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DE QUE MANEIRA O QUE FOI FORCLUIÍ DO REAPARECE NO REAL ?

O tema do pai eé central na concepçaã o lacaniana da construçaã o do psiquismo. Neste


sentido, ele se inscreve no percurso de Freud. Aleé m deste refereê ncia de grande
importaê ncia, pode-se observar que esta preocupaçaã o tem origem no itineraé rio pessoal
de Lacan com a questaã o da linhagem paterna em sua histoé ria familiar. Ele viveu de
forma dolorosa os conflitos que seu pai teve com o proé prio pai, donde ter retrato seu avoê
de forma taã o assustadora: “ ...este pequeno burgueê s execraé vel que era o dito senhor, este
personagem horríével graças a quem eu adquiri, numa idade precoce, a funçaã o
fundamental de maldizer Deus. Este personagem eé exatamente o mesmo que na certidaã o
do registro civil, pelos laços do matrimonio, eé apontado como pai do meu pai, de forma
que eé precisamente do nascimento deste que trata o registro civil em questaã o “. Ele
observa na ocasiaã o desta reflexaã o, que trata da nominaçaã o e da inscriçaã o nos registros
civis em cartoé rio (nominaçaã o do avoê , do pai), que “trata-se da relaçaã o do real ao
simboé lico.” (L’identification, 6 de dezembro 1961).

Alguns lembretes: Jaé em 1938, no artigo sobre a famíélia, ele falava do declíénio da imago
paterna, e sustentava a ideia de que Freud tentou revalorizaé -la.

Foi em 1953, em seu comentaé rio do texto de Freud sobre o Homem do ratos, que o nome
do pai aparece, nomeado como conceito, sem híéfen; o pai eé aquele que permite a
resoluçaã o do EÍ dipo, a passagem da natureza aà cultura, do Real ao Simboé lico, ao nomear,
ao dar o seu nome e ao encarnar a lei.

Encontramos sucessivamente nos enunciados lacanianos: funçaã o do pai, nome do pai,


funçaã o do pai simboé lico, metaé fora paterna e, enfim, o Nome-do-Pai, significante maior
que daé a ossatura a toda organizaçaã o simboé lica.

Este significante aparece em 1956, no seminaé rio As Psicoses, onde aborda-se


precisamente esta falha do sistema simboé lico que Lacan vai chamar de forclusaã o. Este
termo aparece na teoria em 4 de julho de 1956, quando se trata exatamente de delimitar
a diferença neurose-psicose no que diz respeito aà questaã o do objeto, o qual naã o poderia
sozinho dar conta da especificidade do delíério. Trata-se, entaã o, da relaçaã o ao Outro, das
funçoã es e da estrutura da palavra, “irredutíével a todo tipo de condicionamento
imaginaé rio”. O pai introduz, por sua existeê ncia e por sua posiçaã o de terceiro, um
elemento significante: uma ordem na sucessaã o das geraçoã es. E no caso das psicoses, para
se poder apreender sua arquitetura, Lacan constata que haveria, na origem, alguma coisa
da ordem de uma rejeiçaã o: o conceito de recalcamento nao eé suficiente. Ele seraé levado a
resgatar, entaã o, o conceito utilizado por Freud em seu estudo sobre o Homem dos lobos:
Verwerfung, que ele traduz por forclusaã o. A forclusaã o do Nome-do-Pai torna-se o
elemento principal da estruturaçaã o psicoé tica. Ai temos, desta forma, um significante que
naã o pode se inscrever na cadeia significante, que falta radicalmente; mas que pode
reaparecer, retornar no Real, nos fenoê menos alucinatoé rios os quais ele descreve como
“encontros com o significante como tal”, sendo isto caracteríéstico da psicose.

Vou tentar ilustrar esta abordagem da estrutura psicoé tica com o exemplo do Cabo Lortie,
que foi desenvolvido por Pierre Legendre em seu livro (O Crime do Cabo Lortie,
Flammarion, 2000), obra que tem como subtíétulo : Tratado sobre o Pai.
O cabo Lortie fazia parte do exeé rcito no Quebec. Ele era considerado por todos como um
oé timo elemento, apreciado por seus superiores e nunca tinha causado nenhum problema
ateé entaã o. Mas, em 8 de maio de 1984, ele se apresenta armado ateé os dentes diante da
sede do governo do Quebec, e ai ele dispara sobre tudo que se mexe, conseguindo a
penetrar ateé o salaã o da Assembleé ia Legislativa, que se encontrava vazia neste momento,
e onde ele acaba por se sentar na cadeira do Presidente da casa. Sua passagem deixa um
saldo de treê s mortos e oito feridos. Ele finalmente acalma-se ao conversar “entre
soldados” com um antigo oficial, empregado da Assembleia, com quem ele negocia sua
rendiçaã o, de acordo com o coé digo militar, de acordo com o regulamento. Pode-se
observar que a referencial militar e o enquadramento pelo regulamento desempenham,
neste momento, um papel determinante na contençaã o da passagem ao ato.

O cabo concebia seu ato como a um suicíédio. Ele esperava ser morto rapidamente pelos
guardas em serviço. Era necessaé rio para ele, na mesma açaã o, matar e ser morto. Um ato
de reduzir-se ao nada.

Se pegarmos a histoé ria e os dizeres de Denis Lortie, veremos aparecer, logo de iníécio, a
questaã o do pai nos antecedentes que precipitaram sua passagem ao ato. Pouco tempo
antes ele havia pedido ao Sargento Cheé nier, seu superior hieraé rquico, uma licença de treê s
dias e este lhe concedeu apenas um. Ele mesmo sargento lhe apareceu entaã o, de forma
alucinatoé ria, sob a imagem do seu pai. Da mesma forma, na veé spera do crime, a visaã o de
seu pai havia reaparecido no momento em que o governador do Quebec discursava num
programa de televisaã o: “o governo do Quebec tinha a imagem do meu pai”, disse ele mais
tarde.

Como estava a questaã o do pai para Lortie para que ela voltasse sob esta forma?

Houve um pai, mas um pai que exercia um poder tiraê nico sobre toda a famíélia, mulher e
filhos, um pai que Pierre Legendre compara ao pai da horda do mito freudiano,
possuindo todas as mulheres, incluindo suas proé prias filhas. Alguns irmaã os mais velhos
de Denis Lortie haviam ateé mesmo cogitado em assassinaé -lo. Para este fim eles haviam
escondido armas, e eé neste momento que ele eé denunciado pela filha caçula, vitima de
incesto. O pai vai preso e em seguida eé condenado a treê s anos de penitenciaria. Os laços
com a famíélia foram totalmente rompidos a partir deste fato. Ele desaparece devido a
estas circunstaê ncias, eé poca em que Denis contava dez anos. Denis viveu com este pai
assustador, que exercia seu poder absoluto pontuado de sevíécias, de abusos sexuais de
todo tipo e que, finalmente, foi anulado pela justiça ao ponto de desaparecer
sumariamente.

O fato de ter ocupado, ele proé prio, o lugar de pai foi para Denis um passo extremamente
difíécil de assumir. Ele tinha duas crianças, um menino de quatro anos e uma menina de
poucos meses. Em ambos os nascimentos ele ficou profundamente angustiado; ele
aborda esta questaã o durante seu processo como sendo uma viveê ncia que nunca havia
compartilhado com ningueé m: “seraé que serei igual? Seraé que vai-lhe acontecer a mesma
coisa?” Existe ai uma impossibilidade de tornar-se pai. Seraé que ele seguiraé o mesmo
caminho de seu pai? Quando acontecia de seus filhos apresentarem um sintoma
qualquer ou expressarem alguma oposiçaã o, ele vivia o fato como algo insuportaé vel.

Aos dois anos seu filho paé ra de falar. Durante uma sessaã o junto a um fonoaudioé logo, o
profissional pergunta: “ o menino apanha?” Denis Lortie comenta: “ eu me senti culpado
como... como... se culpado de algo que era de minha inteira responsabilidade. Eu me
sentia como se um alicate fosse apertando cada vez mais no meu interior.” A pergunta
para ele era: “serei como meu pai?” Deve-se observar que foi o processo que o levou a
formular esta questaã o sobre o pai, no momento em que eé confrontado aà instituiçaã o social
da lei. O significante pai naã o podia se inscrever como refereê ncia, e eé por isto que ficou
submetido aà s construçoã es delirantes. Pode-se constatar, em toda a histoé ria, que haé uma
propensaã o incessante em Denis a encontrar e afrontar o limite encarnado pelo interdito.

No caso do Cabo Lortie o proé prio pai encontrava-se numa situaçaã o de conflito com a lei
social; ele naã o podia sustentar a funçaã o significante numa cadeia genealoé gica, o que teria
permitido a seu filho de sair do campo de desejo da maã e. Era um pai que naã o permitia a
diferenciaçaã o entre pai e filho. EÍ ai que ele eé forcluíédo no simboé lico, como tambeé m eé o
que vai produzir este retorno no Real, logo que ele aparece sob a forma de um superior
hieraé rquico, o sargento Cheé nier, que recusou a licença. A imagem de seu pai neste
instante naã o eé apenas uma simples imagem metafoé rica que poderia ser um traço do
imaginaé rio, ela eé realmente seu pai, com uma dimensaã o puramente real; ele assim se
exprime durante o processo:

“Ele te fazia pensar por onde andaria seu pai? Voceê havia realmente a impressaã o de que
ele fosse seu pai? – sim, ele era. Ele naã o o fazia pensar; era ele.” Nada melhor do que a
alucinaçaã o para dizer algo; eé o Real de fato. Enquanto o Nome-do-Pai naã o estiver
integrado no simboé lico ele naã o cessa de retornar: as figuras de autoridade tomam a cara
de seu pai: primeiramente o sargento Cheé nier, em seguida o primeiro ministro do
Quebec, Reneé Leé vesque e eé exatamente o que o fez passar ao ato e, provavelmente, o que
determinou o seu alvo: a sede do governo e a Assembleé ia do Quebec, a sede do poder.

Apoé s a passagem ao ato, quando foi levado para o posto de políécia, a alucinaçaã o referente
ao pai naã o o deixa mais: um personagem que inspira confiança, de idade, lhe aparece em
sua ceé lula; sempre apaziguador, e lhe diz que ele estaé perdoado, o que o conduziraé por
um tempo a um certo misticismo. O nome do pai dos cristaã os eé confortado em seu
sistema simboé lico. Como para Schreber, a invocaçaã o divina permite, numa certa medida e
de uma forma delirante, colocar ordem no simboé lico. Estas construçoã es delirantes
assumem o valor de uma tentativa de cura, tentativa de conter simbolicamente algo que
foi seriamente abalado pela tirania e pela loucura de seu pai. A loucura do pai foi evocada
numa cena relatada pelo advogado de Lortie: um dia seu pai se fechou num quarto da
casa, quarto este que lhe era particular e, numa crise de raiva ele quebrou tudo, rasgando
inclusive documentos, seu dinheiro, sua carteira de habilitaçaã o. No dia seguinte ele naã o
pode acreditar em sua mulher quando esta lhe disse que ele era o autor dessa
carnificina. Ele naã o se lembrava de nada. O que havia desencadeado seu oé dio foi o
anué ncio de que ele seria pai pela oitava vez...

Outra dimensaã o importante a observar eé que a proé pria líéngua estava ameaçada. Haé um
elemento excepcional na forma como o processo judiciaé rio aconteceu: o cabo Lortie
batalhou para ser julgado, de modo a que o seu ato se inscrevesse no tecido social, e para
que ele fosse sancionado, quer dizer, que ele pudesse ocupar um lugar no discurso. Ele
naã o foi julgado num primeiro momento, porque ele fora qualificado como “demente no
momento do ato” de acordo com as períécias psiquiaé tricas. Ele contestou esta avaliaçaã o e
conseguiu ser julgado e condenado. Sobre sua alienaçaã o e particularmente sobre sua
alienaçaã o na linguagem, ele chegou a formular as coisas de uma maneira bem sutil: “voceê
sabe, eu naã o posso dizer que naã o fui eu, fui eu”. Ele disse tambeé m que ele quis se atacar a
“um partido que prejudica a líéngua francesa”. “Eu quero destruir algo que quer destruir a
líéngua”. Ele se poã e, ele proé prio, aà frente do significante. Este “algo que quer destruir a
líéngua”, naã o seria esta referencial paterno que naã o saberia se introduzir no simboé lico
(onde haé significante forcluíédo), devido a histoé ria do pai de Denis Lortie. Algo que faz
com que o agenciamento significante da sucessaã o de geraçoã es pareça manco: o pai naã o
podia se situar como pai submetido aà castraçaã o; tornar-se pai pela oitava vez deixou-o
praticamente louco. Os filhos saã o objetos sexuais para ele. Donde a problemaé tica
recorrente para Lortie: naã o conseguindo situar o lugar do pai, nem para ele nem para
seu pai, uma imagem real de seu pai lhe aparece e ele vai querer destruíé-la, destruindo-
se a si proé prio, numa louca tentativa de colocar ordem num simboé lico onde o significante
principal, o Nome-do-Pai, naã o poê de se fixar. Pierre Legendre qualifica o ato criminoso de
Lortie como “um ato reparador”. Trata-se de colocar ordem onde esta foi transtornada
devido a refereê ncia a um pai incapaz de submeter-se aà castraçaã o e aà proibiçaã o do incesto.
Um pai criança, que infligia seus caprichos tiraê nicos a toda a famíélia, sem que a sucessaã o
de geraçoã es pudesse constituir um elemento estruturante. Trata-se de um jogo vital:
Lortie eé perpetuamente atormentado pelo o que ele proé prio nomeia “o ponto negativo
em meu interior”, o que nunca pode tomar espaço na palavra.

Se o processo eé taã o importante para ele (ele se agarra a isto, declara-se culpado, ele seraé
condenado), o que ele tenta, sempre com um grande sofrimento, eé inscrever seu ato em
sua histoé ria, de representaé -lo, de poder falar a respeito, precisamente por ser ele a
manifestaçaã o do que havia sido forcluíédo.

Encontrando-se numa situaçaã o que ele naã o podia assumir, devido a sua viveê ncia e devido
a sua estrutura familiar, ele tentou aniquilar-se levando consigo os síémbolos do poder.
Mas como ele sobreviveu ao seu ato, ele pode fazer o trabalho de representaçaã o que lhe
permitiu, ao que parece, tomar uma distaê ncia do delíério: durante o processo foi-lhe
apresentado a gravaçaã o em víédeo feita na sala da Assembleé ia. Isto foi-lhe extremamente
difíécil de suportar, mas essencial, ele mesmo o atestou. Ele devia se confrontar ao real do
seu ato, ele havia decidido.

Pode-se, entaã o, colocar a questaã o: houve, a partir deste discurso inscrito no quadro de
refereê ncia aà lei, a suspensaã o da forclusaã o?

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