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Em 1985, dentro da exposição Arte e Tecnologia, organizada por Julio Plaza e Arlindo Machado, no MAC/USP, tivemos a primeira exposição coletiva de arte
holográfica brasileira, com a participação de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Eduardo Kac, Fernando Catta-Preta, Julio Plaza, Moysés Baumstein e José
Wagner Garcia. Em novembro de 1987, novamente no MAC/USP, tivemos a mostra Idehologia, que apresentou criações holográficas de Augusto de Campos,
Décio Pignatari, Julio Plaza, Moysés Baumstein e José Wagner Garcia. Idehologia reuniu quinze trabalhos, alguns já apresentados na mostra Arte e
Tecnologia: dois de José Wagner Garcia (Céu e Mente, Gag); dois de Décio Pignatari (Spacetime, Joystick); três de Moysés Baumstein (Papamorfoses,
Máscaras, Voyeur); quatro de Augusto de Campos (Rever I e II, Risco, Poema-Bomba); três de Julio Plaza (Arco-Íris no Ar Curvo, Cubos, Limite do Corpo); e
uma parceria de Plaza/Augusto (Mudaluz). Todos os trabalhos foram holografados por Moysés Baumstein, à exceção da primeira versão de Rever, que foi
produzida por John Webster em Londres, em 1981. Predominantemente, a mostra consistiu em poemas concretos adaptados para holografia. No poema
Organismo, de Décio Pignatari, por exemplo, a sucessão das folhas reverbera em fotogramas em movimento. No Poemóbile, temos o vôo tridimensional das
cores nas palavras-metamorfoses cinéticas de Augusto de Campos e Julio Plaza. Arco-Íris no Ar Curvo, de Julio Plaza, é o espaço curvo da física einsteniana,
com ininterruptas mutações de luz. E o mesmo espaço curvo informa ainda o Espaztempo/Spacetime, de Décio Pignatari. José Wagner Garcia assume o ponto
de vista de um satélite artificial para holografar um monolito que projeta sua sombra sobre a terra, em Céu e Mente. O Poema-Bomba, de Augusto de
Campos, apresentava uma semântica explosiva, derivada da semelhança gráfica das letras das duas palavras: poema e bomba. E Voyeur, de Baumstein, tirou
proveito do deslocamento do espectador e da progressiva desaparição da imagem quando aquele se aproxima do suporte (placa holográfica). Assim, uma
enorme fechadura, projetada a 2 metros, focaliza uma caverna de caveiras. Quando nos aproximamos da fechadura, a imagem se volatiliza numa poeira de
luz, deixando o voyeur preso à fechadura.
Outro grande experimentador da holografia é Eduardo Kac. O seu reconhecimento internacional nessa área pode ser avaliado pelo fato de ter recebido, em
1995, o Shearwater Foundation Holography Award, o prêmio de maior prestígio no campo da arte holográfica. No período de 1983 a 1993, Kac produziu cerca
de 23 poemas holográficos sobre temas poéticos, que ele identificava com o nome holopoesia. Entre eles, Holo/Olho, produzido em 1983 com Fernando
Catta-Preta (outro importante produtor holográfico no país); Chaos, um holograma de reflexão em três cores produzido em 1986 e que está na coleção do
Museu do Massachusets Institute of Technology, MIT (Boston, Estados Unidos); e Zero, um estereograma holográfico multicolorido, produzido em 1991, que
está na coleção do Museu da Holografia de Chicago, Estados Unidos. Sobre sua holopoesia, Kac já escreveu vários artigos, e muitos ensaios sobre sua obra
holográfica foram escritos por diferentes autores (veja bibliografia de Eduardo Kac). Além disso, alguns dos hologramas de Kac fazem parte de importantes
coleções públicas internacionais de holografia. A primeira retrospectiva de hologramas de Eduardo Kac aconteceu em 1986, no MIS, São Paulo, mas a sua
exposição mais ambiciosa foi Quando?, uma experiência de holofractal (holograma giratório gerado em computador, explorando as imagens fractais, capaz de
dar uma imagem paradoxal de 720 graus de rotação), realizada em co-autoria com Ormeo Botelho e exibida no Salão Funarte, no Rio de Janeiro, em 1988.
Deve-se ainda destacar o empenho de Ivan Negro Ísola em difundir e propiciar condições para as pesquisas com arte holográfica no Brasil, durante sua
gestão no MIS, e de José Joaquim Lunazzi, professor da Unicamp e importante pesquisador brasileiro da tecnologia da holografia.
__________________________Poesia Holográfica: as três dimensões do signo verbal
Eduardo Kac
Lá pelos idos da primeira década do nosso século, no turbilhão dos movimentos de vanguarda, o desenvolvimento da linguagem cinematográfica levou
Guillaume Apollinaire a afirmar que a era da tipografia havia chegado ao fim e que no futuro o poeta conheceria liberdades que naquele momento não eram
sequer imagináveis.
Se o famoso poeta calígrafo-cubista pecou ao ser taxativo sobre a futura simbiose entre a poesia e as artes gráficas, não se equivocou ao sentenciar
profeticamente que a poesia ainda seguiria rumos imprevisíveis. Da mesma forma que a galáxia de Gutenberg provocou profundas alterações na cultura
humana e a eletrônica, em plena era da telemática, é responsável igualmente por mudanças radicais -- a holografia traz um contundente questionamento das
formas convencionais de percepcão visual e, ao introduzir um método de registro tridimensional, abre possibilidades totalmente novas nos campos da
expressão artística e do conhecimento científico.
Com as experiências levadas a cabo pela poesia visual, que estimularam as pesquisas individuais de inúmeros poetas, a consciência da página impressa e o
conhecimento dos inúmeros recursos grafico/visuais levaram este código bidimensional a um ponto de saturação. Isto não significa, contudo, que não se
possa fazer excelentes poemas visuais. Antes, ao contrário: o máximo que se pode realizar neste terreno são excelentes poemas. E ao poeta cabe ousar,
conquistar o desconhecido, habitar a terra-de-ninguém onde as novas linguagens nascem e se multiplicam.
Com as vanguardas, a palavra conheceu seu momento máximo de liberdade na página, distante das amarras da linearidade aristotélica do verso. Mas o poeta
do pós-moderno quer libertar a palavra da página, longe dos grilhões da bidimensionalidade da página impressa do poema visual. Como? Através da
holografia, ou melhor, através da imagem real. A imagem holográfica pode ser virtual (atrás do holograma) ou real (na frente do holograma); ou ainda parte
real, parte virtual, como se o filme holográfico seccionasse a imagem. Isto permite que o leitor abra um livro de poemas holográficos e o poema propriamente
dito esteja flutuando no ar a 50 cm de distância da página, por exemplo. Sim, porque a holografia pode ser impressa com grandes tiragens e baixo custo -- o
que fará dela indubitavelmente a forma de impressão do futuro.
Ao conceber o poema, o poeta deve estudar todas as possibilidades combinatórias entre as letras (objetos tridimensionais) e os ângulos de visão do
espectador (paralaxe), que se norteiam vertical e horizontalmente. Ou seja, o layout de um holopoema se constitui da formulação das diversas formas de
percepcão que o espectador terá, levando-se em consideração o grau de paralaxe do holograma.
Neste sentido, surge uma nova sintaxe visual que, em oposição ao branco mallarmaico, articula o poema a partir de volumes invisíveis, buracos negros
tridimensionais. É por esta razão que o poema adquire independência do suporte e, pensando ainda em termos de imagem real, permite que o espectador
passe a mão entre a página e a sua projeção holográfica.
Digo "espectador" no lugar de "leitor" porque o poema desencadeia uma decodificação perceptual incomum. O poeta também não "escreve"; ele cria o design,
esculpe a matriz e holografa o objeto. No lugar da caneta, da máquina de escrever, ou da Letraset, o laser (light amplification by stimulated emission of
radiation).
O primeiro poema holográfico realizado por Eduardo Kac foi em dezembro de 83, com Fernando Eugênio Catta-Preta, em seu laboratório, em São Paulo. O
anagrama paronomástlco HOLO/OLHO foi holografado (caixa alta, corpos grandes e pequenos) cinco vezes. Depois foi criado uma espécie de holocollage,
fragmentando e remontando as quatro imagens pseudoscópicas do poema. A imagem pseudoscópica é o avesso da imagem que reproduz o objeto assim
como foi holografado (ou imagem ortoscópica).
Desta forma, o poema é a interpenetracão tridimensional das palavras esculpidas em luz. Cada fragmento é concebido simetricamente a formar uma leitura
em círculo: as duas palavras possuem quatro letras e as duas primeiras letras de "OLHO" (corpos pequenos) formam "olho" com as duas primeiras letras de
"HOLO" e as duas últimas formam "holo" com as duas últlmas de "HOLO" (corpos grandes). Pares de "O" ainda sugerem olhos humanos.
Através de uma instalação com luminárias é posslvel fazer com que as letras fiquem em movimento constante (holokineticismo), enquanto o espectador pode,
se quiser, observar o poema parado. As possibilldades, enfim, são infinitas.
Mesmo diante das evidências, ainda há os que criticam ceticamente a high-tech art e que pensam que a holografia é apenas um modismo. Mas ela é uma
realidade e não veio para trazer messianicamente respostas. O poeta do século XXI trabalha a linguagem holográfica e busca perguntas. O que ele quer
ninguém sabe.
A poesia é um enigma tridimensional.
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/arttec/index.cfm?cd_pagina=1432&fusea
ction=Detalhe&cd_verbete=5903
Ekac
http://www.ekac.org/mamkac.html
[2004] Trabalho de Hipertexto & Hipermídia
Ismael Paulo Santos