração em “f ” une, pela sua pre-
Manchetes e títulos - “Impresso no jornal, digitalizado na in- sença nas palavras correspondentes, quem fere
- “Oposição síria desconfia de conferência ternet e eternizado na história” [referência ao e quem é ferido.
de paz”. Nesta manchete, a consoante “p” apa- acervo de um jornal]. Aqui, encontramos ao
rece em posição oposta na frase (início:“oPosi- lado do recurso do paralelismo a presença da Frases de para-choque de caminhão
A poesia, quando se apresenta como um
ção” / fim: “Paz), confirmando, sonoramente, a gradação, ou seja, a amplificação da condição - “Deus é joia, o resto é bijuteria”. Esta frase saber escolarizado, traz, direta ou indiretamente,
própria ideia de oposição indicada.Temos, ain- do acervo: inicialmente, apenas impresso; em explora o jogo de sentido entre o que tem valor elementos das práticas sociais de sua referên-
da, a aliteração em “f ” nas palavras “desconfia/ seguida, digitalizado, ganhando em durabilidade; (joia) e o sem valor (bijuteria). cia. O ensino de poesia se enriquece quando
conferência”, aproximando os dois elementos, para, finalmente, ficar eternizado. Temos aí uma - “Cana na fazenda dá pinga; pinga na cidade toma consciência desses elementos e faz uso
e rima interna entre “síria/desconfia”. gradação crescente, do menos para o mais, que dá cana”. Esta frase ressalta, a partir da mudança deles na sua prática pedagógica. Dessa forma,
procura provocar uma adesão por parte do leitor. dos contextos diferentes (fazenda e cidade), o
Aliteração: jogo sonoro caracteri- propõe-se que o aluno da EJA esteja sempre
zado pela repetição, em sequência, duplo sentido da palavra “cana” (fruto e cadeia). se relacionando com a poesia, mantendo, na
de fonemas consonantais iguais
Campanha publicitária A estrutura espelhada reforça o sentido desejado. escola, um contato constante com ela (poesia
ou semelhantes, no interior de - “TEM GENTE / QUE FAZ CHIP. //TEM como objeto de fruição), e não somente com
uma unidade considerada (frase, GENTE / QUE FAZ SITE. // TEM GENTE / Frases feitas o conhecimento sobre ela (poesia como objeto
verso, estrofe). Tem por objetivo QUE FAZ GENTE / QUE FAZ ISTO TUDO”
a produção de efeitos expressivos, - “Bom dia, flor do dia”. Nesta frase, pre- de estudo e conhecimento). A intenção é que
[anúncio impresso, parte de uma campanha mi- senciamos a exploração do eco formado pela o aluno aprenda poesia poeticamente, em um
a partir da imitação de eventos
rítmicos sonoros e visuais. diática mais ampla em comemoração ao dia do repetição do vocábulo “dia”, o que realça o diálogo constante com suas práticas sociais de
professor]. A primeira coisa que nos chama a desejo enunciado. usos poéticos da linguagem.
Rima: semelhança (nem sempre
igualdade) de sons entre palavras. atenção, neste texto, é a sua forma clássica de Estes são alguns dos muitos exemplos de Cotidianamente estamos todos, no caso,
Classifica-se de acordo com vá- poema, em versos e estrofes (um travessão indica práticas e usos inventivos (lúdico-poéticos) da professores e alunos, expostos aos variados e
rios critérios: extensão dos sons o corte dos versos; dois travessões a separação das linguagem em nosso dia a dia. Ao lado deles, múltiplos jogos de linguagem. Deles fazemos
(toante, consoante), disposição na estrofes). Presenciamos, ainda, a estrutura repetiti- podemos arrolar ainda a formação dos nomes uso, muitas vezes, na fala, na leitura e na escrita,
estrofe (alternadas, cruzadas etc.), va (paralelismo) e a rima visual entre “chip/site”. próprios (seleção dos melhores encontros so- de forma intuitiva. Portanto, um primeiro passo
posição nos versos (internas, ex-
ternas), entre outros. noros), as parlendas, os trocadilhos, as piadas no ensino dessa dimensão da linguagem seria
Ditados populares etc. Assim como a poesia, todos eles fazem uso tornar esses jogos evidentes. Reconhecê-los é
- “Libra na balança”. Este título apresenta - “Mal do pé, pior da perna”. Este ditado dos jogos estéticos de linguagem. Na maioria uma maneira eficaz de tomar consciência das
um trocadilho com a palavra “Libra”, ao apre- explora a aliteração em “p”, reforçando com isso desses usos, entretanto, os jogos, ainda que re- possibilidades expressivas da língua.
sentá-la como o nome de um campo de petróleo a situação pior referida na segunda parte, quando levantes, se apresentam como um fenômeno Os interesses poéticos dos alunos da EJA
(localizado no Estado do Espírito Santo), porém esse fonema aparece mais vezes (2x); apresenta o de superfície, uma vez que as funções centrais são muito diversos: alguns apresentam maior
propondo uma alusão a um signo do zodíaco, paralelismo sintático, reforçando a comparação; dos gêneros citados são referenciais e infor- convívio com letras de canções, seja na forma
que é comumente representado por uma balança. e a valorização do elemento cômico e da ironia. mativas. No caso dos poemas, suas presenças de serestas, rodas de samba, pagode e, no caso
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de muitos jovens, sem prejuízo de outras mani- Proposta de atividades seus autores e ilustradores, suas temáticas e materialidade. Solicitar que
festações, através do rap – neologismo popular As possibilidades dos jogos de linguagem identifiquem aqueles dos quais mais gostaram e dos que não gostaram;
para rhyme and poetry (rima e poesia) – e do são infinitas. Neste texto, vamos nos ater àqueles pedir que, se possível, expliquem os motivos das escolhas (por identifi-
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funk; outros chegam a compor alguns versos; mais usuais e presentes nos poemas estudados, cação, formato, ilustrações, capa, temática etc.).
outros recitam de memória construções poéticas deixando para a argúcia e a criatividade do leitor - Visita à biblioteca: promover um dia de visita à biblioteca para tomar
tradicionais; outros guardam proximidades com a identificação de outros que, porventura, lhe conhecimento dos demais livros de poesia existentes. Solicitar a ajuda da
criações populares, como o cordel e o repente; incitem a imaginação. pessoa responsável pela biblioteca para apresentação do espaço e da forma
e outros, ainda, fazem uso dos cantos religiosos Optamos por trabalhar com dois livros bá- de organização das estantes. Tomar conhecimento dos demais materiais
etc. Certamente, o professor deve estar atento a sicos do acervo: ABC... até Z!, de Bartolomeu existentes na biblioteca, além dos livros (revistas, mapas, CDs, DVDs
este largo espectro de usos poéticos da lingua- Campos de Queirós, como referência inicial etc.). Incentivar a retirada de algum livro como empréstimo domiciliar.
gem para acompanhar as possíveis demandas. para os alunos que se encontram no estágio da - Conhecendo o poeta: levantar junto aos alunos eventuais pessoas que
É preciso considerar o que o educando traz alfabetização, composto, em sua maior parte, por escrevem poesia em seus espaços de convívio, mesmo que não tenham
de repertório, para propor sua ampliação em adultos e idosos; e O Navio Negreiro, contendo o livros publicados, ou buscar algum poeta conhecido que tenha disposição
novas práticas. poema de Castro Alves e sua versão pelo rapper para uma conversa com a turma. Fazer uma roda de bate-papo com o(s)
Como aprendemos a usar a língua, normal- Slim Rimografia, como referência para os alunos poeta(s) convidado(s).
mente, em processos de imersão e repetição, um jovens, que se encontram, predominantemente, - Ouvindo e assistindo poesia: caso seja possível, apresentar, no contex-
segundo passo estratégico, para ampliar a com- no final do segmento correspondente ao Ensino to das aulas de literatura, trechos ou pequenos vídeos e documentários
petência linguística, seria expor o aluno a novos Fundamental e no Ensino Médio. Porém, como sobre poetas e poesia (biografias, recitais, apresentações, entrevistas etc.).
usos lúdico-poéticos (estéticos) da linguagem, as turmas da EJA, de modo geral, apresentam- - Uma poesia por dia: escrever diariamente, em um canto do qua-
por eles desconhecidos. Neste momento, como se heterogêneas, não separamos as atividades, dro, no início das aulas, um verso, uma estrofe ou mesmo um pequeno
parte de um programa de leituras, o estudo de cabendo ao professor adequá-las à sua realidade poema (uma quadra ou haikai, por exemplo). Caso alguém se interesse,
poemas na escola se reveste de um relevante de sala de aula e aos respectivos níveis de ensino. ler o texto/poema e informar o autor e o livro de onde foi retirado.
sentido prático. O poema, por assumir os jogos Numa situação ampliada, possibilitar que os próprios alunos tragam os
de linguagem como elementos predominantes textos a serem transcritos no quadro, espontaneamente ou como algo
de sua realização, constitui-se em um privile- previamente combinado.
giado repositório sugestivo de formas e modos
Haikai: expressão altamente objetiva e sintética de sensações
de uso da linguagem, com alto valor expressivo.
pessoais capturadas por meio de elementos da realidade, sem
Um terceiro passo interessante seria a utili- teorizações abstratas e sentimentalismo exacerbado. Normal-
zação do método da análise comparativa, ou seja, mente, se apresenta no formato de três versos, tradicionalmente
cotejar estruturas identificadas nos poemas com com cinco, sete e cinco sílabas poéticas.
as estruturas dos jogos de linguagem usualmente
presentes nas práticas sociais dos alunos (tro- - Contato com materiais alternativos: muitas vezes, nas grandes e mé-
cadilhos, ditados populares, orações religiosas, dias cidades, os jovens se identificam por meio de uma linguagem pró-
fórmulas bíblicas, títulos de livros, manchetes de pria, veiculada por fanzines, letras de rap xerocadas, folhetos, pequenos
jornais, nomes próprios etc.), como descritas no jornais de bairro, de associações, de sindicatos, de igrejas, e revistas em
item anterior – A linguagem criativa e lúdica Roteiro básico quadrinhos. Com o intuito de valorizar essa variedade linguística e de
no cotidiano. suportes, solicitar aos alunos que tragam para a sala de aula alguns desses
a) Construindo o interesse geral materiais que, porventura, contenham poesias. Após a sua distribuição e
Finalmente, o ensino-aprendizagem da Poe-
pela leitura de poesia (atividades reconhecimento pela turma, providenciar um mural onde esse material
sia na EJA deve colaborar para que jovens, adul-
de aproximação e sensibilização) possa ficar exposto.
tos e idosos compreendam a poesia não só como
parte integrante dos possíveis jogos de lingua- - Contato com os livros do acervo: levar todos
os livros do acervo de poesia do PNBE 2014 b) Adequação ao texto (atividades de constituição do propósito
gem, mas, principalmente, como algo signifi-
para a sala de aula e apresentar aos alunos. Expli- de leitura e de recuperação de conhecimentos prévios)
cativo em suas práticas linguajeiras cotidianas,
expressando valores, reverberando sistemas e car os objetivos do Programa e deixar os alunos - Discutindo os propósitos de leitura: antes de propor qualquer atividade
redes culturais diversas. à vontade para manusear os livros, reconhecendo de leitura, seja de poemas ou de qualquer outro texto, devemos sempre
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apresentar um propósito para esta atividade.Toda a percepção corriqueira das coisas.Tal atividade Trova: única estrofe de quatro versos, normalmente em re-
ação de leitura se guia por um propósito, seja ele deve ser precedida de uma explicação do caráter dondilha maior (sete sílabas poéticas), apresentando um pen-
a busca de uma informação, a conquista de um lúdico-poético desses textos, e posteriormente samento acabado, e rimas geralmente dispostas de forma
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alternada (o primeiro verso rimando com o terceiro, e o
aprendizado, o cumprimento de uma tarefa, e contar com uma explicitação. segundo com o quarto).
até mesmo o simples interesse de passar o tem- Após socializar o material recolhido com
po. No caso da poesia, em nosso cotidiano, esse toda a turma, retomar a construção de um pro- - Solicite aos alunos, em dupla, que identifiquem, nos três quartetos
propósito é construído espontaneamente a partir pósito de leitura dos livros escolhidos para lei- abaixo, seus principais componentes sonoros (rimas, aliterações, ecos etc.)
do gosto e da disposição do leitor, uma vez que tura. No caso do livro do Bartolomeu Campos e que proponham uma explicação para sua utilização, considerando sua
o poema é “incapaz de existir plenamente sem de Queirós, sugerimos partir da sua especifici- participação no conjunto dos respectivos poemas. Em seguida, peça que
a participação ativa do olhar, do ouvido, da voz, dade de gênero poético (abecedário); no caso troquem e discutam suas impressões com outra dupla.
da inteligência e da sensibilidade de um alguém da versão de O Navio Negreiro, atentar para sua
disposto a lê-lo” (ALEIXO, 2013, p. 7). Por sua estrutura composicional (intertextualidade). [1]
vez, na escola, este “gosto” e esta “disposição” Catarina compridona
nem sempre estão garantidos. Na verdade, à c) Leitura propriamente dita dos poemas carrega com cautela
escola cabe, muitas vezes, o papel de indutora Sabemos que ler poesia é também dispor-se o chocalho chocalhando
desse “gosto” e dessa “disposição”. Daí, a res- a uma escuta. Assim, a leitura pode ser feita de na coluna colossal. (p.8)
ponsabilidade de se construir um propósito de várias maneiras, dependendo do momento e de [2]
leitura que se aproxime, tanto quanto possível, suas finalidades. Entre as mais usuais, destacamos: Na balada
dos reais interesses dos alunos. Esta construção a leitura realizada pelo aluno, pelo professor, da casa da macaca
está, portanto, intimamente ligada aos seus co- compartilhada, silenciosa, em voz alta, em casa, a jararaca ataca de faca
nhecimentos prévios, o que a conecta com a em sala de aula e na biblioteca. Após a leitura, rasga a casaca da arara. (p. 4)
atividade sugerida a seguir. sugere-se conversar com os alunos, chamando
- Levantamento dos conhecimentos prévios: de [3]
a atenção para as especificidades da linguagem
acordo com a nossa opção – anunciada no item Querubim
poética: tais como o uso dos estratos fônico e
“A Poesia na Escola” – de trabalhar a poesia – o quadradinho –
imagético; a ocorrência do duplo sentido das
como parte integrante das práticas criativas da se queixa do queijo
palavras; a pluralidade de sentidos do texto poé-
linguagem em nosso cotidiano, e considerando a que quase lhe quebra o queixo! (p. 36)
tico; a expressividade do título do poema etc.
experiência de vida dos alunos da EJA, sugere-se A seguir, algumas atividades nesta direção.
que a turma faça a identificação e o recolhimen- - Em seguida, peça a cada dupla de alunos que dê asas à imaginação
to daqueles textos já descritos anteriormente e crie uma quadrinha, utilizando apenas palavras iniciadas, por exemplo,
Atividades relativas aos jogos com a primeira letra do nome de cada aluno, para ser lida em voz alta
(trocadilhos, ditados populares, frases feitas, frases
de para-choque de caminhão, orações religiosas,
sonoros (estrato fônico) para a turma.
manchetes de jornais, anúncios de propaganda, As quadras ou quadrinhas, também cha- Do livro O Navio Negreiro, adaptado por Slim Rimografia, sele-
nomes próprios etc.) com os quais mantém ou madas de trovas, por sua brevidade e singeleza, cionamos o trecho abaixo, como sugestão para o reconhecimento da
manteve alguma relação. são uma das formas fixas bastante utilizadas no importância das rimas.
Com Oswald de Andrade (ver epígrafe des- cancioneiro popular. Para a formação da sensi-
te capítulo) aprendemos que a poesia pode se bilidade de leitor do aluno de EJA, parece-nos (...)
alojar nos menores e mais prosaicos fatos do fundamental que o mesmo possa comparar esta Tem um pouco de navio negreiro
cotidiano. Por extensão, podemos encontrá-la forma poética, de modo geral, já sua conhecida, Na música, na poesia,
nos mais diversificados suportes. O professor com algumas estrofes de quatro versos (quarte- Na dança, nas artes,
pode estimular os alunos a fazer uma espécie tos) e identificar, nesta forma poética, os jogos E em cada panela vazia.
de pesquisa poética, empreendendo a obser- sonoros (o estrato fônico) que lhe são caracte- Tem um pouco de navio negreiro
vação de muros, outdoors, camisetas, cartazes e rísticos. Na atividade abaixo, os exemplos foram No futebol, no carnaval,
folhetos com o intuito de identificar e anotar retirados do livro ABC... até Z!, de Bartolomeu No azeite de dendê, no acarajé
jogos de sentido que desautomatizem o olhar e Campos de Queirós. E no nosso Código Penal. (p. 23)
32 33

- Solicitar que marquem as palavras rima- - Após a identificação dos termos relaciona- objetivo denunciar, no contexto do Brasil es- (...)
das (poesia/vazia; carnaval/Código Penal). Em dos com a escravidão (senzala, quilombo e navio cravocrata, as terríveis condições de vida a que Negras mulheres suspendendo às tetas
seguida, peça aos alunos para tentar estabelecer negreiro), solicitar que os alunos expliquem as eram submetidos os escravos africanos durante Magras crianças de cujas bocas pretas
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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os vínculos de sentido estabelecidos a partir da novas concepções que essas imagens adquirem, a travessia do Oceano Atlântico. No Brasil atual, Escorre o sangue das mães.
aproximação ocorrida entre as palavras. Pro- na atualidade, a partir do recurso da comparação o rapper Slim Rimografia adaptou o poema de Moças, nuas e espantadas,
fessor(a), esta é uma das principais funções das apresentado (senzala/presídio; quilombo/favela; Castro Alves e o transformou em rap, com o De medo acuadas
rimas: aproximar termos e ideias; estabelecer, a navio negreiro/viaduto). objetivo de denunciar as péssimas condições Em desespero aterradas. (p. 9-21)
partir dos sons, vínculos expressivos entre eles. - Atentar para as rimas, em especial para de vida dos habitantes da periferia das grandes
aquela que aproxima a palavra “favela” do nome cidades brasileiras. - Após terem sido identificadas as semelhan-
Atividades relativas aos jogos de “Mandela”. Pedir aos alunos que estabeleçam ças e diferenças, pedir aos alunos, em dupla, que
Intertextualidade: de modo geral, façam um quadro comparativo, listando, de um
imagens (estrato imagético) uma relação entre elas.
diz respeito ao diálogo estabele-
- Outro recurso que pode ser explorado lado, as passagens do poema original; do outro,
As imagens e metáforas constituem, por cido entre textos diversos; reco-
as passagens adaptadas. Propor uma discussão
assim dizer, o princípio “onipresente” da lin- na segunda estrofe é o paralelismo presente nos nhecimento da referência de um
dois últimos versos. Solicitar que reflitam sobre texto em outro, seja de maneira
a respeito.
guagem.Via de regra, a metáfora é a expressão - Como o mesmo poema foi gravado por
indireta, oblíqua de um pensamento, que co- sua utilização, para reforçar as ideias e imagens direta ou indireta.
apresentadas (lágrima, luto). Caetano Veloso (CD: Livro, Polygram, 1997 –
mumente se expressa por meio da compara- faixa 9), com participação especial de Maria
- Sabemos que a sigla RAP, em inglês, sig- - Solicite aos alunos que leiam os seguintes
ção. Isto quer dizer que é próprio da imagem Bethânia, reproduzir o poema para toda a turma
nifica ritmo e poesia. Caso seja possível, tente trechos retirados, respectivamente, do poema de
e da metáfora designar um processo global e acompanhar a audição das duas performances,
conferir, em sala de aula, o áudio do rap elabo- Castro Alves (em itálico) e do rap adaptado de
de figuração ou de expressão do pensamento a de Slim Rimografia (site da editora) e a de
rado a partir do poema de Castro Alves (consta Slim Rimografia. Em seguida, peça que mos-
(poético ou não), já que podemos entender a Caetano Veloso. Propor uma discussão sobre
no site da editora, conforme indicado na página trem, através das imagens, os principais pontos
metáfora como uma forma de “representar” as várias formas de se tratar um texto (leituras
62 do livro). Tendo como fonte de inspiração de semelhança e de diferença entre eles.
algo simbolicamente. diferentes; versões; paródias; sátiras; adaptações;
As atividades abaixo foram pensadas como o rapper Slim Rimografia, solicitar, aos alunos
`Stamos em pleno mar... Abrindo as velas traduções; mudança de suportes, como livro, site
exercício de identificação do sentido figurado, que se identificam com este gênero musical, que
Ao quente arfar das virações marinhas, e CD etc.). Solicitar que façam ou recolham
com a intenção de que o aluno da EJA estabe- selecionem uma letra de rap para apresentação
Veleiro brigue corre à flor dos mares uma paródia sobre uma música conhecida.
leça pontes entre o sentido literal (denotativo) para a turma. Incentive-os também a criarem o
seu próprio rap. Professor(a), não se esqueça de Como roçam nas vagas as andorinhas...
e o sentido figurado (conotativo), presentes na d) Atividades de apropriação (interpretações)
adaptação do poema O Navio Negreiro, de Castro que, geralmente, os temas escolhidos são aqueles (...)
Após realizadas as leituras, várias são as pos-
Alves, feita pelo rapper Slim Rimografia. que chamam a atenção para os problemas so- Negras mulheres, suspendendo às tetas
sibilidades de consolidação das interpretações
- Solicitar que os alunos identifiquem, nas ciais do País e que, no caso da EJA, estão muito Magras crianças, cujas bocas pretas
realizadas. Entre elas, temos a representação dra-
duas estrofes abaixo, as principais imagens rela- presentes no cotidiano dos alunos. Um detalhe Rega o sangue das mães:
mática, a transposição de gêneros, a elaboração de
cionadas à escravidão e à opressão vividas pelos curioso: pedir aos alunos que tentem explicar o Outras, moças... mas nuas, espantadas,
versões. Sugerimos, entretanto, como uma ativi-
povos africanos em terras brasileiras: nome escolhido pelo autor (uma possibilidade: No turbilhão de espectros arrastadas,
dade integradora das etapas percorridas ao longo
Slim, do inglês, elegante, esbelto, fino; Rimografia Em ânsia de mágoa vãs. (p. 29-33)
de um planejamento, que se promova, na escola,
A senzala virou presídio, = rima + grafia. Daí, por exemplo: rimas gra-
*** uma Semana da Poesia, incorporando, inclusive,
O quilombo é a favela, fadas com elegância); ler os dados biográficos
os produtos elaborados ao longo das atividades.
Os zumbis pelo mundo localizados na página 64 da obra em questão Estamos em pleno mar, - Por ocasião da Semana, incentivar os
São Malcom X, Luther King, Embarcações de ferro e aço, alunos tanto a uma exposição de suas poesias
Zumbis ou Mandelas. Atividades relativas aos jogos de ideias Onde pessoas disputam favoritas, seja da tradição oral, seja da produ-
(...) Como proposta de atividade relativa à in- Palmo a palmo por um espaço. ção escrita, quanto a apresentarem os poetas
É... Tem um pouco de navio negreiro tertextualidade, trabalharemos com o livro O Nesse imenso rio negro conhecidos. Procure igualmente estimular os
Debaixo de cada viaduto, Navio Negreiro. O poema original, de mesmo De piche e asfalto, alunos a reproduzirem suas canções prediletas,
Em cada lágrima derramada, título, foi escrito pelo poeta baiano Antônio Cristo observa tudo calado, do passado e do presente, e a criarem, enfim,
Em cada mãe que veste luto. de Castro Alves, no século XIX; tinha como De braços abertos lá do alto. os seus próprios poemas. Refletir sobre o papel
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e o poder da palavra na construção de sentidos no poema e na vida de


cada um pode ser estimulante. Professores e alunos podem montar um TEMPO DE PROSA
Varal de Poesia, no qual será exposta não só a produção poética da turma,
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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como o material citado acima, bem como as pesquisas realizadas sobre Luciene Juliano Simões 1
os textos lúdicos que frequentam o cotidiano de todos.
- Havendo interesse, incentivar os alunos a montarem, ao final do
ano, cadernos ou livrinhos xerocados, reunindo todo o material (poemas,
produtos das atividades, resultados de pesquisas) por eles selecionado.

***
Caro(a) professor(a), 1. Aprendizagem da literatura para educar(-se)
Chegamos ao final, com uma última sugestão: faça, das propostas de
atividade apresentadas, o uso que melhor convier aos seus planos de aula.
Essas vidas exigem respostas no plano da educação, dos valores
Estes, sim, são os mais importantes. Nenhuma atividade, por si só, é capaz de e do sentido do bem e do mal. Da ética ou da falta de ética de
assegurar o ensino-aprendizagem da poesia ou de qualquer outro saber esco- nossa sociedade. Não é por acaso que a letra E de EJA não é
larizado. Neste sentido, concluímos retomando as palavras de Cosson (2006, de ensino, mas de educação de jovens e adultos.
p. 121), por ocasião da apresentação de um conjunto de oficinas literárias: Miguel Arroyo (2011).
Para nós, o importante é que o professor perceba que essas
atividades são possibilidades que só adquirem força educacional
Este capítulo, como de resto este guia, pretende, acima de tudo, entabular
quando inseridas em um objetivo claro sobre o que ensinar
e por que ensinar desta ou daquela maneira, isto é, elas (as
uma conversa com você leitor sobre como mobilizar o acervo do PNBE
atividades) devem estar integradas em um todo significativo, para sua efetiva leitura em sua escola, na Educação de Jovens e Adultos
no nosso caso, a sequência básica ou a expandida ou outra (daqui em diante, EJA). Mas antes de fazer minhas sugestões sobre como
criada pelo professor. Sem uma direção teórica e metodológica as intervenções dos educadores podem contribuir para tanto e, acima de
estabelecida, podem até entreter os alunos e diverti-los, mas tudo, para que se instituam, na escola, práticas de leitura literária qualificadas,
certamente não apresentarão a efetividade esperada de uma parece fundamental fazer uma digressão inicial sobre o que as propostas
estratégia educacional. É por isso que as tomamos como indi-
contidas aqui pressupõem acerca da aprendizagem da literatura na EJA.
cações para que o professor, de acordo com sua perspectiva de
letramento literário, desenvolva suas aulas. São, assim, esboços
de um desenho que só se concretiza no fazer cotidiano da aula. Modalidade de ensino:
Que essas estratégias sirvam de inspiração para novas e tantas EJA (Educação de
outras formas de desenvolver a competência de ler na escola! Jovens e Adultos).

Com essas palavras, convidamos você, professor(a), a fazer da poesia


não só um objeto de estudo escolar, mas algo significativo nas práticas
sociais linguajeiras dos seus alunos. Mãos à obra!

Referências bibliográficas
ALEIXO, Ricardo. Mundo palavreado. Ilustrado por Silvana Beraldo. São
Paulo: Peirópolis, 2013.
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. ABC... até Z! Ilustrado por Júlia
Bianchi. São Paulo: Dibra, 2013.
RIMOGRAFIA, Slim. O Navio Negreiro [adaptação]. Ilustrado por Grupo 1
Professora Associada do Instituto de Letras UFRGS e doutora em Linguística e Letras
Opni. São Paulo: Guia dos Curiosos Comunicações, 2013. pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
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Esses pressupostos estão organizados em três de mundo consolidadas e de construir novos de forma ativa, suas próprias relações: Que pre- proporciona na escola será nosso principal rito
eixos, expressos por meio das seguintes pergun- modos de ver o mundo e estar nele. Essa expe- visões este texto implica? Com que outros tex- pedagógico, por meio do qual poderemos, na
tas: Qual a função da educação escolar no que riência, contudo, não prescinde de mediação. tos está relacionado? Que conhecimentos ele prática de sala de aula ou nos círculos de leitura
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concerne à literatura? O que é ler literatura na Três práticas são interdependentes para pressupõe e oferece? Qual seu sentido global? e outras atividades culturais oferecidas em outros
escola? Como o saber literário se torna relevante uma escolarização satisfatória da leitura literária Além disso, a leitura pressupõe usos, ou pro- espaços da escola, projetar na atividade conjunta
para os sujeitos da EJA? São perguntas, eviden- (SOARES, 2006): 1) o encontro individual e pósitos: Para que leio? Por fim, a leitura implica e pública a imagem do leitor, a um só tempo,
temente, solidárias. Poderíamos, por exemplo, singular com a obra; 2) o compartilhamento da sempre atitude crítica, ligada ao diálogo: todo decifrador, participante, usuário e respondente.
analisar suas relações de tal modo que a resposta leitura em uma comunidade de leitores que, jun- texto tem um autor e, portanto, foi escrito a partir A essa altura foi possível notar que parto de
da terceira criasse condições para o tratamento tos, conquistam experimentar a diversificação das de certo ponto de vista, o que vale dizer que está uma posição acerca da literatura na escola para
da primeira, pois esta permite associar a visão interpretações que o texto literário implica; e 3) carregado de ideologia e fala de algo, mas indis- a qual as práticas de leitura, encarnadas nos su-
da escolarização na EJA com a concepção de a busca de conhecimentos sobre como a huma- sociavelmente expressa os valores que constituem jeitos leitores, são centrais. Essa atitude encontra
educação escolar em literatura. Por sua vez, a nidade se valeu dessa experiência, de criação e seu tema. Nesse sentido, a leitura é prática crítica; eco e está entrecruzada de modo vigoroso com
segunda pergunta é fruto da específica resposta de leitura literárias, através dos tempos; ou seja, logo, analítica: Que pontos de vista e valores es- o que se tem discutido sobre a constituição da
que dou para a primeira. Mas que específica o vínculo do grupo com o conhecimento sobre tão aqui implicados e como me posiciono com EJA neste ponto de nossa história comum, de
resposta? A de que a leitura do livro é a atividade literatura. Essas práticas podem ser garantidas relação a essa rede de valores? Como, a partir da brasileiros. Os pensadores da Educação de Jovens
primeira da formação escolar para a literatura. pela escola, desde que os mediadores de leitura leitura, reconstruo meu lugar no mundo? e Adultos têm frisado insistentemente o quanto
Todas as propostas a serem discutidas aqui pas- busquem, intencionalmente, aliar aos livros suas Talvez essa ruptura com valores engessados a atenção aos sujeitos da EJA é a chave para uma
sarão pela necessária leitura de obras literárias, intervenções, para criar contextos nos quais os e essa construção de um “novo lugar” sejam construção da identidade dessa modalidade de
sejam mais breves, sejam mais longas. Embora educandos possam compartilhar suas leituras com de fato de extrema relevância. Penso aqui ser educação escolar. Quem são esses jovens e esses
seja fundamental pensar que na escola se faz os demais e possam encontrar relevância na re- importante lembrar a ideia de leitura como adultos? E o que significa para esses sujeitos
mais do que ler os textos literários (o que, afi- flexão e na busca de informações sobre literatura resposta ao texto, que fundamenta a discussão voltar à/estar na escola? O que buscam e o que
nal, pode ser uma prática presente em tantos (ver COLOMER, 2007). É importante ressalvar de Bakhtin (2003). Esse autor enfatiza o equí- podemos buscar com eles? A anáfora que inicia
outros contextos), isto é, não se prescinde da (e ressaltar), contudo, que essas intervenções nada voco de se pensar no leitor como um receptor a epígrafe de Miguel Arroyo nesta seção – “Essas
relação direta e significativa entre o leitor em poderão fazer pelos educandos se estes não pu- passivo, pois práticas passivas não são práticas de vidas” – refere-se exatamente a esses sujeitos,
formação e a obra. derem, por meio da escola, ter seu tempo, seu leitura. Ler é ter atitude responsiva; é produzir, que revelam o impacto de suas histórias coletivas
Mas, de fato, cumpre à escola ir além da espaço e seus livros para ler. ainda que internamente, discursos que dialogam para a compreensão da educação no Brasil: sua
mera leitura, principalmente da mera leitura de Nesse sentido, cabe aqui explicitar nossa com o texto. trajetória escolar, tantas vezes dita irregular, não
entretenimento.A fruição e o prazer associados à concepção de leitura como prática que implica Você verá, em seguida, que as propostas pode ser dissociada de sua história social, de sua
arte literária estão no centro das práticas; e que- a decodificação, a participação, o uso e a crítica. feitas buscam intercalar constantemente a leitura raça, de sua classe, de seu gênero. A EJA exige
remos dar acesso à fruição, o que implica em dar Essa concepção de leitura parte de dois auto- com a produção e o compartilhamento, pelos a invenção de uma concepção de currículo
liberdade ao leitor. Contudo, a meta é, por meio res de língua inglesa, Luke e Freebody (1999), educandos, de novos discursos, se possível es- positiva, no sentido de estar vinculada, quanto
de um conjunto mais amplo e diversificado de mas tem sido discutida por diversos autores em critos. É, portanto, central para nossa proposta ao literário, ao que sabem, desejam saber e têm
práticas, contribuir para formar um leitor que português, como por exemplo, Schlatter (2009) conceber a leitura como conquista de novos direito a vir a saber os educandos, e não pensado
passou pela aprendizagem da literatura, direito ou Dionísio (2008). Conforme esses autores, ler recursos discursivos para a ação social, para a negativamente em contraste com uma educação
de quem procura a escola intencionalmente, é um complexo de práticas não lineares, nem intervenção e para a interpretação reflexiva, escolar chamada de “regular” e tomada como
como o educando da EJA. ordenadas, e sempre solidárias, que envolvem intencional e qualificada de si mesmo e da vida. pano de fundo ideal(izado).
Essa aprendizagem passa pela reconstrução quatro dimensões. Uma das dimensões é a de- Enfim, a experiência subjetiva de apropriação Ao mesmo tempo, vemos hoje na EJA a
artística e estética da própria linguagem pro- cifração do código: o que está escrito aqui? Outra e resposta interior ao texto é definidora em relevância do conceito de juventudes. Cada vez
porcionada pela experiência literária. Cosson é a compreensão do decifrado e a construção do literatura, com sua abertura para a variedade mais, enfatiza-se, no campo, o protagonismo dos
(2009) enfatiza essa reconstrução ao definir o sentido, que passa por atividades de vinculação de sentidos que os textos suscitam. Isso não jovens que estão na EJA quando se observam
letramento literário. A literatura representa a do texto ao contexto. Tal vinculação depende significa, entretanto, que a escola possa se con- as práticas que lhe são relevantes socialmente,
superação constante das rotinas do dizer que os da participação do leitor, pois este estabelecerá, tentar com a “privatização” das respostas. O fora da escola. O campo das artes, nesse sentido,
demais usos da linguagem impõem, proporcio- a partir de seu repertório de leituras e conhe- letramento literário está associado a práticas tem relevo, especialmente a música e algumas
nando, por meio da fabulação e da invenção da cimentos, aqueles elementos relevantes para a que são coletivas, e o compartilhamento das formas de expressão em artes visuais e dança
palavra, modos de romper com as compreensões contextualização do texto lido, estabelecendo, diversas respostas que a diversidade de leitores (ver DAYRELL, 2011; e ANDRADE, 2010).
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E quanto à literatura? O que oferecem e de- tais apenas nos sistemas formados pelos textos Procure antecipar ou intercalar a leitu- contem suas histórias; a narrativa é parte da
mandam os jovens da EJA? Remeto o leitor a literários. Assim, nada disso será útil se não fizer ra deste capítulo com a leitura das obras. Os vida dos grupos humanos. Agora reflita: Que
dois autores – (SANTOS et al., 2011) e (BEN- sentido para você, e a memória das obras de acervos em prosa do PNBE estão organizados histórias são intercambiadas entre você e seus
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VENUTTI, 2012) –, às suas boas reflexões sobre literatura é fundamental para que esses sentidos em dois conjuntos de livros, e talvez sua esco- alunos? Por meio de que práticas culturais e ar-
a função da EJA e as consequências dessa função se construam. la tenha recebido apenas um deles (verifique). tísticas? Inúmeros autores e grandes pensadores
para um projeto pedagógico. Por essa razão, é importante você estabelecer Desse modo, é possível que eu me detenha em têm estudado o fenômeno da narrativa, tal é sua
Enfim, busco privilegiar aqui leituras que ligações entre sua própria experiência de leitura comentar alguma obra que você não tem. Daí importância para entender o ser humano. Para
proporcionem fruição, engajamento e respostas e as indicações que serão aqui oferecidas sobre a importância da visão geral e da escolha, por chegar a eles, cito como fontes introdutórias e/
ativas, para que os jovens e os adultos que de os gêneros e as obras. Ao planejar o ensino, em você, de alguns textos para ler. Com certeza, as ou sintéticas, bem acessíveis, Culler (1999), Pau-
fato estão com você instituam comunidades língua e literatura, ou a mediação da leitura lite- propostas e exposições que são aqui exempli- lino (2003) e os capítulos acerca das narrativas
de aprendizagem, que interagem com e entre rária em encontros que não a aula, o passo mais ficadas em torno de uma obra serão também em Ramos e Panozzo (2011), especialmente
livros literários. Daí a importância da indagação: fundamental é o contato do educador com (os) passíveis de compreensão e avaliação por você a porque neste último livro você vai encontrar
O que pode fazer a literatura por esses sujeitos? textos. Não é possível tomar as boas decisões, partir da leitura de outras obras – por exemplo, relatos reflexivos sobre atividades escolares li-
É para que os educandos possam construir, na por mais que eu esteja atento aos educandos, se as que sua escola de fato recebeu. gadas às narrativas.
escola, um projeto de si vinculado, também, ao as diversas manifestações literárias implicadas no Então, a prosa. Vamos começar colocan- Mas o que mesmo determina que algo seja
conhecimento da literatura que dedico aqui planejamento não estiverem circulando inten- do na nossa mesa de discussão três contos do assim, digno de contar? É evidente que isso
todo o esforço empreendido. samente em minha memória recente e sendo acervo: De quanta terra precisa o homem?, de Liev vai variar de um contexto a outro, mas muitos
E você? Parece-me que as perguntas cujas manuseadas. Então, antes de dar prosseguimento Tolstói, adaptado e ilustrado por Cárcamo;‘São têm apontado como fundamental, ao definir o
respostas persegui até aqui são relevantes para à leitura deste capítulo, vai ser importante: José dos Ausentes’, de Cíntia Moscovitch, parte discurso narrativo, a presença de um desequilí-
todos os grupos de mediadores escolares da da coleção Bem-vindo: histórias com as cidades de brio que vai dar lugar a uma transformação dos
• Ler as informações gerais sobre as obras
leitura literária. Por isso, seria proveitoso que nomes mais bonitos e misteriosos do Brasil, organi- envolvidos na história. Enfim, teremos, numa
em prosa, com as imagens das capas, que
seu grupo tirasse um tempo de estudo conjunto zada por Fabrício Carpinejar; e ‘Constrangida’, narrativa, um personagem confrontado com um
estão neste guia e, em seguida, procurar
na escola para pensar no mais fundamental dos um dos minicontos do livro Adeus conto de fadas, conflito; ao longo da história, acompanharemos
o acervo do PNBE. Observe: Os livros
pressupostos: Qual é a nossa concepção de for- de Leonardo Brasiliense. O que têm todas essas sua trajetória e veremos como passa pelo confli-
estão disponíveis nas estantes da biblioteca
mação do leitor literário, nesta escola de EJA? histórias em comum? Em que se distinguem? to e se transforma; tal transformação pode tomar
e organizados de modo acessível?
Veja, já comecei colocando-as todas num con- a forma da superação, ou de uma reparação,
• Começar logo a ler extensivamente e, se junto: o das histórias. Agora que também leu, do declínio ou mesmo do castigo; pode ainda
2. Os gêneros em prosa e seus usos
possível, integralmente, o maior número pergunte-se: você concorda? São “histórias” para representar o deslocamento de toda uma visão
Metade da arte narrativa
de obras possível. Será fundamental ler você, apesar de todas as suas diferenças? de mundo, sem que de fato nada de externo ao
está em, ao comunicar uma integralmente pelo menos alguns livros A prática de compartilhar histórias parece ser sujeito mude. De qualquer modo, o núcleo do
história, evitar explicações. escolhidos; enfim, se você está se pro- chave para entender este acervo em prosa. Por narrável parece ser a provocação e o desfecho
Walter Benjamin (2012).
pondo a construir com seus alunos um essa razão, para falar aqui em prosa literária vou traz uma mudança significativa. Retorne aos
projeto de leitura de textos em prosa no privilegiar a narrativa, uma vez que essa estratégia textos supracitados. Veja como nos três vemos
Como sempre, julgo que o início de qual- semestre, cai bem tornar essa leitura parte vai lançar luz sobre a maior parte das obras que personagens em confronto com suas condições
quer reflexão é uma boa pergunta: Que sentido do seu cotidiano também; compõem os acervos de prosa do PNBE 2014. de existência.Todos fazem pensar, não é mesmo?
têm os textos em prosa na minha história e no • Dar uma boa olhada nos livros se você A narrativa está em ligação direta com a E o fazem de modos bem distintos.
meu tempo presente? Começo a seção com não tem tempo para a leitura extensiva atividade de relatar o incomum, o digno de ser Os três contos em questão são narrativas
esta pergunta, primeiro, porque as leituras em e integral do conjunto: Quais são os tí- destacado e compartilhado, para construir entre de ficção. E não há dúvida de que o terreno da
prosa que você fez e segue fazendo dizem mais tulos e autores? Que informações posso os seres humanos seu senso coletivo do que é a ficção é central para entendermos a narrativa
desse gênero do que todas as explicações. Não encontrar nas orelhas e prefácios? Que vida, num sentido cultural geral; a narrativa tem literária. A fabulação tem sido uma das formas
será também assim com seus alunos? Também impactos me causam as capas? Que me também a função de (re)construir verbalmente mais constantes de o ser humano se entender
porque a história e a crítica literária recortam dizem das obras? O que aprendo sobre a a memória, para integrar uma parte importante com seu mundo interno e externo. Na narra-
‘prosa’ como um termo técnico, um rótulo, obra dando uma lida, “em diagonal”, em do que o indivíduo e as coletividades reconhe- tiva ficcional, proporcionamos a nós mesmos
talvez um gênero com subgêneros, mas que seu miolo? Nessa olhada geral, tenha os cem como suas identidades. Não se conhece a plena liberdade de reconstruir o mundo de
compreende conjuntos que funcionam como alunos em mente e faça anotações. comunidade de homens e mulheres que não tal forma que nosso questionamento acerca da
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vida seja disposto de maneira clara e possamos, diante, veremos Pahkóm cair nas tentações do determinado, o do narrador, e, como sabemos,
por via desse modo peculiar de interpretar a vida, diabo e perder-se em desmedida ambição, até no vivido, não há esse princípio organizador.
resolver nossos enfrentamentos com certas di- seu total aniquilamento no desfecho. E o que Além do narrador, os personagens são ele-
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mensões fundamentais da existência. Entra aí mais vamos construir com este sábio narrador sobre mentos fundamentais nas narrativas. A recons-
um elemento constitutivo da prosa em literatura, a ambição humana terá sido proporcionado pela tituição das pessoas (ou mesmo de animais ou
quando ficcional: seus sentidos dependem de o sua habilidade em nos envolver numa história objetos aos quais se emprestam características
leitor aceitar o pacto ficcional, o que está relacio- que nos faz crer até no diabo! E, o que é melhor, quase humanas) em personagens de uma história
nado à verossimilhança. sem dar qualquer explicação, nem sobre o que é um passo formal importante nas narrativas,
A história é, nesse caso, liminarmente, tomada é o demasiado na ambição, nem sobre o diabo... uma vez que são os personagens protagonistas,
como não verdadeira, mas seu universo é coerente O restante do acervo que você está receben- por vezes apenas um, que passam pela transfor-
e verossímil, configurando, pelas suas semelhanças e diferenças com relação do se constitui majoritariamente de narrativas mação que dá sentido ao todo do texto, o que
ao real, um mundo inventado no qual questionamentos sobre o mundo real literárias ficcionais, nas quais índices importantes é central captar na leitura. Além disso, a seleção
podem ser postos e, de algum modo, respondidos.Veja o caso da história para a constituição dos sistemas literários, dentro feita de traços e ações para construir os persona-
contada pelo narrador de Tolstói. Começamos com uma orientação, em do universo da prosa, estão bem representados. gens e o quanto se adentra em sua subjetividade
princípio, bem reconhecível em nossa realidade: “A irmã mais velha foi O contraste com um dos outros contos já servirá pelo discurso vai ter muitas consequências para
visitar a irmã mais nova”. Ou seja, isso poderia acontecer com você e eu, é para dar a você uma amostra dessa diversidade. os modos de dizer nas histórias contadas; enfim,
uma cena comum da vida humana, descrita de modo breve e corriqueiro. Veja como o encontro entre um atendente de vai distinguir diferentes tipos de narrativas.
Mas logo, logo, entra em ação todo um mundo de referência mais específico, farmácia e uma jovem, contado de modo ex- Por fim, são importantes nas narrativas o
em que a linguagem e seu universo instauram distância:“Pahkóm, o dono tremamente sintético em ‘Constrangida’, revira cenário e o tempo. Os elementos de cenário
da casa, estava sentado perto da lareira e ouvia as duas irmãs tagarelarem”. nossa visão sobre como a cultura que nos cerca selecionados dizem muito dos personagens e
Não há muitos Pahkóm entre nós e, para a maioria dos leitores da EJA, lida com a sexualidade das jovens, e todas as con- dos conflitos por eles vividos. Essa seleção vai
não há lareiras, e para outros tantos, nem mesmo casas com ‘donos’. Ainda sequências disso. Como nos faz rever as histórias localizar os personagens socialmente e permitir
assim, tudo pode ser entendido e aceito, em sua concretude e prosaísmo, de muitas jovens que estão com você na EJA, que o leitor reconstrua os modos como se rela-
o que envolve o leitor numa atmosfera determinada. ou até mesmo das mulheres que foram jovens cionam; muitas vezes, também, o cenário vai dar
Começamos aqui a ver em ação o encantamento da literatura de mães e agora voltam à escola. A transformação pistas acerca de nuanças importantes na trajetó-
ficção, que nos permite viver outros mundos e outras vidas num breve na relação entre os dois personagens naquele ria desses personagens, sinalizando o que se está
lampejo de imaginação. Tanto que, mais adiante, ainda, vem o impossível: breve encontro é a transformação do leitor, não passando com eles e até mesmo como se sentem.
o narrador nos informa que o diabo estivera ali o tempo todo, ouvin- é mesmo? Entretanto, é uma cena comum, de Por fim, o tempo da narrativa, que não coincide
do a conversa, e decidira medir forças com nosso protagonista. Daí em todo dia. E nada há de mágico; e nada, efetiva- com o tempo da narração ou da leitura, orga-
mente, acontece ou muda nas condições externas niza internamente, na história contada, o fluxo
de vida dos personagens. Mas há um percurso e das ações e dos eventos. As temporalidades são
um denso acontecimento, em parcas sete linhas fundamentais para construir o conflito central
de texto e um título. que dá lugar a transformações na história. Além
Enfim, para expressar esse núcleo, que é o disso, é um trunfo formal importante para o con-
conflito e seu desfecho, a narrativa constitui-se, traste entre o que é e o que não é revelado ao
em sua composição, de alguns elementos estru- leitor a qualquer ponto do desenrolar da história.
turantes fundamentais, e suas formas distintas Isso suscita a questão dos vazios, dos implícitos
vão contar com variadas maneiras de combinar e dos mistérios, fundamentais para a construção
consistentemente esses elementos. Primeiro, o da tensão na narrativa, e de resto para o que é
narrador; este funciona como um princípio cerne na criação literária. Primeiro, esse jogo de
organizador do campo de referência, que vai suspense vai contribuir para capturar o leitor e
dar à matéria narrada um foco, um posto de levá-lo a participar ativamente do desenrolar da
observação a partir do qual os demais elementos história.Além disso e principalmente, o não dito
serão dispostos. Nas narrações, a vida aparece está no cerne do literário, discurso da abertura
inquirida e interpretada a partir de um olhar por excelência.
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O equilíbrio entre o que é e não é explici- beleza do uso do pé de alfazema para construir próprias descobertas, e no curso delas, darmos • Esses livros podem ser lidos por eles au-
tado numa narrativa literária é crucial para dar na narração o caráter do personagem); sabemos nossos recados (explícita ou tacitamente). Nessa tonomamente ou com minha mediação?
espaço ao leitor e cumprir a função de produ- o quanto está apartado de seu filho e enxer- direção, compartilho aqui uma possibilidade • Sua leitura apresenta desafios, de modo que
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ção singular e imaginativa de sentido que lhe gamos a coerência de sua decisão de barrar a de planejamento do trabalho com alguns dos além da fruição direta da obra sirvam a no-
é peculiar. Por fim, os elementos estruturais visita dele e seguir só com Astro, em sua dor. livros do acervo, buscando ampliar exemplos vas oportunidades de letramento literário?
podem ter disposição mais ou menos linear, Ao mesmo tempo, quanta coisa não sabemos, na direção de perguntas que revelam princípios • Proporcionam, no sentido subjetivo e
mais ou menos evocativa ou fragmentária, mais quanta coisa é elíptica, apenas sugerida e, por para a intervenção didática em torno da leitura coletivo, aprendizagens relevantes para
ou menos controladora dos sentidos por meio vezes, evocada já no final da história! Quase no literária na escola, mais particularmente na sala suas vidas?
de explicitações. Tais diferenças vão determinar fim do conto, Ernesto diz a Astro:“É, hoje faz 4 de aula. Nesse caso, deixo para você a tarefa de
• Proporcionam aprendizagens relevantes
diversas formas de narrativa. anos.” E isso é todo o detalhamento que temos pensar em como as ideias poderiam servir a
ao projeto escolar de ensino de literatura?
Compare, por exemplo, os contos mais linea- de algo de muito importante que aconteceu a outros espaços escolares.
res e tradicionais do acervo, como o de Tolstói, esta família, e que podemos supor, seja a perda Essas perguntas enfatizam dois princípios
com outros não lineares, mais breves, evoca- de alguém. Da mãe? Os livros selecionados fundamentais. Primeiro, sempre que nosso pro-
tivos e cheios de implícitos, como o de Cíntia Vamos dizer, então, que no acervo há dois jeto de leitura implicar escolhas feitas por nós
Moscovitch. Ao contrário do conto de Tolstói, grupos de narrativas em prosa que nos inte- e não a livre escolha pelos alunos, é preciso de
muito enraizado nos contos populares orais, o ressam. Os contos populares tradicionais e os fato que sejam escolhas intencionais. Isso im-
de Cíntia Moscovitch é um conto da escrita contos literários contemporâneos. Suas diferen- plica estar em constante contato com os livros
por excelência. Se fôssemos recontá-lo, como ças estruturais estão intimamente relacionadas e manter dinâmico nosso repertório literário
dizê-lo? Este faz parte de uma família de contos com a história da literatura e com as diferentes – que cresce na leitura de novas obras, se re-
feitos para ler em silêncio; é um conto literário práticas de leitura que supõem, se é que no caso força na releitura e oferece condições cada vez
contemporâneo, herdeiro da prosa moderna. dos contos populares se pode falar simplesmente melhores para nosso discernimento. Além disso,
Assim, ainda que na sua brevidade e na narração de leitura. Ambos os grupos estão representados o jogo de escolher para mediar o letramento
de um episódio de transformação nítido esta por vários títulos do acervo e vamos retomá-los literário considera o conhecimento que temos
história seja um conto, a linguagem narrativa nas propostas a seguir, procurando dispor nossa de literatura e os leitores em formação visados.
surge de outros modos e produz outros efeitos, atividade de leitura na escola de tal forma que Começo indicando as obras que serão mo- As práticas de leitura e as
distintos de nossa história russa. Primeiro, não os estudantes possam investigar esses modos de tivo de sugestões e discussão mais extensa: Aisja, aprendizagens da e na leitura
se distingue uma sabedoria geral, que emana de contar histórias, em suas relações entre si e em conto de Pieter van Oudheusden, ilustrado por
uma tradição sobre o justo e o bom. A narrativa suas relações com a vida. Proponho que os livros sejam vistos na for-
Stefanie de Graef; e As cores da escravidão, de Ieda
aqui serve a uma espécie de investigação sobre ma de um conjunto concatenado de obras, e que
de Oliveira, com ilustrações de Rogério Borges.
o sentido da vida, e podemos, nós leitores, dela essa visão ampare o planejamento.Tal conjunto
3. Histórias memoráveis No curso dos comentários sobre a leitura escolar
tirar inúmeras conclusões. pode ser, inclusive, enriquecido por mais títulos,
dessas obras, outras serão citadas, sempre tendo
Este conto nos fala de um dia na vida do Em suma, o leitor se lê. tornando o repertório mais amplo, seja para
em vista os acervos do PNBE 2014.
“velho” Ernesto, que vive numa cidade fria com Vera Teixeira Aguiar (2006). permitir escolhas pelos estudantes em diferen-
Com relação ao conjunto de obras escolhi- tes momentos, seja para tornar a prática de ler
seu cachorro Astro. O conflito central colocado Tudo o que não invento é falso. das: Por que escolhi essas obras? Há um conjunto
está no rumo tomado pelo filho, que se foi para mais extensa, com maior diversidade de textos
Manoel de Barros (2006). de razões; vou comentá-las à medida que apre-
a cidade grande, e na atitude que vai tomar o conhecidos ao final do percurso. No mínimo,
sento os passos do projeto de leitura. Mas antes suponho as seguintes práticas:
protagonista com relação a isso. A história é Como converter em trabalho do leitor os
de conhecer minhas razões, seria muito rico você
radicalmente singular e vivida por personagens pressupostos e os conhecimentos que comparti- • Leitura integral da obra Aisja, em aula, com
refletir sobre suas próprias razões de escolha de
densamente constituídos. Nosso protagonista lhamos sobre prosa, por meio de boas propostas mediação da compreensão pelos alunos do
obras literárias, se possível em diálogo com os
têm um nome e um caráter. Tudo na história, de atividade em sala de aula e fora dela? Desta texto verbal-visual; atividades de estudo do
bons parceiros de sua prática de docência escolar:
a relação entre uns personagens e outros, os vez, esta é a pergunta norteadora para nosso texto e do gênero, seguidas de releitura e fe-
elementos do cenário, a descrição dos aconte- diálogo, a partir do seguinte princípio: o valor de • Esses livros atendem às necessidades e aos chamento do ciclo, tendo como atividade um
cimentos e cenas, nos leva a conhecer alguém nosso conhecimento teórico e técnico não está interesses dos meus alunos? Se levar esses círculo de reconto de histórias populares pelos
em suas entranhas: sabemos bem, ao final do em ser repetido aos alunos, mas em nos tornar livros para a sala de aula, estarei escolhen- alunos – com reconto de O gato de botas e
conto, quem é Ernesto (veja, por exemplo, a capazes de propor atividades que viabilizem suas do para mim ou para os alunos? busca de imagens relacionadas a esse conto;
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• Leitura de, pelo menos, mais um conto breve, escolhido pelo aluno, Aisja e os contos populares
seja este outro conto popular dos acervos, seja parte das coleções de Já tínhamos, na sessão anterior, falado um Aisja. Os acervos contam também com a obra
contos contemporâneos; pouco de um conto relativamente extenso: De organizada por Ricardo Azevedo, Cultura da terra,
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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• Leitura integral de As cores da escravidão; compartilhamento das leituras quanta terra precisa o homem? Como você pôde que contém contos de tradição popular. Há, ain-
em dois intervalos (os intervalos dizem respeito ao prazo dado para a sentir, se fez a leitura, o narrador de Tolstói, da, uma edição de contos enraizados na tradição
leitura de uma parte da obra e a uma aula ou encontro, ao fim desse nesse conto, nos leva pela mão por uma histó- popular e escritos por um dos mais consagrados
prazo, para compartilhar o lido); fechamento com a escrita por cada ria que vai se desenrolando cronologicamente, autores literários brasileiros: Graciliano Ramos;
um dos alunos de um texto, a partir de uma memória suscitada por afastando cada vez mais o protagonista da vida trata-se de Alexandre e outros heróis.
qualquer das leituras realizadas: um texto de memória literária. Sugiro rural de camponês pacato, logo anunciada no Sugiro aqui que apenas um conto seja lido
que a leitura literária se contextualize num projeto de trabalho, cujo início como humilde, mas livre do medo.Todo e trabalhado de modo mais detido. Caso Aisja
produto final seja uma “Caixa da Memória Suscitada”, a ser lançada o necessário é dito, com economia e linearidade. não esteja em sua escola, ou você considere
numa culminância pública do projeto – um sarau, uma atividade du- Além de Pahkóm, praticamente ninguém qualquer uma das outras histórias mais ade-
rante a Feira do Livro escolar, uma mostra artística na escola, entre mais é nomeado, os demais personagens são quada, faça sua opção – excelentes livros estão
outras possibilidades. arquétipos – a mulher, dona de propriedade, um disponíveis. A condição indispensável para a
velho soldado aposentado, o viajante, o foras- seleção nesta primeira etapa é que um bom
Este seria um exemplo de projeto de leitura para o semestre, o qual
teiro, o chefe dos nômades, e assim por diante. representante das formas simples da narrativa
poderia ser articulado a um projeto de escrita. Podem ser feitas, com
E como vamos conhecê-los? Ao protagonista, popular esteja no centro do trabalho. De resto,
relação a isso, as seguintes perguntas:
eminentemente por suas ações. O cenário serve uma ótima ideia é trazê-los todos para a sala a
• Meus alunos lerão um livro inteiro, de modo autônomo? Como e onde? como moldura genérica de um mundo rural cada aula e deixá-los num canto de leitura para
• Posso dispor de três tempos de aula, no mínimo, para completar as remoto e imutável. Aos demais personagens, que ocupem tempos livres que por ventura sur-
atividades com Aisja (ou com o conto popular alternativo, de minha conhecemos tão somente por ocuparem um jam. Mas aqui entra uma pergunta importante:
escolha)? papel, são personagens funcionais. Por fim, não posso dispor minha sala de modo a ter um canto
• Posso organizar minhas aulas de modo que haja disponibilidade de livros há como negar que temos aqui um claro con- de leitura? Se não, há algum espaço na escola
e de tempo para que os alunos escolham um conto a mais, e leiam? selho, bem motivado pela trama e implícito, mas que poderia ser ambientado para isso? Qual?
reconhecível, no castigo que tem nosso voraz Será melhor combinar com a bibliotecária, e
• Posso dispor das aulas necessárias para motivar a leitura integral do livro
Pahkóm no final da história. colocar os livros escolhidos a cada bloco de
recomendado aos estudantes e fazê-lo em dois intervalos?
Esse conto, de autoria de um autor consa- propostas de leitura literária numa estante e ter
• Haverá produção de textos após a leitura? Quanto tempo vou dedicar grado da literatura universal, na verdade retoma perto desta uma mesa ou um sofá para leitura?
à produção de textos? Este será também um projeto de escrita, com as formas do conto popular. Ao terminar de ler Favoreço, nesta proposta, a manutenção de
estudo do gênero, produção e reescrita? Ou vou solicitar a escrita da a história, estamos prontos para recontá-la. Uma um canto para leitura na sala de aula. A sugestão
história suscitada de modo menos ambicioso, para fechar o ciclo da das características importantes dos contos po- é que conjuntos de livros relacionados com o
leitura com uma resposta compartilhada e seu registro, sem realizar o pulares é que nascem das práticas culturais orais que está sendo feito sempre sejam trazidos para
projeto da “Caixa”?2 de contar histórias. Isso está de vários modos a sala e que uma mesa fique reservada para isso.
Estou certa de que você tem toda a autonomia, como autor de sua inscrito em suas formas. Mas o mais importan- Penso que os jovens e adultos trabalhadores
própria docência, para responder a todas essas perguntas. Contudo, é te: esses contos legitimam a prática de dizer os podem ter muito pouco tempo fora da sala
sempre bom enfatizar que essas perguntas remetem a um planejamento: textos em sala de aula, realizando coletivamente de aula para ler. Por isso, reflita: será que não
para desenvolver esse projeto você precisará de tempo com os alunos, o a leitura. Partiremos daí. poderia haver alternância entre leitura e outras
que deve estar previsto em seus planos de ensino. Além disso, a proposta Esse gênero está representado em muitos atividades, durante todas as aulas, de tal forma
demandará tempo dos alunos, o que, novamente, pode exigir de você bons textos dos acervos, em recontos de grande que sempre houvesse um aluno ou uma du-
planejamento, criatividade e intervenção. qualidade. Alguns deles são até mais fiéis às for- pla ocupando a mesa de leitura, enquanto os
mas simples do conto do que este que comentei demais fazem outras atividades? Sugiro a você
(ver JOLLES, 1976), como as excelentes coleções o seguinte uso do tempo em aula: sempre ter
2
Para um detalhamento de projeto de ensino de escrita que se vale da ideia de escrever
Contos da floresta, de Yaguarê Yamã, e A donzela duas atividades acontecendo ao mesmo tempo,
memórias e montar uma caixa das memórias a ser publicada na escola, ver a referência
online: http://www.educacao.rs.gov.br/dados/refer_curric_aluno_EF_78.pdf e http:// sem mãos e outros contos populares, em adaptação no mínimo, sendo uma delas a leitura literária,
www.educacao.rs.gov.br/dados/refer_curric_prof_vol2.pdf por Helena Gomes, além do livro já mencionado, pois assim ‘alguém estará sempre na mesa do
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leitor’. Você verá que é possível que esta seja no enriquecimento de seu olhar analítico e fa- Sugiro duas paradas na leitura para con- guardam um poder? Em que histórias alguém
nossa única forma de circundar o fato de que vorecer o planejamento de atividades que apro- versar sobre as hipóteses dos alunos sobre com jovem sai de casa só para uma viagem? Que
há poucos exemplares de um mesmo livro na veitem a educação (do olhar) para a linguagem quem Aisja está conversando, depois que ela outras histórias se passam em terras distantes?
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escola, e queremos que todos tenham acesso visual que esta obra permite. encontra o desconhecido e antes de se tornar A partir dessas, que outras perguntas você po-
a ele. Além disso, pode ser um procedimento A linguagem da narrativa literária em Aisja explícito que é o sultão. Explore com os alunos deria formular para mediar a atividade de seus
chave para dar acesso ao mosaico de obras dos também é de muita qualidade. Você verá que, as pistas que os levam a julgar a identidade deste alunos? Estimule-os, também, a listarem não
acervos de sua biblioteca, favorecendo, dentro também aqui, o narrador nos conduz linear- homem, sejam quais forem seus julgamentos – apenas histórias lidas, mas também ouvidas e
dos projetos que partem da escolha do professor, mente por meio de uma enunciação simples lembre-se: eles não são obrigados a se dar conta vistas, histórias do cinema ou teatro, da TV etc.
a escolha paralela e livre pelos alunos. e direta, mas o vocabulário é rico e o ritmo de que é o sultão desde o início. O reconheci- Os que terminarem rapidamente essas duas ta-
Várias são as razões para que eu tenha es- da prosa delicado. Nesse contexto discursivo, mento disso depende de proficiência na leitura refas poderão se ocupar de explorar o acervo de
colhido Aisja.Você verá que dois fios temáticos um recurso narrativo é usado com maestria: a dessas histórias, e estes são leitores em formação. contos populares que você trouxe da biblioteca
unem as sugestões de leitura neste projeto: um revelação progressiva da identidade do sultão. No outro extremo, se essas pistas não forem e que estará na sala de aula.
desses fios são relações muito significativas entre Note como as pistas vão aparecendo pouco a tematizadas e as várias leituras compartilhadas, No fechamento desta atividade de leitura,
um jovem e um adulto, que fundamentam de pouco, de modo sutil no início, mais claramente que outra oportunidade terão de aprender? o objetivo é compartilhar as histórias lembra-
algum modo a trama ou que estão no cerne da em seguida; por fim, explicitamente. Para quem Faça, então, uma roda e indague: Que tal das numa roda de contação e preparar a leitura
transformação que é núcleo da narrativa; o outro, conhece a longa história do personagem disfar- esta história? A ideia não é discutir se gostaram, extensiva do livro inteiro, que será encomenda-
as relações problemáticas entre os personagens, o çado de homem comum nos contos tradicionais, mas sobretudo levantar o que foi marcante na da em seguida. Você verá porque, para tanto, é
trabalho e o poder. Você não acha essa coerência seu reencontro dá imenso prazer – nos sentimos história, o que nos chamou atenção. Do que nos importante, no repertório de histórias elencado,
temática muito adequada para a EJA? Pareceu- espertos ao reconhecer logo que o homem com lembramos? Ao longo da conversa, vá aprovei- aparecer O gato de botas. Se não aparecer, esti-
me que esses temas poderiam oferecer a dose de quem a jovem fala é de fato o sultão. Para quem tando as intervenções dos alunos para colocá-las mule os alunos a dizerem o que sabem sobre
identificação necessária para engajar esses leitores. não reconhece, esta é uma história para apren- em diálogo entre si e com seus conhecimentos a história. E se nada sabem, conte você. Para
Voltemos à nossa história focal. A história der: a reconhecer os gestos verbais recorrentes sobre os contos populares tradicionais. Finalize encerrar, se houver laboratório de informática,
conta da transformação de um homem podero- no conto e a fazer inferências na leitura. a atividade da roda com o registro, por cada um, proponha uma busca de imagens relacionadas
so após conversar com uma menina, Aisja, que Como organizar a atividade? Logo de início, daquilo que ficou marcado e pôde ser lembrado a esse conto, e monte uma exposição na sala.
cruza o deserto para falar com o sultão; ela tem conte, sem o apoio do livro, o início da história depois da história contada: estamos em busca de
um pedido a fazer – trabalho qualificado para e pergunte: Que história será essa? Reserve um Uma narrativa contemporânea e suas
histórias memoráveis e não de respostas certas
seu irmão Hafid, pois todo o resto da família tempo para que os alunos afinem suas hipóteses. relações intertextuais com o conto popular
ou de respostas totalmente abertas, como ‘gos-
havia sido consumido de algum modo pelo Passe, então, à visualização detida da capa e de tei/não gostei’. As cores da escravidão é uma narrativa con-
trabalho. O pai, mineiro,“não anda mais ereto”; mais uma das ilustrações, à sua escolha. Uma boa Feito isso, na aula seguinte, proponha duas temporânea que se constrói fazendo alusão
a mãe teve os pulmões arruinados pela tinta dos maneira de fazê-lo seria reproduzir essas duas atividades paralelas. Deixe o livro sobre a mesa constante à história do Gato de Botas. Tem
tecidos que tingia; o outro irmão desapareceu, imagens por meio de um projetor, tendo digitali- de leitura e proponha aos estudantes que se al- relevância direta também o conto de Peter Pan.
arregimentado como guerreiro a serviço do zado as imagens do livro. Se isso não for possível, ternem, em dupla, até que todos tenham feito a Mas ainda mais relevante do que isso é a inter-
sultão; ela própria tem o fardo de cuidar de seus a capa pode ser encontrada em versão digital por (re)leitura direta e completa do livro. Proponha textualidade que se tece entre todo o arranjo
pais. Diante de um homem desconhecido, a jo- meio da Internet. Sua escola tem Internet? Tem duas finalidades: registrar numa folha, textual- formal da narrativa e os contos tradicionais. Este
vem Aisja interroga: ‘Por que há tanta injustiça um projetor multimídia? Se isso não for possível, mente, copiar mesmo, um pequeno trecho que livro é um misto de recursos contemporâneos
e o sultão assim o permite?’ Eis nossos temas. depois da socialização das primeiras previsões seja significativo ou memorável; além disso, e tradicionais.
Mas há boas razões na composição da obra, dos alunos, passe a uma outra atividade com a prestar atenção em todas as ilustrações. Enquan- Comece o trabalho fazendo uma atividade
além dos temas, para que seja uma boa escolha. turma e, ao mesmo tempo em que estiverem se to isso, o resto da classe, também em dupla, vai que leve a perceber a relevância, logo no início,
Este livro alcança um bom nível de elaboração dedicando a ela, vá passando o livro de mão em fazer uma lista de histórias de que lembram a do gato de botas. Em seguida, proponha um
estética. É ricamente ilustrado e agradável na mão com a ilustração escolhida sinalizada por partir da leitura de Aisja: Que outras histórias estudo da autora – Ieda de Oliveira. A obra é
disposição gráfica de seus elementos. As ima- um marcador de livro. Volte a discutir com os parecidas eu conheço? Ajude os alunos nesta escrita por autora consolidada no universo da
gens, embora figurativas, dão lugar a uma mul- alunos o que viram e que história acham que tarefa. Se eles não lembrarem de nenhuma faça literatura infantojuvenil, que declara ter sido
tiplicidade de gestos interpretativos e sentidos. virá dali. Dê alcance então, na leitura, ao resto perguntas como: o sultão dá a Aisja um anel motivada a escrever pelo confronto com suas
Nesse ponto, será útil a você o capítulo, neste do texto.A leitura expressiva aqui será de grande que vai abrir as portas do palácio a seu irmão; raízes angolanas e, a partir dele, com a presença
guia, sobre narrativa de imagens para auxiliar valia para mediar a fruição da história. que outras histórias têm objetos assim, que ainda viva de trabalho escravo no Brasil. Mas não
48 49

é uma história árida, nem pesada e sem esperança. já casado e pai, Tonho consegue descobrir suas ao leitor numa caixa. Dentro dela, estão folhas avulsas, na qual pequenos
Como se verá, um par de botas vai intervir na origens e volta para visitar a família. Memória contos memorialísticos são intercalados com ilustrações. Proponho o
vida do jovem herói e proporcionar uma virada, e narrativa são assuntos no conto. seguinte encaminhamento: que o objetivo do compartilhamento, em
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encaminhando um episódio a mais depois do que Estarão os estudantes da EJA impedidos de aulas nas quais se vai discutir o livro As cores da escravidão, seja rememorar,
parecia ser um desfecho terrível e proporcionan- contar? Não será este acervo em prosa uma boa reinventar histórias e memórias que a história de Tonho faz lembrar aos
do um novo lance narrativo com um desenlace oportunidade para a constituição de suas me- alunos e que, em seguida, eles procedam a transformar em texto escrito,
feliz. Nesse sentido, estrutura-se como uma no- mórias na forma de narrativas compartilháveis? para compor sua caixa de memórias suscitadas pela leitura.
vela contemporânea, por sua extensão, por seu Sabemos que mesmo na conversa cotidiana, a
recurso a formas como o narrador em primeira mais adequada resposta a uma história contada é 4. Finalizar com leveza
pessoa que examina seus próprios sentimentos e contar outra história (GARCEZ, 2001). Enfim,
os dos demais, além de certa densidade na com- uma história puxa outra. O cerne do trabalho Eis que Perseu vem ao meu socorro [...] quando já me sentia
posição dos personagens e da sucessão de mais pedagógico que proponho em torno da leitura capturar pela mordaça da pedra – como acontece toda vez que
de um lance narrativo. Mas compartilha com o extensiva desta narrativa, para a qual o estudante tento uma evocação histórico-autobiográfica. Para decepar a
cabeça da Medusa sem se deixar petrificar, Perseu se sustenta
conto popular seu caráter de história que pode vai ser organizar autonomamente, é a produção
sobre o que há de mais leve, as nuvens e o vento; e dirige
ser recontada, que tem grande previsibilidade, de uma história evocada.
o olhar para aquilo que só pode se revelar por uma visão
que se presta ao compartilhamento oral e que, Para enriquecer esta proposta, bem no co- indireta, por uma imagem capturada no espelho.
ao final, como nos contos de fadas, reconfigura meço do prazo que você estabelecer para que Italo Calvino (1990)
seu universo ficcional num novo equilíbrio justo, os alunos leiam o livro mais extenso, traga para
que recompensa o leitor. o canto de leitura boas coleções de contos con- Para finalizar, é sempre bom lembrar que nada disso pode ser trans-
O protagonista Tonho parte, voluntaria- temporâneos, aproveitando os acervos do PNBE. formado numa longa obrigação enfadonha e, também, os educandos
mente, em busca de trabalho e riqueza, o que se Já citei dois acima: Adeus conto de fadas e Bem- da EJA, com o tanto que já trazem de história consigo, têm direito ao
revela uma armadilha. Ele, que tantas histórias vindo: histórias com as cidades de nomes mais bonitos silêncio, se assim necessitarem. O interessante da literatura é que ela
tinha ouvido de sua avó e desejava ter a sorte e misteriosos do Brasil, mas há também o excelente permite olhar para as coisas difíceis da vida e pensar nelas, mas indire-
de Marquês do herdeiro do gato de botas, é O man e o brother, de Dilan Camargo, e os contos tamente e “sem dar explicações”; ela pode nos sustentar na leveza das
levado por ‘gatos’ para uma fazenda manti- consagrados de Lygia Fagundes Telles em O segre- nuvens e do vento, tal como fez Perseu. Para tanto, é importante que
da por trabalho escravo. Na fazenda, a pouca do e outras histórias de descoberta. Nesses títulos, você nós, professores e mediadores de leitura, não transformemos o contato
dignidade que resta a ele vem de sua relação vai encontrar boas histórias em que se medem com os livros numa avalanche de pedras. Veja que belo acervo sua escola
com dois homens adultos cuja experiência de jovens e adultos, em encontros que implicam recebeu, deixe-o fluir como as marés e faça tudo o que puder, isso sim,
vida e humanidade proporcionam a Tonho a transformação dos personagens e estranhamento para que esteja bem ali, pronto para que os alunos deem o mergulho
preservação de alguma subjetividade por meio do leitor. Dê tempo em aula para que os alunos inicial. Afinal, como diz a autora Colomer no título de sua obra (2007),
de aprendizagens e confiança. Eis nossos temas. leiam pelo menos um conto antes de dedicar sua o que queremos é ver nossos alunos andar entre livros, levá-los para lá e
Algo notável nesta história é que ela, em primeira aula à discussão de As cores da escravidão. para cá como uma insígnia e quem sabe como um objeto mágico, bem
certo ponto, trata da relação entre memória, Nessa roda de compartilhamento, estimule ao gosto da narrativa maravilhosa.
comunicabilidade e violência. Numa ocasião, os alunos a contar o que escolheram ler. Ao
Tonho pega, segundo pensa que pode, um par mesmo tempo instigue-os: O que a história Referências bibliográficas
de botas emprestado para ir trabalhar. Por conta curta que você leu tem de parecido com o livro
disso, é acusado de roubo e, aterrorizado por que estamos lendo do início ao fim? O que tem AGUIAR, Vera Teixeira. Leitura literária e escola. In: EVANGELISTA,
tiros, se embrenha na mata. Um delegado trata de diferente? Aproveite para tirar suas dúvidas A. A. et al. (orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e
de achá-lo e lhe arranja nova família. Come- e para monitorar o avanço das leituras diversas: juvenil. 2.ed. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2006. p. 235-255.
ça aí um novo ciclo na história. Mas por um Todos estão conseguindo ler? (ver COSSON, ANDRADE, Julia P. Cidade cantada: educação e experiência estética. São
tempo denso e bem narrado, assistimos a um 2009 e sua noção de intervalo). Depois, de- Paulo: Editora UNESP, 2010.
jovem aniquilado e mudo: ele não consegue dique-se a iniciar o projeto de escrita que vai ARROYO, Miguel Gonzáles. Educação de jovens-adultos: um campo
falar, porque falar é contar, e o que se passou finalizar este projeto de leitura. de direitos e de responsabilidade pública. In: SOARES et al. (orgs.).
está além do limite do narrável. Ao mesmo Há um trio de livros de Manoel de Barros, Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. 4.ed. Belo Horizonte: Autêntica,
tempo, o desenlace reparador ocorre quando, chamado Memórias inventadas, que se apresenta 2011. p. 19-50.
50 51

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.


4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
GARCEZ, Pedro de Moraes. Deixa eu te con-
tar uma coisa: o trabalho sociológico do narrar TRABALHANDO COM
na conversa cotidiana. In: RIBEIRO, Branca
LIVROS DE IMAGEM –
BARROS, Manoel de. Memórias inventadas: a
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segunda infância. São Paulo: Editora Planeta do T.; LIMA, Cristina C.; DANTAS, Maria Tere-
Brasil, 2006. za (orgs.). Narrativa, identidade e clínica. Rio de
BENJAMIN,W. O narrador: considerações so-
bre a obra de Nikolai Leskov. In: ______. Magia,
Janeiro: Edições IPUB-CUCA (Instituto de
Psiquiatria, UFRJ), 2001. p. 189-213.
Possibilida des e desa fios
arte e política: ensaios sobre literatura e história da JOLLES,André. Formas simples: legenda, saga, mito, Edgar Roberto Kirchof 1
cultura. 8.ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 2012. adivinha, ditado, caso, memorável, conto, chiste. São Iara Tatiana Bonin 2
(Obras Escolhidas I). p. 213-240. Paulo: Cultrix, 1976. Rosa Maria Hessel Silveira 3
BENVENUTTI, J. O dueto leitura e literatura LUKE,Allan; FREEBODY, Peter. Further notes
na Educação de Jovens e Adultos. Porto Alegre: on the four resources model. Reading on line,
Mediação, 2012. ago. 1999. Ver: http://www.readingonline.org/
CALVINO, Italo. Seis propostas para o próximo research/lukefreebody.html
milênio. São Paulo: Cia. das Letras, 1990. PAULINO, Graça. Diversidade de narrativas. In:
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura PAIVA, Aparecida et al. (orgs.). No fim do século:
literária na escola. São Paulo: Global, 2007. a diversidade – o jogo do livro infantil e juvenil. 2.ed. Primeiras palavras
COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p. 39-48.
Ao examinar os acervos selecionados pelo PNBE para EJA, talvez
prática. São Paulo: Contexto, 2009. RAMOS, Flávia Brocchetto; PANOZZO, a professora ou o professor desta modalidade de ensino se surpreenda
CULLER, Jonathan. Teoria literária: uma intro- Neiva S. Petry. Interação e mediação de leitura li- com a presença de alguns dos chamados “livros sem texto”, que defi-
dução. São Paulo: Becca, 1999. terária para a infância. São Paulo: Global, 2011. nimos inicialmente como aqueles em que a narrativa se sustenta quase
DAYRELL, Juarez T. A juventude e a Educação SOARES, Leôncio; GIOVANETTI, Maria exclusivamente em imagens. O professor poderia se perguntar: Qual o
de Jovens e Adultos: reflexões iniciais – novos Amélia. GOMES, Nilma Lino. (orgs.). Diálogos motivo da sua inclusão (livros de imagem) num acervo “literário”? E,
sujeitos. In: SANTOS et al. (orgs.). Diálogos na na Educação de Jovens e Adultos. 4.ed. Belo Ho- uma vez que tais livros foram incluídos nos acervos e estão chegando às
Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte: rizonte: Autêntica, 2011. escolas públicas com turmas de EJA, com que objetivos e de que forma
Autêntica, 2011. p. 53-67. SOARES, Magda. A escolarização da leitura poderia sua leitura ser mediada pelo professor ou professora, de forma a
DIONÍSIO, Maria de Lourdes. Literatura, leitura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, A.A.; tornar tal experiência significativa e instigante?
e escola: uma hipótese de trabalho para a constru- BRANDÃO, H. M.; MACHADO, M.Z. (orgs.). Pois bem: é no espaço deste artigo que nos propomos a trazer algu-
ção do leitor cosmopolita. In: PAIVA, Aparecida A escolarização da leitura literária: o jogo do livro mas informações, conceitos e sugestões que julgamos úteis para aquele
et al. (orgs.). Leituras literárias: discursos transitivos. infantil e juvenil. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, professor ou bibliotecário que, trabalhando diretamente com alunos de
Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2008. p. 71-84. 2006. p. 17-48. EJA, deseje, refletidamente, se instrumentalizar melhor para propiciar o
enriquecimento da leitura dessas obras.
Em primeiro lugar, já se tornou um lugar comum a referência à
profusão de imagens do nosso cotidiano que funcionam como textos,
produzem e comunicam mensagens, valendo-se de signos compartilhados
num dado contexto social e cultural. A publicidade se vale fartamente

1
Doutor em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (2001), professor adjunto da Universidade Luterana do Brasil.
2
Doutora em Educação pela UFRGS (2007), coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Luterana do Brasil e professora do Curso
de Pedagogia desta Universidade.
3
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora
colaboradora permanente da UFRGS.
52 53

de imagens, assim como as mídias contemporâneas, desde o jornalismo


escrito, passando pela televisão e cinema, para chegar mais recentemente
à internet, com seus sites e suas redes sociais. Entretanto, tradicional-
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mente a escola tem sustentado a maior parte de sua ação pedagógica
no componente verbal, em especial na língua escrita, sendo reservada à
imagem apenas uma função ilustrativa e facilitadora de aprendizagens.
Certamente, como nosso leitor está acompanhando, tal concepção está
sofrendo mudanças nos dias atuais e tais mudanças se relacionam também (LAWSON: 1991)
com o trabalho que pode ser feito com os livros de imagem, como a
seguir veremos.
reconhecer sua imagem reproduzida ou criada Em síntese, é devido a seu caráter de seme-
Palavras e imagens artisticamente. Por essa razão, durante muito lhança com os objetos os quais representam que
tempo, os livros de imagem foram considerados as imagens são aparentemente mais simples e inte-
Antes de discutirmos algumas características dos livros de imagens, mais simples e menos importantes do que os ligíveis. No entanto, como comentamos, essa apa-
é importante refletir, ainda que brevemente, sobre o que diferencia as livros com predomínio de texto escrito. Acre- rente transparência é relativa; afinal, uma imagem
palavras das imagens, considerando que o próprio nome que designa ditava-se que, dada a suposta “simplicidade” e sempre invoca uma pluralidade de sentidos, mes-
o tema de nosso artigo (livros de imagem) nos remete tanto à ideia de “transparência” da linguagem visual a partir da mo quando se trata daquelas que estão, há muito
livro – o qual normalmente associamos com letras e palavras impressas qual são construídos tais livros, estes não seriam tempo, compondo os repertórios culturais, como,
– quanto à ideia de imagem – a qual associamos a fotografias, desenhos, capazes de estimular a imaginação dos leitores por exemplo a conhecida foto de Che Guevara,
telas de TV, de cinema, pinturas, esculturas etc. da mesma forma como um livro escrito. que é considerada uma das imagens mais reprodu-
A principal diferença entre o modo de funcionamento de uma Entretanto, a partir de uma reflexão mais zidas no mundo ocidental na segunda metade do
imagem e de um texto verbal é que a imagem representa seus objetos cuidadosa, é possível concluir que essa simplici- século XX. Podemos pensar na multiplicidade de
de referência através de relações de semelhança, ao passo que a palavra os dade da imagem é apenas aparente. A interpre- ideias, sentidos e reações que sua visualização pode
representa através de convenção. Se tomarmos, como exemplo, a pintura tação de imagens demanda o domínio de certas despertar em diferentes pessoas e em diferentes
ou a fotografia de um pássaro, verificaremos que existe certa semelhança convenções ou códigos, embora não se trate das suportes e contextos (camisetas, pôsteres, peças
entre aquela imagem observada na foto ou na pintura e o próprio pássaro mesmas convenções que regem a linguagem publicitárias, livros de História etc.)!
que foi representado. Em outros termos, não é necessário saber ler ou verbal. Por exemplo, você saberia explicar o
escrever para, em princípio, reconhecer um pássaro em uma foto ou em que significam as imagens abaixo, produzidas
uma pintura – mesmo quando este aparece estilizado. Livros de imagem, o que são?
provavelmente em 17.000 a.C ou 13.000 a.C
Mas com as palavras é diferente. Nós aceitamos que a palavra pássaro, e encontradas nas cavernas de Lascaux e Le Conforme Patricia Cianciolo (1997), os li-
por exemplo, significa um tipo específico de ser vivo, com asas, penas e Gabillou, na França? vros de imagem constituem um gênero muito
bico, porque assim está convencionado na língua portuguesa. Em outros Embora seja possível reconhecer animais específico em relação a qualquer outro tipo de
idiomas, existem outras convenções e, por essa razão, as palavras utilizadas como cavalos, touros e búfalos, não é possível produção literária, pois, ao contrário da grande
para nomear este tipo de ser vivo variam: bird (inglês), Vogel (alemão), saber se essas pinturas faziam parte de algum maioria das obras de literatura existentes, não vei-
oiseau (francês), entre tantos outros exemplos possíveis. ritual religioso, se compunham algum tipo de culam suas mensagens através de palavras escritas,
A linguagem verbal é o mais complexo código de que dispõe o ser estratégia de caça ou se, simplesmente, foram mas através de imagens ou de imagens mescladas
humano para se comunicar, embora não costumemos pensar sobre tal feitas para fins de decoração, pois não conhece- a breves textos com funções específicas.
complexidade. Entretanto, ela fica evidente quando tomamos contato mos suficientemente os códigos culturais den- Originalmente, livros de imagem eram pro-
com outras línguas, que se baseiam em outras convenções e, em alguns tro dos quais elas foram produzidas. A falta de duzidos prioritariamente para crianças, já que
casos, utilizam outros sistemas de escrita.Você consegue imaginar como conhecimento de certos códigos visuais torna possuem a grande vantagem de poderem ser
explicaria o que é um pássaro para uma pessoa que só fala japonês, chinês muito difícil interpretar pinturas e esculturas lidos sem que haja necessidade de conhecer
ou árabe? Já as imagens, por sua vez, parecem muito mais simples, por- de sociedades muito distantes, como os totens, o código escrito. No entanto, hoje é possível
que não exigem o domínio de um código linguístico falado ou escrito, os fantoches javaneses ou as pinturas rupestres encontrar livros de imagem dirigidos a pratica-
como o chinês, o japonês ou o árabe, para citar apenas alguns exemplos. que nossos antepassados deixaram em cavernas, mente qualquer faixa etária, desde crianças de
Bastaria que o receptor conhecesse pássaros, para que fosse capaz de por exemplo. seis meses de idade até adolescentes e, inclusive,
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adultos. Entretanto, como alerta Marilda Casta- dedicatórias, esclarecimentos prévios, biografia O conjunto dos elementos plásticos – como a linha, a cor, a
nha (2008, p. 145), “[...] a maioria dos adultos, do autor etc., eles vão traçando possibilidades forma, a luz, a sombra, o enquadramento – consiste no modo
de expressão da representação artística. O conjunto de ele-
sejam eles pais ou professores, não consegue de leituras e/ou interpretações preferenciais da
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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mentos narrativos – aqueles que, transpostos para a linguagem
esconder certo desconforto ao lidar com os narrativa imagética. verbal, podem descrever uma cena ou um personagem, podem
livros de imagens”; e um dos motivos, observa Conforme o lugar em que se situam no narrar uma história ou várias – constitui o que as imagens
a autora, pode vir do fato de que, “durante a livro (se dentro da narrativa principal, se nos representam (CADEMARTORI, 200-, p. 3).
trajetória de uma pessoa na vida escolar, [é como paratextos) e conforme sua natureza e funções,
Dado que a maior parte dos livros de imagem apresenta uma narrativa,
se] ela se ‘desalfabetizasse’ das imagens”, em prol tais palavras e textos podem produzir um di-
faremos uma breve retomada sobre a mesma. Embora haja várias maneiras
da alfabetização do texto verbal”. recionamento semântico, servindo de ancora-
de definir e explicar uma narrativa, é possível afirmar que um de seus ele-
Por outro lado, o estudioso Perry Nodel- gem à interpretação, direcionando o olhar e a
mentos fundamentais é a existência de um enredo, ou seja, uma sequência
man (1996) nos alerta que as imagens encon- produção de sentidos e freando, de certo modo,
de ações regidas por relações de necessidade e verossimilhança. Em outros
tradas em tais livros não devem ser interpretadas a polissemia. Pode-se dizer, em síntese, que os
termos, a simples justaposição de ações aleatórias numa sequência não
do mesmo modo como interpretamos álbuns de livros de imagem são objetos híbridos, ou seja, faz com que haja uma verdadeira história: cada ação narrativa necessita
fotografia, pinturas em um museu, por exemplo, criações nas quais se condensam elementos que das demais para ser compreensível. Da mesma maneira, essas ações não
ou qualquer imagem exposta para ser admira- caracterizam o livro e elementos que caracteri- precisam ser verdadeiras, mas devem convencer o leitor de que, dentro
da isoladamente. Em outras palavras, um livro zam a imagem. Efetivamente, os livros em geral do universo ficcional em que se encontram, poderiam sê-lo (e é a isso
de imagem é um objeto artístico-literário que (e também os livros de imagem) se estruturam que se chama verossimilhança). Juntas, a necessidade e a verossimilhança
mescla recursos de arte visual e de literatura na forma de cadernos, alceados, com uma se- garantem a integridade narrativa de uma sequência de ações.
para construir narrativas. quencialidade presumida: da frente para trás, Narrativas simples geralmente repousam sobre um esquema narrativo
Nestes livros predominantemente imagéti- de cima para baixo, da esquerda para a direita. que pressupõe um conflito, a perturbação de alguma ordem estabelecida ou
cos, a história narrada se compõe quase sempre Então, ao ler um livro de imagem, é necessário a busca por um objeto de desejo.Assim, as ações se organizam em sequência
na sequência de imagens articuladas, ou seja, levar em conta essas dimensões. para a resolução do conflito ou para a busca desse objeto. O momento que
pela sucessão de imagens. Assim, a leitura de tais Assim, quando se trata de um livro cuja nar- antecede a resolução do conflito é frequentemente denominado de clímax, ao
livros deve levar em conta que as imagens que rativa é predominantemente produzida por ima- passo que a própria resolução pode ser definida como o desfecho da narrativa.
os compõem formam uma totalidade orgânica, gens, não há garantias de que os diferentes leitores
um conjunto articulado, que só faz sentido na farão leituras que confluam para uma mesma Apresentando os livros de imagem dos acervos de EJA
medida em que passam a integrar uma estrutura direção. Conforme argumenta Ligia Cademar- Nos acervos escolhidos pelo PNBE-2014 para EJA, encontramos
narrativa mais ampla. Embora seja possível e até tori (200-, p. 3): “[...] o sentido de uma ima- quatro livros que podem ser caracterizados como livros de imagem; são
desejável contemplar cada imagem separada- gem depende das identificações e relações que eles Mergulho, de autoria de Luciano Tasso; Quando Maria encontrou João,
mente, esse tipo de livro pressupõe que o leitor o destinatário for capaz de estabelecer. Portanto, de Rui de Oliveira; O voo da Asa Branca, de Soud, e 1 Real, do escritor e
correlacione uma imagem à outra e, desse modo, é pela percepção e pela imaginação que o leitor ilustrador espanhol Federico Delicado Gallego. É importante observar que,
reconheça um percurso narrativo. Enquanto em de imagens vai construir e formular os sentidos embora os livros de imagem tenham alguns pontos em comum com as
livros com predomínio de texto verbal a estru- que o texto visual faculta”. Também Éric Battut histórias em quadrinhos (como fazer avançar o tempo da narrativa através
tura narrativa é construída através de palavras e e Daniel Bensimhon (2006) chamam a atenção da comparação entre as imagens [ou quadros] que se sucedem), não se trata
sentenças, nos livros de imagem que apresentam para a heterogeneidade da imagem e, em função estritamente do mesmo tipo de linguagem. Ramos (2010) observa que
narrativas tal estrutura é construída através de disso, para o fato de que a ela diferentes receptores os quadrinhos usam “mecanismos próprios para representar os elementos
imagens ou da mescla entre imagens e poucas atribuem diversos sentidos. Paulo Ramos (2011, narrativos”, os quais obedecem a várias convenções, dentre as quais po-
inserções de texto escrito. Aliás, é importante p. 108) aborda tal heterogeneidade, afirmando demos citar o uso de balões para representar o pensamento ou a fala dos
observar que, nos chamados livros de imagem, que “[...] os livros de imagens são um convite a personagens. Embora os quatro títulos citados acima sejam considerados
apesar da grande predominância delas, não se uma forma de coautoria” e que, neste sentido,“a livros de imagem, cada um deles contém determinadas peculiaridades e
pode falar em ausência completa de textos ver- interação do leitor torna-se mais imprescindível estilos.Três deles trazem, de forma clara, narrativas sequenciais que pode-
bais: títulos, eventuais títulos de subcapítulos, do que em qualquer outro tipo de livro para a ríamos caracterizar como “originais”, enquanto O voo da Asa Branca, por
palavras soltas à guisa de legendas das imagens, elaboração da narrativa”. se tratar de uma “releitura ilustrada da canção Asa Branca”, conforme o
assim como os paratextos, que abordaremos Para Cademartori, nos livros de imagens, texto da contracapa, assume um formato específico, na medida em que
mais adiante, e contracapas, textos das orelhas, dois tipos de elementos operam articuladamente: incorpora elementos líricos presentes na letra da referida canção.
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Ao apresentarmos tais livros, optamos por iniciar pelo virar a página, o leitor se depara com o menino de coragem, entre tantas outras possibilidades
livro Mergulho, que será interpretado de forma articulada sorridente, de braços abertos. A situação se torna interpretativas, que poderão ser construídas pelos
com os principais elementos que compõem as narrativas. ainda mais inesperada e surpreendente quando leitores, a partir de suas próprias experiências e,
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No citado livro, de Luciano Tasso, existe uma situação surgem incontáveis peixes coloridos avançando também, a partir da provocação de um mediador
inicial harmônica, caracterizada, já nas primeiras páginas, em sua direção e formando um círculo do qual interessado, que pode ser o professor.
pelo enlace de mãos entre um menino e um velho, pos- ele escapa com a ajuda do que parece ser uma Embora o enredo seja a espinha dorsal de
sivelmente, um avô e um neto. A estrutura narrativa desse arraia. Na sequência, surgem uma baleia, seres qualquer narrativa, há outros elementos igual-
livro já se revela, na medida em que o leitor vai folheando aquáticos fosforescentes, um peixe monstruoso mente importantes para sua composição, a sa-
as primeiras páginas, que retratam diferentes ações: o velho empurrando de aparência pré-histórica e, finalmente, uma ber, as personagens, o narrador, o tempo e o
um barco com o menino rumo ao mar; o barco avançando sobre as águas superfície cinza, na qual o menino se dilui. espaço. As personagens, por exemplo, podem
e desaparecendo no horizonte; o velho lançando uma rede e, em seguida, A partir de então, a narrativa começa a se desempenhar certos papéis, como herói ou
pescando calmamente ao lado do menino. encaminhar para seu desfecho, pois a queda che- vilão, protagonista, coadjuvante ou oponente,
O conflito ou perturbação dessa situação harmônica tão bem con- ga ao seu fim. Ao invés de seres aquáticos, agora manipulador ou manipulado, objeto de desejo,
figurada nas primeiras páginas se anuncia com a aproximação de um o menino está envolto em estrelas. Na página entre outras classificações. No entanto, as per-
pássaro, provavelmente uma gaivota, que é atraída pelos peixes retirados seguinte, as estrelas estão dentro de seus olhos e, sonagens também podem ser analisadas a partir
do mar através da rede. O livro dedica duas páginas duplas às ações desse finalmente, surge uma imagem do menino deitado das suas características. O menino, em Mergulho,
pássaro, que, num primeiro momento, aparece em primeiro plano, com no barco, com aparência sonolenta, ao lado do é o personagem em torno do qual gravitam as
o bico aberto, numa posição ameaçadora. A próxima imagem contém velho. Ao levantar, é surpreendido com o velho principais ações e, portanto, pode ser classificado
três ações narrativas simultâneas: o pássaro roubando um peixe, a queda segurando uma das estrelas que havia visto. Como como herói ou protagonista dessa história. Suas
do menino no mar, o velho estendendo sua mão, talvez para impedir a se percebe, o leitor não pode ter certeza sobre o principais características, por sua vez, apontam
ação da gaivota, talvez para amparar o menino. desfecho dessa narrativa, pois, se a cena do menino para a infância e o mundo da pesca, além dos
sonolento sugere que sua queda no mar não havia sentidos metafóricos ligados à queda e à imersão.
passado de um sonho, a cena do avô com a estrela Os narradores em textos verbais também
na mão sugere que o sonho possa ter sido realidade. podem ser classificados de diversos modos. A
Do ponto de vista artístico-literário, essa escolha de um narrador em primeira pessoa,
ambiguidade tem a função de provocar o leitor por exemplo, limita muito o campo de visão
a refletir sobre as imagens enquanto metáforas do leitor, porque apenas as ações vistas ou vi-
visuais, ultrapassando a mera interpretação literal venciadas por esse narrador poderão ser conta-
das ações e permitindo que o leitor atribua vários das. Já um narrador onisciente amplia o campo
sentidos às imagens. De fato, várias imagens de de visão, pois é capaz de descrever qualquer
Mergulho possuem um caráter fortemente metafó- ação e, inclusive, sentimentos e pensamentos
rico e polissêmico, sendo que uma das metáforas das personagens. Narrativas visuais, por sua vez,
Uma vez instaurado esse conflito, o leitor é instigado a acompanhar o mais recorrente construída pela sequência das constroem o foco narrativo a partir do ângulo
desenvolvimento das próximas ações, que poderão ou não trazer uma solução. ações está relacionada com a ideia da queda, do e da perspectiva escolhida para apresentar as
Relembremos que as resoluções de uma narrativa podem ser harmônicas, mergulho ou da imersão. Mais do que a caracte- imagens e os percursos narrativos. Em Mergu-
felizes, infelizes, trágicas, previsíveis, imprevisíveis e, inclusive, nonsense, para rização de um suposto acidente no mar, a queda lho, por exemplo, o foco narrativo escolhido é
citar apenas algumas possibilidades. Histórias criativas costumam desaco- do menino está repleta de significados simbólicos, a perspectiva do menino, o que limita a visão
modar seus leitores, gerando situações inesperadas ou resoluções complexas, que sugerem a ambivalência entre o medo da do leitor quanto aos fatos. Ao visualizarmos as
que levam o leitor a continuar pensando sobre a história e suas implicações. morte e a alegria com a descoberta do inespe- imagens, somos como que convidados a com-
Esse parece ser o caso do livro Mergulho. Ao invés de apresentar ações rado, o encontro com a beleza onde não seria partilhar das vivências e sonhos vivenciados pelo
previsíveis como solução para o conflito instalado, o livro investe em uma esperada, o reencontro com o ambiente uterino menino. Na verdade, essa estratégia é decisiva
série de ações dotadas de complexidade e beleza, as quais levam o leitor representado pelo mar, o renascimento através para que o leitor permaneça sem saber se a
a realizar inúmeras indagações ao longo da leitura. Imediatamente após da imersão, o risco do mergulho em situações queda no mar foi um sonho ou realidade: assim
a queda, de olhos fechados embaixo d’água e com uma expressão facial desconhecidas, a imersão como pressuposto de como o menino acorda confuso no barco, sem
denotando sofrimento, o menino parece estar em apuros. No entanto, ao descobertas significativas, o mergulho como ato saber se está sonhando ou acordado, o leitor
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tampouco poderá ter certeza de que houve realmente um mergulho ou Página a página, observamos uma mudança na representação das
se tudo não passou de um sonho. feições da personagem – inicialmente ela está sorridente, mas vai gra-
A marcação do tempo, em narrativas visuais, em geral está forte- dativamente entristecendo – e de sua atitude – primeiramente ativa, à
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mente mesclada à caracterização do espaço. Em Mergulho, por exemplo, procura do menino, depois resignada e passiva, o que também se expressa
a passagem do tempo é marcada pelo uso das cores claras, no início do na redução do tamanho da personagem, agora apresentada em segundo
livro, com a presença do sol, significando dia, e pelo uso de cores escu- plano. Configura-se, deste modo, a perturbação ou o conflito narrativo
ras e a presença de estrelas e da lua, no final do livro, significando noite. quando a menina não encontra o menino e segue, triste, cabisbaixa, en-
O tempo da queda também é marcado pelo espaço, que vai mudando curvada sob o peso do desencontro; na próxima imagem, na folha dupla
frequentemente, sugerindo uma aproximação paulatina com o fundo central do livro, vê-se a menina saindo da floresta, de mãos dadas com
do mar. Como se viu anteriormente, essa sequência de imagens espaço- a mulher adulta, olhando para trás, em direção à floresta. Observa-se a
temporais adquire significados metafóricos ligados à ideia da imersão. transformação da paisagem, antes fechada, com ações que se desenrolam
Já ao tomarmos nas mãos o segun- na penumbra, em um cenário aberto, composto com linhas retas, cores
do livro de imagem dos acervos para claras, que mostram um amplo horizonte, denotando o distanciamento
EJA-2014, Quando Maria encontrou João, e a espera que caracterizariam o amor.
do premiado ilustrador Rui de Oliveira, Nas cenas seguintes, a passagem do tempo é sinalizada numa bem
logo verificamos que estamos frente a construída sequência de ações narrativas (apresentadas quadro a quadro): no
outra proposta estética e narrativa. alto, as diferentes fases da lua (o que remete à noção de que muitas luas se
Conforme o texto da contraca- passaram); a menina cresce, torna-se jovem, conhece um rapaz, mas ainda
pa, a narrativa é inspirada na pintura se mostra relutante – ela está de costas para ele, segurando um colar de
Amor sagrado e amor profano, de Ticia- pérolas com um pingente em forma de cruz (o que nos conduz novamente
no, exposta na Galleria Borghese, em Roma. A narrativa, de imediato, à noção do amor sagrado); em outro quadro, ela já é adulta, aparece vestida
mobiliza duas principais ideias – a do amor sagrado, único, vivido numa de noiva e seu semblante faz pensar que se trata de um amor profano (vê-
dimensão platônica, e a do amor profano, a partir do qual se organiza a se uma mulher e um homem maduros; a expressão facial dela é serena,
vida cotidiana, tal como se explica na contracapa do livro. mas não parece feliz); no quadro seguinte, retrata-se a família, os filhos já
No início do enredo, uma menina encontra um menino na floresta. crescidos e, no último, a viuvez, marcada pela roupa da personagem, pelas
Nas primeiras páginas, o leitor é inserido em um cenário composto com flores que carrega entre mãos e pelo cemitério às suas costas.
cores escuras e traços circulares, no qual se exibem árvores antigas, retorcidas, Nas páginas seguintes, uma velha senhora, já sem a aliança em seu
de densos troncos, que remetem à ideia de durabilidade, ao lado de flores dedo e com o colar de pérolas à mostra, retorna ao cenário da floresta –
delicadas e de pequenos frutos, que podem nos fazer pensar na “natureza”, fechado, escuro, repleto de árvores antigas, retorcidas, que são olhadas e
na inocência e na delicadeza. Há um conjunto de ações iniciais nas quais também nos olham (observem-se os detalhes de olhos e rostos espalhados
se compõem as experiências vividas em comum pelas personagens: uma pela paisagem, que caracterizam o estilo do autor). Ali, recostada a um
mulher lê, à sombra de uma grande árvore, enquanto a menina observa a velho tronco, com um semblante sorridente, ela reencontra o menino
paisagem; um menino, inicialmente escondido atrás de uma grande árvore, (ou recorda-se dele).
se aproxima dela, e os numerais (1, 2, 3) grafados na imagem permitem Observam-se as marcas da passagem do tempo também para o menino
supor que eles se engajam em uma brincadeira infantil de esconde-esconde. – quadro a quadro, a contagem do jogo de esconde-esconde converte-se
também na passagem das décadas e dos ciclos de sua vida, e o menino se
torna adolescente, jovem, adulto, velho. A manutenção de elementos, a
exemplo da vestimenta desta personagem, assemelhada às dos príncipes
de contos de fada, opera uma mescla entre o real e o mágico: poderia o
menino ser fruto da imaginação da protagonista?
A floresta é o cenário do primeiro encontro e também do reencontro
entre os dois. Cenário de muitos contos de fada – nos quais se desen-
rolam os enredos do amor verdadeiro, único, eterno –, a floresta é onde
se desenrolam os sonhos da personagem, que poderiam nos fazer pensar
no ambiente uterino, na inocência e, ao mesmo tempo, na durabilidade
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e estabilidade das árvores e do amor sagrado e duradouro. A narrativa o fim da história, e também é possível imaginar carrossel. Na casa do menino ocorrem diversas
prossegue e observamos agora o velho (emoldurado pela imensa floresta) o reencontro das personagens num tempo ainda cenas, dentre as quais a do menino entregando
caminhando cabisbaixo, desenhado em dimensões reduzidas no cenário por viver, ou para além da vida. para a mãe algumas moedas; a de uma jovem
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maior. Enfim, ele encontra a protagonista que, com um semblante sorri- Já o livro 1 Real, do escritor e ilustrador descuidada (possivelmente a irmã do menino)
dente e atitude tímida, segura o colar de pérolas entre os dedos e os lábios. espanhol Federico Delicado Gallego, apresenta que não parece trabalhar; a do pai que retorna
uma narrativa organizada em partes, sendo uma bêbado e briga com a esposa para tomar-lhes as
moeda e um bibelô mantidos como elemen- economias; a do menino que esconde sob seu
tos conectores em toda a trama. Há inserções travesseiro uma moeda e adormece, sonhando
pontuais de texto verbal, que marcam a orga- com o brinquedo.
nização segmentada da narrativa nas seguintes Na segunda parte – “Ela” – a narrativa se
partes: “Ele”; “Ela”; “Juntos”; “O retorno”; “O constrói a partir da perspectiva de uma menina
despertar” e “O reencontro”. Trata-se de uma rica, que passeia com os pais e faz compras em
narrativa bastante longa, com imagens em preto uma grande loja (a mesma loja na qual o me-
e branco, que mescla personagens e situações nino viu o bibelô). Aliás, tanto em uma cena
variadas, sugerindo cenários em que crianças da primeira parte, quanto numa da segunda, se
com experiências econômicas e familiares dis- pode ver o menino e a menina em um mesmo
A mão dele, estendida na direção dela, remonta ao convite, feito no tintas partilham situações de encantamento e espaço, olhando para o brinquedo de carrossel,
início da narrativa; mas agora ele a segura pela mão e eles seguem juntos de possível encontro. sem se encontrarem. A menina retorna para
para fora dos limites da floresta, numa paisagem ampla, clara, aberta, na casa em companhia da governanta (uma mu-
qual se apõe o texto verbal “E viveram felizes para além do sempre...”. lher com feições indígenas), e com ela passa o
Assim, a solução para o conflito narrativo – o desencontro deste pri- tempo, alimenta-se, brinca. A menina aparenta
meiro e verdadeiro amor – é dada por elementos estéticos e culturais se sentir sozinha, e a governanta lhe oferece um
que podem levar o leitor a realizar diferentes leituras: as personagens se amuleto. Na cena seguinte a menina vai dormir
reencontram, no plano real, transcorridos longos anos, e seguem juntos; e sonha com o brinquedo de carrossel, visto no
ou elas se reencontram no plano mágico, após a morte (o texto verbal “E interior do bibelô. Enquanto isso, a governanta
viveram felizes para além do sempre” poderia remeter o leitor à essa ideia); retorna ao seu quarto, observa uma fotografia de
ou, ainda, elas se reencontram no plano mágico, posto que João poderia criança e chora, por estar distante de pessoas e
existir apenas na imaginação da protagonista Maria e esta, depois que lugares que ama, conforme informa o paratexto
envelhece, retoma as memórias de um tempo feliz de sua infância. Estes impresso na contracapa do livro.
são apenas alguns dos possíveis sentidos abertos pela história imagética. Na terceira parte – “Juntos” – o leitor é
O fato de o leitor não ter certeza sobre o desfecho dessa narrativa inserido em uma dimensão mágica, na qual se
está relacionado tanto ao caráter polissêmico das imagens (que adquirem Na primeira parte – “Ele” – a perspectiva encontram o menino e a menina. Elementos
sentido para cada leitor conforme seu próprio repertório cultural, con- a partir da qual o leitor tem acesso à história é variados aludem a sonho e fantasia, tais como
forme argumentamos anteriormente), quanto à opção artístico-literária o olhar de um menino que trabalha nas ruas, imagens distorcidas de figuras humanas e de ali-
feita pelo autor para manter a narrativa aberta. Muitas das imagens são limpando para-brisas de carros. Sua estatura e mentos, antes vistas em cartazes, agora animadas,
ambivalentes – jogam com elementos plásticos, como a penumbra e a sua postura corporal, na ponta dos pés, para perseguindo os protagonistas entre labirintos,
luz, linhas curvas nos cenários da floresta, e com elementos conotados e alcançar o para-brisas de um carro, mostram destroços de edificações e espaços sombrios.
sugeridos, como a alegria e a tristeza, a transitoriedade e a permanência. que se trata de uma criança. As roupas simples, O amuleto e a moeda permitem que os prota-
Por fim, se considerarmos a perspectiva a partir da qual a história o trabalho executado, o local de sua moradia são gonistas encontrem uma saída daquele espaço
é contada, podemos dizer que se trata de uma narrativa em primeira elementos que se somam na composição de um caótico – o brinquedo de carrossel se torna
pessoa: é a visão da menina a que temos, é sua trajetória que acompa- contexto de pobreza. Assim, o menino recebe uma aeronave e os dois escapam sobrevoando
nhamos, é em sua realidade ou em sua imaginação que somos inseridos uma moeda das mãos de uma taxista e, ao voltar diversos espaços até chegar a uma praia. Os
no curso desta história. A perspectiva da protagonista é o que permite a para sua casa, observa a vitrine de uma grande meninos são vistos ao final, deitados na areia
manutenção de um desfecho aberto, no qual é possível reconhecer um loja, parecendo encantar-se com um bibelô, no e vislumbrando um céu repleto de pequenos
mundo mágico, no qual o amor é eterno e a narrativa não termina com interior do qual está um brinquedo típico de flocos de neve (que possibilitam pensar que o
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menino e a menina estariam no interior do glo- conhecida canção de Luiz Gonzaga e Humberto vegetação da caatinga, solo gretado.
bo do bibelô, junto ao brinquedo de carrossel). Teixeira, Asa Branca, o que já é apontado tanto À esquerda, como uma transparência,
Na quarta parte – “O retorno” – a gover- em menção da folha de rosto – “Obra baseada vê-se o desenho de uma ave branca,
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nanta passeia com as duas crianças e parece des- na canção Asa Branca de Luiz Gonzaga e Hum- ainda pousada. As duas imagens se-
pedir-se delas. Nas cenas narrativas finais o leitor berto Teixeira” – quanto na contracapa – onde guintes acentuam essa desesperança,
vislumbra um cenário típico dos Andes, em plano se caracteriza a obra como “releitura ilustrada da mostrando o personagem num ân-
aberto, tendo em segundo plano uma aeronave. canção Asa Branca”–; e há a referência da ore- gulo de cima para baixo, em atitude
Na quinta parte – “O despertar” – a governanta lha escrita por Rolando Boldrin. É importante de questionamento ou súplica em
desperta em um cenário rural, composto por observar, entretanto, que mesmo leitores que direção ao céu, o que é acentuado
montanhas altas, recobertas de neve, lhamas soltas não conheçam a letra da canção podem atribuir pela sua sombra em forma de cruz,
a pastar, pequenas casas que lembram as habita- sentidos à narrativa visual, que repousa numa numa espécie de metáfora visual.
ções de indígenas peruanos. Uma velha senhora temática amplamente conhecida – o drama dos As imagens seguintes, sempre compostas em superfícies de folhas
penteia as longas madeixas brancas, uma refeição nordestinos frente à seca – e trabalha com ima- duplas, vão acrescentando elementos para a caracterização do ambiente
matinal é servida enquanto uma pequena menina gens que exploram cores, cenários e imagens de de calor, seca, morte (veem-se as caveiras de um boi/vaca, o que corres-
aproxima-se sonolenta. Adiante, a personagem é grande beleza e expressividade plástica. ponderia ao verso: “Por falta d’água, perdi meu gado”, e de um equino:
vista com trajes típicos de populações andinas, e “Morreu de sede, meu alazão”), culminando com as imagens em que o
tem nas mãos o amuleto e a moeda, constantes sertanejo presencia o bater de asas do pássaro branco e seu voo.
nas partes anteriores da narrativa. As páginas centrais do livro trazem a imagem do personagem também
Na última parte – “O reencontro” – uma deixando o sertão em situação de seca, simbolicamente voando (como
mulher entra em um táxi, conduzido por outra a Asa Branca?), e dando adeus a uma mulher grávida, que fica chorando,
mulher (a mesma que aparece na primeira cena ao pé de uma simples casinha do sertão.
da narrativa, dando uma moeda ao menino). Pela primeira vez nas imagens, os tons deixam de ser apenas averme-
Ela paga com uma nota e recebe de troco uma lhados e alaranjados (o que acentuava a expressão de calor), para abrigar
moeda, deixando, esquecido no banco do carro, algumas tonalidades de verde. Podemos relembrar os versos que possivel-
mente o autor tinha em mente ao apresentar tal imagem e a seguinte em
o bibelô no qual se exibe um brinquedo de
que, em primeiro plano, a mulher do retirante chora e beija um coração
carrossel. A obra mescla cenários de diferentes
[“Então eu disse: – Adeus, Rosinha / Guarda contigo meu coração”].
localidades e apresenta certa abertura para se
As imagens que seguem representariam as reflexões e sentimentos
pensar, por exemplo, fenômenos sociais como
do migrante em sua situação atual: vestido como um trabalhador urbano,
as migrações. Nesta direção, observa-se que a Assim, o autor recria a ambiência da seca
governanta da menina é oriunda de uma pe- nordestina e as situações dramáticas por ela
quena comunidade, situada em um país latino provocadas, transformando o personagem em
-americano (não esqueçamos que o original da primeira pessoa, que enuncia a letra da música,
obra é de autor europeu, continente no qual em um personagem masculino representado
numerosos migrantes trabalham em ocupações com a imagem típica do sertanejo nordestino
domésticas). Os títulos das seis partes dirigem – chapéu e sandálias de couro e roupas simples.
a interpretação, mas não a fecham de forma Relembremos que a letra da canção assim se
completa, permitindo mais de uma leitura. Con- inicia (e aqui respeitaremos a variante coloquial
tudo, a extensão da narrativa (caracterizada na de linguagem com que a música se tornou co-
contracapa como uma “novela gráfica”) pode nhecida): “Quando oiei a terra ardendo/ Qual
gerar certa dificuldade no trabalho com os alu- fogueira de São João/ Eu preguntei a Deus
nos, especialmente se, na biblioteca da escola, do céu, ai/ Por que tamanha judiação?” Na
existir apenas um exemplar da obra. primeira imagem de folha dupla da obra, já se
O voo da Asa Branca, outra obra selecio- visualiza de perfil, em primeiro plano, o perso-
nada no PNBE-2014, se distingue dos demais nagem, com uma expressão de tristeza e desa-
livros, por se tratar de obra baseada na letra da lento, sobre o fundo da terra castigada pela seca:
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ele continua triste, dividido entre o ambiente da formas de efetuar uma mediação de tais livros ainda sobre as inspirações do autor para compor retoma, a que alude ou aos quais se opõe”. Neste
cidade grande (veem-se prédios ao fundo de sua para turmas de EJA, sem prejuízo do estímulo a narrativa. Assim, especialmente em livros de sentido, é recomendável que o professor se em-
silhueta) e o que espera acontecer: percorrer a que o professor possa dar para leituras indivi- imagem que, como vimos, se abrem a uma gama penhe em provocar a emergência de dimensões
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos


estrada que o levaria de volta ao sertão (“Espero duais dos alunos, a partir de empréstimos da maior de interpretações, parece relevante, ao intertextuais dos livros de imagens, como, por
a chuva cair de novo / Pra mim voltar pro meu obra na biblioteca. preparamos uma sessão de leitura, nos ocupar- exemplo, a presença de temáticas que ocorreram
sertão”). Já a estrofe final da letra da música, Em se tratando de turmas pequenas, se po- mos dos paratextos, inclusive por entendermos em textos anteriormente conhecidos pelos alu-
em que o personagem promete à amada voltar, deria trabalhar com o exemplar único, permi- que o conhecimento integral do objeto livro nos, literários ou não, verbais ou não, da mídia, da
quando o “verde” dos seus olhos “se espaiar tindo que ele circule antes entre os alunos, para acrescenta possibilidades interessantes à com- experiência cotidiana, do entorno escolar, assim
na prantação”, é ilustrada plasticamente pela posteriormente discutir e explorar a narrativa petência leitora dos alunos de EJA. como de outros aspectos da própria construção
imagem em que os olhos da amada, que não imagética em grande grupo. Outra possibilidade, No caso do livro O voo da asa branca, por composicional. Tais dimensões variam conforme
mais chora, se conectam com o verde de uma caso haja disponibilidade de equipamento na es- exemplo, um texto bastante longo na orelha, o repertório de cada leitor e não se trata de o
plantação de milho. Fecha as imagens do livro cola, seria digitalizar o livro completo e transfor- escrito pelo conhecido Rolando Boldrin, faz professor verificar se os alunos “sabem” a fonte da
uma última ilustração, quase igual à da cena da má-lo em uma apresentação de PowerPoint, sem uma apresentação da gênese e do sentido da inspiração do autor; antes, é importante instigá-los
despedida, em que, entretanto, não há mais a prejuízo da circulação da obra impressa. Assim, canção inspiradora do livro; também a dedica- a produzir tais relações assim como trazer aquelas
figura do retirante, apenas a de um coração e seria exequível projetar cada imagem do livro e tória – “Para todos os nordestinos heróis, que que ele, como leitor mais experiente, também
da amada chorando. proceder a uma discussão conjunta da sequên- voltaram ou não para seus sertões” – e a sinopse estabeleceu na indispensável leitura prévia do livro.
A partir da breve descrição acima, é possível cia narrativa, especialmente porque os livros de da contracapa – regularmente elaborada para Assim, no livro Mergulho, o professor poderia ex-
observar que Soud inspirou-se na letra da co- imagem são, via de regra, ricos em detalhes, que capturar o interesse de leitores e compradores plorar possíveis diálogos com produções midiáti-
nhecida música de Luiz Gonzaga e Humberto podem ser compreendidos de diferentes maneiras de livros – constituem paratextos que podem (na cas: em alguns desenhos animados, os personagens
Teixeira, mas lançou mão de vários elementos pelos alunos. Eventualmente, no caso de haver sua totalidade ou em escolha de alguns deles pelo são seres aquáticos; em vários documentários,
da linguagem plástica (cores, planos, símbolos) possibilidade de acesso a mais de um exemplar professor) ser discutidos com os alunos. Tal dis- seres marinhos são apresentados. Por outro lado,
e de outros elementos que acrescentou (como – por aquisição da instituição ou empréstimo cussão não significa a “descoberta’ do real sentido também é possível falar em mitos como a história
a representação da gravidez da mulher que fica de outra biblioteca, por exemplo –, o trabalho da obra, conforme os editores, mas acrescenta in- bíblica de Jonas e a baleia, por exemplo.
no sertão e se despede do retirante) para efetuar e a exploração conjunta poderiam ser feitos em formações sobre funções específicas que podem Em Quando Maria encontrou João, o paratexto
uma efetiva releitura da obra, a qual, inclusive, pequenos grupos, com mediação do professor. enriquecer e também balizar leituras possíveis. da contracapa sugere que Rui de Oliveira desen-
pode prescindir do conhecimento da letra ori- Tomadas as decisões a respeito dessas ques- Em segundo lugar, deve-se lembrar que a volveu a narrativa tendo como inspiração uma
ginal da canção. tões de caráter operacional, mencionamos a leitura de qualquer texto, aí incluída a de livros de pintura intitulada Amor sagrado e amor profano.
seguir algumas sugestões gerais, exempli- imagem, sempre ocorre em diálogo com outros Assim, seria possível explorar aspectos intertex-
ficando-as em relação a uma ou mais obras textos. Conforme observam Ingedore Koch,Anna tuais da narrativa, apresentando aos alunos uma
Mediando a leitura de livros de imagem
anteriormente descritas. Em primeiro lugar, Bentes e Mônica Cavalcante (2012, p. 9), sob reprodução da obra.
Inicialmente, é preciso considerar que cada considerando que estamos frente a edições im- inspiração de Bakhtin, de qualquer texto “fazem
Tiziano Vecellio. Amor sagrado e amor profano.
biblioteca escolar recebe, do acervo do PNBE, pressas, é recomendável que o mediador con- parte outros textos que lhe dão origem, que o Óleo sobre tela, pintado por volta de 1515.
um exemplar de cada título aqui analisado. Em sidere a existência e a função dos paratextos predeterminam, com os quais dialoga, que ele Roma, Galeria Borghese.
face desta limitação, é possível pensar em três nas mesmas. Relembremos que por paratexto
se entende “o conjunto de fragmentos verbais
que acompanham o texto propriamente dito;
pode se tratar de unidades amplas (prefácios,
textos figurando na capa etc.) ou de unida-
des reduzidas: um título, uma assinatura, uma
data, um intertítulo, uma rubrica [...], comen-
tários na margem [...]” (MAINGUENEAU,
2001, p. 81). Os paratextos funcionam como
uma espécie de moldura, circundando o tex-
to principal e dando pistas sobre a temática
abordada, sobre o enredo, sobre o contexto ou
66 67

O professor também poderia explorar al- esta palavra nos faz pensar? Em quais sentidos elementos que efetuam as conexões das ima- sonho. Pode-se também fazer um mapeamento
guns elementos que dialogam com contos de essa palavra é usada cotidianamente? Quais as gens entre si, elementos que podem ser de uma dos elementos que sugerem que o protagonista
fada. Observe-se, por exemplo, a figura de um relações entre a imagem da capa e o título? – leitura mais direta, como é o caso do persona- está efetivamente mergulhando, e daqueles que
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

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“príncipe” cavalgando pela floresta na imagem são exemplificativas e podem ser utilizadas ou gem retirante de O voo da Asa Branca, presente permitem pensar que o mergulho é simbólico.
que abre a narrativa, e a alusão ao conto de João adaptadas pelos professores. em quase todas as ilustrações. Mas também é Já em O voo da Asa Branca, a imagem em que a
e Maria, no título da obra, originalmente calcado Em quarto lugar, ainda que não seja neces- possível realizar um trabalho maior de interpre- personagem mulher beija um coração enquanto
na versão dos Irmãos Grimm (Hansel e Gretel). sário que o professor detenha um conhecimento tação, em especial quando a narrativa imagética uma grossa lágrima escorre de seu rosto e a
Já a obra O voo da Asa Branca se caracteriza, aprofundado dos elementos que compõem a implica uma considerável passagem de tempo e própria presença do coração em várias imagens
desde sua concepção, por uma relação intertex- estrutura das imagens, como linhas, cores, luz, mudanças de cenário, como foi aqui descrito em remete ao uso de um símbolo do afeto, cultu-
tual explícita com a canção de Luiz Gonzaga volume, planos, enquadramentos, ângulos etc., a relação às obras Quando Maria encontrou João e 1 ralmente consagrado.
e Humberto Teixeira. Neste caso, mesmo con- exploração de alguns elementos expressivos que real. Reflexões possíveis: Como esta imagem se Em último lugar, poderíamos pensar em
siderando a dupla possibilidade de os alunos estão ao alcance de uma leitura mais acurada do relaciona com a anterior? O que permaneceu, o duas dimensões de trabalhos de fechamento,
conhecerem ou não a canção em tela, sugere-se docente e que já foram referidos nas descrições que mudou? O que pode ter acontecido entre qualquer que seja o livro escolhido para traba-
que o professor leve a letra da música (disponível anteriores das obras resulta num enriquecimen- esta imagem e a anterior, que não foi represen- lho em conjunto com as turmas. Na primeira
em vários sites da internet), assim como uma to da experiência de leitura de imagens pelos tado nas imagens? Estas são algumas questões dimensão, após a leitura conjunta do livro de
versão sonora da mesma para que se efetue um alunos. Em O voo da Asa Branca, por exemplo, a que contemplam a reconstrução conjunta do imagem, o professor poderia abrir um questio-
diálogo vivo entre a releitura imagética e a can- composição dos elementos imagéticos e a utili- percurso narrativo. Por outro lado, também po- namento sobre a natureza desse tipo de livro,
ção original. Por se tratar de canção inspirada em zação de cores quentes – vermelho, alaranjado, dem ser exploradas as referências imagéticas ao pouco presente nas bibliotecas escolares e salas
problema brasileiro secular, que regularmente amarelo – para acentuar o calor e a secura do espaço das ações e à passagem do tempo. de aula depois do ciclo de alfabetização. Poderá
recebe espaço na mídia, assim como é abordado sertão são facilmente identificadas pelos alunos, Aliás, a exploração dos sentimentos marca- também colocar perguntas sobre dificuldade,
por vezes em componentes curriculares (Histó- assim como a representação do sonho de volta dos visualmente na expressão facial e na posição interesse, destinatário presumido, apreciação
ria, Geografia), um diálogo interessante entre tais do migrante, quando a seca acabar (a imagem corporal dos personagens – como medo, tristeza, positiva ou negativa do livro, assim como a co-
textos e suas características pode ser proposto simbólica do milho aponta essa possibilidade) e a revolta, desencanto, alegria, emoção – é outro nexão com outras experiências habituais de
(observe-se que tanto a letra da canção quanto expressividade simbólica da sombra do retirante importante filão a ser explorado. leitura (tais como histórias em quadrinhos, por
a narrativa imagética sublinham preponderan- em forma de cruz, num ângulo de representação Em sexto lugar, respeitando as peculiari- exemplo) enquanto uma possibilidade fecunda
temente a questão dos sentimentos envolvidos que acentua o enfraquecimento e a impotência dades de cada livro, também é possível chamar de discussão das imagens.
no drama dos retirantes, enquanto notícias e do personagem em súplica. Já na obra Quan- atenção para algumas imagens que funcionam Na segunda dimensão, poderá ser realizado
reportagens sublinham dados mais fatuais). do Maria encontrou João é possível explorar, por como metáforas visuais, como representações um trabalho de fechamento em conjunto com
Em terceiro lugar, uma possibilidade de exemplo, os traços circulares na composição que não remetem diretamente ao real e operam professores de disciplinas como Artes, História,
trabalho que mobiliza e envolve os alunos é a das imagens, os efeitos de penumbra e de luz no plano simbólico. Por exemplo, em Mergulho, Geografia, contemplando algum tipo de “ação”
elaboração de estratégias que antecipam e ex- dispersos na paisagem, bem como a presença de o homem lançando a rede evoca vários sentidos e “produção” textual-imagética motivada pelo
pressam expectativas a partir da capa, do título rostos e de olhos nas ramagens (aspecto desta- ligados à alimentação e à pesca, que podem ser livro. Assim, a partir de O voo da Asa Branca, por
e de outros elementos externos do objeto livro. cado em um dos paratextos da obra). Em 1 real pensados simbolicamente como busca, sonho, exemplo, os alunos poderiam escolher outra letra
Tais estratégias podem ser realizadas com qual- talvez seja oportuno explorar alguns elementos desafio etc.; imagens como a do menino frente de canção e planejar uma releitura da letra através
quer um dos livros de imagem apresentados (e na imagem que evocam o sonho, a exemplo das a frente com uma baleia ou as estrelas nos olhos de imagens. Tal tarefa implica que os alunos de
não apenas com eles), permitindo aos próprios imagens distorcidas, convexas, ou ainda observar da personagem principal também evocam ideias EJA reflitam sobre as letras de músicas que co-
alunos a conscientização de que qualquer pro- a presença de grumos brancos – como se fos- ligadas ao sonho como superação da realidade. nhecem, examinando a possibilidade plástica da
duto cultural se conecta com outros anteriores sem flocos de neve – que fazem pensar que as Nesta direção, parece oportuno realizar um in- representação, entre outros requisitos. Também
(no que acima referimos como intertextualida- personagens estão dentro do globo do bibelô.  ventário de elementos que, na obra Mergulho, é viável a solicitação do reconto por escrito –
de), quer em relação à temática e aos esquemas Em quinto lugar, o fato de que os livros mobilizam sentidos através de contrastes – em no caso das narrativas imagéticas de Mergulho
narrativos, quer em relação ao gênero textual e de imagem se constroem como um conjunto cima/embaixo; mar/céu. Assim, é possível ex- e Quando Maria encontrou João, pode-se solicitar
suas convenções etc. Assim, um livro como Mer- articulado de imagens permite a exploração do plorar a ambiguidade de alguns elementos inse- que os alunos recontem a história, tal como a
gulho oferece ricas possibilidades de exercício de fio narrativo que se estabelece através dos elos ridos na narrativa, chamando a atenção do leitor entenderam, a um amigo, através de carta ou
antecipação, até pela polissemia da palavra que o entre as mesmas. Para qualquer uma das obras para as imagens que nos permitem pensar que mensagem virtual (e-mail). Neste caso, o professor
titula. Questões – como, por exemplo: Em que aqui apresentadas, o professor pode explorar os se trata de mergulho (em sentido literal) e de poderia sugerir que a história fosse escrita com
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o máximo de detalhes, imaginando que o amigo livros de imagem junto a seus alunos de EJA,
escolhido não tenha acesso ao livro e não co- um trabalho que considere tais livros como
nheça as imagens. Atividades como estas podem obras abertas, que seja bem-vinda a transgressão!
Categoria 4 . Educação de Jovens e adultos

suscitar diferentes interpretações e possibilitar


que os alunos exercitem a imaginação, buscando Referências bibliográficas
estabelecer elos entre imagens e palavras.
BATTUT, Éric; BENSIMHON, Daniel. Lire et
comprendre les images à l´école. Cycles 2 et 3. Paris:
Palavras finais Retz/SEJER, 2006.
Para encerrar nosso percurso de estudo e CADEMARTORI, Ligia. Para pensar o livro de
proposta de leitura dos livros de imagem sele- imagens – roteiros para leitura literária. Belo Hori-
cionados e encaminhados pelo PNBE para as zonte: Autêntica, 200-. Disponível em: http://
escolas com turmas de EJA, cabe-nos enfatizar www.autenticaeditora.com.br/download/rotei-
a importância e a relevância destes artefatos ros/roteiro_livro_de_imagens.pdf. Acesso em:
culturais, que frequentemente são entendidos 12 nov. 2013.
como “livros para crianças ou analfabetos”, sen- CASTANHA, Marilda. A linguagem visual no
do, portanto, pouco valorizados, mesmo em livro sem texto. In: OLIVEIRA, Ieda de. O que é
bibliotecas escolares. qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com
A seriedade e o compromisso secular da a palavra o ilustrador. São Paulo: Difusão Cultural
instituição escolar com a escrita e a leitura verbal do Livro, 2008. p. 141-161.
estão fundamentalmente enraizados em nossas
CIANCIOLO, Patricia J. Picture books for children.
concepções e práticas educativas, cegando-nos à
4.ed.American Library Association: Chicago, 1997.
riqueza e à potencialidade dos livros de imagem.
A ilustradora Marilda Castanha (2008, p. 148) KOCH, Ingedore G. Villaça; BENTES, Anna
nos faz refletir sobre essa questão quando afirma: Christina; CAVALCANTE, Mônica Magalhães.
Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo:
Quero destacar também outra Cortez, 2012.
característica, muito presente na
LAWSON,Andrew J. Cave art. Buckinghamshire:
arte e na própria ideia de se fazer
livros de imagens: a transgressão. Shire Publications, 1991.
É transgressor conceber uma obra LIMA, Graça. A imagem nos livros infantis – ca-
aberta, onde várias leituras possam minhos para ler o texto visual. Belo Horizonte:
se relacionar. É transgressor propor Autêntica, 2011.
uma narrativa somente por meio
de elementos visuais. E é trans- MAINGUENEAU, Dominique. Análise de tex-
gressor considerar que o livro sem tos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2001.
texto, aparentemente um objeto NODELMAN, Perry. The narrative art of chil-
lúdico, também oferece uma nar-
dren’s picture books. University of Georgia Press:
rativa literária para diferentes leito-
res, sejam eles crianças ou adultos.
Georgia, 1996.
RAMOS, Paulo.A leitura dos quadrinhos. São Pau-
Se, nesse sentido, for necessário que o pro- lo: Contexto, 2010. Disponível em: http://www.
fessor transgrida para propor um trabalho com luizluagonzaga.com.br/ Acesso em: 27 dez. 2013.
Obras selecionadas

PNBE
2014
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Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1 Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1

ERA UMA VEZ TRÊS CACHINHOS DE OURO HUM, QUE GOSTOSO! MEU CORAÇÃO
VELHINHAS... Texto (adaptação): É UM ZOOLÓGICO
Texto: Sonia Junqueira
Texto: Anna Claudia Ramos Ana Maria Machado Ilustrações: Texto e ilustrações: Michael Hall
Ilustrações: Ilustrações: Ellen Pestili Mariângela Haddad Editora: Paz e Terra
Alexandre Rampazzo Editora: Editora FTD Editora: Autêntica Categoria: Textos em verso
Editora:Editora Globo Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
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O PATINHO FEIO É um ratinho? Quando os Tam-Tans SAMBA LELÊ


Texto (adaptação): Texto e ilustrações: fazem tum-tum
Texto: Andreia Moroni
Roberto Piumini Guido van Genechten Texto e ilustrações: Ivan Zigg
Ilustrações:
Ilustrações: Editora: Gaudí Editorial Editora: Nova Fronteira Brena Milito Polettini
Barbara Nascimbeni Categoria: Livros de Categoria: Livros de Editora: Carochinha
Editora: Editora Positivo narrativas por imagens narrativas por imagens
Categoria: Textos em verso
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PIPOCA, UM CARNEIRINHO PAI, NÃO FUI EU!


Eu vi!
UM ELEFANTE E UM TAMBOR Texto: Ilan Brenman
Texto e ilustrações: SE BALANÇA...
Texto: Graziela Bozano Hetzel Ilustrações:
Fernando Vilela
Texto e ilustrações: Ilustrações: Elma AnnaLaura Cantone
Editora: Escarlate Marianne Dubuc
Editora: DCL Editora: All Books
Categoria: Textos em prosa Editora: DCL
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

QUEM É ELA? Douglas quer Vira Bicho!


DIA DE SOL
um abraço Texto: Luciano Trigo
Texto: Eliane Pimenta Texto e ilustrações:
Ilustrações: Ionit Zilberman Renato Moriconi Texto e ilustrações: Ilustrações: Mariana Massarani
David Melling Editora: Versus
Editora: Brinque-Book Editora: Jujuba
Editora: Salamandra Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
Categoria: Livros de
narrativas por imagens

O BEBÊ DA O SACO Longe-Perto O MINHOCO APAIXONADO


CABEÇA AOS PÉS Texto e ilustrações: Ivan Zigg Texto: Texto: Alessandra
Texto: Victoria Adler Marcello Araujo Vera Lúcia Dias Pontes Roscoe
Ilustrações: Hiroe Nakata Editora: Duetto Ilustrações: Ilustrações:
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa Romont Willy Luciana Fernández
Categoria: Textos em prosa Editora: Editora Elementar Editora: Editora Canguru
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso
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Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 1 Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

Aperte aqui Asa de papel O GRANDE RABANETE CADÊ O SOL?

Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: Texto: Tatiana Belinky Texto: Vera Lúcia Dias
Hervé Tullet Marcelo Xavier Ilustrações: Claudius Ilustrações: Romont Willy
Editora: Editora Ática Editora: Livraria Saraiva Editora: Moderna Editora: MMM
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

NO MUNDO Ida e volta


DO FAZ DE CONTA Texto e iustrações:
O MENINO E O PEIXINHO O CROCODILO
Texto e ilustrações: Fê Juarez Machado
Texto: Sonia Junqueira E O DENTISTA
Editora: Paulinas Editora: Edigraf Ltda.
Ilustrações: Texto e iustrações:
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de Taro Gomi
Mariângela Haddad
narrativas por imagens
Editora: Autêntica Editora: Berlendis &
Verteccchia Editores
Categoria: Livros de
narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa
TEM BICHO QUE SABE...
Texto e iustrações: Toni e Laíse
Editora: Bamboozinho Gino girino coco Louco
Categoria: Textos em prosa Texto: Theo de Oliveira e Texto: Gustavo Luiz
Milton Celio de Oliveira Filho Ilustrações: Mig
Ilustrações: Alexandre Alves Editora:
e Ronaldo lopes Melhoramentos Livrarias
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2 Categoria: Textos em prosa

É UM GATO? BORBOLETINHA UM SOM... ANIMAL! O BALDE DAS CHUPETAS


Texto e ilustrações: Texto: Andreia Moroni ANIMAIS DO
Texto: Bia Hetzel
Guido van Genechten Ilustrações: Daniela Galanti NOSSO ENTORNO
Ilustrações:
Editora: Gaudí Editorial Editora: Carochinha Texto e ilustrações: Mariana Massarani
Categoria: Livros de Lô Carvalho
Categoria: Textos em verso Editora: Manati
narrativas por imagens Editora: Bamboozinho
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

Eu te disse
O BOSQUE ENCANTADO
Texto e ilustrações: Taro Gomi QUE BICHO SERÁ maria que ria
Texto: Ignacio Sanz QUE BOTOU O OVO?
Editora: Berlendis & Texto e ilustrações: Rosinha
Verteccchia Editores Ilustrações: Noemí Villamuza
Texto: Angelo Machado Editora: Araguaia
Categoria: Textos em prosa Editora: Macmillan
Ilustrações: Roger Mello Categoria: Livros de
Categoria: Textos em verso
Editora: Edigraf Participações narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa
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Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2 Categoria 1 . Educação Infantil . 0 a 3 anos . Acer vo 2

BRANCA DE NEVE
DUAS FESTAS DE CIRANDA O GUERREIRO
Texto: Jacob Grimm e Wilhelm Grimm
Texto: Fábio Sombra Texto: Mary França
Adaptação: Laurence Bourguignon
e Sérgio Penna Ilustrações: Eliardo França
Iludstrações: Quentin Gréban
Ilustrações: Fábio Sombra Editora: Mary e Eliardo Editora
Editora: Comboio de Corda
Editora: Zit Editora Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1


MENINOS DE VERDADE ANTON E AS MENINAS
Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Manuela Olten Ole Könnecke Você e eu Já pra cama,
Editora: Saber e Ler Editora: WMF Martins Fontes monstrinho!
Texto e ilustrações:
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Editora: Livros da Matriz Mario Ramos
Categoria: Livros de Editora: Berlendis &
Imagens e Livros de Verteccchia Editores
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O JORNAL SAPO COMILÃO
Texto e ilustrações: Texto: Stela Barbieri
Patrícia Bastos Auerbach QUEM QUER SERÁ MESMO
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BRINCAR COMIGO? QUE É BICHO?
Editora: Brinque-Book Editora: DCL
Categoria: Livros de Texto: Tino Freitas Texto: Angelo Machado
Categoria: Textos em prosa
narrativas por imagens Ilustrações: Ivan Zigg Ilustrações: Roger Mello
Editora: Abacatte Editora: Edigraf Ltda.
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

UM TANTO PERDIDA BOCEJO


LADRÃO DE GALINHAS CALMA, CAMALEÃO!
Texto e ilustrações: Texto: Ilan Brenman
Chris Haughton Ilustrações: Renato Moriconi Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Editora: Abril Educação Béatrice Rodriguez Laurent Cardon
Editora: Cia. das Letrinhas
Categoria: Textos em prosa Editora: Livros da Editora: Anglo
Categoria: Livros de
Raposa Vermelha Categoria: Livros de
narrativas por imagens
Categoria: Livros de narrativas por imagens
narrativas por imagens

A CASA DO BODE QUEM SOLTOU O PUM? UM+UM+UM+TODOS AUAU MIAU PIU-PIU


E DA ONÇA Texto: Blandina Franco Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Texto e ilustrações: Anna Göbel Cécile Boyer
Ilustrações: José Carlos Lollo
Angela Lago Editora: Gutenberg Editora: Berlendis &
Editora: Claro Enigma
Editora: Lendo e Aprendendo Categoria: Livros de Verteccchia Editores
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa
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Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1 Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 1

DUPLO DUPLO NÃO VOU DORMIR A PRINCESA MARIBEL MAS QUE MULA!
Texto e ilustrações: Texto: Christiane Gribel Texto: Patacrúa Texto e ilustrações:
Menena Cottin Ilustrações: Orlando Ilustrações: Javier Solchaga Martina Schreiner
Editora: Pallas Editora: Gaudí Editorial Editora: Editora Positivo Editora: Editora Cata Sonho
Categoria: Livros com Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso
narrativa de palavras-chave

UM GATO MARINHEIRO QUERO UM BICHO


RATINHOS HISTÓRIAS ESCONDIDAS DE ESTIMAÇÃO
Texto: Roseana Murray
Texto: Texto e ilustrações: Texto e ilustrações:
Ilustrações:
Ronaldo Simões Coelho Odilon Moraes Lauren Child
Elisabeth Teixeira
Ilustrações: Editora: Hedra Editora: Editora Reviravolta
Editora: Universo
Humberto Guimarães Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
Editora: Editora Reviravolta
Categoria: Textos em verso

TEM DE TUDO NESTA RUA... ABRAÇO APERTADO


Texto e ilustrações: Texto: Celso Sisto
NÃO É UMA CAIXA JEREMIAS DESENHA
Marcelo Xavier Ilustrações:
Texto e ilustrações: UM MONSTRO
Editora: Editora Saraiva Elisabeth Teixeira
Antoinette Portis Texto e ilustrações:
Peter McCarty Categoria: Textos em verso Editora: Piá
Editora: CosacNaify
Editora: Editora Globo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Livros com
narrativa de palavras-chave Categoria: Textos em prosa

DE QUE COR É O VENTO?


Texto e ilustrações:
MÃENHÊ! O GATO E A ÁRVORE Anne Herbauts
Texto: Ilan Brenman Texto e ilustrações: Editora: FTD
Ilustrações: Rogério Coelho Categoria: Textos em prosa
Guilherme Karsten Editora: Piá
Editora: Escarlate Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2


MINHOCAS COMEM
QUEM TEM MEDO
AMENDOINS COMO COÇA! A VELHOTA
DE MONSTRO?
Texto e ilustrações: Elisa Géhin Texto e ilustrações: CAMBALHOTA
Texto: Ruth Rocha
Editora: Pequena Zahar Lucie Albon Texto: Sylvia Orthof
Ilustrações:
Categoria: Livros de Editora: Melhoramentos Ilustrações: Tato
Mariana Massarani
narrativas por imagens Categoria: Livros com Editora: Lê
Editora: Richmond
narrativa de palavras-chave Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso
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Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2 Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2

NÃO! A VISITA
MAR DE SONHOS SETE PATINHOS
NA LAGOA Texto e iustrações: Texto e iustrações:
Texto e ilustrações:
Marta Altés Lúcia Hiratsuka
Dennis Nolan Texto: Caio Riter
Editora: Escarlate Editora: Farol Literário
Editora: Singular Ilustrações: Laurent Cardon
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Categoria: Livros de Editora: Biruta
Imagens e Livros de
narrativas por imagens Categoria: Textos em verso Histórias em Quadrinhos

MISTURICHOS HISTÓRIA EM 3 ATOS VOA PIPA, VOA PARLENDAS


PARA BRINCAR
Texto: Beatriz Carvalho Texto: Bartolomeu Campos Texto e ilustrações:
Regina Rennó Texto: Josca Ailine Baroukh
Ilustrações: Renata Bueno de Queirós
e Lucila Silva de Almeida
Editora: WMF Martins Fontes Ilustrações: André Neves Editora: Lê
Ilustrações: Camila Sampaio
Categoria: Textos em prosa Editora: Global Editora Categoria: Livros de
narrativas por imagens Editora: Araguaia
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso

COMO SURGIRAM O NOIVO DA RATINHA


CURUPIRA, COACH! OS VAGA-LUMES Texto e ilustrações:
BRINCA COMIGO Texto: Rodrigo Folgueira Texto: Stela Barbieri Lúcia Hiratsuka
Texto: Lô Carvalho Ilustrações: Poly Bernatene Ilustrações: Fernando Vilela Editora: Araguaia
Ilustrações: Susana Rodrigues Editora: EdiPUCRS Editora: Editora Scipione Categoria: Livros de
Editora: Bamboozinho Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa

GABRIEL TEM NERINA: A OVELHA NEGRA


ALÔ, MAMÃE! CHAPÉU 99 CENTÍMETROS
Texto e ilustrações:
ALÔ, PAPAI! Texto e ilustrações: Texto: Annette Huber Michele Iacocca
Texto: Alice Horn Paul Hoppe Ilustrações: Manuela Olten Editora: Editora Ática
Ilustrações: Editora: Brinque-Book Editora: Saber e Ler Categoria: Livros de
Joëlle Tourlonias Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens
Editora: Champagnat
Editora PUCPR
Categoria: Textos em prosa
RAPUNZEL LÁ VEM O HOMEM
DOIS GATOS PONTO Texto: Jacob Grimm DO SACO
FAZENDO HORA Texto e ilustrações: e Wilhelm Grimm Texto e ilustrações:
Texto: Guilherme Mansur Patricia Intriago Adaptação e ilustrações: Regina Rennó
Ilustrações: Sônia Magalhães Editora: Duetto Thais Linhares Editora: EdiPUCRIO
Editora: SESI-SP Editora Categoria: Textos em prosa Editora: Mundo Mirim Categoria: Livros de
Categoria: Textos em verso Categoria: Livros de Imagens e Livros de
Imagens e Livros de Histórias em Quadrinhos
Histórias em Quadrinhos
82 83

Categoria 2 . Educação Infantil. 4 e 5 anos . Acer vo 2 Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1

TOM E O DENTE AINDA DOÍA O LAÇO COR DE ROSA CHÁ DE SUMIÇO E


Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: OUTROS POEMAS
Texto: Carlos Heitor Cony
André Neves Ana Terra ASSOMBRADOS
Ilustrações: Cláudio Duarte
Editora: Projeto Editora Editora: DCL Texto: André Ricardo Aguiar
Editora: Sociedade Literária
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso Ilustrações: Luyse Costa
Categoria: Textos em prosa
Editora: Gutenberg
Categoria: Textos em verso

RINOCERONTES NÃO
COMEM PANQUECAS
A BRUXA E O VAI E VEM
Texto: Anna Kemp ESPANTALHO Texto e ilustrações:
Ilustrações: Sara Ogilvie Texto e ilustrações: Laurent Cardon
Editora: Paz & Terra Gabriel Pacheco Editora: Gaivota
Categoria: Textos em prosa Editora: Jujuba Categoria: Livros de
Categoria: Livros de Imagens e Livros de
narrativas por imagens Histórias em Quadrinhos

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1


MESTRE GATO JOÃOZINHO E MARIA
E COMADRE ONÇA Adaptação: Cristina Agostinho
O GARIMPEIRO DO O SACI EPAMINONDAS
RIO DAS GARÇAS Texto e ilustrações: e Ronaldo Simões Coelho
Texto: Alan Oliveira
Carolina Cunha Ilustrações:
Texto: Monteiro Lobato Ilustrações: Daniel Araujo
Editora: Edições SM Walter Lara
Ilustrações: Guazelli Editora: Editora Gaivotaivota
Categoria: Textos em prosa Editora: Mazza Edições
Editora: Globo Kids Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

111 POEMAS TRÊS FÁBULAS DE ESOPO A MENOR ILHA CARVOEIRINHOS


PARA CRIANÇAS DO MUNDO Texto e ilustrações:
Texto: Paulo Garfunkel
Texto: Sergio Capparelli Texto: Tatiana Filinto Roger Mello
Ilustrações: Sanzio Marden
Ilustrações: Ana Gruszynski Ilustrações: Editora: Cia. das Letrinhas
Editora: Carochinha
Graziella Mattar Categoria: Textos em prosa
Editora: L&PM Editores Categoria: Textos em verso
Editora: Grão Editora
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

O MENINO QUE SAPO IVAN E O BOLO A VELHINHA PEQUENO REI


MORAVA NO LIVRO E O PORCO E O PARQUE REAL
Texto e ilustrações:
Texto: Henrique Sitchin Henfil Texto e ilustrações: Texto: Jose Roberto Torero
Ilustrações: Alexandre Rampazo Editora: Ediouro Rosinha Ilustrações:
Editora: Guia dos Publicações Passatempos Editora: Editora do Brasil Vinicius Vogel
Curiosos Comunicações e Multimídia Categoria: Textos em prosa Editora: Fontanar
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
84 85

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 1 Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2

HISTÓRIAS DA CAROLINA OS OITO PARES DE OTOLINA E A CHAPEUZINHO AMARELO


A MENINA SONHADORA QUE SAPATOS DE CINDERELA GATA AMARELA Texto: Chico Buarque
QUER MUDAR O MUNDO Texto: Jose Roberto Torero Texto e ilustrações: Ilustrações: Ziraldo
Texto e ilustrações: Ziraldo e Marcus Aurelius Pimenta Chris Riddell
Editora: José Olympio Editora
Editora: Globo Livros Ilustrações: Raul Fernandes Editora: Galera Record
Categoria: Textos em verso
Categoria: Livros de Editora: Alfaguara Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de Categoria: Textos em prosa
Histórias em Quadrinhos

OU ISTO OU AQUILO O GATO MASSAMÊ E


LILI INVENTA O MUNDO A MENINA E O CÉU
Texto: Cecília Meireles AQUILO QUE ELE VÊ
Texto: Mario Quintana Texto: Leo Cunha
Ilustrações: Odilon Moraes Texto: Ana Maria Machado
Ilustrações: Suppa Ilustrações: Cris Eich
Editora: Global Editora Ilustrações: Jean-Claude
Editora: Gaudí Editorial Editora: Champagnat Ramos Alphen
Edutora PUCPR Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em verso Editora: Editora Ática
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

A ÁRVORE QUE PENSAVA MULA SEM CABEçA E


QUERO MEU PEDRO NOITE
Texto: Oswaldo França Junior OUTRAS HISTóRIAS
CHAPéU DE VOLTA Texto: Caio Riter
Ilustrações: Ângela Lago Texto: Sylvia Orthof
Texto e ilustrações: Ilustrações: Mateus Rios
Jon Klassen Editora: Edigraf Ltda. Ilustrações: Ana Terra
Editora: Editora Biruta
Editora: Martins Fontes Categoria: Textos em prosa Editora: Florescer
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

E A MOSCA O SEGREDO DE
O ANIVERSÁRIO QUANDO O LOBO
FOI PRO ESPAÇO RIGOBERTA
DO DINOSSAURO TEM FOME
Texto e ilustrações: Texto: Raquel Marta Barthe
Texto: Índigo Texto:
Renato Moriconi Ilustrações: Leticia Asprón
Ilustrações: Elma Christine Naumann-Villemin
Editora: Escala Educacional Editora: Biruta
Editora: Dedo de Prosa Ilustrações: Kris Di Giacomo
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Editora: Berlendis &
Imagens e Livros de
Verteccchia Editores
Histórias em Quadrinhos
Categoria: Textos em prosa
A MULHER QUE
VIROU URUTAU PSSSSSSSSSSSSSIU! COM A NOITE
Texto: Silvana Tavano VEIO O SONO
Texto: Olívio Jekupe
e Maria Kerexu Ilustrações: Daniel Kondo Texto: Lia Minápoty
Ilustrações: Taisa Borges Editora: Callis Ilustrações: Maurício Negro
Editora: Guia dos Categoria: Textos em prosa Editora: IMP
Curiosos Comunicações Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
86 87

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2 Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 2

CONTOS DE PRINCESAs TRUDI E KIKI


A FOME DO LOBO A OVELHA NEGRA
DA RITA Texto: Wendy Jones Texto e ilustrações:
Texto: Cláudia Maria Eva Furnari
Ilustrações: Su Blackwell
de Vasconcellos Texto e ilustrações:
Editora: WMF Martins Fontes Editora: Moderna
Ilustrações: Odilon Moraes Silvana de Menezes
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa
Editora: Iluminuras Editora: MMM Edições
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
narrativas por imagens UM FIO DE AMIZADE IRMÃ-ESTRELA
Texto e ilustrações: Texto: Alain Mabanckou
CULTURA RINDO ESCONDIDO Marilia Pirillo Ilustrações: Judith Gueyfier
Texto: Arnaldo Antunes Texto e ilustrações: Editora: Lafonte Junior Editora: Champagnat
Ilustrações: Thiago Lopes João Proteti Categoria: Livros de Editora PUCPR
Editora: Iluminuras Editora: Papirus narrativas por imagens Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso
CHARLES NA ESCOLA DE DRAGÕES
Texto: Alex Cousseau
Ilustrações: Philippe-Henri Turin
Editora: Associação
O VELHO, O MENINO ARCO-ÍRIS TEM MAPA?
Paranaense de Cultura
E O BURRO Texto: Vivina de Assis Viana
Categoria: Textos em prosa
Texto: Monica Stahel Ilustrações: Marilda Castanha
Ilustrações: Laura Michell Editora: Editora Scipione
Editora: WMF Martins Fontes Categoria: Textos em prosa
Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3
Categoria: Textos em prosa
OS PÁSSAROS ALFABETO ESCALAFOBÉTICO
Texto e ilustraçlões: Albertine Texto: Claudio Fragata
Zullo e Germano Zullo Ilustrações: Raquel Matsushita
COELHO MAU 20.000 LÉGUAS
Editora: Editora 34 Editora: Jujuba
Texto: Jeanne Willis SUBMARINAS
EM QUADRINHOS Categoria: Livros de Imagens e Categoria: Textos em verso
Ilustrações: Tony Ross Livros de Histórias em Quadrinhos
Texto: João Marcos
Editora: Anglo
Ilustrações: Will LIMERIQUES DO BÍPEDE BICHOS DO LIXO
Categoria: Textos em prosa
Editora: Nemo APAIXONADO Texto e ilustrações:
Categoria: Livros de Imagens e Texto: Tatiana Belinky Ferreira Gullar
Livros de Histórias em Quadrinhos Ilustrações: Andrés Sandoval Editora: Casa da Palavra
Editora: Editora 34 Categoria: Textos em verso
VOU ALI E VOLTO JÁ JARDIM DE VERSOS Categoria: Textos em verso
Texto: Angela Carneiro, Texto: Robert Louis Stevenson
Lia Neiva e Sylvia Orthof MEU REINO CENA DE RUA
Ilustrações: Marilia Pirillo
Ilustrações: Elisabeth Teixeira, Texto e ilustrações: Kitty Crowther Texto e ilustrações:
Editora: FTD
Mariana Massarani e Roger Mello Editora: CosacNaify Laurent Cardon
Categoria: Textos em verso
Editora: Vida Melhor Categoria: Textos em prosa Editora: Gaivota
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de Imagens e
Livros de Histórias em Quadrinhos
88 89

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3 Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 3

CERTOS DIAS ERA UMA VEZ ESTóRIAS DE JABUTI KARU TARU -


Texto e ilustrações: Texto: María Teresa Andruetto Texto: Marion Villas Boas O PEQUENO PAJÉ
María Wernicke Ilustrações: Claudia Legnazzi Texto: Daniel Munduruku
Ilustrações: Marcelo Pimentel
Editora: Casa Amarelinha Editora: Gutenberg Ilustrações: Marilda Castanha
Editora: Florescer
Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa Editora: Edelbra
Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Categoria: Textos em prosa
Histórias em Quadrinhos

UM MENINO E UM URSO CADÊ O SUPER-HERÓI?


EM UM BARCO Texto: Walcyr Carrasco
HISTÓRIAS DE CANTIGAS CARMELA VAI À ESCOLA
Texto e ilustrações: Ilustrações: Jefferson Ferreira Organização: Celso Sisto Texto: Adélia Prado
Dave Shelton Ilustrações: Claudia Cascarelli Ilustrações: Elisabeth Teixeira
Editora: Altea
Editora: Bertrand Brasil Editora: Cortez Editora Editora: Cameron
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

CARTA ERRANTE, UMA ESTÁTUA DIFERENTE


AVÓ ATRAPALHADA, Texto: Charlotte Bellière
OS INVISÍVEIS COBRAS E LAGARTOS
MENINA ANIVERSARIANTE Texto: Tino Freitas Texto: Wania Amarante
Ilustrações: Ian De Haes
Texto: Mirna Pinsky Editora: Saber e Ler Ilustrações: Renato Moriconi Ilustrações: Gaiola Estúdio
Ilustrações: Ionit Zilberman Categoria: Textos em prosa Editora: Casa da Palavra Editora: Quinteto Editorial
Editora: FTD Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

TRINCA-TROVA TRUQUES COLORIDOS


Texto: Ciça Texto: Branca Maria de Paula NO OCO DA AVELÃ UMA, DUAS,
Texto: Muriel Mingau TRÊS PRINCESAS
Ilustrações: Ilustrações: Marcelo Xavier
Fabíola P. Capelasso Ilustrações: Carmen Segovia Texto: Ana Maria Machado
Editora: Compor
Editora: Globo Kids Editora: Rodopio Ilustrações: Luani Guarnieri
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa Editora: Anglo
Categoria: Textos em prosa

O LIVRO DOS OS DOZE TRABALHOS FUMAÇA


PÁSSAROS MÁGICOS DE HÉRCULES
Texto: Antón Fortes
Texto: Heloisa Prieto Adaptação: Denise Ortega
Ilustrações: Joanna Concejo
Ilustrações: Laurabeatriz Ilustrações: Luiz Podavin
Editora: Editora Positivo
Editora: FTD Editora: Globo Kids
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
90 91

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4 Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4

A PRINCESA DESEJOSA TRÊS CONTOS DE MUITO OURO A PONTE A BRUXINHA E O DRAGÃO


Texto e ilustrações: Texto: Fernanda Lopes de Almeida Texto: Heinz Janisch Texto e ilustrações:
Cristina Biazetto Ilustrações: Cristina Biazetto Ilustrações: Helga Bansch Jean-Claude R. Alphen
Editora: Projeto Editora Editora: Projeto Editora Editora: Escarlate Editora: Pearson
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

EMIL E OS TRÊS GÊMEOS ERA UMA VEZ UM CÃO OS SINOS VISITA À BALEIA

Texto e ilustrações: Texto: Adélia Carvalho Texto: Manuel Bandeira Texto: Paulo Venturelli
Erich Kastner Ilustrações: João Vaz de Carvalho Ilustrações: Ilustrações:
Editora: Pavio Gonzalo Cárcamo Nelson Cruz
Editora: Editora Canguru
Categoria: Textos em prosa Editora: Gaudí Editorial Editora: Posigraf
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa

O TAPETE VOADOR YAGUARÃBoIA - BAGUNÇA NO MAR HISTÓRIAS DA ONÇA


A MULHER-ONÇA Texto: Bia Hetzel E DO MACACO
Texto e ilustrações: Caulos
Texto: Yaguare Yamã Ilustrações: Mariana Massarani Texto: Vera do Val
Editora: Lendo e Aprendendo
Ilustrações: Mauricio Negro Editora: Manati Ilustrações: Geraldo Valério
Categoria: Livros de
narrativas por imagens Editora: Leya Categoria: Textos em prosa Editora: WMF Martins Fontes

Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em prosa

RECEITAS DA VÓ NANA PESTANA Zoo JARDIM DE MENINO POETA


PARA SALVAR A VIDA Texto: Sylvia Orthof Texto e ilustrações: Texto: Maria Valéria Rezende
Texto: Neide Barros e Jesús Gabán Ilustrações: Maurício Veneza
Ilustrações: Rosinha
Juju Martiniano Editora: Projeto Editora Editora: Planeta Infantil
Editora: Ediouro Publicações
Ilustrações: Escrita_Fina Passatempos e Multimídia Categoria: Livros de Categoria: Textos em verso
Editora: Globo Kids narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso

ANTOLOGIA ILUSTRADA CHAPEUZINHO REDONDO


A VENDEDORA BOULE & BILL:
DA POESIA BRASILEIRA: Texto: Geoffroy de Pennart DE CHICLETES SEMENTE DE COCKER
PARA CRIANÇAS DE
Ilustrações: Gilda de Aquino Texto: Fabiano Moraes Texto: Laurent Verron
QUALQUER IDADE
Editora: Escarlate Ilustrações: Claudio Cambra Ilustrações: Roba
Organização e iustrações:
Adriana Calcanhotto Categoria: Textos em prosa Editora: Universo da Literatura Editora: Nemo
Editora: Casa da Palavra Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Categoria: Textos em verso Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
92 93

Categoria 3 . Anos iniciais do Ensino Fundamental . Acer vo 4 Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

BRUNO E AMANDA: MEU AMOR AS SETE VIAGENS AISJA


HISTÓRIAS MISTURADAS Texto e ilustrações: FABULOSAS DO Texto:
Texto: Pedro Veludo Beatrice Alemagna MARINHEIRO SIMBAD Pieter van Oudheusden
Ilustrações: Henrique Koblitz Editora: Digisa
EM CORDEL
Ilustrações:
Editora: Quatro Cantos Categoria: Livros de Adaptação: Sergio Severo Stefanie de Graef
Categoria: Textos em prosa narrativas por imagens Ilustrações: Valeriano Editora: Comboio de Corda
Editora: Nova Alexandria Categoria: Textos em Prosa
Categoria: Textos em verso
PALAVRAS SÃO PÁSSAROS O URSO, A GANSA E O LEÃO
Texto: Angela Leite de Souza Texto: Ana Maria Machado O COMPADRE DE OGUM 1 REAL
Ilustrações: Pipida Fontenelle Ilustrações: Roberto Weigand Texto: Jorge Amado Texto e ilustrações:
Editora: Mundo Mirim Editora: Quinteto Editorial Editora: Claro Enigma Federico Delicado Gallego
Categoria: Livros com Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em Prosa Editora:
narrativa de palavras-chave Edições Jogo de Amarelinha
Categoria: Livros de Imagens e
Livros de Histórias em Quadrinhos
Campeões
Texto: Fiona Rempt
PEQUENO DICIONÁRIO NOITES BRANCAS
Ilustrações: Noëlle Smit
DE PALAVRAS AO VENTO Texto: Fiódor Dostoiévski
Editora: Manati
Texto: Adriana Falcão Ilustrações: Livio Abramo
Categoria: Textos em prosa
Ilustrações: Thaís Beltrame Editora: Editora 34
Editora: Richmond Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

ALEXANDRE E AS CORES DA ESCRAVIDÃO


O QUE VI POR AÍ - A BICICLETA QUE
ANDANÇAS E DESCOBERTAS TINHA BIGODES OUTROS HERÓIS Texto: Ieda de Oliveira
DE UM ESCRITOR PELO BRASIL Texto e ilustrações: Ondjaki Texto: Graciliano Ramos Ilustrações: Rogério Borges
Texto: Manuel Filho Editora: Pallas Editora: Cameron Editora: Champagnat
Ilustrações: Marcello Araujo Categoria: Textos em prosa Editora PUCPR
Categoria: Textos em prosa
Editora: Edições Arvoredo Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

ADOLESCÊNCIA & CIA MAIS COM MAIS DÁ MENOS O SEGREDO E OUTRAS CANTE LÁ QUE
Organização: Texto: Bartolomeu HISTÓRIAS DE DESCOBERTA EU CANTO CÁ
Jorge Fernando dos Santos Campos de Queiroz Texto: Lygia Fagundes Telles Texto: Patativa do Assaré
Ilustrações: Cláudio Martins Ilustrações: Marcelo Drummond Ilustrações: Eloar Guazelli Editora: Editora Vozes
Editora: Miguilim e Marconi Drummond
Editora: Cia. das Letras Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa Editora: RHJ Editora
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa
94 95

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1 Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 1

A MANTA- UMA HISTÓRIA EM


MARCÉU GALANTE QUADRINHOS (DE TECIDO)
Texto: Marcos Bagno Texto e ilustrações: Texto: Isabel Minhós Martins
Editora: Posigraf João Proteti
Ilustrações: Yara Kono
Categoria: Textos em prosa Editora: Cortez Editora
Editora: Tordesilhinhas
Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2


MERGULHO DE QUANTA TERRA
Texto e ilustrações: PRECISA O HOMEM? DOM CASMURRO A CULPA É DAS ESTRELAS
Luciano Tasso Texto: Liev Tolstói Adaptação: Felipe Greco Texto: John Green
Editora: JPA Ilustrações: Cárcamo Ilustrações: Mario Cau Editora: Intrínseca
Categoria: Livros de Editora: Cia. das Letrinhas Editora: Devir Livraria Categoria: Textos em prosa
narrativas por imagens
Categoria: Textos em prosa Categoria: Livros de
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos
A DOLOROSA RAIZ O BEABA DO SERTÃO
DE MICONDÓ NA VOZ DE GONZAGÃO
A DONZELA SEM ERA OUTRA VEZ –
Texto: Conceição Lima Texto: Arlene Holanda MÃOS E OUTROS CONTOS
Editora: Geração Editorial e Arievaldo Viana CONTOS POPULARES Texto: Livia Garcia-Roza
Categoria: Textos em verso Ilustrações: Suzana Paz Adaptação: Helena Gomes Editora: All Books
Editora: Armazém da Cultura Ilustrações: Kako Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso Editora: Escrita Fina
Categoria: Textos em prosa

ADEUS CONTO DE FADAS BEM-VINDO:


ENTRETANTO, FOI ASSIM CONTOS DA MAIS-VALIA
Texto: Leonardo Brasiliense HISTÓRIAS COM AS CIDADES
QUE ACONTECEU - QUANDO E OUTRAS TAXAS
DE NOMES MAIS BONITOS E
Editora: 7 Letras A NOTICIA É SÓ O COMEÇO Texto: Paulo Tedesco
MISTERIOSOS DO BRASIL
Categoria: Textos em prosa DE UMA BOA HISTÓRIA
Organização: Fabrício Carpinejar Editora: Dublinense
Texto: Christian Carvalho Cruz
Editora: Bertrand Brasil Categoria: Textos em prosa
Editora: Arquipélago Editorial
Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa

o man e o brother CULTURA DA TERRA AUTO DA COMPADECIDA QUARTO DE COSTURA


Texto: Dilan Camargo Texto e ilustrações: Texto: Ariano Suassuna Texto: Wania Amarante
Editora: Inverso Editora Ricardo Azevedo Ilustrações: Romero de Ilustrações: Guignard
Categoria: Textos em prosa Editora: Moderna Andrade Lima Editora: EdiPUCRS
Categoria: Textos em prosa Editora: Gol Editora Categoria: Textos em verso
Categoria: Textos em prosa
96 97

Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2 Categoria 4 . Educação de Jovens e Adultos . Acer vo 2

QUANDO MARIA APOLINÁRIO – O NAVIO NEGREIRO NELSON MANDELA –


ENCONTROU JOÃO O HOMEM DICIONÁRIO Texto: Castro Alves O PRISIONEIRO MAIS
Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: Fabio Yabu FAMOSO DO MUNDO
Adaptação: Slim Rimografia
Rui de Oliveira Texto e ilustrações: Daniel Bueno Texto: Seong Eun Gang
Ilustrações: Grupo Opni
Editora: Singular Editora e Gráfica Editora: Guia dos Ilustrações: Gyeong Eun Gang
Editora: Guia dos
Categoria: Livros de Curiosos Comunicações Curiosos Comunicações Editora: Pallas
Imagens e Livros de Categoria: Textos em verso Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em verso
Histórias em Quadrinhos

SINA O VOO DA ASA BRANCA


O LENÇO BRANCO CONTOS DA FLORESTA
Texto e ilustrações: Texto e ilustrações: Soud
Roniwalter Jatobá Texto: Viorel Boldis Texto: Yaguarê Yamã
Editora: Prumo
Editora: Piá Ilustrações: Antonella Toffolo Ilustrações: Luana Geiger
Categoria: Livros de
Categoria: Textos em prosa Editora: Pequena Zahar Editora: Editora Peirópolis
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos Categoria: Livros de Categoria: Textos em prosa
Imagens e Livros de
Histórias em Quadrinhos

NO RESTAURANTE SUBMARINO – EU SOU MAIS EU


ABC.... ATÉ Z! O DETECTOR DE SACIS
CONTOS FANTÁSTICOS Texto: Sylvia Orthof
Texto: Bartolomeu Texto: Milton Morales Filho
Texto: Murilo Rubião, Ilustrações: Renato Alarcão Campos de Queirós Ilustrações: Polly Duarte
Lygia Fagundes Telles,
Editora: Florescer Ilustrações: Júlia Bianchi
Amilcar Bettega e Moacyr Scliar Editora: Paulus
Categoria: Textos em prosa Editora: Dibra
Editora: Boa Companhia Categoria: Textos em prosa
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso

MOBY DICK JONAS E A SEREIA


Adaptação: Carlos Heitor Cony Texto: Zélia Gattai PENAS DE GARÇA
Editora: Singular Editora Ilustrações: Flavio Morais Texto: Auta de Souza
e Gráfica Editora: Claro Enigma Ilustrações: Rosinha
Categoria: Textos em prosa Categoria: Textos em verso Editora: Jujuba
Categoria: Textos em verso

ORQUESTRA BICHOFÔNICA CAIXINHA DE GUARDAR O


Texto: Antonio Barreto TEMPO
Ilustrações: Sebastião Nuvens Texto: Alessandra Roscoe
Editora: Aaatchim! Ilustrações: Alexandre Rampazo
Categoria: Textos em verso Editora: Gaivota
Categoria: Textos em prosa

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