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Introdução às Equações Diferenciais

− Um roteiro para estudos −

- Versão: Maio 2017 -


Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Índice
Equações Diferenciais - Um Pouco de História ......................................................................................... 3
A Natureza das Equações Diferenciais ......................................................................................................... 8
Definição e Notações ...................................................................................................................................... 8
Tipos de Soluções de uma Equação Diferencial ................................................................................. 11
Interpretação Geométrica da Solução de uma Equação Diferencial .......................................... 12
Problemas de Valor Inicial e Problemas de Valores de Contorno .............................................. 13
Teorema de Existência e Unicidade ........................................................................................................ 14
Equações Diferenciais Ordinárias de 1a Ordem e 1o Grau .................................................................. 18
Classificação ..................................................................................................................................................... 18
1o Tipo: Equações Diferenciais de Variáveis Separáveis ........................................................... 18
Sobre a Curva Tractriz ............................................................................................................................ 20
2o Tipo: Equações Diferenciais Homogêneas ................................................................................. 21
3o Tipo: Equações Diferenciais Redutíveis às Homogêneas ou às de Variáveis
Separáveis .................................................................................................................................................... 25
4o Tipo: Equações Diferenciais Exatas .............................................................................................. 27
Fator Integrante ........................................................................................................................................ 30
Pesquisa de um Fator Integrante ........................................................................................................ 30
5o Tipo: Equações Diferenciais Lineares.......................................................................................... 32
Algumas Aplicações das Equações Diferenciais Ordinárias de 1a Ordem e 1o Grau ............ 35
Exercícios Gerais de Aplicações .......................................................................................................... 41
Equações Diferenciais Ordinárias de Ordem Superior à Primeira .................................................. 45
Tipos Especiais de Equações Diferenciais de 2a Ordem ................................................................. 45
Problema de Perseguição (Uma aplicação) ................................................................................... 49
Equações Diferenciais Lineares de Ordem N ...................................................................................... 54
Equações Diferenciais Lineares de Ordem N, Homogêneas de Coeficientes Constantes .. 55
Equações Diferenciais Lineares de Ordem N, Não-Homogêneas de Coeficientes
Constantes ........................................................................................................................................................ 60
Método dos Coeficientes a Determinar (ou Método de Descartes) ............................................ 60
Família de uma função ............................................................................................................................ 60
Construção de uma Solução Particular Experimental (yp) ....................................................... 61
Método da Variação dos Parâmetros ..................................................................................................... 67
Aplicações de Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem com Coeficientes
Constantes ........................................................................................................................................................ 73
Vibrações Mecânicas e Elétricas ......................................................................................................... 73
Sistemas de Equações Diferenciais.............................................................................................................. 82
Aplicações de Sistemas de Equações Diferenciais Lineares .............................................................. 87
Noções de Equações Diferenciais Parciais ................................................................................................ 92
Sobre a Resolução.......................................................................................................................................... 93
Determinação de uma Equação Diferencial Parcial a partir de uma Solução dada. ............ 94
O Problema de Condução de Calor e o Método de Separação de Variáveis ............................ 96
Anexos.................................................................................................................................................................. 100
Fórmulas Básicas ............................................................................................................................................. 101
Sistemas de Unidades .................................................................................................................................... 104
Sobre Equações Diferenciais Ordinárias de Variáveis Separáveis...........................................104
Bibliografia ....................................................................................................................................................... ..106

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Provenzano, Luiz Fernando

Para ganhar conhecimento, adicione algo todos os dias.


Para ganhar sabedoria, elimine algo todos os dias.
Lao-Tsé (1324 a.C. - 1408 a.C.)

Equações Diferenciais - Um Pouco de História

De várias maneiras, as equações diferenciais são o coração da análise e do


cálculo, dois dos mais importantes ramos da matemática nos últimos 300 anos.
Equações diferenciais são uma parte integral ou um dos objetivos de vários cursos de
graduação de cálculo. Como uma ferramenta matemática importante para ciências
físicas, a equação diferencial não tem igual. Assim é amplamente aceito que equações
diferenciais são importantes em ambas: a matemática pura e a aplicada. A história sobre
este assunto é rica no seu desenvolvimento e é isto que estaremos olhando aqui.
Os fundamentos deste assunto parecem estar dominados pelas contribuições de
um homem, Leonhard Euler, que podemos dizer que a história deste assunto começa e
termina com ele. Naturalmente, isto seria uma simplificação grosseira do seu
desenvolvimento. Existem vários contribuintes importantes, e aqueles que vieram antes
de Euler foram necessários para que ele pudesse entender o cálculo e a análise
necessários para desenvolver muitas das idéias fundamentais. Os contribuintes depois
de Euler refinaram seu trabalho e produziram idéias inteiramente novas, inacessíveis à
perspectiva do século XVIII de Euler e sofisticadas além do entendimento de apenas
uma pessoa.
Esta é a história do desenvolvimento das equações diferenciais. Daremos uma
pequena olhada nas pessoas, nas equações, nas técnicas, na teoria e nas aplicações.
A história começa com os inventores do cálculo, Fermat, Newton, e Leibniz. A
partir do momento que estes matemáticos brilhantes tiveram entendimento suficiente e
notação para a derivada, esta logo apareceu em equações e o assunto nasceu. Contudo,
logo descobriram que as soluções para estas equações não eram tão fáceis. As
manipulações simbólicas e simplificações algébricas ajudaram apenas um pouco. A
integral (antiderivada) e seu papel teórico no Teorema Fundamental do Cálculo ofereceu
ajuda direta apenas quando as variáveis eram separadas, em circunstâncias muito
especiais. O método de separação de variáveis foi desenvolvido por Jakob Bernoulli e
generalizado por Leibniz. Assim estes pesquisadores iniciais do século 17 focalizaram
estes casos especiais e deixaram um desenvolvimento mais geral das teorias e técnicas
para aqueles que os seguiram.
Ao redor do início do século XVIII, a próxima onda de pesquisadores de equações
diferenciais começou a aplicar estes tipos de equações a problemas em astronomia e
ciências físicas. Jakob Bernoulli estudou cuidadosamente e escreveu equações
diferenciais para o movimento planetário, usando os princípios de gravidade e momento
desenvolvidos por Newton. O trabalho de Bernoulli incluiu o desenvolvimento da
catenária e o uso de coordenadas polares. Nesta época, as equações diferenciais
estavam interagindo com outros tipos de matemática e ciências para resolver problemas
aplicados significativos. Halley usou os mesmos princípios para analisar a trajetória de
um cometa que hoje leva seu nome. O irmão de Jakob, Johann Bernoulli, foi
provavelmente o primeiro matemático a entender o cálculo de Leibniz e os princípios de
mecânica para modelar matematicamente fenômenos físicos usando equações
diferenciais e a encontrar suas soluções. Ricatti (1676--1754) começou um estudo sério

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de uma equação em particular, mas foi limitado pelas teorias do seu tempo para casos
especiais da equação que leva hoje seu nome. Os Bernoullis, Jakob, Johann, e Daniel,
todos estudaram os casos da equação de Ricatti também. Na época, Taylor usou séries
para "resolver" equações diferenciais, outros desenvolveram e usaram estas séries para
vários propósitos. Contudo, o desenvolvimento de Taylor de diferenças finitas começou
um novo ramo da matemática intimamente relacionado ao desenvolvimento das
equações diferenciais. No início do século XVIII, este e muitos outros matemáticos
tinham acumulado uma crescente variedade de técnicas para analisar e resolver muitas
variedades de equações diferenciais. Contudo, muitas equações ainda eram
desconhecidas em termos de propriedades ou métodos de resolução. Cinqüenta anos de
equações diferenciais trouxeram progresso considerável, mas não uma teoria geral.
O desenvolvimento das equações diferenciais precisava de um mestre para
consolidar e generalizar os métodos existentes e criar novas e mais poderosas técnicas
para atacar grandes famílias de equações. Muitas equações pareciam amigáveis, mas
tornaram-se decepcionantemente difíceis. Em muitos casos, técnicas de soluções
iludiram perseguidores por cerca de 50 anos, quando Leonhard Euler chegou à cena das
equações diferenciais. Euler teve o benefício dos trabalhos anteriores, mas a chave para
seu entendimento era seu conhecimento e percepção de funções. Euler entendeu o
papel e a estrutura de funções, estudou suas propriedades e definições. Rapidamente
achou que funções eram a chave para entender equações diferenciais e desenvolver
métodos para suas resoluções. Usando seu conhecimento de funções, desenvolveu
procedimentos para soluções de muitos tipos de equações. Foi o primeiro a entender as
propriedades e os papéis das funções exponenciais, logarítmicas, trigonométricas e de
muitas outras funções elementares. Euler também desenvolveu várias funções novas
baseadas em soluções em séries de tipos especiais de equações diferenciais. Suas
técnicas de conjecturar e encontrar os coeficientes indeterminados foram etapas
fundamentais para desenvolver este assunto. Em 1739, desenvolveu o método de
variação de parâmetros. Seu trabalho também incluiu o uso de aproximações numéricas
e o desenvolvimento de métodos numéricos, os quais proveram "soluções" aproximadas
para quase todas as equações. Euler então continuou aplicando o trabalho em mecânica
que levou a modelos de equações diferenciais e soluções. Ele era um mestre que este
assunto necessitava para se desenvolver além de seu início primitivo, tornando-se um
assunto coeso e central ao desenvolvimento da matemática aplicada moderna.
Depois de Euler vieram muitos especialistas que refinaram ou estenderam muitas
das idéias de Euler. Em 1728, Daniel Bernoulli usou os métodos de Euler para ajudá-lo a
estudar oscilações e as equações diferenciais que produzem estes tipos de soluções. O
trabalho de D'Alembert em física matemática envolveu equações diferenciais parciais e
explorações por soluções das formas mais elementares destas equações. Lagrange
seguiu de perto os passos de Euler, desenvolvendo mais teoria e estendendo resultados
em mecânica, especialmente equações de movimento (problema dos três corpos) e
energia potencial. As maiores contribuições de Lagrange foram provavelmente na
definição de função e propriedades, o que manteve o interesse em generalizar métodos
e analisar novas famílias de equações diferenciais. Lagrange foi provavelmente o
primeiro matemático com conhecimento teórico e ferramentas suficientes para ser um
verdadeiro analista de equações diferenciais. Em 1788, ele introduziu equações gerais
de movimento para sistemas dinâmicos, hoje conhecidas como equações de Lagrange.
O trabalho de Laplace sobre a estabilidade do sistema solar levou a mais avanços,
incluindo técnicas numéricas melhores e um melhor entendimento de integração. Em
1799, introduziu as idéias de um laplaciano de uma função. Laplace claramente
reconheceu as raízes de seu trabalho quando escreveu "Leia Euler, leia Euler, ele é
nosso mestre". O trabalho de Legendre sobre equações diferenciais foi motivado pelo

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movimento de projéteis, pela primeira vez levando em conta novos fatores tais como
resistência do ar e velocidades iniciais. Lacroix foi o próximo a deixar sua marca.
Trabalhou em avanços nas equações diferenciais parciais e incorporou muito dos
avanços, desde os tempos de Euler, ao seu livro. A contribuição principal de Lacroix foi
resumir muitos dos resultados de Euler, Lagrange, Laplace, e Legendre. O próximo na
ordem foi Fourier. Sua pesquisa matemática fez contribuições ao estudo e cálculos da
difusão de calor e à solução de equações diferenciais. Muito deste trabalho aparece em
The Analytical Theory of Heat (A Teoria Analítica do Calor,1822) de Fourier, no qual ele
fez uso extensivo da série que leva seu nome. Este resultado foi uma ferramenta
importante para o estudo de oscilações. Fourier, contudo, pouco contribuiu para a teoria
matemática desta série, a qual era bem conhecida anteriormente por Euler, Daniel
Bernoulli, e Lagrange. As contribuições de Charles Babbage vieram por uma rota
diferente. Ele desenvolveu uma máquina de calcular chamada de Máquina de Diferença
que usava diferenças finitas para aproximar soluções de equações.
O próximo avanço importante neste assunto ocorreu no início do século XIX,
quando as teorias e conceitos de funções de variáveis complexas se desenvolveram. Os
dois contribuintes principais deste desenvolvimento foram Gauss e Cauchy. Gauss usou
equações diferenciais para melhorar as teorias das órbitas planetárias e gravitação.
Gauss estabeleceu a teoria do potencial como um ramo coerente da matemática.
Também reconheceu que a teoria das funções de uma variável complexa era a chave
para entender muitos dos resultados importantes das equações diferenciais aplicadas.
Cauchy aplicou equações diferenciais para modelar a propagação de ondas sobre a
superfície de um líquido. Os resultados são agora clássicos em hidrodinâmica. Inventou
o método das características, o qual é importante na análise e solução de várias
equações diferenciais parciais. Cauchy foi o primeiro a definir completamente as idéias
de convergência e convergência absoluta de séries infinitas e iniciou uma análise
rigorosa de cálculo e equações diferenciais. Também foi o primeiro a desenvolver uma
teoria sistemática para números complexos e a desenvolver a transformada de Fourier
para prover soluções algébricas para equações diferenciais.
Depois destas grandes contribuições de Gauss e Cauchy, outros puderam refinar
estas teorias poderosas e aplicá-las a vários ramos da ciência. Os trabalhos iniciais de
Poisson em mecânica apareceram em Traité de mécanique em 1811. Aplicou seu
conhecimento de equações diferenciais a aplicações em física e mecânica, incluindo
elasticidade e vibrações. Muito de seu trabalho original foi feito na solução e análise de
equações diferenciais. Outro aplicador destas teorias foi George Green. O trabalho de
Green em fundamentos matemáticos de gravitação, eletricidade e magnetismo foi
publicado em 1828 em An Essay on the Application of Mathematical Analysis to
Electricity and Magnetism. A matemática de Green proveu a base na qual Thomson,
Stokes, Rayleigh, Maxwell e outros construíram a teoria atual do magnetismo. Bessel era
um amigo de Gauss e aplicou seu conhecimento sobre equações diferenciais à
astronomia. Seu trabalho sobre funções de Bessel foi feito para analisar perturbações
planetárias. Posteriormente estas construções foram usadas para resolver equações
diferenciais. Ostrogradsky colaborou com Laplace, Legendre, Fourier, Poisson e Cauchy
enquanto usava equações diferenciais para desenvolver teorias sobre a condução do
calor. Joseph Liouville foi o primeiro a resolver problemas de contorno resolvendo
equações integrais equivalentes, um método refinado por Fredholm e Hilbert no início da
década de 1900. O trabalho de Liouville sobre a teoria de integrais de funções
elementares foi uma contribuição substancial para soluções de equações diferenciais. As
investigações teóricas e experimentais de Stokes cobriram hidrodinâmica, elasticidade,
luz, gravitação, som, calor, meteorologia e física solar. Ele usou modelos de equações
diferenciais em todos os campos de estudo.

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Na metade do século XIX, uma nova estrutura era necessária para atacar
sistemas de mais de uma equação diferencial. Vários matemáticos vieram em socorro.
Jacobi desenvolveu a teoria de determinantes e transformações em uma ferramenta
poderosa para avaliar integrais múltiplas e resolver equações diferenciais. A estrutura do
jacobiano foi desenvolvida em 1841. Como Euler, Jacobi era um calculador muito hábil e
um perito numa variedade de campos aplicados. Cayley também trabalhou com
determinantes e criou uma teoria para operações com matrizes em 1854. Cayley era um
amigo de J. J. Sylvester e foi para os Estados Unidos para lecionar na Universidade
Johns Hopkins entre 1881 e 1882. Cayley publicou mais de 900 artigos cobrindo muitas
áreas da matemática, dinâmica teórica e astronomia. Cayley criou a noção de matrizes
em 1858 e desenvolveu boa parte da teoria de matrizes nas décadas posteriores. Josiah
Gibbs fez contribuições à termodinâmica, ao eletromagnetismo e à mecânica. Por seu
trabalho nos fundamentos de sistemas de equações, Gibbs é conhecido como o pai da
análise vetorial.
À medida que o final do século XIX se aproximava, os principais esforços em
equações diferenciais se moveram para um plano teórico. Em 1876, Lipschitz (1832--
1903) desenvolveu teoremas de existência para soluções de equações diferenciais de
primeira ordem. O trabalho de Hermite foi desenvolver a teoria de funções e soluções de
equações. À medida que a teoria se desenvolveu, as seis funções trigonométricas
básicas foram provadas transcendentais, assim como as inversas das funções
trigonométricas e as funções exponenciais e logarítmicas. Hermite mostrou que a
equação de quinta ordem poderia ser resolvida por funções elípticas. Enquanto seu
trabalho era teórico, os polinômios de Hermite e as funções de Hermite se mostraram
posteriormente muito úteis para resolver a equação de onda de Schrödinger e outras
equações diferenciais. O próximo a construir fundamento teórico foi Bernhard Riemann.
Seu doutorado foi obtido, sob a orientação de Gauss, na teoria de variáveis complexas.
Riemann também teve o benefício de trabalhar com o físico Wilhelm Weber. O trabalho
de Riemann em equações diferenciais contribuiu para resultados em dinâmica e física.
No final da década de 1890, Gibbs escreveu um artigo que descreveu a convergência e o
"fenômeno de Gibbs" da série de Fourier. O próximo contribuinte teórico importante foi
Kovalevsky, a maior matemática antes do século XX. Depois de vencer dificuldades
consideráveis por causa da discriminação de seu gênero, ela teve oportunidade de
estudar com Weierstrass. No início de sua pesquisa, completou três artigos sobre
equações diferenciais parciais. No seu estudo da forma dos anéis de Saturno, ela se
apoiou no trabalho de Laplace, cujo trabalho ela generalizou. Basicamente, o trabalho de
Kovalevsky era sobre a teoria de equações diferenciais parciais e um resultado central
sobre a existência de soluções ainda leva seu nome. Ela publicou vários artigos sobre
equações diferenciais parciais. Posteriormente, no século XX, trabalhos teóricos de
Fredholm e Hilbert refinaram os resultados iniciais e desenvolveram novas classificações
para o entendimento posterior de algumas das mais complicadas famílias de equações
diferenciais.
O próximo impulso foi no desenvolvimento de métodos numéricos mais robustos e
eficientes. Carl Runge desenvolveu métodos numéricos para resolver as equações
diferenciais que surgiram no seu estudo do espectro atômico. Estes métodos numéricos
ainda são usados hoje. Ele usou tanta matemática em sua pesquisa que físicos
pensaram que fosse matemático, e fez tanta física que os matemáticos pensaram que
fosse físico. Hoje seu nome está associado com os métodos de Runge-Kutta para
resolver equações diferenciais. Kutta, outro matemático aplicado alemão, também é
lembrado por sua contribuição à teoria de Kutta-Joukowski de sustentação de aerofólios
em aerodinâmica, baseada em equações diferenciais. Na última metade do século XX,
muitos matemáticos e cientistas da computação implementaram métodos numéricos para

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equações diferenciais em computadores para dar soluções rápidas e eficientes para


sistemas complicados, sobre geometrias complexas, de grande escala. Richard Courant
e Garrett Birkhoff foram pioneiros bem sucedidos neste esforço.
Equações não lineares foram o próximo grande obstáculo. Poincaré, o maior
matemático de sua geração, produziu mais de 30 livros técnicos sobre física matemática
e mecânica celeste. A maioria destes trabalhos envolveu o uso e análise de equações
diferenciais. Em mecânica celeste, trabalhando com os resultados do astrônomo
americano George Hill, conquistou a estabilidade das órbitas e iniciou a teoria qualitativa
de equações diferenciais não lineares. Muitos resultados de seu trabalho foram as
sementes de novas maneiras de pensar, as quais floresceram, tais como análise de
séries divergentes e equações diferenciais não lineares. Poincaré entendeu e contribuiu
em quatro áreas principais da matemática - análise, álgebra, geometria e teoria de
números. Ele tinha um domínio criativo de toda a matemática de seu tempo e foi,
provavelmente, a última pessoa a estar nesta posição. No século XX, George Birkhoff
usou as idéias de Poincaré para analisar sistemas dinâmicos grandes e estabelecer uma
teoria para a análise das propriedades das soluções destas equações. Na década de
1980, a teoria emergente do caos usou os princípios desenvolvidos por Poincaré e seus
seguidores.

Fonte:
http://cwx.prenhall.com/bookbind/pubbooks/thomas_br/chapter1/medialib/custom3/topics/diffeq.htm
em setembro de 2008.

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A Natureza das Equações Diferenciais

Muitas das leis gerais da natureza, na física, na química, na biologia, na


astronomia encontram a sua expressão mais natural na linguagem das equações
diferenciais. Aplicações também surgem na matemática em si, especialmente na
geometria, na engenharia, na economia, e em muitos outros campos da ciência
aplicada.
É fácil entender as razões que estão por detrás desta grande utilização de
equações diferenciais. Para tanto, é bom relembrar que se y = f ( x ) é uma dada função,
dy
então, a sua derivada pode ser interpretada como a taxa (ou razão) de variação de
dx
y em relação a x .
Em qualquer processo natural, as variáveis envolvidas e suas taxas de variação
estão interligadas com uma ou outras por meio de princípios básicos científicos que
governam o processo. Quando esta relação é expressa em símbolos matemáticos, o
resultado é freqüentemente uma equação diferencial.
Para ilustrar estas afirmações vejamos o exemplo que se segue.
De acordo com a Segunda Lei de Newton do movimento, a aceleração a de um
1
corpo de massa m é proporcional à força total F agindo sobre ele, com como a
m
F
constante de proporcionalidade, assim, a = ou m.a = F (1)
m
Suponhamos, por hipótese, que um corpo de massa m cai livremente sobre a
influência da gravidade. Nesse caso a única força que age sobre ele é m.g onde g é a
aceleração devido à gravidade. Se y(t) é a distância abaixo do corpo para alguma altura
d2y d2y d2y
fixada, então sua aceleração é , e (1) torna-se m = m. g ou =g (2)
dt 2 dt 2 dt 2
Se nós alterarmos a situação assumindo que o ar exerce uma
força de resistência proporcional à velocidade, então a força total
dy
exercida sobre o corpo é m.g − k e (1) torna-se
dt

d2y dy d2y dy
m 2
= m.g − k ou m 2
+k = m.g (3)
dt dt dt dt

As equações (2) e (3) são as equações diferenciais que


expressam as atribuições essenciais dos processos físicos considerados.

Definição e Notações

Definição: Uma equação envolvendo as derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais


variáveis dependentes em relação a uma ou mais variáveis independentes é chamada
de equação diferencial.

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Exemplos:
dy
= 3x − 1 ; y ' '+3 y ⋅ ( y ') + y ⋅ ( y ') = 5 x ;
5 3
1. 6.
dx
dx dy
2. x.dy − y.dx = 0 ; 7. + = 2x + y ;
dt dt
d2y dy 1 1
3. 2
− 5 + 6y = 0 ; 8. y'+ ⋅ y = 2 ;
dx dx x x
2
d2y  dy  ∂u ∂v
4. ey + 2⋅  = 1 ; 9. =− ;
dx 2
 dx  ∂y ∂x
3
 d 2s  ds ∂2z ∂2z
5.  2  − 4.t.s + 8.s = 0 ;
2
10. + =0 .
 dt  dt ∂x 2 ∂y 2

dy d 2 y d 3 y ∂w ∂ 2 z
Observação: A notação de Leibniz , , , ... , , , ... , nos parece ser
dx dx 2 dx 3 ∂x ∂y 2
mais vantajosa sobre a notação y ' , y ' ' , y ' ' ' , ... , pois, explicita claramente as variáveis
dependentes e as independentes.

Ordem de uma Equação Diferencial


A ordem de uma equação diferencial é dada pela ordem da derivada de mais
alta ordem que nela aparece.

Grau de uma Equação Diferencial

O grau de uma equação diferencial, admitindo-se a mesma escrita na forma


racional inteira em relação às derivadas, é dado pelo grau da derivada de mais alta
ordem que nela aparece, ou seja, é o maior dos expoentes a que está elevada a
derivada de mais alta ordem contida na equação.
2
d3y y d3y d3y
Exemplo: 3
− 3 =1 ⇒  3  − y = 3 ⇒ 3a ordem e 2o grau.
dx d y  dx  dx
dx 3

Preencha o quadro abaixo, com respeito à ordem e o grau, dos dez exemplos
apresentados anteriormente:

Exemplo Ordem Grau Exemplo Ordem Grau


1 6
2 7
3 8
4 9
5 10

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Classificação das Equações Diferenciais

As equações diferenciais são classificadas em:


a) Equações Diferenciais Ordinárias: são aquelas cuja(s) função(ões) incógnita(s)
depende(m) de uma única variável, e portanto, só apresentam derivadas ordinárias
(os oito primeiros exemplos);
b) Equações Diferenciais Parciais: são aquelas cuja(s) função(ões) incógnita(s)
depende(m) de mais uma variável, e portanto, as derivadas são parciais (os dois
últimos exemplos).

Resolução de uma Equação Diferencial


Resolver ou integrar uma equação diferencial significa determinar todas as funções que
substituídas conjuntamente com as suas derivadas na equação diferencial dada, a
verificam identicamente. Tais funções chamam-se soluções, primitivas ou integrais da
equação.
Exemplos:

1) A função y = c1 cos x + c2 sen x , onde c1 , c2 ∈ ℜ, são ditas constantes arbitrárias, é


d2y
solução da equação diferencial + y = 0 , pois,
dx 2
dy d2y
= −c1 sen x + c 2 cos x e = −c1 cos x − c 2 sen x .
dx dx 2
Substituindo na equação diferencial dada vem,
?
− c1 cos x − c 2 sen x + c1 cos x + c 2 sen x = 0
0 = 0 (Verdade → a igualdade se verificou).

∂z ∂z
2) A função z = x2 + y2 é solução da equação diferencial y − x = 0 , pois,
∂x ∂y
∂z ∂z
= 2x e = 2 y . Substituindo estas derivadas parciais na equação dada vem,
∂x ∂y
?
2 xy − 2 xy = 0
0 = 0 (Verdade).

dy
3) Já a função y = x2 não é solução da equação diferencial = 2 x + 3 , pois,
dx
dy
= 2 x e substituindo na equação diferencial dada vem, 2 x ≠ 2 x + 3 . Logo, não se
dx
verificou a igualdade.

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Tipos de Soluções de uma Equação Diferencial


Uma equação diferencial pode ser abordada de três maneiras diferentes: a
analítica, a qualitativa e a numérica.
A forma analítica é aquela tradicional onde a solução, uma função explícita ou
implícita, é encontrada pelo uso direto do cálculo diferencial e integral. Num primeiro
curso de Equações Diferenciais, geralmente, é dado prioridade a este processo
analítico na busca da solução de uma equação diferencial.
Aqui, já começa a ficar claro que por este processo analítico não é sempre
possível encontrar a solução de todas as equações diferenciais, pois como já sabemos,
existem muitas funções que não são integráveis.
Já pelo processo qualitativo, discute-se o comportamento das soluções e os
aspectos das curvas integrais descritos por meio de campos de direções, isto é,
graficamente. Este procedimento, no estudo das equações diferenciais ordinárias de 1a
ordem, não envolve cálculos complicados e é baseado na interpretação da derivada.
Finalmente, na abordagem numérica, métodos numéricos são utilizados para
aproximar soluções de problemas de valor inicial de equações diferenciais de 1a ordem.
No caso das equações diferenciais ordinárias, a solução analítica pode ser dos
seguintes tipos:
a) Solução Geral: É uma solução que contém tantas constantes arbitrárias essenciais
quantas forem as unidades da ordem da equação considerada.
Exemplo: y = c1 cos x + c2 sen x (onde c1 , c2 ∈ ℜ) é solução geral da equação
diferencial
2
d y
+ y = 0 , pois, o número de constantes arbitrárias essenciais é 2, igual às unidades
dx 2
da ordem da equação diferencial considerada.
b) Solução Particular: É a solução que se obtém atribuindo-se valores particulares às
constantes arbitrárias, que figuram na solução geral.
d2y
Exemplo: y = cos x é uma solução particular da equação + y = 0 ,pois, é uma
dx 2
solução obtida da solução geral acima, quando c1 = 1 e c2 = 0.
c) Solução Singular: É uma solução desprovida de constantes arbitrárias e que não
pode ser obtida da solução geral. Também são chamadas de soluções perdidas.
Sendo assim, apenas alguns tipos de equações diferenciais apresentam essa
solução.
dy  dy 
Exemplo: Seja a equação de Clairaut y = x − ln   . Ela possui solução geral
dx  dx 
dada por y = c.x − ln c e solução singular dada por y = 1 + ln x (verifique!). É fácil notar
que a solução singular não pode ser obtida da solução geral.
No caso das equações diferenciais parciais as soluções analíticas são dos
seguintes tipos:
a) Solução Geral: É uma solução que contém funções arbitrárias.
∂z ∂z
Exemplo: Dada a equação diferencial parcial y − x = 0 , a função arbitrária
∂x ∂y
z = f ( x + y ) é solução geral da equação diferencial, pois, f é uma função de
2 2

argumento u = x 2 + y 2 , isto é, z = f (u ) , sendo u = x 2 + y 2 , e derivando z em relação a

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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∂z ∂z
x e a y, tem-se = f ' (u ).2 x e = f ' (u ).2 y . Substituindo-se na equação
∂x ∂y
diferencial dada vem,
?
y. f ' (u ).2 x − xf ' (u ).2 y = 0 ∴ 0 = 0 (Verdade).
b) Solução Completa: É uma solução que contém constantes arbitrárias.
∂z ∂z ∂z ∂z
Exemplo: Dada a equação diferencial parcial z = x + y + . ,
∂x ∂y ∂x ∂y
a função z = a.x + b. y + a.b , onde a e b são constantes arbitrárias, é solução completa
da equação dada (Verifique).
c) Solução Particular: É a solução obtida da solução completa, atribuindo-se valores às
constantes arbitrárias.
Assim, uma das mais importantes diferenças entre as soluções das equações
diferenciais ordinárias e as soluções das equações diferenciais parciais, é aquela que,
enquanto a solução geral de uma equação diferencial ordinária de ordem n contém n
constantes arbitrárias de integração, a solução geral de uma equação diferencial parcial
contém funções arbitrárias.
Outra particularidade que existe, é de que nem sempre o número de funções
arbitrárias ou de constantes arbitrárias traduz a ordem da equação diferencial parcial.

Interpretação Geométrica da Solução de uma Equação Diferencial

Sob o ponto de vista geométrico a solução geral de uma equação diferencial


ordinária representa uma família de curvas. Estas curvas chamam-se curvas integrais.
Uma solução particular é representada por uma curva desta família.
dy
Exemplo: Seja a equação diferencial = 2 x , cuja solução geral é dada por
dx
y = x2 + c .
Esta solução geral nada mais é do que uma Família de Parábolas, todas de
concavidade voltada para cima e simétricas em relação ao eixo y, conforme mostra a
figura abaixo, para alguns valores de c, c1 = −1, c 2 = 0, c3 = 1, c 4 = 1,5 , c5 = 3.

12
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Observação: Existem infinitas parábolas nesta família, onde cada uma delas representa
uma solução particular (uma para cada determinado valor de c ∈ ℜ).

Exemplos:

1) Verifique se y = (c1 + c 2 x).e x + c3 é solução da equação diferencial


d3y d 2 y dy
− 2 + = 0.
dx 3 dx 2 dx
Solução:

3x 2
2) Dado y = − x + c determine a equação diferencial de menor ordem possível
2
que não contenha nenhuma constante arbitrária.
Solução:

3) Dado y = c1 cos 2 x + c2 sen 2 x determine a equação diferencial de menor ordem


possível que não contenha nenhuma constante arbitrária.
Solução:

Problemas de Valor Inicial e Problemas de Valores de Contorno


Na resolução de equações diferenciais, estamos interessados não somente nas
suas soluções gerais, mas também naquelas soluções que satisfazem certas
condições.
Aqui trataremos daquelas condições que são conhecidas como condições
iniciais e condições de fronteira (contorno) de equações diferenciais ordinárias.
Uma condição inicial é uma condição, na solução de uma equação diferencial,
em um único ponto; condições de fronteira (contorno) são condições, na solução de
uma equação diferencial, em dois ou mais pontos.
A equação diferencial com condição inicial será chamada de um Problema de
Valor Inicial; aquela que envolve suas condições de fronteira (contorno) será chamada
de um Problema de Valores de Fronteira (contorno).

13
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

 dy
Exemplos de Problemas de Valor Inicial: a) = ky ,
 dx
 y (0) = 2

 y' '− y '−2. y = 0



b)  y(0) = 0
 y' (0) = 3

d2 y
 2 + 4. y = 0
 dx
Exemplo de Problema de Valores de Fronteira (Contorno): a)  y (0) = 1
 π
 y '   = 2
  2 
d4y
b) E.I . = wo , y ( 0) = y ' ( 0) = 0 e y ( L ) = y ' ( L) = 0 .
dx 4

Teorema de Existência e Unicidade


É sempre importante ter-se alguns teoremas básicos que nos habilitem a
determinar se uma dada equação diferencial com condições iniciais tem ou não uma
solução única.
Afortunadamente, existem teoremas que nos ajudarão (nem sempre) a
responder estas questões. Aqui nós abordaremos os Teoremas da Existência para
equações diferenciais ordinárias de 1a e 2a ordem, sem nos preocuparmos com as
demonstrações dos mesmos.
Os teoremas a seguir apresentam as condições suficientes para a garantia da
existência e unicidade de soluções.

Teorema 1: Sejam as funções f e ∂f contínuas num domínio D do plano xy contendo


∂y
o ponto (xo , yo). Então, existe um intervalo Io : x − x0 < h , (h>0) [ou xo – h < x < xo + h ],
no qual há uma solução única , y = y(x), satisfazendo a equação diferencial dy = f ( x, y )
dx
e a condição inicial y(xo) = yo.
As condições de continuidade das funções f e ∂f são fáceis de serem
∂y
verificadas mas, em geral, não é possível determinar um intervalo específico Io no qual
uma solução está definida sem realmente resolver a equação diferencial. Este teorema
estabelece apenas a existência local de solução.

 dy
 = 2.x
Exemplo: Dado o problema de valor inicial  dx
 y (1) = 1
Seja uma região D (cinza) no plano xy que contém o Fig.I
∂f
ponto ( x0 , y0 ) = (1,1) . Como f ( x, y ) = 2.x e = 0 são
∂y

14
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

contínuas em D , existe algum intervalo Io : x − 1 < h , (h>0), no qual há uma solução


dy
única ( y = x 2 ) , satisfazendo a equação diferencial = 2.x e a condição inicial y (1) = 1
dx
(Fig.I).

Teorema 2: Sejam as funções f, ∂f e ∂f contínuas num domínio tridimensional D


∂y ∂z
contendo o ponto (xo , yo , zo). Então, existe um intervalo Io : x − x0 < h , (h>0) , no qual
há uma solução única , y = y(x), satisfazendo a equação diferencial y ' ' = f ( x, y, y ' ) e as
condições iniciais y(xo) = yo e y' ( x0 ) = z 0 .
Note-se que os teoremas acima não se referem ao tamanho do intervalo Io. Eles
meramente afirmam que ela existe este intervalo. Além disso, estes teoremas não nos
indicam um método para encontrar esta solução única. Estes teoremas fornecem
aquelas que são conhecidas como as condições suficientes para a existência de uma
solução única. Isto é, se as condições estabelecidas nas hipóteses dos respectivos
teoremas são satisfeitas, então, nós assumiremos que existe uma única solução para o
problema de valor inicial, em algum intervalo Io. Contudo, as condições estabelecidas
nas hipóteses destes teoremas não são necessárias, isto é, se estas condições não
forem todas satisfeitas, poderá existir uma única solução.

Exemplos:
 dy
1) Mostre que o problema de valor inicial  = ky
 dx
 y (1) = e k
tem uma única solução no intervalo Io : x − 1 < h (h>0).
Solução:
Aqui, f(x,y) = ky e ∂f ( x, y )
=k.
∂y
Claramente, ambas as funções f e ∂ f satisfazem a hipótese do Teorema 1 em
∂y
todo plano xy. Em particular, podemos aplicar este teorema em qualquer domínio D
contendo o ponto (xo ,yo) = (1,ek). Assim, existe um intervalo Io : x − x0 = x − 1 < h , no qual
há uma única solução, y(x), satisfazendo a equação diferencial e sua condição inicial.
A solução geral é dada por y = c.ek.x onde c é uma constante arbitrária.
Desde que y = ek em x = 1, nós encontramos c = 1. Assim, y = ek.x é a única
solução do problema de valor inicial no intervalo Io : x − 1 < h .
Neste exemplo, esta única solução existe sobre o intervalo −∞ < x < ∞

 y' = 4 + y 2
2) Mostre que o problema de valor inicial: 
 y (0) = 0
tem uma única solução no intervalo Io : x < h .
Solução:

Aqui, f(x,y) = 4+ y2 e ∂f ( x, y ) = 2 y .
∂y

15
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

As funções f(x,y) e ∂ f ( x , y ) , satisfazem a hipótese do Teorema 1 em qualquer


∂y
ponto do plano xy.
Para um domínio D contendo o ponto (xo,yo) = (0,0) asseguramos, pelo teorema,
a existência de um intervalo Io : x − x0 = x − 0 = x < h , onde há uma única solução y(x)
satisfazendo o problema de valor inicial.
A solução para este problema é y = 2.tg 2x (observe gráfico acima).
Assim, esta função é a única solução do problema de valor inicial no intervalo Io:
x <h.

Neste exemplo, a solução única realmente existe sobre o intervalo − π < x < π .
4 4
Note, contudo, que esta solução única não pode ser estendida além deste
intervalo, pois, qualquer intervalo maior conteria os pontos π e/ou π, e a
x=− x=
4 4
função y dada por y = 2.tg 2x não é definida nestes pontos.

3) Mostre que y = e 2x – e− x é a única solução do problema de valor inicial.


 y' '− y '−2. y = 0

 y(0) = 0 , no intervalo Io : x < h .
 y' (0) = 3

Solução:
y ' ' = f ( x, y, y ' ) onde f ( x, y, y' ) = 2 y + y' .

 ∂f ( x, y, z )
=2
Assim, f(x,y,z) = 2y + z e  ∂y

 ∂f ( x, y, z ) = 1
 ∂z
Claramente, as funções f , ∂f e ∂f satisfazem a hipótese do Teorema 2. Em
∂y ∂z
particular, podemos aplicar o teorema para qualquer domínio D contendo o ponto
(xo ,yo ,zo) = (0,0,3). Assim, existe um intervalo Io : x − x0 = x − 0 = x < h , no qual há uma
única solução y(x) satisfazendo a equação diferencial e as condições iniciais dadas
acima.

Exercícios

1) Verifique se cada uma das seguintes funções é solução da equação diferencial


correspondente:

Funções Equações Diferenciais

d 2 y 1 dy 2
a) y = c1 + 2 x + c 2 x 2 → − + =0 ;
dx 2 x dx x

16
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

d 2 s ds
b) s = c1e −2t + c2 e 3t → − − 6s = 0 ;
dt 2 dt
c) y = c.( x − c) 2 → ( y ')3 − 4 xyy'+8 y 2 =0 ;

d 2s
d) s = c1 cos (2t + c2 ) → + 4s = 0 ;
dt 2
x 2
d 2 y  dy  dy
e) y = a.e − b b
→ y 2 −  + =0 ;
dx  dx  dx

1 d2y dy
f) y = c1e 3 x + c2 e − x − e 2 x → 2
− 2 − 3y = e2x ;
3 dx dx
1 d 2x
g) x = c1 cos 3t + c 2 sen 3t + t.sen 3t → + 9 x = 3 cos 3t .
2 dt 2

2) Verifique se as funções u = x2− y2 , u = ex.cos y e u = ln (x2+ y2) são soluções da


∂ 2u ∂ 2u
equação diferencial de Laplace + = 0.
∂x 2 ∂y 2
3) Dadas as curvas abaixo, determine para cada uma delas, a equação diferencial de
menor ordem possível que não contenha nenhuma constante arbitrária.
a) x2 + y2 = c Resp.: xdx + ydy = 0 ;
dy
b) y = ce x Resp.: −y=0 ;
dx
dy
c) x 3 = c.( x 2 − y 2 ) Resp.: 3 y 2 − x 2 = 2 xy ;
dx
d3y d 2 y dy
d) y = (c1 + c 2 x )e x + c 3 Resp.: − 2 + =0 ;
dx 3 dx 2 dx

−x d 2 y dy
e) y = c1e 2x
+ c2 e Resp.: − − 2y = 0 .
dx 2 dx

4) Mostre que y = ex+1 – 3.(x+1) é a única solução do problema de valor inicial


 y ' = 3 x + y para algum intervalo I :
 o x +1 < h .
 y ( −1) = 1

( x + 2 − cos x) cos x
5) Mostre que y= é a única solução do problema de valor inicial
1 + sen x
 y '+ y. sec x = cos x
 , para algum intervalo Io : x < h .
 y (0) = 1

6) Encontre uma função r ( x ) de modo que y = sen(ln x) , x > 0 , seja solução da


d
equação diferencial ordinária: [r ( x). y ' ] + y = 0.
dx x
....................................................

17
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Equações Diferenciais Ordinárias


de 1a Ordem e 1o Grau

Como já foi citado anteriormente, nem todas as equações diferenciais possuem


solução analítica [podemos até afirmar que não são “muitos” os tipos (classes) de
equações diferenciais que as possuem].
Assim sendo, aqui vamos abordar somente alguns poucos tipos de equações
diferenciais ordinárias de 1a ordem e 1o grau, para os quais foram criados
procedimentos analíticos para se encontrar as suas respectivas soluções.
Muitos desses procedimentos foram descobertos pela necessidade de se
conhecer a solução de uma determinada equação diferencial, a qual, na realidade, era
o modelo matemático de um problema real, outros procedimentos, foram criados por
mera curiosidade matemática.
A habilidade para se encontrar a solução analítica (exata) de uma equação
diferencial depende da habilidade em se reconhecer a que tipo (classe) a equação
diferencial em questão se enquadra e da aplicação de um método específico para o
cálculo da solução, pois, o método que se aplica para resolver um tipo de equação
diferencial, não necessariamente serve para resolver outro.

Definição: Diz-se que uma Equação Diferencial Ordinária é de 1a Ordem e 1o


Grau se a mesma pode ser escrita na forma
dy
= F ( x, y ) ou M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 .
dx

Classificação
Começaremos agora nosso estudo sobre a metodologia de resolução de
algumas classes ou tipos de equações diferenciais ordinárias de 1a Ordem e 1o Grau:

1o Tipo: Equações Diferenciais de Variáveis Separáveis


a) Equações Diferenciais de Variáveis Separadas:
São aquelas equações diferenciais que podem ser expressas da forma
M ( x ) dx + N ( y ) dy = 0 .
Se as funções M e N são integráveis, obtemos imediatamente a solução geral da
equação diferencial proposta aplicando-se o operador integral (que é um operador
linear) a ambos os membros da equação diferencial.
Assim, resulta ∫ [M ( x)dx + N ( y)dy ] = c ∴ ∫ M ( x)dx + ∫ N ( y)dy = c .
Observe que o “c” representa a soma algébrica de todas as constantes de integração.
Exemplo: Determine a solução geral da equação diferencial x.dx + y.dy = 0 .
Solução:

18
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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b) Equações Diferenciais Redutíveis às de Variáveis Separadas:


Uma equação diferencial da forma M 1 ( x).N1 ( y).dx + M 2 ( x).N 2 ( y).dy = 0 , pode ser
reduzida a uma equação diferencial de variáveis separadas, mediante a
1
multiplicação da equação pela expressão , chamada fator de
N1 ( y ).M 2 ( x )
integração.
M 1 ( x) N ( y)
Assim, temos dx + 2 dy = 0 , que é uma equação diferencial de
M 2 ( x) N1 ( y)
variáveis separadas.

Observação: Este tipo de equação diferencial pode também aparecer escrito na


dy
forma de derivada, isto é, = g ( x).h( y ) . Assim, multiplicando-se ambos os
dx
1
membros da equação por e a seguir por dx (por definição, dx = ∆x é o
h( y )
acréscimo da variável independente, então, seu valor é constante e diferente de
zero), tem-se
1 dy
⋅ dx = g ( x ) ⋅ dx (4)
h( y ) dx
dy
Como dx = dy (ou dy = f ' ( x ).dx , isto é, a diferencial da variável dependente é
dx
igual ao produto da derivada da função pela diferencial da variável
1 1
independente) de (4) resulta, dy = g ( x ) dx ∴ − g ( x ) dx + dy = 0 , que é
h( y ) h( y )
uma equação diferencial de variáveis separadas, cuja solução poderá ser obtida
1
por integração, se as funções g (x ) e forem integráveis. [vide também
h( y )
Anexos “Sobre Equações Diferenciais de Variáveis Separáveis”].
Observação: Quando do estudo de Derivadas, a notação representava uma
coisa só, dy e dx não tinham significado independente. Após o estudo de
Diferenciais, passa-se a considerar como um quociente de diferenciais.

Exemplos: Resolva as seguintes equações diferenciais:

1) y.dx + x.dy = 0 ;
Solução:

dy
2) = 3x + 1 ;
dx
Solução:

19
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

4− x
3) x.dx − dy = 0 ;
y
Solução:

dy 1+ y2
4) = .
dx (1 + x 2 ). y
Solução:

Sobre a Curva Tractriz

Suponhamos que um ponto P é arrastado ao longo do plano xy por um fio PT de


comprimento constante a, ou seja, T desloca-se a partir da origem na direção positiva
do eixo x e P é arrastado a partir do ponto (a, 0) . Nestas condições, determinar o
caminho percorrido pelo ponto P ?
A curva descrita pela trajetória deste ponto P é chamada de Tractriz (do latim
tractum que significa arrastar) ou curva Equitangencial.
O Modelo matemático:
Das condições do problema e observando
a sua representação gráfica ao lado, conclui-se
que o segmento de reta PT é tangente à curva
no ponto P, e portanto, sua inclinação é dada por

dy QT dy a 2 − x2
=− ou =−
dx QP dx x
que é uma equação diferencial de variáveis
separáveis em x e y.
A Resolução:
Separando-se as variáveis, integrando
e usando o fato de que y = 0 quando x = a
[condição inicial y ( a ) = 0 ], obtemos

 a − a 2 − x2   a + a2 − x2 
y = −a.ln   − a2 − x2 ou y = a.ln   − a2 − x2
 x   x 
   

20
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

que é a equação da Tractriz.


Esta curva é de considerável importância, pois, sua revolução em torno do eixo y
gera a superfície que é um modelo para a versão da geometria não-Euclidiana de
Lobachevski.

Solução Singular (ou Solução Perdida): Dada uma Equação Diferencial de


dy
Variáveis Separáveis, digamos = g ( x).h( y) , devemos ter cuidado quando estivermos
dx
separando as variáveis, uma vez que os divisores podem se anular em um ou mais
pontos. Especificamente, se r for um zero da função h( y ) , substituir y = r em
dy
= g ( x).h( y) torna nulo ambos os membros; em outras palavras, y = r é uma solução
dx
constante na equação diferencial. Mas, após a separação das variáveis, o primeiro
dy
membro da equação = g ( x).dx fica indefinido em r. Consequentemente, y = r
h( y )
pode não aparecer na família de soluções (solução geral) obtidas após a integração e
simplificação. Lembre-se que essa solução é chamada de solução singular.
dy
Exemplo: Resolver = y2 − 4 .
dx
dy  14 1

= dx  y − 2 y + 2  .dy = dx e
− 4
Solução: Separando as variáveis temos ou
y −4
2
 
1 1 y−2
integrando vem ln y − 2 − ln y + 2 = x + c1 ⇒ ln = 4.x + k ⇒
4 4 y+2
y−2 y−2 1 + c.e 4. x
= ±e4. x + k ⇒ = c.e 4. x ⇒ y = 2. (Solução Geral).
y+2 y+2 1 − c.e 4. x
dy
Agora, se fatorarmos o segundo membro da equação diferencial = y 2 − 4 , teremos
dx
dy
= ( y − 2).( y + 2) e é fácil verificar que y = 2 e y = −2 são duas soluções constantes.
dx
A solução y = 2 é uma solução particular, pois, pode ser obtida a partir da solução
geral, atribuindo-se para a constante arbitrária c o valor zero. Já, a solução y = −2 é
uma solução singular, pois, não pode ser obtida a partir da solução geral, mediante a
atribuição de um valor à constante arbitrária c. Isto indica que esta solução foi perdida
no início do processo de solução. A inspeção da equação diferencial
 14 1

 y − 2 y + 2  .dy = dx indica claramente que precisamos omitir y = ±2 nessas etapas.
− 4

 

2o Tipo: Equações Diferenciais Homogêneas

a) Função Homogênea: Diz-se que uma função, digamos, f ( x, y ) é uma função


homogênea de grau de homogeneidade n, para algum n ∈ ℜ , em relação às
variáveis x e y, se tiver para todo λ ∈ ℜ *+
f (λ .x, λ . y ) = λ n . f ( x, y )

21
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exemplos: Verifique se as funções abaixo são homogêneas e dê o grau de


homogeneidade:

1) f ( x, y ) = x 2 + y 2

x3 − y 3
2) f ( x, y) =
x. y

x + 5y2
3) g ( x, y ) =
x

4) h( x, y ) = y.e x

5) f ( x, y ) = x 3 .(ln x − ln y − 1)

b) Equação Diferencial Homogênea 1: É toda equação diferencial que pode ser escrita
da forma M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 , onde M e N são funções homogêneas e de
mesmo grau, em relação a x e y.
Assim, se a equação diferencial é homogênea ela pode ser transformada, mediante
a substituição y = v.x (ou x = v. y ), em uma equação diferencial de variáveis
separáveis em v e x (ou v e y), que depois de encontrada a sua solução geral faz-se
y x
a substituição v = (ou v = ) para se obter a solução geral da equação diferencial
x y
inicial.
Observação: Uma equação diferencial também pode ser identificada como homogênea
dy  y dy x
se ela puder ser escrita da forma = F   ou = F   .
dx x dx  y
Exemplos: Encontre a solução geral de cada uma das equações diferenciais dadas
abaixo:

a) 2 x.( x + y ).dx + ( x 2 + y 2 ).dy = 0


Solução:

1
O significado da palavra “homogênea”, aqui apresentado, não é o mesmo daquele quando abordarmos as Equações
Diferenciais Lineares, página 32.

22
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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dy dy
b) y2 + x2 ⋅ = x. y ⋅
dx dx
Solução:

23
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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Exercícios

I) Achar a solução geral de cada uma das seguintes equações diferenciais:


a) ( 2 + y ).dx − (3 − x ).dy = 0 R: ( 2 + y ).(3 − x) = c

b) xy.dx − (1 + x 2 ).dy = 0 R: c. y 2 = 1 + x 2
c) x.( x + 3).dy − y.( 2 x + 3).dx = 0 R: y = c.x.( x + 3)

d) 1 + x 2 .dy − 1 − y 2 .dx = 0 R: arc sen y = ln c.( x + 1 + x 2

e) dρ + ρ .tg θ .dθ = 0 R: ρ = c. cos θ


f) (1 − x ).dy − y 2 dx = 0 R: y. ln c.(1 − x) = 1

g) ( x + 2 y ).dx + (2 x − 3 y ).dy = 0 R: x 2 + 4 xy − 3 y 2 = c

h) (3x + 5 y ).dx + ( 4 x + 6 y ).dy = 0 R: ( x + y ) 2 .( x + 2 y ) = c


1 x+ y
i) 2( x + y ).dx + y.dy = 0 R: ln 2 x 2 + 2 xy + y 2 − arc tg =c
2 x
j) (8 y + 10 x ).dx + (5 y + 7 x ).dy = 0 R: ( x + y ) 2 .( 2 x + y ) 3 = c

k) ( 2 x + y ).dx + ( x + 3 y ).dy = 0 R: 2 x 2 + 2 xy + 3 y 2 = c
l) 2 z.(3z + 1).dw + (1 − 2w).dz = 0 R: ( 2 w − 1).(1 + 3 z ) = c.z

m) 2 x.dz − 2 z.dx = x 2 + 4 z 2 .dx R: 1 + 4cz − c 2 x 2 = 0


n) ( x + 4 y ).dx + 2 x.dy = 0 R: x3 + 6x 2 y = c
2
dx  y + 1  1 3 1 1
o) y. ln x. =   R: x ln x − x 3 = y 2 + 2 y + ln y + c
dy  x  3 9 2

II) Achar a equação da curva que passa pelo ponto (1, 0) e cujo coeficiente angular
y −1
é, em qualquer ponto igual a 2 . R: y.(1 + x ) = 1 − x
x +x

III) Achar a solução particular que é determinada pelos valores de x e y dados.


dx dy
a) +4 =0 , x=4 , y=2 R: x 2 + 4 y 2 = 32
y x
b) ( x 2 + y 2 ).dx = 2 xy.dy , x =1 , y=0 R: y2 = x2 − x

.....................................................

24
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

3o Tipo: Equações Diferenciais Redutíveis às Homogêneas ou às de


Variáveis Separáveis
dy  a x + b1 y + c1 
São as equações diferenciais da forma = F  1  , onde
dx  a 2 x + b2 y + c 2 
a1 , b1 , c1 , a 2 , b2 e c2 são constantes.
Para este tipo de equações temos a considerar dois casos:
 a1 b1 
a) Se det   ≠ 0 a equação diferencial se reduzirá a uma Equação Diferencial
a 2 b2 
Homogênea.
 a1 x + b1 y + c1 = 0
Para tanto, forma-se o sistema  , cuja solução admitamos ser
a 2 x + b2 y + c 2 = 0
x = α e y = β . A seguir, realizamos na equação diferencial considerada as seguintes
 x = u + α → dx = du
substituições  , com as quais vamos obter uma Equação
 y = v + β → dy = dv
Diferencial Homogênea em u e v.
Esta mudança de variáveis, geometricamente, equivale a uma translação dos
eixos coordenados para o ponto (α , β ) , que é a interseção das retas do sistema acima.
Desse modo, as retas com variáveis u e v se interceptarão na origem ( c1 = c2 = 0).
dy 2 x − 3 y − 1
Exemplo: Resolver a equação diferencial =
dx 3 x + y − 2
Solução:

25
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

 a1 b1 
b) Se det   = 0 , a equação diferencial se reduzirá a uma Equação Diferencial
a 2 b2 
de Variáveis Separáveis.
Para tanto, faz-se a1 x + b1 y = t (ou a 2 x + b2 y = t ), sendo t uma função de x.
Então, derivando-se em relação a x vem,
dy 1  dt 
=  − a1 
dx b1  dx 
Substituindo estes resultados na equação diferencial dada, obtém-se uma Equação
Diferencial de Variáveis Separáveis em t e x.
dy 2x − y + 1
Exemplo: Resolva a equação diferencial = .
dx 6 x − 3 y − 1
Solução:

26
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

Calcular a solução geral de cada uma das seguintes equações diferenciais:

2 2
 2  3 2  3
1) ( 2 x − 3 y ).dx − (3 x − y − 1).dy = 0 R:  y −  − 6. x − . y −  + 2 x −  = c
 7  7 7  7

2) ( 2 x + 3 y − 1).dx + ( 2 x + 3 y + 2).dy = 0 R: 3x + 3 y = −9.ln 2 x + 3 y − 7 + c

3) ( 2 x − y + 4).dy + ( x − 2 y + 5).dx = 0 R: ( x + y − 1) 3 = c.( x − y + 3)

dy x + 2y +1
4) = R: ln 4 x + 8 y + 5 + 8 y − 4 x = c
dx 2 x + 4 y + 3

5) ( x − 4 y − 3).dx − ( x − 6 y − 5).dy = 0 R: ( x − 2 y − 1) 2 = c.( x − 3 y − 2)

 7
6) ( x + 2 y − 4).dx − ( 2 x + y − 3).dy = 0 R: ( x − y + 1) 3 = c. x + y − 
 3

dy 1 − 3 x − 3 y
7) = R: 3x + y + 2. ln − x − y + 1 = c
dx 1+ x + y

dy
= (x + y + 1)
2
8) R: y = − x − 1 + tg ( x + c)
dx

dy
9) = tg 2 ( x + y) R: 2. y − 2.x + sen 2.( x + y ) = c
dx

................................................

4o Tipo: Equações Diferenciais Exatas


Uma equação diferencial ordinária de 1a ordem escrita da forma
M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 (5)
é dita Exata se o 1o membro for uma diferencial total (ou exata) de uma função U ( x, y ) ,
isto é,
∂U ∂U
dU = dx + dy (6)
∂x ∂y
Neste caso a equação diferencial (5) pode ser escrita dU = 0 e mediante
integração obteremos a solução geral de (5) que é da forma U(x,y) = c.

27
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Cálculo de U(x,y)

Comparando (5) e (6) vemos que (5) é uma diferencial exata se existe uma
∂U ∂U
função U(x,y) tal que, M = (I) e N= (II),
∂x ∂y
∂M ∂ 2U ∂N ∂ 2U
então, = e =
∂y ∂y∂x ∂x ∂x∂y
∂ 2U ∂ 2U ∂M ∂N
e, pelo Teorema de Schwartz, como = ⇒ = → (Condição
∂y∂x ∂x∂y ∂y ∂x
necessária para que a equação diferencial M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 seja uma
Equação Diferencial Exata [demonstra-se também esta condição também é suficiente]).
Para calcularmos a expressão de U(x,y) vamos integrar (I) em relação a x.
Portanto,
U ( x, y ) = ∫ M .dx + Q ( y ) , onde Q(y) é uma função só de y (III)
Para determinarmos Q(y), derivamos (III) em relação a y e usamos (II).
Assim,
∂U
=
∂y ∂y

∫ ( )
M .dx + Q ' ( y ) = N ⇒ Q' ( y ) = N −

∂y ∫
( )
M .dx ) (função só de y).

∂P  ∂P 
Fazendo ∫ M .dx = P , Q ' ( y ) = N − ∴ Q ( y ) = ∫  N − .dy e substituindo em (III)
∂y  ∂y 
 ∂P 
vem, U ( x, y ) = ∫ M .dx + ∫  N − .dy , onde P = ∫ M .dx
 ∂y 
Como U(x,y) = c, a solução geral da Equação Diferencial Exata
 ∂P 
M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 será dada por ∫ M .dx + ∫  N − ∂y .dy = c .
Exemplos: Calcular a solução geral de cada uma das equações dadas:

1) (3 x 2 + 6 xy 2 ).dx + (6 x 2 y + 4 y 3 ).dy = 0
Solução:

2) ( x 2 − y 2 ).dx − 2 xy.dy = 0
Solução:

28
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

I) Calcular a solução geral de cada uma das seguintes equações diferenciais:

1) ( 2 x − y + 1).dx − ( x + 3 y − 2).dy = 0 R: 2 x 2 − 2 xy + 2 x + 4 y − 3 y 2 = c

2) e y .dx + ( x.e y − 2 y ).dy = 0 R: x.e y − y 2 = c

x4
3) ( x 3 + y 2 ).dx + (2 xy + cos y ).dy = 0 R: + y 2 x + sen y = c
4
 y   1
4)  y. cos ( xy) + .dx +  x. cos ( xy ) + 2. x + y 
.dy = 0 R: sen ( xy ) + 2 y. x + ln y = c
 x 
dy x + xy 2
5) =− R: x 2 .(1 + y 2 ) + y 2 = c
dx y + x2 y
6) (1 + y.sen x ).dx + (1 − cos x ).dy = 0 R: x + y − y. cos x = c

2x y 2 − 3x 2 x2 1
7) dx + dy = 0 R: − =c
y3 y4 y3 y

8) (e 2 y − y. cos xy ).dx + ( 2 x.e 2 y − x. cos xy + 2 y ).dy = 0 R: x.e 2 y − sen xy + y 2 = c

9) ( 2 xy 2 − 3).dx + ( 2 x 2 y + 4).dy = 0 R: x 2 y 2 − 3x + 4 y = c

dy
10) x = 2 x.e x − y + 6 x 2 R: xy − 2 x.e x + 2e x − 2 x 3 = c
dx

II) Resolva os problemas de valor inicial (determine a solução particular):

1) (2 x. cos y − e ).dx − x
x 2
.sen y.dy = 0 , x = 0 R: x 2 .cos y − e x = −1

dy xy 2 − cos x . sen x
2) = , y ( 0) = 2 R: y 2 .(1 − x 2 ) − cos 2 x = 3
dx y.(1 − x 2 )

3) ( y 2 . cos x − 3 x 2 y − 2 x).dx + ( 2 y.sen x − x 3 + ln y ).dy = 0 , y ( 0) = e

R: y 2 .sen x − x3 y − x 2 + y.ln y − y = 0

III) Mostre que qualquer Equação Diferencial de 1a ordem e 1o grau de Variáveis


Separáveis pode ser transformada em uma Equação Diferencial Exata.

...............................................................

29
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Fator Integrante
Quando multiplicamos uma expressão M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy , que não é
∂M ∂N
diferencial exata, isto é, ≠ , por uma função λ ( x, y ) e ela se transforma em uma
∂y ∂x
expressão diferencial exata, a esta função chamamos de Fator Integrante.

Exemplo: Seja a equação diferencial y.dx − x.dy = 0 , onde M ( x, y ) = y e N ( x, y ) = − x .


∂M ∂N
Assim, =1≠ = −1 e, portanto, a equação não é uma Equação Diferencial Exata.
∂y ∂x
1 1 1
Porém, se multiplicarmos essa equação diferencial por ou 2 ou 2 ,
x 2
y x + y2
1
ou ela se converterá em uma Equação Diferencial Exata (Verifique!).
x. y
1 1 1 1
Logo, 2 , 2 , 2 e são fatores integrantes da equação diferencial
x y x +y 2
x. y
dada.

Pesquisa de um Fator Integrante

Vamos supor que λ ( x, y ) seja um fator integrante da equação diferencial


M ( x, y ).dx + N ( x, y ).dy = 0 . Se multiplicarmos ambos os membros desta equação por
λ ( x, y ) , teremos λ.M .dx + λ.N .dy = 0 (7)
Como por suposição, λ é fator integrante da equação (7), então, ela é uma
∂ (λ M ) ∂ (λN )
Equação Diferencial Exata e, portanto, = .
∂y ∂x
∂M ∂λ ∂N ∂λ
Calculando as derivadas parciais temos λ +M =λ +N
∂y ∂y ∂x ∂x
∂λ ∂λ  ∂N ∂M 
M −N = λ . −  (8)
∂y ∂x  ∂x ∂y 
A equação (8) é uma equação diferencial de derivadas parciais de 1a ordem em λ , e
por enquanto a sua solução não pode ser calculada. Assim, para simplificar esta
equação vamos supor que λ é apenas uma função de x ou y .
∂λ
Supondo que λ seja uma função apenas de x , = 0 e (8) se transforma em
∂y
∂λ  ∂N ∂M 
−N = λ. −  (9)
∂x  ∂x ∂y 
1 ∂λ 1  ∂M ∂N 
Dividindo ambos os membros de (9) por − λ .N , temos =  −  (10)
λ ∂x N  ∂y ∂x 
A equação (10) só terá sentido se o 2o membro for função só de x . Desse modo,
1 dλ dλ dλ
λ dx
= ψ ( x) ∴
λ
= ψ ( x).dx ∴ ∫ λ ∫
= ψ ( x).dx ∴

30
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

λ = e∫
ψ ( x ).dx
∴ ln λ = ∫ψ ( x).dx ∴ .

∂λ
Analogamente, supondo que λ seja uma função apenas de y , = 0 e (8) se
∂x
1 ∂λ 1  ∂N ∂M 
transforma em =  −  , que só terá sentido se o 2o membro for função
λ ∂y M  ∂x ∂y 
1 dλ dλ dλ
só de y . Desse modo, = φ ( y) ∴ = φ ( y ).dy ∴ ∫ = ∫ φ ( y).dy ∴
λ dy λ λ

λ = e∫
φ ( y ).dy
∴ ln λ = ∫ φ ( y).dy ∴ .

Observemos que, pelo processo adotado, podemos determinar um fator


integrante e não todos os fatores, de modo que as restrições adotadas não prejudicam
a pesquisa desse fator.
Nota: O Fator de Integração, abordado quando do estudo das Equações Diferenciais
de Variáveis Separáveis, na verdade é um Fator Integrante, pois, utilizado para
separar as variáveis, a transforma em uma Equação Diferencial Exata.
Exemplos: Resolver as seguintes equações diferenciais, transformando-as em
Equações Diferenciais Exatas, através da multiplicação por um fator integrante.
1) y 2 .dx + ( xy + 1).dy = 0
Solução:

2) ( x 2 − y 2 ).dx + 2 xy.dy = 0
Solução:

31
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

I) Verifique se cada uma das equações diferenciais dadas não é Exata. A seguir,
pesquise um fator integrante e calcule a solução geral de cada uma delas.

1) x.dy − y.dx = x 2 .e x .dx R: y = c.x + x.e x

2) y 2 dy + y.dx = x.dy R: y 2 + x = c. y
y
3) dx + ( y 3 − ln x).dy = 0 R: 2. ln x + y 3 = c. y
x
y
4) ( x 2 + xy ).dx − x 2 dy = 0 R: ln x − =c
x
x
5) (1 + y 2 ).dx = ( x + x 2 ).dy R: arc tg y = ln +c
x +1
Nota: Nesta última equação (5) não é possível encontrar, por este processo, um fator
integrante que seja função apenas de x ou de y. Assim sendo, identifique a qual
tipo esta equação diferencial pertence e resolva-a.

II) Resolva o problema de valor inicial dado encontrando um fator integrante:


2
x.dx + ( x 2 y + 4 y ).dy = 0 , y ( 4) = 0 R: e y ⋅ ( x 2 + 4) = 20

.........................................................

5o Tipo: Equações Diferenciais Lineares

dy
São aquelas que podem ser escritas na forma + P. y = Q , onde P e Q são
dx
funções de x .
Se Q = 0 é denominada Equação Diferencial Linear Homogênea ou Incompleta.
Observação: Aqui o sentido de homogênea é diferente daquele descrito nas equações
diferenciais do 2o tipo (página 21). Também, ela é dita linear com respeito
dy
à função y e sua derivada , isto é, em cada termo, no primeiro
dx
membro, só aparece uma delas com expoente 1.
Encontra-se a solução geral de uma equação deste tipo, utilizando-se o Método
da Substituição (ou Método de Lagrange) ou transformando-a em uma Equação
Diferencial Exata, pela multiplicação de um fator integrante (exercício 3, página 34).

Método da Substituição ou Método de Lagrange

dy
Seja a equação diferencial + P. y = Q (11)
dx
Antes vamos examinar dois casos particulares:

32
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

dy
1o) Se P = 0 ⇒ =Q ∴ dy = Q.dx ∴ y = ∫ Q.dx + c
dx
dy dy
2o) Se Q = 0 ⇒ + P. y = 0 ∴ = − P.dx ∴ ln y = − ∫ P.dx + c ∴
dx y

y=e ∫ y = e ∫ .ec y = k .e ∫ .
− P .dx + c − P .dx − P.dx
∴ ∴
Em cada um destes casos percebe-se que a equação diferencial resultante é sempre
uma Equação Diferencial de Variáveis Separáveis.
Agora, vamos nos ater para o caso geral, quando P e Q são ambas funções não
nulas.
Neste caso, pelo Método da Substituição, vamos fazer y = z.t , onde z e t são
funções de x, sendo z a nova função incógnita e t a função a determinar.
dy dt dz dt dz
Assim, = z. + t. e substituindo em (11) vem z. + t. + P.z.t = Q
dx dx dx dx dx
 dt  dz
∴ z. + P.t  + t =Q (12)
 dx  dx
Se conseguirmos obter os valores de z e t, obviamente teremos a solução geral de (11)
que é uma Equação Diferencial Linear dita completa, já que y = z.t . Assim,
pesquisaremos em (12) um modo de calcular estas duas funções, z e t. Isto pode ser
feito impondo-se as seguintes condições, em (12):
 dt
 dx + P.t = 0
 dz
t ⋅ =Q
 dx

+ P.t = 0 , resulta t = k1 .e ∫
dt − P.dx
Resolvendo a equação diferencial e levando-se este
dx
dz
= Q temos k1 .e ∫ ⋅
− P .dx dz dz 1 ∫ P.dx
resultado em t ⋅ =Q ∴ = ⋅e .Q ∴
dx dx dx k1
1 ∫ P.dx
dz = ⋅e .Qdx
k1

e ∫ .Q.dx + k 2 .
1 P .dx
e integrando, z=
k1 ∫
1 
y =  ∫ e ∫ .Q.dx + k 2 . k1 .e ∫ 
P .dx − P.dx
Como, y = z.t ⇒
 k1  

y = e ∫ . ∫ e ∫ .Q.dx + c 
− P .dx P .dx

 
que é a solução geral de (11).

Exemplos: Resolva as equações diferenciais:

dy y
1) − =x ;
dx x

33
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Solução:

dy y cot g x
2) + − = 0.
dx x x
Solução:

Exercícios

1) Resolver as seguintes equações diferenciais:

dy y
a) − = x−2 R: y = x.( x − 2. ln x + c)
dx x
dy  sen 2 x 
b) − y.tg x = sen x R: y = sec x .  + c 
dx  2 
dy 1 1 
c) = (tg x). y + cos x R: y =  x + sen 2x + c  .sec x
dx 2 4 
4 c 1
d) y '+ y = x 4 R: y = 4 + x5
x x 9
e) y '− 5 . y = 0 R: y = c.e 5 x

2) Resolva os problemas de valor inicial:


dy e x + ab − e a
a) x + y − ex = 0 , y(a) = b R: y=
dx x

b) y '+ y = sen x , y (π ) = 1 R: y=
2
(
1 π −x
e + sen x − cos x )
dy
3) Pesquise um fator integrante para a Equação Diferencial Linear + P. y = Q .
dx
A seguir resolva o exercício (1a) por este processo.

34
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

dy
4) A equação diferencial da forma + P. y = Q. y n (*)
dx
onde n∈ℜ e P e Q são funções de x, é chamada de Equação Diferencial de
Bernoulli. Para n = 0 e n = 1 a equação é Linear. Porém, se y ≠ 0 ela pode ser
dy
escrita da forma y −n + P. y 1− n = Q (**)
dx
dw dy
Fazendo a substituição w = y 1− n , com n ≠ 0 e n ≠ 1, então, = (1 − n). y − n . e
dx dx
substituindo em (**) obteremos a Equação Diferencial Linear
dw
+ (1 − n).P.w = (1 − n).Q (***)
dx
Resolvendo em w e x e, a seguir, substituindo w = y 1− n , obteremos a solução
geral para (*).
Assim sendo, resolver as seguintes equações diferenciais:

dy 1 1
a) + y = x. y 2 R: y=
dx x C.x − x 2
dy 1
b) x + y = 2 R: y 3 = 1 + C.x −3
dx y
dy 1
c) = y.( x. y 3 − 1) R: y −3 = x + + C.e 3. x
dx 3
x
dy
d) x + y 2 = x. y
2
R: e = C. x
y

dx

.............................................

Algumas Aplicações das Equações Diferenciais Ordinárias


de 1a Ordem e 1o Grau

Com freqüência, desejamos descrever o comportamento de algum sistema ou


fenômeno do mundo real em termos matemáticos, quer sejam eles físicos, econômicos,
sociológicos e mesmo biológicos. A representação idealizada (simplificada) deste
sistema ou fenômeno envolvendo símbolos matemáticos é chamada de modelo
matemático ou simbólico.
A construção de um modelo matemático que represente o comportamento de um
sistema ou fenômeno pode não ser uma tarefa fácil, pois, o mesmo deve envolver um
grande número de variáveis, e cabe a quem estiver modelando identificar quais delas
são realmente significativas ao comportamento do sistema, bem como, saber qual a
relação que deve existir entre elas.
Às vezes, também se faz necessário que certas imposições simplificadoras sejam
agregadas para facilitar a construção do modelo, bem como a sua resolução.
Assim, podemos concluir que, aqueles que quiserem se dedicar a esta tarefa de
modelar deverão possuir “muita” experiência e uma “boa” capacidade de análise e

35
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

síntese, qualidades estas que podem começar a ser adquiridas a partir do estudo de
alguns modelos clássicos.

1) Problemas de Variação de Temperatura: A lei empírica de variação de


temperatura de Newton afirma que a taxa de variação de temperatura de um corpo é
diretamente proporcional à diferença de temperatura entre o corpo e o meio ambiente.
Seja T a temperatura do corpo e Tm a temperatura do meio ambiente (constante).
dT
Então, a taxa de variação da temperatura do corpo em relação ao tempo é , e a lei
dt
de Newton relativa à variação de temperatura de um corpo pode ser formulada como
dT α .S
= k .(T − Tm ) , onde k = é uma constante de proporcionalidade que dependerá
dt ρ .V .c
do calor específico (c ) , da massa ( ρ .V = densidade × volume) e α é um coeficiente que
depende da forma e do tamanho da superfície (S ) do corpo em contato com o meio
ambiente, bem como, de características deste meio ambiente.
Exemplo: Coloca-se uma barra de metal à temperatura de 100°C em um quarto com
temperatura constante de 0°C. Se, após 20 min a temperatura da barra é de 50°C,
determine:
a) o tempo necessário para a barra chegar à temperatura de 25°C e,
b) a temperatura da barra após 10 min.
Solução:

36
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

2) Problemas de Crescimento e Decrescimento: Seja N(t) a quantidade de


substância (ou população) sujeita a um processo de crescimento ou decrescimento. Se
dN
admitirmos que , a taxa de variação da quantidade de substância é proporcional à
dt
dN
quantidade de substância presente, então, = k .N , onde k é a constante de
dt
proporcionalidade.
Observação: Uma das primeiras tentativas de modelagem matemática para o
crescimento populacional humano foi realizada pelo economista inglês Thomas
Malthus, em 1798. O modelo por ele criado foi este descrito acima, mas não se
mostrou confiável para se estimar o crescimento de populações humanas em “longos”
intervalos de tempo. São raras as populações que crescem segundo esse modelo;
entretanto, pode ser usado para o crescimento de pequenas populações em um “curto”
intervalo de tempo, por exemplo, crescimento de bactérias.
Também, estamos admitindo que N (t ) seja uma função diferenciável do tempo e, sendo
assim, em problemas de população, onde N (t ) é, na realidade discreta, tal hipótese não
é correta, mas, assim mesmo, pode fornecer uma boa aproximação das leis físicas que
regem os sistemas que sejam admitidos fechados, isto é, sistemas que não sofrem
influências externas.
Em 1838, Pierre François Verhulst, um matemático belga introduziu um modelo de
crescimento logístico onde a população cresce até um limite máximo sustentável, isto é,
ela tende a se estabilizar e, portanto, um modelo mais confiável.

Exemplos:
1) Sabe-se que a massa de certa substância radioativa diminui a uma taxa
proporcional à quantidade de massa presente. Se, inicialmente, a quantidade de massa
de material radioativo é de 50 mg, e observa-se que, após 2 horas, perderam-se 10%
da massa original, determine:
a) a função para calcular a massa de substância restante em qualquer tempo t;
b) a massa restante após 4 horas;
c) o tempo necessário para que a massa inicial fique reduzida à metade.
Solução:

37
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

2) Sabe-se que a população de um bairro cresce a uma taxa proporcional ao número


de habitantes existentes. Se no segundo ano de existência do bairro a população é o
dobro da inicial, e no terceiro ano é de 20.000 habitantes, determine a população inicial.
Solução:

3) Problemas de Diluição: Consideremos um tanque, como na figura abaixo, com


uma quantidade inicial de Vo litros de salmoura contendo a gramas de sal. Despeja-se
no tanque uma outra solução de salmoura com b gramas de sal por litro, à taxa (razão)
de e litros por minuto, enquanto, simultaneamente, a solução resultante, bem misturada,
se escoa do tanque à taxa de f litros por minuto. O problema consiste em determinar a
quantidade de sal presente no tanque no instante t.
Seja Q a quantidade de sal (em gramas) presente
no tanque em um instante qualquer. A taxa de variação
dQ
de Q, , é igual à taxa a qual o sal entra no tanque,
dt
menos a taxa a qual o sal se escoa do tanque. Ora, o sal
entra no tanque à taxa b.e litros por minuto. Para
determinar a taxa de saída do sal, devemos primeiro
calcular o volume de salmoura presente no tanque no
instante t, que é o volume inicial Vo mais o volume
adicionado e.t menos o volume escoado, f.t. Assim, o
volume de salmoura no instante t é
V0 + e.t − f .t

38
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Q
A concentração de sal no tanque, em um instante qualquer, é dada por e,
V0 + e.t − f .t
f .Q
portanto, o sal sai do tanque à taxa de gramas por minuto.
V0 + e.t − f .t
dQ Q
Logo, = b.e − f , cuja solução Q(t) determina a quantidade de sal
dt V0 + (e − f ).t
presente no tanque em qualquer instante t.
Exemplo: Um tanque contém inicialmente 100 litros de salmoura com 20 gramas de sal.
No instante t = 0, começa-se a deitar (derramar) no tanque água pura à taxa de 5 litros
por minuto, enquanto a mistura resultante se escoa do tanque à mesma taxa.
Determine a quantidade de sal no tanque no instante t.
Solução:

39
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

4) Circuitos Elétricos: Seja um circuito simples do tipo RL (Fig. I), consistindo de


uma resistência R (em ohms), um indutor L (em henries) e uma força eletromotriz
(f.e.m) E (em volts). Aplicando-se a segunda lei de Kirchhoff obteremos a equação
diferencial que rege a quantidade de corrente I (em ampères) neste circuito

dI R E
+ I= Fig. I
dt L L

Seja um circuito do tipo RC consistindo de uma resistência R, um capacitor C (em


farads), uma força eletromotriz E, e sem indutância (Fig. II), ligados em série. Pela
q
segunda lei de Kirchhoff temos que RI + = E . Como a relação entre q e I é dada
C
dq
por I = , substituindo-se este resultado na equação anterior obteremos a equação
dt
diferencial que rege a quantidade de carga elétrica q (em coulombs) no capacitor

dq 1 E
+ q= Fig. II
dt RC R

Exemplo: Um circuito RL tem f.e.m. de 5 volts, resistência de 50 ohms e indutância de


1 henry. A corrente inicial é zero. Determine a corrente no circuito no instante t.
Solução:

40
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios Gerais de Aplicações

1) Um corpo à temperatura de 50°F é colocado ao ar livre, onde a temperatura


ambiente é de 100°F. Se após 5 min a temperatura do corpo é de 60°F, determine:
a) o tempo necessário para a temperatura do corpo atingir 75°F; R: 15,4 min.
b) a temperatura do corpo após 20 min. R: 79,5 °F.

2) Coloca-se um corpo com temperatura desconhecida em um quarto mantido à


temperatura constante de 30°F. Se, após 10 min, a temperatura do corpo é 0°F e após
20 min é 15°F, determine a temperatura inicial. R: − 30°F.

3) Sabe-se que certa substância radioativa diminui de massa a uma taxa proporcional
à quantidade presente. Se, inicialmente, a quantidade de material é 50 mg, e após 2
horas se observa a perda de 10% da massa original, determine:
a) a expressão para a massa de substância restante em um tempo arbitrário t;
b) a massa restante após 4 horas; R: a) N (t ) = 50.e− 0,053.t ; R: b) N = 40,5 mg .
c) o tempo necessário para que a massa restante fique reduzida à metade. R: 13 horas.

4) Sabe-se que uma cultura de bactérias cresce a uma taxa proporcional à quantidade
presente. Após 1 hora, observaram-se 1.000 núcleos de bactérias na cultura, e após 4
horas, 3.000 núcleos. Determine:
a) uma expressão para o número de núcleos presentes na cultura no tempo arbitrário t;
b) o número de núcleos inicialmente existentes na cultura. R: a) N (t ) = 694.e 0,366.t .
R: b) 694.

5) Um tanque contém inicialmente 100 litros de salmoura com 1 grama de sal. No


instante t = 0 , adiciona-se outra solução de salmoura com 1 grama de sal por litro, à
razão de 3 litros por min, enquanto a mistura resultante se escoa à mesma taxa.
Determine:
a) a quantidade de sal presente no tanque no instante t; R: Q (t ) = 100 − 99.e − 0,03.t .
b) o instante em que a mistura restante no tanque conterá 2 gramas de sal. R:0,338 min

6) Um tanque de 50 galões (1 galão ≅ 3,785 litros ) de capacidade contém inicialmente 10


galões de água pura. Quando t = 0 , adiciona-se ao tanque uma solução de salmoura
com 1 libra ( ≅ 453,59 gramas ) de sal por galão, à razão de 4 galões por min, enquanto
que a mistura se escoa à razão de 2 galões por min. Determine:
a) o tempo necessário para que ocorra o transbordamento; R: 20 min.
b) a quantidade de sal presente no tanque por ocasião do transbordamento. R: 48 libras

7) Um circuito elétrico RL tem f.e.m. (em volts) dada por 3.sen 2.t , resistência de 10
ohms, indutância de 0,5 henry e corrente inicial de 6 ampères. Determine a corrente no
609 −20.t 30 3
circuito no instante t. R: I = e + sen 2.t − cos 2.t .
101 101 101
8) Um circuito RC tem f.e.m. (em volts) dada por 400. cos 2.t , resistência de 100 ohms e
capacitância de 10-2 farad. Inicialmente, não existe carga no capacitor. Determine a
4 16 8
corrente no circuito no instante t. R: I (t ) = e −t + cos 2.t − sen 2.t .
5 5 5

41
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

9) Coloca-se um corpo à temperatura de de 0°F em um quarto mantido à temperatura


constante de 100°F. Após 10 min a temperatura do corpo é de 25°F, determine:
a) o tempo necessário para que a temperatura do corpo atingir 50°F; R: 23,9 min.
b) a temperatura do corpo após 20 min. R: 44°F.

10) Um corpo com temperatura desconhecida é colocado em um refrigerador mantido à


temperatura constante de 0°F. Se após 20 min a temperatura do corpo é 40°F e após
40 min é 20°F, determine a temperatura inicial do corpo. R: T(0 )= 80°F.

11) Um corpo à temperatura de 50°C é colocado em um forno cuja temperatura é


mantida a 150°C. Se após 10 min a temperatura do corpo é 75°C, determine o tempo
necessário para o corpo atingir a temperatura de 100°C. R: 23,9 min.

12) Certa substância radioativa decresce a um taxa proporcional à quantidade presente


da substância. Se, para uma quantidade inicial de substância de 100 mg, se observa
um decréscimo de 5% após dois anos, determine:
a) uma expressão para a quantidade restante no tempo t; R: N (t ) = 100.e − 0,026.t .
b) o tempo necessário para uma redução de 10% da quantidade inicial. R: 4,05 anos

13) Certa substância radioativa decresce a uma taxa proporcional à quantidade


presente. Observa-se que após uma hora, houve uma redução de 10% da quantidade
inicial da substância, determine a “meia-vida” da substância. R: 6,6 horas.
Observação: Meia-vida é o tempo necessário para que a massa da substância se
reduza pela metade.
14) Sabe-se que a população de uma determinada cidade cresce a uma taxa
proporcional ao número de habitantes existentes. Se, após 10 anos, a população
triplica, e após 20 anos é de 150.000 habitantes, determine a população inicial.
R: 16.620 habitantes.

15) Um tanque contém inicialmente 10 galões de água pura. No instante t = 0 ,


começa-se a adicionar ao tanque uma solução de salmoura com 0,5 libra de sal por
galão, à razão de 2 galões por min, enquanto a mistura se escoa do tanque à mesma
taxa. Determine:
a) a quantidade de sal no tanque no instante t; R: Q (t ) = −5.e − 0,2.t + 5 .
= (1 − e − 0,2.t ) .
Q 1
b) a concentração de sal no tanque no instante t. R:
V 2
16) Um tanque contém inicialmente 80 galões de solução de salmoura com 1/8 libra de
sal por galão. No instante t = 0 ,começa-se a adicionar ao tanque outra solução de
salmoura com 1 libra de sal por galão, a taxa de 4 galões por min, enquanto a mistura
resultante se escoa do tanque à taxa de 8 galões por min. Determine a quantidade de
sal no tanque quando este contém exatamente 40 galões de solução.
R: Q (10) = 22,5 libras.

17) Um circuito RC tem f.e.m. de 5 volts, resitência de 10 ohms, capacitância de 10−2


farad e inicialmente uma carga de 5 coulombs no capacitor. Determine:
99
a) a corrente transitória; R: − e− 10.t .
2
b) a corrente estacionária. R: 0 .

42
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

18) Um circuito RL sem fonte de f.e.m. tem uma corrente inicial dada por Io. Determine
R
− .t
a corrente no instante t. R: I = I o .e L
.

19) Um circuito tem f.e.m. dada (em volts) por 4.sen t , resistência de 100 ohms,
indutância de 4 henries, e corrente inicial zero. Determine a corrente no instante t .
R:
626
(e + 25.sen t − cos t ) .
1 − 25.t

20) Um indivíduo é encontrado morto em seu escritório pela secretária, que afirma ter
ligado imediatamente para a polícia.
Quando a polícia chega, 2 horas depois da chamada, examina o cadáver. Uma hora
depois o detetive prende a secretária. Por quê?
Dados: A temperatura do escritório era de 20°C. Quando a polícia chegou, mediu a
temperatura do defunto, achando 35°C; uma hora depois, mediu novamente obtendo
34,2°C. E por último suponhamos que a temperatura normal de uma pessoa viva seja
de 36,5°C.

21) Uma cidade é abastecida de água por um lago cujo manancial é de 108 litros e que
é alimentado por um rio cuja vazão é de 200 litros por minuto. Algumas fábricas
localizadas à beira desse rio o poluem (há muito tempo) na ordem de 60 gramas por
litro. A quantidade máxima de poluente admissível, por decisão das autoridades
sanitárias, é da ordem de 25g/l. O Prefeito Municipal, muito preocupado com as
constantes reclamações da população que coloca em xeque a sua reeleição, pede ao
engenheiro responsável pelo abastecimento de água da cidade, que resolva este grave
problema em um prazo máximo de 4 meses (para que não ultrapasse o dia das
eleições). O engenheiro resolve desviar o curso de outro rio (considerando-se que
condições impeçam que seja desviado o curso rio poluído) cujas águas estão com um
grau de poluição de 10 g/l, fazendo com que o mesmo alimente o lago com uma vazão
de 800 l/min.
Desprezando-se a evaporação, chuvas e outros fatores que viessem a alterar o volume
do manancial (considerando-o, portanto, constante), pergunta-se: “O Prefeito se
reelegerá?” R: ≅ 144 dias.

22) A população de uma cidade é de 1.000.000 habitantes. Houve uma epidemia e


10% da população contraiu o vírus. Em sete dias esta porcentagem cresceu para 20%.
O vírus se propaga por contato direto entre os indivíduos enfermos e sãos (logo é
proporcional ao número de contatos). A partir destes dados e supondo que o modelo
seja fechado, isto é, a população mantendo-se constante, sem nascimento, morte ou
migração, e os indivíduos tendo toda a liberdade de interagir, calcule:
a) a proporção de indivíduos enfermos e sãos, como uma função do tempo;
b) o tempo necessário para que a porcentagem de indivíduos enfermos seja de 50%.
Sugestões: x → proporção de indivíduos enfermos
y → proporção de indivíduos sãos
x + y = 1 → totalidade da população R: ≅ 19 dias.

23) Um ator de cinema que pesa 120 Kg precisa fazer um severo regime para
emagrecer, em virtude do seu num novo filme a ser rodado. O diretor exige que ele
perca a terça parte do seu peso no máximo em três meses, segundo uma dieta racional
que o emagreça proporcionalmente ao peso de cada dia. Nestas condições, sabendo-

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

se que, iniciada a dieta, o artista emagreceu 20 Kg em 40 dias, quanto tempo será


necessário para que ele comece a atuar no filme? R: ≅ 87 dias.

24) Um investidor aplicou na bolsa de valores determinada quantia que triplicou em 30


meses. Em quanto tempo essa quantia estará quadruplicada, supondo-se que o
aumento é proporcional ao investimento feito, e continuando neste mesmo ritmo?
R: ≅ 37,8 meses.

25) Uma conta bancária ganha juros continuadamente a uma taxa de 5% do crédito
corrente, por ano. Suponha que o depósito inicial foi de R$ 1.000,00 e que não foram
feitos outros depósitos ou retiradas.
a) Escreva a equação diferencial satisfeita pelo crédito em conta;
b) Resolva a equação diferencial e faça um gráfico da solução.

26) O ácido valpróico é uma droga usada para controlar epilepsia; sua meia-vida no
corpo humano é de cerca de 15 horas.
dQ
a) Use a meia-vida para achar a constante k na equação diferencial = k .Q .
dt
b) Qual o tempo para que restem 10% da droga?

27) O birtartarato de hidrocondone é usado para suprimir a tosse. Depois que a droga
foi completamente absorvida, a quantidade da droga no corpo decresce a uma taxa
proporcional à quantidade que resta no corpo. A meia-vida do birtartarato de
hidrocondone no corpo é de 3,8 horas e a dose é 10 mg.
a) Escreva uma equação diferencial para a quantidade Q da droga no corpo no tempo t,
desde que a droga foi completamente absorvida;
b) Resolva a equação dada no item (a);
c) Use a meia-vida para achar a constante de proporcionalidade k;
d) Quando da dose de 10 mg resta no corpo após 12 horas?

28) A morfina é uma droga que alivia a dor. Use o fato de ser a meia-vida da morfina no
corpo de 2 horas para mostrar que a magnitude da constante de proporcionalidade
para a taxa à qual a morfina deixa o corpo é k ≅ 0,347 .

29) O corpo de uma vítima de assassinato é encontrado, ao meio dia, numa sala com
temperatura constante de 20°C; 2 horas depois a temperatura do corpo é de 33°C.
Quando o corpo foi encontrado, ao meio dia, a sua temperatura era de 35°C.
a) Ache a temperatura T do corpo como função de t, o tempo em horas desde que foi
encontrado;
b) Esboce um gráfico de T(t);
c) O que acontece com a temperatura do corpo ao longo do tempo? Mostre isto no
gráfico e algebricamente;
d) Suponhamos que na hora do assassinato o corpo da vítima tinha a temperatura
normal, 37°C. Quando ocorreu o crime?

30) Foi encontrado um osso fossilizado que contém um milésimo da quantidade original
de C−14 (isótopo carbono 14). Faça uma estimativa para a idade deste osso.
Dado: A meia-vida do C−14 é de aproximadamente 5.600 anos. R: ≅ 55.800 anos.

............................................................

44
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Equações Diferenciais Ordinárias de Ordem


Superior à Primeira

Tipos Especiais de Equações Diferenciais de 2a Ordem

d2y
a) Equação Diferencial do Tipo: = f ( x)
dx 2
Para encontrar a solução geral de uma equação diferencial que pode ser escrita
dy
desta forma, faz-se a substituição p = , sendo p uma função de x .
dx
dp d 2 y dp
Assim, = 2 e substituindo na equação diferencial dada vem = f ( x)
dx dx dx
que é uma equação diferencial de 1a ordem e de variáveis separáveis em p e x.
Portanto,
dp = f ( x ).dx ∴ ∫ dp = ∫ f ( x).dx ∴ p = F ( x ) + c1 , se f (x ) for integrável.
dy dy
Substituindo p=
no resultado anterior, obtém-se = F ( x) + c1 que
dx dx
também é uma equação diferencial de 1a ordem e de variáveis separáveis em y e x.
Resolvendo esta equação diferencial tem-se
dy = [F ( x ) + c1 ].dx ∴ ∫ dy = ∫ [F ( x ) + c1 ].dx ∴ y = ∫ F(x).dx + c1 x + c 2 .

d2 y
Exemplo: Resolver a equação diferencial 2
= e2 x + cos 2 x .
dx
Solução:

45
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

d2y  dy 
b) Equação Diferencial do Tipo: 2
= f  x, 
dx  dx 
Aqui também, para se encontrar a solução geral de uma equação diferencial que
dy
pode ser escrita desta forma, faz-se a substituição p = , sendo p uma função de x .
dx
dp d 2 y dp
Assim, = 2 e substituindo na equação diferencial dada vem = f ( x, p )
dx dx dx
que é uma equação diferencial de 1a ordem em p e x.
Exemplo: Resolver cada uma das equações diferenciais:
2
d2y  dy 
a) 2
−4 = 
dx  dx 
Solução:

d 2 y dy
b) (1 + x) 2 + =0
dx dx
Solução:

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

d2y
c) Equação Diferencial do Tipo: = f ( y)
dx 2
Aqui, para se encontrar a solução geral de uma equação diferencial que pode
dy
ser escrita desta forma, faz-se também a substituição p = , sendo p uma função
dx
de x .
d 2 y dp dp dy dp
Assim, 2
= = × =p e substituindo na equação diferencial dada
dx dx dy dx dy
dp
resulta p = f ( y ) que é uma equação diferencial de 1a ordem e de variáveis
dy
separáveis em p e y. Resolvendo esta equação diferencial tem-se
p2
p.dp = f ( y ).dy ∴ ∫ p.dp = ∫ f ( y ).dy ∴
2
= F ( y ) + c1 .
2
dy 1  dy 
Substituindo p = no resultado anterior, obtém-se   = F ( y ) + c1 ∴
dx 2  dx 
2
 dy  dy
  = 2 .F ( y ) + k 1 ∴ = ± 2.F ( y ) + k1 que são duas equações diferenciais de
 dx  dx
1a ordem e de variáveis separáveis em y e x, ambas levando a mesma solução geral.
Portanto, basta resolvermos uma delas, digamos, aquela com sinal positivo.
d2y
Exemplo: Resolver a equação diferencial + k 2 .y = 0 .
dx 2
Solução:

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

d2y  dy 
d) Equação Diferencial do Tipo: 2
= f  y, 
dx  dx 
dp
De maneira análoga ao tipo anterior, tiramos p= f ( y, p) que é uma equação
dy
diferencial de 1a ordem em p e y . Resolvendo-a em relação à p e substituindo pelo
dy
seu valor , obtém-se uma outra equação de diferencial de 1a ordem e de variáveis
dx
separáveis em y e x.
2
d2y dy  dy 
Exemplo: Resolver a equação diferencial y 2 = y2. +   .
dx dx  dx 
Solução:

Exercícios

I) Calcule a solução geral de cada uma das seguintes equações diferenciais:


d2y
1) 2
= x.e x + cos x R: y = x.e x − 2.e x − cos x + c1 .x + c2
dx
d2y 1
2) = R: y = x. ln x + c1 .x + c 2
dx 2 x
d2y dy 1
3) x 2 2 + x =a R: y = a. ln 2 x + c1 . ln x + c 2
dx dx 2
2
d 2 y  dy 
4) y 2 =  R: y = c1 .e c2 . x
dx  dx 
1
5) x. y ' '+ y '+ x = 0 R: y = − x 2 + c1 . ln x + c 2
4

.......................................................

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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Problema de Perseguição (Uma aplicação)

Suponhamos que uma lebre começa a correr a partir da origem do sistema xy,
na direção positiva do eixo y com velocidade constante a. No mesmo instante, uma
raposa parte do ponto (c, 0) com velocidade b e está constantemente corrigindo seu
rumo, de modo que a cada instante corre diretamente em direção ao ponto em que a
lebre se encontra (Fig. I). Qual é o caminho a ser percorrido pela raposa?

Solução:
i) O Modelo Matemático
No tempo t, a partir do instante em que
ambos começam a correr, a lebre estará
no ponto R = (0, a.t ) e a raposa em
P = ( x, y ) (Fig. I).
Uma vez que, a reta que passa pelos
pontos P e R é tangente ao caminho
percorrido pela raposa, nós temos
dy y − a.t
= ou x. y '' = y − a.t (1)
dx x
A seguir, vamos eliminar t. Para tanto,
diferenciamos (1) em relação a x , e
dt
obtemos x. y ''+ y ' = y '− a ou Fig. I
dx
dt
x. y '' = − a (2)
dx
ds 2
Desde que = b (velocidade da raposa), aplicando a regra da cadeia, temos
dt
dt dt ds
= × (3)
dx ds dx
Mas, (ds )2 = (dx) 2 + (dy )2 (Fig. II)
2
( ds ) 2 ( dy ) 2 ds  dy 
2
= 2
+ 1 ou =   +1 (4)
( dx ) ( dx ) dx  dx 
Assim, substituindo (4) em (3), vem
2
dt  dy 
= −b.   + 1 (5)
dx  dx 
(o sinal de menos aparece porque a curva
é decrescente, s cresce enquanto x decresce).
Fig. II

A seguir, substituindo (5) em (2) temos,

2
s = s(x) é o comprimento do arco da curva y = y(x), medido entre dois pontos dados [como na Fig. II ].

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

a
x. y '' =
1 + ( y ' )2
b
Assim, obtemos o problema de valor inicial,
2
a  dy  dy
y '' = 1+   ; y (c ) = (c) = 0 (6)
b.x  dx  dx
ii) A Resolução

A equação diferencial dada em (6) é uma equação diferencial de 2a ordem do tipo


d2 y  dy 
(especial) 2
= f  x,  .
dx  dx 
Já sabemos que para resolver uma equação diferencial deste tipo, devemos fazer
dy d 2 y dp
= p , sendo p uma função de x e, portanto, = .
dx dx 2 dx
dp a
Substituindo em (6) fica = 1 + p 2 , que é uma equação diferencial de 1a ordem
dx b.x
de variáveis separáveis em p e x.
dp a dx
Assim, separando as variáveis, temos = e integrando, vem
1+ p2 b x
dp a dx
∫ 1 + p2
=
b∫ x

Resolvendo por substituição trigonométrica, obtemos ln p + 1 + p 2 = ( ) a


b
ln x + k1 (7)
dy dy
Como = p e = 0 quando x = c [condição dada (observe Fig. I ), a curva
dx dx
a a
tangencia o eixo x], logo, p = 0 e, de (7) obtemos, 0 = ln c + k1 ∴ b k1 = − ln c .
b b
Portanto, substituindo k1 em (7), fica
a a
ln p + 1 + p 2 = ln x − ln c
b b
( ∴ )
a

ln p + 1 + p 2 = ln(
a x
b c
) ∴ (
ln p + 1 + p 2 ) = ln
xb
c
.

Como x e c são não negativos,


a a

(
ln p + 1 + p 2 )  x b
= ln  
c

 x b
p + 1 + p2 =   .
c
(8)

dy
Mas p = e, de (8) vem,
dx
2
2
a
2
a
 2
a

dy  dy  x b  dy   x dy b  dy    x  b dy 
+ 1+   =   ∴ 1+   =   − ∴ 1+   =   − ∴
dx  dx  c  dx  c dx  dx   c  dx 
 
2a a a 2.a
2 2
 dy   x  b  x  b dy  dy   x  b dy  x  b
1 +   =   − 2.   +  ∴ 2.   =   −1
 dx   c   c  dx  dx   c  dx  c 

50
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

 2.a
  a a

dy
=
1   − 1
x b

dy
=
1   −    , que é uma equação diferencial
x b c b
a 
 c     
dx  dx 2  c   x  
   
2.   
x b

c
de variáveis separáveis em x e y.
 a a

1  x  b  c  b 
Separando as variáveis e integrando, obtemos, y = ∫   −   .dx . (9)
2  c   x  
 
Para encontramos y como uma função explícita de x, devemos ter informações
adicionais sobre a e b.
a
Por exemplo, se a=b (ou = 1 ), isto é, se a velocidade da lebre for igual a velocidade
b
1 x c
da raposa, (9) ficará da forma y = ∫  − .dx ,e integrando o 2o membro, vem
2 c x
x2 c
y= − ln x + k2 . (10)
4.c 2
c2 c
Como y (c) = 0 [condição dada (Fig. I )], de (10) temos 0 = − ln c + k2 ∴
4.c 2
c c x2 c  1
k2 = ln c − , e substituindo em (10), vem y = −  ln x − ln c +  .
2 4 4.c 2  2
Por hipótese, c > 0 e x > 0 , assim, quando x → 0+ , y → +∞ , significando, portanto,
que a raposa nunca alcançará a lebre (Fig. III ).
A curva do gráfico abaixo mostra o caminho a ser percorrido pela raposa, em
perseguição à lebre, quando ambos correm à mesma velocidade, a lebre partindo da
origem dos eixos e se deslocando na direção positiva do eixo y e a raposa partindo do
ponto (5, 0).
x2 5  1
y= −  ln x − ln 5 +  [curva que descreve o caminho percorrido pela raposa]
20 2  2

Fig. III

51
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

A seguir, analisaremos a situação em que as velocidades da raposa e da lebre são


a
diferentes, isto é, a ≠ b (ou ≠ 1 ).
b
Assim, de (9)
 a a
 a a −a
1  x  b  c  b  1 1
y = ∫   −   .dx ∴ y= ∫ x .dx − 2 c b ∫ x b .dx
b

2  c   x   a

  2.c b

a −a a +b − a+b
+1 a +1 a
b b
1 x 1 x x b
1 1 x b
y= − cb + k2 ∴ y= − cb + k2 ∴
a
a 2 −a a
a+b 2 −a + b
2.c b + 1 +1 2.c b
b b b b
a +b − a +b
b a b
b x b x
y= − c + k2
b
a
b
a + b 2 −a + b
2.c

Mas como y (c) = 0 (condição inicial),


a +b − a +b b− a a +b
b a b a b b
b c b c b c b c
0= − c + k2 b
∴ k2 = c − b
a
b
a + b 2 −a + b 2 b−a a
a+b
2.c 2.c b
a +b − a +b b−a a +b
b a b a b b
xb b x b c b c
∴ y= − c + c − a b b
a + b 2 −a + b 2 b − a
a
b
a+b
2.c 2.c b
 a
 b −b a b−a

 a +b a +b c . c − x b
b

b x −cb b
 
⇒ y=  + 
2 a
b−a
 (a + b).c b 
 

O gráfico ao lado mostra o caminho percorrido


pela raposa, quando esta parte do ponto (5,0)
e sua velocidade é o dobro da velocidade da
lebre [ c = 5 e b = 2.a ]. Note-se que, a curva
que descreve este caminho, no intervalo [0,5],
3 3
1
x −5
2 2
é y= 1
+ 5 − (5.x) . 2

3× 5 2

 10 
Logo, a raposa alcançará a lebre no ponto  0,  .
 3

52
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Já, o gráfico ao lado, mostra o caminho percorrido


pela raposa quando esta parte do ponto (5,0) e
sua velocidade é a metade da velocidade da lebre
a
[ c = 5 e b = ]. Assim, a curva que descreve este
2
caminho, no intervalo (0,5], é
1  x 3 − 53 52 
y=  − 5 + 
2  3 × 52 x 
e, quando x → 0 , y → +∞ [a raposa nunca alcançará
a lebre].
Como conseqüência do que foi visto anteriormente,
a raposa só alcançará a lebre se a sua velocidade for
maior que a velocidade da lebre, isto é, b > a .

.....................................................................

53
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Equações Diferenciais Lineares de Ordem N

São as equações diferenciais da forma:


dny d n −1 y d n −2 y dy
A0 n
+ A1 n −1
+ A2 n− 2
+ ... + An −1 + An . y = B (13)
dx dx dx dx
onde A0 , A1 , A2 , ... , An e B são funções apenas de x .
Nota: A Equação Diferencial (13) é dita Linear, com respeito à função y e suas
derivadas, pois, no primeiro membro, cada termo apresenta só uma delas com
expoente 1. Também, ela será dita homogênea se B for identicamente nula ( B ≡ 0 ) e
não-homogênea no caso contrário.
dny d n −1 y d n− 2 y dy
Se B = 0 , temos A0 n + A1 n −1 + A2 n − 2 + ... + An−1 + An . y = 0 (14)
dx dx dx dx
que é uma Equação Diferencial Linear e Homogênea de ordem n.
A solução geral desta equação diferencial contém n constantes arbitrárias. Se
y1 , y 2 , ... , y n forem soluções particulares da equação (14) e c1 , c 2 , ... , c n designarem
constantes, a expressão y = c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n também será solução de (14).
Este é o chamado Princípio da Superposição.
De fato, por hipótese, cada yi , i = 1,2, ... , n é uma solução particular de (14)
então,
 d n y1 d n −1 y1
 A0 + A1 + ... + An . y1 = 0
 dx n dx n −1
n n −1
 A d y 2 + A d y 2 + ... + A . y = 0
 0 dx n 1
dx n −1
n 2
...........................................................

...........................................................
 d n yn d n −1 y n
 0
A + A + ... + An . y n = 0
dx n −1
1
 dx n

Multiplicando-se essas equações, ordenadamente por c1 , c 2 , ... , c n e somando


membro a membro resulta
dn d n −1
A0 (c . y + c . y + ... + c . y ) + A (c1 . y1 + c2 . y 2 + ... + cn . y n ) + ...
dx n −1
1 1 2 2 n n 1
dx n
... + An .(c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n ) = 0

Logo, y = c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n também é solução da equação diferencial (14).

Observação: Se y1 , y 2 , ... , y n forem soluções particulares da equação (14), a expres-


são y = c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n (15)

54
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

será solução geral de (14) desde que as funções y1 , y 2 , ... , y n sejam linearmente
independentes, isto é, desde que não se tenha c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n = 0 , a não ser
para todas as constantes nulas.
De fato, nesse caso a solução (15) contém n constantes arbitrárias, número
esse que não pode ser reduzido porque as funções y1 , y 2 , ... , y n são linearmente
independentes, ou seja, nenhuma delas pode ser escrita como combinação linear das
demais.

Equações Diferenciais Lineares de Ordem N, Homogêneas de


Coeficientes Constantes
São as equações diferenciais que tem a forma
dny d n −1 y d n− 2 y dy
A0 n
+ A1 n −1
+ A2 n−2
+ ... + An−1 + An . y = 0 , (16)
dx dx dx dx
onde A0 , A1 , A2 , ... , An são constantes.
Para determinarmos a solução geral de (16), vamos considerar, inicialmente, o
dy
caso em que n = 1 . Assim, temos A0 + A1 . y = 0 que é uma Equação Diferencial de
dx
A1
− x A1
Variáveis Separáveis, cuja solução geral é y = c.e A0
e fazendo − =r resulta
A0
y = c.e r . x .
Para n qualquer, consideremos agora a expressão y = c.e r . x e derivemos em
relação a x até a n-ésima ordem:
dy d2y d3y dny
= r.c.e r . x ; = r 2 .c.e r . x ; = r 3 .c.e r . x ; ... ; = r n .c.e r . x .
dx dx 2 dx 3 dx n
Levando-se esses resultados na equação (16) e colocando o termo c.e r . x em
evidência, obteremos:
c.e r . x .(A0 .r n + A1 .r n −1 + ... + An ) = 0

Daí, concluímos que sendo c.e r . x ≠ 0 , então A0 .r n + A1 .r n −1 + ... + An = 0 (17)


A equação (17) é chamada de Equação Característica de (16).

Exemplo: Determinar a Equação Característica da Equação Diferencial Linear abaixo:


d2y dy
2
− 5 + 6. y = 0 → Equação Característica:
dx dx
Uma vez que a solução de (16) é obtida a partir das raízes de (17), faz-se
necessário examinarmos três casos:

1o Caso: A Equação Característica Admite Raízes Reais e Distintas


Se r1 , r2 , ... , rn são as raízes reais e distintas da Equação Característica, então
a solução geral da equação diferencial correspondente é
y = c1 .e r1 . x + c 2 .e r2 . x + ... + c n .e rn . x

55
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

onde c1 , c 2 , ... , c n são as constantes arbitrárias.


Exemplos: Resolver as seguintes equações diferenciais:
d2y dy
1) 2
− 5 + 6y = 0
dx dx
Solução:

d4y d2y
2) − 13 + 36 y = 0
dx 4 dx 2
Solução:

d3y d2y dy
3) 3
+ 3 2 − 4 − 12 y = 0
dx dx dx
Solução:

d2y dy
4) 2
− 7 + 12 y = 0
dx dx
Solução:

56
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

2o Caso: A Equação Característica Admite Raízes Complexas Distintas


Consideremos a Equação Diferencial Linear e Homogênea de 2a ordem
d2y dy
A0 2
+ A1 + A2 . y = 0 onde r p = a + b.i e rq = a − b.i
dx dx
são as raízes da Equação Característica, então,
y = c p .e ( a +b.i ). x + cq .e ( a −b.i ). x é solução da equação diferencial dada.

Agora, y = c p .e a. x .e b.i. x + cq .e a. x .e −b.i. x ∴ y = e a. x .(c p .e b.i. x + cq .e −b.i. x )

e i.θ = cos θ + i.sen θ


Pelas fórmulas de Euler  −i.θ temos:
e = cos θ − i.sen θ
y = e a. x .[c p .(cos b.x + i.sen b.x) + cq .(cos b.x − i.sen b.x)]

y = e a. x .[(c p + cq ). cos b.x + i.(c p − c q ).sen bx ]

y = e a. x .( k1 . cos b.x + k 2 .sen b.x) → solução geral

Exemplos: Resolver as seguintes equações diferenciais:


d2y
1) +y=0
dx 2
Solução:

d4y
2) −y=0
dx 4
Solução:

d3y d2y dy
3) 3
−4 2 +5 =0
dx dx dx
Solução:

d3y d2y dy
4) 3
− 5 2
+7 =0
dx dx dx
Solução:

57
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

3o Caso: A Equação Característica Admite Raízes Múltiplas


Consideremos a Equação Diferencial Linear Homogênea de 2a ordem
d2y dy
A0 2 + A1 + A2 . y = 0 (18)
dx dx
e sejam y1 e y 2 as duas soluções desta equação.
Estas soluções são ditas linearmente independentes se num determinado
y y 
intervalo I a relação 1 não é constante  1 ≠ k  . Caso contrário, as soluções se
y2  y2 
y 
denominam linearmente dependentes  1 = k ou y1 = k . y 2  .
 y2 
Suponhamos agora que a equação característica de (18) apresenta raiz dupla
r1 = r2 = r e suponhamos que y1 = e r . x seja uma solução particular de (18), calculada
do modo visto no 1o caso.
Precisamos encontrar outra solução particular, a qual, juntamente com a
solução y1 = e r . x forme um conjunto linearmente independente.
Assim, procuramos uma segunda solução particular, da forma
y 2 = u ( x).e r . x (20)
sendo u (x) uma função incógnita a se determinar.
A solução geral de (18) será y = c1 . y1 + c2 . y 2 .
Para encontrar u (x) , derivemos (20) até a ordem da equação dada:
dy 2 d 2 y2
= u '.e r . x + r.u.e r . x ; = u ' '.e r . x + 2.r.u '.e r . x + r 2 .u.e r . x , que substituindo em (18)
dx dx 2
vem, [ A0 .(u ' '+2.r.u '+ r 2 .u ) + A1 .(u '+ r.u ) + A2 .u ].e r . x = 0

Como e r . x ≠ 0 e ordenando temos,


A0 .u ''+ (2.r. A0 + A1 ).u '+ ( A0 .r 2 + A1 .r + A2 ).u = 0 (21)

Observando (21) percebemos que A0 .r 2 + A1 .r + A2 = 0 , pois, é a própria Equação


− A1 ± A12 − 4. A0 . A2
Característica. Resolvendo esta vem, r=
. Como por suposição
2. A0
− A1
r é raiz dupla, A12 − 4. A0 . A2 = 0 e, portanto, r = que substituindo no 2o termo de
2. A0
− A1
(21) resulta 2.r. A0 + A1 = 2 A0 + A1 = 0 .
2. A0
Assim, como os coeficientes de u e u ' são nulos, então, de (21) resulta
A0 .u ' ' = 0 . Como A0 ≠ 0 [para que a equação (18) seja de 2a ordem] temos u ' ' = 0 ∴
u ' = k1 ∴ u = k1 .x + k 2 .
Logo, y 2 = (k1 .x + k 2 .).e r . x .
Agora, como a solução geral de (18) é y = c1 . y1 + c2 . y 2 ∴
y = c1 .e r . x + c 2 .( k1 .x + k 2 ).e r . x ∴ y = c1* .e r . x + c 2* .x.e r . x ou y = (c1* + c2* .x ).e r . x .
A propriedade se estende às equações de ordem superior.

58
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

dny d n −1 y d n− 2 y dy
Assim, para a equação diferencial A0 n
+ A1 n −1
+ A2 n−2
+ ... + An−1 + An . y = 0 ,
dx dx dx dx
onde as raízes da Equação Característica são: r1 = r2 = ... = rp , rp +1 , ... , rn ,

y = c1 .e r1 . x + c 2 .x.e r1 . x + ... + c p .x p −1e r1 . x + c p +1 .e


r p +1 . x
sua solução geral será + ... + c n e rn . x .

Exemplos: Resolver as seguintes equações diferenciais:


d2y dy
1) 2
− 4 + 4y = 0
dx dx
Solução:

d2y dy
2) 2
+ 6 + 9y = 0
dx dx
Solução:

d3y d2y dy
3) 3
− 8 2 + 20 − 16 y = 0
dx dx dx
Solução:

d4y d2y
4) + 2 +y=0
dx 4 dx 2
Solução:

59
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Equações Diferenciais Lineares de Ordem N, Não-Homogêneas de


Coeficientes Constantes

São, como já sabemos, as equações diferenciais da forma:


dny d n −1 y d n −2 y dy
A0 n
+ A1 n −1
+ A2 n− 2
+ ... + An −1 + An . y = B ,
dx dx dx dx
onde A0 , A1 , A2 , ... , An são constantes e B é uma função de x ; B = h(x ).
A solução geral de tais equações diferenciais é dada por:
y = yh + yp
onde yh → solução geral da Equação Diferencial Linear Homogênea Associada
( B = 0) , e é a parte da solução geral y que tem por objetivo principal
suprir as constantes arbitrárias.
yp → uma solução particular, e é a parte da solução geral y que vai satisfazer
o 2o membro da equação diferencial.

Determinação de uma Solução Particular Experimental (yp)


Método dos Coeficientes a Determinar (ou Método de Descartes)

Consiste em utilizando a própria equação diferencial, instituir uma solução


particular, a priori conhecida, a menos de certas constantes que são calculadas por
aplicação do Método dos Coeficientes a Determinar.
Este método só é utilizado para Equações Diferenciais Lineares de ordem n
com coeficientes constantes e quando B = h(x ) for constituído de um número finito de
termos da forma x m ( m ≥ 0 e inteiro), ou e a. x , ou sen b.x , ou cos k.x , ou uma
composição na forma de soma e/ou produto de duas ou mais destas funções.
Para o emprego deste método será útil o conceito exposto a seguir.

Família de uma função


Denomina-se família de uma função f (x ) ao conjunto constituído por esta
função e suas derivadas sucessivas, a menos de coeficientes, com as quais podemos
formar combinações lineares de funções linearmente independentes.
Portanto, para as funções descritas acima temos,

f (x ) Família de f (x )
x m
{x m , x m−1 , ... , x, 1}
e a. x {e a.x }
sen b.x {sen b.x, cos b.x}
cos k.x {cos k .x, sen k .x}

Observação: A família de uma constante é {1}.

60
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exemplo: Determinar a família de cada uma das funções dadas abaixo:

f (x ) Família de f (x )
2
2. x
3.e −2. x
− 5. cos 3.x
sen x
−7

A família de uma função produto de n funções dos tipos citados acima é constituída
dos produtos de n fatores obtidos associando-se cada elemento da família de um dos
fatores aos elementos das famílias de cada um dos outros fatores.
Exemplo: Determinar a família da função f ( x) = 3.x 2 .sen 3.x
Solução:

Construção de uma Solução Particular Experimental ( yp )

Tendo-se obtido a solução geral yh da Equação Diferencial Linear Homogênea


Associada, institui-se uma solução particular experimental yp do seguinte modo:
a) Determina-se a família de cada termo de B = h(x ) e suprime-se a família que estiver
contida em outra.
Exemplo: h( x) = 2.x + 3 + 5.e x − 4.sen x + cos x

b) Se um elemento de uma família pertencer a yh multiplica-se cada elemento dessa


família pela menor potência de x , com expoente inteiro e positivo, de tal modo que
desfaça esta situação.
Exemplo: Admitamos que para uma dada equação diferencial linear se tenha:
h( x) = 3.x 2 + 2 + 5.e x − 4. cos x e y h = c1 .x + c 2 .e x + c3 .e − x , então,
c) Toma-se como expressão experimental yp , uma combinação linear de todos os
elementos das famílias resultantes dotados de coeficientes literais a serem
determinados pela condição de que essa expressão verifique a equação diferencial
dada. Assim, para o exemplo acima tomaríamos:

Famílias de ℎ →

yp =

61
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exemplos: Resolver as equações diferenciais:


d2y dy
1) 2
− 5 + 6 y = 2.x 2 − 1
dx dx
Solução:

d 3 y dy
2) 3
− = 2.x + 1 − 4. cos x + 2.e x
dx dx

62
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Solução:
3) y ' '+ y = 10.e x .sen x
Solução:

d3 y dy
4) 3
+4 = 3.e 2. x − x − 2.sen 2.x
dx dx

63
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Solução:
d2y
5)
dx 2
(
+ 9 y = x 2 + 2 .e 3 x )
Solução:

d2y dy
6) 2
− 6 + 9 y = e x .sen x
dx dx

64
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Solução:
7) Resolva o problema de valor inicial:
y ' ' '+ y ' ' = 0 ; y ( 0) = 2 ; y ' ( 0) = 1 ; y ' ' (0 ) = −1 .
Solução:

65
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

I) Determine a Solução Geral de cada uma das seguintes Equações Diferenciais:

a) y ' ' '−2. y ' '−3. y ' = 0 R: y = c1 + c2 .e − x + c3 .e3. x


d3y d2y dy
b) 3
+ 6 2 + 10 =0 R: y = c1 + e −3. x .(c 2 . cos x + c3 .sen x )
dx dx dx
2 4 1 1
c) y ' '−2. y '−3. y = 2.x + e − x − 2.e 3 x R: y = c1 .e − x + c 2 .e 3. x − x + − x.e − x − x.e 3. x
3 9 4 2
d 3 y d 2 y dy
d) − + − y = 4.sen x R: y = c1 .e x + (c 2 + x ). cos x + (c3 − x ).sen x
dx 3 dx 2 dx
1 x3 x
e) y ' ' '−4. y ' = x.e 2. x + sen x + x 2 R: y = c1 + c 2 .e 2. x + c3 .e −2. x + cos x − − +
5 12 8
e 2x
+ ( 2. x 2 − 3. x )
32
f) y ' '− y = 10.sen 2 x R: y = c1 .e x + c 2 .e − x − 5 + cos 2.x

II) Resolva os problemas de valor inicial:


d2y
a) + 4. y = 0 ; y (π ) = 1 ; y ' (π ) = −4 R: y = cos 2.x − 2.sen 2.x
dx 2
d3y d2y dy
b) 3
− 4 2
+4 = 0 ; y (0) = 1 ; y ' (0) = 2 ; y ' ' (0) = 8 R: y = 1 + 2.x.e 2. x
dx dx dx
d3y dy 3 1
c) 3
+4 =x ; y ( 0) = y ' ( 0) = 0 ; y ' ' ( 0) = 1 R: y= (1 − cos 2.x ) + x 2
dx dx 16 8
d 3 y dy
d) 3
− = 4.e − x + 3.e 2. x ; y (0) = 0 ; y ' (0) = −1 ; y ' ' (0) = 2
dx dx
9 1
R: y=− + 4.e − x + 2.x.e − x + e 2. x
2 2

..........................................................

66
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Determinação de uma Solução Particular Experimental (yp)


Método da Variação dos Parâmetros

O Método da Variação dos Parâmetros é um procedimento alternativo para se


encontrar uma solução particular de uma equação diferencial linear não-homogênea de
ordem n, da forma
dny d n −1 y d n−2 y dy
A0 n + A1 n −1 + A2 n− 2 + ... + An −1 + An . y = B
dx dx dx dx
onde A0 , A1 , A2 , ... , An e B são funções de x .
Sua principal vantagem sobre o Método dos Coeficientes a Determinar é ser
mais geral, pois, a princípio, pode ser aplicado quando B for qualquer função de x . Já
no Método dos Coeficientes a Determinar, B deve ser constituído de um número finito
de termos da forma x m ( m ≥ 0 e inteiro), ou e a. x , ou sen b.x , ou cos k.x , ou uma
composição na forma de soma e/ou produto de duas ou mais destas funções.
Por outro lado, a desvantagem do Método da Variação dos Parâmetros é a
necessidade do cálculo de determinadas integrais envolvendo a função B, o que pode
apresentar algumas dificuldades.
O Método da Variação dos Parâmetros é devido a Lagrange e pode ser
considerado como um procedimento complementar ao Método dos Coeficientes a

Determinar .
Em ambos os métodos, para se determinar a solução particular y p , faz-se
necessário o conhecimento prévio da solução geral da equação diferencial homogênea
associada y h , e sendo assim, para descomplicar os cálculos, vamos tratar somente
com equações diferenciais lineares com coeficiente constantes.
Também, para facilitar a compreensão sobre o funcionamento do Método da
Variação dos Parâmetros, nos restringiremos a encontrar a solução particular y p , de
uma equação diferencial linear de 2a ordem com coeficientes constantes e não-
homogênea,
d2y dy
A0 2 + A1 + A2 . y = B ou A0 . y ' '+ A1 . y '+ A2 . y = B
dx dx
A priori, sabe-se que a solução geral desta equação diferencial é dada por
y = yh + yp
onde y h = c1 . y1 + c 2 . y 2 é a solução geral da equação diferencial homogênea associada
e y p é uma solução particular.
Por hipótese, vamos supor que a solução particular procurada é da forma
y p = u1 ( x ). y1 + u 2 ( x ). y 2 e, diferenciando duas vezes em relação a x , temos

y p ' = u1 . y1 '+u1 '. y1 + u 2 . y 2 '+u 2 '. y 2 e

y p ' ' = u1 . y1 ' '+u1 '.y1 '+u1 '.y1 '+u1 ' '.y1 + u 2 . y 2 ' '+u 2 '.y 2 '+u 2 '.y 2 '+u 2 ' '.y 2

Substituindo na equação diferencial dada e reagrupando os termos, vem


Nos casos em que ambos os métodos podem ser aplicados, o Método dos Coeficientes a Determinar é, em geral,
o mais recomendado.

67
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

A0 . y p ' '+ A1 . y p '+ A2 . y p = B

u1 .[ A0 . y1 ' '+ A1 . y1 '+ A2 . y1 ] + u 2 .[ A0 . y 2 ' '+ A1 . y 2 '+ A2 . y 2 ] + A0 .[u1 ' '.y1 + u1 '.y1 '+u 2 ' '.y 2 + u 2 '. y 2 ' ] +

+ A1 .[u1 '.y1 + u 2 '.y 2 ] + A0 .[u1 '.y1 '+u 2 '.y 2 ' ] = B

Pelo fato de, y1 e y 2 serem soluções da equação diferencial homogênea


associada, A0 . y1 ' '+ A1. y1 '+ A2 . y1 = 0 e A0 . y2 ' '+ A1. y 2 '+ A2 . y 2 = 0, e como
d d
u1 ' '.y1 + u1 '.y1 ' = [u1 '.y1 ] e u 2 ' '. y 2 + u 2 '. y 2 ' = [u 2 '.y 2 ] ,
dx dx
d d 
então, temos A0 . [u1 '.y1 ] + [u 2 '.y 2 ] + A1 .[u1 '.y1 + u 2 '.y 2 ] + A0 .[u1 '.y1 '+u 2 '.y 2 ' ] = B
 dx dx 
d 
ou A0 . [u1 '.y1 + u 2 '.y 2 ] + A1 .[u1 '.y1 + u 2 '.y 2 ] + A0 .[u1 '.y1 '+u 2 '.y 2 ' ] = B
 dx 

Do exposto, uma maneira para se determinar as duas funções incógnitas, u1 ' e



u 2 ' , dadas na equação acima, é impor as seguintes condições :
1) u1 '.y1 + u 2 '.y 2 = 0 (nos dois primeiros termos);
B
2) A0 .[u1 '.y1 '+u 2 '. y 2 ' ] = B ou u1 '.y1 '+u 2 '.y 2 ' = B0 , onde B0 = .
A0
Assim, resovendo o sistema de equações
u1 '.y1 + u 2 '.y 2 = 0
 (i)
u1 '.y1 '+u 2 '.y 2 ' = B0
pela Regra de Cramer, por exemplo, encontramos,

W1 − y 2 .B0 W2 y1 .B0
u1 ' = = e u2 ' = = (ii)
W W W W

y1 y 2 0 y2 y1 0
onde W= , W1 = e W2 = .
y1 ' y 2 ' B0 y2 ' y1 ' B0

O determinante W é denominado o wronskiano de y1 e y 2 . Como estas funções


y1 e y 2 formam um conjunto linearmente independente, W ( y1 , y 2 ) ≠ 0 .
A seguir, se as funções u1 ' e u 2 ' forem integráveis, podemos determinar as
funções u1 e u 2 explicitamente, obtendo assim a solução particular procurada y p , para
a equação diferencial linear de 2a ordem com coeficientes constantes, não-homogênea
d2y dy
A0 2 + A1 + A2 . y = B .
dx dx


Podemos fazer estas suposições porque A0 ≠ 0 , caso contrário, a equação diferencial não seria de 2a ordem.

68
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Na prática, para encontrar y p = u1 ( x ). y1 + u 2 ( x ). y 2 , não é aconselhável se usar


todo o procedimento descrito anteriormente, pois, seria muito trabalhoso e complicado.
A forma mais simples de resolver este problema é:
1) determinar a solução geral da equação diferencial homogênea
associada yh = c1. y1 + c2 . y2 ;
2) construir, a partir de y h , a solução particular a ser encontrada,
y p = u1 ( x ). y1 + u 2 ( x ). y 2 ;
3) montar o sistema de equações como descrito em (i);
4) resolver este sistema utilizando (ii), para as funções incógnitas
u1 ' e u 2 ' ;
5) integrar as funções u1 ' e u 2 ' para encontrar, respectivamente, as
funções u1 e u 2 .
A generalização do Método da Variação dos Parâmetros para equações de
ordem n é similar, mas de dedução muito trabalhosa e complicada, bem como a sua

resolução .
Assim, para a equação diferencial linear de ordem n, não-homogênea

dny d n −1 y d n−2 y dy
A0 n
+ A1 n −1
+ A2 n− 2
+ ... + An −1 + An . y = B ,
dx dx dx dx

onde A0 , A1 , A2 , ... , An são constantes e B é função apenas de x , temos como


solução geral da equação diferencial homogênea associada
y h = c1 . y1 + c 2 . y 2 + ... + c n . y n ,
como solução particular experimental
y p = u1 ( x ). y1 + u 2 ( x ). y 2 + ... + u n ( x ). y n ,

cujo sistema genérico equivalente a (i) será

u1 '.y1 + u 2 '.y 2 + ... + u n '.y n = 0


u '.y '+u '.y '+... + u '.y ' = 0
 1 1 2 2 n n

u1 '.y1 ' '+u 2 '.y 2 ' '+... + u n '.y n ' ' = 0

..................................................

..........................................................
...............................................................

u1 '.y1( n−1) + u 2 '.y 2 ( n−1) + ... + u n '.y n ( n−1) = B = B0
 A0

W1 W2 W3 Wn
A solução deste sistema será u1 '= , u2 ' = , u 3 '= , ... , un ' = ,
W W W W


Pela dificuldade da resolução de sistemas de equações lineares pela Regra de Cramer quando n >3.

69
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

onde
y1 y2 ... y n 0 y2 ... y n
y1 ' y2 ' ... y n ' 0 y2 ' ... y n '
y1 ' ' y2 ' ' ... y n ' ' 0 y2 ' ' ... y n ' '
W = ... ... ... ... , W1 = ... ... ... ... ,
... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ...
( n −1) ( n −1) ( n −1) ( n −1) ( n −1)
y1 y2 ... y n B0 y2 ... y n

y1 0 ... y n y1 y2 ... 0
y1 ' 0 ... y n ' y1 ' y2 ' ... 0
y1 ' ' 0 ... y n ' ' y1 ' ' y2 ' ' ... 0
W2 = ... ... ... ... , ... Wn = ... ... ... ... .
... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ...
( n −1) ( n −1) ( n −1) ( n −1)
y1 B0 ... y n y1 y2 ... B0

A seguir, por integração das funções u1 ' , u 2 ' , ... , u n ' , determinam-se as funções
u1 , u 2 , ... , u n , obtendo-se assim, explicitamente, a solução particular y p e a solução
geral da equação diferencial linear de ordem n, não-homogênea com coeficientes
constantes será dada por
y = yh + yp .

Exemplos: Calcular pelo Método da Variação dos Parâmetros a solução geral das
seguintes equações diferenciais.
1 3 2. x 1 2 2 . x
1) y ' '−4. y '+4. y = ( x + 1).e 2. x R: y = c1 .e 2. x + c 2 .x.e 2. x + x .e + x .e
6 2
Solução:

70
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

1 1
2) 4. y ' '+36. y = cos sec 3 x R: y = c1 . cos 3x + c2 .sen 3x − x. cos 3x + ( sen 3x). ln sen 3x
12 36

Solução:

71
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

Resolver pelo Método da Variação dos Parâmetros as seguintes equações diferenciais:

1) y ' ' '+ y ' = sec x , R: y = c1 + c2 . cos x + c3 .sen x + ln sec x + tg x − x. cos x + ( sen x). ln cos x ;

ex
2) y ' '−2. y '+ y = , R: y = c1 .e x + k 2 .x.e x + x.e x . ln x ;
x

1 3. x
3) y' '− y'−2. y = e 3. x , R: y = c1 .e − x + c 2 .e 2. x + e ;
4

4) y ' ' ' = 12 , y (1) = y ' (1) = y ' ' (1) = 0 , R: y = −2 + 6.x − 6.x 2 + 2.x 3 ;

ex 1 −3 x
5) y ' '−2. y '+ y = , R: y = c1 .e x + c 2 .x.e x + x .e .
x5 12

.....................................................

72
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Aplicações de Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem com


Coeficientes Constantes

Vibrações Mecânicas e Elétricas

Uma das razões por que é interessante estudar as Equações Diferenciais


Lineares com coeficientes constantes é que elas servem como modelos matemáticos
de alguns processos físicos importantes.
Duas áreas importantes de aplicações são as Vibrações Mecânicas e Elétricas.
Por exemplo, o movimento de uma massa presa em uma mola, as torções de uma
haste com um volante, o fluxo de corrente elétrica em um circuito simples em série e
muitos outros problemas físicos são bem descritos pela solução de um problema de
valor inicial da forma
A0 . y ''+ A1 . y '+ A2 . y = h(t ) , y (0) = y0 , y '(0) = y1 (1)

Isso ilustra uma das relações fundamentais entre a matemática e a física, ou


seja, aquela de que muitos problemas físicos têm o mesmo modelo matemático e,
portanto, se resolvermos este problema de valor inicial (1), basta apenas
interpretarmos adequadamente as constantes A0 , A1 e A2 , e as funções y e h, para
obtermos soluções de problemas físicos distintos.

Molas Vibrantes: A figura abaixo ilustra um sistema composto por uma mola, cuja
massa é desprezível, fixada por sua parte superior a uma trave, e possuindo um corpo
de massa m preso à sua extremidade inferior e que se encontra em repouso.
O sistema é então posto em movimento puxando-se a uma distância y 0 abaixo
da posição de equilíbrio e soltando-o, com uma velocidade inicial v0 , ou seja,
aplicando-se à massa do corpo uma força externa F (t ) no sentido “para baixo”.
Por conveniência, escolhemos como positivo o sentido “para baixo”, e tomamos
como origem do sistema o centro de gravidade da massa do corpo na posição de
equilíbrio (vide figura abaixo). Além disso, vamos admitir que a resistência do ar é
diretamente proporcional à velocidade do corpo.

Mola não Posição de Em


estendida equilíbrio movimento

73
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Assim, no instante t , existem três forças atuando no sistema:


1) F (t ) , uma força externa agindo sobre a massa do corpo, medida no sentido positivo;
2) uma força restauradora da mola, dada pela Lei de Hooke como Fr = −k1 . y , com
k1 > 0, representando a constante de proporcionalidade chamada de módulo da mola e
y o seu alongamento (quanto maior for o valor de k1 , mais rígida é a mola);

3) uma força devido à resistência do ar dada por Fa = − k2 . y ' , onde k2 > 0 e é a


constante de proporcionalidade, assim, Fa é diretamente proporcional à velocidade do
corpo.
Note-se que a força restauradora sempre atua em um sentido tal que tende a
fazer o sistema voltar à posição de equilíbrio, isto é, se o corpo está abaixo da posição
de equilíbrio, então y é positivo e − k1 . y é negativo, enquanto se o corpo está acima da
posição de equilíbrio, então y é negativo e − k1 . y é positivo.
Note-se também que, como k2 > 0, a força devida à resistência do ar atua no
sentido oposto ao da velocidade, tendendo assim a retardar, ou amortecer, o
movimento do corpo.
Ora, pela Segunda Lei de Newton ( m.a = F ) , temos m. y '' = − k1 . y − k2 . y '+ F (t ) ,

k2 k F (t )
ou y ''+ y '+ 1 y = (2)
m m m
k2 k F (t )
Se definirmos A0 = 1 , A1 = , A2 = 1 , e h(t ) = , e como o sistema começa em
m m m
t = 0 com velocidade inicial v0 e a partir de uma posição inicial y0 , temos, juntamente
com (2) as condições iniciais y (0) = y0 e y '(0) = v0 = y1 de (1).
Quando F (t ) ≠ 0 [existe uma força externa atuando sobre o sistema], dizemos
que o movimento é forçado.
A força de gravidade não aparece explicitamente em (2), porém está presente, e foi
automaticamente levada em conta quando medimos a distância a partir da posição de
equilíbrio do sistema. Se quisermos explicitar a gravidade, então a distância deve ser
medida a partir da extremidade inferior do comprimento natural da mola. Assim, o
movimento da mola vibrante deve ser dado por
k2 k F (t )
y ''+ y '+ 1 y = g +
m m m
se a origem, y = 0 , é o ponto correspondente à extremidade da mola não distendida,
antes de se anexar o corpo de massa m.

Movimento Livre não Amortecido: Nesse caso, vamos supor que não haja forças de
retardamento sobre o sistema e que a massa do corpo vibre sem a ação de outras
forças externas, Assim, F (t ) ≡ 0 e k2 = 0 , e a equação diferencial (2) se escreve

k1
y ''+ y=0 (3)
m

As raízes da equação característica de (3) são

74
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

− k1 − k1
λ1 = e λ2 = − , ou, como tanto k1 como m são positivos,
m m

λ1 = i. k1
m e λ2 = − i.
k1
m . Assim, a solução geral de (3) é
y = c1 .cos k1
m .t + c2 .sen k1
m .t (4)
Aplicando as condições iniciais y (0) = y0 , y '(0) = v0 , obtém-se c1 = y0 e
c2 = v0 . k1
m .
Assim, a solução particular de (3) é

y = y0 .cos k1
m .t + v0 . m
k1 .sen k1
m .t (5)
Além disso, pode-se simplificar a solução (5), utilizando-se da identidade trigonométrica
cos( a + b) = cos a.cos b − sen a.sen b [ou sen ( a + b) = sen a . cos b + cos a .sen b ], para obter-
se, então, y = A.cos ( k1
m
.t − φ ) [ou y = A.sen ( k1
m
)
.t + φ ] (6)

onde A= y02 + v02 . km1 [note que A = c12 + c 22 ] e o ângulo de fase φ é dado

y0 v0 . km1 y0 v0 . km1
implicitamente por cos φ = e sen φ = [ou sen φ = e cos φ = ].
A A A A
Esta simplificação é importante porque quando c1 ≠ 0 e c2 ≠ 0 , a amplitude
real A da vibração livre não é óbvia com base no exame da equação (5).

Observação: É mais fácil verificar, do que encontrar (6).

Qualquer movimento descrito por (4) é chamado de movimento harmônico


simples.
A freqüência circular de tal movimento é dada por ωn =
k1
m , enquanto a
freqüência natural, ou número de oscilações completas por segundo é,
ω 1
fn = n = . km1 .
2.π 2.π
O período do sistema, ou seja, o tempo necessário para completar uma
oscilação, é
1
T= = 2.π . km1 .
fn

Exemplo: Um corpo com 2 libras de peso distende uma mola em 6 polegadas. Em t = 0


, o corpo é solto de um ponto 8 polegadas abaixo da posição de equilíbrio, a uma
4
velocidade de pés/s para cima. Determine a equação do movimento livre.
3
Solução: Como estamos usando o sistema de unidades da engenharia [veja a tabela
Sistemas de Unidades (página 104) em Anexos], as medidas dadas em polegadas
1 2
devem ser convertidas em pés: 6 pol. = pé ; 8 pol.= pé . Além disso, precisamos
2 3
converter as unidades de peso dadas em libras, em unidades de massa.
W 2 1
De m = , temos m = = slug .
g 32 16

75
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

1
Também, da Lei de Hooke, 2 = k1 .  implica que a constante da mola é k1 = 4 lb / pé .
2
4
Logo, (3) resulta em y ' '+ 1 . y = 0 ou y ' '+ 64. y = 0 , cuja solução geral é
16

y = c1 . cos 8.t + c2 .sen 8.t


2 4
Aplicando as condições iniciais, y (0) = , y ' (0) = − , onde o sinal negativo é uma
3 3
conseqüência do fato de que é dado ao corpo uma velocidade inicial na direção
2 1
negativa ou para cima, obtemos c1 = e c 2 = − , e a equação do movimento será
3 6
2 1
y = cos 8.t − sen 8.t
3 6
Esta solução pode também ser escrita na forma simplificada (alternativa)
y = A.cos ( k1
m
.t − φ ) [ou y = A.sen ( k1
m
)
.t + φ ]
2 2
2  1 17 17
O cálculo da amplitude é direto A =   + −  = = ≅ 0,69 pé , mas
3  6 36 6
devemos tomar algum cuidado quando calcularmos o ângulo de fase φ . Assim, temos
17 17
y=cos (8.t − 1,816 ) [ou y = sen (8.t + 1,816 ) ].
6 6
2.π π
O período desta função é T = ∴ T = s.
8 4
A figura abaixo ilustra o exemplo resolvido.

Nota: O conceito de movimento harmônico livre é irreal, pois, é descrito pela equação
(3) sob a hipótese de que nenhuma força de retardamento age sobre a massa
do corpo em movimento. A não ser que este corpo esteja suspenso em um
vácuo perfeito, sempre haverá pelo menos uma força contrária ao movimento
em decorrência do meio ambiente.

Movimento Livre Amortecido: Neste caso, vamos considerar um corpo de massa m


suspenso em um meio viscoso ou conectado a um dispositivo de amortecimento,
conforme mostram as figuras a seguir.

76
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Pelo fato do movimento ser livre (de forças externas), apenas F (t ) ≡ 0 e a equação (2)
k k
se escreve y ' '+ 2 y '+ 1 y = 0 (7)
m m
As raízes da equação característica associada a são
− k 2 + k 22 − 4.k1 .m − k 2 − k 22 − 4.k1 .m
λ1 = e λ2 =
2.m 2.m
Aqui distinguiremos três casos possíveis, dependendo do sinal algébrico de k 22 − 4.k1 .m .

Caso I: k 22 − 4.k1 .m > 0 as raízes são reais e distintas e a solução correspondente


− k2  λ22 − 4.k1 . m − λ22 −4.k1 .m 
. c1.e 
.t .t .t
é y=e 2. m 2. m
+ c2 .e 2. m
 
 
− k2
k2
.t
onde e 2. m
> 0 é o fator de amortecimento. Como o coeficiente de amortecimento
,
2.m
k 2 é grande quando comparado com a constante da mola k1 , dizemos que o sistema é
superamortecido, pois, esta equação representa um movimento suave e não
oscilatório; o deslocamento da massa fica desprezível após um longo período. A figura
abaixo representa dois gráficos possíveis de y(t).

Caso II: k 22 − 4.k1 .m = 0 as raízes são reais e iguais e a solução correspondente é


− k2

y = e 2.m (c1 + c 2 .t )
.t

Diz-se que este sistema é criticamente amortecido, pois, qualquer decréscimo na


força de amortecimento resulta em um movimento ondulatório. Duas curvas típicas
descrevendo movimentos do sistema são apresentadas no gráfico abaixo.

77
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Caso III: k 22 − 4.k1 .m < 0 as raízes são complexas e a solução correspondente é


−k2  k 22 − 4.k .m k 22 − 4.k .m 
y=e 2. m
.t

. c1 . cos .t + c 2 .sen .t
 2m 2.m 
 
Dizemos que este sistema é subamortecido , pois o coeficiente de amortecimento é
pequeno quando comparado com a constante da mola. O movimento deste sistema é
− k2
.t
oscilatório; mas, por causa do fator e 2.m , as amplitudes de vibração tendem a zero
quando t → ∞ . Observe o gráfico abaixo.

Exercícios

1) Uma bola de aço de 128 lb (1 libra ≅ 453,54 gramas) acha-se suspensa de uma
mola, que, em conseqüência, sofre uma distensão de 2 pés (1 pé ≅ 30,48 cm) além de
seu comprimento natural. Põe-se a bola em movimento, sem velocidade inicial,
deslocando-se 6 polegadas (1 pol ≅ 2,54 cm) acima de sua posição de equilíbrio.
Desprezando-se a resistência do ar, determine:
π 1 π  1
a) a posição da bola no tempo t = s. ; R: y = − . cos 4t ; y  = − pé.
12 2  12  4
2
b) a freqüência natural; R: f n = ciclos/s.
π
π
c) o período. R: T = s.
2

2) Uma massa de 10 quilogramas acha-se suspensa de uma mola, distendendo-a de


0,7 metro além do seu comprimento natural. Põe-se o sistema em movimento, a partir
da posição de equilíbrio, com uma velocidade inicial de 1 m/s “para cima”. Determine o
movimento subseqüente, se a resistência do ar é dada por − 90. y ' N.
R: y ' '+9. y '+14. y = 0 ; y = (e − 7.t − e − 2.t ) .
1
5
1
3) Uma massa de slug acha-se suspensa de uma mola, distendendo-se 1,28 pé além
4
de seu comprimento natural. Põe-se a massa em movimento, a partir de sua posição
de equilíbrio, com uma velocidade inicial de 4 pés/s no sentido “para baixo”. Determine
o movimento subseqüente da massa se a resistência do ar é dada por − 2. y ' lb.
4
R: y ' '+8. y '+25. y = 0 ; y = .e − 4.t .sen 3.t .
3

78
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

4) Uma massa de 10 Kg se acha suspensa de uma mola cuja constante é 140 N/m.
Põe-se a massa em movimento, a partir da posição de equilíbrio, com uma velocidade
inicial de 1m/s no sentido “para cima” e com uma força externa aplicada F (t ) = 5.sen t .
Determine o movimento subseqüente da massa se a resistência do ar é dada por
− 90. y ' N.
1
R: y ' '+9. y '+14. y = .sen t
2
; y=
1
500
(− 90.e − 2.t + 99.e − 7.t + 13.sen t − 9. cos t ) .
5) Um peso de 16 lb é atado a uma mola de 5 pés de comprimento. Na posição de
equilíbrio, o comprimento da mola é de 8,2 pés. Se o peso for puxado para cima e solto
do repouso, de um ponto 2 pés acima da posição de equilíbrio, qual será o
deslocamento y (t ) se sabe-se ainda que o meio ambiente oferece uma resistência
numericamente igual à velocidade instantânea?
 2  2. 10 −t
R: y ' '+2. y '+10. y = 0 ; y (t ) = e −t . − 2. cos 3t − .sen 3t  ou y (t ) = .e .sen (3.t + 4,391).
 3  3

...................................

Circuitos Elétricos em Série: A figura abaixo ilustra um circuito elétrico em série


onde R é a resistência em ohms, C é a capacitância em farads, L é a indutância em
henries, E(t) é a força eletromotriz (f.e.m.) em volts e I é a corrente em ampères. Sabe-
se que as quedas de voltagem através de uma resistência, de um capacitor e de
1 dI
indutor são, respectivamente, RI , q e L onde q é a carga no capacitor em
C dt
coulomb. A queda de voltagem através de f.e.m. é –E(t).

dI 1
Assim, pela lei de Kirchhoff, temos RI + L + q − E (t ) = 0 (1)
dt C
dq dI d 2 q
Lembrando que I= → = (2)
dt dt dt 2
e levando esses valores em (1) obtemos
d 2 q R dq 1 1
2
+ + q = E (t ) (3)
dt L dt LC L
dq
As condições iniciais para q são: q (0 ) = q 0 e = I (0) = I 0 .
dt t =0

Agora, para obter a equação diferencial que rege a corrente, primeiro


derivamos (1) em relação a t e, em seguida, levamos (2) diretamente na equação
resultante.

79
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

d 2 I R dI 1 1 dE (t )
A nova equação é 2
+ + I= (4)
dt L dt LC L dt
A primeira condição inicial é I (0) = I 0 . A segunda condição inicial se obtém de (1)
dI dI 1 R 1
isolando e fazendo em seguida t = 0. Assim, = E (0) − I 0 − q0
dt dt t =0 L L LC
Vê-se que a corrente no circuito pode ser obtida seja resolvendo (4) diretamente, seja
resolvendo (3) em relação à carga e em seguida derivando a carga para obter a
corrente.
Exemplos:
1
1) Um circuito RCL tem R = 180 ohms, C = farad, L = 20 henries, e uma voltagem
280
aplicada de E (t ) = 10.sen t . Admitindo que não haja carga inicial no capacitor, mas uma
corrente inicial de 1 ampère em t = 0 quando se aplica inicialmente a voltagem,
determine a carga subseqüente no capacitor.
Solução:

1
2) Um circuito RCL tem R = 10 ohms, C = 10 −2 farad, L = henry, e uma voltagem
2
aplicada de E (t ) = 12 volts. Admitindo que não haja corrente inicial nem carga inicial
quando t = 0 , ao se aplicar inicialmente a voltagem, determine a corrente subseqüente
no sistema.
Solução:

80
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

1) Um circuito RCL com R = 6 ohms, C = 0,02 farad, L = 0,1 henry, e uma voltagem
aplicada de E (t ) = 6 volts. Supondo que não haja corrente inicial nem carga inicial
quando t = 0 , ao se aplicar inicialmente a voltagem, determine a carga subseqüente no
, I = (e −10.t − e −50.t ) .
3 −50.t 15 −10.t 12 3
capacitor e a corrente no circuito. R: q = e − e +
100 100 100 2

2) Um circuito RCL com R = 6 ohms, C = 0,02 farad, L = 0,1 henry, não tem voltagem
aplicada. Determine a corrente subseqüente no circuito se a carga inicial no capacitor é
R: I = (e −50.t − e −10.t ) .
1 5
coulomb e a corrente inicial é zero.
10 4

1
3) Um circuito RCL com R = 5 ohms, C = 10 −2 farad, L = henry, não tem voltagem
8
aplicada. Determine a corrente estacionária subseqüente no circuito.
Observação: Condições iniciais desnecessárias. R: Zero.

1
4) Um circuito RCL com R = 5 ohms, C = 10 −2 farad, L = henry, tem uma voltagem
8
aplicada de E (t ) = sen t . Determine a corrente estacionária no circuito.
1
Observação: Condições iniciais desnecessárias. R: (6.392.cos t + 320.sen t ) .
640.001

...................................................................

81
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Sistemas de Equações Diferenciais

Define-se Sistema de Equações Diferenciais ao conjunto de equações


diferenciais com as mesmas funções incógnitas e que se verificam para as mesmas
soluções.
Exemplos:

 dx  dy  dz
 dt = a.x − b.x. y  dx = z − y  y + dx = cos x + sen x
a)  dy , b)  , c) 
 = c. y − d .x. y  dz = − y − 3.z  dy + z = cos x − sen x
 dt  dx  dx

No presente estudo nos ateremos a Sistemas de Equações Diferenciais


Ordinárias de 1a Ordem e 1o Grau em que o número de funções incógnitas de uma
mesma variável é igual ao número de equações. Neste caso o sistema é dito canônico
e, se ele puder ser posto na forma explícita, em relação às derivadas de maior ordem,
é denominado normal, ou seja,
 dy1
 dx = F1 ( x, y1 , y2 , ... ,yn )

 dy2 = F ( x, y , y , ... ,y )
 2 1 2 n
 dx (1)
........................................

 dyn
 dx = Fn ( x, y1 , y2 , ... ,yn )

Quando todas as funções F1 , F2 , ... , Fn forem lineares com relação às variáveis


dependentes y1 , y 2 , ... , y n , isto é, se tiverem a forma

F1 ( x, y1 , y2 , ... ,yn ) = a11 . y1 + a12 . y2 + ... + a1n . yn + f1 ( x)


F2 ( x, y1 , y2 , ... ,yn ) = a21 . y1 + a22 . y2 + ... + a2 n . yn + f 2 ( x)
....................................................................................
Fn ( x, y1 , y2 , ... ,yn ) = an1 . y1 + an 2 . y2 + ... + ann . yn + f n ( x)

o sistema (1) é dito linear.


Os coeficientes aij , i = 1, 2,..., n e j = 1, 2,..., n podem depender de x e juntamente
com fi ( x ) devem ser funções contínuas num intervalo comum I. Quando f i ( x ) = 0 , ∀i ,
o sistema será chamado homogêneo; e, em caso contrário, de não-homogêneo.
Referimo-nos, usualmente, às equações (1) como a um sistema de n equações
diferenciais de 1a ordem. Equações deste tipo aparecem com frequência em aplicações
na biologia, na física e descrevem sistemas complicados, pois, a derivada de uma

82
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

determinada variável y i não depende só de x e y i , mas igualmente de todas as outras


variáveis.
A solução geral do sistema descrito em (1) é um conjunto de n funções
y1 ( x ), y2 ( x), ... ,yn ( x), que contém p constantes arbitrárias ( p ≤ n ) e que verificam todas
as n equações. Uma solução particular é o conjunto de n funções obtidas atribuindo-se
valores particulares às constantes arbitrárias na solução geral.

Sistemas de Equações Diferenciais de 1a ordem também se originam de


equações diferenciais de ordem mais elevada numa única variável y ( x ) . Toda equação
diferencial de n-ésima ordem na única variável y pode ser convertido num sistema de
dy d n −1 y
n equações de 1a ordem nas variáveis z1 ( x) = y , z 2 ( x) = , ... , z n ( x) = .
dx dx n −1
Exemplo: Converter o problema de valor inicial:
2
d 3 y  dy  dy d2y
+   + 3. y = e x ; y ( 0) = 1 , (0) = 0 , (0 ) = 0
dx 3
 dx  dx dx 2

dy d2y
em um problema de valor inicial nas variáveis y, e .
dx dx 2
Solução:
dy d2y
Fazendo z1 ( x) = y , z 2 ( x) = , z 3 ( x) = 2 e derivando todas em relação a x
dx dx
2
dz1 dy dz 2 d y dz 3 d 3 y
temos = , = 2 , = 3 (2)
dx dx dx dx dx dx
dy d2y d3y d3y
Como = z 2 ( x) , = z 3 ( x ) e = e x
− [ z 2 ( x )] 2
− 3 . z 1 ( x ) [isolando na
dx dx 2 dx 3 dx 3
equação diferencial dada], ao substituirmos em (2) obteremos o seguinte sistema de
equações diferenciais de 1a ordem, não linear
 dz1
 dx = z 2
 dz

2
= z3
 dx
 dz 3 = e x − ( z ) 2 − 3.z
 dx 2 1

Além disso, as funções z1 , z2 e z3 satisfazem as condições iniciais z1 (0) = 1 ,


z2 (0) = 0 e z3 (0) = 0 .

Sistemas de Equações Diferenciais Lineares com Coeficientes Constantes

Os Sistemas de Equações Diferenciais Lineares podem ser resolvidos, tal como


os sistemas de equações algébricas, por processos de eliminação, adição ou
substituição.
Para tanto, vamos usar a notação operacional
P ( D ) = D n + a1 .D n −1 + a2 .D n − 2 + ... + an −1 .D + an

83
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

onde a1 , a2 , ... , an designam constantes e D é o símbolo de derivação (operador


diferencial D ).
Assim, um sistema de três equações diferenciais pode ser escrito da seguinte
forma:
 P1 ( D).x + Q1 ( D). y + R1 ( D).z = φ1

 P2 ( D).x + Q2 ( D). y + R2 ( D).z = φ2
 P ( D).x + Q ( D). y + R ( D).z = φ
 3 3 3 3

onde x, y e z são funções de uma variável u, representando as incógnitas do sistema, e


φ1 , φ2 e φ3 são funções de u, conhecidas.
Procedendo-se, como nas equações algébricas, através de regras de
eliminação, pode-se reduzir este sistema a um equivalente na forma triangular superior,
como o que se segue,
 L1 ( D).x + M 1 ( D). y + N1 ( D).z = T1 (3)
 (4)
 M 2 ( D). y + N 2 ( D).z = T2
 (5)
 N3 ( D).z = T3

onde T1 , T2 e T3 são funções de u.


Para encontrarmos a solução geral, realizamos a retrosubstituição, integrando
sucessivamente (5), (4) e (3) e designando C1 , C2 e C3 como constantes arbitrárias.

Exemplos: Resolver os seguintes sistemas de equações diferenciais:

 dz
 y + dx = cos x + sen x
a) 
 dy + z = cos x − sen x
 dx

Solução:

Utilizando no sistema a notação operacional, temos


 y + Dz = cos x + sen x

 Dy + z = cos x − sen x
Aplicando na 1a equação o operador " D " e multiplicado a 2a por (−1), obtemos
 Dy + D 2 z = D(cos x + sen x)

− Dy − z = − cos x + sen x
ou
 Dy + D 2 z = − sen x + cos x

− Dy − z = − cos x + sen x
Somando, membro a membro as equações, resulta
D 2 z − z = 0 ou ( D 2 − 1).z = 0
que é uma Equação Diferencial Linear, de 2a ordem, homogênea e de coeficientes
constantes, com Equação Característica

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

r1 = 1
r 2 − 1 = 0 e cujas raízes são  .
r2 = −1
Como as raízes são reais e distintas, z = C1 .e x + C2 .e − x . (6)
−x a
Substituindo z = C1 .e + C2 .e , na 1 equação, temos,
x

y + D (C1 .e x + C2 .e − x ) = cos x + sen x ∴ y + C1 .e x − C2 .e − x = cos x + sen x


então, y = −C1 .e x + C2 .e − x + cos x + sen x (7)

Assim, as funções z = C1 .e x + C2 .e − x e y = −C1 .e x + C2 .e − x + cos x + sen x são a


solução do sistema de equações dado, que é de 2a ordem.
Note-se que, ao calculamos a função incógnita z = C1 .e x + C2 .e − x , esta foi
substituída na 1a equação do sistema, isto porque, para a determinação da função
incógnita y não haverá a necessidade de integração, evitando assim, o aparecimento
de mais uma constante arbitrária. Porém, se resolvêssemos substituir z na 2a equação
teríamos Dy + C1 .e x + C2 .e − x = cos x − sen x ∴ Dy = −C1 .e x − C2 .e − x + cos x − sen x e
integrando
y = −C1 .e x + C2 .e − x + sen x + cos x + C3
Para determinarmos C3 , substituímos a expressão de z e a nova expressão de y
em uma das equações do sistema, digamos na 1a, e teremos,
−C1 .e x + C2 .e − x + sen x + cos x + C3 + D (C1 .e x + C2 .e − x ) = cos x + sen x

−C1 .e x + C2 .e − x + sen x + cos x + C3 + C1 .e x − C2 .e − x = cos x + sen x ∴ C3 = 0.


Portanto, a função incógnita y , calculada da 2a maneira, coincide com (7),
àquela calculada da 1a maneira.
Também, após obtermos a função incógnita z = C1 .e x + C2 .e − x , podemos calcular
a função incógnita y através de processo de eliminação, sem utilizar a função
incógnita já calculada.
Para tanto, voltamos ao sistema,
 y + Dz = cos x + sen x
 ,
 Dy + z = cos x − sen x
aplicamos o operador " D " na 2a equação, multiplicamos a 1a equação por (−1) e
obtemos
 − y − Dz = − cos x − sen x
 2
 D y + Dz = − sen x − cos x
Somando, temos ( D 2 − 1) y = −2.sen x − 2.cos x que é uma Equação Diferencial
Linear de 2a ordem, com coeficientes constantes não-homogênea, cuja Equação
Característica da equação homogênea associada é r 2 − 1 = 0 , com raízes r1 = 1 e
r2 = −1 (reais e distintas).
A solução geral da Equação Diferencial Homogênea Associada é
yh = C3 .e x + C4 .e− x .
Observe-se que apareceram duas novas constantes arbitrárias.

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Calculando solução particular, temos y p = cos x + sen x e, como a solução geral


é y = yh + y p , temos que y = C3 .e x + C4 .e − x + cos x + sen x .
Assim, substituindo-se z = C1 .e x + C2 .e − x e y = C3 .e x + C4 .e − x + cos x + sen x em
uma das duas equações do sistema, digamos na 1a, por exemplo, vem
C3 .e x + C4 .e − x + cos x + sen x + D (C1 .e x + C2 .e − x ) ≡ cos x + sen x
C3 .e x + C4 .e − x + cos x + sen x + C1 .e x − C2 .e − x ≡ cos x + sen x
(C3 + C1 ).e x + (C4 − C2 ).e − x ≡ 0
Como e x e e − x são funções linearmente independentes, C3 + C1 = 0 e C4 − C2 = 0 ∴
C3 = −C1 e C4 = C2 .
Substituindo-se C3 e C4 em y = C3 .e x + C4 .e − x + cos x + sen x obtém-se,
y = −C1 .e x + C2 .e − x + cos x + sen x , confirmando a solução obtida anteriormente.

Exercícios

Resolver os seguintes sistemas de equações diferenciais:

 dy dz  3+ 3 3− 3
 2 dx − dx − y + z = 0
x x
 z = C1 .e 3 + C2 .e 3
a)  Resp: 
3+ 3 3− 3
 dy + dz − 2.z = 0  x x
 dx dx  y = (2 − 3). C1 .e 3
+ (2 + 3).C 2 .e 3

(2 D − 1) y + (− D + 1) z = 0
Sugestão: Usando a notação operacional tem-se  e, para
 Dy + ( D − 2) z = 0
eliminar y aplique na 1a equação o operador − D e na 2a ( 2 D − 1) ou para eliminar z
aplique ( D − 2) na 1a equação e ( D − 1) na 2a.

 dy dz  5
x 3
 dx + dx − y − 4.z = e
5. x
 z = C .e 2
− .e5. x − e 2. x
 1
5
b)  Resp: 
 dy + dz − 2. y − 3.z = e2. x
5
 y = C .e 2 x + 2 .e5. x − 2.e 2. x
 dx dx  1
5

......................................................

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Aplicações de Sistemas de Equações Diferenciais Lineares

Problemas de Diluição (Mistura)

Exemplo: Suponhamos que um tanque A contém 50 litros de salmoura na qual estão


dissolvidas 25 gramas de sal, e um tanque B que contém 50 litros de água pura. O
líquido é bombeado para dentro e para fora dos tanques, como mostra a figura abaixo;
vamos supor também, que a mistura trocada entre os dois tanques e o líquido
bombeado para fora do tanque B esteja bem misturado.

Desejamos modelar o problema formulado acima, bem como, determinar a quantidade


de sal Q A (t ) e QB (t ) nos tanques A e B, respectivamente, no instante t.
Solução:
De maneira similar aos problemas de diluição estudados nas Aplicações de
Equações Diferenciais de 1a Ordem e 1o Grau, a taxa de variação da quantidade de sal
no tanque A é determinada pela equação diferencial
dQ A f1 .Q A
= b1 .e1 + b2 .e2 − (taxa de entrada do sal menos a taxa de
dt V A0 + (e1 + e2 − f1 ).t
saída).
Aqui, b1 = 0 (gramas de sal por litro [água pura]), e1 = 3 (litros de mistura por min),
QB
b2 = (gramas de sal por litro [concentração de sal no tanque B]), e2 = 1 (litro de
50
mistura por min), V A0 = 50 (litros de mistura [volume inicial no tanque A]) e f1 = 4 (litros
de mistura por minuto).
dQ A Q 4.Q A dQ A QB 2.Q A
Assim, = 0 × 3 + B ×1 − ∴ = −
dt 50 50 + (3 + 1 − 4).t dt 50 25
dQB (e2 + f 2 ).QB
Analogamente para o tanque B, = b3 . f1 − (taxa de entrada
dt VB 0 + ( f1 − e2 − f 2 ).t
do sal menos taxa de saída).
dQ B Q A (1 + 3).Q B dQB 4.Q A 4.QB
= ×4− ∴ = − ∴
dt 50 50 + (4 − 1 − 3).t dt 50 50
dQB 2.Q A 2.QB
= − .
dt 25 25
Assim, obtemos o seguinte Sistema de Equações Diferenciais Lineares com
condições iniciais:

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Provenzano, Luiz Fernando

 dQ A QB 2.Q A
 dt = 50 − 25
 dQ , Q A (0) = 25 gramas , QB (0) = 0 grama
2.Q A 2.QB
 B = −
 dt 25 25
Resolução:

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Exercícios

1) Qual é o Sistema de Equações Diferenciais do exemplo anterior se, em vez de água


pura , for bombeada uma solução salina contendo 2 gramas de sal por litro para dentro
do tanque A? Resolva-o.

2) Construa os modelos matemáticos para cada um dos problemas abaixo, usando as


informações apresentadas em cada uma das respectivas figuras.

a) , b)

c) , ,

d)

Note-se que em nenhum deles são dadas condições iniciais. [O leitor poderá sugerir as
condições iniciais e tentar resolvê-los ou só calcular a solução geral].

................................................

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Problemas de Redes Elétricas

O modelo matemático para uma rede elétrica com mais de uma malha é um
Sistema de Equações Diferenciais Lineares de 1a ordem e 1o grau. A figura abaixo,
ilustra uma rede, onde a corrente i1 (t ) bifurca-se nas duas direções mostradas a partir
do nó B1 . Pela 1a lei de Kirchhoff, temos

i1 (t ) = i2 (t ) + i3 (t ) (8)
Esta rede elétrica possui duas malhas, a saber,
A1 B1 B2 A2 A1 e A1 B1C1C2 B2 A2 A1 , nas quais aplicaremos a
2a lei de Kirchhoff, respectivamente. Na malha
A1 B1 B2 A2 A1 somando as quedas de voltagem em cada
parte, obtemos
di
E (t ) = i1 .R1 + L1 2 + i2 .R2 (9)
dt
Analogamente, na malha A1 B1C1C2 B2 A2 A1 , encontramos
di3
E (t ) = i1 .R1 + L2 (10)
dt
Substituindo (8) para eliminarmos i1 em (9) e (10), obtemos o seguinte Sistema de
Equações Diferenciais Lineares de 1a ordem e 1o grau
 di2
 L1 dt + ( R1 + R2 ).i2 + R1 .i3 = E (t )

 L di3 + R .i + R .i = E (t )
 2 dt 1 2 1 3

Exercícios

1) Mostre que o Sistema de Equações Diferenciais que descreve as correntes i1 (t ) e


i2 (t ) na rede (figura abaixo) contendo um resistor, um indutor e um capacitor, é

 di1
 L dt + R.i2 = E (t )

 R.C di2 + i − i = 0
 dt
2 1

dq
[Sugestão: = i3 ].
dt
2) Mostre que o Sistema de Equações Diferenciais que descreve as correntes i2 (t ) e
i3 (t ) na rede elétrica (mostrada na figura abaixo), é

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

 di2 di3
 L dt + L dt + R1 .i2 = E (t )

 − R di2 + R di3 + 1 i = 0
 1 dt 2
dt C
3

3) Determine um Sistema de Equações Diferenciais de 1a ordem que descreva as


correntes i2 (t ) e i3 (t ) na rede elétrica mostrada na figura abaixo:

..................................................

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
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Noções de Equações Diferenciais Parciais

As Equações Diferenciais Parciais surgem ligadas a várias aplicações físicas e


geométricas, quando as funções envolvidas dependem de duas ou mais variáveis
independentes. Estas variáveis podem ser o tempo e/ou uma ou mais coordenadas
espaciais. Aqui neste estudo, além dos conceitos básicos, nos concentraremos na
resolução de um tipo especial e muito importante, a equação diferencial parcial linear e
homogênea de 2a ordem que rege a difusão (condução) do calor.

Conceitos Básicos
Uma equação que envolve uma ou mais derivadas parciais de uma função
incógnita de duas ou mais variáveis independentes é chamada uma Equação
Diferencial Parcial. Assim, como nas equações diferenciais ordinárias, a ordem é dada
pela ordem da derivada de mais alta ordem presente na equação.
∂u ∂u
Exemplos: 1) 3y 2 + = 2u (1a ordem)
∂x ∂y
∂ 2u ∂ 2u
2) + f ( x , y ) =0 (2a ordem)
∂x 2 ∂y 2
∂2z ∂ 2 z ∂z
3) − 3 + = ex (2a ordem)
∂x 2
∂x∂y ∂y
Também, como no caso das equações diferenciais ordinárias, dizemos que uma
Equação Diferencial Parcial é linear se a variável dependente e suas derivadas parciais
ocorrem somente no 1o grau, não apresentando produto entre elas. Se cada termo de
tal equação contiver ou a variável dependente ou uma de suas derivadas parciais, a
equação é dita homogênea; caso contrário ela será dita não-homogênea.
Exemplos:
∂ 2u ∂ 2u ∂u ∂u
1) + f ( x, y ) 2 = 0 , 2) 3y 2 + = 2u
∂x 2 ∂y ∂x ∂y
Equações diferenciais parciais lineares e homogêneas.
2
∂ 2 u  ∂u 
3) u 2 +   = u 2 Equação diferencial não linear.
∂x  ∂y 
Uma solução de uma equação diferencial parcial em uma região R do espaço
das variáveis independentes é uma função que conjuntamente com todas as derivadas
parciais que figuram na equação a satisfaz em todos os pontos de R.

Exemplos importantes de equações diferenciais parciais lineares de 2a ordem:

92
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

∂ 2u 2 ∂ u
2
1) = c (equação da onda, unidimensional)
∂t 2 ∂x 2
∂u ∂ 2u
2) = c2 2 (equação do calor, unidimensional)
∂t ∂x
∂ 2u ∂ 2u
3) + =0 (equação de Laplace, bidimensional)
∂x 2 ∂y 2

∂ 2u ∂ 2u
4) + = f ( x, y ) (equação de Poisson, bidimensional)
∂x 2 ∂y 2

∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
5) + + =0 (equação de Laplace, tridimensional)
∂x 2 ∂y 2 ∂z 2
onde c é uma constante, t é o tempo e x,y,z são as coordenadas cartesianas
retangulares. A equação (4), com f(x,y) ≠ 0, é não-homogênea, enquanto que todas as
outras são homogêneas.
Em geral, a totalidade das soluções de uma equação diferencial parcial é muito
grande. Assim, por exemplo, as funções u = x2− y2 , u = ex.cos y e u = ln(x2+ y2) são
apenas três funções que são soluções da equação de Laplace (3) [verifique!].

Exercícios

i) Mostre que as seguintes funções são soluções da equação da onda (1), para
algum valor adequado de c:
a) u = x2 + t2 , b) u =cos t .sen x , c) u = sen t .sen x

ii) Verifique se as seguintes funções são soluções da equação de Laplace:


y
a) u = x3− 3x.y2 , b) u = ex.sen y , c) u = arctg , d) u = sen x.cosh y
x
iii) Verificar que u(x,y)= a.ln(x2+ y2)+b satisfaz a equação de Laplace e determinar
a e b de modo que u satisfaça as condições de contorno u = 0, sobre a
circunferência x2+ y2 =1 e u = 3 sobre a circunferência x2+ y2 = 4.

..................................................................

Sobre a Resolução
Geralmente, a resolução de equações diferenciais parciais apresenta-se como
um problema muito mais difícil do que aquele de resolver equações diferenciais
ordinárias e, a não ser para certos tipos especiais de equações diferenciais parciais
lineares, nenhum método geral de resolução é viável.
A dificuldade na resolução de uma equação diferencial parcial linear, além de
depender da ordem da equação, depende fortemente do número de variáveis
independentes envolvidas.

93
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Nós aqui, por ser um curso introdutório, enfocaremos apenas um método


particular de resolução, tomando como exemplo a equação diferencial parcial linear e
homogênea de 2a ordem, em duas variáveis, da condução (difusão) do calor que é de
um grau de dificuldade matemática intermediário entre as equações diferenciais
ordinárias e as equações diferenciais parciais de três ou mais variáveis independentes.
Relembrando o caso das equações diferenciais ordinárias lineares e
homogêneas, uma combinação linear de duas ou mais soluções da equação é também
uma solução. Assim, um resultado semelhante aplica-se às equações diferenciais
parciais lineares e homogêneas, e se u1 ,u2, ... ,un são n soluções diferentes desta
equação diferencial em algum domínio dado, então u = c1.u1+ c2.u2+ ... + cn.un também
é uma solução no mesmo domínio, onde os coeficientes c1, c2, ... , cn são constantes
arbitrárias. Este resultado denomina-se princípio da superposição, e tem um papel
importante no método de resolução conhecido como método de separação de variáveis
(que será utilizado mais adiante).

Determinação de uma Equação Diferencial Parcial a partir de uma Solução


dada.

É sempre possível deduzir de uma função dada uma equação de derivadas


parciais que admite aquela função como solução.

Exemplos:

1) Seja z = f(x2+y2), onde f é uma função arbitrária de argumento u = x2+y2, isto


é, z = f(u), sendo u = x2+y2.
∂z ∂z
Derivando z em relação a x e a y, tem-se = f ' (u ).2 x e = f ' (u ).2 y
∂x ∂y
Dividindo membro a membro, elimina-se u. Assim,
∂z
∂x = f ' (u ).2 x ∂z ∂z
⇒ y −x =0
∂z f ' (u ).2 y ∂x ∂y
∂y
a
é a equação de 1 ordem que admite como solução a função arbitrária z = f(x2+y2).
Observe-se que a equação foi obtida pela eliminação de uma função arbitrária.

2) Seja z = Φ ( y + a.x ) + Ψ ( y − a.x ) onde a é uma constante e Φ e Ψ são


funções arbitrárias dos respectivos argumentos u = y + a.x e v = y − a.x.
Derivando z em relação a x e a y respectivamente, tem-se
∂z ∂z
= Φ '.a − Ψ '.a = (Φ '− Ψ ' ).a e = Φ '+ Ψ '
∂x ∂y
Como ainda não foi possível eliminarmos as funções arbitrárias, derivemos
novamente:
∂2 z ∂2z
= Φ ' '.a 2
+ Ψ ' '.a 2
= a 2
.( Φ ' '+ Ψ ' ' ) e = Φ' '+ Ψ ' '
∂x 2 ∂y 2

94
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

∂2z 2 ∂ z
2
⇒ = a . (*)
∂x 2 ∂y 2

é a equação diferencial parcial de 2a ordem que foi obtida pela eliminação das duas
funções arbitrárias.
Note-se que, por Φ e Ψ serem funções arbitrárias, também são soluções de (*)
z = (x + a.y)3+ tg (x − a.y) e z = sen (x+a.y)+e x− a.y . [Verifique!].

3) Seja z = a.x + b.y + a.b, sendo a e b constantes.


∂z ∂z
Derivando z em relação a x e y, tem-se =a e =b.
∂x ∂y

∂z ∂z ∂z ∂z
Levando estes resultados à equação dada, temos +y + . . z=x
∂x ∂y ∂x ∂y
a
que é uma equação de derivadas parciais de 1 ordem e que foi obtida eliminando-se
duas constantes arbitrárias na relação z = a.x + b.y + a.b, que é a solução.
Observe-se que existem dois tipos de solução, uma que contém funções
arbitrárias e denomina-se geral, e outra que contém constantes arbitrárias e denomina-
se completa. Tal como nas equações diferenciais ordinárias, há certas equações que
admitem as soluções singulares que são aquelas que não resultam nem da solução
geral nem da solução completa.
Assim, percebemos agora uma das mais importantes diferenças entre as
soluções das equações diferenciais parciais e as soluções das equações diferenciais
ordinárias, qual seja, enquanto a solução geral de uma equação diferencial ordinária
contém constantes arbitrárias de integração, a solução geral de uma equação
diferencial parcial contém funções arbitrárias.
Outra particularidade que notamos, a partir dos exemplos apresentados, é
aquela de que nem sempre o número de funções arbitrárias ou de constantes
arbitrárias traduz a ordem da equação diferencial parcial.

Exercícios: Obter as equações de derivadas parciais que apresentem as seguintes


soluções:

 y
a) z = f   ; b) z = ey.f(x− y) ; c) z = a.x.y+b ; d) x.z = f(x+y) ;
x

e) z = f(x)+ey.g(x);

onde f e g são funções arbitrárias e a e b constantes arbitrárias.

..................................................

Agora, mencionaremos aqui novamente, que o termo “condições de fronteira”


(condições de contorno) é usado na literatura com diferentes significados. O termo é
obviamente apropriado quando uma equação tem que ser resolvida dentro de uma
dada região R do espaço, com valores da variável dependente dados sobre a fronteira
de R. Além disso, a fronteira não precisa envolver um volume finito (caso em que parte

95
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

da fronteira estará no infinito). No caso das equações diferenciais parciais em que uma
das variáveis independentes é o tempo t, os valores da variável dependente e muitas
vezes sua derivada em relação ao tempo em algum instante, digamos t = 0, podem ser
dados. Tais condições são usualmente chamadas de “condições iniciais”. As condições
iniciais, no entanto, podem ser pensadas como condições de fronteira no diagrama
espaço-tempo, onde um dos eixos representa a coordenada tempo. No caso da
equação diferencial parcial em duas variáveis independentes, por exemplo, uma
variável de espaço x e uma variável tempo t, podemos exigir uma solução dentro da
região R (conforme figura abaixo). Aqui as condições iniciais em t = 0 são condições de
fronteira ao longo da fronteira OA.

O Problema de Condução de Calor e o Método de Separação de Variáveis

Uma das equações diferenciais parciais clássicas da física matemática é a


equação que descreve a condução de calor num corpo sólido. O estudo desta equação
teve origem por volta de 1800 (a primeira investigação importante foi desenvolvida por
Joseph B. Fourier) e continua a demandar a atenção dos cientistas atuais. Por
exemplo, a análise da dissipação e transferência de calor de suas fontes em
maquinaria de alta velocidade é freqüentemente um importante problema tecnológico.
Consideremos agora o problema de condução de calor para uma barra reta de
seção transversal uniforme e de material homogêneo. Escolhemos o eixo x de modo a
se situar ao longo do eixo da barra e sendo x = 0 e x = l os extremos da barra. Vamos
supor ainda que os lados da barra estejam perfeitamente isolados, de modo que
nenhum calor os atravessa. Consideremos também que as espessuras das seções
transversais sejam tão pequenas que a temperatura u pode ser considerada constante
em qualquer seção transversal dada. Então, u é somente função da coordenada axial x
e do tempo t.

A variação de temperatura nesta barra é descrita pela equação diferencial


parcial denominada equação de condução (difusão) de calor e que tem a forma

96
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

∂u ∂ 2u
= c2. 2 , 0<x<l , t>0, (1)
∂t ∂x
onde c2 é uma constante conhecida como difusibilidade térmica. O parâmetro c2
k
depende somente do material de que é feita a barra e é definido por c 2 = , onde
σρ
k é a condutibilidade térmica, σ é a densidade (massa específica do material do corpo)
e ρ é o calor específico do material da barra.
As unidades dimensionais de c2 são (comprimento)2/tempo.
Aqui, estudaremos o caso em que as extremidades x = 0 e x = l da barra se
encontram na temperatura zero. Assim, as condições de contorno são
u(0,t) = 0 , u(l,t) = 0 para qualquer t. (2)
Seja f(x) a temperatura inicial da barra. Então a condição inicial é
u(x,0) = f(x), 0≤x≤l (3)
onde f(x) é uma função dada. Determinaremos uma solução u(x,t) de (1) que satisfaz
a (2) e (3).
O problema descrito por (1), (2) e (3) é um problema de valor inicial para a
variável t; uma condição inicial é dada, e a equação diferencial descreve o que
acontece mais tarde. Entretanto, com relação à variável espaço x, o problema é de um
tipo diferente, conhecido como um problema de valor de contorno. A solução da
equação diferencial é desejada num certo intervalo, e condições (de contorno) são
impostas nos extremos do intervalo. Alternativamente, podemos considerar o problema
como um problema de valor de contorno no plano xt. A solução u(x,t) de (1) é
procurada na faixa semi-infinita 0 < x < l, t > 0 sujeita à condição de que u(x,t) deve
admitir um valor prescrito em cada ponto no limite desta faixa.

A equação diferencial parcial que rege este problema de condução de calor é


linear, homogênea e de 2a ordem. Isto sugere que poderíamos aproximar o problema
procurando soluções da equação diferencial e das condições de contorno e, então,
superpondo-as para satisfazer a condição inicial. Para encontrar as soluções de que
necessitamos, usamos uma técnica conhecida como o método de separação de
variáveis.
Este método se baseia na idéia de encontrarmos certas soluções da equação
diferencial (1) da forma
u(x,t)=F(x).G(t).
Derivando e substituindo em (1), obtemos
F .G ' = c 2 .F ' '.G (4)

97
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

onde G ' indica a derivada ordinária de G em relação a t e F ' ' indica a derivada
ordinária (2a) de F em relação a x. A equação (4) é equivalente a
G' F ''
2
= (5)
c .G F
Como o primeiro membro depende unicamente de t e o segundo membro somente de
x, ambas as expressões devem ser iguais a uma constante, digamos − p2 (por
conveniência), e assim de (5) obtém-se,
G' F ''
2
= = − p2 (6)
c .G F
e daí as duas equações diferenciais
F ' '+ p 2 . F = 0 (7)

e G '+ c 2 . p 2 .G = 0 . (8)
A equação (7) é uma equação diferencial ordinária, de 2a ordem, linear e homogênea
de coeficientes constantes, cuja solução geral é
F(x)=A.cos (p.x) + B.sen (p.x) (9)
De (2) decorre que u (0, t ) = F (0).G (t ) = 0 e se esta equação for satisfeita escolhendo-
se G (t ) = 0 para todo t, então u ( x, t ) será identicamente nula. Isto é inaceitável, já que
não satisfaz a condição inicial u ( x,0) = f ( x ) . Assim, u (0, t ) = F (0).G (t ) deve ser
satisfeita exigindo-se que F (0) = 0 . Analogamente, a condição de contorno x = l exige
que F (l ) = 0 .
Em vista de (9), F(0) = A. Então, A = 0, e portanto, F(l) = B.sen (p.l). Devemos ter
B ≠ 0, já que de outro modo F ≡ 0. Assim, a condição F(l) = 0 conduz a sen (p.l) = 0
n.π
ou p = , (n inteiro). Fazendo B = 1 obtemos um número infinito de soluções
l
F(x) = Fn(x),
n.π .x
Fn(x) = sen , n = 1,2, ...
l
de (7) que satisfazem as condições de contorno (2). [Para n inteiro negativo, obtemos
essencialmente as mesmas soluções, a menos de um sinal negativo, isto porque
sen(−y)= − sen y].
n.π
Para os valores p = , n = 1,2, ... , a equação (8) apresenta a forma
l
c.n.π
G '+ λ 2n .G = 0 , onde λ n = [equação diferencial linear e homogênea de 1a ordem ou
l
equação diferencial de variáveis separáveis de 1a ordem] cuja solução geral é
G n (t ) = Bn .e − λn .t , n=1,2, ... , onde Bn é uma constante. Assim as funções
2

n.π .x −λ2n .t
un(x,t)=Fn(x).Gn(t)=Bn.sen .e , n = 1,2, ... (10)
l
são soluções da equação do calor (1) que satisfazem (2).
Utilizando o princípio da superposição, vem
∞ ∞
n.π .x −λ2n .t c.n.π
u(x,t)= ∑ u n ( x, t ) = ∑ Bn . sen .e , onde λ n = . (11)
n =1 n =1 l l
Para determinarmos uma solução que satisfaça também (3) devemos ter

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando


n.π .x
u(x,0)= ∑ Bn . sen = f ( x) .
n =1 l
Assim para (11) satisfazer (3), os coeficientes Bn devem ser escolhidos de modo que
u(x,0) seja um desenvolvimento de meio período de f(x), a saber, a série de Fourier em
seno de f(x),
2 t n.π .x
Bn= ∫ f ( x). sen dx , n=1,2, ... .
l 0 l

Observação: Para realizarmos um estudo mais detalhado sobre a escolha desses Bn ,


n = 1,2, ... , necessitaríamos, como pré-requisito, de conhecimentos sobre
Séries de Fourier.

..........................................

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Anexos

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

FÓRMULAS BÁSICAS
ÁLGEBRA
EXPOENTES E RADICAIS VALOR ABSOLUTO

1) a m × a n = a m+n 1) x <d ⇔ −d < x< d , (d > 0)

( a)
m
m
2) a n = n am = n
2) x >d ⇔ x < −d ou x > d

3) (a )m n
= a m .n 3) a+b ≤ a + b (desigualdade triangular)

4) n
a.b = n a .n b 4) − a ≤a≤ a

5) (a.b )n = a n .b n DESIGUALDADES
n
a a
6) n = n
1) Se a > b e b > c , então a > c
b b
n
a an
7)   = 2) Se a > b , então a + c > b + c
b bn

8) n m
a = n .m a 3) Se a > b e c > 0 , então a.c > b.c
m
a
9) n
= a m−n 4) Se a > b e c < 0 , então a.c < b.c
a
1
10) a −n = n FÓRMULA QUADRÁTICA
a
LOGARITMOS Se a ≠ 0 , as raízes da equação a.x 2 + b.x + c = 0
− b ± b 2 − 4.a.c
1) y = log a x ⇒ a = x y
são x=
2.a
2) log a x. y = log a x + log a y PRODUTOS NOTÁVEIS
x
3) log a = log a x − log a y ( x ± y )2 = x 2 ± 2.x. y + y 2
y
4) log a x k = k . log a x (x + y )(. x − y ) = x 2 − y 2
5) log a 1 = 0 (x ± y )3 = x 3 ± 3.x 2 y + 3.x. y 2 ± y 3
6) log a a = 1 FÓRMULA BINOMIAL

7) log x = log 10 x ( x + y )n = x n + C1n x n −1 . y + C 2n x n − 2 . y 2 + ...


8) ln x = log e x ... + C kn x n − k . y k + ... + y n ,
log b x n!
9) log a x = onde C kn =
log b a k !( n − k ) !

101
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

TRIGONOMETRIA

FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS DE ÂNGULOS AGUDOS

cateto oposto hipotenusa


1) sen θ = 4) cos sec θ =
hipotenusa cateto oposto
cateto adjacente hipotenusa
2) cos θ = 5) sec θ =
hipotenusa cateto adjacente
cateto oposto cateto adjacente
3) tg θ = 6) cot g θ =
cateto adjacente cateto oposto

IDENTIDADES TRIGONOMÉTRICAS

1
1) cos sec t = 14) sen (u − v) = sen u . cos v − cos u .sen v
sen t
1
2) sec t = 15) cos (u − v) = cos u . cos v + sen u .sen v
cos t
1 tg u − tg v
3) cot g t = 16) tg (u − v) =
tag t 1 + tg u .tg v
sen t
4) tg t = 17) sen 2.u = 2.sen u .cos u
cos t
cos t
5) cot g t = 18) cos 2u = cos 2 u − sen 2 u = 1 − 2.sen 2 u = 2. cos 2 u − 1
sen t
2.tg u
6) sen 2 t + cos 2 t = 1 19) tg 2.u =
1 − tg 2 u
1
7) sec 2 t − tg 2 t = 1 20) sen u . cos v = [ sen (u + v) + sen (u − v)]
2
1
8) cos sec 2 t − cot g 2 t = 1 21) cos u .sen v = [ sen (u + v) − sen (u − v)]
2
1 − cos 2.t 1
9) sen 2 t = 22) cos u . cos v = [cos (u + v) + cos (u − v)]
2 2
1 + cos 2.t 1
10) cos 2 t = 23) sen u .sen v = [cos (u − v) − cos (u + v)]
2 2
11) sen (u + v ) = sen u . cos v + cos u .sen v 24) sen ( −t ) = − sen t
12) cos (u + v) = cos u . cos v − sen u .sen v 25) cos (−t ) = cos t
tg u + tg v
13) tg (u + v) = 26) tg (−t ) = −tg t
1 − tg u .tg v

TRIGONOMETRIA EM TRIÂNGULOS QUAISQUER

a b c
27) = = (Lei dos senos)
sen Aˆ sen Bˆ sen Cˆ

28) a 2 = b 2 + c 2 − 2.b.c.cos Aˆ (Lei dos cossenos)

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

FÓRMULAS DE DERIVADAS FÓRMULAS DE INTEGRAIS


d
1)
dx
c = 0 , onde c é uma constante 1) ∫ u.dv = u.v − ∫ v.du
d du dv u n+1
(u ± v) = ± ∫ u .du = + c , n ≠ −1
n
2) , u e v funções de x 2)
dx dx dx n +1
d dv du 1
3)
dx
(u.v) = u
dx
+v
dx
3) ∫u du = ln u + c

du dv
v −u
d u dx dx
 = ∫e .du = e u + c
u
4) 2
4)
dx  v  v
d au
5) { f [g ( x)]} = f ' [g ( x)].g ' ( x) 5) ∫ a .du =
u
+c
dx ln a
d n du
6)
dx
u = n.u n −1
dx
6) ∫ sen u.du = − cos u + c
d u du
7)
dx
e = eu
dx
7) ∫ cos u = sen u + c
d u du
a = a u . ln a ∫ sec u.du = tg u + c
2
8) 8)
dx dx
d 1 du
ln u = ∫ cos sec u.du = − cot g u + c
2
9) 9)
dx u dx
d 1 du
10)
dx
log a u =
u. ln a dx
10) ∫ sec u .tg u.du = sec u + c
d du
11)
dx
sen u = cos u
dx
11) ∫ cos sec u. cot g u.du = − cos sec u + c
d du
12)
dx
cos u.du = − sen u
dx
12) ∫ tg u.du = − ln cos u + c = ln sec u + c
d du
13)
dx
tg u = sec 2 u
dx
13) ∫ cot g u.du = ln sen u + c
d du
14)
dx
cot g u = − cos sec 2 u
dx
14) ∫ sec u.du = ln sec u + tg u + c
d du
15)
dx
sec u = sec u .tg u
dx
15) ∫ cos sec u.du = ln cos sec u − cot g u + c
d du 1 u
16)
dx
cos sec u = − cos sec u . cot g u
dx
16) ∫a2 − u2
du = arc sen
a
+c

d 1 du 1 1 u
17) arc sen u = 17) ∫ 2 du = arc tg + c
dx 1− u2 dx a +u 2
a a
d −1 du 1 1 u
18) arc cos u = 18) ∫ du = arc sec + c
dx 1− u2 dx u. u − a
2 2 a a
d 1 du 1 1 u+a
19)
dx
arc tg u =
1 + u 2 dx
19) ∫a 2
−u 2
du = ln
2.a u − a
+c

d 1 du 1
20)
dx
arc sec u =
u. u − 1 dx
2
20) ∫ u −a
2 2
du = ln u + u 2 − a 2 + c

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Sistemas de Unidades
Força da
Sistemas de Comprimento Massa Tempo Força Gravidade
unidades (g)
2
C.G.S. centímetro , cm grama, g segundo, s dina, dyn 980 cm/s
2
M.K.S. metro, m quilograma, kg segundo, s newton, N 9,8 m/s
2
Engenharia (inglês) Foot, ft slug segundo, s pound, lb 32 pés/s
1 ft = 30,480 cm = 0,3048 m
1 slug = 14.594 g = 14,594 kg
1 lb = 444.822 dyn = 4,44822 N
1 galão = 3,7854 litros.

.......................................................

Sobre Equações Diferenciais de Variáveis Separáveis

Seja uma equação diferencial escrita na forma de derivada como, = . .

Reescrevendo tem-se − + × = 0.

Fazendo − = , = ′ e substituindo vem,

+ × =0.

Lembrando que × = (regra da cadeia), obtém-se,

[ + ]=0

e para que esta derivada seja igual a zero,


+ =
que é a solução geral da equação diferencial de variáveis separáveis

= . ou − + × =0

Assim, na prática para se encontrar a solução geral desta equação diferencial,


1
basta encontrar as antiderivadas das funções =− e ′ = , se
existirem, ou seja,
1
= . =− . e = . = . .

.....................................................................

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Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Outra demonstração

Seja uma equação diferencial escrita na forma de derivada como, = . .

Isolando , tem-se × = e, fazendo = , obtém-se

× = .
Supondo que a função = representa uma solução da equação diferencial,
derivando-a em relação a e, substituindo vem, . = .
Integrando ambos os membros em relação a , obtém-se
!. . = .

Mas, . = e, portanto, . = . ou
1
. = .

Assim, se ambas as funções, e forem contínuas e integráveis em


um mesmo intervalo, obtém-se, + 1= + 2, cuja solução geral é
= + , onde = 2 − 1 (uma constante arbitrária essencial).

..............................................................

105
Introdução às Equações Diferenciais – Um roteiro para estudos
Provenzano, Luiz Fernando

Bibliografia

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KREYSZIG, Erwin. Matemática Superior, Vol. 1 e 3, Livros Técnicos e Científicos
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.................................................................

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