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Juizes, diante da obrigatoriedade de dar célere desfecho às lides sob sua presidência, proferem

julgados cujo relatório mal permite ao leitor depreender que seu autor tenha sequer tomado
conhecimento da extensão e dos limites do processo. São tantas as informações disponíveis ao
alcance da redação do jornal que fica difícil selecionar o que irá ser publicado. A argumentação é tão
imprescindível ao operador do Direito quanto o conhecimento jurídico. São os argumentos os
caminhos, os trilhos da articulação e da aplicação do Direito. Os argumentos são também a própria
essência do raciocínio jurídico. A argumentação é a prática e a dinâmica da operação do Direito, o
que nele há de mais ágil e concreto. De fato, o advento da separação de poderes, as leis escritas e a
obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais trouxeram à tona a necessidade da
construção do discurso, dos processos escritos, da racionalização do processo de construção do
Direito. O fim do discurso refere-se a esta última, que eu chamo o ouvinte. No Direito, quando se fala em
disputa havida por meio da argumentação, surge, primariamente, sempre a idéia do justo. Teria
algum dos jurados coragem de tirar do pote um caramelo qualquer, desembrulhá- lo e saboreá-lo?
Certamente que não. Porém os defensores dessa corrente tropeçam em um elemento da realidade
que não se pode ignorar, sejam eles os casos em que fogem do alcance do trabalho argumentativo os
motivos que ensejam a ação do ouvinte. Dos três julgadores do caso, relator e revisor não lhe dão
razão, fundamentando a tese da parte contrária. Acaba por acompanhar o voto dos colegas. Fazê-lo
crer na tese representa o objetivo da argumentação. Fazemos hipertrofias com freqüência, e elas não
são monopólio do discurso jurídico. Características da argumentação Visto o que se entende por
argumento e os meios da argumentação, cabe sistematizá-los em algumas breves características, que
serão retomadas com maior profundidade no decorrer dos capítulos posteriores. Essa característica
foi matéria do presente capítulo, porque contida na classificação do argumento. Da realidade
reduzimos seu contexto, para fixar pontos de partida imprescindíveis ao início da construção do
discurso. Fazer progredir um discurso é atividade do intelecto humano. A progressão da
argumentação será abordada nos capítulos que tratam da coerência e da ordem dos argumentos. Ao
contrário da lógica formal, a argumentação permite conclusões controvertidas. A inexistência de
fórmulas e diagramas1 na demonstração do raciocínio jurídico não lhe retira a cientificidade, ao
contrário do que muitos pensam. Durante a universidade, embora a maioria dos livros de estudo
sejam manuais que se preocupam mais com a didática do que com a originalidade, nos é dada uma
visão aprofundada da ciência do Direito, ou seja, construções de raciocínio. A primeira vista, pode
parecer que ela estaria representada no tema de não compensar ofertar ao sogro do autor da carta um corte
de casimira. Mas esse é apenas um grande argumento do texto, não a tese. A tese é aquela que
representa objetivo último do argumentante ao ouvinte. Como elementos lingüísticos destinados à
persuasão (no caso, a persuasão da esposa do autor da carta), temos vários raciocínios ali
enunciados. Isso ocorreu no exemplo que citamos no capítulo anterior, a respeito do confronto entre os 99% do laudo de balística e a
alegoria do veneno oculto na bala de hortelã. O advogado daquele exemplo, porque sabia que tinha um argumento muito forte, diante da
evidência transforma aos jurados a desconstituição da certeza do laudo em uma lese. Em
primeiro lugar, porque a maioria
dos fundamentos dirige-se diretamente a defeitos do pai da leitora, os quais ela relutaria em aceitar por
uma condição pessoal. O argumentante adaptou seu discurso às condições pessoais do ouvinte. A
fundamentação da sentença é elemento essencial não só para o processo, mas para toda a sociedade,
que diante dos fundamentos da decisão tem condições de saber se o Judiciário age com
imparcialidade e se suas decisões são fruto da lei ou do arbítrio do prol a to r. A Constituição garante
a fundamentação do julgado, bem como os códigos de procedimento. 93, IX, da CF 88, e arts. 165 e 458, II, do
CPC) e motivação na lei processual penal (art. Quando lemos julgados ou participamos do estudo ou da produção
científica do Direito, acostumamo-nos ao discurso da fundamentação, ou seja, ao discurso em que as
partes explicam suas próprias conclusões. Argumentar significa partir do bom raciocínio ju10. Nunca se
procura, ao argumentar, o convencimento do ouvinte a qualquer custo. Não é impossível ao vendedor
convencer o comprador da aquisição do automóvel, porque talvez este seja mesmo o melhor modelo
do mercado e porque os argumentos elencados (a economia de combustível, a força do motor, a
tecARGUMENTAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO 47 nologia no painel, o espaço interno...) Para garantir a
imparcialidade do juízo, as partes são parciaisu. Lá estavam todos os três magistrados que
participariam do julgamento da causa em que atuava, na sessão da semana seguinte. O percurso de
uma resolução matemática convence da retidão do resultado de uma equação a qualquer matemático,
em qualquer confim do planeta. No mesmo sentido, Perelman: "... (Tratado da argumentação, p. 27). OUVINTE ESPECÍFICO E
DISCURSO GENÉRICO 51 ou seja, da arte de persuadir, há ainda maior dose de adequação às necessidades
do leitor. Trataremos um pouco mais sobre intertextualidade em contexto específico no capítulo
final, que cuida do estilo e da subjetividade. Esta foi a matéria do capítulo anterior. Entretanto, a
coerência depende pouco menos do universo de conhecimento de cada auditório, de cada receptor
do texto argumentativo, ao menos se comparado com a intertextualidade. Com boa vontade, pode-
se entender que o argumentante, procurando comprovar a veracidade dos efeitos do contato das
culturas, apresentou um argumento histórico: os comentários de Napoleão. O "argumento" (à revelia
da vontade do autor) demonstrou que a aculturação existia independentemente dos modernos meios de
comunicação. Isto porque ela se desenvolve em diversos níveis, no transcorrer do percurso
argumentativo. A afirmação "não descende o covarde do forte" não tem nenhum valor fora do
poema. Um discurso não-incoerente pode ser pouco coerente, na medida em que nele não se
encontrem relações suficientes de sentido que levem a uma perfeita condução do raciocínio do leitor.
A coerência maior do texto ou do discurso persuasivo dá-se na combinação dos argumentos-chave,
que representam as marcas principais do percurso. Tudo isso está, com excepcional enunciação,
nesse pequeno trecho do texto. Diante do comentário a respeito do envelhecimento, o "crítico"
questionara a respeito da coerência do texto (como pode um morto envelhecer?), o que fez merecer a
resposta acima transcrita, já dos capítulos finais das Memórias póstumas. 53 do CP). Assim se deve dizer,
tanto mais, dos criminosos habituais, que com freqüência conhecem o Código Penal melhor do que algum seu defensor
experiente... No texto I, o autor, positivista do início do século XX, defende que a lei penal deve ser
aplicada sem diferenciação àqueles inimputáveis. Quando se constrói qualquer tipo de texto,
selecionamse elementos da realidade que passam a fazer parte do discurso. Coerência e extensão da
argumentação Chegamos aqui, rapidamente, a um ponto relevante do estudo da argumentação, que
não raro desperta a atenção dos operadores da retórica jurídica, principalmente na construção de
textos escritos. A extensão do texto relaciona-se diretamente à coerência, por isso é tratada nesta
lição. Cada texto tem suas características, mas o autor do enredo de um ou de outro deve ter
consciência do ritmo esperado para cada um. Era por volta das duas da manhã, e o réu encostara seu carro, um
Mustang novinho, à porta do estabelecimento. O estudo da coerência do discurso, na progressão dos
argumentos, até a sensibilidade para a chegada ao ritmo do texto e sua influência na persuasão são
sempre recursos que auxiliam a tomada de consciência de níveis mais detalhados da construção
suasória. PROGRESSÃO DISCURSIVA E COERÊNCIA 81 A falta de coerência é o grande atrativo do poema: a
infinita duração do sonho, expressamente afirmada no texto, aparece em contraste com a inconstância e
a falta de solidez do traço sobre a areia. Todavia, a força de seu argumento, para o leitor mediano,
salta mais corporificada que sua enunciaçâo, e daí se percebe que Galileu utilizava-se do recurso da
ironia, do sarcasmo. A coerência do texto é estabelecida pela intenção do autor, que deve ser
compreendida pelo interlocutor, caso contrário o texto perde todo o seu efeito persuasivo. Assim
senPROGRESSÃO DISCURSIVA E COERÊNCIA 85 do, o uso da coerência como elemento de persuasão vai além
da mera construção não-contraditória do percurso argumentativo, podendo também funcionar como
forma de estímulo à atenção do ouvinte. Preocupar-se com espaço ou tempo existente para a
enunciação do discurso é algo intrínseco à argumentação, diversamente do quanto ocorre com a
demonstração. 2. Decorrência dessa mesma não-definição apriorística da progressão do discurso é
nossa segunda dica, pertinente ao encadeamento. 3. Outra dica importante é relacionada à questão
topográfica do texto. Terá então de interromper a progressão do discurso para relatar algo fático e,
assim, interrompe o raciocínio do leitor, como interrompeu o seu próprio. Aliás, costumávamos
dizer, em aula de redação, que a comparação do resultado final do texto com seu planejamento
prévio dá boa noção do nível de intencionalidade e 88 consciência de escrita de cada um. É essa a
utilidade primeira da narração dos fatos, a de permitir ao interlocutor compreender os limites e as
premissas da argumentação que terá de desenvolver. Nos processos judiciais, a narrativa dos fatos
precede sempre a propriamente dita. Características da narrativa: transcurso do tempo A primeira
característica da narrativa que apresentamos, como diferença da argumentação, é que ela dá maior
relevo à ação de personagens e coisas. Entretanto, o autor bem sabe que, embora se utilize da
figuratividade e daí, obrigatoriamente, do transcurso do tempo, ela é mero auxiliar de uma
progressão argumentativa. O texto argumentativo utiliza-se também do discurso narrativo porque é
impossível a argumentação pura, mas mantém sua progressividade lógica, não se aprofundando no
transcurso do tempo. No momento da enunciação, o discursante atribui um marco temporal em seu
texto, um centro que tem como presente o instante do momento da fala, do momento da enunciação e,
a partir dali, situa os fatos narrados como anteriores, concomitantes ou posteriores a 94 esse marco
temporal. Função argumentativa da narrativa dos fatos. A questão do ponto de vista do narrador
Grande parcela de razão têm aqueles que defendem que, em muitos procedimentos judiciais,
importa mais no convencimento do leitor a narrativa dos fatos que a argumentação propriamente
dita, ou seja, que em algumas petições o julgador dá maior atenção à narrativa dos fatos que à
persuasão referente ao direito. Por quê? Para responder, leiamos um trecho da defesa de Ferri5: 4.
Ensina José Luiz Fiorin: "Se o agora é gerado pelo ato de linguagem, desloca-se ao longo do fio do discurso permanecendo sempre agora.
O momento que indica a concomitância entre a narração e o narrado permanece ao longo do discurso e, por isso, é um olhar do narrador
sobre o transcurso. O narrador esportivo encarregado da transmissão, pelo rádio, de um jogo de futebol
sabe que é impossível relatar ao ouvinte tudo o que vê (a ação de cada um dos 22 jogadores, o
comportamento da torcida, do juiz, dos bandeirinhas, dos policiais, em atitudes todas
concomitantes), por isso escolhe os fatos mais importantes: geralmente, o comportamento dos
jogadores que interferem na trajetória da bola, se é que não há uma peleja mais interessante na
arquibancada. Nesse raciocínio, duas considerações relevantes devem ser feitas a respeito do efeito
suasório do texto narrativo. À primeira vista essa colocação pode parecer estranha, mas representa
apenas mais um dos efeitos práticos da distinção entre argumentação e narrativa dos fatos. A busca de
isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. 98 gravidade
dos eventos que provocara." Segundo fato importante a se notar, a respeito do efeito suasório da
narrativa, é decorrência do primeiro. Temos insistido, em vários trabalhos, que o efeito de persuasão
da narrativa deve ser mais valorizado pelo profissional do Direito. A coerência narrativa representa
um diferencial que o argumentante deve adquirir, pois a liberdade que existe na exposição dos fatos
e sua característica nodal de exposição da novidade são elementos que despertam interesse no
destinatário do discurso, e pode ser esse o momento principal da formação da opinião7. 7. Vide o
Capítulo XVIII, em que mais se expõe a respeito dos efeitos do discurso inovador. A exposição do transcurso do tempo, na
narrativa, depende de dois fatores principais: a ordem de disposição dos fatos no discurso e a
indicação dos intervalos entre as ações relatadas. As vezes o transcurso do tempo tem efeito deletério
no fator argumentativo, como ocorre no discurso do advogado no tribunal do júri que, em busca de
fazer valer a tese de que o réu agira em violenta emoção logo após injusta provocação da vítima,
narra os fatos em ordem alterada. Houve vantagem evidente, no fragmento de Lygia, para seu fim
específico, da inversão da ordem narrativa. A desvantagem óbvia da não-linearidade narrativa é a
quebra da coerência, que diminui, sempre, o nível de compreensão do interlocutor. Apresentação: os
tipos de argumento Até aqui trouxemos questões genéricas da argumentação jurídica: a
apresentação da função do argumento, a estrutura argumentativa, a coerência, a intertextualidade e a
narrativa. Argumentum ad verecundiam Argumento de autoridade é aquele que se utiliza da lição
de pessoa conhecida e reconhecida em determinada área do saber para corroborar a tese do
argumentante. Pela lição do eminente professor, indiscutível se faz a ausência de responsabilidade criminal do
entrevistado, ao menos no estágio probatório atual. Talvez as idéias do argumentante fossem pouco aceitas
se não apelasse à autoridade do jurista citado, e não há dúvidas de que o potencial suasório de seu
discurso aumentou incrivelmente aludido argumento. Trata-se da presunção de imparcialidade. A
questão do experto Qual é o crédito do experto como uma fonte científica? A autoridade deve ser
credenciada como tal. Parece natural, pois, que se o fundamento do argumento de autoridade é a
presunção de razão em virtude da boa fonte do pronunciamento utilizado, mais forte será o
argumento quanto melhor for tal fonte. Questão da validade da opinião O que E disse que
realmente implica A? Essa, em nossa opinião, é a questão mais importante do argumento ad
verecundiam, a validade da opinião da autoridade. Exemplo é a narrativa literária do julgamento de
Jim Willians, no romance de Jon Berendt17. 17. Meia-noite no jardim do bem e do mal, p. 391. 130 os peritos: "Seiler
ridicularizou a promotoria pelas inconsistências nos depoimentos dos peritos chamados por eles -
principalmente no do dr. Larry Howard, diretor do laboratório estadual. A arte do cronista serve
para despertar a atenção a respeito de como a falta de acuidade à origem do texto citado pode ser
prejudicial à confiabilidade da argumentação. O parecer é a opinião do experto, aplicada. Para tirar a
História do nariz. 25. Veja as funções da ilustração, como dar concretude ao texto, no Capítulo IX. In: Outras do analista de Bagé, pp. 58-
9. ARGUMENTO DE AUTORIDADE 139 - Mas isso é a desvantagem do poder! - Isso é o poder.
A dor da perda é muito
bem revelada pela imagem daquele que arruma o quarto do filho que já morreu, ou da fisgada no membro
que já perdi. Juridicamente, é claro, pode-se defender que a independência funcional do julgador
permite que ele faça de cada situação a interpretação que bem entenda, desde que devidamente
arrazoada e, assim, justificável do ponto de vista do Direito e da persuasão racional. Mas o
argumento da jurisprudência, que se recorre da similitude dos casos, vai além: o desejo, inatingível,
da homogeneidade da aplicação do Direito, o que representa, antes de tudo, segurança aos
jurisdicionados. Cumpre esclarecer que essas regras, antes de buscarem a lógica formal, continuam
na esteira do quanto nos propusemos desde o início deste trabalho: preocuparmonos com a
persuasão do discurso. ARGUMENTO POR ANALOGIA 149 dos procedimentos, uma vez que o computador
ocuparia o lugar do homem no mero processamento de dados. As ementas são resumo do julgado,
que geralmente vêm em letras em destaque, nos acórdãos dos tribunais. Mede-se essa necessidade
pelo nível de aproveitamento que as idéias copiadas têm no próprio discurso do argumentante, antes
ou depois da citação. Pode-se assim proceder ao cobrar-se da parte contrária demonstração eficiente
do paralelismo que pretende comprovar. O procedimento dos tribunais inquisitoriais é, para a mentalidade
atual, inaceitável. Exemplo é espécie de argumento que vai do fato à regra2. Na denominação de
Perelman, elemento lingüístico que fundamenta a estrutura do real. Ao utilizar o exemplo dos professores
de latim, o enunciador confirma sua regra. 7. Tratado da argumentação, cit., EXEMPLO, FIGURATIVIDADE E ILUSTRAÇÃO
DO DISCURSO 159 Melhor o exemplo quando feito por fato notório. Fatos históricos dão ótimos
exemplos, assim como elementos da realidade atual: o último crime amplamente noticiado, a
situação atual dos países mais pobres, o golpe militar do país latino ocorrido na última semana.
Representatividade do exemplo A questão principal do argumento pelo exemplo é saber se ele é
capaz de confirmar a regra que se propõe. Capítulo XXIV, p. 62. EXEMPLO, F1GURATMDADE E ILUSTRAÇÃO DO
DISCURSO 161 dia me debruçara sobre o abismo do Inexplicável. Era esse o objetivo do texto. Aliás, essas duas
características refratam-se no próprio título do capítulo, denominado "Curto, mas alegre". 11. Moral: a
arte de viver, p. 98. EXEMPLO, FIGURATIVIDADE E ILUSTRAÇÃO DO DISCURSO 163 Na comparação estabelecida pelo
autor, a imagem do homem que se relaciona com a natureza como uma criança se relaciona com um bolo
de chocolate ultrapassa os limites da compreensão e do divertimento. Essas opções de expressão
refletem-se tanto na importância da ilustração (efeito da concretude)13 quanto na possibilidade de
varia13. O prolongamento da ilustração no texto argumentativo desvia o leitor do raciocínio
persuasivo e lhe desfavorece a coerência, como já analisamos com outros argumentos. EXEMPLO,
FIGURATIVIDADE E ILUSTRAÇÃO DO DISCURSO 169 170 Quando o promotor de justiça, em plenário, mostra
aos jurados a fotografia do cadáver da vítima, transfigurado, pretende que essa imagem se torne
presente àqueles que estão encarregados da decisão. Os raciocínios contrario sensu, a fortiori e ad
absurdum são corriqueiros do discurso judiciário. O argumento ad absurdum O argumento do
absurdum é outro típico do discurso jurídico. A impossibilidade do resultado faz com que o
interlocutor rechace sua gênese, o que é o principal objetivo do discursante. É importante notar que,
como observa Caffé, a verossimilhança depende da aceitação do interlocutor, porque é 2. Introdução à
retórica, cit., Claro, a força do argumento apagógico está mesmo na pouca aceitabilidade do resultado
que se propõe como final. A progressão do argumento ad absurdum é matéria de grande atenção
também do interlocutor, pois ao perceber o resultado inverossímil, sua primeira reação é a de
procurar no percurso argumentativo um dado não-verdadeiro que tenha permitido o desvio do
raciocínio. Entretanto, essas idéias não puderam aparecer na construção do discurso, pois são de
responsabilidade da parte contrária, e assim o raciocínio tornou-se forte. Aproxima-se do
estratagema 33 de Schopenhauer*’: "Isto pode ser correto na teoria; na prática é falso." Questões da
argumentação. O uso da ridicularização O uso do argumento ad absurdum leva-nos à breve
referência ao uso da ridicularização também como meio de persuasão. Tratado da argumentação, cit., Fkra
ilustrar, leia o trecho da "Fábula dos dois leões", de Stanislaw Ponte Preta. Aí está, mais do que
evidente, o efeito persuasivo do humor, somado à figuratividade alegórica com que o cronista
trabalha. É tarefa hermenêutica dirimi-la, pela unidade e harmonia do ordenamento. Desse modo,
qualquer argumento que invoque justificativa para configurar como ilusória a contradição do
legislador, reforçando a coerência do ordenamento jurídico, é persuasivo. Lei ou brechas da lei?
Quando tratamos da coerência do ordenamento jurídico, sob o ponto de vista da argumentação,
fazemos um breve parêntese para abordar uma questão que com freqüência se coloca: o trabalho do
operador do Direito com as "brechas" da lei. Todavia, a complexidade do sistema normativo cria
nele, sim, contradições e interpretações das mais diversas, próprias do raciocínio humano. A norma
não aparece, no sistema argumentativo, como uma verdade absoluta, mas como uma diretriz
dogmática da decisão do juiz, sujeita à construção argumentativa. Dentro, claro, dos limites da
razoabilidade, da progressão aceitável de um contexto argumentativo. Daí o grande valor dos
argumentos apresentados neste tópico. Isso porque falta ao contrato a assinatura de duas testemunhas, um dos
requisitos do título executivo extrajudicial, de acordo com o artigo 585, inciso II, do Código de Processo Civil. Assim
não atende ao escopo do artigo 585 do CPC, que é o de trazer duas outras pessoas que firmem a validade do
documento. Em virtude da animosidade momentânea que houve entre o casal, no momento da ação contraventora, a
vitimada queixou-se na delegacia, dando azo ao início da persecução criminal que redundou no presente processo.
Dessa forma, a presente ação deve ser condicionada à existência de representação do ofendido. Argumento
corriqueiro para os operadores do Direito penal, embora esteja vivo em outras searas. O argumento
do córax procura demonstrar que, à ausência dessas lacunas, aparece a imperfeição da versão
apresentada. Vale, então, continuar a exposição dos argumentos mais usuais do discurso judiciário,
passando ao senso comum e seu papel em nosso contexto. Não se pode combater tal argumentação
senão desviando-se da força e do consenso provocado pelos provérbios invocados pelos
argumentantes. Argumento de fuga O enxadrista sabe que, ao salto do cavalo, o rei parte em fuga. A
figura do xadrez é ilustrativa: estando o rei sob xeque imposto por qualquer uma das pedras
inimigas, pode proteger- se deslocando ao meio do caminho um dos outros personagens de seu
reino: o bispo, a rainha, um peão... Assim faz o advogado do tribunal do júri que discute o valor da
pena que pode advir do veredito dos jurados: expõe os prós e os contras da pena mais grave, o que o
acusado pode vir a tornar-se se for preso, a família que dele depende, seus filhos, o emprego que
deixará. Na delegacia, no calor dos fatos, a mesma testemunha reconheceu positivamente o acusado. Capítulo XII
Quando a linguagem é argumento Ao ouvinte do discurso é impossível dissociar conteúdo e forma.
Alcançar bons níveis de atenção do interlocutor demanda técnicas das mais variadas. Cuidaremos
ainda dos meios de iniciar o discurso, de deixá-lo mais atraente, mas não se pode negar que o bom
uso da linguagem é um dos modos mais eficientes de chamar a atenção do leitor, de fazê-lo atento ao
discurso que por meio de palavras se expressa. Depois, continua levando em consideração a forma,
pela absorção da linguagem do discursante. É diferencial do ser humano a admiração do belo.
Senhores, não nego 5. Discurso proferido na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro, na sessão de 21 de junho de 1880. In:
BARBOSA, Rui. as citações (Courier, um poeta do centenário...), As palavras são o ponto de contato do
raciocínio do autor do discurso com seu interlocutor e, para continuarmos nos aproveitando da
imagem já formada, ao auditório devem aderir com grande propriedade. Do mesmo modo que se
desvalorizam as regras do idioma e pouco se atende à precisão lingüística no discurso do dia-a-dia, a
linguagem científica vai assumindo cada vez maior valor. Empreendeu fuga do local dos fatos = fugiu dali.
Enpreendeu fuga do local dos fatos + saiu em desabalada carreira = fugiu dali correndo. O patamar da linguagem culta,
entretanto, diferencia-se da linguagem preciosa, da falsamente pomposa. O vocabulário empregado
deve ser rico, vasto, mas da linguagem corrente, que não cause confusão ou destoe do resto do
discurso. Quando um ministro afirma que, com o aumento do preço do petróleo no contexto
mundial, pode haver flexibilização dos valores das tarifas públicas em geral, certamente está se
utilizando de um argumento de enunciaçâo, de competência lingüística. Expressões latinas e
brocardos jurídicos Ao tratar de carga semântica, de força do significado das palavras, é importante
cuidar, no contexto jurídico, dos chamados brocardos jurídicos e das expressões latinas. Qual seu
verdadeiro sentido no contexto da argumentação? Permita-nos uma digressão. Podem ser
extremamente persuasivas, se bem encaixadas no contexto do discurso, sustentadas, sem que
pareçam pedantes. O argumento de competência lingüística é um dos modos de explicar o efeito
suasório da expressividade, dos infinitos meios de enunciar uma mesma idéia.
Honestidade da argumentação e ordem dos argumentos O argumento
seduz. Agora,superada essa visão panorâmica dos tipos de argumentos, voltamos ao estudo da
argumentação mais genérica, para abordar a construção e a combinação de todos eles na organização
do discurso. Falácia ad hominem consiste no indevido ataque à pessoa do argumentante ou da
autoridade, sem que se enfrentem suas idéias, ou, neste último caso, suas qualificações. 240 nos
referimos a ela no Capítulo IX, quando cuidamos do argumento ad hominem. Perelman denomina
argumento ad personam a pura ofensa pessoal ao argumentante ex-adverso, e então é certo que esse
tipo de recurso deve ser evitado, pois raramente conta com crédito do ouvinte ou do leitor, ao menos
do mais criterioso. Entretanto, contratou para defendê-lo um dos melhores advogados do país, e, sabe-se, bons
advogados são caros. Ordem dos argumentos A disposição dos argumentos é questão de relevante
interesse na prática do discurso judiciário. Porque cuidamos da estrutura narrativa em sua lição
específica, aqui trataremos apenas da ordem da argumentação em sentido estrito. Depende dos
momentos de ênfase que pretende estabelecer, da coerência em seus mais diversos níveis, do ritmo
do texto, da estrutura lógica. Como já se afirmou no capítulo referente à coerência, o mais importante
é que a estrutura seja planejada anteriormente, com o maior nível de consciência possível do
transcorrer do texto. Momentos principais da argumentação Fixamo-nos na segura asserção de que
a ordem dos argumentos depende da coerência preestabelecida pelo discursante. p. 97. 246 melha-se
ao vôo do avião, que gasta a maior parte de suas energias no momento da decolagem e do pouso,
sendo o transcorrer do vôo sempre mais econômico, calmo e seguro. HONESTIDADE DA ARGUMENTAÇÃO
247 par combustível na pista de decolagem por certo não sairá do chão1*. Aqui, utilizada na
introdução do trecho do discurso, chama a atenção para a indignação do autor, despertando no
interlocutor a curiosidade dos motivos de tamanha revolta, ao mesmo tempo que anseia por saber a
que ela conduzira e com que razões. A última cena do filme, o último capítulo do livro ou as
palavras finais da petição são sempre os mais lembrados, não sem motivo. 254 ARG UMENTAÇÃO
JURÍDICA mas, não raro, de grande desinteresse do leitor. A demonstração é própria do raciocínio
exato, tão afastado da realidade dialética das lides processuais. O exercício era um caso criminal, em
que os alunos deveriam apresentar por escrito as alegações finais do artigo 500 do Código de
Processo Penal. No intuito de enfrentá-las, do ponto de vista argumentativo, algumas considerações
devem ser feitas. ESPAÇO DA 263 da...)", Em última análise, entendemos que pode ser ofensa ao artigo
5?, XXXV, da atual Constituição Federal, que trata do acesso ao Poder Judiciário e do direito de
petição. 264 A fundamentação do juiz: demonstrativa ou argumentativa? Em relação à
fundamentação da sentença, pode-se colocar questão relevante ao estudo argumentativo. Revista da
Associação Brasileira de Professores de Ciências Penais, p. 239. ESPAÇO DA 265 subjetividade. Por isso, correto é o autor
citado ao asseverar que: "Há situações, portanto, psicológicas e sociológicas que condicionam a
compreensão do fato e da norma, levando a valorações antecipadas, como decorrência da educação
familiar, do círculo cultural a que se pertence, da posição social que se ocupa, da história de vida.
Nesse ponto, constrói-se a idéia do juiz como um argumentante comum. Afinal, a fundamentação da
decisão continua a ser um dos fatores que pode permitir sua reforma, já que não se pode obrigar a
sociedade a aterse a idiossincrasias do julgador, mesmo que as tolere, por constituir fator do ser
humano. Porque, se o fizer, acabará por retirar algo da segurança da decisão judicial. Ao menos no
contexto jurídico. Capítulo XV Peculiaridades do discurso oral O recurso aos gestos e ao
movimento, em aspecto visual mais presente, somado ao uso do som - a voz conferem ao discurso oral distinções relevantes, objeto de
estudo da oratória. No discurso judiciário muito se questiona a respeito da forma que os argumentos
assumem, do modo como são transmitidos. 474, 554, 538, § 2o, 610, 613, III, do CPP, e c. 1.657 e 1.658 do Código
Canônico, entre outros. 270 nica da produção do texto escrito se falará no capítulo posterior. Quanto ao
discurso oral, representa também matéria atinente à oratória, uma das vertentes do estudo da
argumentação. Predisposição à argumentação no discurso oral Em relação ao texto escrito, costuma-
se apontar a vantagem do discurso oral, por ser ele mais estritamente dialógico. Conquistar um
auditório apenas com palavras não é tarefa fácil e depende muito do fator ilocucionário do discurso,
ou seja, daquilo que não é expresso: o poder do orador e o interesse que cada ouvinte possa ter no
tema desenvolvido. Entretanto, pode-se aproveitar da interatividade, do diálogo travado à presença
do ouvinte para se lhe 6. Vide WALTER, Bettyruth. Nesse ponto, o de levar ao estímulo, muito do conteúdo
argumentativo do discurso oral pode inovar. Para ilustrar, vejamos um trecho da biografia do
eminente jornalista e político Carlos Lacerda, em passagem impor - grande argumento no discurso oral.
PECULIARIDADES DO DISCURSO ORAL 279 tante de nossa história. Aguarda-se do juiz a sobriedade da
justiça, do promotor a energia da acusação, do advogado a serenidade daquele que se põe a defender
a parte mais fraca. Essa descoberta pode levar muito tempo, mas faz parte da adequação do discurso,
da boa oratória. 474 do CPP. 13. Vide, por exemplo, no Regimento Interno da Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo, a
sustentação de cinco minutos do Pequeno Expediente (art. 113, § 5?) e de quinze do Grande Expediente (art. 116), sobre assunto de livre
escolha, ou, no Regimento do Senado, o artigo 158, aqui transcrito: "Art. 158. O tempo que se seguir à leitura do expediente será
destinado aos oradores da Hora do Expediente, podendo cada um dos inscritos usar da palavra pelo prazo máximo de vinte minutos. §
1? A Hora do Expediente poderá ser prorrogada pelo Presidente, uma única vez, pelo prazo máximo de quinze minutos, para que o
orador conclua seu discurso, caso não tenha esgotado o tempo de que disponha, ou para atendimento do disposto no § 2° após o que a
Ordem do Dia terá início impreterivelmente.'' PECULIARIDADES DO DISCURSO ORAL 283
qual deve se pronunciar), seja
pela forma - a enunciaçâo que busca a atenção maior do leitor. Implica afirmar que o anseio pela
função pública impõe ao político um discurso coeso à imagem que o leitor faz do ideal do poder
público: honestidade, serenidade, higidez. Para isso, muito mais que o discurso e as promessas - que
são cada vez mais amplas e de menor valor - cabem cuidados com construção de protótipos de
empatia, anteriormente analisados, mais afetos ao trabalho do publicitário e do assessor de imprensa
do que propriamente do argumento jurídico. O autor dos discursos parlamentares deve pesquisar
muito bem as caracterísiticas do orador que, pode-se dizer, interpretará seu texto. Discurso no
tribunal do júri A instituição do júri representa o auge da argumentação e da oratória. Temos nos
especializado na atuação com o Direito penal, como o leitor pode perceber, já que a maioria dos
exemplos aqui prolatados tangencia essa área do conhecimento. Mais ainda isso acontece na fala do
defensor, subseqüente a uma longa e detalhada exposição dos fatos, delineados pela parte
acusadora. O segundo ponto é o menor critério do jurado na valoração da prova, o que nos parece
indiscutível. O primeiro deles é que o estilo da difere do estilo literário. O transporte dos presos para
tratamento do Pronto- Socorro da Lapa começou às l lh . Em cada um dos veículos, dois investigadores e dois detentos.
Mendes dominou três funcionários que estavam no térreo do sobrado. Do modo como foi escrito, a frase traz
uma ambigüidade. Perceba que não é possível identificar se Osias é pai do preso ou pai do juiz
corregedor. Quando vemos tal exemplo, percebemos algo que, no contexto da construção do
discurso escrito, muito nos interessa: as palavras não assumem sentido sozinhas. Não nos
aprofundaremos no tema, mas nos serve de reflexão: a coesão é uma qualidade do texto escrito
intimamente ligada à estrutura da frase. Não nos aprofundaremos nelas aqui, mas talvez caiba uma
noção - cuidando da peculiaridade do discurso escrito - a título de estímulo ao estudo. Entretanto, o
alicerce da pausa no discurso escrito, ao contrário do discurso oral, não é o ritmo da fala, mas sim, a
princípio, a estrutura gramatical da oração e do período. A fluência da leitura, pelo interlocutor,
depende, em grande medida, da noção de gramaticalidade da frase pelo autor do texto escrito. 300 O
policial, portando uma metralhadora, efetuou a prisão do fugitivo. Novamente, como em todo tema de
argumentação, não há regras seguras, mas um grande sopesar que depende do conhecimento do
auditório - do leitor ou conjunto de leitores - a que se direciona o discurso. O primeiro é fragmento
do livro Momo e o senhor do tempo, de Michael Ende'. Trata-se da subjetividade e seu efeito na
enunciação do discurso. Pois é do caráter subjetivo da argumentação - e do alerta para que o
argumentante se aperceba dele - que trazemos duas conseqüências diversas, como instrumento de
reflexão em nosso estudo: a construção do estilo e a humildade do argumentante. Não se prega aqui
o narcisismo e o culto da personalidade, própria dos políticos e estadistas. Demoveuse da idéia,
apesar da possibilidade de, com alguma justiça, absolver seu cliente. Mais uma faceta da coerência.
Pois o nível de intencionalidade na construção da imagem do argumentante também é parte de seu
discurso e da técnica argumentativa. A subjetividade aparece também na construção do estilo. Ao
contrário. O operador do Direito, em especial o advogado, são baluartes, bandeiras da atividade
criativa. A frase, conhecida, é do Manifesto Comunista. A premissa da criatividade significa, nesse
primeiro plano, desvincular-se dos bloqueios que possam existir para as novidades. Meu erro, no
entanto, devia ser o caminho de uma verdade: pois só quando erro é que saio do que conheço e do que entendo. Era
uma das produções da subseção do Departamento de Música, destinada aos proles. O romance de Orwell, clássico
na descrição do totalitarismo e da homogeneização de pensamentos, relata como o regime do Grande
Irmão cuidou de deixar a cargo da sorte a criação das letras das canções, que raras vezes faziam
sentido, aproveitando-se da ausência de questionamentos na mente dos comandados. Na história de
Ende, em perfeita harmonia com o título da obra, a lógica exata do número infinito é quem recebe o
encargo da atividade criadora coerente. A crítica que está por trás dos fragmentos é evidente. Não há
nenhuma idéia que possa brotar do nada. Até o mundo, na descrição do Gênese, teve início no
Verbo. Ao contrário. A mente humana cabe o uso dos elementos informativos para seu
aproveitamento no discurso. O primeiro importa na renovação da linguagem. Autor modernista,
Bandeira segue a tendência da negação à métrica clássica, à criação que aparecia travada nos anseios
da beleza da forma, da aparência. Presença da literatura brasileira, p. 50. ARGUMENTAÇÃO E CRIATIVIDADE 321 Bons
argumentos são retirados das informações do diaa- dia, tal qual o poema surgiu do recorte de jornal.
Assim alcança-se a almejada valorização dos elementos lingüísticos enunciados. Atiravam nas
construções da casa. Além, é claro, do evidente efeito de aproximação do pensamento rústico do
personagem, que é outra intenção dentro da narrativa. Pois é possível, no contexto do discurso
forense, utilizar o mesmo princípio. Texto parafraseado Os profissionais da medicina também fazem parte de
muitos delitos da mesma natureza.

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