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Multiletramentos, discurso e processos de produção de sentido
Fonte: http://flamir.blogspot.com.br/p/charges.html
Texto 2
“Claro está que a nossa época assiste a uma extraordinária proliferação de
tecnologia, apossando-se de quase todos os aspectos da existência humana.
Apreciados, porém, o fato pelo pensamento dialético, nele se revela a presença de
duas faces contraditórias, ou seja, de dois sentidos opostos, em que é lícito
interpretá-lo comprovando-se assim tratar-se de um fato real. De um lado, o
imenso desenvolvimento atual resulta da acumulação histórica do saber e da
prática social; por esta face a situação que se julga caracterizar a nossa época em
nada difere das anteriores, nas quais o mesmo fenômeno sempre ocorreu. Mas,
por outro lado, a mesma inaudita exuberância mostra ser carência e atraso, na
medida em que, sendo a tecnologia do presente, anuncia e determina a tecnologia
futura, que será então a verdadeiramente “explosiva” para quem a presenciar. O
que parece sob a figura da “explosão” de hoje contém em si própria negação. Esta
observação dialética deve servir a quem queria pensar com sobriedade, para
justificar a conveniência de ser abolida de uma vez por todas a menção a esta e
várias outras “explosões”, palavra predileta da consciência simplista atual, a
ponto de haver tornado um signo inconfundível dessa mentalidade elementar. Toda
época teve as técnicas que podia ter. A humanidade, especialmente em tempos mais
próximos, sempre acreditou em cada momento estar vivenciando uma fase de
esplendor, na qual simultaneamente figuravam vozes que, em nome dos sagrados
valores humanos, amaldiçoavam a “explosão tecnológica” a que assistiam. É
difícil imaginar-se mais profunda impressão do que a causada nos
contemporâneos pela “explosão tecnológica” da era das descobertas marítimas,
do surgimento da imprensa, das novas teorias astronômicas subvertendo o
significado do céu. A nós parecem agora efeitos naturais do crescimento da
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Multiletramentos, discurso e processos de produção de sentido
cultura, e ninguém hoje em dia se comove com elas. Lembremos, no entanto, que
a instalação das primeiras estradas de ferro na Inglaterra foram recebidas [sic]
com horror até por eminentes homens da ciência, em razão do que se imaginava
representarem de desumano e apocalíptico. Também em cada um desses tempos
houve uma “explosão tecnológica”, que agora não nos emociona, porque se
perderam com a distância no tempo os ecos dos abalos sociais, emocionais e
ideológicos produzidos, mas exerceu sobre os contemporâneos os mesmos
assombrantes efeitos das criações de nossos dias. Tudo quanto hoje se escreve
sobre a nossa “explosão” já foi dito e repetidos ad nauseam, com execração ou
alegria, nos tempos antigos em relação a situações análogas”. (PINTO, 2005, p.
234)
No livro O conceito de tecnologia, Álvaro Vieira Pinto tece uma crítica às noções
de “era tecnológica” e de “explosão tecnológica”, uma vez que essas noções não
consideram a historicidade das produções tecnológicas. Na visão de Pinto (2005), ao
assumir a proposição de que vivemos uma “era tecnológica” ou em tempos de “explosão
tecnológica” podemos incorrer na tendência em absolutizar o presente e desconsiderar os
condicionamentos históricos que explicam os processos tecnológicos.
Sendo, pois, a tecnologia uma produção humana, constituída sócio e
historicamente, seria equivocado falar que vivemos em um “era tecnológica” ou em
tempos de “explosão tecnológica”?
Discuta esse tema a partir da correlação entre os textos 1 e 2 e do cotejo das
bibliografias sugeridas para essa prova.
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Multiletramentos, discurso e processos de produção de sentido
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LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A estetização do mundo: viver na era do capitalismo artista. São
Paulo, Companhia das Letras, 2015.