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UM DOSSIÊ PARTICIPATIVO
SOBRE A PESCA TRADICIONAL
EM ITAMARACÁ
Currais da Ilha: UM DOSSIÊ PARTICIPATIVO SOBRE A PESCA TRADICIONAL EM ITAMARACÁ 1
Ficha Técnica
PROJETO CAMBOAS TUPI: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
SOBRE AS ATIVIDADES DE PESCA TRADICIONAL EM GOIANA E ITAMARACÁ.
Coordenação Geral | Debora Herszenhut
Coordenação Pedagógica | Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Facilitador do curso | Mario Wiedemann
Assistente Pedagógica | Ana Cláudia Bastos
Produtora Executiva | Debora Herszenhut
Produtor de Campo | Guimarães Silva
Assistente Administrativo | Maiara Lira
Organização do Dossiê | Debora Herszenhut e Mario Wiedemann
Revisão de Texto | Pérola Mathias
Projeto Gráfico e Diagramação | Refinaria Design
GOVERNADOR DE PERNAMBUCO
Paulo Câmara
VICE-GOVERNADOR
Raul Henry
SECRETARIA DE CULTURA
Secretário de Cultura | Marcelino Granja
Secretária Executiva | Silvana Meireles
Chefe de Gabinete |Severino Pessoa
Olinda, 2017
3
Herszenhut, D.F. & Wiedemann, M. et al.
Currais da Ilha: Um dossiê participativo sobre a pesca tradicional em Itamaracá – 2017.
58 f.
Projeto: Camboas Tupy: Educação Patrimonial sobre a pesca tradicional em Goiana
e Itamatacá.
1. Ilha de Itamaracá- Pernambuco – Dossiê. I. Patrimônio Cultural. II. Patrimônio
Imaterial. III. Inventário Cultural. IV. Projeto Camboas Tupy. V. Titulo.
2. Introdução................................................................................................................................11
2.1. UM BREVE HISTÓRICO DA PRÉ-HISTÓRIA DAS SOCIEDADES COSTEIRAS DO BRASIL................................... 12
2.2. CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL............................................................................................................... 13
2.3. CARACTERIZAÇÃO DA PAISAGEM: VEGETAÇÃO, CLIMA E GEOMORFOLOGIA................................................. 15
5. Avaliação e Recomendações...................................................................................................37
5.1. RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................................................... 37
5.1. AVALIAÇÕES .................................................................................................................................................... 38
Com o objetivo de realizar ações de educação patrimonial para professores e gestores públi-
cos sobre as atividades da pesca tradicional, o projeto “Camboas Tupi: Educação patrimonial
sobre as atividades de pesca tradicional em Goiana e Itamaracá” patrocinado pela Secretaria de
Cultura do Estado de Pernambuco, através do FUNCULTURA, com o apoio da Secretaria de Educa-
ção do município de Itamaracá, entre os meses de Maio e Setembro de 2017, capacitou 34 profes-
sores da rede municipal de Itamaracá atuantes nas escolas do campo.
Vista como uma ação de vinculação social às ações de preservação de bens culturais, a Educação
Patrimonial amplia o acesso ao conhecimento científico ao levá-lo às esferas públicas. E deve
ser compreendida como um processo dialógico de formação de largo alcance, aproximando os
diferentes atores sociais envolvidos nos processos de preservação e identificação de patrimônios
culturais. A Educação construída por meio das ações de preservação patrimonial nos permite
estimular as percepções e o envolvimento da comunidade com sua cultura tradicional, enraizar
as noções de pertencimento e promover, por meio de processos de construção participativa, o
engajamento coletivo nas transformações do território.
Este dossiê participativo sobre a pesca tradicional no município de Itamaracá foi elaborado com
base no curso de formação que teve duração de 60 horas. As atividades incluíam ida a campo, pa-
lestras e exibição de filmes. O objetivo principal foi o de ressaltar a importância da pesca artesa-
nal enquanto patrimônio cultural da Ilha, antigo hábito que revela muitos dados sobre a história
e a pré-história do estado de Pernambuco, apontando igualmente para a construção e elabora-
ção da identidade cultural dos habitantes desta região através do tempo.
1 As denominações regionais de artefatos, locais, espécies de peixe e técnicas de pesca aparecerão em itálico ao lon-
go do texto e podem ser consultados seus significados no ítem 6 destes documento: Glossário da pesca artesanal
de Itamaracá.
Apesar de serem escassos os dados arqueológicos sobre ocupações pré-históricas mais antigas
neste território em pesquisa, há indícios (ETCHEVERNE, 2000; BARTHEL, 2007; SILVA, 2009) de que
as primeiras ocupações identificadas eram de sociedades de caçadores-coletores-pescadores
habitantes dos estuários e rios, produtores de ferramentas líticas. Sociedades que viveram por
muitos séculos tendo como base os recursos extraídos da mata, do mar e dos rios. Estas socieda-
des de pescadores e coletores, que ao longo de um período ainda incerto (séculos, décadas ou
mesmo milênios) de contato com outros grupos vindos de diferentes caminhos (provavelmente
do interior), incorporaram novas tecnologias às suas dinâmicas culturais.
3 Título do Livro Organizado por Rosane Manhães Prado que versa sobre contextos socioculturais da Ilha Grande,
litoral norte do Estado do Rio de Janeiro.
4 Em toda a costa nordeste do Brasil, coincidente com áreas de ocupação tupi, segundo Neves & Araújo (2015), pode-
-se observar a pesca de currais e demais técnicas que também podem ser atribuídas a uma prática, tecnologia ou
técnica herdada das culturas que ali viveram. (Colonese El all, 2015; Paiva & Nomura, 1975; Maneschy, 1993; Piorski,
2009; Araújo, 2012; Gomes et all, 2012; Fiddellis, 2013; Lucena et all, 2013, Nascimento, 2014; TAMAR, 2013; Mai et all,
2012, 2012; Tavares et all, 2005; entre outros ).
5 A Vila Velha dos Holandeses é considerada um sítio arqueológico registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueo-
lógicos-CNSA (PE00671) e Existe na Ilha de Itamaracá e no atual município de Itapissuma, que integravam neste
contexto, outros sítios arqueológicos.
7 http://www.dnpm-pe.gov.br/Sint_PE/SintesePE_03.htm
Vista da Igreja matriz de Vila Velha sob elevação típica da formação barreiras, com detalhe
dos Depósitos Flúvio-marinhos, formando pequenas praias na maré baixa.
A temperatura em Itamaracá é amena, com períodos de intensas chuvas no inverno (de maio a
setembro). Neste período a maré altera-se devido ao regime dos ventos e das águas (tempo dos
ventos e de mar virado), influenciando diretamente na atividade de pesca de currais e em outras
atividades de pesca como será apresentado mais adiante. O verão é quente, mas sempre venta
um pouco.
9 http://www.dnpm-pe.gov.br/Sint_PE/Figuras/SGP_Fig09.pdf
O “modo de fazer” da pesca nos currais em toda sua complexa cadeia operatória é o ponto de par-
tida deste inventário. Este belíssimo super artefato revela um conhecimento ancestral profundo
sobre a natureza. Sua existência espaço-temporal limitada e sazonal é um importante elemento
de análise. Todos os anos, neste local, a maré muda de comportamento, fica mais alta e provoca,
durante o inverno, a destruição dos currais de pesca. Este dado torna evidente o fato de que a
existência atual desta atividade está intimamente ligada ao conhecimento transmitido através
da prática por gerações e gerações. Conhecimento este que, periodicamente, se renova nas águas
do mar e está materializado neste monumental e complexo artefato de pesca, que revela uma
relação íntima e profunda sobre o manejo do mar e dos peixes.
3.1. Os currais
Idealizado mentalmente, os currais de pesca se materializam enquanto artefato, enquanto obje-
to, pelas mãos de seu criador: o pescador. Daí começa sua instalação estrategicamente pensada.
A escolha e definição do lugar onde é implantado um curral é parte deste conhecimento, fruto de
uma herança cultural10 e do conhecimento ancestral.
Reconhecidos pelos pescadores como uma herança indígena, o curral é um artefato de pesca
construído com cerca de 300 mourões e barrotes de madeira, naylon e telas de plástico. Em geral,
estão implantados a cerca de 2,5 a 3 quilômetros da linha de maré da praia. O dono do curral
pode ser ou não ser um pescador.
10 “Herança cultural” é um conceito amplamente debatido pela Antropologia e áreas afins, mas, aqui, trata de um
sentido que está vinculado a etimologia da palavra herança, que deriva do latin Heres. Para ser transmitido um
conhecimento, tendo em vista sua natureza, deve-se apreender todos os passos, aprender a ver o peixe, conhecer a
maré, reconhecer a madeira e manufaturar o artefato, portanto, herdar o conhecimento, na prática, da técnica de
toda a cadeia operatória de um “saber” que foi transmitida por outrem.
Os currais da Ilha de Itamaracá tem formato de 3 corações, com um coração menor dentro de um
outro maior, seguidos de uma espia, que pode ter até 500 metros de comprimento. A espia conduz
o peixe para esses corações, chamados de sala, onde o peixe fica preso.
A estrutura começa a ser construída na praia (na caiçara). Depois de todo material separado,
avança-se na maré baixa com a embarcação até o ponto escolhido da crôa e inicia-se a monta-
gem. Usa-se um ferro para perfurar e fincar as estacas. A jacumã dá sustentação para que o pes-
cador utilize uma marreta para cravar o mourão e estender o malho.
A pesca de currais tem seus estágios e etapas definidas pelo fluxo das marés e das estações do ano,
que nesta região do país têm essencialmente duas estações bem marcadas, o inverno chuvoso e o
verão de seca. Durante o inverno, entre maio e agosto, os currais são desmontados parcialmente
ou integralmente pelo pescador e sua equipe. Passado o inverno (período de chuvas), os currais
são remontados. Depois de construídos e instalados, os currais funcionam como mananciais de
pesca. E durante este período, que ocorre entre os meses de setembro e abril, o curral deve ser
visitado, manejado, retificado (consertado) e despescado diariamente, incorrendo em prejuízos
para o pescador caso não seja feito. O despesque é feito na maré baixa, quando é possível o aces-
so ao interior da armadilha. Munidos de redes e/ou puças, os peixes e crustáceos confinados nas
salas, são retirados. Os principais peixes capturados nos currais desta região são: Xaréu, Xicharro,
Manjuba, Guarajuba, Xarelete, Sardinha, entre outros.
Antigamente utilizava-se madeira da mata nativa e cipós para a construção dos currais. Atual-
mente, não é permitido utilizar este material retirado da mata e do mangue devido a restrições
11 As áreas que são as fontes de matéria-prima construtiva dos currais, quando não estão em propriedades particula-
res, estão em Áreas de Proteção Permanente- APP, a saber as áreas de mangue, encostas, margens de rios, riachos,
topos de morros. Essa extensa legislação pode ser observada em: http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/
E72A2846/DispositivosLegaisAPP.pdf
Artefatos de pesca como o samburá são tradicionais, persistindo e existindo há muitos séculos
para colocar o peixe, resultado da pesca.
12 Parte do casco que fica submersa, abaixo da linha d’água, é necessária para estabilização da embarcação, inexisten-
te na jangada.
13 Quando se faz a retirada do pescado dos currais.
Pescadores jogam dominó ao pé da árvore que historicamente serve de encontro para os pescadores de Itamaracá,
local onde hoje está sediada a colônia de pescadores Z11.
Neste local foi construída, em 1950, a primeira sede da colônia de pescadores com o apoio da
prefeitura local. Era uma construção de madeira, coberta de palha de coqueiro, como uma típica
caiçara. Com o desenvolvimento do município e com as mudanças ocorridas por essa moderniza-
ção, foram sendo feitas melhorias significativas no prédio, que deixou de ser de madeira e passou
a ser de alvenaria.
Em 2010 foi construída a sede atual da colônia de pescadores. Segundo Murilo, a colônia foi
passando por melhorias. No ano de 2010, após um navio sonda da Petrobrás passar pelo litoral
As caiçaras são construções de madeira, cobertas com palha ou telha e/ou materiais de reaprovei-
tamento. Está, em geral, localizada à beira mar e sua função principal é guardar os instrumentos
de trabalho. Lá são guardadas as velas, o motor, as redes, esteiros e outros objetos do cotidiano
do trabalho na pesca. A construção da caiçara como local importante para a pesca acontece há
muito tempo em Itamaracá, fruto da sabedoria e força de vontade dos pescadores que se juntam
também neste momento para construir ou fazer a manutenção destes espaços de trabalho mui-
tas vezes compartilhados, criando um movimento de integração neste local.
Um dos elementos que apresentou-se evidente para o grupo que inventariou as caiçaras foi a mu-
dança nas características estruturais, modificando-se não só a partir do uso e das necessidades,
mas em função do tempo e de acordo com a disponibilidade de matéria-prima.
A buscada de São Pedro, procissão marítima da festa de São Pedro em Itamaracá, 29/06/2017
16 A nossa equipe de pesquisa acompanhou os festejos de São Pedro na Comunidade do Pilar e na comunidade de
Vila Velha dos Holandeses em Junho de 2017
17 A festa de São Pedro é uma das celebrações que envolvem o ciclo Junino (que ocorre longo do mês de junho, anual-
mente), que envolve festejos em comemoração de diversos santos católicos entre eles Santo Antonio e São Jõao.
Imagem de São Pedro enfeitado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição a espera da buscada
(Vila Velha dos Holandeses, 29/06/2017)
18 A festa de São Pedro é uma importante celebração para a colônia dos pescadores, pois é quando eles se reúnem,
enfeitam a imagem do santo que fica guardado na colônia durante o ano, levam-no enfeitado para a Vila Velha no
dia 28 de Junho e retornam com ele no dia 29 de Junho em seus barcos para a buscada do santo. Assim, retornam
ao Pilar, caminham em procissão com a imagem e a levam de volta para a colônia, onde também há uma festa de
celebração ao santo padroeiro dos pescadores.
19 As bandeiras dos santos são estandartes que ficam aos cuidados de tesoureiros ao longo de um ano. Ao final deste
ciclo, celebra-se o santo da bandeira com uma festa oferecida pelo tesoureiro que a guardou. Ter a guarda da ban-
deira é para os membros desta comunidade católica um sinônimo de sorte e prosperidade.
20 Na vila velha dos holandeses é tradicional celebrar a festa de São Pedro servindo vinho de jenipapo com pato ou
galinha cabidela ao convidados e terminar a noite com uma sambada de côco que atravessa a madrugada. São
também comidas típicas deste ciclo junino o bolo de milho, a canjica, a pamonha e o munguzá.
A produção do grande mural despertou interesse dos alunos pelo conhecimento e para a valoriza-
ção da cultura da pesca como patrimônio imaterial da Ilha de Itamaracá. Foi destacada também
a importância da preservação ambiental. O mural foi exposto em sala de aula para que os alunos,
a comunidade escolar e a família pudessem contemplar os conhecimentos e o tema abordado.
Vale ressaltar que as crianças tiveram oportunidade de conhecer a maquete de curral realizada
pelos alunos do 1º ano-A, havendo uma grande troca de saberes.
Após o término da construção coletiva da maquete, esta ficou exposta durante uma semana em
sala de aula para que pudesse ser vista por toda comunidade. Ao mesmo tempo, ocorreu uma
partilha de experiências entre os alunos do 1º e 5º ano, onde ambas as turmas fizeram um relato
oral de sua experiência.
A atividade que fiz com meus alunos foi ser repórter por um dia. O aluno deveria fazer uma entre-
vista com uma pessoa que fosse pescador. O meu objetivo foi descobrir quem são e quantos eram
os pescadores. Descobrimos que são poucos e que eles pescavam para seu próprio consumo.
Nunca sobrava pescado para que vendessem.
Roteiro de entrevista sugerida aos alunos:
a. Qual o seu nome completo?
b. Quantos anos o senhor tem?
c. Onde você mora?
d. Onde você costuma pescar? Local?
e. Quem ensinou o senhor a pescar?
f. Que tipo de peixes ou crustáceos você pesca?
g. Você usa algum transporte para pescar
h. O que você faz com o que pesca?
i. Há Quanto tempo você pesca?
j. Você pesca porque gosta ou por necessidade?
Descobrimos que a principal pescaria que envolve a comunidade escolar é a mariscagem para
consumo de subsistência. Compreendi que esta é uma atividade fundamental, pois nessa comu-
nidade não há recursos. A maioria das pessoas da comunidade está desempregada, ou tem ren-
dimento financeiro. Não sei se utilizam a pesca pelo simples fato de gostarem ou se pela necessi-
dade. Foi um exercício interessante, mas foram poucos os alunos que fizeram a atividade, porque
a pesca é praticamente inexistente na comunidade.
A nossa escola está situada na comunidade de Vila Velha onde a maioria dos moradores são pes-
cadores e seus filhos vivenciam este cotidiano, muitos seguindo o ofício dos pais. Na Vila Velha,
há muitos anos, desde os avós, temos a tradição de festejos que envolvem os pescadores, mais
em particular a Procissão Marítima de São Pedro. Trazendo esta temática para sala de aula, bus-
“A recepção dos alunos foi ótima, trabalharam belissimamente! Eles confeccionaram os barquinhos,
recortaram os bonequinhos para botar no barco, representando as pessoas. Por incrível que pareça, a gente
encontrou imagens de padre e de São Pedro e botou no barco principal, que é o barco que leva o santinho.
Eles confeccionaram os ramalhetes de flores. Foi uma maravilha, as ideias deles afloraram! Eu joguei a ideia:
Vamos fazer maquete da procissão marítima? Eles já, ó, começaram: Eu sei fazer barquinho! Eu disse: vamos
recortar o pessoal que vai dentro do barco. Procuraram no livro de São Pedro. A gente recortou nos livros a
imagem de padre e tal. Eles confeccionaram as florzinhas de papel crepom. Ficou um show! A menina, que
é evangélica, foi ela quem ornamentou o barco de São Pedro. Ela que fez as flores. Ela disse: Tia, tem flores?
Tem Flores. Ela que ornamentou o andor de São Pedro.”
(Severina Batista dos Santos)
5.1. Recomendações
“A partir do momento que você tem o conhecimento, você contribui com a valorização disso, sempre… Até
como se fosse um registro… Pode ser até uma habilidade na história de Itamaracá que a gente ponha no
currículo do aluno… para que fique registrado. Do mesmo jeito que eu aprendi, eu não sou daqui, outras
pessoas precisam aprender. Porque às vezes você está na praia e vê essas madeiras ali acha que é uma
pescaria comum e não sabe de onde veio, a origem, porque… Porque existem praias que tem essas madeiras
e outras que não tem. E saber que em determinados lugares ainda tem o cultivo dessa pesca artesanal.
(Silvana, professora da escola Rita Carolina)
RECOMENDAÇÃO 1:
Inclusão de uma disciplina da pesca em Itamaracá para os alunos da rede municipal. Destacar o
assunto em sala de aula. Permitir que nesta disciplina o aluno vivencie esta atividade em todas
suas etapas. Produzir atividades com as crianças, mostrar a eles o que é um curral, como se cons-
trói. Incluir o conteúdo deste Dossiê na disciplina.
RECOMENDAÇÃO 2:
Ponto de informações turísticas que destacam as atividades de pesca, fazendo visitação, roteiros
de conhecimento da atividade. Descentralizar dos pontos turísticos já consagrados.
RECOMENDAÇÃO 3:
O desenvolvimento de uma CARTILHA da Pesca de Currais
Ficou evidente para a equipe de pesquisa que a atividade de pesca de currais vem passando
por transformações severas nos últimos 100 anos, reduzindo progressivamente sua intensida-
de, mas mantendo-se, adaptando-se às novas referências culturais e geopolíticas. Alguns dos
fatores que provocaram a redução desta atividade são internos, locais e alguns fatores são
externos, supralocais.
A pesca industrial e suas novas tecnologias foram considerados elementos de impacto no con-
junto de fatores que levaram à redução da atividade. Verificou-se que no uso de redes imensas,
muitos cardumes não conseguem chegar à armadilha, lembrando que o curral captura peixes
migratórios, que estão em deslocamento.
A articulação proposta e/ou idealizada com a Colônia de Pescadores Z11 é vista como positiva
para viabilizar e incentivar a atividade num lugar que permite e estimula o entrosamento da co-
munidade e a troca de experiências, o encontro dos pescadores e um lugar de comercialização
peixes, crustáceos e moluscos. O abandono da atividade de pesca ocasionaria a desarticulação
dos pescadores e, consequentemente, da colônia de pescadores.
Estudos etnohistóricos apontam para uma redução progressiva deste tipo de pesca na costa nor-
destina, conforme aponta Lucena (Et. Al., 2013:101): “No início da década de 1990, a pesca com
currais em Pernambuco era praticada em 10 municípios e respondiam por cerca de 10% da pro-
dução total do estado. Em 2006, apenas três municípios registraram pescarias com currais, cuja
produção representou 1,14% da produção total do estado.
A pesquisa nos permite apontar para uma redução drástica desta atividade nos últimos 20 anos.
A esta queda estão relacionadas também, dentre outras razões, a redução do pescado, as trans-
formações e restrições que a atividade sofreu perante as legislações e restrições ambientais e,
sobretudo, a perda do território do pescador.
O território de vida do pescador, não se limita ao seu espaço privado, à sua unidade domiciliar.
Para o pescador, sua casa é um espaço em geral, pequeno, necessário para pousar e cuidar da
família, mas todo o ambiente que o rodeia - o rio, a mata, a praia, a caiçara - faz parte de seu ter-
ritório. Em cada um desses lugares, o pescador exerce sua atividade diferentemente.
Partindo-se da premissa de que, para sociedades pescadoras, território é conhecimento (WAG-
NER & SILVA, 2013), devemos pensar a antiguidade de determinadas práticas e técnicas ao longo
8. Agradecimentos
Agradecemos a todos que contribuíram para a realização deste trabalho, em especial a equipe da
Secretaria de Educação de Itamaracá, mormente ao Júnior, Olindina, Rejane e Márcia. Ao Murilo e
ao Marcone, presidente e vice presidente da Colônia de Pescadores Z11, que abriram as portas da
colônia para nossa equipe e compartilharam com muita generosidade do seu universo e saberes.
À comunidade de Vila Velha dos Holandeses que nos recebeu durante os festejos de São Pedro,
especialmente à Neia e sua família e Valquíria, que nos permitiram adentrar nesta comunidade
repleta de história e resguardada com tanto cuidado pelos seus moradores. Ao pesquisador Luiz
Santos, que apresentou o universo institucional relativo ao patrimônio aos alunos do curso com
muito respeito e propriedade. Aos pescadores Almir, Ednaldo e Carlos, que mesmo debaixo de
chuva não exitaram em levar nossa equipe para conhecer os currais de pesca. Agradecemos ainda
a todos os entrevistados que, com muita generosidade, compartilharam esta tradição oralmente.
Por fim, a todas as professoras das escolas do campo que mergulharam de cabeça nesta aventura
e traçaram um caminho sem volta em suas descobertas no universo da antropologia e da arqueo-
logia, relacionando com maestria esses conhecimentos adquiridos em suas práticas pedagógicas
cotidianas. MUITO OBRIGADA!
BARTHEL, Stela Gláucia Alves. Arqueologia de uma fortificação: o Forte Orange e a Fortale-
za de Santa Cruz em Itamaracá, Pernambuco: Dissertação de mestrado PPGARQ/UFPE:
RECIFE - 2007 (http://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/697)
LUCENA, F. P.; CABRAL, E.; SANTOS, M.C.F.; OLIVEIRA, BEZERRA,V. S.; BEZERRA, T.R.Q. A pesca
de Currais para peixes do litoral do Pernambuco. Boletim técnico científico CEPENDE.
Tamandaré, PE. 2013.
NAJJAR, R. Para Além dos cacos. A Arqueologia histórica a partir de três superartefatos.
Bol. Mus. Paraense Emílio Goeldi- Ciências Humanas. Belém, v. 6, n. 1, p. 71-91, Jan.- abr. 2011.
SILVA, F.A.- Etnoarqueologia: Uma perspectiva arqueológica para o estudo da cultura ma-
terial. Metis História & Cultura, V.8, no16, p.121-139, 2009
SILVA, D.F.da Análise da Captação de Recursos na Área do Sambaqui Saco da Pedra, litoral
do estado do Alagoas. Dissertação de Mestrado PPGARQ/UFPE: RECIFE-2009
WAGNER, G.P. & SILVA,L. A Maritimidade, Haliêutica e a Arqueologia dos Sambaquis. Revis-
ta Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, Criciúma/ SC- 2013