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A construção do espaço público em Medellín

Quinze anos de experiência em políticas, planos e projetos integrados

Denise Antonucci e Lucas Bueno

Nos anos 1990, Medellín figurava nas primeiras posições dos índices de cidades
mais violentas do mundo. À época, os números elevados de homicídios a
colocavam no mesmo grupo de cidades em guerra civil. Eram em média quase sete
mil homicídios por ano em função de conflito armado, com guerrilhas, grupos
paramilitares e narcotráfico no país por cinquenta anos.

Evolução de Taxa de Homicídio, Comparativo Cidades Colombianas


Elaboração própria com base em Medical Examiner´s Office; Colombia Reports

Evolução de Taxa de Homicídios em Medellín


Elaboração própria com base em Medical Examiner´s Office; Colombia Reports

Bogotá e Medellín receberam a maior parte de desterrados, famílias expulsas de


suas terras em função dos conflitos se dirigiam a essas cidades em busca de
refúgio, emprego e nova vida. Na última década a cidade abrigou mais de 100
mil habitantes nessas condições e estima-se que 20% de sua população total
tenham história similar (1).
Evolução do Crescimento Urbano de Medellín
Lucas Bueno

A cidade foi construída às margens do Rio Medellín, localizado no Vale do


Aburrá, território de alto valor ambiental pela quantidade de corpos d’água.
Além disso, conta com topografia acidentada em seus dois costados e solo
instável geologicamente, impróprio para a construção massiva de assentamentos
em áreas de risco intensificada com a chegada de imigrantes.
Vista geral da periferia de Medellín
Foto Maria Cau Levy

Os assentamentos foram construídos próximos à cidade formal, localizada na


planície do rio Medellín, instalando-se em setores contíguos a empregos e à
infraestrutura. A divisão territorial estabelecida é reforçada pela estrutura
estratificada que ordena as cidades colombianas, tendo uma classificação de 1
(menor estrato) a 6 (maior estrato) para os serviços e impostos pagos em cada
setor.
Morfologia Urbana e Hidrografia
Lucas Bueno

Impulsionados pelo exemplo de Bogotá, que passou por processo de


requalificação urbana entre 1995 e 2005, gestores públicos, sociedade civil,
grupos empresariais e academia juntaram-se para formular um projeto de cidade.
O início do processo se deu na administração de Sergio Fajardo Valderrama
(2004-2007), e ao longo de quinze anos subsequentes a cidade experimentou
diversas políticas, planos e novos projetos utilizando o espaço público como
principal enfoque.

Medellín vem construindo uma cidade resiliente, onde a redução de riscos deve
constar do projeto urbano e de estratégias visando ao desenvolvimento
sustentável, melhorando progressivamente o direito de seus habitantes à
cidade. As políticas públicas são pautadas pela função social e ecológica da
propriedade; englobando habitação de interesse social, meio ambiente, espaço
público e mobilidade.
Estrato Socioeconômico e Desastres Naturais
Lucas Bueno

Os projetos aqui apresentados têm caráter holístico abrangendo aspectos


sociais (inclusão), ambientais (sustentabilidade), técnicos (infraestrutura de
serviços públicos) e espaciais (urbano e arquitetônico). Este artigo tem o
intuito de mostrar a estrutura dos planos municipais de ordenamento e promoção
pública, PUI – Projetos Urbanos Integrais, Espaços Públicos Ambientais;
identificar os atores promotores da cidade (EDU – Empresa de Desenvolvimento
Urbano e parceiros) e explicitar projetos realizados nos últimos quinze anos.

Planos municipais de ordenamento e promoção pública


Em 1993, Medellín registrava práticas de planejamento participativo que
permitiram o exercício ativo, dinâmico e propositivo da população. Essas foram
um dos motores para a criação do Sistema de Planejamento Municipal (1993) e a
institucionalização do Planejamento Local e Orçamento Participativo – PLPP,
atualizado em 2007, que guiaram a formulação, aprovação, execução, avaliação e
controle do Plano de Desenvolvimento de Medellín – PDM (2).

A Lei 388/97, de Desenvolvimento Territorial alterou a Lei 9/89, transcendendo


a visão de ilegalidade dos assentamentos precários ao fundamentar-se na função
social e ecológica da propriedade, na prevalência do interesse geral sobre o
particular, na função pública do urbanismo, na distribuição equitativa dos
encargos e benefícios, e incorporando conceitos do debate internacional como
melhoria, realocação e prevenção; regulamentando o Plano de Ordenamento
Territorial – POT. A lei aborda questões como o meio ambiente, áreas de risco,
áreas protegidas, espaço público, habitação de interesse social, mobilidade,
serviços públicos, gestão da terra, patrimônio natural e cultural (3).

Os POTs realizados por iniciativa do governo federal foram de extrema


importância para a reformulação das cidades e significou mudança profunda na
forma de pensar estruturas naturais e construídas, a oferta pública para seus
habitantes e sua participação. Com sua formulação foi possível criar um modelo
continuado de desenvolvimento das cidades, já que muitos projetos extrapolavam
os períodos de governos. Dessa maneira, a equipe que assume a gestão municipal
só pode definir Planos de Desenvolvimento Municipais – PDM que estejam de
acordo com o POT.

Em 1999, seguindo as orientações nacionais da Lei 388/97, foi formulado o


primeiro Plano de Ordenamento Territorial de Medellín (Acordo 62/99,
atualizado em 2006 e 2014) convertendo-se em instrumento integral para o
município, orientando o modelo de planejamento, ordenamento e desenvolvimento
da cidade dirigido à melhoria da qualidade de vida e a busca por uma cidade
mais justa; inseriu o espaço público como eixo estruturante das intervenções,
buscando conectar os projetos e trabalhá-los de forma sistêmica; priorizaram-
se as necessidades das populações em situação de risco, de forma participativa
e buscando maior equilíbrio com o meio ambiente (4).

O POT vigente de Medellín considera a cessão pública de 18% do lote para a


consolidação de equipamentos e espaços públicos, com exceção dos polígonos de
tratamentos definidos como Melhoramento Integral – MI e Melhoramento Integral
em Solo de Expansão – MIE, conforme indicado no mapa abaixo.
Tratamentos de Solo Urbano
Lucas Bueno, elaborado com base em POT 2014

O Plano de Desenvolvimento Municipal – PDM 2001-2003 do prefeito Luis Perez


Gutierrez se destacou pela introdução de recentes disposições do POT como
cultura cívica, cidade competitiva e espaço público. Embora várias ações sobre
o espaço e equipamentos tenham sido levantadas, nenhuma intervenção foi
viabilizada (5). Vale ressaltar, que as equipes que assumem a gestão devem
desenvolver o PDM nos primeiros seis meses da gestão e a aplicá-lo no tempo
restante.

Foi durante a gestão do prefeito Sergio Fajardo Valderrama (2004-2007) que os


projetos começaram a se viabilizar. Lançou-se o Plano de Desenvolvimento 2004-
2007 “Compromisso de toda a cidadania”, que traça metas de desenvolvimento
efetivo para os anos da gestão (6).

Eleito como o projeto de “pagamento da dívida social com as regiões esquecidas


pelo estado por anos”, e com o slogan “Medellín a mais educada”, buscou
elaborar projetos urbanos que integrassem os componentes físicos, culturais e
sociais a fim de:

 reduzir os impactos ambientais em áreas sensíveis, por meio de remoções de


assentamentos informais em áreas de risco, realocando a população para
conjuntos habitacionais;
 significar o espaço e o edifício público como novos lugares de encontro e
convivência, apostando em programas de educação e cultura, fortalecendo as
centralidades dos bairros, além de implantar centros integrais em torno a
educação, cultura, esportes e recreação;
 utilizar o Sistema Integrado de Transporte Metropolitano como estruturador da
mobilidade da cidade e, por fim;
 elaborar projetos urbanos junto à comunidade que buscassem atender a problemas
de desigualdade e de violência, tendo como premissa o cuidado com o meio
ambiente.
Esta é a estrutura que fundamenta os Projetos Urbanos Integrais – PUI (7),
criados nessa administração e que vêm sendo realizados pela Empresa de
Desenvolvimento Urbano – EDU.

“Os PUI são provavelmente a contribuição mais importante do experimento de


Medellín no campo do melhoramento de assentamentos informais. Representam
um compêndio de ações de planejamento, gerenciamento e desenho,
cuidadosamente coordenados para criar sinergia e impulsionar essas
comunidades para aumentar sua qualidade de vida” (8).

Na gestão de Alonso Salazar Jaramillo (2008-2011) o Plano de Desenvolvimento


2008-2011 continuou a linha política de Fajardo, seguindo com a intervenção em
assentamentos precários, educação como motor de mudança social, e se propôs a
revolucionar o bem-estar social, a solidariedade territorial e a equidade.
Tinha como estratégia a provisão de habitação e a continuidade e elaboração
dos PUIs, melhoria do habitat, e tinha a intenção de projetar-se regional e
globalmente (9).

Empresa de Desenvolvimento Urbano – EDU e parceiros promotores (10)


A EDU nasceu nos anos 1990 como um organismo da Prefeitura para a promoção
imobiliária e o desenvolvimento de projetos urbanos, mas apenas em 2002
outorgou-se sua pessoa jurídica, patrimônio próprio e autonomia administrativa
financeira, garantindo a continuidade dos projetos a serem desenvolvidos na
cidade. A EDU é gerida pela Junta Diretora, presidida pelo prefeito e pelos
Diretores Executivos que definem cargos de Direção e Gerência de forma
combinada a fim de aumentar a autonomia da empresa e sua capacidade de
continuidade de projetos. É o corpo técnico que a Prefeitura utiliza para a
implantação de projetos estruturados a partir do conceito do Urbanismo Social.

Estrutura Administrativa do Município de Medellín


Lucas Bueno, elaborado com base em POT 2014
Está orientada em cumprir com os objetivos traçados no POT e no PDM,
integrando os planos estruturados para a cidade buscando assim sua maior
efetividade. É responsável por projetar e construir os diferentes PUI e os
equipamentos públicos pautados em outros programas que foram sendo elaborados
ao longo de quinze anos, consolidando um projeto de cidade.

Ao longo da gestão Fajardo (2004-2007) e Salazar (2008-2011), foram


desenvolvidos os programas dos Parques Bibliotecas, equipamentos sociais com
programas educativos e culturais; Colégios de Qualidade, programa voltado ao
ensino Fundamental e Médio; Programa Buen Comienzo, creches voltadas à
primeira infância; nas gestões de Aníbal Gavíria (2012-2015) e Federico
Gutierrez (2016-2019) criaram-se as Unidades de Vida Articulada, com programas
voltados ao lazer e ao esporte, além de outros que proliferaram em praças e
quadras esportivas nos bairros.
Estes projetos oferecem espaço público de qualidade, encontrando como lidar
com a violência no território, intensificada durante anos pelo abandono pelo
Estado. Nestes equipamentos criam-se espaços públicos que fomentam a
convivência e o desenvolvimento de uma nova cidadania.

Em cada projeto busca-se a realização de parcerias com outros promotores para


seu financiamento ou gestão:

 A Secretaria de Cultura apoia aqueles ligados à cultura; sendo responsável


pelo financiamento de algumas unidades e pelo gerenciamento completo do
Sistema de Bibliotecas Públicas, além de outros programas de cultura como a
Rede de Música, que leva ensino de música para os bairros e participa das
Unidades de Vida Articulada – UVA;
 As Empresas Públicas de Medellín – EPM (11) são responsáveis pelo fornecimento
de serviços públicos básicos: energia, água, saneamento básico e gás. A
empresa é dirigida de maneira combinada entre a Prefeitura – o prefeito eleito
indica o Presidente – e por Diretores Executivos de carreira. Funciona de
maneira quase independente em relação à prefeitura e é um dos principais
apoiadores e financiadores dos projetos urbanos. O Departamento de Projetos
Urbanos Sustentáveis elabora projetos e estrutura as ideias do grupo para este
fim. Contam também com a Fundação EPM criada em 2000 com o objetivo de
fomentar a educação e a cultura e é responsável pelo gerenciamento de projetos
urbanos com alto componente social;
 O Instituto de Esportes e Recreação – INDER (12) é um órgão público com
estrutura independente da Prefeitura encarregado de fomentar esporte,
atividade física, recreação e desfrute nos tempos livres, oferecendo à
população espaços públicos e equipamentos esportivos. Nos últimos anos vem
construindo uma série de Skate Parques em diversos setores da cidade a fim de
estimular o esporte;
 O Instituto Social de Habitação e Habitat de Medellín – ISVIMED, responsável
pela provisão e legalização de habitação, reassentamento integral de população
em áreas de risco, trabalha paralelamente a EDU nos programas de Melhoramento
Integral de Bairros – MIB dividindo funções e investimentos;
 O Instituto de Desenvolvimento Econômico de Antioquia – IDEA realiza repasses
para a construção de projetos buscando o desenvolvimento da área metropolitana
de Medellín –formada por dez cidades e correspondendo a 53% da população total
do departamento;
 A Área Metropolitana do Vale do Aburrá – AMVA, foi criada em 1980, e somente
em 2000 começou a funcionar de modo integrado e participativo nas decisões
políticas das municipalidades que compõem a área metropolitana. Atualmente é o
órgão responsável pelo planejamento das estruturas naturais do vale, que
inclui bordas naturais, rios, reservas e parques lineares bem como físicas,
abrangendo projetos de mobilidade, recreação, espaço público e uso do solo.
Possui um corpo técnico para a realização dos projetos sob a direção dos
prefeitos de cada uma das cidades da área metropolitana, com maior poder
decisório dado ao prefeito de Medellín;
 As Caixas de Compensação Familiar, fundo que aporta recursos dos empresários e
da contribuição dos trabalhadores de maior renda, financiam diversos tipos de
projeto. Foram criadas há mais de cinquenta anos, atuam na proteção social e
são fiscalizadas pelo Estado. A Comfama e a Comfenalco, que atuam em Medellín,
fazem parte do programa de manutenção e administração dos Parques Bibliotecas.
Em outros casos, a EDU busca parceria com outras entidades como universidades
ou grupos privados, a exemplo dos Colégios de Qualidade, programa de escolas
públicas que busca estruturá-las no mesmo nível de qualidade das privadas,
tanto no quesito infraestrutura quanto ensino.

É responsável também pelos projetos urbanos e equipamentos públicos realizados


na cidade e, por sua independência, consegue dar-lhes continuidade sem que
questões políticas interfiram ou mudem os planos estabelecidos. A
identificação dos problemas urbanos locais, que claramente se relacionavam com
a degradação dos períodos de violência e desigualdade social foi um dos
pilares do governo para eficácia das ações. A arquitetura aparece, então, como
ferramenta para solucionar tais problemas, projeta-se de maneira integrada com
os diferentes profissionais e a comunidade. O planejamento e o projeto ocorrem
concomitantes a sua execução, o que empodera ainda mais a população envolvida
que já vê resultados em curto período de tempo.

Por fim, a EDU busca trabalhar com o propósito de garantir o desenvolvimento


do POT e do PDM, assim como dos PUI, seu principal projeto.

Projetos urbanos integrais e a descentralização de espaço público


Os PUIs começaram a ser realizados nos anos 2000 e são uma evolução dos
Programas Integrais de Melhoramento de Bairros Subnormais – PMID realizados na
década de 1990. Têm como premissa melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano
– IDH da região, envolvendo três dimensões - física, social e institucional,
utilizando as ferramentas de desenvolvimento de forma simultânea, diminuindo
as desigualdades sócio-territoriais e buscando o direito à cidade no setor em
questão (13).

Desde a lançamento do Metrocable, a reivindicação central é dirigida no


sentido de geração de espaço público, construção de novos equipamentos,
recuperação ambiental, promoção da regularização urbana e geração de habitação
popular. Os PUIs são o exemplo mais claro dos projetos realizados nos eixos de
mobilidade (14).
Procuram articular as ações municipais adequando e promovendo espaços
públicos, equipamentos educativos e culturais, programas habitacionais de
melhoramento e construção de novas unidades estruturando-as a partir da
mobilidade e do meio ambiente – dimensão física – reduzindo seus impactos
nocivos. Trabalha-se de forma integrada com a comunidade e seus diferentes
atores – dimensão social – distribuindo a responsabilidade social, acercando-
se da população e definindo papéis de gestão – dimensão institucional – que
terminam por potencializar os efeitos planejados. São realizados em regiões
abandonadas historicamente pelo Estado onde se tem os piores índices de IDH da
cidade. A ideia é reduzir a dívida social.

São realizados em três etapas:

 Planejamento Prévio, onde se estuda e se reconhece o território, delimita-se o


PUI, identificam-se os componentes de projeto definindo as ações municipais e,
por fim, estrutura-se o modelo de gestão e seus convênios de administrações;
 Operação PUI, a partir do Plano Maestro definido por diagnóstico, o PUI é
desenhado, executado e posto em uso pelas administrações definidas
anteriormente;
 Entrega PUI, após a entrega do projeto à população a EDU disponibiliza toda a
informação à prefeitura que dá continuidade aos programas estabelecidos no PUI
por meio de entidade capacitada (15).
Na gestão de 2004-2007, foram realizados os PUI Norte Oriental, Comuna 13 e
Moravia; em 2008-2011, elaborou-se e iniciou-se o PUI Norte Oriental II e
Comuna 13 II, ampliando seu alcance, além do PUI Centro Oriental e Norte
Ocidental. Na gestão Aníbal Gavíria (2012-2015), deu-se continuidade aos PUIs
em andamento, e elaborou-se o projeto do Jardin Circunvalar de Medellín, marco
de constituição do Cinturão Verde Metropolitano. O prefeito atual, Federico
Gutiérrez, por sua vez, tem buscado trabalhar no projeto Parques do Rio
Medellín e no prosseguimento das obras já iniciadas do PUI.

Projetos Urbanos Integrais


Lucas Bueno

Espaços públicos ambientais


Os espaços públicos ambientais são aqueles vinculados à estrutura ecológica do
território, que utilizam os componentes naturais, hídrico e orográfico, para a
conformação de espaços públicos de alto valor ambiental, sempre tendo em
consideração a função determinante de preservação ecológica, inscrita no plano
de ordenamento do município. Em Medellín, estão se consolidando projetos
metropolitanos e municipais sobre o Rio Medellín e seus afluentes e sobre o
alto do vale, estruturando o Cinturão Verde Metropolitano.

Cinturão Verde Metropolitano e o Jardin Circunvalar (16)


Na tentativa de conter o crescimento urbano da cidade, foi criado na gestão
Aníbal Gavíria (2012-2015) o projeto do Jardin Circunvalar, marco do
desenvolvimento do Cinturão Verde Metropolitano. Estabeleceram-se áreas de
expansão nos Corregimientos – setores rurais da cidade de Medellín – e se
delimitaram dois parques nos costados leste e oeste da cidade, buscando a
orientação do crescimento urbano no eixo longitudinal do vale e impedindo a
ocupação de assentamentos em encostas e córregos.
O Jardin é a resposta dada por Medellín buscando a concretização do cinturão,
que conta com a participação dos outros municípios da área metropolitana. Sua
complexidade transcende a esfera ambiental, na intenção de proteger os
recursos ambientais, articulando os componentes social, cultural e educativo
em seus programas. No mesmo molde dos PUIs, procura-se conectá-lo com o
transporte de massa. Após sua conclusão será possível acessá-lo através das
estações de Metrocable: 13 de Noviembre, La Sierra, La Cruz, Santo Domingo e
Picacho.
O projeto foi dividido em etapas, iniciando pelo Cerro Pan de Azucar, costado
oriental, e pelo Cerro El Picacho, costado ocidental, onde se estruturam os
Planos Maestros de Paisagem de cada cerro tutelar.

Jardin Circunvalar de Medellín


Foto Lucas Bueno

Parques do Rio Medellín (17)


Fruto de um Concurso Internacional de Anteprojetos realizado em 2013 pela
Prefeitura, o projeto ficou a cargo do escritório colombiano Latitud Taller de
Arquitectura y Ciudad, primeiro colocado.
Parques do Rio Medellín se propõem a ser um projeto integral de transformação
urbana que consiste em intervir nas margens do Rio Medellín com obras de
infraestrutura, paisagismo, dotação e readequação da vegetação, para que, além
de se manter como principal eixo do transporte da cidade possa ser utilizado
para o encontro cidadão. É o retorno às origens da cidade, quando os cidadãos
ainda utilizavam e desfrutavam do Rio, devolvendo-lhes qualidade de vida e
tornando-o ambientalmente amigável.

O projeto está sendo liderado pela EDU e em convênio com a AMVA. Consiste em
conjunto de parques que formarão um ecossistema linear, em extensão de 28,1
quilômetros, sendo 19,8 quilômetros no Setor Médio – correspondente ao
município de Medellín – 7,2 quilômetros no Setor Sul e 1,1 quilômetro no Setor
Norte. Estes dois últimos correspondendo a outros municípios da área
metropolitana. Principal estratégia do último POT de Medellín, aprovado em
2014, realizado com diferentes atores da sociedade, poder público,
empresários, organizações sociais, acadêmicas, ambientais e culturais, por
meio de diversos encontros, workshops e fóruns. Desta forma, busca-se realizar
um projeto que atenda a todos os extratos da sociedade e que possa trazer
qualidade de vida aos diferentes setores da cidade.

Setores do Parque do Rio Medellín


Lucas Bueno

Constitui-se basicamente no rebaixamento da via expressa em alguns pontos,


transformando-a em túnel e recobrindo-a com um parque, criando um espaço para
recreação e atividades culturais. Em outros setores, aproveitam-se os vazios
urbanos e verdes viários como espaço público. Com essa recuperação, muitos
terrenos foram valorizados, atendidos pelo Metrô e pelo Metroplus – sistema de
transporte massivo de VLP - hoje subutilizados serão incorporados ao
desenvolvimento urbanístico da cidade.
Além disso, o Parque permitirá a conexão entre as áreas protegidas da cidade,
conformada pelos três cerros tutelares – Nutibara, El Volador y La Asomadera,
o Jardin Circunvalar, o cinturão verde que pretende conter o crescimento
espraiado de Medellín, além dos afluentes do rio.
Parque do Rio Medellín, 2016
Foto Denise Antonucci

O Setor Médio, com quase 20 quilômetros e uma área de 327 hectares,


corresponde à cidade de Medellín e foi por onde se iniciou a construção do
Parque. O trecho entre a Rua 33 e Avenida San Juan já foi entregue, e já se
iniciaram as obras da outra margem, ao lado do Edifício Inteligente EPM e do
Teatro Metropolitano. A ideia da prefeitura é que os próximos trechos fiquem
por conta de associações público-privadas, onde o setor privado tem maior
interesse.

Por outro lado, há muitas pessoas que criticam o projeto pelo fato de sua
construção ter começado no Bairro Conquistadores, um dos mais arborizados e
com maior índice de espaço público por habitante. Porém, o Parque é
basicamente o término do eixo central da Área Administrativa e de Negócios
Internacionais, o que, de acordo com os apoiadores do projeto, trará ganhos
para todos.
Parque do Rio Medellín
Foto Denise Antonucci

Parques Lineares em afluentes do Rio Medellín (18)


Os parques lineares nos afluentes do Rio Medellín é outra estratégia descrita
no POT de 2014. A ideia é se criar um sistema ambiental, integrando as áreas
verdes, sobretudo aquelas de maior importância como as margens de córregos e
suas matas ciliares, os cerros tutelares e o Rio Medellín após a conformação
do Parque.

O programa de Parques Lineares (intervenção integral em córregos) foi lançado


na administração Fajardo (2004-2007). À época, identificaram-se e projetaram-
se, mediante a EDU, sete parques lineares espalhados em diferentes comunas e
dos dois lados do Vale do Aburrá: La Herrera, La Bermelaja, La India, La
Presidenta, La Quintana, La Malpaso e Ana Díaz. Alguns destes projetos, como
o La Herrera, fazem parte das estratégias PUI e, outros, como o La Presidenta,
são intervenções ambientais elaboradas em associação entre a EDU e a
Secretaria do Meio Ambiente em regiões de menor complexidade onde não é
necessário levar em conta outras esferas abarcadas pelo PUI.
O município define sua estratégia de Parques Lineares como “os espaços verdes,
situados ao redor dos córregos, com possibilidades de adequação como espaços
públicos naturais, para a conexão, a conservação da biodiversidade dos
ecossistemas, a descontaminação das microbacias e para o desfrute da cidadania
e a recreação passiva, ao ar livre e em contato com a natureza (...). São
espaços com funções ambientais e ecológicas e, por sua vez, é o lar de
diversidade de árvores nativas, refúgio de aves e mecanismo para proteger ou
recuperar ecossistemas nativos dentro da cidade e se constituem em elemento
integrador que permitem um balanço entre a conservação ambiental e a
recuperação de espaços. São também espaços abertos, que proveem lugares ao ar
livre, aptos e disponíveis para o descanso e a recreação sã e se convertem em
aulas abertas e permanentes de educação ambiental para que as comunidades
valorem e cuidem da água, das árvores, da fauna e para que desenvolvam ações
amigáveis com o meio ambiente” (19).
Parque Linear Cidade do Rio, 2017
Foto Lucas Bueno

Espaços e equipamentos públicos esportivos


Espaços públicos e zonas esportivas foram implementados na cidade como espaços
integralmente abertos ou mesmo sob a forma de equipamentos coletivos de uso
público, buscando atender às necessidades de diferentes bairros. Como se
apontou anteriormente, o agente responsável pela implantação de programas
voltados ao esporte e saúde é o INDER, e desde sua criação tem atendido às
demandas da sociedade por estes tipos de espaço.

INDER e a Proliferação de Espaços Esportivos (20)


O Instituto de Esportes e Recreação é órgão público com estrutura independente
da Prefeitura encarregado de fomentar esporte, atividade física, recreação e
desfrute nos tempos livres, mediante projetos que melhorem a cultura cidadã e
a qualidade de vida. Agente de formação de cultura e transformação social,
líder no desenvolvimento do esporte, da atividade física e da recreação, se
responsabiliza pela construção e administração da infraestrutura esportiva,
buscando uma cidade mais equitativa e inclusiva (21).

O Instituto foi criado em 1993 e desde então administra 836 espaços esportivos
gratuitos na cidade, visando diferentes práticas, desde quadras e campos de
futebol, esporte mais difundido no país, até o recente programa Adrenalina,
que busca incentivar o desenvolvimento de novas tendências esportivas, como o
patins, o BMX e o Skate. Além dos principais centros esportivos da cidade,
como a Unidade Esportiva Atanásio Girardot e a Unidade Esportiva Belém, o
INDER inaugurou recentemente o Parque de Ruedas 4 Sur, somando-se aos outros
10 Parques destinado a práticas como o Skate e os Patins.
Parque de Ruedas 4 Sur, 2017
Foto Lucas Bueno

Em 2003 o INDER implantou um novo modelo de campos de futebol barrial, que já


vinha sendo instalado há anos na cidade. As quadras sintéticas melhoraram sua
qualidade, já que as anteriores, abertas e com piso de areia geravam
acidentes, sendo alvo de reclamações por parte da comunidade. Atualmente, tem-
se mais de quarenta campos de grama sintética espalhados pela cidade, além de
outros 190, somando a área metropolitana e alguns municípios do departamento
de Antioquia.

A instituição conta ainda com o programa “Escolas Populares de Esporte”,


voltado à iniciação esportiva de crianças de cinco a sete anos. Vale destacar
também o Programa Unidade de Vida Articulada – UVA, que abrange uma modalidade
em parceria entre a EDU e o INDER e que vem sendo realizado desde a
administração de Aníbal Gavíria (2012-2015).

Unidade de Vida Articulada – UVA – Equipamentos Esportivos e a apropriação de


Infraestrutura de Serviços de Água
As UVAs são projetos de transformações urbanas nos bairros para o encontro
cidadão, fomento ao esporte, recreação, cultura e participação comunitária. É
um trabalho coletivo do INDER, Secretaria de Cultura Cidadã, EPM e EDU.

Há duas tipologias de UVA, a tipo A, ou “leves”, desenhada, construída e


gerenciada pela EPM ao redor de seus tanques de armazenamento de água, que
estavam subutilizados, possuem programas mais simples e na mesma estrutura dos
Parques Bibliotecas buscando oferecer espaços de qualidade, como
brinquedotecas, salas de internet, auditório e espaços multiusos e, a tipo B,
ou “pesadas”, cujo desenho é realizado pela EDU, gerenciamento e construção
pelo INDER e que contam com um amplo programa, com quadras poliesportivas,
piscinas, salas de aula, auditório, skateparks, entre outras possibilidades.
No total, o projeto previa a construção de vinte UVAs, doze a cargo da EPM –
as últimas duas foram entregues no início de 2017 – e oito a cargo do
INDER, com quatro já construídas.
Localização UVAs
Lucas Bueno

O projeto das UVAs nasce a partir do Plano Maestro de Iluminação de Medellín


(PMIL), estruturado pela EPM e baseado nas estratégias: o POT de Medellín, que
requer uma cidade ambientalmente sustentável, socialmente equilibrada e
integrada; o Regulamento Técnico de Iluminação e Iluminação Pública – Retilap
referenciado na Carta LUCI (22) - junto a outras sessenta cidades membros,
estabelece critérios comuns em busca de cidade mais segura e inclusiva, com
acesso gratuito a iluminação pública; que valoriza a economia local, que
consome menos energia e tem cuidado com o meio ambiente; dentro do que o PDM
estabelece.

A partir destas premissas, estabeleceu-se quatro princípios para o PMIL:


Social (inclusão), Ambiental (sustentabilidade), Técnico (infraestrutura de
serviços públicos) e Espacial (urbano e arquitetônico).

Foi feita análise criteriosa de áreas que estavam pouco atendidas no quesito
iluminação pública, cruzando com índices cartográficos de insegurança e com a
localização de suas infraestruturas, como os tanques de armazenamento de água.
Estes, cercados por muros ou abertos como vazio urbano, ao permanecerem
escuros, geravam espaços inseguros.

Dessa maneira, foram mapeados os tanques dividindo-os em três tipologias de


implantação com base em seus contextos:
 Entorno Natural, localizadas em meio à vegetação natural, fora do perímetro
urbano e com baixa possibilidade de fruição pública;
 Entorno Suburbano e Subrural, localizadas nos limites da cidade, com baixa
atividade urbana e com possibilidades de se articular aos futuros projetos de
contenção do crescimento da cidade;
 Entorno Urbano, aquelas que se encontram em áreas extremamente adensadas que
carecem de espaço público e com alto potencial de ocupação como uma rede de
Parques Urbanos (23).
As primeiras UVAs foram inauguradas em abril de 2014, e atualmente, a cidade
conta com 18 unidades.

UVA de La Libertad, 2017


Foto Lucas Bueno

Considerações finais
Procurou-se aqui entender a estrutura das políticas e planos adotados nos
últimos 15 anos nas diferentes administrações municipais que contemplam o
período Fajardo (2004-2007), Salazar (2008-2011), Gavíria (2012-2015) e
Gutierrez (2016-2019) e, a partir dela, visualizar os projetos que foram, e
ainda seguem sendo, executados na cidade, utilizando-se do espaço público como
ferramenta de mudança da cidadania, de diminuição da violência e desigualdade
social.

São abordados também alguns aspectos importantes que marcam o modelo exitoso
adotado na Colômbia e, sobretudo em Medellín, para a renovação do seu caráter
cívico:

 a importância de se criar planos integrados nas esferas federal,


departamental, metropolitana e municipal, buscando um projeto comum para todo
o país. No caso, a cidade de Medellín e sua área metropolitana é a que,
atualmente, apresenta os melhores resultados dessa integração vertical,
localizada no segundo departamento mais rico do país;
 a necessidade de se estabelecer ferramentas que garantam a continuidade dos
projetos desenvolvidos, já que muitos deles demandam mais do que uma gestão.
Com a criação da EDU e sua posterior independência da prefeitura foi possível
dar prosseguimento ao modelo de desenvolvimento urbano iniciado por Fajardo,
pautado no urbanismo social;
 os projetos são realizados através de diferentes entidades trabalhando de
forma conjunta, seja como financiadores, executores ou administradores,
distribuindo a carga financeira e as responsabilidades entre as partes,
identificando de modo claro qual o papel de cada um;
 é extremamente necessário aumentar a confiança no poder público. As políticas
públicas adotadas contemplam a participação da sociedade civil afetada nas
diferentes etapas de sua execução, desde sua fase analítica e embrionária onde
se definem as principais necessidades, até na gestão do espaço construído, o
que aumenta o empoderamento da comunidade e a confiança entre as partes.
 a cidade vem demonstrando alta resiliência urbana, aumentando o direito à
cidade a todos os seus habitantes e buscando uma sociedade mais inclusiva,
entretanto, ainda há muito por ser feito. O modelo de Medellín pode ser
aplicado a outras escalas de cidade, mas deve-se levar em conta que o modelo é
criado com base em um contexto específico e não há fórmula de desenvolvimento
comum para todas as cidades.
notas
1
Discurso de Madrigal Correa, Diretora do Programa de atenção a vítimas de
deslocamento forçado, junho 2015.

2
LOPERA PEREZ, Juan Diego; GONZALEZ AVENDANO, Diana Patrícia; SANCHEZ MAZO, Liliana
Maria. Entre luchas sociales y avances jurídicos para la garantía de derechos. In
ZUQUIM, Maria de Lourdes e SANCHEZ MAZO, Liliana Maria (Org.); MAUTNER, Yvonne
(Col.). Barrios populares Medellín/Favelas São Paulo. São Paulo, FAU USP, 2017, p.
22.
3
Idem, ibidem, p. 23.

4
Idem, ibidem, p. 24.

5
Idem, ibidem, p. 28.

6
Editorial Medellín: renovación de una Ciudad Latinoamericana
<http://arqa.com/editoriales/medellin-r>.
7
El Proyecto Urbano Integral – PUI Comuna 13 como modelo de Transformación Urbana,
Arenas Madrigal, Medellín, 2015.

8
GOUVERNEUR, David. Diseño de Nuevos Asentamientos Informales, Medellín, Universidad
EAFIT e Universidad La Salle, 2016.

9
LOPERA PEREZ, Juan Diego; GONZALEZ AVENDANO, Diana Patrícia; SANCHEZ MAZO, Liliana
Maria. Entre luchas sociales y avances jurídicos para la garantía de derechos. In
ZUQUIM, Maria de Lourdes; SANCHEZ MAZO, Liliana Maria (Org.); MAUTNER, Yvonne
(Col.). Barrios populares Medellín/Favelas São Paulo. São Paulo, FAUUSP, 2017, p.
31.
10
Empresa de Desarrollo Urbano <http://www.edu.gov.co>.
11
Empresas Públicas de Medellín <https://www.epm.com.co>.
12
Instituto de Deportes y Recreación <https://sim.inder.gov.co>.
13
Modelo de Transformación Urbana – Proyecto Urbano Integral PUI Nororiental - EDU.

14
ZUQUIM, Maria de Lourdes e SANCHEZ MAZO, Liliana Maria (Org.); MAUTNER, Yvonne
(Col.) Barrios populares Medellín/Favelas São Paulo. São Paulo, FAU USP, 2017, p.
11.
15
Elementos Claves de los PUIs - EDU.

16
El Cinturón Verde Metropolitano - Jardin Circunvalar de Medellín - EDU.

17
Parques Del Rio Medellín – Alcaldía de Medellín.

18
Secretaria do Meio Ambiente: Parques Lineales de Medellín.

19
Ortiz, Paola. Los parques lineales como estrategia de recuperación ambiental y
mejoramiento urbanístico de las quebradas en la ciudad de Medellín. Medellín,
Universidad Nacional de Colombia, 2014, p. 13-14.

20
Instituto de Deportes y Recreación <https://sim.inder.gov.co>.
21
Tradução livre da definição no site da instituição <https://sim.inder.gov.co>.
22
Carta LUCI de Alambrado Público <www.luciassociation.org>.
23
Plan Maestro Tanques de Acqueducto EPM.

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