Sei sulla pagina 1di 54

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

BÁRBARA APARECIDA OLIVEIRA FORGEARINI

ESTRATÉGIAS PARA A QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA


EM SITUAÇÃO DE CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL

FLORIANÓPOLIS

2017
BÁRBARA APARECIDA OLIVEIRA FORGEARINI

ESTRATÉGIAS PARA A QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA


EM SITUAÇÃO DE CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL

Trabalho de conclusão de curso, referente à


disciplina: Trabalho de conclusão de curso II
(INT5182) do Curso de Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa
Catarina.

Orientadora: Profª Dra. Maria Terezinha Zeferino

FLORIANÓPOLIS

2017
BÁRBARA APARECIDA OLIVEIRA FORGEARINI

ESTRATÉGIAS PARA A QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA


EM SITUAÇÃO DE CRISE E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL

O presente Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) foi julgado adequado e aprovado, em de


05 dezembro de 2017, como requisito parcial para obtenção do título de Enfermeiro pela
Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, 05 de dezembro de 2017.

_____________________________________________
Prof. Dr. Jeferson Rodrigues,
Coordenador do Curso de Graduação em Enfermagem

Banca Examinadora

_____________________________________________
Profª. Drª. Maria Terezinha Zeferino
Presidente

_____________________________________________
Profª Dra. Cristine Moraes Roos
Membro Efetivo

_____________________________________________
Enfermeira Mestranda Daymée Taggesell de Córdova
Membro Efetivo
AGRADECIMENTOS

Gratidão talvez seja um dos sentimentos mais nobres que o ser humano possa ter,
neste instante em que penso nas pessoas que me ajudaram a chegar até aqui surge em meu
peito um amor imensurável. Lembranças de pessoas e momentos que vivenciei que
permanecerão guardados em minha memória. A todos que fizeram parte deste meu caminho,
familiares, amigos, professores, colegas e pacientes que contribuíram para meu crescimento
profissional e pessoal demonstro minha profunda gratidão.
Agradeço a Deus pela oportunidade de viver, pela força para superar os momentos em
que me sentia frágil, pelo discernimento para realizar as melhores escolhas e trilhar os
melhores caminhos, que nem sempre foram fáceis, mas que se fizeram possíveis para chegar
até aqui.
Aos meus Pais que me educaram, mostrando-me o caminho do bem e me dando força
nos momentos em que fraquejava. Agradeço por acreditarem em mim e passar sempre um
pensamento positivo quando eu não enxergava a proposta de Deus para minha vida. À minha
mãe que, por muitas vezes, veio ao meu encontro para cuidar dos meus filhos, pois estava
difícil dar conta de tantos afazeres. Ao meu pai, que compreendia e de longe me tranquilizava
dizendo que tudo iria dar certo.
Aos meus cinco irmãos, Sandro, Luciana, Giovana, Fabiana e Moisés, da qual me
orgulho pela garra e determinação que possuem e, que através do exemplo me fizeram ter
força para buscar meus sonhos.
À minha sogra e meu sogro pelos finais de semana de descanso em sua casa, nosso
refúgio para respirar e descansar a cabeça na companhia de vocês.
À todos amigos, tios, tias e primos de coração de Palmares do Sul, cidade que tenho
grande afeição.
Meu agradecimento especial ao meu companheiro de vinte anos Fabiano, que
incentiva e apoia as minhas decisões e aos meus filhos Iago e Arthur. À vocês minha eterna
gratidão e amor incondicional. Obrigada pela paciência, parceria e carinho de sempre e por
me ajudar a tornar este sonho em realidade.
Ao corpo docente do Departamento de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade
Federa de Santa Catarina que formam profissionais competentes e qualificados visando o bem
estar e qualidade de vida da pessoa através do cuidado humanizado.
Ao Grupo de Pesquisa NUCRON e seus integrantes, do qual fiz parte por dois anos,
sendo inserida no campo das pesquisas, aprendendo e crescendo profissionalmente.
Ao Laboratório de Pesquisa APIS e seus integrantes, na qual faço parte com muito
carinho e, onde pude desenvolver meus conhecimentos frente a saúde mental desenvolvendo
minha pesquisa para este trabalho de conclusão de curso.
À Professora Dra. Maria Terezinha Zeferino, por me acolher e acreditar em meu
potencial, orientando meus passos durante esta jornada e contribuindo para minha formação
acadêmica.
À Professora Dra. Cristine Moraes Roos pelo companheirismo e motivação durante os
percalços desta jornada.
À Mestranda Enfermeira Daymée Taggesell de Córdova pelas contribuições, carinho e
exemplo de dedicação e competência no trabalho em que exerce.
Aos membros da banca que contribuíram com seus conhecimentos e para o meu
crescimento profissional.
Ao Dr. Marcelo Brandt Fialho pelas dicas e longas conversas sobre saúde mental,
fazendo com que meu olhar sobre o tema fosse humanizado, compartilhado e competente.
Aos meus amigos Joane, Heloísa e Jader pelos abraços acolhedores, paciência, risadas
e parceria.
E, finalmente, agradeço a todos que participaram deste meu caminho, aos profissionais
da saúde e pacientes por onde passei, que de certa forma contribuíram com meu aprendizado,
aos colegas, e aos amigos que mesmo de longe sempre enviaram boas energias para que este
momento se tornasse realidade.
FORGEARINI, Bárbara A. O. Estratégias para a qualificação do cuidado em rede à
pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental segundo a percepção dos
trabalhadores da RAPS. 2017. 49 p. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) – Curso de
Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2017.

RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso teve por objetivo geral compreender as estratégias para a
qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
propostas pelos trabalhadores da RAPS. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com
abordagem qualitativa. O estudo foi realizado com base na resposta de 83 questões reflexivas
elaboradas pelos alunos da primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental:
“Considerando as competências adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é
possível fazer para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em
saúde mental.” Os dados foram analisados segundo o método de Análise de Conteúdo
Temático de Bardin, que compreende três fases: pré-análise, exploração do material e
tratamento das informações, inferência e a interpretação. Os dados resultaram na categoria
temática: “O trabalho inter-redes”, composto por três subcategorias: Reconhecer o território e
identificar parcerias; Articulação com parcerias para o cuidado integrado; Matriciamento
expandido com trabalho interdisciplinar. Através do relato dos trabalhadores evidenciou-se
que conhecer o território, buscar parcerias na comunidade e articular com os diversos pontos
de atenção da RAPS, além de outros locais como associações comunitárias, igrejas e escolas,
se faz necessário para a qualificação do cuidado em situação de crise e urgência em saúde
mental. Considera-se que o matriciamento seja a principal estratégia de comunicação entre os
serviços criando um elo entre os trabalhadores, usuário, família e comunidade fortalecendo o
trabalho em rede e ofertando um cuidado integral para a população.

Palavras-chave: Rede de Atenção Psicossocial; Intervenção na Crise; Saúde Mental; Atenção


Integral em Saúde.
LISTA DE SIGLAS

APIS Laboratório de Tecnologia e Inovação na Pesquisa, Ensino e Extensão

em Atenção Psicossocial e Drogas

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família

OMS Organização Mundial da Saúde

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

PNH Política Nacional de Humanização

PVC Programa Volta para Casa

RAPS Rede de Atenção Psicossocial

RAS Redes de Atenção à Saúde

RUE Rede de Urgência e Emergência

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SUS Sistema Único de Saúde

UPA Unidade de Pronto Atendimento


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 14
2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................... 14
2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................... 14
3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................... 15
3.1 O cuidado em saúde mental ............................................................................................. 15
3.2 Redes de Atenção à Saúde................................................................................................ 18
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................................... 21
4.1 Desenho do estudo .............................................................................................................. 21
4.2 O contexto do estudo .......................................................................................................... 21
4.3 Participantes ....................................................................................................................... 22
4.4 Coleta de dados ................................................................................................................... 22
4.5 Processamento e análise dos dados .................................................................................... 23
4.6 Aspectos éticos ................................................................................................................... 24
5 RESULTADOS .................................................................................................................... 26
5.1 Manuscrito: PROPOSIÇÕES DOS TRABALHADORES DA RAPS PARA A
QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA EM SITUAÇÃO DE CRISE E
URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL ...................................................................................... 26
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 43
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 45
APÊNDICES ........................................................................................................................... 49
9

1 INTRODUÇÃO

Nos primórdios da humanidade a doença estava ligada com a ocorrência do


sobrenatural, tal como os ventos, as tempestades ou as manifestações de deuses malévolos. A
doença, com suas dolorosas consequências, seria obra de algum espírito, cuja ira importaria
aplacar com os sacrifícios, ou seria obra de algum inimigo, dotado de poderes especiais, cuja
animosidade haveria de ser combatida por meio de sortilégio. (HEGENBERG, 1998).
Durante a evolução humana diferentes conceitos sobre saúde/doença foram discutidos,
até que se estabelecesse um que enxergasse o indivíduo em toda sua integralidade,
considerando o bem-estar físico, mental e social das pessoas para uma vida saudável e
produtiva e, não apenas, para a ausência de enfermidade. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS) (1946) “A saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e
não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade.” No que concerne aos
“transtornos mentais”, sabe-se que são tão antigas quanto a vida, porém sua identificação e os
tratamentos aplicados vem se modificando ao longo dos anos.
O conceito de “loucura” e, consequentemente o conceito de “crise” foram construídos
histórica e socialmente ao longo de séculos, o que hoje denominamos “crise psicótica”, já foi
entendido como manifestação de sabedoria, de possessão demoníaca, bruxaria, de subversão
da ordem social e, por fim como “doença mental”, enfermidade que privava seu portador de
distinguir entre o bem e o mal. (FIALHO, 2015).
Na Antiguidade, predominavam as explicações sobre a interferência de entidades
sobrenaturais perante a razão humana. A partir do século XVIII, com o declínio dos ofícios
artesanais, graças à nascente sociedade industrial, que os núcleos urbanos passam a agregar
pessoas sem um lugar nesta nova ordem social. As ruas ficam repletas de indivíduos
incapazes ou indiferentes ao trabalho nas fábricas, que se tornam incômodos. Incluem-se
nessa categoria desocupados, mendigos, vagabundos e loucos. Surgiram, então, medidas
higienistas de “limpeza” das ruas, através do recolhimento dos indesejáveis em casas de
correção e hospitais. (SILVA; ZANELLO, 2010).
Esses hospitais, em sua maioria ligados a instituições religiosas, voltavam-se mais
para a salvação das almas do que para o cuidado dos corpos, mas, com o tempo, passam a
fazer parte do interesse médico. A “loucura”, aos poucos, adquire o status de “transtorno
mental”, enfermidade que privava seu portador de distinguir entre o bem e o mal. Consolida-
se, a partir de então, a ideia de que o indivíduo deveria submeter-se a tratamentos que
visavam sua reeducação pedagógica, afastado do convívio familiar e das influências sociais. É
10

nesse contexto que o hospital passa a ser o local de observação e de “cura” do “alienado”.
(SILVA; ZANELLO, 2010).
No período pós-Segunda Guerra (1945-1973), a incômoda semelhança dos
manicômios com os horrores praticados nos campos de concentração nazistas mostra-se
incompatível com os projetos de reconstrução europeus. Além disso, um grande número de
jovens havia sobrevivido à guerra com graves danos psíquicos. Esse é o campo fértil para o
despontar de novos paradigmas no cenário mundial, contrapondo-se ao modelo
hospitalocêntrico e buscando transformações nos conceitos e nas formas de lidar com a
“loucura”. Diferentes países buscaram redirecionar suas políticas de atenção à saúde mental,
investindo na substituição de hospitais por ações e serviços comunitários. (SOARES; SILVA,
2014).
Desde a década de 1970 muitos movimentos ao redor do mundo foram se constituindo
em busca de melhorias na saúde. Nessa mesma década, se afirma no Brasil o Movimento
Sanitário Brasileiro. A difusão das propostas de Medicina Comunitária, com o apoio da
Organização Mundial da Saúde (OMS), forçou a penetração no interior do Estado brasileiro,
por um lado. Por outro lado, a movimentação de setores da sociedade civil ligados à área de
Saúde, dirigidos taticamente pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), articulando a relação
Saúde e Democracia, imprimiu o eixo de debate, promovendo a organização de setores
progressistas e de esquerda, de profissionais de saúde pública no, posteriormente, denominado
Movimento Sanitário, inspirado na Reforma Sanitária Italiana. (SOARES; SILVA, 2014).
O Movimento de Reforma Sanitária se fortaleceu nacionalmente após a VII
Conferência Nacional de Saúde, em 1980. E, diante de uma crise econômica com recessão e
da crise previdenciária atingindo as condições de trabalho na saúde e arrocho salarial, ocorreu
uma onda de greve envolvendo 60 mil médicos em todo o país, e mesmo com a Ditadura
Militar, que proibia manifestações de qualquer tipo, aconteciam movimentos de lutas a favor
da saúde. Outro momento importante para o Movimento Sanitário é a VIII Conferência
Nacional de Saúde, que aconteceu no ano de 1986 e representou um marco para Reforma
Sanitária Brasileira. (SANTOS, 2004).
Neste processo de lutas, surge a reforma psiquiátrica, que no Brasil, teve início no fim
dos anos 70, na luta contra a ditadura militar. Um de seus ápices está no ano de 1978,
marcado pela efervescência dos movimentos sociais em busca e defesa dos direitos dos
usuários dos sistemas psiquiátricos no Brasil. Em consonância a este, identifica-se o
surgimento de pequenos núcleos estaduais, principalmente, nos estados de São Paulo (SP),
Rio de Janeiro (RJ) e Minas Gerais (MG), que formam o Movimento dos Trabalhadores em
11

Saúde Mental (MTSM). (SOARES; SILVA, 2014). Ainda neste mesmo ano ocorreu o I
Simpósio Brasileiro de Psicanálise de Grupos e Instituições, com a participação de grandes
autores e atores da reforma psiquiátrica internacional, sendo este o marco do processo na
mudança em saúde mental no Brasil. (AMARANTE, 2014).
No decorrer dos anos, muitos outros eventos ocorreram em busca dos direitos da
população em relação à saúde mental. Em 1987, foi criado o primeiro Centro de Atenção
Psicossocial (CAPS), sendo um serviço de atendimento fora da lógica manicomial, tornando-
se referência nas políticas de saúde mental. Dois anos mais tarde, surge, no Congresso
Nacional, um Projeto de Lei que visa regulamentar os direitos das pessoas com transtornos
mentais, bem como a extinção dos manicômios no país. Nesse momento iniciam-se diversas
discussões acerca dos problemas enfrentados na área da saúde mental e surge um grande
movimento, conhecido como Reforma Psiquiátrica. Já em 2001, devido a permanente
reivindicação do movimento da reforma psiquiátrica, ocorreu a III Conferência Nacional de
Saúde Mental, um evento extremamente importante, com grande participação da força social
e política do movimento de reforma psiquiátrica em todo país. (AMARANTE, 2014).
Ainda em 2001, foi sancionada a Lei n. 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em
saúde mental no Brasil. (BRASIL, 2001). A Lei de Reforma Psiquiátrica reconhece o
indivíduo com transtorno mental como cidadão, buscando regulamentar suas relações com
outros portadores, profissionais de saúde, do direito, a sociedade e o Estado, uma vez que
atribui a cada um o seu papel no tratamento. (BRITO; VENTURA, 2012).
A atual política nacional de saúde mental do Brasil é reconhecida por organismos
internacionais como a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial
da Saúde (OMS). Tem por diretriz a desintitucionalização das pessoas com transtornos
mentais, substituindo a centralidade dos hospitais psiquiátricos por uma ampla e diversificada
rede de serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência,
Serviços Residenciais Terapêuticos e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, entre outros.
(ANDRADE; ZEFERINO; FIALHO, 2016).
A partir deste movimento da Reforma Psiquiátrica, o conceito humanização torna-se
protagonista nos cenários de saúde mental. E, consoante aos princípios do SUS, surge a
Política Nacional de Humanização (PNH), criada no ano de 2003 pelo Ministério da Saúde,
com o propósito de atender à integralidade da população, a partir de estratégias que ampliam a
condição de direito e cidadania das pessoas, para implementar um atendimento mais
12

humanizado. Essa política prevê ainda, uma reorganização dos processos de trabalho em
saúde. (PASCHE, PASSOS, HENNINGTON, 2011).
Nesta proposta da PNH, estão incluídos o modelo da clínica ampliada e a perspectiva
da abordagem psicossocial, presentes no Centro de Atenção Psicossocial - CAPS. Esta lógica
de cuidar da pessoa com transtorno mental procura romper com o modelo manicomial, aquele
fundamentado na contenção disciplinar do sujeito assim como na medicalização do
sofrimento. A marca desta nova proposta é a escuta do usuário em sua singularidade.
(BRAGA, 2012).
Nestas circunstâncias, o SUS foi se adequando e a partir da preocupação com a
integralidade do cuidado e melhor aproveitamento dos recursos, surgiu a política de Redes de
Atenção à Saúde (RAS). Essas redes são arranjos organizativos de ações e serviços de saúde,
integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, que buscam garantir a
integralidade do cuidado, sendo instituídas através da Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de
2010. (BRASIL, 2010). As principais redes temáticas da RAS são: Rede Cegonha; Rede de
Atenção às Urgências e Emergências (RUE); Rede de Atenção às Doenças e Condições
Crônicas; Rede de Cuidado à Pessoa com Deficiência; e a Rede de Atenção Psicossocial
(RAPS). Essas redes foram assim escolhidas por se tratarem das prioridades que apresentam
maior impacto sobre a situação de saúde da população brasileira.
Diante do contexto de reformas na saúde, a implementação da Portaria n. 3.088, de 23
de dezembro de 2011, republicada em 21 de maio de 2013, na qual instituí a RAPS e, que
estabelece os pontos de atenção à saúde para o atendimento de pessoas com transtornos
mentais e com necessidades decorrentes do uso nocivo de álcool e outras drogas. A RAPS
tem como finalidade a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para
essas pessoas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). (BRASIL, 2013).
A RAPS é constituída pelos seguintes componentes e pontos de atenção: Atenção
Básica em Saúde (Unidade Básica de Saúde, Equipe de Atenção Básica para Populações
Específicas e Centros de Convivência); Atenção psicossocial especializada (CAPS); Atenção
de urgência e emergência (SAMU, Sala de Estabilização, UPA 24 horas, Urgência/Pronto-
Socorro, Unidades Básicas de Saúde e outros); Atenção residencial de caráter transitório
(Unidade de acolhimento e Serviço de atenção em regime residencial); Atenção Hospitalar
(Enfermaria especializada em hospital geral, Serviço Hospitalar de Referência (SHR);
Estratégias de desinstitucionalização (Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT) e Programa
de Volta para Casa (PVC)); e, reabilitação psicossocial. (BRASIL, 2013).
13

A RAPS ganha destaque na área da saúde mental e surge como uma das mais
importantes políticas, que envolve uma grande equipe multiprofissional cuidando das pessoas
em sofrimento psíquico, seja no foco preventivo, promotor ou curativo. É possível assim
afirmar, que a criação dessa rede se consolida como um marco importante da Reforma
Psiquiátrica. (BRASIL, 2013).
A escolha da atenção psicossocial para este trabalho de conclusão de curso se deu a
partir da sétima fase do Curso de Graduação em Enfermagem, onde tive contato direto com
pessoas portadoras de transtornos mentais nas aulas práticas em um Centro de Atenção
Psicossocial de usuários de Álcool e/ou outras Drogas (CAPS AD), trabalhando diretamente
com a política de atenção psicossocial e suas formas de cuidado. Além disso, minha
participação no APIS - Laboratório de Tecnologia e Inovação na Educação, Pesquisa e
Extensão em Atenção Psicossocial e Drogas gerou uma melhor aproximação com a temática.
Assim, este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) fez parte do macro projeto de pesquisa do
Laboratório de pesquisa APIS com o título: “Rede de Atenção Psicossocial no Brasil:
discursos e práticas”, sob a coordenação da professora Dra. Maria Terezinha Zeferino. Este
projeto teve como público alvo os alunos do curso Crise e urgência em saúde mental, sendo
realizado em parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), por meio do APIS - Laboratório de Tecnologia e Inovação na Educação,
Pesquisa e Extensão em Atenção Psicossocial e Drogas. Constituiu-se como um curso de
atualização profissional, com 100 horas de duração, realizado à distância, com uso de
ferramentas interativas (perfil, chats, fóruns, exercícios avaliativos e portfólios) cujo objetivo
foi proporcionar novos conhecimentos e produzir reflexões, transformando e (re) construindo
a realidade no âmbito de atuação do aluno.
Fica evidenciado que, mesmo com todas as políticas inovadoras e capacitações para o
cuidado em saúde mental, os estudos ainda apontam que os profissionais de saúde e, a própria
população em geral, não conseguem identificar as redes de apoio existentes na comunidade.
SOUZA et al., (2013) afirma que os enfermeiros não reconhecem os recursos informais como
uma rede de apoio à saúde mental apontando apenas os serviços de saúde e universidade
como parceiros em relação aos cuidados de saúde mental.
Portanto, foi estabelecido para este estudo a seguinte questão de pesquisa: Como
qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental na
visão dos trabalhadores da RAPS?
14

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Compreender as estratégias para a qualificação do cuidado em rede à pessoa em


situação de crise e urgência em saúde mental propostas pelos trabalhadores da RAPS.

2.2 Objetivos Específicos

Identificar as ações para ampliar a resolutividade do cuidado em rede à pessoa em


situação de crise e urgência em saúde mental.
Descrever as ações propostas pelos trabalhadores da RAPS para a qualificação do
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.
Analisar as ações propostas como estratégias para a qualificação do cuidado em rede à
pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.
15

3 REVISÃO DE LITERATURA

Para este estudo, cuja temática ainda tem sido pouco abordada em estudos científicos,
foi empregada a revisão narrativa, que não utiliza critérios sistemáticos para a realização da
busca e análise do material encontrado. Esta busca não necessita que se esgotem as
possibilidades de informações, nem que sejam aplicadas estratégias rigorosas. A escolha dos
estudos, assim como a interpretação dos mesmos, ocorrem conforme a subjetividade do autor.
Este tipo de narrativa é indicado para fundamentação de artigos científicos, dissertações, teses
e trabalhos de conclusão de curso. (CORDEIRO et al, 2007).
Este tipo de revisão é visto como adequado quando o propósito é descrever uma
história, e a partir disso, discutir o assunto abordado, através de interlocuções abrangentes
com outros estudiosos da temática. (ROTHER, 2007). A área da atenção à crise ainda
concentra poucos estudos, e a motivação por ampliar a discussão envolvendo esta temática,
foi fundamental para estabelecer este tipo de revisão de literatura. Sendo assim, foi possível
ter conhecimento do que já foi abordado até o momento, bem como, possibilitar a discussão
sobre o tema.
Nesta revisão de literatura será retratada a Rede de Atenção Psicossocial no Brasil
para a atenção às pessoas em sofrimento psíquico, seu contexto histórico e concepções
teóricas, bem como o cuidado às pessoas em situação de crise em saúde mental.

3.1 O cuidado em saúde mental

O sofrimento psíquico grave é altamente prevalente no mundo e contribue para


morbidade, incapacitação e mortalidade precoce atingindo cerca de 33% da população
mundial, aproximadamente 700 milhões de pessoas. (WHO, 2017). Geralmente, é na
exacerbação dos sintomas que o sofrimento psíquico é percebido, este momento é
precisamente a crise. (FOUCAULT, 2006).
O cuidado em saúde mental, conforme proposto pelo ideário da Reforma Psiquiátrica
embasa-se, nos mesmos princípios que orientam o Sistema Único de Saúde: noção de
território, organização da atenção em rede, intersetorialidade, reabilitação psicossocial,
interdisciplinaridade, desinstitucionalização, promoção da cidadania e construção da
autonomia possível de usuários e familiares. (FIALHO, 2015).
16

Nesse sentido, o Ministério da Saúde considera necessário que a atenção em saúde


mental seja feita dentro de uma densa rede de cuidados de base territorial, comunitária e
intersetorial. (BRASIL, 2013).
O cuidado em saúde mental exige daquele que cuida uma postura ativa, que permita
reconhecer o outro na sua liberdade, na sua dignidade e singularidade. É uma atitude de
responsabilização e implicação, que evidencia-se por meio do fortalecimento dos laços entre a
pessoa que busca o atendimento, o serviço e o território. (ZEFERINO et al, 2016).
Para Franco (2007), as linhas de produção do cuidado vão desde as atividades de
pesquisa, a instituição de conceitos inovadores e práticas educacionais variadas, até sua base
coletiva ou individual de operadores das práticas cuidadoras - os trabalhadores e usuários dos
serviços de saúde. A finalidade das propostas é organizar o serviço e oferecer possíveis
mudanças organizacionais, assistenciais e na relação com as equipes, assim como, as formas
de acolhimento e responsabilização pelo usuário.
Das diversas formas de abordagens em saúde mental, o atendimento à crise é um dos
problemas mais evidentes e de difícil condução para as equipes de saúde na atualidade. A
substituição do modo asilar implica na estruturação de uma rede articulada de serviços que
abarquem as diferentes necessidades da pessoa em sofrimento psíquico, especialmente nos
momentos de crise. (DIMENSTEIN et al., 2012).
No cuidado à crise, por ser um momento de conflito psíquico em que há necessidade
do sujeito interpretar, compreender e adaptar-se (ou não) às situações desencadeantes, é
preciso desconsiderar os conceitos de “loucura” e “doença mental” para não nos
aprisionarmos às imprecisões e limitações da linguagem, muitas vezes impossíveis de serem
superados, e valorizar a pessoa em suas dimensões individual, social e política. A crise é um
momento de transformação da relação entre trabalhador da saúde e usuário e da relação do
usuário com a sociedade, pois se revela como o momento mais delicado e fragilizado da
pessoa em sofrimento psíquico. (WILLRICH et al., 2014).
Silva e Dimenstein (2014) defendem que a atenção à crise representa um ponto de
amarração de diversas estratégias propostas pela Política Nacional de Saúde Mental (PNSM).
Ou seja, a garantia do controle satisfatório da crise nos moldes psicossociais atua como fator
que colabora para a mudança de percurso dos usuários, dos hospitais psiquiátricos para os
serviços territoriais, fortalecendo a política de desospitalização vigente. Fortalecendo-a, esse
modo de atenção à crise potencializa o processo de desativação de leitos psiquiátricos,
reforçando a premência de amplificar a incorporação de egressos ao Programa De Volta Para
Casa, instituído pela Lei 10.708, de 31 de julho de 2003, para assistência, acompanhamento e
17

integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de sofrimento psíquico


grave, com história de longa internação psiquiátrica, bem como de expandir os Serviços
Residenciais Terapêuticos e os Leitos de Atenção Integral nos Hospitais Gerais. (BRASIL,
2003).
Levando em consideração a diversidade da busca pelo atendimento em saúde mental,
considera-se o território como um importante espaço para intervenções relacionadas ao apoio
para o indivíduo em sofrimento psíquico. O território é o espaço qualificado pelo sujeito. E
não é somente físico, mas também político, social. Nele estão as marcas históricas e sociais
das populações e é onde se constituem as redes e as relações das pessoas. (SILVA; DE
PINHO, 2015).
Na realidade, os usuários dos estabelecimentos de saúde, em geral, buscam formas de
vínculos aos territórios de modos muito singulares. Tomam, de um lado, o território
geográfico socialmente constituído para si como referencial e assim, o seu bairro e o que há
de equipamentos institucionais são referências. De outro lado, ele em si mesmo é um território
existencial, subjetivo e cultural, que vaza o geográfico e vai atrás de ofertas que lhe fazem
mais sentido, situadas em outros espaços materiais que não seu bairro ou seu lugar de
trabalho. (MERHY; CERQUEIRA, 2014).
Esta é uma situação muito marcante em saúde mental, onde o usuário é um nômade
pelas redes de cuidado e um forte protagonista de sua produção. De forma bem frequente é
possível observar que os usuários constroem suas próprias redes com diferentes conexões. O
território tomado como produção de agenciamentos, majoritariamente desconhecido para as
equipes de saúde, instaura uma rede não linear que não se apresenta capturada em um
território único, em um espaço geográfico definido. Como um nômade, o usuário, produz e
protagoniza de forma singular os acontecimentos, no seu processo de cuidado, capaz de
circular em territórios, muitas vezes, imperceptíveis para as equipes de saúde. (MERHY;
CERQUEIRA, 2014).
Para Conill (2008) um sistema de saúde é cultural e socialmente delimitado, sendo
composto por três subsistemas sobrepostos: o informal (família, comunidade, rede de amigos,
grupos de apoio e auto-ajuda), o popular (agentes especializados em tratar problemas de
saúde, sejam seculares ou religiosos, mas que não são profissionais reconhecidos legalmente
na sociedade) e o subsistema profissional (rede de serviços públicos e privados legalmente
instituídos em cada sociedade). As pessoas e suas famílias buscam atenção à saúde nestas três
esferas sem, necessariamente, seguir um mesmo sentido de percurso ou hierarquia.
18

Para tanto, é necessário considerar que o cuidado em rede não deve se restringir à rede
formal de serviços, fazendo-se necessário acompanhar o percurso do usuário incluindo a rede
familiar, a rede territorial e afetiva. A rede formal de cuidado é limitada não apenas pela
dificuldade, tantas vezes presente, de vínculo e de adesão ao tratamento, mas, também, porque
essa rede é restrita a um espaço físico, a um protocolo e, até mesmo, a um diagnóstico. Um
plano de cuidado pode ser mais potente se incluir a experiência in loco, o território afetivo, o
cotidiano, a família e a rede informal, como amigos, vizinhos, comerciantes locais, entre
outros. (KEMPER et al., 2015).
Considerando as redes de cuidado como formais e informais é necessário conhecer o
território onde as pessoas buscam auxílio quando se deparam em uma situação de sofrimento
psíquico. Qualificar estas redes informais como pontos de retaguarda, onde a pessoa possui
um vínculo e, atrelar com a rede de atenção à saúde pode contribuir para o tratamento e apoio
às pessoas no momento da crise.

3.2 Redes de Atenção à Saúde

A operacionalização da RAS ocorre pela interação de três elementos constitutivos:


população/região de saúde definidas, estrutura operacional e por um sistema lógico de
funcionamento determinado pelo modelo de atenção à saúde. Dentre estes três elementos
conhecer a população e região de saúde é importante para preservar, recuperar e melhorar a
saúde das pessoas, devendo, a RAS, ser capaz de identificar a população e área de
abrangência de sua responsabilidade, sendo que a região de saúde deve ser bem definida a fim
de assegurar que as estruturas sejam distribuídas de forma adequada. (BRASIL, 2010).
A implementação das RAS, através da Portaria n. 4.279, de 30 de dezembro de 2010,
direciona para uma maior eficácia na produção de saúde, melhoria na eficiência da gestão do
sistema de saúde no espaço regional, e contribui para o avanço do processo de efetivação do
SUS. Os componentes que estruturam as RAS incluem atenção primária à saúde (APS); os
pontos de atenção secundária e terciária; os sistemas de apoio; os sistemas logísticos e o
sistema de governança. (BRASIL, 2010).
As RAS apresentam como característica a formação de relações horizontais entre os
pontos de atenção e fundamentam-se na compreensão da APS como responsável pela
resolutividade dos problemas de saúde mais comuns, além de assumir o papel de coordenação
do cuidado e centro de comunicação com os demais pontos de atenção.
19

Os pontos de atenção são entendidos como espaços onde se ofertam determinadas


ações e serviços de saúde, por meio de uma produção singular, como por exemplo: os
domicílios, as unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriais especializadas, os
serviços de hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial, as residências
terapêuticas, entre outros. (BRASIL, 2010).
Nessa lógica, o modelo de redes de cuidado configura as ações de saúde mental na
atenção básica e atenção especializada. A base territorial e a atuação transversal com outras
políticas específicas buscam o estabelecimento de vínculos e acolhimento da ação em saúde.
Através da Portaria n. 3.088 de 23 de dezembro de 2011, republicada em maio de 2013, a
Rede de Atenção Psicossocial foi instituída, tendo como finalidade a “criação, ampliação e
articulação de pontos de atenção à saúde para a população em geral, promover o acesso das
pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de
crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)”. A RAPS Surge
como um modelo de assistência frente à necessidade concreta de efetivação e resolutividade
dos serviços de reabilitação psicossocial, ajudando os profissionais a trabalharem em
conjunto, aspecto fundamental para a construção de pontes que possibilitem saltos
qualitativos na assistência prestada. (BRASIL, 2013).
Para o funcionamento da RAPS constituem-se as seguintes diretrizes: respeito aos
direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; promoção da equidade,
reconhecendo os determinantes sociais da saúde; combate a estigmas e preconceitos; garantia
do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência
multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; atenção humanizada e centrada nas
necessidades das pessoas; diversificação das estratégias de cuidado; desenvolvimento de
atividades no território, que favoreça a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e
ao exercício da cidadania; desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos; ênfase em
serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social dos usuários e de
seus familiares; organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com
estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado; promoção de
estratégias de educação permanente; e desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso
de crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico
singular. (BRASIL, 2013).
Cabe à RAPS, ainda, produzir e ofertar informações sobre os direitos das pessoas, as
medidas de prevenção e cuidado e os serviços disponíveis na rede; além de regular e organizar
20

as demandas e os fluxos assistenciais no campo da saúde mental, monitorando e avaliando a


qualidade desses serviços por meio de indicadores de efetividade e resolutividade da atenção.
(BRASIL, 2013).
É necessário os profissionais de saúde estarem dispostos a produzir sentidos e valores
compartilhados, compreendendo que, na relação com outros serviços e instituições, irão
encontrar distintas linguagens, modos de operar e, mesmo, prioridades. É preciso criar
espaços de conversa para reconhecimento mútuo entre profissionais e equipes, identificação
de potencialidades e possibilidades de cooperação e produção de novos pactos em relação às
responsabilidades de cada parte, critérios de encaminhamento e de regresso dos usuários para
as unidades, estratégias de acompanhamento compartilhado, mecanismos para sanar dúvidas,
combinação de abordagens, e reavaliação de decisões e pactuações. (FEUERWERKER,
2014).
A constituição da RAPS sugere novas propostas e possibilidades de atenção às pessoas
em sofrimento psíquico no seu território, fortalecendo assim o trabalho em rede com foco na
inserção da pessoa em sua comunidade, considerando-a e sua família como protagonistas do
processo de cuidar e não mais a isolando em espaços de reclusão. O trabalho em rede tem
como objetivo possibilitar intervenções mais amplas, que levem em conta o conhecimento de
diversos profissionais, partilhando um campo de conhecimento múltiplo. Trabalhar em rede
implica, necessariamente, em uma constante construção, tendo como um dos principais
desafios a reorganização do processo de trabalho e das ações de cuidado.
21

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Desenho do estudo

Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com abordagem qualitativa. O


objetivo da pesquisa exploratória é obter maior aproximação com o fenômeno a ser
investigado, tornando-o mais explícito ou possibilitando a construção de ideias relativas ao
objetivo principal. A pesquisa qualitativa responde a questões muito peculiares, preocupando-
se em aprofundar os significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que
correspondem a um espaço mais intrínseco das relações humanas (MINAYO, 2010, GIL,
2002).
A escolha pela abordagem qualitativa justifica-se pelo fato desta permitir a
compreensão de processos sociais ainda pouco conhecidos, além de propiciar a construção de
novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias, bem como a construção
de novas teorias (MINAYO, 2008).
Para Strauss e Corbin (2008) na pesquisa qualitativa é possível explorar sobre a vida
das pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e sentimentos, bem como ao
funcionamento organizacional, movimentos sociais, fenômenos culturais e interação entre
nações, cujo objetivo é descobrir conceitos e relações nos dados brutos, bem como organizar
esses conceitos e relações em um esquema explanatório teórico.

4.2 O contexto do estudo

O estudo foi realizado com base nos materiais produzidos pelos trabalhadores que
realizaram a primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental. Trata-se de um
Curso de atualização profissional com 100 horas de duração e 90 dias de execução, todo
realizado à distância. Sendo desenvolvido em quatro módulos e suas respectivas unidades de
ensino: Introdução ao Curso; Fundamentos da atenção à crise e urgência em saúde mental;
Organização da atenção psicossocial à crise em rede de cuidado; e O cuidado às pessoas em
situações de crise e urgência na perspectiva da atenção psicossocial.
Para este curso, na modalidade à distância, foram disponibilizadas várias ferramentas e
materiais para o aprendizado. O Curso contou com os seguintes recursos didáticos
pedagógicos: Conteúdo em PDF, Conteúdo on-line, Fórum, Chat, Portfólio e Exercício
22

Avaliativo Interativo com o objetivo de proporcionar novos conhecimentos, mas também,


para que produza a reflexão, transforme a realidade e a (re)construa, no âmbito de atuação do
aluno.
Foram realizadas quatro edições deste curso: 1ª – período de 19 de maio a 16 de
agosto de 2014 (429 alunos); 2ª – 26 de agosto a 03 de novembro de 2014 (695 alunos); 3ª –
30 de março a 29 de junho de 2015 (940 alunos) e a 4ª edição de 17 de agosto a 16 de
novembro de 2015 (1.166 alunos).

4.3 Participantes

O público alvo deste estudo foram os 429 trabalhadores que realizaram a primeira
edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental, com formação em nível superior, que
atuam no âmbito da saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS). Foram trabalhadores
oriundos das diversas regiões do Brasil, selecionados pelo Ministério da Saúde.
Os critérios de inclusão foram: estar regularmente matriculado no Curso e ter
respondido às quatro questões reflexivas que formavam o portfólio. Como critério de
exclusão: ter desistido do Curso antes do seu término. Dos 429 trabalhadores do SUS que
iniciaram o curso, 56 desistiram, 302 atenderam aos critérios. Destes, 156 trabalhadores do
SUS concordaram em participar da pesquisa após leitura do termo de consentimento livre e
esclarecido (APÊNDICE A). Neste estudo foram utilizados relatos de 83 questões reflexivas,
já que a partir de então, as descrições começaram a se repetir.

4.4 Coleta de dados

Para a coleta de dados foi utilizada a questão reflexiva quatro que compunha o
portfólio da primeira edição do curso Crise e Urgência em Saúde Mental. Os portfólios foram
atividades de aprendizagem, em que os alunos elaboraram um documento individual com
reflexões sobre sua própria prática profissional, ponderando alternativas para a transformação
de sua realidade.
Segundo Klenowski (2007), o portfólio pode ser definido como um conjunto de
trabalhos no qual o estudante retrata sua história de vida, seus progressos e realizações,
destacando sua participação na seleção e julgamento dos conteúdos procurados, o que
promove uma reflexão e o desenvolvimento da capacidade crítica. Sendo assim, o portfólio
23

apresenta-se como um instrumento capaz de levar o aluno a colecionar suas opiniões, dúvidas,
dificuldades, reações aos conteúdos e aos textos estudados e às técnicas de ensino,
sentimentos e situações vividas nas relações interpessoais, oferecendo subsídios para a
avaliação do estudante, do educador, dos conteúdos e das metodologias de ensino-
aprendizagem (COTTA et al., 2012).
O Portfólio do Curso é formado pelas respostas às quatro questões reflexivas, que ao
final constituem o portfólio do curso. No Curso Crise e Urgência em Saúde Mental esta
ferramenta é uma estratégia de aprendizagem que visa concretizar em um documento a
reflexão do aluno sobre a sua realidade de trabalho, relacionando-a com o conteúdo
desenvolvido no Curso.
Dessa forma, portfólio é uma modalidade de avaliação na qual o estudante elabora um
documento individual sobre a sua experiência no Curso. Este documento deve evidenciar a
reflexão de cada um sobre a sua realidade, relacionando-a com o conteúdo desenvolvido em
cada módulo. Serão elaborados quatro portfólios, um em cada módulo, que irão refletir a
evolução do estudante no decorrer de seu estudo.
Na coleta de dados foram categorizadas as proposições para a qualificação de cuidado
apontadas pelos alunos a partir das respostas dos mesmos à questão reflexiva quatro da edição
1: Considerando as competências adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é
possível fazer para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em
saúde mental? Esse documento foi produzido e postado pelos alunos no Ambiente Virtual de
Ensino-Aprendizagem.

4.5 Processamento e análise dos dados

Os documentos foram organizados no período de julho a setembro de 2017 no


Software QRS NVivo® 2.0 para melhor análise e codificação. O NVivo é um programa para
análise de informação qualitativa que integra as principais ferramentas para o trabalho com
documentos textuais, multimétodo e dados bibliográficos. Ele facilita a organização de
entrevistas, imagens, áudios, discussões em grupo, leis, categorização dos dados e análises.
Na parte de dados qualitativos é possível realizar transcrição de vídeos e áudios, codificar
texto, análises de redes sociais e/ou páginas da web, entre outros. (DA SILVA;
FIGUEIREDO FILHO; DA SILVA, 2015).
24

Após a organização do material e análise coletiva desses dados, corroborando com o


método de Análise de Conteúdo Temática (BARDIN, 2011), seguiram-se as etapas propostas
pelo autor:
Pré-análise: exploração do material e tratamento da informação, tornando-o
operacional, sistematizando as informações iniciais, criou-se um banco de dados no qual
estavam presentes os relatos que mais se repetiram.
Codificação, classificação e categorização dos dados: listaram-se os dados extraídos
(codificação), identificando as unidades de análise por meio de palavras e frases que
respondiam ao objetivo da pesquisa, utilizando o software NVivo, verificou-se a relevância de
cada informação para análise, separando os relatos que mais se destacavam definindo-se uma
categoria de análise e três subcategorias;
Tratamento dos resultados, inferência e interpretação: condensando e destacando
o material levantado, passou-se a analisar reflexivamente e criticamente, estabelecendo
conexão com a realidade e outros estudos científicos.
Bardin (2011) define a análise de conteúdo como uma série de técnicas de
investigação, que através de uma descrição objetiva e sistemática do conteúdo das mensagens,
tem por finalidade a interpretação dessas mensagens. Segundo Bardin (2011), a análise de
conteúdo temática possibilita atingir mais precisamente os significados manifestos e latentes
trazidos pelos sujeitos, sendo que para Minayo (2007) esta forma é a que melhor atende à
investigação qualitativa do material referente à saúde. A análise consiste na descoberta dos
núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem
alguma coisa para o objetivo analítico.

4.6 Aspectos éticos

Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) fez parte do macroprojeto do Laboratório


de pesquisa APIS: “Rede de Atenção Psicossocial no Brasil: discursos e práticas”, sob a
coordenação professora Dra. Maria Terezinha Zeferino, aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina, com Parecer
número: 924.432/2014, que atende a Resolução n. 466/2012.
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é um colegiado interdisciplinar e independente,
que deve existir nas instituições que realizam pesquisas envolvendo seres humanos em todo o
Brasil. Foi criado a fim de defender os interesses dos sujeitos em sua integridade e dignidade
e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro dos padrões éticos, sendo
25

responsável pela avaliação e acompanhamento dos aspectos éticos de todas as pesquisas


envolvendo seres humanos. O CEPSH é um órgão colegiado interdisciplinar, deliberativo,
consultivo e educativo, vinculado à UFSC, criado para defender os interesses dos sujeitos da
pesquisa em sua integridade e dignidade e para colaborar no desenvolvimento da pesquisa
dentro de padrões éticos (UFSC, 2015).
A Resolução n. 466/2012/CNS/MS/CONEP, é baseada nos principais documentos
internacionais onde surgiram declarações e diretrizes sobre pesquisas que envolvem seres
humanos, e pode ser considerada regulamentação norteadora da ética em pesquisas
envolvendo seres humanos no Brasil, incorporando sob a ótica do indivíduo e das
coletividades os quatro referenciais básicos da bioética: autonomia, não maleficência,
beneficência e justiça, entre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem respeito à
comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado (BRASIL, 2012).
A participação nesta pesquisa não trouxe complicações legais, não implicou ônus ou
danos aos participantes. Porém, não é possível assegurar que, em algum momento, não trouxe
desconforto, dentre os possíveis pode-se citar o de divulgar informações sobre sua rotina de
trabalho e das relações interpessoais que nele estão presentes. Os benefícios desta pesquisa
são de contribuir na qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência
em saúde mental no Brasil, favorecendo o cuidado do usuário nos serviços de saúde.
Como garantia de sigilo, foi utilizada uma codificação numérica para os participantes
da pesquisa seguindo uma sequência de 01 a 83, como já identificados, foram respostas do
Portfólio quatro da edição um do curso, então identificaremos somente como A para aluno e o
número sequencial de 1 a 83.
26

5 RESULTADOS

Os resultados deste trabalho de conclusão de curso serão apresentados em formato de


manuscrito, conforme Art. 4º da Normativa do Trabalho de Conclusão de Curso em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina.

5.1 Manuscrito: PROPOSIÇÕES DOS TRABALHADORES DA RAPS PARA A


QUALIFICAÇÃO DO CUIDADO EM REDE À PESSOA EM SITUAÇÃO DE CRISE
E URGÊNCIA EM SAÚDE MENTAL

RESUMO

O objetivo deste estudo foi compreender as estratégias para a qualificação do cuidado em rede
à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental propostas pelos trabalhadores da
RAPS. Trata-se de uma pesquisa exploratória descritiva com abordagem qualitativa. O estudo
foi realizado com base na resposta de 83 questões reflexivas elaboradas pelos alunos da
primeira edição do Curso Crise e Urgência em Saúde Mental: “Considerando as competências
adquiridas neste curso e sua realidade de trabalho, o que é possível fazer para qualificar o
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.” Os dados foram
analisados segundo o método de Análise de Conteúdo Temático de Bardin, que compreende
três fases: pré-análise, exploração do material e tratamento das informações, inferência e a
interpretação. Os dados resultaram na categoria temática: “O trabalho inter-redes”, composto
por três subcategorias: Reconhecer o território e identificar parcerias; Articulação com
parcerias para o cuidado integrado; Matriciamento expandido com trabalho interdisciplinar.
Através do relato dos trabalhadores evidenciou-se que conhecer o território, buscar parcerias
na comunidade e articular com os diversos pontos de atenção da RAPS, além de outros locais
como associações comunitárias, igrejas e escolas, se faz necessário para a qualificação do
cuidado. Considera-se que o matriciamento seja a principal estratégia de comunicação entre
os serviços criando um elo entre os trabalhadores, usuário, família e comunidade fortalecendo
o trabalho em rede e ofertando um cuidado integral para a população.

Palavras-chave: Rede de Atenção Psicossocial; Intervenção na Crise; Saúde Mental; Atenção


Integral em Saúde.
27

INTRODUÇÃO
A partir da segunda metade do século XX o Brasil tem reorientado o modelo de
atenção à saúde tendo incorporado às suas políticas as transformações ocorridas no panorama
mundial. No que tange às ações de saúde mental, incorporou-se ao escopo práticas integradas
e articuladas que se pautam no respeito aos direitos e à cidadania das pessoas em sofrimento
psíquico; a redução das internações hospitalares por meio da constituição de uma rede
substitutiva de serviços de atenção diária; o processo de trabalho multidisciplinar; as políticas
de prevenção ao uso e dependência de substâncias psicoativas; a constituição de redes de
assistência articuladas e o estímulo à reinserção social das pessoas. Tais transformações vão
ao encontro do designado de paradigma da Atenção Psicossocial. (ZEFERINO, FIALHO,
ROOS, 2017)
Assim, tem por diretriz a desinstitucionalização das pessoas com transtornos mentais,
substituindo a centralidade dos hospitais psiquiátricos por uma ampla e diversificada rede de
serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Convivência, Serviços
Residenciais Terapêuticos e leitos psiquiátricos em hospitais gerais, entre outros
(AMARANTE, 2014). Cabe salientar que a política nacional de saúde mental do Brasil,
atualmente é reconhecida por estruturas internacionais como a Organização Pan-Americana
de Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS).
Nesta perspectiva de assistência à saúde mental, a pessoa passa a ser vista como
protagonista de seu cuidado, não mais sendo prioritariamente confinada em espaços de
segregação. A fundação do modelo psicossocial reflete a fluxo transitório para o modelo
psicossocial-territorial, outrora hospitalocêntrico-manicomial. Esta transformação teve o
objetivo de agenciar a reinserção social das pessoas, balizando as ações de saúde de forma a
integrar o cuidado à família e à comunidade. Dessa configuração criou-se uma rede de saúde
mental, com a lógica das ações focadas na responsabilização em atender pessoas com
transtornos mentais severos e persistentes, sob o nexo da territorialização.
Entretanto, a implantação e a articulação de uma rede de serviços de saúde resolutiva,
principalmente em situações de crise, dependem da capacidade que seus profissionais e
dispositivos detenham no que se refere ao aprimoramento da qualidade técnica, a equidade e o
prosseguimento da atenção, buscando acolher as necessidades e demandas da pessoa em
sofrimento psíquico (FIALHO, 2015). Estas redes têm como objetivo promover a integração
de ações e serviços de saúde com a finalidade de oferecer atenção contínua, integral, de
qualidade, responsável e humanizada, bem como incrementar o desempenho do Sistema, em
28

termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária e, ainda, eficiência econômica (JORGE
et al, 2011).
A instituição da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por meio da Portaria
3088/2011, foi considerada um avanço significativo para o campo da saúde mental. A atenção
psicossocial pensada como uma Rede deverá ter seu trabalho desenvolvido vislumbrando a
sua responsabilização pelo usuário (BALLARIN; CARVALHO; FERIGATO, 2010). Tal
responsabilização tem seu marco inicial no princípio da integralidade. Na pactuação do
serviço devem ser construídas as responsabilidades diante das condições psicossociais e nos
pontos de execução dos serviços essa ideia ganha forma especial. Nos serviços prestados, o
conjunto dos profissionais deve ter o compromisso com a busca do cuidado integral, na
perspectiva de um “trabalho vivo”, em que se fazem necessários o vínculo, a escuta, a
comunicação e a responsabilização com o cuidado, como condutor da prática (DIMENSTEIN
et al, 2012).
A constituição da RAPS preconizou novas propostas e possibilidades de atenção as
pessoas em sofrimento psíquico no seu território, fortalecendo assim o trabalho em rede com
foco na inserção da pessoa em sua comunidade. Esta proposição de cuidado em rede envolve
não apenas a existência de pontos de atenção para dar conta da situação de saúde apresentada,
mas de pontos de movimento desse mesmo usuário na RAPS. Ou seja, parte-se da ideia de
que, sobretudo os problemas da ordem psicológica e social, devem ter sempre em perspectiva
um tipo de evolução, como no caso da reabilitação psicossocial de uma pessoa em sofrimento
psíquico. A Rede deve estar preparada para redesenhar seu projeto terapêutico, ou seja, para ir
além do simples encaminhamento.
A atenção às situações de crise é parte integrante do conjunto e da continuidade da
prática terapêutica nos serviços de saúde da RAPS. É, sobretudo, nos contextos reais de vida
das pessoas, que se constitui um campo de aprendizagem que envolve os profissionais dos
serviços, tanto das unidades especializadas quanto dos serviços de urgência e emergência, os
usuários, os familiares e as pessoas do território. A atenção à crise está associada
prioritariamente à oferta de uma atenção longitudinal nos contextos de vida das pessoas.
Assim sendo, o acolhimento, a abordagem e o cuidado no território às pessoas em situação de
crise.
Uma situação de crise pode ser definida e/ou compreendida como um “sofrimento
grave, ocasionado por causas diversas, clínicas e de álcool e outras drogas, podendo tornar-se
mais intensa e frequente, causando uma ruptura da rede social de suporte e a processos de
incapacitação e invalidação social” (ANDRADE; ZEFERINO; FIALHO, 2016).
29

Nesse sentido, utilizou-se para este estudo o conceito ampliado de crise, que abarca
não somente o seu sentido tradicional, de exacerbação de sintomas ou de perturbação da
ordem social. Optou-se pela sua compreensão como experiência singular que, ao mesmo
tempo, produz vivências dolorosas, marcadas pela incerteza, temor e estranhamento, mas que
contém em si elementos criativos, que expressam a particularidade do sujeito e de seu desejo.
Essa conceituação, que deveria guiar todo o atendimento em saúde mental do País,
encontra-se ainda em processo de apropriação pelos trabalhadores da saúde e, em alguns
casos, longe da concretização esperada. Em recente estudo realizado numa cidade de médio
porte, constatou-se que os serviços simplificam por meio da atenção ao sintoma o
atendimento a crise, retirando do sujeito a responsabilidade sobre seu sofrimento e sua vida
(DIMENSTEIN et al, 2012).
O desafio que se apresenta é produzir serviços que atuem para além do silenciamento
dos sintomas e do isolamento dos sujeitos, respondendo às necessidades das pessoas em seus
contextos reais de vida. Somente assim será possível um cuidado que garanta a liberdade e a
autonomia, promovendo novas estratégias de resposta às situações de intensa fragilidade e
sofrimento e construindo práticas comprometidas com a defesa dos direitos humanos e resgate
da cidadania (SILVA et al, 2013).
Assim, além das tradicionais classificações de risco utilizadas, há a necessidade de
construção de critérios de vulnerabilidade psicossocial que possam nortear a atuação dos
trabalhadores em situações de urgência em saúde mental, de maneira a distinguir populações
socialmente desiguais e ofertar cuidados segundo suas necessidades (DE ALMEIDA;
FUREGATO, 2015).
Contudo, é sabido que os serviços ainda possuem limitações para lidar com a crise,
apresentando condutas pontuais e apressadas, operando apenas o silenciamento dos sujeitos,
inviabilizando a formação de vínculos, reproduzindo, assim, a mesma lógica manicomial
herdada dos asilos. Tais condutas facilitam o retorno dos usuários às internações psiquiátricas,
comprovado por estudos que indicam que um grande número de pacientes que chegam em
crise aos serviços são encaminhados para internação (SILVA; DIMENSTEIN, 2014).
Se os serviços, individualmente, têm essa orientação, na RAPS não parece ser
diferente. Usuários, por meio de narrativas de vida, denotam que os serviços utilizam
estratégias medicalizantes e hospitalocêntricas, que remetem a uma falsa
desinstitucionalização, pois os valores nos quais se baseia o cuidado continuam os mesmos e
a lógica manicomial se mostra, principalmente, nas situações mais delicadas, como na
irrupção das crises (PEREIRA; DE CASTILHO; MIRANDA, 2014).
30

Para tanto, sugere-se que abordagem terapêutica para as pessoas em situação de crise
pautem-se em ações que possam inventar novos contextos, que não privilegiem a crise
propriamente dita e seus sintomas e sim a pessoa que sofre.
A partir do exposto, este estudo tem como objetivo compreender as estratégias para a
qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
propostas pelos trabalhadores da RAPS.

MÉTODO

Esta é uma pesquisa exploratória descritiva de abordagem qualitativa. São alunos da


1ª edição do Curso de Atualização em Crise e Urgência em Saúde Mental de 2014, todos
trabalhadores de nível superior que atuam na RAPS no âmbito do SUS, oriundos de diversas
regiões do Brasil. De um total de 429 alunos, 156 aceitaram participar da pesquisa.
O Curso é resultado da parceria entre o Ministério da Saúde (MS) e Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), por meio do APIS - Laboratório de Tecnologia e Inovação
na Educação, Pesquisa e Extensão em Atenção Psicossocial e Drogas. Constituiu-se como um
curso de atualização profissional, com 100 horas de duração, dividido em quatro módulos,
realizado à distância, com uso de ferramentas interativas (perfil, chats, fóruns, exercícios
avaliativos e portfólios) cujo objetivo foi proporcionar novos conhecimentos e produzir
reflexões, transformando e (re) construindo a realidade no âmbito de atuação do aluno.
Para a coleta de dados foi utilizada a questão reflexiva quatro que compunha o
portfólio da primeira edição do curso de atualização Crise e Urgência em Saúde Mental. Os
portfólios foram atividades de aprendizagem, em que os alunos elaboraram um documento
individual com reflexões sobre sua própria prática profissional, ponderando alternativas para a
transformação de sua realidade.
Os critérios de inclusão foram: ser aluno regularmente matriculado no Curso e ter
respondido as quatro questões reflexivas do seu portfólio. O critério de exclusão foi ter
desistido do Curso antes do término. Dos 429 alunos que iniciaram o curso, 56 desistiram,
302 atenderam aos critérios e 156 alunos concordaram em participar da pesquisa, após leitura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste estudo foram utilizados relatos de 83
questões reflexivas, já que a partir de então, as descrições começaram a se repetir.
Foi avaliado a questão reflexiva quatro da primeira edição do curso de atualização
Crise e Urgência em Saúde Mental: Considerando as competências adquiridas neste curso e
sua realidade de trabalho, o que é possível fazer para qualificar o cuidado em rede à pessoa
31

em situação de crise e urgência em saúde mental? Esse documento foi produzido e postado
pelos alunos no Ambiente Virtual de Ensino-Aprendizagem.
Foram categorizadas as proposições para a qualificação de cuidado segundo o método
de Análise de Conteúdo Temática aportada por Bardin (2011), com abordagem crítica
reflexiva acerca do material, a fim de se preservar a autenticidade do conteúdo e o seguinte
rigor metodológico.
Os documentos foram organizados no período de julho a setembro de 2017 no
Software QRS NVivo® 2.0 para melhor análise e codificação. O NVivo é um programa para
análise de informação qualitativa que integra as principais ferramentas para o trabalho com
documentos textuais, multimétodo e dados bibliográficos. Ele facilita a organização de
entrevistas, imagens, áudios, discussões em grupo, leis, categorização dos dados e análises.
Na parte de dados qualitativos é possível realizar transcrição de vídeos e áudios, codificar
texto, análises de redes sociais e/ou páginas da web, entre outros. (DA SILVA;
FIGUEIREDO FILHO; DA SILVA, 2015).
Após a organização do material e análise coletiva desses dados, corroborando com o
método de Análise de Conteúdo Temática (BARDIN, 2011), seguiram-se as etapas propostas
pelo autor: Pré-análise: exploração do material e tratamento da informação, tornando-o
operacional, sistematizando as informações iniciais, criou-se um banco de dados no qual
estavam presentes os relatos que mais se repetiram; Codificação, classificação e categorização
dos dados: listaram-se os dados extraídos (codificação), identificando as unidades de análise
por meio de palavras e frases que respondiam ao objetivo da pesquisa, definindo-se uma
categoria de análise e três subcategorias; Tratamento dos resultados, inferência e
interpretação: condensando e destacando o material levantado, passou-se a analisar
reflexivamente e criticamente, estabelecendo conexão com a realidade e outros estudos
científicos.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de
Santa Catarina –UFSC, com parecer número: 924.432/2014, respeitando, assim, os preceitos
éticos da pesquisa, assegurados conforme a Resolução nº466/12 (BRASIL, 2012), do
Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. A coleta de dados ocorreu entre julho e
outubro de 2016.
Como garantia de sigilo, foi utilizada uma codificação numérica para os participantes
da pesquisa seguindo uma sequência de 01 a 83, como já identificados, foram respostas do
questão reflexiva quatro da edição um do curso, então identificaremos somente como A para
aluno e o número sequencial de 1 a 83.
32

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos Portfólios emerge a categoria “O trabalho inter-redes” que


descreve as ações necessárias para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise
e urgência em saúde mental, sendo organizado nas seguintes subcategorias: reconhecer o
território e identificar parcerias; Articulação com parcerias para o cuidado integrado; e
Matriciamento expandido com trabalho interdisciplinar

Trabalho inter-redes

Para estabelecer as subcategorias do trabalho inter-redes é necessária a compreensão do


que é uma rede. A palavra rede vem do latim “retis”, significando o entrelaçamento de fios
com aberturas regulares que formam uma espécie de tecido. A partir da noção de
entrelaçamento, malha e estrutura reticulada, a palavra rede foi ganhando novos significados
ao longo dos tempos, passando a ser empregada em diferentes situações. (FERNANDES,
2004).
Uma estrutura em rede significa que seus integrantes se ligam horizontalmente a todos os
demais, diretamente ou através dos que os cercam. O conjunto resultante é como uma malha
de múltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem que nenhum
dos seus nós possa ser considerado principal ou representante dos demais. Pode-se dizer que
no trabalho em rede não há um "chefe", o que há é uma equipe trabalhando com uma vontade
coletiva de realizar determinado objetivo. ((FERNANDES, 2004).
Para que o trabalho em rede seja eficaz algumas premissas devem ser seguidas como a
elaboração de objetivos em comum, multiliderança, livre comunicação horizontal, co-
responsabilidade, autonomia e empoderamento dos seus membros, democracia e
compartilhamento de informações. Para tanto, a ideia de trabalho em rede está implícita nos
princípios e diretrizes do SUS e na Lei 8.080, sendo ainda, nos dias atuais um desafio de
trabalhar as redes integradas de saúde.
A Lei 8.080 já traz a proposta do trabalho em rede hierarquizada e regionalizada, sendo a
rede de atenção em saúde fundamental para garantir o acesso universal dos cidadãos aos
serviços e ações de saúde, de acordo com suas necessidades de forma integral (BRASIL,
1990).
De acordo com a análise dos portfólios o cuidado qualificado em rede à pessoa em
situação de crise e urgência deve iniciar a partir do reconhecimento do território onde o
33

profissional atua, bem como a exploração do local onde o usuário reside. Destas falas emerge
a primeira subcategoria do trabalho inter-redes: “Reconhecer o território e identificar
parcerias”.

Reconhecer o território e identificar parcerias

O cuidado em saúde mental, conforme proposto pelo ideário da Reforma Psiquiátrica


embasa-se, nos mesmos princípios que orientam o Sistema Único de Saúde: noção de
território, organização da atenção em rede, intersetorialidade, reabilitação psicossocial,
interdisciplinaridade, desinstitucionalização, promoção da cidadania e construção da
autonomia possível de usuários e familiares. (FIALHO, 2015).
Nesse sentido, o Ministério da Saúde considera necessário que a atenção em saúde mental
seja feita dentro de uma densa rede de cuidados de base territorial, comunitária e intersetorial.
(BRASIL, 2013). Quando falamos em cuidado de base territorial, o território ultrapassa as
barreiras geográficas, é preciso observar as características dos sujeitos que habitam
determinado local levando em consideração sua cultura, crença, etnia e as relações
construídas ao longo do tempo neste local.
Reconhecer o território é conhecer a população de determinado local, sua estrutura, as
redes de apoio da comunidade, sendo formais ou informais como UBS, associações
comunitárias, igrejas, escolas, etc. A partir destas descobertas o território torna-se um espaço
potencializador das intervenções dos trabalhadores da saúde, buscando apoio nestas redes
formais ou informais e ofertando o cuidado integral ao usuário dentro da sua própria
comunidade.
O cuidado em saúde mental exige daquele que cuida uma postura ativa, que permita
reconhecer o outro na sua liberdade, na sua dignidade e singularidade. É uma atitude de
responsabilização e implicação, que evidencia-se por meio do fortalecimento dos laços entre a
pessoa que busca o atendimento, o serviço e o território (ZEFERINO et al, 2016).
Para tanto é imprescindível o reconhecimento do território na qualificação do cuidado em
rede às pessoas em situação de crise e urgência em saúde mental. Tal afirmação fica nítida de
acordo com as descrições dos trabalhadores que atuam na rede de atenção psicossocial. Esta
ação foi citada em dezessete portfólios analisados, conforme exemplos a seguir:

Assim, para qualificar o cuidado em rede, é de fundamental importância o reconhecimento


da realidade local, tanto dos outros componentes da RAPS e RUE, quanto do próprio serviço.
[...] fazer o mapeamento do território, para aproveitar os recursos locais mais
34

eficientemente; apoiar e reforçar as redes sociais da comunidade, os grupos de artesanato,


de mulheres, assembléias de moradores, entidades religiosas, a fim de aumentar os suportes
possíveis para os pacientes. (A14).

Percebe-se a importância da organização e da articulação da rede de atenção em saúde


mental, promovendo a vida comunitária e autonomia dos usuários dos serviços de saúde
mental, incluindo os indivíduos a partir do seu território e subjetividade... É nessa noção de
território que se busca organizar uma rede de atenção àqueles que sofrem com transtornos
mentais e suas famílias, juntamente com quem os cercam. (A83).

Ainda de acordo com as descrições dos trabalhadores podemos evidenciar que a


identificação de parcerias dentro da própria comunidade é de suma importância. Pois
reconhecer este território e identificar possíveis parcerias ajudam na efetivação do cuidado
integral mesmo após os momentos de crise e urgência em saúde mental.

Para qualificar o cuidado em rede o CAPS tem investido em tentativas diversas de


aproximação com a rede, com parcerias com a Universidade, lançando e sustentando
propostas de diálogo, eventos e cursos. (A15)

Vejo a importância de sairmos da ‘caixinha’ e buscar o incentivo da participação social por


meio dos pacientes e familiares, a comunidade e os parceiros da rede da região. (A47).

Se faz necessário [...], estabelecer parcerias com a comunidade e familiares na continuidade


do tratamento das pessoas com transtorno ou sofrimento mental. (A82).

Não só os usuários, mas o próprio serviço, fazem uso do território, portanto, estão
inseridos na dinâmica do lugar. Territorializar é buscar um sentido à ação do cuidado,
dialogar com outras redes do território rumo à intersetorialidade para o cuidado necessário à
reinserção social (LEÃO; BARROS, 2012).
O processo de territorialização circunscreve os serviços no espaço de convívio social,
interagindo com a família, escola, igreja, trabalho e outras redes de agentes de cuidado na
atenção psicossocial. Há necessidade de os serviços ocuparem os espaços dos bairros, não só
com atividades informativas, mas, como meio de poder afinar sua prática clínica às
especificidades dos contextos onde estes usuários vivem, potencializando as ações de saúde
mental no território (SANTOS; NUNES, 2011).
O trabalhador da saúde que conhece o território em que atua possui um fator
determinante na integração do cuidado, pois possibilita ao serviço buscar parcerias na
comunidade, família e amigos da pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental
construindo uma rede de cuidados e um elo entre o serviço de saúde e a própria população.
35

Esta extensão de assistência permite uma amplificação e efetivação da terapêutica levando em


consideração e respeitando a singularidade do sujeito e o ambiente em que se vive.

Articulação com parcerias para o cuidado integrado

Com o propósito de integrar e conectar as intervenções de cuidado da população foram


estabelecidas leis que regem as ações por meio de redes de atenção e linhas de cuidado. A
Constituição Federal do Brasil de 1988 estabeleceu que as ações e os serviços públicos de
saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, e constituem um sistema único
organizado de acordo com as diretrizes de descentralização, atendimento integral e
participação da comunidade (BRASIL, 1988).
Uma perspectiva da linha de cuidado na saúde pública inclui um conjunto de ações
que vai desde as habilidades na abordagem da crise e as ações de acompanhamento pós-crise
até a superação da situação e a qualidade de vida. Essa estratégia exige, frequentemente,
observação, intervenção e ações sociais no ambiente que estaria levando a pessoa ao
atendimento e estão regulamentadas pela Portaria N. 4.279 de 30 de dezembro de 2010
(PROTASIO et al, 2014).
Tal portaria trata de um conjunto de serviços de saúde vinculados entre si, com
objetivos comuns, que permitem ofertar uma atenção contínua e integral a todos os indivíduos
de maneira humanizada, integralizada e com qualidade, coordenada pela atenção primária à
saúde. Todos os pontos de atenção à saúde são igualmente importantes e se relacionam de
forma horizontal. A continuidade da atenção se dá nos níveis primário, secundário e terciário,
de forma integral, com intervenções promocionais, preventivas, curativas cuidadoras,
reabilitadoras e paliativas (MENDES, 2010).
Para Quinderé (2014), o funcionamento intra e entre diferentes unidades de saúde, ou
entre diferentes níveis de cuidado depende de comunicação mútua, pois não há um
profissional, equipe ou serviço de saúde autossuficientes na produção do cuidado. Dada a alta
complexidade das necessidades de saúde, que envolvem diferentes campos de saber, e a
multiplicidade de atores sociais implicados com a gestão e o cuidado, as redes se tornam uma
prerrogativa para operacionalizar a atenção integral.
A efetivação de uma rede requer conhecimento dos trabalhadores sobre seus parceiros
em diferentes níveis de complexidade, comunicação, projeto terapêutico compartilhado,
responsabilização do sujeito, família e amigos, incluindo a articulação com a rede intersetorial
de políticas públicas, além dos recursos da comunidade. Ações para a articulação e a
36

integração de serviços foram descritos em quarenta e duas reflexões, resultando uma margem
de 52% das respostas analisadas.

É importante atentar - se para a necessidade de articulação entre os diferentes aspectos


envolvidos na apresentação de uma crise, sem desprezar suas diferentes dimensões o que
também está relacionada à experiência e capacitação dos profissionais envolvidos. (A10).

Uma estratégia interessante é a instituição de um Fórum intersetorial permanente, onde


possam ser discutidas as questões de saúde mental entre os componentes das redes de
atenção psicossocial, urgência e emergência, setor de segurança pública, escolas,
instituições religiosas, organizações sociais, instâncias governamentais e outros. Quando
todos conversam sobre uma temática, podemos juntos encontrar caminhos para solucionar
problemas, acolher as demandas do usuário, atender com qualidade a nossa clientela. (A18).

Nos próximos meses teremos o renascimento do fórum de discussão dos trabalhadores de


saúde mental e a possibilidade de confeccionar ações mais congruentes dos serviços e
principalmente estruturar um comitê gestor para a saúde mental. A minha maior
participação nos cursos de capacitação em saúde pública também será fundamental para
ampliação dos meus horizontes ainda por vezes médicos. (A20).

Para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência me saúde mental
é preciso primeiramente sensibilizar a gestão da necessidade de retomarmos o conselho de
urgência e emergência e organizarmos no município a RUE; Buscar multiplicar a
capacitação para o atendimento inicial seja ele em que ponto da rede acontecer;
Definir/convergir melhor os fluxos e/ou protocolos de referência nas diversas situações de
crise e urgência; Criar condições de qualificar a UPA e SAMU nas medidas de abordagem e
se necessário contenção e medicação; Conversar com outras instancias envolvidas como
guarda municipal, polícia militar, judiciário e outros; Matriciar o PSF, organizar a lógica de
territorialização do CAPSI e efetivar a equipe de matriciamento.(A42).

Para os trabalhadores que participaram da pesquisa ações como fóruns intesetoriais,


capacitações, reuniões de equipe, criação de comitê gestor para a saúde mental, entre outras
ações, fortalecem a articulação entre os serviços sendo parte essencial para a consolidação do
cuidado em saúde mental.
A construção da articulação fortalece a conexão entre o serviço de saúde, sujeito e
comunidade, criando elos e compartilhando saberes é possível qualificar o cuidado em rede
realizando os encaminhamentos necessários de acordo com a realidade do território,
respeitando a singularidade do sujeito e ofertando trabalho multiprofissional no projeto
terapêutico efetivando assim o cuidado prestado.
37

Matriciamento expandido com trabalho interdisciplinar

Os conceitos de apoio matricial e equipe de referência foram propostos por Campos


(1999) onde sugere um novo arranjo para os serviços de saúde com base nos conceitos de
equipe de referência e de apoio especializado matricial. Parte-se da suposição de que uma
reordenação do trabalho em saúde segundo a diretriz do vínculo terapêutico entre equipe e
usuários estimularia a produção progressiva de um novo padrão de responsabilidade pela co-
produção de saúde. Posteriormente, essa metodologia de gestão do cuidado foi adotada em
serviços de saúde mental, de atenção básica e da área hospitalar do Sistema Único de Saúde
(SUS).
O apoio matricial em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e
profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde. Trata-se de uma metodologia de
trabalho complementar àquela prevista em sistemas hierarquizados. O apoio matricial
pretende oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnico pedagógico às equipes
de referência. (CAMPOS; DOMITTI, 2007).
Apoio matricial e equipe de referência são, ao mesmo tempo, arranjos organizacionais
e uma metodologia para a gestão do trabalho em saúde, objetivando ampliar as possibilidades
de realizar-se clínica ampliada e integração dialógica entre distintas especialidades e
profissões. (CAMPOS; DOMITTI, 2007).
Atualmente um dos maiores desafios encontrados pelos trabalhadores da RAPS é o
diálogo multidisciplinar, sendo apontado neste estudo como a primeira proposta para a
qualificação do cuidado em rede. Todos os oitenta portfólios analisados citam a necessidade
do matriciamento e/ou discussão de caso e/ou criação de grupos de referência servindo de
apoio para as equipes de trabalho. Nota-se que mesmo após sete anos da implementação da
RAS no Brasil, a comunicação entre os diferentes níveis de assistência em saúde continuam
sendo uma barreira descrita pelos profissionais, sendo estes co-responsáveis pela efetivação
do diálogo multiprofissional.

Uma das ações é o MATRICIAMENTO. Um dispositivo de trabalho entre equipes que


proporciona o encontro entre elas para fins de trabalhar aspectos como discussão de casos,
temas de saúde mental com estudo e aprofundamento das temáticas, alívio e acolhimento da
equipe matriciada e, muito importante, pactuação entre as duas equipes quanto à atuação de
ambas no cotidiano de trabalho. (A13).
38

Trabalhar de forma interdisciplinar e multidisciplinar; buscar o matriciamento, a


referência/contra-referência; envolver mais o usuário em suas escolhas de tratamento e
respeitá-las. (A43)

Trazendo toda essa bagagem para o meu dia a dia e à minha realidade de trabalho, o que
seria possível para não só eu, mas toda a equipe que compõe a saúde mental do município no
qual trabalho é intensificar, qualificar e fortalecer mais o matriciamento na rede de Atenção
Básica e demais pontos. (A81).

Através do matriciamento é possível aumentar a oferta de ações realizadas no processo


de cuidado ao usuário, já que a equipe de referência e o apoio matricial se corresponsabilizam
pelo caso, proporcionando uma troca de saberes que contribuirá para a construção do projeto
terapêutico singular (DELFINI; REIS, 2012).
Conforme as descrições dos trabalhadores evidencia-se que o matriciamento funciona
como uma estratégia de articulação contribuindo para a qualificação do cuidado, além de
aproximar os diferentes níveis de complexidade em saúde, fortalecendo a rede nas suas
múltiplas áreas de assistência.
Neste sentido o trabalho interdisciplinar é de suma importância, pois o trabalho em
conjunto tanto dos profissionais da RAPS quanto da própria comunidade, usuário e família
contribuem para a integralidade do cuidado. Temos que ter em mente que todos precisam
andar de mãos dadas, visto que a pessoa é um ser único, possui sua singularidade e precisa ser
respeitada, os profissionais também possuem suas singularidades e diferentes habilidades
terapêuticas. O trabalho coletivo evita o conhecimento compartimentado e isolado
propiciando uma nova forma de pensar de modo reflexivo e crítico integrando as diversas
especialidades da saúde.

Outro fator essencial para a excelência da assistência é a equipe, o envolvimento dos


profissionais com um olhar crítico, sistemático, reflexivo sobre suas práticas, fazendo uma
nova ordenação do trabalho em equipe interdisciplinar. (A57).

Se faz necessário ofertar cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica


interdisciplinar. (A72).

É importante salientar que para um cuidado efetivo, é necessário que ocorra de forma
interdisciplinar, em que a responsabilidade envolvida seja tanto da equipe, como de cada um
dos trabalhadores envolvidos neste processo. (A80).

Também foi possível constatar que não é um caminho a ser trilhado sozinho. Ficou ainda
mais evidente a importância do trabalho interdisciplinar, do conhecimento da rede e da
busca de parcerias. (A1).
39

Para Ferro et al, (2014) a interdisciplinaridade se caracteriza pela intensidade das


trocas entre os especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas, no interior de um
projeto específico. Pode-se dizer que nos reconhecemos diante de um empreendimento
interdisciplinar todas as vezes em que ele conseguir incorporar os resultados de várias
especialidades, que tomar de empréstimo a outras disciplinas certos instrumentos e técnicas
metodológicas, fazendo uso dos esquemas conceituais e das análises que se encontram nos
diversos ramos do saber, a fim de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido
comparados e julgados.
Em consonância com os achados encontrados nesta pesquisa, Ferro et al (2014) afirma
que a articulação intersetorial torna-se imprescindível para enfrentar os determinantes do
processo saúde-doença. Torna-se evidente que o trabalho interdisciplinar faz-se necessário
para que ocorra a qualificação do cuidado em rede sendo através de reuniões de equipe,
discussões de caso ou capacitações. Esta é uma afirmativa para grande parte dos trabalhadores
da RAPS entrevistados, apesar destas estratégias serem apontadas por eles ainda como uma
fragilidade do sistema de saúde, estas ações necessitam ser aprofundadas e incorporadas em
rotina de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise das propostas de ações para a qualificação do cuidado em rede à


pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental segundo a visão dos trabalhadores da
RAPS que participaram deste estudo, foi possível identificar, descrever e compreender as
estratégias que favorecem este cuidado.
Para a qualificação do cuidado à pessoa em situação de crise e urgência em saúde
mental é imprescindível que o profissional conheça seu território de atuação, buscando
parcerias na comunidade garantindo a integralidade do cuidado e tornando o meio em que a
pessoa vive uma extensão do seu projeto terapêutico. Através destas parcerias é possível
pactuar com o usuário, família e comunidade a melhor forma de cuidado.
Quando se estabelece uma comunicação entre os diversos pontos de atenção à saúde o
cuidado na atenção psicossocial torna-se mais eficaz, pois um único profissional nem sempre
possui todas as habilidades necessárias para o cuidado integral e, para isso, é preciso que
outras especialidades cooperem entre si através da articulação, trabalho interdisciplinar e
matriciamento. Estas articulações podem ser realizadas através de reuniões de equipe, fóruns
intersetoriais, criação de comitê gestor em saúde mental, capacitações, entre outros.
40

O funcionamento isolado de serviços, sem diálogo e fluxos contribui para que sejam
reforçados os modelos hierarquizados, indo contra o processo de trabalho horizontalizado em
rede e impedindo a construção de cuidado compartilhado.
Este trabalho contribui para se pensar práticas inovadoras e focos de atenção
multidisciplinar, construindo uma rede de atenção integral à saúde priorizando a
intersubjetividade, a participação e a articulação intersetorial. Dentre as limitações
encontradas, a questão de se utilizar portfólios pode ter sido um fator limitante por não
permitir a interação com os sujeitos do estudo. Outras pesquisas devem ser feitas para ampliar
as estratégias para o cuidado em rede.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho et al. Saúde mental, desinstitucionalização e novas


estratégias de cuidado. In: Políticas e sistema de saúde no Brasil. Editora Fiocruz, 2014. p.
635-655.

ANDRADE, Karoline; ZEFERINO, Maria Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt. Articulação


da rede de atenção psicossocial para o cuidado às crises. Psicologia em Estudo (Online), v.
21, p. 223-233, 2016.

BALLARIN, Maria Luisa Gazabim Simões; CARVALHO, Fábio Bruno de; FERIGATO,
Sabrina Helena. Os diferentes sentidos do cuidado: considerações sobre a atenção em saúde
mental. Mundo saúde (Impr.), p. 444-450, 2010.

BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT); Edições 70, LDA, 2011.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988. Brasília (DF): Senado Federal, 1988.

______. Casa Civil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990: Dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, v. 128, n. 182, 1990.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial.
Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

_______. Ministério da Saúde. Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Dispõe


Sobre as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos.
Diário Oficial da União, 12 de dezembro de 2012.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; Equipes de referência e apoio especializado matricial:


um ensaio sobre a reorganização do trabalho em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 1999;
4:393 -404.
41

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; DOMITTI, Ana Carla; Apoio matricial e equipe de
referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.2, p. 399-407, fev. 2007.

DA SILVA, Dáfni Priscila Alves; FIGUEIREDO FILHO, Dalson Britto; DA SILVA,


Anderson Henrique. O poderoso NVivo: Uma introdução a partir da análise de
conteúdo. Revista Política Hoje-ISSN: 0104-7094, v. 24, n. 2, p. 119-134, 2015.

DE ALMEIDA, Aline Siqueira; FUREGATO, Antonia Regina Ferreira. Papéis e perfil dos
profissionais que atuam nos serviços de saúde mental. Revista de Enfermagem e Atenção à
Saúde, v. 4, n. 1, 2015.

DELFINI, Patricia Santos de Souza et al. Articulação entre serviços públicos de saúde nos
cuidados voltados à saúde mental infanto juvenil. Cadernos de Saúde Pública, v. 28, n. 2, p.
357-366, 2012.

DIMENSTEIN, Magda et al. O atendimento da crise nos diversos componentes da rede de


atenção psicossocial em Natal/RN. Rev Polis e Psique, Porto Alegre, v. 2, n. 3, p. 95-127,
2012.

FERNANDES, Karina Ribeiro. A Constituição de Redes Organizacionais como Nova Forma


de Gestão das Organizações do Terceiro Setor. Integração (USJT), v. VII, p. 39, 2004.

FERRO, Luiz, Felipe et al. Interdisciplinaridade e intersetorialidade na estratégia de saúde da


família e no núcleo de apoio à saúde da família: Potencialidades e desafios. Tempus Actas de
Saúde Coletiva, 2015 8 (4): 111-129.

FIALHO, Marcelo Brandt. Contextos históricos e concepções teóricas da crise e urgência em


saúde mental. In: ZEFERINO, T.; RODRIGUES, J.; ASSIS, J.T. (orgs.). Crise e Urgência
em Saúde Mental: fundamentos da atenção à crise e urgência em saúde mental. 4ª Ed.
Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, 2015. 101 p.

JORGE, Maria Salete Bessa et al. Promoção da Saúde Mental - Tecnologias do Cuidado:
vínculo, acolhimento, co-responsabilização e autonomia. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 16, n. 7, p. 3051-3060, July 2011.

LEÃO, Adriana; BARROS, Sônia. Território e serviço comunitário de saúde mental: as


concepções presentes nos discursos dos atores do processo da reforma psiquiátrica
brasileira. Saúde soc., São Paulo, v. 21, n. 3, p. 572-586, Set. 2012 .

MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro , v. 15, n. 5, p. 2297-2305, Ago. 2010 .

PEREIRA, Melissa Oliveira; DE CASTILHO SÁ, Marilene; MIRANDA, Lilian. Um olhar


sobre a atenção psicossocial a adolescentes em crise a partir de seus itinerários
terapêuticos. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. 10, p. 2145-2154, 2014.

SANTOS, Marcos Roberto Paixão; NUNES, Mônica de Oliveira. Território e saúde mental:
um estudo sobre a experiência de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, Salvador,
Bahia, Brasil. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 15, n. 38, p. 715-726, 2011.
42

PROTASIO, Ane Polline Lacerda et al. Avaliação do sistema de referência e


contrarreferência do estado da Paraíba segundo os profissionais da Atenção Básica no
contexto do 1º ciclo de Avaliação Externa do PMAQ-AB. Saúde em Debate, v. 38, p. 209-
220, 2014.

SILVA, Maura Lima Bezerra e; DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. Manejo da crise:
encaminhamento e internação psiquiátrica em questão. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v.
66, n. 3, p. 31-46, 2014.

ZEFERINO, Maria Terezinha et al. Percepção dos trabalhadores da saúde sobre o cuidado às
crises na Rede de Atenção Psicossocial. Escola Anna Nery, v. 20, p. 20160059, 2016.

ZEFERINO, Maria Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt; ROOS, Cristine Moraes; Clínica de
Enfermagem na Atenção Psicossocial in PROENF Atenção Primária e Saúde da Família.
1. ed. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2017. v. 3. 164p.
43

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de conclusão de curso teve como questão de pesquisa: Como qualificar o
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental? Para tanto, foi
estabelecido um objetivo geral: Compreender as estratégias para a qualificação do cuidado em
rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental propostas pelos trabalhadores
da RAPS; e, três objetivos específicos: Identificar as ações para ampliar a resolutividade do
cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental; Descrever as
ações propostas pelos trabalhadores da RAPS para a qualificação do cuidado em rede à pessoa
em situação de crise e urgência em saúde mental; Analisar as ações propostas como
estratégias para a qualificação do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência
em saúde mental.
O método utilizado para que o objetivo fosse alcançado proporcionou compreender,
através das descrições dos trabalhadores que participaram do estudo, as ações utilizadas por
eles para qualificar o cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde
mental reconhecendo estas ações como estratégias imprescindíveis para o cuidado integral.
Diante das análises, o estudo possibilitou compreender estratégias para a qualificação
do cuidado em rede à pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental:
reconhecimento de território; busca de parcerias na comunidade como instituições de ensino,
associações comunitárias, igrejas, entre outros; articulação em rede através de reuniões de
equipe, formação de comitê gestor em saúde mental e capacitações, além do matriciamento
expandido com o trabalho interdisciplinar focando no trabalho coletivo e compartilhando
conhecimento, sendo necessário o engajamento de todos os profissionais nas diferentes
esferas de atenção à saúde ampliando a efetividade das práticas de cuidado.
Com este estudo foi possível ampliar os conhecimentos acerca da atenção
psicossocial, sendo fundamental a utilização de estratégias para a qualificação do cuidado à
pessoa em situação de crise e urgência em saúde mental.
Ficou evidente a necessidade de comunicação entre os diferentes pontos de atenção à
saúde, colaborando para minha formação profissional através do olhar humanizado e
compartilhado, onde o conhecimento deve ser dividido e beneficiado para todos.
Trabalhar com a questão de saúde mental nos dias atuais é de suma importância, visto
que, o sofrimento psíquico vem aumentando progressivamente. A formação dos profissionais
em saúde mental contribui para o atendimento à população de forma geral, realizar uma
escuta qualificada requer conhecimento, dedicação e tempo do trabalhador de saúde,
44

resultando em uma assistência eficaz e evitando encaminhamentos indiscriminados a outros


setores de saúde.
Tenho convicção de que este trabalho me propiciou base para uma escuta qualificada,
sinto-me preparada para atender à população, o que não descarta a busca pelo conhecimento
especializado em saúde mental, pois os trabalhadores precisam estar capacitados em sua área
de atuação fundamentalmente nos serviços especializados.
45

REFERÊNCIAS

AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho et al. Saúde mental, desinstitucionalização e novas


estratégias de cuidado. In: Políticas e sistema de saúde no Brasil. Editora Fiocruz, 2014. p.
635-655.

ANDRADE, Karoline; ZEFERINO, Maria Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt. Articulação


da rede de atenção psicossocial para o cuidado às crises. Psicologia em Estudo, v. 21, n. 2, p.
223-233, 2016.

BALLARIN, Maria Luisa Gazabim Simões; CARVALHO, Fábio Bruno de; FERIGATO,
Sabrina Helena. Os diferentes sentidos do cuidado: considerações sobre a atenção em saúde
mental. Mundo saúde, p. 444-450, 2010.

BARDIN L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT); Edições 70, LDA, 2011.

BRAGA, Gilsiane Aparecida Ribeiro. A Política Nacional de Humanização (PNH) e a


Psicanálise: Convergência no Centro de Atenção Psicossocial- CAPS. Pesquisas e Práticas
Psicossociais, v.7, n.2, São João Del Rei, Jul/Dez, 2012.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Constituição da República Federativa do


Brasil de 1988. Brasília (DF): Senado Federal, 1988.

______. Casa Civil. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990: Dispõe sobre as condições para
a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, v. 128, n. 182, 1990.

______. Presidência da República. Lei n. 10.216 de 3 de abril de 2001. Dispõe sobre a


proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 9 abr. 2001.
______. Presidência da República. Lei n. 10.708 de 31 de julho de 2003. Institui o auxílio-
reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais egressos de
internações. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 01 agosto de 2003.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas Estratégicas. Saúde mental no SUS: os Centros de Atenção Psicossocial.
Brasília: Ministério da Saúde; 2004.

______. Ministério da Saúde. Portaria n. 4.279 de 30 de dezembro de 2010. Estabelece


diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sistema Único de
Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.

______. Ministério da Saúde. Portaria n. 3.088, de 23 de Dezembro de 2013. Institui a Rede


de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras drogas, no âmbito do Sistema Único
de Saúde. Brasília, DF, 2011.

_______. Ministério da Saúde. Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Dispõe


Sobre as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo seres humanos.
46

Diário Oficial da União, 12 de dezembro de 2012.

_______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política


Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do
SUS. 4. ed. 5. reimp. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

______. Ministério da Saúde. Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde


(CNES). Disponível em: <http://cnes2.datasus.gov.br/Lista_Tot_Equipes.asp>. Acesso em:
16 out. 2017.

BRITO, Emanuele Seicenti de; VENTURA, Carla Aparecida Arena. Evolução dos direitos
das pessoas portadoras de transtornos mentais: uma análise da legislação brasileira. Revista
de Direito Sanitário, São Paulo, v. 13, n. 2, p. 47-63, 2012.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; Equipes de referência e apoio especializado matricial:


um ensaio sobre a reorganização do trabalho em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 1999;
4:393 -404.

CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa; DOMITTI, Ana Carla; Apoio matricial e equipe de
referência: uma metodologia para gestão do trabalho interdisciplinar em saúde. Cadernos de
Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.2, p. 399-407, fev. 2007.

CONILL, Eleonor Minho et al. O mix público-privado na utilização de serviços de saúde: um


estudo dos itinerários terapêuticos de beneficiários do segmento de saúde suplementar
brasileiro. Centro, v. 88115, p. 190, 2008.

CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Rev col bras cir, v. 34,
n. 6, Nov/dez, 2007.

DA SILVA, Dáfni Priscila Alves; FIGUEIREDO FILHO, Dalson Britto; DA SILVA,


Anderson Henrique. O poderoso NVivo: Uma introdução a partir da análise de
conteúdo. Revista Política Hoje-ISSN: 0104-7094, v. 24, n. 2, p. 119-134, 2015.

DE ALMEIDA, Aline Siqueira; FUREGATO, Antonia Regina Ferreira. Papéis e perfil dos
profissionais que atuam nos serviços de saúde mental. Revista de Enfermagem e Atenção à
Saúde, v. 4, n. 1, 2015.

DIMENSTEIN, Magda et al. O atendimento da crise nos diversos componentes da rede de


atenção psicossocial em Natal/RN. Rev Polis e Psique, Porto Alegre, v. 2, n. 3, p. 95-127,
2012.

FERNANDES, Karina Ribeiro. A Constituição de Redes Organizacionais como Nova Forma


de Gestão das Organizações do Terceiro Setor. Integração (USJT), v. VII, p. 39, 2004.

FEUERWERKER, Laura Camargo Macruz. Micropolítica e saúde: produção do cuidado,


gestão e formação. Porto Alegre: Rede Unida, 2014.

FERRO, Luiz, Felipe et al. Interdisciplinaridade e intersetorialidade na estratégia de saúde da


família e no núcleo de apoio à saúde da família: Potencialidades e desafios. Tempus Actas de
Saúde Coletiva, 2015 8 (4): 111-129
47

FIALHO, Marcelo Brandt. Contextos históricos e concepções teóricas da crise e urgência em


saúde mental. In: ZEFERINO, T.; RODRIGUES, J.; ASSIS, J.T. (orgs.). Crise e Urgência
em Saúde Mental: fundamentos da atenção à crise e urgência em saúde mental. 4ª Ed.
Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, 2015. 101 p.

FOUCAULT, Michael. O poder psiquiátrico: curso no Collège de France (1973-1974).


Tradução de E. Brandão. São Paulo, 2006.

FRANCO, Túlio Batista. Produção do cuidado e produção pedagógica: integração de cenários


do sistema de saúde no Brasil. Interface (Botucatu), v. 11, n. 23, p. 427-438. Dez. 2007 .

HEGENBERG, L. Doença: um estudo filosófico [online]. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ,


1998. 137 p. ISBN: 85-85676-44-2.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de


Domicílios. Dados Populacionais: Estimativa da população residente no Brasil e
Unidades da Federação. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2016.

JESUS, Maria Cristina Pinto de et al. A fenomenologia social de Alfred Schütz e sua
contribuição para a enfermagem. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 47, n. 3, p. 736-741,
2013.

KEMPER, Maria Lenz Cesar et al. Integralidade e redes de cuidado: uma experiência do
PET-Saúde/Rede de Atenção Psicossocial. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v.
19, p. 995-1003, 2015.

LEÃO, Adriana; BARROS, Sônia. Território e serviço comunitário de saúde mental: as


concepções presentes nos discursos dos atores do processo da reforma psiquiátrica
brasileira. Saúde soc., São Paulo, v. 21, n. 3, p. 572-586, Set. 2012 .

MENDES, Eugênio Vilaça. As redes de atenção à saúde. Ciênc. saúde coletiva, Rio de
Janeiro, v. 15, n. 5, p. 2297-2305, Ago. 2010 .

MERHY, Emerson; CERQUEIRA, Paula; Uma pesquisa e seus encontros: a fabricação de


intercessores e o conhecimento como produção. In: GOMES, M. P. C.; MERHY, E. E
(Orgs.). Pesquisadores In-Mundo: um estudo da produção do acesso e barreira em saúde
mental. Porto Alegre: rede unida, 176 p., 2014.

MORÉ, Carmen. A “entrevista em profundidade” ou “semiestruturada”, no contexto da saúde:


Dilemas epistemológicos e desafios de sua construção e aplicação. CIAIQ2015, v. 3, 2015.
PASCHE, D.F.; PASSOS, E.; HENNINGTON, E.A. Cinco anos da Política Nacional de
Humanização: trajetória de uma política pública. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
16, n.11, p.4541-48, 2011.
PEREIRA, Melissa Oliveira; DE CASTILHO SÁ, Marilene; MIRANDA, Lilian. Um olhar
sobre a atenção psicossocial a adolescentes em crise a partir de seus itinerários
terapêuticos. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, n. 10, p. 2145-2154, 2014.
48

PROTASIO, Ane Polline Lacerda et al. Avaliação do sistema de referência e contra referência
do estado da Paraíba segundo os profissionais da Atenção Básica no contexto do 1º ciclo de
Avaliação Externa do PMAQ-AB. Saúde em Debate, v. 38, p. 209-220, 2014.

QUINDERE, Paulo Henrique Dias; JORGE, Maria Salete Bessa; FRANCO, Túlio Batista.
Rede de Atenção Psicossocial: qual o lugar da saúde mental? Physis, Rio de Janeiro, v. 24, n.
1, p. 253-271, mar. 2014 .

ROTHER, Edna, T. Revisão sistemática x revisão narrativa. Acta paulista de enfermagem,


v. 20, n. 2, abr/jun, 2007.

SANTOS, G. Q. Estratégia na luta pela saúde: experiência do Conselho Municipal do Rio


de Janeiro. 2004. 154 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

SANTOS, Marcos Roberto Paixão; NUNES, Mônica de Oliveira. Território e saúde mental:
um estudo sobre a experiência de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial, Salvador,
Bahia, Brasil. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 15, n. 38, p. 715-726, 2011.

SILVA, Aline Basso; DE PINHO, Leandro Barbosa. Território e saúde mental: contribuições
conceituais da geografia para o campo psicossocial. Revista Enfermagem UERJ, v. 23, n. 3,
p. 420-424, 2015.
SILVA, Maura Lima Bezerra; DIMENSTEIN, Magda Diniz Bezerra. Manejo da crise:
encaminhamento e internação psiquiátrica em questão. Arq. bras. psicol., Rio de Janeiro, v.
66, n. 3, p. 31-46, 2014.

SILVA, M.; ZANELLO, Valeska. M. Religiosidade e loucura: a influência da religião na


forma como o" doente mental" enfrenta a doença. Psicol. IESB, v. 2, n. 1, p. 37-47, 2010.

SOARES, Mauricio; SILVA, Maria do Rosário. A loucura: um novo retrato com velhas
molduras. Revista Augustus, v.18, n.36, p.69-76 18, jul. 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. CEPSH. 2013. Disponível em:


<http://cep.ufsc.br/>. Acesso em: 16 nov. 2016.

WILLRICH, Janaína Quinzen, et al. "Da violência ao vínculo: construindo novos sentidos
para a atenção à crise." Rev bras enferm, v.67, n1, p. 97-103, 2014.

World Health Organization. Depressão: Vamos Conversar. Rio de Janeiro: WHO; 2017.
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/depressao-e-tema-de-campanha-da-oms-para-dia-
mundial-da-saude-de-2017/>. Acesso em: 21 mai. 2017.

ZEFERINO, Maria. Terezinha et al., Percepção dos trabalhadores da saúde sobre o cuidado às
crises na Rede de Atenção Psicossocial. Escola Anna Nery, v. 20, p. 20160059, 2016.

ZEFERINO, Maria. Terezinha; FIALHO, Marcelo Brandt; ROOS, Cristine Moraes. Clínica
de Enfermagem na Atenção Psicossocial in PROENF Atenção Primária e Saúde da
Família. 1. ed. Porto Alegre: Artmed Panamericana, 2017. v. 3. 164p.
49

APÊNDICES
50
51
52

ANEXO 1 – APROVAÇÃO DO COMITÊ DE


ÉTICA
53
54

Potrebbero piacerti anche