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FLORIANÓPOLIS
2017
BÁRBARA APARECIDA OLIVEIRA FORGEARINI
FLORIANÓPOLIS
2017
BÁRBARA APARECIDA OLIVEIRA FORGEARINI
_____________________________________________
Prof. Dr. Jeferson Rodrigues,
Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem
Banca Examinadora
_____________________________________________
Profª. Drª. Maria Terezinha Zeferino
Presidente
_____________________________________________
Profª Dra. Cristine Moraes Roos
Membro Efetivo
_____________________________________________
Enfermeira Mestranda Daymée Taggesell de Córdova
Membro Efetivo
AGRADECIMENTOS
Gratidão talvez seja um dos sentimentos mais nobres que o ser humano possa ter,
neste instante em que penso nas pessoas que me ajudaram a chegar até aqui surge em meu
peito um amor imensurável. Lembranças de pessoas e momentos que vivenciei que
permanecerão guardados em minha memória. A todos que fizeram parte deste meu caminho,
familiares, amigos, professores, colegas e pacientes que contribuíram para meu crescimento
profissional e pessoal demonstro minha profunda gratidão.
Agradeço a Deus pela oportunidade de viver, pela força para superar os momentos em
que me sentia frágil, pelo discernimento para realizar as melhores escolhas e trilhar os
melhores caminhos, que nem sempre foram fáceis, mas que se fizeram possíveis para chegar
até aqui.
Aos meus Pais que me educaram, mostrando-me o caminho do bem e me dando força
nos momentos em que fraquejava. Agradeço por acreditarem em mim e passar sempre um
pensamento positivo quando eu não enxergava a proposta de Deus para minha vida. À minha
mãe que, por muitas vezes, veio ao meu encontro para cuidar dos meus filhos, pois estava
difícil dar conta de tantos afazeres. Ao meu pai, que compreendia e de longe me tranquilizava
dizendo que tudo iria dar certo.
Aos meus cinco irmãos, Sandro, Luciana, Giovana, Fabiana e Moisés, da qual me
orgulho pela garra e determinação que possuem e, que através do exemplo me fizeram ter
força para buscar meus sonhos.
À minha sogra e meu sogro pelos finais de semana de descanso em sua casa, nosso
refúgio para respirar e descansar a cabeça na companhia de vocês.
À todos amigos, tios, tias e primos de coração de Palmares do Sul, cidade que tenho
grande afeição.
Meu agradecimento especial ao meu companheiro de vinte anos Fabiano, que
incentiva e apoia as minhas decisões e aos meus filhos Iago e Arthur. À vocês minha eterna
gratidão e amor incondicional. Obrigada pela paciência, parceria e carinho de sempre e por
me ajudar a tornar este sonho em realidade.
Ao corpo docente do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade
Federa de Santa Catarina que formam profissionais competentes e qualificados visando o bem
estar e qualidade de vida da pessoa através do cuidado humanizado.
Ao Grupo de Pesquisa NUCRON e seus integrantes, do qual fiz parte por dois anos,
sendo inserida no campo das pesquisas, aprendendo e crescendo profissionalmente.
Ao Laboratório de Pesquisa APIS e seus integrantes, na qual faço parte com muito
carinho e, onde pude desenvolver meus conhecimentos frente a saúde mental desenvolvendo
minha pesquisa para este trabalho de conclusão de curso.
À Professora Dra. Maria Terezinha Zeferino, por me acolher e acreditar em meu
potencial, orientando meus passos durante esta jornada e contribuindo para minha formação
acadêmica.
À Professora Dra. Cristine Moraes Roos pelo companheirismo e motivação durante os
percalços desta jornada.
À Mestranda Enfermeira Daymée Taggesell de Córdova pelas contribuições, carinho e
exemplo de dedicação e competência no trabalho em que exerce.
Aos membros da banca que contribuíram com seus conhecimentos e para o meu
crescimento profissional.
Ao Dr. Marcelo Brandt Fialho pelas dicas e longas conversas sobre saúde mental,
fazendo com que meu olhar sobre o tema fosse humanizado, compartilhado e competente.
Aos meus amigos Joane, Heloísa e Jader pelos abraços acolhedores, paciência, risadas
e parceria.
E, finalmente, agradeço a todos que participaram deste meu caminho, aos profissionais
da saúde e pacientes por onde passei, que de certa forma contribuíram com meu aprendizado,
aos colegas, e aos amigos que mesmo de longe sempre enviaram boas energias para que este
momento se tornasse realidade.
FORGEARINI, Bárbara A. O. Estratégias para a qualificação do cuidado em rede à
pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental segundo a percepção dos
trabalhadores da RAPS. 2017. 49 p. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Curso de
Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso teve por objetivo geral compreender as estratégias para a
qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
propostas pelos trabalhadores da RAPS. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com
abordagem qualitativa. O estudo foi realizado com base na resposta de 83 questões reflexivas
elaboradas pelos alunos da primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental:
“Considerando as competências adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é
possível fazer para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em
saúde mental.” Os dados foram analisados segundo o método de Análise de Conteúdo
Temático de Bardin, que compreende três fases: pré-análise, exploração do material e
tratamento das informações, inferência e a interpretação. Os dados resultaram na categoria
temática: “O trabalho inter-redes”, composto por três subcategorias: Reconhecer o território e
identificar parcerias; Articulação com parcerias para o cuidado integrado; Matriciamento
expandido com trabalho interdisciplinar. Através do relato dos trabalhadores evidenciou-se
que conhecer o território, buscar parcerias na comunidade e articular com os diversos pontos
de atenção da RAPS, além de outros locais como associações comunitárias, igrejas e escolas,
se faz necessário para a qualificação do cuidado em situação de crise e urgência em saúde
mental. Considera-se que o matriciamento seja a principal estratégia de comunicação entre os
serviços criando um elo entre os trabalhadores, usuário, família e comunidade fortalecendo o
trabalho em rede e ofertando um cuidado integral para a população.
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 14
2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................... 14
2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................... 14
3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 15
3.1 O cuidado em saúde mental ............................................................................................. 15
3.2 Redes de Atenção à Saúde................................................................................................ 18
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 21
4.1 Desenho do estudo .............................................................................................................. 21
4.2 O contexto do estudo .......................................................................................................... 21
4.3 Participantes ....................................................................................................................... 22
4.4 Coleta de dados ................................................................................................................... 22
4.5 Processamento e análise dos dados .................................................................................... 23
4.6 Aspectos éticos ................................................................................................................... 24
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 26
5.1 Manuscrito: PROPOSIÇÕES DOS TRABALHADORES DA RAPS PARA A
QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA EM SITUAÇÃO DE CRISE E
URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL ...................................................................................... 26
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 43
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 45
APÊNDICES ........................................................................................................................... 49
9
1 INTRODUÇÃO
nesse contexto que o hospital passa a ser o local de observação e de “cura” do “alienado”.
(SILVA; ZANELLO, 2010).
No período pós-Segunda Guerra (1945-1973), a incômoda semelhança dos
manicômios com os horrores praticados nos campos de concentração nazistas mostra-se
incompatível com os projetos de reconstrução europeus. Além disso, um grande número de
jovens havia sobrevivido à guerra com graves danos psíquicos. Esse é o campo fértil para o
despontar de novos paradigmas no cenário mundial, contrapondo-se ao modelo
hospitalocêntrico e buscando transformações nos conceitos e nas formas de lidar com a
“loucura”. Diferentes países buscaram redirecionar suas políticas de atenção à saúde mental,
investindo na substituição de hospitais por ações e serviços comunitários. (SOARES; SILVA,
2014).
Desde a década de 1970 muitos movimentos ao redor do mundo foram se constituindo
em busca de melhorias na saúde. Nessa mesma década, se afirma no Brasil o Movimento
Sanitário Brasileiro. A difusão das propostas de Medicina Comunitária, com o apoio da
Organização Mundial da Saúde (OMS), forçou a penetração no interior do Estado brasileiro,
por um lado. Por outro lado, a movimentação de setores da sociedade civil ligados à área de
Saúde, dirigidos taticamente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), articulando a relação
Saúde e Democracia, imprimiu o eixo de debate, promovendo a organização de setores
progressistas e de esquerda, de profissionais de saúde pública no, posteriormente, denominado
Movimento Sanitário, inspirado na Reforma Sanitária Italiana. (SOARES; SILVA, 2014).
O Movimento de Reforma Sanitária se fortaleceu nacionalmente após a VII
Conferência Nacional de Saúde, em 1980. E, diante de uma crise econômica com recessão e
da crise previdenciária atingindo as condições de trabalho na saúde e arrocho salarial, ocorreu
uma onda de greve envolvendo 60 mil médicos em todo o país, e mesmo com a Ditadura
Militar, que proibia manifestações de qualquer tipo, aconteciam movimentos de lutas a favor
da saúde. Outro momento importante para o Movimento Sanitário é a VIII Conferência
Nacional de Saúde, que aconteceu no ano de 1986 e representou um marco para Reforma
Sanitária Brasileira. (SANTOS, 2004).
Neste processo de lutas, surge a reforma psiquiátrica, que no Brasil, teve início no fim
dos anos 70, na luta contra a ditadura militar. Um de seus ápices está no ano de 1978,
marcado pela efervescência dos movimentos sociais em busca e defesa dos direitos dos
usuários dos sistemas psiquiátricos no Brasil. Em consonância a este, identifica-se o
surgimento de pequenos núcleos estaduais, principalmente, nos estados de São Paulo (SP),
Rio de Janeiro (RJ) e Minas Gerais (MG), que formam o Movimento dos Trabalhadores em
11
Saúde Mental (MTSM). (SOARES; SILVA, 2014). Ainda neste mesmo ano ocorreu o I
Simpósio Brasileiro de Psicanálise de Grupos e Instituições, com a participação de grandes
autores e atores da reforma psiquiátrica internacional, sendo este o marco do processo na
mudança em saúde mental no Brasil. (AMARANTE, 2014).
No decorrer dos anos, muitos outros eventos ocorreram em busca dos direitos da
população em relação à saúde mental. Em 1987, foi criado o primeiro Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), sendo um serviço de atendimento fora da lógica manicomial, tornando-
se referência nas políticas de saúde mental. Dois anos mais tarde, surge, no Congresso
Nacional, um Projeto de Lei que visa regulamentar os direitos das pessoas com transtornos
mentais, bem como a extinção dos manicômios no país. Nesse momento iniciam-se diversas
discussões acerca dos problemas enfrentados na área da saúde mental e surge um grande
movimento, conhecido como Reforma Psiquiátrica. Já em 2001, devido a permanente
reivindicação do movimento da reforma psiquiátrica, ocorreu a III Conferência Nacional de
Saúde Mental, um evento extremamente importante, com grande participação da força social
e política do movimento de reforma psiquiátrica em todo país. (AMARANTE, 2014).
Ainda em 2001, foi sancionada a Lei n. 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental no Brasil. (BRASIL, 2001). A Lei de Reforma Psiquiátrica reconhece o
indivíduo com transtorno mental como cidadão, buscando regulamentar suas relações com
outros portadores, profissionais de saúde, do direito, a sociedade e o Estado, uma vez que
atribui a cada um o seu papel no tratamento. (BRITO; VENTURA, 2012).
A atual política nacional de saúde mental do Brasil é reconhecida por organismos
internacionais como a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial
da Saúde (OMS). Tem por diretriz a desintitucionalização das pessoas com transtornos
mentais, substituindo a centralidade dos hospitais psiquiátricos por uma ampla e diversificada
rede de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência,
Serviços Residenciais Terapêuticos e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, entre outros.
(ANDRADE; ZEFERINO; FIALHO, 2016).
A partir deste movimento da Reforma Psiquiátrica, o conceito humanização torna-se
protagonista nos cenários de saúde mental. E, consoante aos princípios do SUS, surge a
Política Nacional de Humanização (PNH), criada no ano de 2003 pelo Ministério da Saúde,
com o propósito de atender à integralidade da população, a partir de estratégias que ampliam a
condição de direito e cidadania das pessoas, para implementar um atendimento mais
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humanizado. Essa política prevê ainda, uma reorganização dos processos de trabalho em
saúde. (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON, 2011).
Nesta proposta da PNH, estão incluídos o modelo da clínica ampliada e a perspectiva
da abordagem psicossocial, presentes no Centro de Atenção Psicossocial - CAPS. Esta lógica
de cuidar da pessoa com transtorno mental procura romper com o modelo manicomial, aquele
fundamentado na contenção disciplinar do sujeito assim como na medicalização do
sofrimento. A marca desta nova proposta é a escuta do usuário em sua singularidade.
(BRAGA, 2012).
Nestas circunstâncias, o SUS foi se adequando e a partir da preocupação com a
integralidade do cuidado e melhor aproveitamento dos recursos, surgiu a política de Redes de
Atenção à Saúde (RAS). Essas redes são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde,
integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, que buscam garantir a
integralidade do cuidado, sendo instituídas através da Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de
2010. (BRASIL, 2010). As principais redes temáticas da RAS são: Rede Cegonha; Rede de
Atenção às Urgências e Emergências (RUE); Rede de Atenção às Doenças e Condições
Crônicas; Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência; e a Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS). Essas redes foram assim escolhidas por se tratarem das prioridades que apresentam
maior impacto sobre a situação de saúde da população brasileira.
Diante do contexto de reformas na saúde, a implementação da Portaria n. 3.088, de 23
de dezembro de 2011, republicada em 21 de maio de 2013, na qual instituí a RAPS e, que
estabelece os pontos de atenção à saúde para o atendimento de pessoas com transtornos
mentais e com necessidades decorrentes do uso nocivo de álcool e outras drogas. A RAPS
tem como finalidade a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para
essas pessoas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL, 2013).
A RAPS é constituída pelos seguintes componentes e pontos de atenção: Atenção
Básica em Saúde (Unidade Básica de Saúde, Equipe de Atenção Básica para Populações
Específicas e Centros de Convivência); Atenção psicossocial especializada (CAPS); Atenção
de urgência e emergência (SAMU, Sala de Estabilização, UPA 24 horas, Urgência/Pronto-
Socorro, Unidades Básicas de Saúde e outros); Atenção residencial de caráter transitório
(Unidade de acolhimento e Serviço de atenção em regime residencial); Atenção Hospitalar
(Enfermaria especializada em hospital geral, Serviço Hospitalar de Referência (SHR);
Estratégias de desinstitucionalização (Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e Programa
de Volta para Casa (PVC)); e, reabilitação psicossocial. (BRASIL, 2013).
13
A RAPS ganha destaque na área da saúde mental e surge como uma das mais
importantes políticas, que envolve uma grande equipe multiprofissional cuidando das pessoas
em sofrimento psíquico, seja no foco preventivo, promotor ou curativo. É possível assim
afirmar, que a criação dessa rede se consolida como um marco importante da Reforma
Psiquiátrica. (BRASIL, 2013).
A escolha da atenção psicossocial para este trabalho de conclusão de curso se deu a
partir da sétima fase do Curso de Graduação em Enfermagem, onde tive contato direto com
pessoas portadoras de transtornos mentais nas aulas práticas em um Centro de Atenção
Psicossocial de usuários de Álcool e/ou outras Drogas (CAPS AD), trabalhando diretamente
com a política de atenção psicossocial e suas formas de cuidado. Além disso, minha
participação no APIS - Laboratório de Tecnologia e Inovação na Educação, Pesquisa e
Extensão em Atenção Psicossocial e Drogas gerou uma melhor aproximação com a temática.
Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) fez parte do macro projeto de pesquisa do
Laboratório de pesquisa APIS com o título: “Rede de Atenção Psicossocial no Brasil:
discursos e práticas”, sob a coordenação da professora Dra. Maria Terezinha Zeferino. Este
projeto teve como público alvo os alunos do curso Crise e urgência em saúde mental, sendo
realizado em parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), por meio do APIS - Laboratório de Tecnologia e Inovação na Educação,
Pesquisa e Extensão em Atenção Psicossocial e Drogas. Constituiu-se como um curso de
atualização profissional, com 100 horas de duração, realizado à distância, com uso de
ferramentas interativas (perfil, chats, fóruns, exercícios avaliativos e portfólios) cujo objetivo
foi proporcionar novos conhecimentos e produzir reflexões, transformando e (re) construindo
a realidade no âmbito de atuação do aluno.
Fica evidenciado que, mesmo com todas as políticas inovadoras e capacitações para o
cuidado em saúde mental, os estudos ainda apontam que os profissionais de saúde e, a própria
população em geral, não conseguem identificar as redes de apoio existentes na comunidade.
SOUZA et al., (2013) afirma que os enfermeiros não reconhecem os recursos informais como
uma rede de apoio à saúde mental apontando apenas os serviços de saúde e universidade
como parceiros em relação aos cuidados de saúde mental.
Portanto, foi estabelecido para este estudo a seguinte questão de pesquisa: Como
qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental na
visão dos trabalhadores da RAPS?
14
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DE LITERATURA
Para este estudo, cuja temática ainda tem sido pouco abordada em estudos científicos,
foi empregada a revisão narrativa, que não utiliza critérios sistemáticos para a realização da
busca e análise do material encontrado. Esta busca não necessita que se esgotem as
possibilidades de informações, nem que sejam aplicadas estratégias rigorosas. A escolha dos
estudos, assim como a interpretação dos mesmos, ocorrem conforme a subjetividade do autor.
Este tipo de narrativa é indicado para fundamentação de artigos científicos, dissertações, teses
e trabalhos de conclusão de curso. (CORDEIRO et al, 2007).
Este tipo de revisão é visto como adequado quando o propósito é descrever uma
história, e a partir disso, discutir o assunto abordado, através de interlocuções abrangentes
com outros estudiosos da temática. (ROTHER, 2007). A área da atenção à crise ainda
concentra poucos estudos, e a motivação por ampliar a discussão envolvendo esta temática,
foi fundamental para estabelecer este tipo de revisão de literatura. Sendo assim, foi possível
ter conhecimento do que já foi abordado até o momento, bem como, possibilitar a discussão
sobre o tema.
Nesta revisão de literatura será retratada a Rede de Atenção Psicossocial no Brasil
para a atenção às pessoas em sofrimento psíquico, seu contexto histórico e concepções
teóricas, bem como o cuidado às pessoas em situação de crise em saúde mental.
Para tanto, é necessário considerar que o cuidado em rede não deve se restringir à rede
formal de serviços, fazendo-se necessário acompanhar o percurso do usuário incluindo a rede
familiar, a rede territorial e afetiva. A rede formal de cuidado é limitada não apenas pela
dificuldade, tantas vezes presente, de vínculo e de adesão ao tratamento, mas, também, porque
essa rede é restrita a um espaço físico, a um protocolo e, até mesmo, a um diagnóstico. Um
plano de cuidado pode ser mais potente se incluir a experiência in loco, o território afetivo, o
cotidiano, a família e a rede informal, como amigos, vizinhos, comerciantes locais, entre
outros. (KEMPER et al., 2015).
Considerando as redes de cuidado como formais e informais é necessário conhecer o
território onde as pessoas buscam auxílio quando se deparam em uma situação de sofrimento
psíquico. Qualificar estas redes informais como pontos de retaguarda, onde a pessoa possui
um vínculo e, atrelar com a rede de atenção à saúde pode contribuir para o tratamento e apoio
às pessoas no momento da crise.
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo foi realizado com base nos materiais produzidos pelos trabalhadores que
realizaram a primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental. Trata-se de um
Curso de atualização profissional com 100 horas de duração e 90 dias de execução, todo
realizado à distância. Sendo desenvolvido em quatro módulos e suas respectivas unidades de
ensino: Introdução ao Curso; Fundamentos da atenção à crise e urgência em saúde mental;
Organização da atenção psicossocial à crise em rede de cuidado; e O cuidado às pessoas em
situações de crise e urgência na perspectiva da atenção psicossocial.
Para este curso, na modalidade à distância, foram disponibilizadas várias ferramentas e
materiais para o aprendizado. O Curso contou com os seguintes recursos didáticos
pedagógicos: Conteúdo em PDF, Conteúdo on-line, Fórum, Chat, Portfólio e Exercício
22
4.3 Participantes
O público alvo deste estudo foram os 429 trabalhadores que realizaram a primeira
edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental, com formação em nível superior, que
atuam no âmbito da saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS). Foram trabalhadores
oriundos das diversas regiões do Brasil, selecionados pelo Ministério da Saúde.
Os critérios de inclusão foram: estar regularmente matriculado no Curso e ter
respondido às quatro questões reflexivas que formavam o portfólio. Como critério de
exclusão: ter desistido do Curso antes do seu término. Dos 429 trabalhadores do SUS que
iniciaram o curso, 56 desistiram, 302 atenderam aos critérios. Destes, 156 trabalhadores do
SUS concordaram em participar da pesquisa após leitura do termo de consentimento livre e
esclarecido (APÊNDICE A). Neste estudo foram utilizados relatos de 83 questões reflexivas,
já que a partir de então, as descrições começaram a se repetir.
Para a coleta de dados foi utilizada a questão reflexiva quatro que compunha o
portfólio da primeira edição do curso Crise e Urgência em Saúde Mental. Os portfólios foram
atividades de aprendizagem, em que os alunos elaboraram um documento individual com
reflexões sobre sua própria prática profissional, ponderando alternativas para a transformação
de sua realidade.
Segundo Klenowski (2007), o portfólio pode ser definido como um conjunto de
trabalhos no qual o estudante retrata sua história de vida, seus progressos e realizações,
destacando sua participação na seleção e julgamento dos conteúdos procurados, o que
promove uma reflexão e o desenvolvimento da capacidade crítica. Sendo assim, o portfólio
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apresenta-se como um instrumento capaz de levar o aluno a colecionar suas opiniões, dúvidas,
dificuldades, reações aos conteúdos e aos textos estudados e às técnicas de ensino,
sentimentos e situações vividas nas relações interpessoais, oferecendo subsídios para a
avaliação do estudante, do educador, dos conteúdos e das metodologias de ensino-
aprendizagem (COTTA et al., 2012).
O Portfólio do Curso é formado pelas respostas às quatro questões reflexivas, que ao
final constituem o portfólio do curso. No Curso Crise e Urgência em Saúde Mental esta
ferramenta é uma estratégia de aprendizagem que visa concretizar em um documento a
reflexão do aluno sobre a sua realidade de trabalho, relacionando-a com o conteúdo
desenvolvido no Curso.
Dessa forma, portfólio é uma modalidade de avaliação na qual o estudante elabora um
documento individual sobre a sua experiência no Curso. Este documento deve evidenciar a
reflexão de cada um sobre a sua realidade, relacionando-a com o conteúdo desenvolvido em
cada módulo. Serão elaborados quatro portfólios, um em cada módulo, que irão refletir a
evolução do estudante no decorrer de seu estudo.
Na coleta de dados foram categorizadas as proposições para a qualificação de cuidado
apontadas pelos alunos a partir das respostas dos mesmos à questão reflexiva quatro da edição
1: Considerando as competências adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é
possível fazer para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em
saúde mental? Esse documento foi produzido e postado pelos alunos no Ambiente Virtual de
Ensino-Aprendizagem.
5 RESULTADOS
RESUMO
O objetivo deste estudo foi compreender as estratégias para a qualificação do cuidado em rede
à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental propostas pelos trabalhadores da
RAPS. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com abordagem qualitativa. O estudo
foi realizado com base na resposta de 83 questões reflexivas elaboradas pelos alunos da
primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental: “Considerando as competências
adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é possível fazer para qualificar o
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.” Os dados foram
analisados segundo o método de Análise de Conteúdo Temático de Bardin, que compreende
três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento das informações, inferência e a
interpretação. Os dados resultaram na categoria temática: “O trabalho inter-redes”, composto
por três subcategorias: Reconhecer o território e identificar parcerias; Articulação com
parcerias para o cuidado integrado; Matriciamento expandido com trabalho interdisciplinar.
Através do relato dos trabalhadores evidenciou-se que conhecer o território, buscar parcerias
na comunidade e articular com os diversos pontos de atenção da RAPS, além de outros locais
como associações comunitárias, igrejas e escolas, se faz necessário para a qualificação do
cuidado. Considera-se que o matriciamento seja a principal estratégia de comunicação entre
os serviços criando um elo entre os trabalhadores, usuário, família e comunidade fortalecendo
o trabalho em rede e ofertando um cuidado integral para a população.
INTRODUÇÃO
A partir da segunda metade do século XX o Brasil tem reorientado o modelo de
atenção à saúde tendo incorporado às suas políticas as transformações ocorridas no panorama
mundial. No que tange às ações de saúde mental, incorporou-se ao escopo práticas integradas
e articuladas que se pautam no respeito aos direitos e à cidadania das pessoas em sofrimento
psíquico; a redução das internações hospitalares por meio da constituição de uma rede
substitutiva de serviços de atenção diária; o processo de trabalho multidisciplinar; as políticas
de prevenção ao uso e dependência de substâncias psicoativas; a constituição de redes de
assistência articuladas e o estímulo à reinserção social das pessoas. Tais transformações vão
ao encontro do designado de paradigma da Atenção Psicossocial. (ZEFERINO, FIALHO,
ROOS, 2017)
Assim, tem por diretriz a desinstitucionalização das pessoas com transtornos mentais,
substituindo a centralidade dos hospitais psiquiátricos por uma ampla e diversificada rede de
serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência, Serviços
Residenciais Terapêuticos e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, entre outros
(AMARANTE, 2014). Cabe salientar que a política nacional de saúde mental do Brasil,
atualmente é reconhecida por estruturas internacionais como a Organização Pan-Americana
de Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesta perspectiva de assistência à saúde mental, a pessoa passa a ser vista como
protagonista de seu cuidado, não mais sendo prioritariamente confinada em espaços de
segregação. A fundação do modelo psicossocial reflete a fluxo transitório para o modelo
psicossocial-territorial, outrora hospitalocêntrico-manicomial. Esta transformação teve o
objetivo de agenciar a reinserção social das pessoas, balizando as ações de saúde de forma a
integrar o cuidado à família e à comunidade. Dessa configuração criou-se uma rede de saúde
mental, com a lógica das ações focadas na responsabilização em atender pessoas com
transtornos mentais severos e persistentes, sob o nexo da territorialização.
Entretanto, a implantação e a articulação de uma rede de serviços de saúde resolutiva,
principalmente em situações de crise, dependem da capacidade que seus profissionais e
dispositivos detenham no que se refere ao aprimoramento da qualidade técnica, a equidade e o
prosseguimento da atenção, buscando acolher as necessidades e demandas da pessoa em
sofrimento psíquico (FIALHO, 2015). Estas redes têm como objetivo promover a integração
de ações e serviços de saúde com a finalidade de oferecer atenção contínua, integral, de
qualidade, responsável e humanizada, bem como incrementar o desempenho do Sistema, em
28
termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária e, ainda, eficiência econômica (JORGE
et al, 2011).
A instituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por meio da Portaria
3088/2011, foi considerada um avanço significativo para o campo da saúde mental. A atenção
psicossocial pensada como uma Rede deverá ter seu trabalho desenvolvido vislumbrando a
sua responsabilização pelo usuário (BALLARIN; CARVALHO; FERIGATO, 2010). Tal
responsabilização tem seu marco inicial no princípio da integralidade. Na pactuação do
serviço devem ser construídas as responsabilidades diante das condições psicossociais e nos
pontos de execução dos serviços essa ideia ganha forma especial. Nos serviços prestados, o
conjunto dos profissionais deve ter o compromisso com a busca do cuidado integral, na
perspectiva de um “trabalho vivo”, em que se fazem necessários o vínculo, a escuta, a
comunicação e a responsabilização com o cuidado, como condutor da prática (DIMENSTEIN
et al, 2012).
A constituição da RAPS preconizou novas propostas e possibilidades de atenção as
pessoas em sofrimento psíquico no seu território, fortalecendo assim o trabalho em rede com
foco na inserção da pessoa em sua comunidade. Esta proposição de cuidado em rede envolve
não apenas a existência de pontos de atenção para dar conta da situação de saúde apresentada,
mas de pontos de movimento desse mesmo usuário na RAPS. Ou seja, parte-se da ideia de
que, sobretudo os problemas da ordem psicológica e social, devem ter sempre em perspectiva
um tipo de evolução, como no caso da reabilitação psicossocial de uma pessoa em sofrimento
psíquico. A Rede deve estar preparada para redesenhar seu projeto terapêutico, ou seja, para ir
além do simples encaminhamento.
A atenção às situações de crise é parte integrante do conjunto e da continuidade da
prática terapêutica nos serviços de saúde da RAPS. É, sobretudo, nos contextos reais de vida
das pessoas, que se constitui um campo de aprendizagem que envolve os profissionais dos
serviços, tanto das unidades especializadas quanto dos serviços de urgência e emergência, os
usuários, os familiares e as pessoas do território. A atenção à crise está associada
prioritariamente à oferta de uma atenção longitudinal nos contextos de vida das pessoas.
Assim sendo, o acolhimento, a abordagem e o cuidado no território às pessoas em situação de
crise.
Uma situação de crise pode ser definida e/ou compreendida como um “sofrimento
grave, ocasionado por causas diversas, clínicas e de álcool e outras drogas, podendo tornar-se
mais intensa e frequente, causando uma ruptura da rede social de suporte e a processos de
incapacitação e invalidação social” (ANDRADE; ZEFERINO; FIALHO, 2016).
29
Nesse sentido, utilizou-se para este estudo o conceito ampliado de crise, que abarca
não somente o seu sentido tradicional, de exacerbação de sintomas ou de perturbação da
ordem social. Optou-se pela sua compreensão como experiência singular que, ao mesmo
tempo, produz vivências dolorosas, marcadas pela incerteza, temor e estranhamento, mas que
contém em si elementos criativos, que expressam a particularidade do sujeito e de seu desejo.
Essa conceituação, que deveria guiar todo o atendimento em saúde mental do País,
encontra-se ainda em processo de apropriação pelos trabalhadores da saúde e, em alguns
casos, longe da concretização esperada. Em recente estudo realizado numa cidade de médio
porte, constatou-se que os serviços simplificam por meio da atenção ao sintoma o
atendimento a crise, retirando do sujeito a responsabilidade sobre seu sofrimento e sua vida
(DIMENSTEIN et al, 2012).
O desafio que se apresenta é produzir serviços que atuem para além do silenciamento
dos sintomas e do isolamento dos sujeitos, respondendo às necessidades das pessoas em seus
contextos reais de vida. Somente assim será possível um cuidado que garanta a liberdade e a
autonomia, promovendo novas estratégias de resposta às situações de intensa fragilidade e
sofrimento e construindo práticas comprometidas com a defesa dos direitos humanos e resgate
da cidadania (SILVA et al, 2013).
Assim, além das tradicionais classificações de risco utilizadas, há a necessidade de
construção de critérios de vulnerabilidade psicossocial que possam nortear a atuação dos
trabalhadores em situações de urgência em saúde mental, de maneira a distinguir populações
socialmente desiguais e ofertar cuidados segundo suas necessidades (DE ALMEIDA;
FUREGATO, 2015).
Contudo, é sabido que os serviços ainda possuem limitações para lidar com a crise,
apresentando condutas pontuais e apressadas, operando apenas o silenciamento dos sujeitos,
inviabilizando a formação de vínculos, reproduzindo, assim, a mesma lógica manicomial
herdada dos asilos. Tais condutas facilitam o retorno dos usuários às internações psiquiátricas,
comprovado por estudos que indicam que um grande número de pacientes que chegam em
crise aos serviços são encaminhados para internação (SILVA; DIMENSTEIN, 2014).
Se os serviços, individualmente, têm essa orientação, na RAPS não parece ser
diferente. Usuários, por meio de narrativas de vida, denotam que os serviços utilizam
estratégias medicalizantes e hospitalocêntricas, que remetem a uma falsa
desinstitucionalização, pois os valores nos quais se baseia o cuidado continuam os mesmos e
a lógica manicomial se mostra, principalmente, nas situações mais delicadas, como na
irrupção das crises (PEREIRA; DE CASTILHO; MIRANDA, 2014).
30
Para tanto, sugere-se que abordagem terapêutica para as pessoas em situação de crise
pautem-se em ações que possam inventar novos contextos, que não privilegiem a crise
propriamente dita e seus sintomas e sim a pessoa que sofre.
A partir do exposto, este estudo tem como objetivo compreender as estratégias para a
qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
propostas pelos trabalhadores da RAPS.
MÉTODO
em situação de crise e urgência em saúde mental? Esse documento foi produzido e postado
pelos alunos no Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem.
Foram categorizadas as proposições para a qualificação de cuidado segundo o método
de Análise de Conteúdo Temática aportada por Bardin (2011), com abordagem crítica
reflexiva acerca do material, a fim de se preservar a autenticidade do conteúdo e o seguinte
rigor metodológico.
Os documentos foram organizados no período de julho a setembro de 2017 no
Software QRS NVivo® 2.0 para melhor análise e codificação. O NVivo é um programa para
análise de informação qualitativa que integra as principais ferramentas para o trabalho com
documentos textuais, multimétodo e dados bibliográficos. Ele facilita a organização de
entrevistas, imagens, áudios, discussões em grupo, leis, categorização dos dados e análises.
Na parte de dados qualitativos é possível realizar transcrição de vídeos e áudios, codificar
texto, análises de redes sociais e/ou páginas da web, entre outros. (DA SILVA;
FIGUEIREDO FILHO; DA SILVA, 2015).
Após a organização do material e análise coletiva desses dados, corroborando com o
método de Análise de Conteúdo Temática (BARDIN, 2011), seguiram-se as etapas propostas
pelo autor: Pré-análise: exploração do material e tratamento da informação, tornando-o
operacional, sistematizando as informações iniciais, criou-se um banco de dados no qual
estavam presentes os relatos que mais se repetiram; Codificação, classificação e categorização
dos dados: listaram-se os dados extraídos (codificação), identificando as unidades de análise
por meio de palavras e frases que respondiam ao objetivo da pesquisa, definindo-se uma
categoria de análise e três subcategorias; Tratamento dos resultados, inferência e
interpretação: condensando e destacando o material levantado, passou-se a analisar
reflexivamente e criticamente, estabelecendo conexão com a realidade e outros estudos
científicos.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Santa Catarina –UFSC, com parecer número: 924.432/2014, respeitando, assim, os preceitos
éticos da pesquisa, assegurados conforme a Resolução nº466/12 (BRASIL, 2012), do
Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. A coleta de dados ocorreu entre julho e
outubro de 2016.
Como garantia de sigilo, foi utilizada uma codificação numérica para os participantes
da pesquisa seguindo uma sequência de 01 a 83, como já identificados, foram respostas do
questão reflexiva quatro da edição um do curso, então identificaremos somente como A para
aluno e o número sequencial de 1 a 83.
32
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Trabalho inter-redes
profissional atua, bem como a exploração do local onde o usuário reside. Destas falas emerge
a primeira subcategoria do trabalho inter-redes: “Reconhecer o território e identificar
parcerias”.
Não só os usuários, mas o próprio serviço, fazem uso do território, portanto, estão
inseridos na dinâmica do lugar. Territorializar é buscar um sentido à ação do cuidado,
dialogar com outras redes do território rumo à intersetorialidade para o cuidado necessário à
reinserção social (LEÃO; BARROS, 2012).
O processo de territorialização circunscreve os serviços no espaço de convívio social,
interagindo com a família, escola, igreja, trabalho e outras redes de agentes de cuidado na
atenção psicossocial. Há necessidade de os serviços ocuparem os espaços dos bairros, não só
com atividades informativas, mas, como meio de poder afinar sua prática clínica às
especificidades dos contextos onde estes usuários vivem, potencializando as ações de saúde
mental no território (SANTOS; NUNES, 2011).
O trabalhador da saúde que conhece o território em que atua possui um fator
determinante na integração do cuidado, pois possibilita ao serviço buscar parcerias na
comunidade, família e amigos da pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
construindo uma rede de cuidados e um elo entre o serviço de saúde e a própria população.
35
integração de serviços foram descritos em quarenta e duas reflexões, resultando uma margem
de 52% das respostas analisadas.
Para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência me saúde mental
é preciso primeiramente sensibilizar a gestão da necessidade de retomarmos o conselho de
urgência e emergência e organizarmos no município a RUE; Buscar multiplicar a
capacitação para o atendimento inicial seja ele em que ponto da rede acontecer;
Definir/convergir melhor os fluxos e/ou protocolos de referência nas diversas situações de
crise e urgência; Criar condições de qualificar a UPA e SAMU nas medidas de abordagem e
se necessário contenção e medicação; Conversar com outras instancias envolvidas como
guarda municipal, polícia militar, judiciário e outros; Matriciar o PSF, organizar a lógica de
territorialização do CAPSI e efetivar a equipe de matriciamento.(A42).
Trazendo toda essa bagagem para o meu dia a dia e à minha realidade de trabalho, o que
seria possível para não só eu, mas toda a equipe que compõe a saúde mental do município no
qual trabalho é intensificar, qualificar e fortalecer mais o matriciamento na rede de Atenção
Básica e demais pontos. (A81).
É importante salientar que para um cuidado efetivo, é necessário que ocorra de forma
interdisciplinar, em que a responsabilidade envolvida seja tanto da equipe, como de cada um
dos trabalhadores envolvidos neste processo. (A80).
Também foi possível constatar que não é um caminho a ser trilhado sozinho. Ficou ainda
mais evidente a importância do trabalho interdisciplinar, do conhecimento da rede e da
busca de parcerias. (A1).
39
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O funcionamento isolado de serviços, sem diálogo e fluxos contribui para que sejam
reforçados os modelos hierarquizados, indo contra o processo de trabalho horizontalizado em
rede e impedindo a construção de cuidado compartilhado.
Este trabalho contribui para se pensar práticas inovadoras e focos de atenção
multidisciplinar, construindo uma rede de atenção integral à saúde priorizando a
intersubjetividade, a participação e a articulação intersetorial. Dentre as limitações
encontradas, a questão de se utilizar portfólios pode ter sido um fator limitante por não
permitir a interação com os sujeitos do estudo. Outras pesquisas devem ser feitas para ampliar
as estratégias para o cuidado em rede.
REFERÊNCIAS
BALLARIN, Maria Luisa Gazabim Simões; CARVALHO, Fábio Bruno de; FERIGATO,
Sabrina Helena. Os diferentes sentidos do cuidado: considerações sobre a atenção em saúde
mental. Mundo saúde (Impr.), p. 444-450, 2010.
______. Casa Civil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990: Dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, v. 128, n. 182, 1990.
CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; DOMITTI, Ana Carla; Apoio matricial e equipe de
referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.2, p. 399-407, fev. 2007.
DE ALMEIDA, Aline Siqueira; FUREGATO, Antonia Regina Ferreira. Papéis e perfil dos
profissionais que atuam nos serviços de saúde mental. Revista de Enfermagem e Atenção à
Saúde, v. 4, n. 1, 2015.
DELFINI, Patricia Santos de Souza et al. Articulação entre serviços públicos de saúde nos
cuidados voltados à saúde mental infanto juvenil. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, n. 2, p.
357-366, 2012.
JORGE, Maria Salete Bessa et al. Promoção da Saúde Mental - Tecnologias do Cuidado:
vínculo, acolhimento, co-responsabilização e autonomia. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 16, n. 7, p. 3051-3060, July 2011.
MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 15, n. 5, p. 2297-2305, Ago. 2010 .
SANTOS, Marcos Roberto Paixão; NUNES, Mônica de Oliveira. Território e saúde mental:
um estudo sobre a experiência de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, Salvador,
Bahia, Brasil. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 15, n. 38, p. 715-726, 2011.
42
SILVA, Maura Lima Bezerra e; DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. Manejo da crise:
encaminhamento e internação psiquiátrica em questão. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v.
66, n. 3, p. 31-46, 2014.
ZEFERINO, Maria Terezinha et al. Percepção dos trabalhadores da saúde sobre o cuidado às
crises na Rede de Atenção Psicossocial. Escola Anna Nery, v. 20, p. 20160059, 2016.
ZEFERINO, Maria Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt; ROOS, Cristine Moraes; Clínica de
Enfermagem na Atenção Psicossocial in PROENF Atenção Primária e Saúde da Família.
1. ed. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2017. v. 3. 164p.
43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho de conclusão de curso teve como questão de pesquisa: Como qualificar o
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental? Para tanto, foi
estabelecido um objetivo geral: Compreender as estratégias para a qualificação do cuidado em
rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental propostas pelos trabalhadores
da RAPS; e, três objetivos específicos: Identificar as ações para ampliar a resolutividade do
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental; Descrever as
ações propostas pelos trabalhadores da RAPS para a qualificação do cuidado em rede à pessoa
em situação de crise e urgência em saúde mental; Analisar as ações propostas como
estratégias para a qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência
em saúde mental.
O método utilizado para que o objetivo fosse alcançado proporcionou compreender,
através das descrições dos trabalhadores que participaram do estudo, as ações utilizadas por
eles para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde
mental reconhecendo estas ações como estratégias imprescindíveis para o cuidado integral.
Diante das análises, o estudo possibilitou compreender estratégias para a qualificação
do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental:
reconhecimento de território; busca de parcerias na comunidade como instituições de ensino,
associações comunitárias, igrejas, entre outros; articulação em rede através de reuniões de
equipe, formação de comitê gestor em saúde mental e capacitações, além do matriciamento
expandido com o trabalho interdisciplinar focando no trabalho coletivo e compartilhando
conhecimento, sendo necessário o engajamento de todos os profissionais nas diferentes
esferas de atenção à saúde ampliando a efetividade das práticas de cuidado.
Com este estudo foi possível ampliar os conhecimentos acerca da atenção
psicossocial, sendo fundamental a utilização de estratégias para a qualificação do cuidado à
pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.
Ficou evidente a necessidade de comunicação entre os diferentes pontos de atenção à
saúde, colaborando para minha formação profissional através do olhar humanizado e
compartilhado, onde o conhecimento deve ser dividido e beneficiado para todos.
Trabalhar com a questão de saúde mental nos dias atuais é de suma importância, visto
que, o sofrimento psíquico vem aumentando progressivamente. A formação dos profissionais
em saúde mental contribui para o atendimento à população de forma geral, realizar uma
escuta qualificada requer conhecimento, dedicação e tempo do trabalhador de saúde,
44
REFERÊNCIAS
BALLARIN, Maria Luisa Gazabim Simões; CARVALHO, Fábio Bruno de; FERIGATO,
Sabrina Helena. Os diferentes sentidos do cuidado: considerações sobre a atenção em saúde
mental. Mundo saúde, p. 444-450, 2010.
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referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de
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MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
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um estudo sobre a experiência de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, Salvador,
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WILLRICH, Janaína Quinzen, et al. "Da violência ao vínculo: construindo novos sentidos
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World Health Organization. Depressão: Vamos Conversar. Rio de Janeiro: WHO; 2017.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/depressao-e-tema-de-campanha-da-oms-para-dia-
mundial-da-saude-de-2017/>. Acesso em: 21 mai. 2017.
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ZEFERINO, Maria. Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt; ROOS, Cristine Moraes. Clínica
de Enfermagem na Atenção Psicossocial in PROENF Atenção Primária e Saúde da
Família. 1. ed. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2017. v. 3. 164p.
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