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Lucas Ramyro Gomes de Brito1

À guisa de introdução

O interesse em realizar a pesquisa sobre as Frentes de Emergência de Combate à


Seca no Piauí surgiu após conversas com a professora Clarice Santiago, que sugeriu a
temática, pois seu pai havia trabalhado nas frentes de serviços de açudagem pelo
Departamento de Obras Contras as Secas (Dnocs), na década de 1980. Entre uma
conversa e outra, a professora comentou sobre a separação entre homens e mulheres nos
espaços das obras (onde não atuariam juntamente), a ocorrência de brigas nos campos de
trabalho, conflitos pelo atraso salarial e saques ao comércio. Então, iniciou-se o
levantamento bibliográfico que tratasse da temática e visitas ao Arquivo Público do Piauí
em busca de jornais do período e o contexto da seca.

Além de revisão de parte da literatura existente sobre as secas, a análise se deu a


partir de levantamento do material jornalístico referente ao período da seca de 1979-1983,
com ênfase no noticiário referente ao Programa de Emergência e aos movimentos dos
flagelados dentro do Estado. As fontes hemerográficas foram pesquisadas no Arquivo
Público do Piauí, com destaque para o jornal O DIA. Outros dados foram levantados

1
Pós-graduando em História Sociocultural pela Faculdade do Médio Parnaíba (Famep) e Licenciado em
História pela Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Teresina – Piauí, e-mail: lucasrgb95@gmail.com.
através de pesquisa de relatórios do Dnocs, da Sudene e da CPT, em seus respectivos
acervos, sobre as frentes de obras e planos de emergência, bem como entrevistas com
trabalhadores das frentes de serviço e com aqueles que puderam vivenciar aquela seca.

Uma das primeiras notícias encontradas se intitulava “Centenas de piauienses


abandonam o sertão”, por causa da seca, e destacava, dentre várias, as cidades de
Fronteiras, São João do Piauí, Aroazes e Anísio de Abreu. Os prefeitos de Fronteiras e
Anísio de Abreu, em novembro de 1978, já haviam tido uma reunião com o governador
Djalma Martins Veloso, quando a situação da falta de chuva já estava grave, pedindo uma
solução para o abastecimento da população. Este, por sua vez, encaminhou as solicitações
à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que até a data não havia
se pronunciado. Os prefeitos consideram a situação desesperadora, pois o êxodo rural
seria grande, e defendem a criação de frentes de serviço para prender o homem a terra (O
DIA, 1979, ano 27, nº. 6065, p. 04).

Em três anos subsequentes repete-se o mesmo drama nos municípios


piauienses, contudo a situação é resolvida parcialmente de maneira a
evitar a grande migração e o êxodo rural através da criação de frentes
de serviço, tendo por objetivo oferecer mão de obra aos trabalhadores
braçais (O DIA, 1979, ano 27, nº 6067, p. 09).

Como nos anos anteriores, em 1979, os prefeitos além de pedir frentes de obra,
reivindicam carros-pipa. No final de 1978, foram entregues carros-pipa para os prefeitos
de Jaicós, Simões e Valença, porém, “agora a grita maior é pela criação de frentes de
serviço, vez que os lavradores nada esperam, em termos de produção agrícola”. Assim,
as obras seriam o meio de garantir o sustento das famílias. Porém, ronda também nas
páginas do noticiário que os flagelados ameaçam abandonar as frentes de serviço,
deixando de trabalhar pela falta de pagamento (O DIA, 1979, ano 27, nº 7088, p. 04). Ao
mesmo tempo, ainda se noticia que os flagelados ameaçam fazer saque ao comércio em
Fronteiras - Piauí.

Para o prefeito de Fronteiras Sr. Pedro Sobreira que se encontra em


Teresina solicitando das autoridades a adoção de medidas de combate
à seca em seu município, caso a situação se agrave poderá ocorrer
saqueamentos à residências e até mesmo as feiras livres que se realizam
todos os sábados em sua cidade, onde não só agricultores, mas também
camelôs, comercializam os seus produtos em praça pública. No entanto
disse, ‘os segundos estão sendo ameaçados pelos primeiros’ (O DIA,
1979, ano 27, nº 7006, p. 03).

2
Segundo Espedita Araújo, 60 anos de idade, ex-agente da Comissão Pastoral da
Terra (CPT), as políticas de assistências não eram direcionadas objetivamente para
regiões isoladas, mas para o Nordeste como um todo.

O Maranhão é um caso muito específico dentro da questão de seca.


Porque o Maranhão [...] sempre foi considerado um Estado [...] para o
governo, ainda hoje, o Maranhão é Nordeste igual os outros estados, se
vinha frente de serviço pra aqui, vinha para o Maranhão também [...].
Para o governo, com certeza, tudo que vinha pra cá ia pra lá [...]. O
Maranhão entra sempre para as campanhas normais do Nordeste [...] as
campanhas fortes, tipo, as emergências, essas coisas; eu nunca ouvi
falar que vinha diferente não. [...] Se vinha distribuição de feijão preto,
[era] distribuído para todo o Nordeste. Se vinha distribuição de frentes
de serviço era pra todo mundo. Mas eles [maranhenses] com as
especificidades deles, com mais facilidades de água, com mais chuva,
com mais vegetação [...].

Também corroborado pela Dona Espedita Araújo que não havia uma concentração
restrita das ameaças de saques ao comércio apenas nas áreas da seca propriamente dita,
mas que tais consequências seriam sentidas inclusive nas cidades grandes, onde a
população de retirantes2 buscava refúgio e sofria cada vez mais de fome, chegando a
medidas extremas para garantir a sobrevivência:

Essa questão dos ataques [saques ao comércio] era mais questão das
cidades maiores, porque nas cidades pequenas podia deixar a bodega
aberta [...] o pessoal dizia que era descendência de Lampião [...] lembro
que o pessoal comentava [...]. A seca poderia até contribuir, pela
necessidade, até porque quem fazia mais essa prática eram as pessoas
da cidade, principalmente cidades que estavam se inchando, porque no
campo as pessoas não tinham condição de plantar mais, a cada dia a
concentração ia ficando mais forte [...]. A concentração de terra estava
mais forte [...] todo esse quadro [...] obrigava as pessoas, muitas vezes,
muitos das periferias nas cidades grandes, no caso que praticavam
saques nas cidades maiores [...]. Pegavam armazéns [...], não eram
saques de lojas de móveis [...] era fome mesmo [...] os saques mais
comuns eram nos armazéns [...]

Desse modo, este artigo se volta a se destacar as frentes de emergência, bem como
o cotidiano desses trabalhadores nos espaços de obras de combate aos efeitos das secas,
sendo esse conjunto compreendido como “formas históricas de ação empreendidas pelo
Estado e pelas populações rurais nordestinas para garantir alimento e trabalho nos

2
Ao tratar do tema Inchaço Urbano, Zózimo Tavares diz que “Os contingentes populacionais que se
deslocaram para Teresina eram, em sua maioria fugitivos da seca [...] e o período de estiagem prolongada,
entre 79 e 83, reforçou o fluxo migratório. (TAVARES, 2000, p. 103-104).

3
períodos de estiagem (FAUSTO NETO, 1985. p. 4-5)”. Enquanto as ameaças de saques
significam formas de denúncias e são fundamentalmente manifestadoras de tensões
sociais, as Frentes expressam formas de controle e de ‘abafamento’ dessas mesmas
contradições e tensões entre a população de trabalhadores submetidos a precárias
condições de alimentação, trabalho e vida.

Ao tempo que se fazia a pesquisa bibliográfica, mais vontade se tinha de pesquisar


sobre a temática, até mesmo pela escassez de textos retratando o espaço piauiense nesse
panorama, e, como nos diz Marco Antonio Villa:

[...] Aparentemente, a história das secas é um assunto encerrado,


esgotado. A seca teria ficado restrita à literatura dos anos 30 e 40, ao
Cinema Novo, à música de Luiz Gonzaga, portanto, ao passado cada
vez mais longínquo. [...] o tema é absolutamente contemporâneo e ainda
não foi suficientemente explorado. Muito ainda está para ser feito no
campo da história regional, do estudo das classes sociais, das políticas
públicas, dos movimentos de resistência popular, das manifestações
culturais, entre outras questões relacionadas à seca (VILLA, 2000, p.
14, grifos nossos).

Como se percebe, ainda falta muito para se falar sobre a temática da seca,
principalmente se tratando do território piauiense. Na historiografia local, além de poucas
produções e discussões, são limitadas, pois focam em apenas alguns aspectos, como o
fator econômico, por exemplo. A maioria das análises também se volta para o final do
século XIX e primeira metade do século XX. A obra de maior impacto é Seca Seculorum,
de Domingos Neto (1987) que constitui um marco na literatura piauiense, sendo a
primeira obra de caráter histórico objetivando explicar o fenômeno da seca no Piauí e
entende o fenômeno como resultado de uma série de fatores, destacando as questões de
ordem social e política, antes da questão climática.

Compreender as consequências que a seca reflete na vida da população é algo que


ainda se faz necessário, haja vista todo o emaranhado de relações que a envolve, seja
cultural, política, econômica ou social. Além disso, percebe-se que nada mudou em
aproximadamente dois séculos de flagelo, sendo o clima de instabilidade e sofrimento do
piauiense os mesmos. Logo, este trabalho apresenta uma maneira de falar da seca dentro
das fronteiras piauienses, tendo em vista que os trabalhos existentes enfocam em
características, por exemplo, econômicas, e aqui se foca em campos específicos, a
exemplo dos espaços de trabalho e das consequências da fome sobre a população
flagelada, o cenário social.

4
Na pesquisa, situamos como recorte espacial todo o território piauiense, haja vista
que tanto as Frentes de Emergência de Combate à Seca quanto o movimento da multidão
de flagelados não estão circunscritos num cenário estático, mas em várias regiões e
lugares. Ao estabelecer um recorte temporal para a pesquisa, vimos que entre os anos
1979 e 1983 o momento de seca foi constante e o maior em duração. Estes cinco anos de
seca ainda possibilita que se utilize da metodologia da história oral, bem como a consulta
de material jornalístico do período.

Assim, será analisando as dores, os traumas e as emoções de quem vivenciou o


período ora em pesquisa, o que marcará o cerne deste estudo. Através dessas lembranças,
dessas rememorações, dos momentos tão difíceis de quem sobreviveu à época tão
calamitosa. Pretendemos, com isso, para alargar a discussão da seca dentro das fronteiras
piauienses, trabalhar com a categoria trabalhadores e os conflitos que eles estão
envolvidos, fundamentando-se nas leituras de E. P. Thompson (1998) e Scott (2002) para
análise do cotidiano das frentes e as ações das populações flageladas, quando fica
evidente que a ação das “avalanches das multidões” acontecia na busca por trabalho
“motivada pela fome”. Além disso, os homens do campo se constituem, não somente
como camponeses, mas também como sujeitos sociais que criam e recriam, pelas
experiências, a sobrevivência.

O cotidiano nas frentes

No que tange a investigação sobre o dia a dia e organização dos trabalhadores nas
frentes de serviço, a metodologia utilizada foi a da História Oral. Para tanto, realizamos
entrevistas com ex-trabalhadores das frentes de emergências, logo, o uso das fontes orais
nos possibilitou compreender as formas de pensar e as ações dos sujeitos no contexto
abordado. Em particular, a subjetividade captada nesse tipo de fonte desvela a condição
humana dos sujeitos, além disso, o diálogo e confronto com outros tipos de fontes permite
ao pesquisador uma visão mais ampla dos acontecimentos.

Assim, em conjunturas diferentes da história, os homens constroem análises e


representações específicas sobre o acontecido e sobre o vivido (DELGADO, 2010. p. 09).
De acordo com a autora citada, não se trata de relativismo, mas sim de manifestações
cognitivas inseridas na realidade do tempo presente de cada uma dessas pessoas.

Entrevistamos Maria Pereira do Nascimento Silva, 69 anos, ex-lavradora,


município de Angical do Piauí. Ela e o esposo, João Alves da Silva, de 68 anos na data

5
da entrevista, também ex-lavrador, trabalharam na construção de açudes, dentre outras
atividades, financiadas à Fundo Perdido3, durante a realização das obras do Programa de
Emergência de Combate à Seca. Dona Maria Pereira é bastante espontânea nos seus
comentários e começa a entrevista dizendo:

Olha! O negócio era assim: eu trabalhava aqui e o meu esposo


trabalhava em outra parte, de outro Fundo Perdido, então eu saia de
manhã pra fazer o cafezinho, o leite, às vezes eu fazia até o chá, fazia
da rapinha de suca pra levar, e fazia o que... pudim, bolo-frito e cuscuz.
Eu chegava lá na barraca, que tinha uma barraca, eles fizeram uma
barracona pra mode eu ficar dentro, pra fazer o lanche, pra meio-dia
despachar o povo, meio-dia não, era 10h. Dar o lanche o povo. Quando
eu terminava de dar o lanche, eu ajuntava os trem tudo e ia ajudar a
pegar o balde de lama e botar fora, eles cavando o cacimbão e nós ia
ajudando esgotar e pegando os baldinhos e botando lá fora.

O relato de Dona Maria Pereira indica uma clara divisão do trabalho. Sua fala está
situada ainda antes mesmo de ela ser alistada nos trabalhos das frentes de serviço. Ela,
procurando meios de sustentar a família, pois a lavoura nada produzia, por conta própria
passou a vender lanches no campo de obras. O pagamento ela recebia dos próprios
trabalhadores, no final do mês, quando eles também recebiam o salário das frentes. Isso
evidencia as estratégias de sobrevivência da família rural, que se organizava em torno das
frentes para manter o sustento da prole.

O senhor Raimundo Pereira do Nascimento, de 60 anos de idade, irmão de dona


Maria Pereira, também ex-lavrador angicalense, nos conta que o alistamento se dava,
naquela região, através do Exército Brasileiro, mais especificamente pelo Batalhão de
Engenharia de Caçadores (BEC). “O BEC chegava lá na turma, lá no órgão de trabalho,
aí fazia a ficha de cada um cliente, naquele momento que fazia a ficha já estava
cadastrado, aí no próximo dia já ia trabalhar”, afirma Raimundo Pereira. Ele ainda
destacou que a informação foi da cidade para a zona rural, local onde residiam, e quem
fosse trabalhador rural deveria ir se alistar.

Já na cidade de Beneditinos, Raimundo Fernandes de Lima Neto, de 57 anos e


conhecido na região como Raimundo Macambira, trabalhou nas frentes de serviço e nos
contou que por aquele município o alistamento ficava por responsabilidade do Dnocs.

E aí, quando chegou 1982, meados já de 1982, chegou o alistamento,


pelo Dnocs, convocando os trabalhadores rurais que estavam com

3
Recurso disponibilizado sem perspectiva de reembolso.

6
dificuldades, para se cadastrar nesse programa do governo, que tinha na
época. Chamavam de Dnocs, outros até brincavam, chamavam de
Magnu, que o cabra entrava magro e saía nu (risos). Então, foi pelo ano
de 1982, 1983, até o começo 1984 que foi quando o inverno voltou de
novo.

Existia uma expectativa da população em torno das possibilidades de trabalho nas


frentes de serviço, uma organização a partir do acesso a esse trabalho e uma organização
do seio da família em torno deste. Ainda de acordo com Raimundo Fernandes, as
principais obras realizadas se davam na reconstrução e melhoria de estradas, perfuração
de poço cacimbão, além disso, os maiores projetos se destacaram na construção de
barragens e açudes. Obras poderiam ser realizadas em propriedades particulares desde
que o fruto daquele investimento pudesse servir à população vizinha.

E o serviço era consertar estrada, melhoria de estrada, perfurar poço-


cacimbão, que as águas eram difíceis, não tinha. O maior projeto, o
plano do projeto era fazer açudes, pequenos açudes, escavação de
pequenos açudes, para quando viesse chuva garantisse maior segurança
para aquelas pessoas que tinha dificuldades de viver naquela situação.
Faziam barragens em setores mais próprios de ajuntar água, e a vida era
desse jeito, a época foi uma dificuldade para quem não tinha condições
de sobreviver de outra maneira. O jeito era se alistar nesse programa de
governo, e feliz era aquele ainda que se alistasse. Porque não tinha mais
outro apelo.

É importante destacar a fala bem elaborada do senhor Raimundo Fernandes.


Primeiro, por uma questão metodológica, que por antecedência foi avisado da entrevista
e pode se preparar. Já os entrevistados da cidade de Angical do Piauí não tiveram esse
tempo de espera e marcação de entrevista, haja vista que foi uma coleta de campo sem
aviso prévio. Percebemos também a diferença de letramento em relação aos angicalenses,
pois o senhor Raimundo Fernandes apresenta um discurso organizado, coeso e coerente,
com mais propriedade no que estava dizendo.

Raimundo Fernandes, 57 anos, disse não ter certeza quanto ao valor exato do
pagamento, mas arrisca estipular uma faixa de 15 mil cruzeiros (moeda corrente na época)
por mês. Na região que ele trabalhou, a partir da metade do programa, passaram a receber
também alimentos, no caso, apenas feijão, “agora em algumas regiões até saía cesta
completa, o café, o açúcar também, mas aqui não saiu. Aqui só saiu o feijão!”. O
pagamento era realizado pelo Dnocs em datas já preestabelecidas. A dinâmica do serviço
era organizada metodicamente, como ele detalha:

7
E na frente de serviço se trabalhava, se juntava depois do alistamento,
fazia uma reunião, eram as turmas de 20 homens até 25 homens, outras
com 15. Aí se escolhia um cabo de turma, entre aqueles ali, os
trabalhadores mesmo escolhiam um que achavam melhor, aquela
pessoa era o apontador. Apontava, marcava as diárias dos trabalhadores
e era quem comandava mais o serviço, era aquele cabo de turma. Era
quem apontava as diárias dos trabalhadores, a gente não ia se importar
em dizer ‘eu trabalhei tantos dias’ não, o apontador estava lá, todo dia
que você estava lá ele marcava lá na cadernetazinha, na agenda ele
marcava os dias. E isso foi até meados de 1984 quando terminou.

Vimos que existe uma divisão das atividades e uma solidariedade entre os
trabalhadores, que formam estratégias para se manterem no trabalho. Há uma organização
em quantificar a totalidade de trabalhadores em um grupo, este sendo regido pela figura
de um líder eleito entre eles mesmos. E para participar do processo de seleção, teria que
apresentar testemunho que não era comerciante, proprietário ou dono de grandes criações
de animais4. O início do serviço era conturbado, consistindo no momento de maior
concentração de mão de obra para conter a “avalanche de flagelados”.

A vida desses trabalhadores também seria modificada em outro aspecto, aquele


que tange o tempo e a disciplina de trabalho, conforme nos diz o senhor Raimundo
Pereira:

Porque na roça era o seguinte, digamos que eu vou trabalhar pra mim
mesmo, eu posso chegar lá 9h. O horário de eu sair da roça no meio dia,
quem vai dizer sou eu. Eu posso sair 12h, 13h. Muitas vezes eu só quero
ir uma vez durante o dia, porque a tarde o sol é muito quente, eu só faço
um horário. Aí saio da roça 12h, 12h30min, 13h e venho pra casa fazer
o almoço. Porque num período desse que está quente não é todo ser
humano que aguente trabalhar o dia todo. [...] Chegar cedo, antes do sol
esquentar, porque se passar mal quem é que vai socorrer?

A organização do tempo e trabalho nas frentes de serviço, segundo os


entrevistados, o horário de cada espaço de trabalho variava de acordo com ajustes feitos
com os chefes encarregados, quase sempre obedecendo ao padrão médio de 8 horas
diárias, em dois turnos, manhã e tarde (com exceção das mulheres que trabalhavam
apenas no turno matutino). Podemos assim estabelecer um quadro com o tempo de
trabalho em cada localidade.

4
De acordo com a entrevista fornecida pelo senhor Raimundo Fernandes de Lima Neto.

8
Quadro – O tempo de trabalho em cada localidade / frente de serviço

LOCALIDADE DO SERVIÇO / TEMPO DIÁRIO DE


ENTREVISTADO
CIDADE SERVIÇO
De 07h às 11h e 13h às
Canto do Correio, Ladeira e Tamboril
Raimundo Fernandes de Lima Neto 17h ou em horário
/ Beneditinos
corrido de 07h às 14h.
De 07h às 11h e 13h às
Joaquim Antônio do Nascimento Cachoeira / Angical do Piauí
17h.5
Baixão do Boi, hoje Novo Horizonte / De 07h às 11h e 13h às
Raimundo Pereira do Nascimento
Angical do Piauí 17h.
Tabuleiro do Coco, hoje Novo De 07h às 11h e 13h às
João Pereira do Nascimento
Horizonte / Angical do Piauí 17h.
Inicialmente horário
corrido através de
Baixão do Coco ou Baixão do Pau
João Alves da Silva empreitada até 12h ou
D’arco / Angical do Piauí
14h. Depois de feito um
acordo, limitado até 12h.
Marcelina Pereira do Nascimento Cachoeira / Angical do Piauí De 07h às 10h.6
Localidade não especificada / Angical
Maria Pereira do Nascimento Silva De 07h às 11h.
do Piauí
Fonte: Entrevistados

Os operários assim vivenciaram uma experiência histórica que lhes foi singular.
A condição limite foi o diferencial para que múltiplas relações de trabalho fossem
estabelecidas. O local distinto de trabalho, o cotidiano e o aprendizado compõem o rico
arsenal das vivências desses indivíduos. A rotina se altera, pois o tempo de trabalho
também é modificado. Conforme Thompson (1998, p. 269), no seio das sociedades
camponesas, “a medição do tempo está comumente relacionada com os processos
familiares no ciclo de trabalho ou das tarefas domésticas”, exemplificando que na rotina
das tarefas pastorais, o relógio diário é o do gado, as horas do dia e a passagem do tempo
são basicamente a sucessão dessas tarefas e a relação mútua.

Sem dúvida, esse descaso pelo tempo do relógio só é possível numa


comunidade de pequenos agricultores e pescadores, cuja estrutura de
mercado e administração é mínima, e na qual as tarefas diárias (que
podem variar da pesca ao plantio, construção de casas, remendo das
redes, feitura dos telhados, de um berço ou de um caixão) parecem se
desenrolar, pela lógica da necessidade, diante dos olhos do pequeno
lavrador (THOMPSON, 1998, p. 271).

5
Depois o encarregado do serviço aumentou mais 30 minutos, os trabalhadores saindo apenas às 17h30min.
Não receberam aumento salarial.
6
Saía mais cedo no turno da manhã, para cuidar nas tarefas domésticas. Não especificou se trabalhava no
turno da tarde.

9
Da mesma forma, segundo o autor, o trabalho do amanhecer até o anoitecer pode
parecer “natural” numa comunidade de agricultores, principalmente nos meses da
colheita, quando a natureza exige que os grãos sejam colhidos antes que comecem as
tempestades. Concluindo, assim, que o tempo nesses contextos é notado como orientação
pelas tarefas e/ou observando os ritmos de trabalho “naturais”.

Já nos campos de obras, o controle do tempo se relaciona estritamente à disciplina


de trabalho. O senhor Joaquim Antônio do Nascimento, de 72 anos, ex-lavrador
angicalense, nos conta que ao trabalhar nas frentes de serviço da localidade Cachoeira,
inicialmente em dois turnos, das 07h às 11h e 13h às 17h, observou um princípio de
motim. A razão seria porque o Cabo, responsável da obra, aumentou o tempo de serviço
até as 17h30min, passando assim a trabalhar mais trinta minutos sem aumento salarial ou
pagamento de hora extra. O senhor Joaquim Nascimento relata:

Teve um dia que o Cabo chegou e disse: “Olha, a partir do final da


semana nós vamos trabalhar até cinco e meia [17h30min]”. Quando
começamos na segunda-feira, no começo da semana que ele falou pra
aumentar as horas, um dos que estava mais nós falou: “Eu mesmo que
não vou trabalhar até cinco e meia, eu não sou nem filho de uma égua”.
Quando foi na segunda-feira mesmo, quatro horas da tarde, chegou só
um soldado e disse: “Olha, Chico Pinto (que era o apontador), você é
até cinco e meia”. E ele disse “tá bom!”. [...] Aí eu disse para o cara que
ia falar com o Cabo: “Rapaz, tu disse que ia falar pro Cabo, o Cabo não
veio, veio foi o soldado, o soldado é homem como nós e tu não falou
por quê?” [...] Nesse dia teve confusão! Um companheiro meu disse:
“se ele baixar o facão, eu derrubo ele com a chibata!”.

Observa-se que os operários viviam sob pesada disciplina, esfomeados e


enfraquecidos, trabalhando com a picareta debaixo de um sol causticante, além da
supervisão dos cabos e soldados do exército. Quem descumprisse as regras poderia ter
desconto no salário, através de supressão do registro do ponto de presença, ou perder o
serviço de uma vez por todas. Como é colocado por Thompson (1998, p. 297), que por
meio de tudo isso – pela divisão de trabalho, supervisão do trabalho, multas, incentivos
em dinheiro, supressão – formou-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova
disciplina de tempo.

Entretanto, é possível perceber aquilo que James Scott chama de estratégias


silenciosas de resistência cotidianas do campesinato. O próprio Joaquim Nascimento
admite em sua fala: “Se aumentasse a meia hora, tinha que aumentar o ordenado da
pessoa! Quem trabalha em firma, a hora extra é outra, é o dobro. E lá não teve! Se teve,

10
o cabo foi quem comeu! [...] Mas essa meia hora podia levar de qualquer maneira, 30
minutos você leva até conversando, né?”. Para Scott (2002), essas estratégias de
resistência são testadas no cotidiano das relações de poder em que estão envolvidos,
ligadas por um senso de justiça. Os trabalhadores se considerando demasiadamente
explorados no serviço passam a fazer corpo-mole no campo de obra, através da enrolação.

Desse modo, nota-se que o quanto podia ser rigoroso o sistema de trabalho
vivenciado pelos operários nas obras e construções de combate as secas. O dia a dia
pautado pela hierarquia, divisão do trabalho, horário rígido, nova lógica temporal (quando
comparada com o tempo de trabalho no roçado) e uma sociedade que se prende nos
valores da moral, bons costumes, ordem e disciplina.

Conclusão

O Programa de Emergência de Combate à Seca estava intrinsecamente ligado à


criação de frentes de serviços. Estas tiveram como justificativa a oferta imediata de
emprego, na situação de calamidade. Surgiram para deter a tendência aos deslocamentos,
alternativa clássica dos trabalhadores em busca de sobrevivência. A retenção dessa mão
de obra interessou, sobretudo, aos proprietários de terra que, durante a crise, tinham
assegurada a força de trabalho para as benfeitorias e aos governantes locais, que se
beneficiavam politicamente.

Consequentemente, os mais afetados em todo esse quadro foram os camponeses,


visto que as medidas tomadas foram apenas paliativas, de maneira a amenizar o problema
momentaneamente, garantindo a subsistência da população que sofria com os efeitos da
estiagem. População esta que se viu obrigada a migrar, em busca de melhores condições
de vida, ou perecer esperando dias melhores.

A seca está para além de um fenômeno climático, devendo se considerar que a


esteira de consequências alenta interesses econômicos múltiplos que não estão
circunscritos apenas à região flagelada. A fome e a seca, assim, compõem um quadro
estrutural. A seca provoca a fome generalizada que leva os sertanejos a movimentarem-
se em busca de alimentos e que, famintos, passam a tomar atitudes desesperadas. E as
frentes de serviço proporcionavam uma expectativa da população em torno das
possibilidades de trabalho, uma organização a partir do acesso à esse trabalho e uma
organização do seio da família em torno deste. Vimos ainda que existe uma clara divisão
das atividades e uma solidariedade entre os trabalhadores, que formam estratégias para se

11
manterem no trabalho. A vida desses trabalhadores também seria modificada em outro
aspecto, aquele que tange o tempo e a disciplina de trabalho.

Os operários, portanto, vivenciaram uma experiência histórica que lhes foi


singular. A condição limite foi o diferencial para que múltiplas relações de trabalho
fossem estabelecidas. O local distinto de trabalho, o cotidiano e o aprendizado compõem
o rico arsenal das vivências desses indivíduos. A teia tramada logo envolveu as mais
variadas esferas, tanto aquelas no meio religioso e cultural, quanto às esferas sociais,
econômicas e políticas.

Referências

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